12 de abril de 2008

Rosa (re)faz sua fina mistura de MPB com jazz

Resenha de show
Título: Rosa Passos
Artista: Rosa Passos
Local: Mistura Fina (RJ)
Data: 11 de abril de 2008 (sessão das 19h30m)
Cotação: * * * * 1/2

Já faz muito tempo que Rosa Passos desabrochou como cantora e se livrou da alcunha de João Gilberto de saias. Já habituada a ser aplaudida por platéias estrangeiras em cidades dos Estados Unidos, Europa e Japão, a artista baiana voltou ao Rio de Janeiro esta semana para fazer no Mistura Fina quatro apresentações do show que, em janeiro, já mostrara aos cariocas em concorridas apresentações no Teatro Nelson Rodrigues. De forte contorno jazzístico, o show de Rosa Passos fica em cartaz no Mistura Fina somente até sábado - 12 de abril - em sessões às 19h30m e às 22h.
Se há algum parentesco no canto de Rosa com o de João Gilberto, este reside mais na divisão originalíssima que caracteriza as interpretações de ambos e bem menos no fato de a artista eventualmente cantar macio e em tons baixos. Aliás, não é esta Rosa que também canta baixinho a que desabrocha no palco do Mistura Fina enquanto apresenta um recital já feito por ela em novembro de 2007 no nobre palco do Blue Note, o de Nova York.
Na voz de Rosa Passos, nenhuma música soa como antes. Desde o primeiro número, um apimentado Vatapá (Dorival Caymmi), a cantora põe seu próprio tempero rítmico em sucessos da MPB como Verbos do Amor (João Donato e Abel Silva), Samurai (Djavan) e, já no bis, feito em tributo a Elis Regina (1945 - 1982), Altos e Baixos, parceria de Sueli Costa e Aldir Blanc regravada por Rosa em seu ainda inédito CD Romance, dedicado às canções brasileiras e com lançamento no exterior previsto para 20 de maio pelo selo Telarc (no Brasil, o disco vai ser editado em agosto - conforme revelou Rosa em cena, para alegria dos fãs nacionais).
O fato é que, com sua mistura de MPB e jazz, Rosa Passos faz um show de refinada musicalidade que surpreende a cada número. Seja em Marina (samba-canção de Caymmi que tem seu ritmo ralentado por Rosa), em Corcovado (apresentado de outro ângulo harmônico), em A Ilha (com alternância de climas) ou no suingante recorte do Vestido de Bolero (outra música de Caymmi, compositor recorrente no repertório da intérprete). É justo reconhecer que, como em todo show de tom jazzístico, os músicos têm presença fundamental. E Rosa se cerca de um virtuoso quarteto de piano (Fábio Torres), trompete (Daniel D'Alcântara), bateria (Celso de Almeida) e baixo, tocado por seu filho Paulo Paulelli, com quem a orgulhosa mãe divide um set mais íntimo em que pega o violão para cantar Só Danço Samba, Você Vai Ver, Jardim (versão de bela música francesa recomendada a Rosa por Henri Salvador, a quem ela dedica o número), Verão (tema da lavra de Rosa) e Pequena Música Noturna (também de autoria da artista). Enfim, um belo show que merecia luz mais caprichada e que, a julgar pelo entusiasmo com que foi recebido, mostra que o Brasil já começa a entender a grandeza do canto de Rosa Passos...

Jagger dirige Scorsese em filme sobre Stones?

Resenha de documentário
Título: The Rolling Stones
- Shine a Light
Direção: Martin Scorsese
Cotação: * * * *
Em exibição nos cinemas

Nas seqüências iniciais de Shine a Light, o excelente documentário em que Martin Scorsese tenta desvendar a magia dos Rolling Stones depois de ter esmiuçado as raízes do blues e de ter focado o mitológico Bob Dylan em No Direction Home, fica claro que há uma tentativa de Mick Jagger de não passar o comando do show para Scorsese. Em cenas que tangem o humor hilário, Scorsese se insere diabolicamente como personagem da narrativa e se mostra atordoado sem informações mínimas sobre o show que, em tese, iria dirigir. A ponto de tomar conhecimento da música que abriria o roteiro, Jumpin' Jack Flash, no mesmo momento que o público que lotou o Beacon Theatre, em Nova York, em 1º de novembro de 2006, para assistir à apresentação captada pelas câmeras de Scorsese. Ao se inserir no próprio filme para revelar os meandros complicados de uma superprodução que envolve astros da grandeza dos Stones, é como se Scorsese optasse por revelar para o espectador que, em que pesem tantas dissimulações, é ele quem dirige o próprio filme.
Abertas as cortinas, o filme se transforma quase no registro de um (grande) show e, a partir daí, quem dirige a cena de fato e de direito é Scorsese com suas câmeras que retratam os Stones no palco sem a maquiagem que adorna as gravações controladas pela produção do quarteto. Entremeados com trechos de entrevistas concedidas pela banda nos anos 60 e 70, quando a banda nem sonhava com a longevidade conquistada no universo do rock por mais de 40 anos, os números do show revelam que a luz do grupo ainda brilha - e muito. Seja no pop (Just my Imagination), no country (Faraway Eyes) ou em seu rock embebido em blues e em r & b (Brown Sugar, Paint It Black, Sympathy for the Devil e Star me Up, o hit de 1981 que é a música mais recente de um roteiro calcado nos clássicos da banda). Envelheceram os Stones, e isso atestam as imagens antigas, mas não o seu som, sempre cativante.
Três convidados de universos distintos abrilhantam a festa. Jack White (do duo White Stripes) manda bem em Loving Cup. Christina Aguilera acompanha o pique de Jagger em Live with me. Mas a luz mais forte é do bluesman Buddy Guy, que toca sua guitarra emblemática e solta seu vozeirão ancestral em Champagne & Reefer. Para quem não tem paciência de ver um show dos Stones no cinema, os três números estão incluídos no álbum duplo que a gravadora Universal acaba de lançar no Brasil com a trilha de Shine a Light. E, quando rola a festa da música, já pouco importa se foi Scorsese que dirigiu Jagger ou vice-versa.

Samuel penetra na intimidade do parceiro Lô

Já na seqüência de Guilherme Arantes e de Oswaldo Montenegro, foi a vez de Lô Borges gravar DVD e CD ao vivo na série Intimidade, editada pela Som Livre em parceria com o Canal Brasil. O cantor e compositor mineiro vai lançar em meados do ano o registro do show capturado em 2 de abril, no estúdio Acústico, em Belo Horizonte (MG). A gravação contou com intervenções de Samuel Rosa nas músicas Dois Rios (parceria de Samuel, Lô e Nando Reis - lançada pelo Skank em 2003 no CD Cosmotron) e Clube da Esquina 2 (a obra-prima de Lô com Milton Nascimento gravada pelos compositores em 1972).

Fróes edita gravações inéditas de Zé Ramalho

Hábil na garimpagem de gravações raras, ou até mesmo inéditas, o pesquisador Marcelo Fróes abriu um selo, intitulado Discobertas, para editar os fonogramas que encontrar nos cofres de artistas e da indústria fonográfica. Fróes vai inaugurar seu selo com a edição do álbum duplo Zé Ramalho da Paraíba. Este disco vai apresentar vários registros inéditos de Zé Ramalho, alguns feitos no início dos anos 70, quando o compositor ainda buscava seu lugar ao sol no mundo do disco. É o caso da gravação de um show seminal realizado por Ramalho em João Pessoa - na Paraíba.

11 de abril de 2008

Simoninha faz CD 'Melhor' com Zoli e Seu Jorge

No momento em que a história de seu pai, Wilson Simonal, volta à tona no imperdível documentário Ninguém Sabe o Duro que Dei, Wilson Simoninha se prepara para lançar em 5 de maio seu quarto CD, Melhor, produzido por seu irmão Max de Castro para o selo S de Samba. Em seu terceiro álbum de inéditas, o primeiro desde Sambaland Club (2002), Simoninha recebe convidados como Seu Jorge (em Ela É Brasileira, parceria do anfitrião com Jorge e com o mano Max que traz Luiz Vagner na guitarra) e Cláudio Zoli (em Eu Sei que Você Vai me Entender e em Sossega, parceria inédita de Wilson Simoninha com o ídolo Jorge Ben Jor).
O time de músicos convidados inclui Proveta - que toca clarinete em Balanço (Balanço Bom É Coisa Rara) - e William Magalhães, cujo piano adorna Rei da Luta, de Jair Oliveira, e A Saideira (Samba Negro). No mix de soul, pop, samba e bossa que costura o repertório, há ainda inéditas autorais como Samba Novo e 26 de Dezembro. Além de O Homem de Gelo, regravação do repertório da carioca Banda Bel, e de parcerias com Pierre Aderne (Mareio) e Jair Oliveira (Navegador de Estrelas). A faixa que inspirou o título do disco é a balada É Bom Andar a Pé (Melhor). O último projeto fonográfico do artista foi MTV Apresenta Wilson Simoninha Canta Jorge Ben Jor, editado em 2005, mas somente em DVD.

Falabella põe humor nativo em 'Os Produtores'

Resenha de musical
Título: Os Produtores
Autor: Mel Brooks
e Thomas Meeham
Direção: Miguel Falabella
Elenco: Miguel Falabella,
Juliana Paes e Vladimir
Brichta
Em cartaz: Vivo Rio (RJ),
de sexta-feira a domingo,
até 1º de junho
Cotação: * * *

Bem perspicaz, Miguel Falabella entendeu que a graça de Os Produtores reside menos em suas músicas e mais no humor com que os autores Mel Brooks e Thomas Meeham contam a história do envolvimento de um produtor picareta (Max Bialystock, na pele de Falabella) com um contador desajeitado (Leo Bloom, vivido por um impagável Vladimir Brichta). Tanto que realçou e abrasileirou esse humor ao dirigir a versão nacional do musical, em cartaz no Rio de Janeiro (RJ) até 1º de junho depois de ter cumprido concorrida temporada em São Paulo (SP).
Lançada no cinema em 1968 com o título de Primavera para Hitler, a história contada em The Producers virou um musical propriamente dito em 2002, quando estreou na Broadway e se tornou um dos maiores sucessos teatrais da temporada norte-americana, acumulando prêmios e casas cheias durante cinco anos. Em 2005, impulsionada pelo fenômeno de bilheteria do espetáculo de Brooks e Meeham, Hollywood refilmou a história já em forma de musical com Nathan Lane, Matthew Broderick e Uma Thurman nas peles dos personagens encarnados nos palcos nacionais por Falabella, Brichta e por uma estreante Juliana Paes.
Como o trio protagonista não tem vozes talhadas para o canto, o charme da versão nacional de Os Produtores reside no tempero brasileiro que Falabella impõe ao espetáculo - com direito a piadas sobre Alcione e com tiradas à moda de Caco Antibes, a carismática personagem encarnada pelo ator no extinto humorístico da televisão Sai de Baixo. É nítida a cumplicidade de Falabella e Britchta em cena. E é essa afinidade que valoriza o espetáculo, já que o terceiro vértice do triângulo protagonista, Ulla (Juliana Paes, bem no papel), tem entradas apenas episódicas na trama. Nos papéis de Roger de Bris e Carmen Ghia, respectivamente, os atores Sandro Christopher e Mauricio Xavier dão colorido gay ao musical e exploram humor mais escrachado.
Como as 19 músicas do espetáculo, distribuídas em dois atos, têm a rigor caráter insosso, o humor sustenta o interesse do público. Se as coreografias dirigidas por Chet Walker seguem à risca a fórmula norte-americana de parir um musical, os diálogos têm a deliciosa pimenta do Brasil, cuja música é evocada no arranjo de samba que pauta a reprise do número Seu Rosto. Para o bem ou para o mal, e aí vai depender do ponto de vista e das aspirações e expectativas de cada um, Os Produtores tem o jeito do Brasil...

Cidade Negra ganha 'Perfil' ao perder Garrido

É coincidência, mas, por providencial acaso, a gravadora Som Livre vai pôr nas lojas uma coletânea do grupo Cidade Negra na série Perfil que vai funcionar como um resumo da passagem de Toni Garrido pelo quarteto fluminense. Na semana passada, em clima pouco amistoso, o cantor decidiu deixar o posto de vocalista da banda, ocupado por Garrido desde 1993, quando saiu da Banda Bel para assumir o lugar que ficara vago com a saída de Rás Bernardo. A seleção de Perfil não ignora a passagem de Bernardo pelo Cidade Negra, representada pelo sucesso Falar a Verdade, mas está obviamente centrada na bem-sucedida fase do grupo com Garrido, que, em julho, após cumprir os shows já agendados da turnê Diversão, se desliga do quarteto para seguir carreira solo. Todas as 15 gravações incluídas na compilação do grupo na série Perfil pertencem ao acervo da antiga gravadora da banda, Sony BMG. Eis as 15 músicas selecionadas para a coletânea:
1. A Sombra da Maldade
2. Querem meu Sangue (The Harder They Come)
3. Sábado à Noite - com Lulu Santos
4. Aonde Você Mora?
5. Girassol
6. O Erê
7. Firmamento (Wrong Girl to Play with)
8. A Estrada
9. Pensamento
10. Falar a Verdade
11. Johnny B. Goode
12. Luz dos Olhos
13. Bamba
14. A Cor do Sol
15. Perto de Deus - com Anthony B.

Leila pede nova benção à bossa com Menescal

Resenha de show
Título: Agarradinhos
Artista: Leila Pinheiro e Roberto Menescal
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 10 de abril de 2008
Cotação: * * * 1/2

Impossível ver Leila Pinheiro abrir Agarradinhos - o show que a cantora divide com Roberto Menescal e que está em cartaz no Teatro Rival até sábado, 12 de abril - com ensolarada interpretação de Rio, um dos clássicos da parceria de Menescal com Ronaldo Bôscoli (1928 - 1994), e não pensar em Benção Bossa Nova, o disco de 1989 que entrelaçou a trajetória de Leila com o cancioneiro carioca projetado a partir daquele dourado ano de 1958. Agarradinhos, o show, tem como mote os homônimos CD e DVD gravados por Leila e Menescal em clima íntimo. Mas, em essência, é como se Leila estivesse pedindo nova benção à velha bossa. E é justamente o apego aos standards do movimento que levanta o show e disfarça o caráter irregular do repertório mais recente registrado no CD e DVD Agarradinhos.
Se o DVD apresenta apenas Leila e Menescal na intimidade de uma sala de estar transformada em estúdio, o show agrega trio de baixo, bateria e teclados. O trio arma a cama para que, amparada na guitarra de Menescal, a cantora deite e role em melodias como a de Vagamente, lançada por Wanda Sá, aliás, presente na platéia que lotou o Rival na estréia do show. Leila e Menescal reproduzem vários medleys temáticos do disco Benção Bossa Nova. Um deles - o que une Ah, Se Eu Pudesse, O Barquinho, Você e Nós e o Mar - é recorrente na discografia da dupla e aparece também no CD e DVD Agarradinhos, lançados ao apagar das luzes de 2007. Recorrente também parece ser a cumplicidade entre os artistas, o que rende papos, piadas e gozações na descontraída cena. Como se o palco fosse a sala de Leila - cenário ideal da gravação do DVD.
Dentre as novidades, O Céu nos Protege - parceria de Leila com Menescal - evidencia na letra (da cantora e bissexta compositora) a tentativa de evocar o clima sal, céu, sol, Sul que rege a bossa, carioquíssima por natureza. Bôscoli era mestre no estilo, mas sabia também fazer versos de um romantismo universal. A Volta, outra de suas parcerias com Menescal, é número que realça a técnica apurada que uniformiza o canto de Leila. Mas mestre mesmo era Tom Jobim (1907 - 1994), devidamente homenageado nos versos de Luz da Natureza, outra parceria de Leila com Menescal. Quando a dupla lança mão das músicas de Tom (O Amor em Paz, Corcovado, Ela É Carioca), o show adquire atmosfera de encantamento. O público faz coro espontâneo com Leila numa interação que seria reeditada um pouco depois quando, na companhia de Carlos Lyra, convidado da estréia, Leila entoa maravilhas contemporâneas como Primavera, Saudade Fez um Samba, Lobo Bobo, Se É Tarde me Perdoa e Você e Eu. É luxo só!
É justo reconhecer que Leila e Menescal não se agarram somente aos clássicos da bossa. Como no DVD, a dupla incursiona no show - num bloco mais íntimo, sem a banda - por temas de Fátima Guedes (Tanto que Aprendi de Amor) e Joyce (Revendo Amigos e E Era Copacabana, parceria rara da compositora com Lyra). Completando o time de convidados da estréia (em cada apresentação, Leila e Menescal recebem convidados diferentes), Fernanda Takai reafirmou sua intimidade com a bossa ao cantar Insensatez - que regravou em seu CD solo Onde Brilhem os Olhos seus com o auxílio luxuosamente emblemático da guitarra de Menescal - e Diz que Fui por Aí (em versão menos baladeira e mais próxima do samba idealizado por Zé Ketti). No todo, o show Agarradinhos supera o DVD que o inspirou. Leila Pinheiro brilha mais quando se pauta pela diversidade, mas, no ano em que se festeja o cinqüentenário da bossa, a cantora tem todo o direito de pedir nova benção ao som do qual já se apropriou com talento.

10 de abril de 2008

Joyce prioriza canções em show que gera DVD

Com um olho no seu passado profissional de 40 anos e outro na produção autoral do presente, Joyce estréia nesta quinta-feira, 10 de abril de 2008, a temporada de duas semanas do show Saudade do Futuro, batizado com o mesmo nome do álbum que lançou em 1985 e em cartaz no Teatro Fecap, em São Paulo (SP). A apresentação de domingo, 13 de abril, vai ser gravada para gerar DVD e CD ao vivo a serem editados via gravadora EMI Music. Nesta apresentação, Joyce recebe Dori Caymmi, João Donato e Leila Pinheiro. Entre músicas inéditas, o roteiro prioriza canções compostas pela artista. Entre elas, Clareana, Da Cor Brasileira, Essa Mulher, Feminina e Mistérios - lançadas na virada dos anos 70 para os 80.

Ringo celebra ideais dos 60 em tom saudosista

Resenha de CD
Título: Liverpool 8
Artista: Ringo Starr
Gravadora: Capitol
Cotação: * * 1/2

Liverpool 8, o 14º álbum do mais dispensável e menos talentoso dos Beatles, não vai alterar opiniões sobre a arte de Ringo Starr. Tem lá seus bons momentos - e o melhor deles é a festiva faixa-título, tributo à cidade que deu à luz os Fab Four. Entre as 12 músicas, compostas por Ringo com diversos parceiros, há outros destaques como o rock Think about You e Now That She's Gone Away. Mas a irregularidade do repertório é fato indisfarçável num álbum em que Ringo celebra nas letras, em tom saudosista, os ideais de paz e amor dos anos 60. Em sintonia, aliás, com o título de seu último disco, Choose Love, editado em 2005. Contudo, a música em si de Liverpool 8 parece menos saudosista e inclui sons sintetizados. Efeito provável da atuação de Dave Stewart (metade do duo de tecnopop Eurythmics) na co-produção do CD. Vale pela empolgante faixa-título - tiro certo em corações beatlemaníacos...

Teresa acha tom da alegria e faz Canecão feliz

Resenha de show
Título: Delicada
Artista: Teresa Cristina
Local: Canecão (RJ)
Data: 9 de abril de 2008
Cotação: * * * * 

"Hoje não chegava nunca", confidenciou Teresa Cristina, ainda nervosa, à platéia do show que marcou sua volta aos palcos cariocas fora do circuito boemio da Lapa, bairro do Centro do Rio onde Teresa costuma se apresentar regularmente com o Grupo Semente. Hoje era quarta-feira, 9 de abril de 2008, data da reestréia da cantora no palco nobre do Canecão. À medida que o show Delicada avançou, Teresa foi se acalmando e até perdendo a timidez característica. "Posso fazer mais uma?", pediu ao público, já no bis. "É o meu momento! Tenho que aproveitar", justificou em cena. Nem era preciso pedir ou se justificar. Àquela altura, a cantora já tinha achado o tom da alegria e fez o Canecão feliz com seus sambas e partidos de alto quilate. E também ela estava feliz...
"Cantar é vestir-se com a voz que se tem", sentenciou Teresa ao abrir o show com Cantar, jóia de seu quarto CD, Delicada, pilar do roteiro - sobretudo no bloco inicial, em que a artista apresenta, em seqüência, os sambas autorais Delicada (parceria com Zé Renato) e Fim de Romance, parceria com o saudoso portelense Argemiro Patrocínio. E o fato é que, ao cantar, Teresa já se mostra mais solta e descontraída, vestindo-se com uma voz de timbre agradável que serve muito bem aos seus sambas - alguns compostos com inspiração na Umbanda, religião nacional marcada pelo sincretismo de crenças afro-brasileiras. São os casos de Acalanto e, sobretudo, de Candeeiro. Nesse contexto, a releitura de Nem Ouro Nem Prata - sucesso do autor Rui Maurity nos anos 70 - é um achado que valorizou o show e o CD Delicada.
Surpresa do roteiro, Sete Cantigas para Voar, de Vital Farias, se impõe como o momento de maior lirismo. "Hoje já consigo olhar para mim e ver uma cantora", festejou Teresa depois de exaltar o companheirismo e a crença dos músicos do Grupo Semente em seu canto. Foi a deixa para que ela saísse do palco e deixasse brotar sozinho o som do Semente, que tocou João Teimoso, maxixe instrumental de João Calado. Com a voz de Pedro Miranda, o grupo ainda apresentou Quebranto e O Samba É meu Dom, a obra-prima de Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro que é como um manifesto de princípio e de amor ao samba. Que soou sincero na voz de Miranda e emocionou o receptivo público.
De volta à cena, Teresa apresentou os colegas de grupo e cantou A Paz do Coração, partido alto de Candeia. Na seqüência, ela entoou Gema, o tema de Caetano Veloso que, na voz da artista, brilha mais no palco do que no disco. Ainda na seara alheia, a intérprete recordou de forma graciosa Pé do Lageiro (João do Vale, José Cândido e Paulo Bangu) e Carrinho de Linha, saudando Fafá de Belém, intérprete original deste tema de Walter Queiroz, um hit de 1980 cujos nós rítmicos Teresa já sabe desatar com desenvoltura.
Com Seu Jorge, convidado especial do show e velho conhecido de Teresa, houve duetos espirituosos e gingados em sambas como Me Deixa em Paz (que ambos gravaram para o ainda inédito CD Flores do Clube da Esquina, em que cantoras recriam músicas do álbum Clube da Esquina, de 1972) e Sem Compromisso. Já sem Jorge, Teresa sacou um Paulinho da Viola pouco conhecido (A Gente Esquece, regravado por ela no CD Delicada) e, com o Semente na beira do palco, tentou reviver o clima heróico das primeiras apresentações com o grupo, feita há dez anos. "A gente dividia o mesmo retorno", lembrou. Este breve set, com Meu Mundo É Hoje (Eu Sou Assim) e Calo de Estimação, teve íntimo valor afetivo e preparou o clima para o gran finale portelense, que culminou com Foi um Rio que Passou em Minha Vida, com o público já de pé, cantando os versos deste samba irresistível de Paulinho da Viola, cuja obra sustentou o primeiro disco de Teresa.
No bis, Teresa Cristina reeditou o pot-pourri que encerra o CD Delicada - com Fechei a Porta, Rosa Maria e Jura - e chamou Seu Jorge de volta ao palco. De improviso, Jorge quis cantar o samba Acreditar (Ivone Lara e Délcio Carvalho) e Teresa teve que se encontrar no tom da música. Mas tudo já era festa. Que terminou com Embala Eu e o samba de roda Marinheiro Só. Escorada na cozinha segura do Grupo Semente, Teresa Cristina já era senhora da cena a essa altura do show e reinava feliz e descontraída, mostrando grande evolução cênica neste belo show.

Rodrix revive os hits dos 70 em gravação ao vivo

Compositor que esteve em grande evidência nos anos 70, quando criou músicas como Casa no Campo (bela parceria com Tavito, gravada por Elis Regina em 1972) e integrou o trio Sá, Rodrix & Guarabyra, Zé Rodrix rebobina sua obra em CD e DVD gravados ao vivo em 29 de março de 2008 em show realizado no Sesc Santos, em São Paulo (SP). O roteiro incluiu todos os hits da carreira solo do artista. Entre eles, Soy Latino Americano e Quando Será, duas boas músicas que tocaram muito nas rádios AMs da década de 70.

9 de abril de 2008

Perto dos 70, Francis finaliza a primeira ópera

Compositor de boa música popular que sempre tangenciou a arte erudita em seus projetos sinfônicos, Francis Hime dá os últimos retoques em sua primeira ópera, criada em parceria com a escritora Silvana Gontijo. Dividida em quatro atos, a Ópera do Futebol conta a história de dois filhos rivais de um ex-craque dos gramados. Apesar do tema popular, a ópera de Francis segue os cânones do gênero, tendo sido composta para cantores líricos e orquestra sinfônica. A intenção do compositor é encená-la em 2009, ano em que vai completar 70 anos - efeméride que deverá motivar reedições de seus discos.

Tiragem inicial de DVD é sinal do 'fogo' de Ana

A expressiva tiragem inicial de 100 mil cópias do quarto DVD de Ana Carolina, Dois Quartos - Multishow ao Vivo, é sinal do poder de fogo da artista no mercado fonográfico nacional. Amada e odiada na mesma intensa proporção, a cantora e compositora mineira é um dos poucos nomes capazes de esquentar uma indústria que vem esfriando a cada ano - como comprovou o recente relatório da Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD). Para se ter uma idéia da força dessa tiragem inicial, basta saber que, de todos os DVDs editados em 2007, somente dois títulos, Ivete no Maracanã - Multishow ao Vivo e Momento de Fé para uma Vida Melhor (Edição de Natal), ultrapassaram a casa das 100 mil cópias, tendo vendido, respectivamente, 553 mil e 239 mil exemplares. Eis a lista dos 20 DVDs mais vendidos no mercado brasileiro em 2007:

1. Ivete no Maracanã - Multishow ao Vivo - Ivete Sangalo
2. Momento de Fé para uma Vida Melhor (Edição de Natal) - Padre Marcelo Rossi
3. Palavras de Amor ao Vivo - Cesar Menotti & Fabiano
4. Cidade do Samba - Vários artistas
5. Acústico II - Bruno & Marrone
6. Best of MTV ao Vivo - Barão Vermelho
7. Acústico MTV - Sandy & Junior
8. Só pra Baixinhos 7 - Xuxa
9. Acústico MTV - O Rappa
10. 100% - Banda Calypso
11. Hecho en España - Tour Celestial 2007 - Rebelde
12. Ao Vivo em Uberlândia - Victor & Leo
13. The Confessions Tour - Madonna
14. RBD Live in Rio - Rebelde
15. Segundo ao Vivo - Maria Rita
16. MTV ao Vivo - Ivete Sangalo
17. RoupAcústico II - Roupa Nova
18. Acústico MTV 2 Gafieira - Zeca Pagodinho
19. No Auditório Ibirapuera - Renato Teixeira
20. Na Moda do Brasil ao Vivo - Edson & Hudson

Pato Fu reedita primeiro CD com raras 'demos'

Enquanto sua vocalista Fernanda Takai está em turnê nacional para divulgar seu primeiro disco solo, Onde Brilhem os Olhos seus, o Pato Fu reedita - com áudio remasterizado, material gráfico adicional e faixas-bônus - o primeiro álbum do grupo, Rotomusic de Liquidificapum, lançado em 1993. Ao repertório original, a banda acrescentou um registro ao vivo da música Gimme 30 e as (até então) raras versões demos de Spoc e Uncontrollabe Fu - gravadas bem no início da carreira do Pato Fu.
E por falar em Fernanda Takai, a carreira solo da vocalista do Pato Fu não vai se limitar ao álbum em que a artista recria o repertório de Nara Leão (1945 - 1989). O contrato assinado por Takai com a Deckdisc para a comercialização do CD Onde Brilhem os Olhos Seus - inicialmente distribuído pela Tratore - prevê a gravação de um segundo disco individual. Que pode ser um registro de show...

Maré plácida mantém curso fino de Calcanhotto

Resenha de CD
Título: Maré
Artista: Adriana
Calcanhotto
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * * *

Em vez de puxar Adriana Calcanhotto para correntezas mais agitadas, Maré situa a artista em águas plácidas que, de alguma forma, já impulsionavam o curso de sua discografia. O violão bossa-novista que introduz e pontua a faixa-título, parceria da compositora com Moreno Veloso, sinaliza o tom suave do álbum - imerso no alto padrão estético que molda a obra de Calcanhotto e que não foi transmutado pelo produtor Arto Lindsay. O piloto parece ter tido acertada discrição na condução do barco, que alterna trilhas novas e antigas. Destas, Mulher Sem Razão tem o mérito de fazer emergir uma jóia do mar de Cazuza (1958 - 1990), Dé Palmeira e Bebel Gilberto. Eleita para puxar Maré nas rádios, a música é da mesma leva de Preciso Dizer que te Amo e Mais Feliz, gravada por Calcanhotto em 1998 em seu disco, Maritmo, que mais dialoga conceitualmente com Maré, que, musicalmente, remete mais ao cool Cantada (2002). A recorrência ao cancioneiro de Dorival Caymmi é outro ponto convergente entre Maré e Maritmo, que formam as duas primeiras partes de uma trilogia idealizada por Calcanhotto durante a gestação deste seu oitavo álbum - encerrado com Sargaço Mar (1985), um fim de som adornado pelo violão doce de Gilberto Gil. A escolha desta música, uma das mais difíceis de Caymmi, indica a intenção da artista de navegar por trilhas menos óbvias. Mesmo quando canta uma balada radiofônica como Seu Pensamento, de letra cheia de questionamentos românticos. A música é bela parceria de Calcanhotto com o baixista Dé Palmeira.

A corrente lúdica do projeto infantil da artista, Adriana Partimpim (2004), deságua em duas grandes faixas de Maré. Um Dia Desses é surpreendente flerte com a canção ruralista do interior em que Moreno Veloso faz a segunda voz. Kassin musicou os versos de Torquato Neto (1944 - 1972) com singeleza. É o tema de maior apelo popular do álbum. Porto Alegre (Nos Braços de Calipso) se situa nestas mesmas águas lúdicas das quais emergem o canto da sereia Marisa Monte, que faz lindos vocalises neste tema latino de Péricles Cavalcanti que faz trocadilho no título com a cidade natal da cantora gaúcha. O duo com Marisa é mitológico.

Em corrente mais densa, a artista mergulha fundo nos versos de poema de Augusto de Campos, Sem Saída, musicado por Cid Campos. Pena que, ao musicar os versos revoltos de Waly Salomão (1944 - 2003) para Teu Nome Mais Secreto, a compositora não tenha mergulhado nas profundezas atingidas em Sem Saída. A melodia suave de Calcanhotto se opõe aos versos urgentes de Waly. Maré, aliás, é disco tragado por ondas poéticas de escritores como Ferreira Gullar, Antonio Cicero e Arnaldo Antunes - de quem Calcanhotto musicou com inspiração os versos de Para Lá. Cicero está representado por Três, recente parceria com a mana Marina Lima. A leitura de Calcanhotto é leve - na contramão do peso inadequado imposto por Ana Carolina à sua simultânea gravação da música - mas, das três intérpretes, Marina é a que parece, por motivos óbvios, ter compreendido mais os caminhos sinuosos de Três. Ferreira Gullar teve menos sorte: a regravação de Onde Andarás é a única faixa realmente dispensável de Maré. Novamente, Calcanhotto não mergulhou tão fundo e não expressa na gravação a extrema melancolia e desesperança dos versos de Gullar, musicados por Caetano Veloso para seu disco tropicalista de 1967. Impossível não pensar no mergulho mais profundo feito por Maria Bethânia no álbum Maria (1988). No todo, é justo reconhecer que a maré de Adriana Calcanhotto está cheia. De referências poéticas, de diálogo com as artes plásticas - como exemplifica a bela capa de Gilda Midani - e de uma modernidade que a mantém como uma das artistas mais inteligentes e refinadas de sua época. Maré não altera esse curso.

Eis as 11 músicas do álbum Maré e os respectivos compositores:

1. Maré (Adriana Calcanhotto e Moreno Veloso)
2. Seu Pensamento (Adriana Calcanhotto e Dé Palmeira)
3. Três (Marina Lima e Antonio Cicero)
4. Porto Alegre (Nos Braços de Calipso) (Péricles Cavalcanti)
5. Mulher sem Razão (Cazuza, Dé Palmeira e Bebel Gilberto)
6. Teu Nome Mais Secreto (Adriana Calcanhotto e Waly Salomão)
7. Sem Saída (Augusto de Campos e Cid Campos)
8. Para Lá (Arnaldo Antunes e Adriana Calcanhotto)
9. Um Dia Desses (Torquato Neto e Kassin)
10. Onde Andarás (Caetano Veloso e Ferreira Gullar)
11. Sargaço Mar (Dorival Caymmi)

8 de abril de 2008

Relatório da ABPD indica desinteresse por CDs

O relatório de vendas de CDs e DVDs referentes a 2007 - divulgado em 2 de abril pela Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) - indica desinteresse crescente por CDs e, sobretudo, por álbuns novos. Basta dizer que o CD mais vendido de 2007 - Minha Benção, de padre Marcelo Rossi (foto) - foi editado em 2006, vendeu 867 mil cópias no ano de seu lançamento e, ao longo de 2007, emplacou mais 252 mil cópias, se sagrando o campeão do ano passado. Em bom português, o CD mais vendido de 2007 somou apenas 252 mil cópias. E não é só: o CD MTV ao Vivo, lançado pelo grupo Jota Quest em 2003, aparece num honroso quinto lugar na lista dos vinte discos mais vendidos de 2007. Logo atrás, em sétimo lugar, vem o Acústico MTV do trio Kid Abelha, editado em 2002, e já na casa do 1,1 milhão de cópias.
É fato que estes antigos discos ao vivo ainda vendem bem por conta dos baixos preços cobrados por eles nas bancadas de promoções das redes de magazines (cerca de R$ 9,90) e por serem um best of de seus respectivos grupos, mas é fato também que parece haver frieza do público em relação aos novos lançamentos. Não é à toa que o CD vice-campeão, Ivete no Maracanã - Multishow ao Vivo, estacionou nas 218 mil cópias. E que coletânea de Ana Carolina, editada na série Perfil, vendeu mais (156 mil) do que seu álbum duplo Dois Quartos, ocupando o quarto lugar no desanimador ranking. Aliás, Ana aparece com três títulos na lista, enquanto nomes como Ivete Sangalo, Cesar Menotti & Fabiano, Bruno & Marrone e padre Marcelo Rossi aparecem com dois discos, cada. Já Samba Meu, o terceiro CD de Maria Rita, fechou 2007 com 120 mil cópias, ocupando o décimo lugar e vendendo menos do que o Segundo.
No total, o CD vem perdendo espaço como mídia preferencial do comércio de música. Em 2007, foram vendidos 25,4 milhões de CDs e DVDs - uma queda de 19, 2% em relação ao total de 2006 (31, 4 milhões). Estas vendas físicas renderam para as companhias um faturamento de R$ 215 milhões - valor 33,2% mais baixo em relação ao faturamento de 2006 (R$ 322 milhões). A boa notícia é que, do total de CDs vendidos, 78% foram de música brasileira, 19% foram discos de artistas estrangeiros e 3% foram de música clássica - gênero que, como o jazz, tem público pequeno, mas fiel.
Em contrapartida, os números são ascendentes no segmento de vendas digitais - incluído pela primeira vez no relatório da ABDP. O comércio de música via internet e telefonia móvel faturou R$ 24.287, 188 em 2007 - valor 185% superior ao faturamento de 2006. O comércio legal via internet já representa 24% do mercado digital contra 76% da telefonia móvel (em 2006, a proporção foi de 4% para 96%, o que sinaliza o crescimento das vendas na rede).

Eis a lista dos 20 CDs mais vendidos no Brasil em 2007:

1. Minha Benção - Padre Marcelo Rossi
2. Ivete no Maracanã Multishow ao Vivo - Ivete Sangalo
3. Palavras de Amor ao Vivo - Cesar Menotti & Fabiano
4. Perfil - Ana Carolina
5. MTV ao Vivo - Jota Quest
6. Sambas de Enredo 2008 - Vários intérpretes
7. Acústico MTV - Kid Abelha
8. High School Musical - Trilha sonora do filme
9. Acústico II Volume 1 - Bruno & Marrone
10. Samba Meu - Maria Rita
11. Perfil - Adriana Calcanhotto
12. Momento de Fé para uma Vida Melhor - Padre Marcelo Rossi
13. Acústico II Volume 2 - Bruno & Marrone
14. Ana Carolina - Dois Quartos
15. Sim - Vanessa da Mata
16. Estampado - Ana Carolina
17. Com Você - Cesar Menotti & Fabiano
18. Acústico MTV - Sandy & Junior
19. MTV ao Vivo - Ivete Sangalo
20. 100% - Grupo Revelação

Israel e Santos filmam turnê conjunta para DVD

Aproveitando a feliz coincidência de estarem lançando discos individuais pela gravadora Som Livre enquanto seus respectivos grupos (Kid Abelha e Barão Vermelho) estão em recesso, George Israel (à esquerda na foto de Celso Luiz) e Rodrigo Santos iniciam turnê conjunta que passará por 11 capitais e que será gravada para gerar DVD. A base da filmagem é o show que a dupla fará nesta terça-feira, 8 de abril, no Canecão (RJ), mas a idéia é captar imagens para os extras do vídeo em cada cidade. A direção do show e do DVD é de Pedro Paulo Carneiro. Israel e Santos - que também integram o grupo Os Britos, convidado do show carioca, assim como Jorge Mautner - vão fazer juntos um bloco acústico e, separadamente, mostrarão as músicas dos respectivos CDs solos. O roteiro inclui cinco músicas inéditas: 32 Segundos (de Rodrigo), Um Segundo Antes de Dizer Adeus (de Rodrigo com George), Não Olhe para Trás (outra parceria da dupla), Minha Reza (de George) e Diário do Homem Invisível, que é de Rodrigo Santos com Leoni.

Janet forja sensualidade vulgar em 'Discipline'

Resenha de CD
Título: Discipline
Artista: Janet Jackson
Gravadora: Island Def
Jam / EMI Music
Cotação: * *

Da mesma forma que seu irmão Michael vive em busca do trono já perdido, Janet Jackson tenta evocar a todo custo neste décimo álbum de estúdio a época em que ela reinou nas paradas de r & b. Discipline, que marca a estréia da artista no grupo Island Def Jam, não é um disco tão ordinário como Damita Jo (2004), por exemplo. Mas também está longe de ser um bom disco. Como pode ser percebido já nas fotos do encarte e da contracapa (a da capa é bacana), Janet força e forja uma sensualidade que beira a vulgaridade. Musicalmente, ela transita pelo r &b turbinado com batidas eletrônicas. Entre as 22 faixas, incluindo músicas e vinhetas como a de abertura (I.D. - em que a cantora responde perguntas feitas por uma voz robótica), salva-se pouca coisa. É justo reconhecer que Feedback e Luv têm batidas envolventes. Rock with U se redime pela pegada pop. Mas é pouco. Para piorar, as letras do álbum são rasas. Janet Jackson já parece tão fora do eixo como o mais famoso de seus irmãos. Pena!

Casseta brinca com os emos em hit de Jackson

Parceria de João do Vale (1933 - 1996) com Alventino Cavalcante e Ayres Viana, lançada em 1956 com estrondoso sucesso por Jackson do Pandeiro (1919 - 1982) em gravação editada em disco de 78 rotações por minuto, o baião sincopado O Canto da Ema inspirou o humorista Reinaldo, integrante do grupo Casseta & Planeta, a brincar com os emos através de uma charge publicada no Blog dos Cassetas na série Novos Antigos Sucessos da MPB. Reinaldo também é músico e toca baixo na Companhia Estadual de Jazz (CEJ), quinteto que lançou o CD Via Bahia no fim de 2007.

7 de abril de 2008

Coletânea reaviva a voz de Sinatra com inédita

A Warner Music divulgou nesta segunda-feira, 7 de abril, que vai lançar nova coletânea de Frank Sinatra, Nothing But the Best, para lembrar os 10 anos da morte do cantor, ocorrida em 14 de maio de 1998. A compilação inclui uma gravação inédita em disco de Body and Soul, em que Sinatra canta acompanhado pela orquestra regida por seu filho Frank Sinatra Jr. A nova seleção inclui 22 fonogramas da discografia de Sinatra na Reprise, a gravadora que fundou em 1961 após deixar a Capitol Records. Entre os hits, há Strangers in the Night, My Way e New York New York. Englobam a terceira e última fase da obra da Voz.

Cansei de Ser Sexy finaliza seu segundo álbum

Banda brasileira de eletropop, atualmente com grande visibilidade no exterior, Cansei de Ser Sexy já finaliza seu segundo álbum, intitulado Donkey. O sucessor de CSS - Cansei de Ser Sexy (Trama, 2005) foi mixado por Mark Spike Stent, colaborador de nomes como Björk (aliás, simpatizante do grupo). O lançamento do disco está previsto para maio ou junho e, nos Estados Unidos, será orquestrado pela SubPop, gravadora que editou o primeiro CD do CSS no mercado norte-americano na seqüência da edição nacional da Trama. Por ora, Donkey vai sair somente nos EUA, Canadá, Europa (via Warner Music) e no Japão (por um selo local).
E por falar no Cansei de Ser Sexy, quando Donkey chegar às lojas, o sexteto terá perdido a baixista Ira Trevisan, que decidiu deixar a banda para se dedicar à moda. Ira, que se desliga do grupo em maio, vai ser substituída pelo baterista Adriano Cintra enquanto as baquetas serão assumidas pelo norte-americano Jon Harper, que vem trabalhando como roadie do Cansei de Ser Sexy.

Cristovão curte a gafieira com liberdade estética

Resenha de CD
Título: Curtindo a Gafieira
Artista: Cristovão Bastos
Gravadora: Independente
Cotação: * * * 1/2

Foi nos bailes da vida que, aos 17 anos, Cristovão Bastos pôs o pé na profissão de tocar seu instrumento, o piano. E coube ao músico debutar em salões de gafieira. Seu sexto CD, Curtindo a Gafieira, evoca o clima dançante desses salões onde se baila ao som de sambas, choros e boleros. Com repertório autoral arranjado pelo próprio Cristovão, Curtindo a Gafieira apresenta a mistura brasileira típica do gênero e, embora tenha também números mais calmos, como as aboleradas Fim de Tarde - Posto 3 e Rosto Colado, o baile do pianista é mais sedutor nos sambas como Gafieira Suburbana e O Galo Fugiu. Para apreciadores das formas técnicas da música, Maxixe, Quiabo e Jiló tem sabor especial por ser maxixe tocado em compasso ternário. Ao lado de virtuoses como o baterista Carlos Bala e o saxofonista Zé Canuto, para citar somente dois nomes do time de craques que bailam na gafieira de Cristovão, o pianista exercita a liberdade do improviso em temas como o Partido da Canja e o samba Vai e Volta. A curtição dos músicos dá o tom espontâneo da dança de Cristovão Bastos. O baile é bom.

Péri voa alto no 2º tempo do samba passarinho

Resenha de CD
Título: 2º Tempo
Artista: Péri
Gravadora: Baticum Discos
Cotação: * * * *

Integrante do time de jovens compositores realçados por Gal Costa no bom CD Hoje, o baiano Péri já chega ao quinto álbum, ironicamente intitulado 2º Tempo por remeter ao seu disco anterior, Samba Passarinho, editado no mesmo ano de 2005 em que Gal gravou sua deliciosa música Voyeur. Pois Péri voa ainda mais alto neste trabalho em que prioriza o samba. Um samba que tem assinatura própria e bem pessoal, ainda que evoque - a exemplo de faixas como Cadê Quem (Péri / Ariston) - a batida do Recôncavo Baiano. 2º Tempo ratifica o talento de Péri.
"Andam dizendo por aí / Que eu não entendo de samba / Que eu não nasci no morro / Não conheço tamborim / Isso parece mais dor de cotovelo / De quem não me conhece / Ou não gosta de mim", alfineta Péri com segurança nos versos de Dor de Cotovelo, cantados pelo autor em dueto com a cantora Marcela Bellas. De fato, não há tamborim no CD. Mas a guitarra eletroacústica tocada pelo autor e a bateria de Serginho Rezende garantem o suingue, com o eventual auxílio da percussão de Ricardo Valverde em sambas como Segundo Tempo, no qual Péri narra a adrenalina que toma conta dos jogadores de futebol na segunda decisiva metade das partidas. Na seqüência, A Bola da Vez mantém o pique do CD.
Além de Marcela Dellas, três vozes femininas reforçam o time de convidados do álbum. Habitual intérprete de Péri, Vânia Abreu participa de O Mundo Virou. Sylvia Patricia pôs sua voz na manemolente Tem Quem Queira. Já Jussara Silveira evoca sua origem mineira - ela nasceu na fronteira de Minas Gerais com Bahia, Estado com o qual está mais identificada no país das cantoras - em Veloz, canção bucólica e melancólica que cita na letra o trem de ferro e as montanhas das Geraes. Sim, entre sambas autorais e um alheio (Três Sorrisos, parceria de Chocolate com Mário Lago, gravada por Nelson Gonçalves), Péri apresenta algumas canções na segunda metade do disco. O Amor, de Beto Pellegrino, teve direito até aos violinos de Ricardo Hers em seu belo registro. Mas é um samba, Maledicência, que encerra o álbum em Péri voa alto sobre os clichês do gênero do qual parece, sim, ter bom entendimento. Mesmo que desconheça o tamborim...

6 de abril de 2008

Aos 63 anos, Rod bate um bolão na volta ao Rio

Resenha de show
Título: Rod Stewart
Artista: Rod Stewart
Local: HSBC Rio Arena
Data: 5 de abril de 2008
Cotação: * * * *

Aos 63 anos, Rod Stewart mostrou no seu retorno aos palcos cariocas que ainda bate um bolão. Aliás, até literalmente. Ao reviver um de seus clássicos, Hot Legs, ele arremessou bolas de futebol para a platéia de quase 10 mil pessoas que pagou entre R$ 200 e R$ 500 para ver o artista (em foto de Catarina Zaratin) cantar na HSBC Arena os mesmos sucessos que estiveram presentes na sua marcante vinda à cidade em 1985 para show na primeira edição do Rock in Rio (desde então, Rod fez shows no Rio outras vezes).
Foi bom? Foi. Se em seus últimos discos Rod vem assumindo papel senhoril, ao regravar burocraticamente standards da música norte-americana, no palco ele volta a encarnar o roqueiro. A voz rouca, quase áspera, ainda está em forma. Mesmo que Rod tenha imposto ao público um injustificável intervalo de dez minutos e mesmo que tenha passado a bola em determinado lance para que uma de suas afiadas vocalistas cantasse Proud Mary, ele ainda tem pique para entreter uma platéia que, afinal, não esperava nada além de sucessos como Tonight's the Night, Maggie May (com direito a trecho cantado a capella) e, claro, baladas doces como You're in my Heart, I Don't Want Talk About It e Sailing - esta com projeção de imagens de um navio zarpando e com direito a mais bolas arremessadas para a platéia enquanto o guitarrista fazia seu solo. E todos foram acompanhados em coro pelo público.
Rod percebeu que o jogo estava ganho desde o início. A platéia estava ali para aplaudir seu craque e cantar a plenos pulmões músicas como Have You Ever Seen the Rain? - o hit do Creedence Clearwater Revivel do qual Rod se apropriou em seu último disco de covers, Still the Same... Great Rock Classics of Our Time. E, justiça seja feita, Rod tem seus próprios clássicos na seara do rock e lançou mão deles sem qualquer teor de novidade no arranjos. Da ya Think I'm Sexy? (no bis) e Baby Jane, por exemplo, reapareceram em suas formas originais. Como fã gosta...
Mesmo com a preguiça de criar novas jogadas que surpreendam sua torcida, o jogador está em boa forma para seus 63 anos. Às vezes, faz até bom rock'n'roll - como em Sweet Little Rock and Roller, tributo aos pioneiros dos anos 50. Mas o rock de Rod é adoçado e alternado com suas babas. No todo, fica claro que o craque permanece em campo porque revive sem ousadia os melhores lances de uma carreira que teve seu auge na década de 70. E, por isso, Rod Stewart vence o jogo sem um mínimo esforço.

Eis o roteiro do show feito por Rod Stewart no Rio de Janeiro:
1. It's a Heartache
2. Some Guys Have All the Luck
3. This Old Heart of Mine
4. Tonight's the Night
5. Rhythm of my Heart
6. Downtown Train
7. First Cut in the Deepest
8. Have I Told You?
9. Having a Party
10. Have You Ever Seen the Rain?
11. Fooled around and Fell in Love
12. Sweet Little Rock and Roller
13. Young Turks
14. You're in my Heart
15. Twistin' the Night Away
16. Proud Mary
17. I Don't Want to Talk about It
16. Hot Legs
17. Maggie May
18. Sailing
19. Baby Jane
Bis:
20. Da ya Think I'm Sexy?

B-52's refaz festa divertida na velha onda dos 80

Resenha de CD
Título: Funplex
Artista: The B-52's
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * 1/2

Ainda bem que, ao gravar seu primeiro álbum em 16 anos, o grupo The B-52's resistiu à tentação de soar moderno e atual. Mesmo que incorpore sutis novidades na receita sonora deste grupo-ícone da New Wave dos anos 80, Funplex reedita em essência o clima festivo que dominava os discos do quarteto em sua década áurea. Além de apagar a má impressão deixada pelo esquecível Good Stuff (1992), Funplex renova a trilha da festa que o B-52's fazia na velha onda dos 80. Por mais que nomes como Cansei de Ser Sexy e Scissor Sisters tenham sido recrutados para remixar as músicas do disco para inserir o repertório em pistas contemporâneas, o que se ouve no CD são músicas identificadas com o tom frívolo e descompromissado do pop rock feito pelo grupo nos 80. Entre os destaques, há Hot Corner, Keep the Party Going, Dancing Now e faixa-título. A única faixa mais destoante é Love in the Year 3000, em que o grupo recorre de forma mais forte aos recursos eletrônicos. Há na gravação clima espacial adequado ao espírito da música. Em tom mais pop, Juliet of the Spirits cita já no título o clássico filme homônimo do cineasta Federico Fellini (1920 - 1993). Mas é apenas um verniz intelectual, pois não há espaço para papo-cabeça na festa alegre do reavivado B-52's. Ainda bem.

Sapucahy canta crime na ótica de Gonzaguinha

Obscuro samba de breque, da lavra de Gonzaguinha, gravado pelo autor em 1980 no disco De Volta ao Começo, um ano depois de ter sido lançado pelo Quarteto em Cy no LP Em Mil Kilohertz, A Cidade contra o Crime é a maior surpresa do segundo CD de Leandro Sapuchay, +1+Uma - já pronto, mas ainda sem previsão de lançamento pela Warner Music. O conceito do disco gira em torno do violento caos social que rege o Rio de Janeiro e que já tinha sido pioneiramente retratado por Gonzaguinha nos versos de A Cidade contra o Crime. +1+uma conta com adesões de Arlindo Cruz (em Força de Vontade), Leci Brandão (na faixa Mais Poder) e de Serginho Meriti (em Periferia).

R.E.M. acelera beats de seu rock em grande CD

Resenha de CD
Título: Accelerate
Artista: R.E.M.
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * *

Accelerate, o álbum que o R.E.M. lançou em 1º de abril em escala mundial, faz jus ao seu título. Traz um rock de batidas aceleradas que remete aos primeiros discos da banda e que vai na contramão de seu melancólico álbum anterior, Around the Sun (2004), pontuado por baladas cinzentas. O R.EM. se reconcilia com o rock pelas mãos do produtor Jacknife Lee, o piloto que conduziu o U2 no incensado CD How to Dismantle an Atomic Bomb (2004), trabalho que renderia até um Grammy de Álbum do Ano ao grupo.

Com Jacknife Lee, o R.E.M. gravou um CD compacto, coeso e eventualmente pesado. As guitarras explodem em faixas como Horse to Water. Contudo, o primeiro single escolhido pela Warner Music para promover o álbum, Supernatural Superserious, tem batida pop que poderá ajudar na reabilitação do grupo no mercado fonográfico, já que Around the Sun obteve pífio desempenho comercial. O pique de Accelerate é roqueiro, ainda que o repertório inclua uma ou outra balada como Until the Day Is Gone. E isso não é nenhum demérito. Afinal, Michael Stipe e sua turma - é justo lembrar - já fizeram bons álbuns, caso de Reveal (2001), com beats menos acelerados. Em Accelerate, a banda tira o pé do freio e se revela em forma e com peso - como já sinalizara I'm Gonna DJ, música deste novo álbum que já apareceu no recente R.E.M. Live, combo triplo que embalou na mesma edição DVD e CD duplo gravado ao vivo. Fãs novos e antigos certamente vão celebrar a acelerada do grupo neste grande disco.