Resenha de CDTítulo: Samba MeuArtista: Maria RitaGravadora: Warner MusicCotação: * * * "Meu samba é de bossa e não de grito", já avisa Maria Rita em verso da faixa-título de seu terceiro CD,
Samba Meu, nas lojas a partir desta sexta-feira, 14 de setembro, com tiragem inicial de 125 mil cópias. Ao abrir o disco com este samba do carioca Rodrigo Bittencourt, a cantora já revela sua carta de intenções neste trabalho salutar produzido por Leandro Sapucahy. Maria Rita tem bossa mesmo. Muita. A ponto de transformar um samba mediano como
Num Corpo Só (lançado pelo grupo de pagode Samba Tri) num sambão quebrado à moda de Djavan. Mas o fato é que o CD cresce mais quando a intérprete sobe o morro.
O Homem Falou, jóia do baú de Gonzaguinha (1945 - 1991), é um belo e festivo momento de
Samba Meu. Inclusive pela presença da Velha Guarda da Mangueira com nobres vocais. Quando canta samba como se estivesse no interior de uma boate, como em
Pra Declarar minha Saudade, o disco logo perde pique.
Se há (sério) problema em
Samba Meu, é a falta de diversidade autoral do repertório. Arlindo Cruz é um inspirado compositor do gênero. Só que incluir seis sambas do bamba num CD de 14 faixas reduz o campo de experimentação - até porque, dos seis sambas, há uns ótimos (
Maltratar Não É Direito é o melhor e tem acertado clima de pagode), mas há também uns bem dispensáveis - casos de
O que É o Amor e de
Trajetória, este já gravado por Elza Soares em 1997 e rebobinado por Rita em um clima de boate, com o piano de Tiago Costa em destaque no arranjo. Faltou maior rigor na seleção do repertório...
Cria (de Serginho Meriti e César Belieny) também pouco acrescenta ao álbum. Faltou também coragem de ir além do universo de Leandro Sapucahy, amigo de Meriti e de Arlindo Cruz.
De positivo, há a opção de gravar o carioca Edu Krieger, dos mais talentosos compositores da geração projetada na Lapa.
Maria do Socorro é uma delícia na voz de Rita com seu balanço contagiante. Já
Novo Amor - e não há como não comparar - ficou muito aquém da leitura sublime de Roberta Sá, mesmo com o acompanhamento luxuoso do grupo de choro Galo Preto. Rita acelerou o andamento do tema e - com isso - se foi parte da beleza da música de Krieger. Em contrapartida,
Mente ao meu Coração - antigo samba-canção gravado por Paulinho da Viola e Elizeth Cardoso (1920 - 1990) - se impõe como grande momento de um disco que começa e termina com a voz de Maria Rita
a capella. E que distancia a intérprete do canto de sua mãe, Elis Regina - exceto talvez nos improvisos finais de
Corpitcho, samba malandríssimo em que a filha da
Pimentinha mostra que herdou parte da bossa da mãe. No todo, fica a certeza de que o samba de Maria Rita é bom, mas que poderia ser melhor.