23 de dezembro de 2006

Temas de Natal na voz operística de Pavarotti

Para quem gosta dos arroubos operísticos do tenor Luciano Pavarotti, a boa dica é o DVD Christmas with Luciano Pavarotti (capa à direita), editado pela nova gravadora do mercado, Coqueiro Verde Records. No vídeo, gravado em 1988 na Catedral de Notre Dame, no Canadá, com direito à orquestra e a coro infantil regidos pelo maestro Franz Paul Decker, o tenor italiano interpreta temas natalinos e religiosos como O Holy Night, Gesu Bambino, Ave Maria, Adeste Fidelis, Hallelujah e Agnus Dei.

Chega ao DVD coletânea de vídeos do The Who

No rastro do lançamento do fraco primeiro álbum de estúdio do grupo The Who em 24 anos, chega às lojas - pela Universal Music - a reedição em DVD de Whos's Better, Who's Best, coletânea de vídeos da banda de Pete Townshend, lançada originalmente em VHS em 1988. Aos 17 vídeos originais de grandes hits como My Generation e Pinball Wizard (música captada ao vivo), foram acrescentados clipes de Don't Let Go the Coat, Another Tricky Day e Eminence Front. Dez!

Mautner revela duas novas de Gil em 'Revirão'

As duas únicas músicas compostas por Gilberto Gil desde que ele assumiu o Ministério da Cultura do governo Lula - o samba Outros Viram e a balada Os Pais - podem ser ouvidas em Revirão (foto), o álbum de inéditas que Jorge Mautner vai lançar no começo do ano. O disco tem participações de Caetano Veloso (em bolero de 1958, Estilhaços de Paixão, já gravado por Mautner), Nelson Jacobina e Preta Gil.

Strike grava clipe de disco que lança em abril

A foto acima foi clicada por Roberta Guimarães na gravação do clipe da música Paraíso Proibido, primeiro single do disco que o grupo Strike vai lançar em abril, via Deckdisc. Dirigido por Bruno Martinho, que já assinou vídeos de bandas como Jota Quest e O Rappa, o clipe foi filmado num estúdio do bairro carioca de São Cristóvão e contou com a adesão de cerca de 130 figurantes. O Strike é um quinteto pop de Juiz de Fora (MG) que conquistou fãs através da internet e acabou contratado pela gravadora Deckdisc.

Retrô 2006 - Mendes correu atrás do tempo...

Já ciente de que seu som não é atemporal, Sérgio Mendes correu atrás do tempo perdido, inseriu o hip hop na sua batida de música brasileira e voltou às paradas com Timeless, álbum lançado em fevereiro com single muito familiar aos fãs de Mendes: Mas que Nada, tema de Jorge Ben que impulsionou o sucesso mundial do conjunto Brazil' 66 e apareceu repaginado em 2006 com a levada de will.i.am, o rapper do miscigenado grupo Black Eyed Peas. Funcionou - e Mendes faturou até indicação ao Grammy de 2007.

Se "o samba é a tristeza que balança" como sentenciou Vinicius de Moraes em célebre verso do Samba da Benção, rebobinado por Marcelo D2 neste álbum de Sérgio Mendes, o balanço atualmente está na mão dos rappers. Pelo menos nos EUA, onde, há 40 anos, o artista propagou mundialmente a bossa e o suingue brasileiros com o disco Sérgio Mendes & Brasil '66. Não foi por acaso que um rapper, will.i.am, comandou o balanço salutar de Timeless. Munido de teclados e do velho piano, Mendes entrou em sintonia com o presente, embora o título do CD - atemporal, em português - tenha tentado impor um caráter perene a estas novas gravações.

Primeiro disco de Mendes em dez anos, Timeless correu atrás do tempo ao propor a interação da música brasileira com o rap e com o rhythm and blues. As fusões desceram bem, no todo. Ainda que uma ou outra tenha transformado temas como Surfboard (de Tom Jobim) em algo perto de macumba para turista. Não, Timeless não soou uniforme - a começar pelo time eclético de convidados que pôs lado a lado nomes como Justin Timberlake e India.Aire, convidada da faixa-título. Se Please Baby Don't foi pop melodioso de John Legend - gravado com a participação do compositor - que destoou do tom verde e amarelo do CD, houve, em compensação, as cordas virtuosas dos violões do Quarteto Maogani em Lamento no Morro. Houve também Guinga e (novamente...) D2 em Fo'-Hop (Por Trás de Brás de Pina). E houve a gaita inconfundível de Stevie Wonder no medley que uniu Berimbau e Consolação. Nada mal...

Mendes quis se atualizar. E voltou às paradas munido das mesmas armas de 1966: a bossa e o suingue da música brasileira atemporal feita por nomes como Jobim, Baden, Vinicius, Jorge Ben... agora reprocessada no compasso do rap. O balanço já é outro e o artista não quis perder o bonde da história porque - como já sentenciou o stone Mick Jagger - o tempo nunca esperou mesmo por ninguém...

22 de dezembro de 2006

Um papo com Caetano sobre créditos e discos

Em 1972, sete anos antes de ser projetada com seu primeiro disco, uma então desconhecida Ângela Ro Ro entrou num estúdio de Londres e iniciou carreira fonográfica ao tocar gaita em Nostalgia, faixa de Transa, o LP que Caetano Veloso gravou naquele ano. Mas o nome de Ro Ro nunca apareceu nos créditos das sucessivas reedições do álbum e, na desleixada ficha técnica do LP original, constava erroneamente que ela tocava flauta. O erro está sendo, enfim, reparado com a reedição de Transa incluída em 67 - 74, a primeira das quatro caixas da série Quarenta Anos Caetanos, que festeja as quatro décadas do ingresso do artista baiano, em 1967, na companhia (atualmente...) denominada Universal Music.

"Naquela época, não saía nome de músico nos discos do Brasil", argumenta Caetano Veloso na entrevista coletiva que concedeu no início da noite de quinta-feira, 21 de dezembro, na sede carioca da gravadora Universal Music, para promover a nova coleção produzida por Charles Gavin. Caetano ditou a Gavin de memória a ficha técnica de Transa, cuja atual reedição em CD reproduz o formato triângular do encarte do LP de 1972 e dá o devido crédito a músicos como Jards Macalé (violão) e Tutty Moreno (bateria). Aliás, por conta de anteriores omissões dos créditos, perpetuadas na recente reedição feita para a caixa Todo Caetano (de 2002), Macalé comprou briga com o velho baiano ao reivindicar há anos - via imprensa - o crédito de produtor do cultuado disco londrino.

"Fiquei de mal com Jards Macalé porque ele ficou me agredindo na imprensa. Mas ele mesmo criou e descriou a briga pela imprensa", ressalta Caetano, contando que, ao encontrar recentemente com Macalé no aniversário da atriz Marieta Severo, selou a paz com o colega e o intimou a ver seu show , apresentado esta semana no Rio de Janeiro em dois concorridos espetáculos no Circo Voador.

Créditos à parte, a conversa girou em torno de gravações inéditas que serão apresentadas nas quatro caixas (as próximas três serão lançadas ao longo de 2007). Uma das jóias encontradas no baú é um registro de A Rã, parceria de Caetano com João Donato. "Eu achei lindo. Eu sozinho tocando vioão no estúdio... Foi nos anos 70, um pouco depois da gravação da Gal", contextualiza Caetano, em referência ao fato de Gal Costa ter incluído A Rã em seu disco Cantar, de 1974. Outra gravação inédita que virá à tona é uma leitura de Caetano para Mamãe Natureza, o rock de Rita Lee. "É espetacular", garante Caetano, assumindo a habitual e já folclórica imodéstia. Diz ele, sincero: "Sou leonino. Não sou modesto. Mas não tenho avaliação muito positiva da minha produção, não. O meu desejo de melhorar sempre foi constante... e muito prático".

Mais discreto, Charles Gavin contou que a reprodução da capa do compacto duplo gravado ao vivo por Caetano com os Mutantes, em 1968, somente foi possível porque o argentino Rodolfo Martin, fã e colecionador da obra do baiano, enviou a imagem da Flórida (EUA). A tal capa pode ser vista no encarte do CD-bônus Cinema Olympia - Caetano Raro e Inédito, que inicia a justa revirada no baú com dois fonogramas inéditos: a música-título, de 1969, e uma gravação de Hino do Esporte Clube Bahia, feita em 1968 com Gilberto Gil ao violão. O titã também revelou que foi encontrada a gravação integral do show feito por Caetano com Maria Bethânia em 1978 - editada no LP por falta de espaço. Mas, se viabilizada, a reedição do álbum com a bem-vinda inclusão das sobras será feita fora da coleção Quarenta Anos Caetanos. Talvez já em 2008...

Sobre a longa e ininterrupta permanência na gravadora Universal Music, fato raro no momento em que quase todos os medalhões da MPB partiram para o mercado independente, Caetano credita sua fidelidade fonográfica a uma acomodação na área empresarial. "Eu não tenho muita motivação para tomar decisões nessa área profissional. Não tive nenhuma motivação para sair da gravadora - exceto uma vez por causa de um dirigente - e nem pretendo criar uma empresa", argumenta, com aparente vitalidade para mais 40 anos de músicas e polêmicas, a julgar por seu recente álbum ...

Caixa de Caetano traz duas gravações inéditas

Fãs de Caetano Veloso que não puderam obter a sofisticada caixa Todo Caetano - produzida por Charles Gavin e posta nas lojas em dezembro de 2002 - ganham (ótima) segunda oportunidade de renovar toda a discografia do compositor com a aquisição de reedições enfim decentes. A gravadora Universal Music está lançando neste fim de ano a primeira das quatro caixas da boa coleção Quarenta Anos Caetanos. Intitulada 67-74, a caixa inicial (foto) reúne reedições remasterizadas dos álbuns Domingo (1967), Caetano Veloso (1967), Tropicália ou Panis et Circensis (de 1968), Caetano Veloso (de 1969), Caetano Veloso (1971), Barra 69 (1972), Transa (1972), Juntos e ao Vivo (1972), Araçá Azul (1973) e Temporada de Verão ao Vivo na Bahia (1974). A gravadora aproveitou a remasterização feita em 2002 - com a supervisão de Gavin - assim como a remixagem dos álbuns Caetano Veloso (de 1967), Tropicália (1968) e Caetano Veloso (1969). Contudo, a embalagem é outra: em vez das graciosas miniaturas das capas dos LPs originais, os dez discos voltam ao catálogo com a tradicional capa de vidro - o que deverá facilitar a fabricação de posteriores edições avulsas. Nada, afinal, que tire a beleza do tristonho álbum de 1971, gravado durante o forçado exílio londrino. Do flerte com a poesia concretista do disco de 1969. Das sementes tropicalistas plantadas no trabalho solo de 1967. Da atitude pop de Transa. E mesmo dos experimentos radicais de Araçá Azul. São discos que constituem a obra fundamental do artista e continuam essenciais.

Para fisgar fãs de Caetano, cada uma das quatro caixas trará CD-bônus com gravações avulsas da obra do compositor. Intitulado Cinema Olympia - Caetano Raro e Inédito, o CD da caixa 67 - 74 revela dois bons registros inéditos em disco, encontrados em 2002. Trata-se de Cinema Olympia (em versão-demo gravada por Caetano em 1969 para mostrar o rock a Gal Costa, que o registrou naquele ano) e do Hino do Esporte Clube Bahia, em gravação de 1968, feita em ritmo de marcha-frevo com Gilberto Gil ao violão. Não tão raras, posto que já inseridas em coletâneas, há as quatro músicas (A Voz do Morto, Baby, Saudosismo e Marcianita) do compacto duplo gravado por Caetano com os Mutantes em 1968. Assim como as duas faixas (Yes, Nós Temos Bananas e Ai de mim, Copacabana) de tropicalista compacto simples lançado em 1968. Outras jóias são o samba É Coisa do Destino (lado B de compacto de 1972) e Frevo do Trio Elétrico (o lado B de compacto de 1973).

Aviso: as outras três caixas da série Quarenta Anos Caetanos - inspirada na coleção Pra Sempre, produzida pela Sony BMG com reedições da obra de Roberto Carlos - serão lançadas ao longo de 2007. A próxima vai abranger o período 1975 - 1982. Que venha!

Pitty grava primeiro CD ao vivo no Rio em 2007

Pitty (foto) aceitou gravar seu primeiro CD ao vivo em 2007. O registro será feito no Circo Voador, no Rio de Janeiro (RJ), provavelmente em abril. A gravação também vai dar origem a um DVD, o segundo da roqueira. O repertório será formado pelo tradicional mix de sucessos, algumas inéditas e releituras de músicas de outros compositores. Sai via Deckdisc.

Vitor Ramil grava nono CD com Marcos Suzano

O cantor e compositor gaúcho Vitor Ramil (em foto de Ana Ruth) grava disco dividido com o exímio percussionista Marcos Suzano. As gravações começaram este ano e serão concluídas em 2007. Será um CD somente de voz, violão e percussão. O último álbum de Ramil, Longes, foi editado em 2004. O trabalho com Suzano vai ser o nono título da discografia do irmão de Kleiton e Kledir.

Retrô 2006: Casuarina revirou o baú do samba

Cria da Lapa (RJ), celeiro de novos sambistas, o quinteto carioca Casuarina (foto) foi uma das gratas revelações de 2006 na área do samba. Seu primeiro e ótimo disco, Casuarina, saiu em janeiro, com edição da gravadora Biscoito Fino, mas o grupo existe desde 2001. E neste fim de ano - a propósito - o Casuarina já começa a pensar no segundo CD, cujo repertório será formado basicamente por inéditas de autoria dos músicos (entre elas, Certidão, samba do vocalista João Cavalcanti com o bandolinista João Fernando). Mas foi revirando os baús dos bambas que o conjunto se destacou.

À primeira audição, Casuarina, o CD, pareceu mais um disco de mais um grupo formado na Lapa por uma rapaziada que descobriu o samba a partir da revitalização do bairro, dos mais tradicionais da boemia carioca. Aos poucos, o álbum de estréia do quinteto foi conquistando o ouvinte por conta do tom bem descontraído das interpretações e, sobretudo, pela bela pesquisa de repertório feita por Gabriel Azevedo (voz e percussão), Daniel Montes (violão e vocais), João Fernando (bandolim e vocais), João Cavalcanti (voz e percussão) e Rafael Freire (cavaquinho e vocais). Houve toques inusitados como a inclusão - entre sambas e partidos de autores tradicionais - de preciosidade da lavra do grupo Novos Baianos, Swing de Campo Grande, rebobinada com graça ao lado de Teresa Cristina (ela também é cria de bares e de casas de samba da Lapa).

Exceto pela faixa de abertura, Pranto de Poeta (clássico de Nelson Cavaquinho com Guilherme de Brito), a seleção do Casuarina fugiu completamente do óbvio, o que aumentou o valor do álbum. Foi um prazer ouvir - com os vocais joviais da turma - músicas pouco conhecidas de Zé Kétti (400 Anos de Favela), Adoniran Barbosa (Já Fui uma Brasa, em que o compositor paulista satirizava, com a habitual verve, o domínio da Jovem Guarda nas rádios da década de 60), Ataulfo Alves (Laranja Madura, à altura de suas melhores criações) e Nelson Sargento (Falso Moralista). Fato: somente uma turma que entende mesmo de samba pescaria pérola como Minha Filosofia, gravada por Alcione em seu disco de 1981 (o último na antiga Philips). O grande samba é de autoria de Aluísio Machado. E o que dizer de partidos de alto quilate como Na Intimidade meu Preto (do sempre inspirado Nei Lopes) e Formiga Miúda (Wilson Moreira e Sérgio Fonseca), lado B do terceiro obscuro LP de Zeca Pagodinho, Boêmio Feliz (1989)? São simplesmente irresistíveis.

Aliás, o cantor João Cavalcanti tem um quê de Zeca Pagodinho na forma informal, meio suja, com que interpreta os sambas. O unico senão do disco foi a incursão do Casuarina pela música nordestina. Pot-pourri com hits de Jackson do Pandeiro e um tema clássico de Gordurinha (Súplica Cearense) - em gravações apenas corretas - sinalizaram que a praia deste quinteto carioca é mesmo o samba...

21 de dezembro de 2006

Show de Caetano supera disco em clima jovial

Resenha de show
Título:

Artista:
Caetano

Veloso
Local:
Circo Voador

(RJ)
Data:
20 de dezembro

de 2006
Cotação:
* * *

Por abrigar em sua lona sons e vibes joviais desde sua fundação, em 1981, o Circo Voador teve o clima e a atmosfera apropriados para Caetano Veloso fazer a estréia no Rio do show , em duas concorridas apresentações em 19 e 20 de dezembro. Apesar da acústica ruim e da (hiper)lotação que impediu parte do público de ver o show por inteiro, cumpriu bem sua função de entreter platéia jovem que admira a sonoridade de rock indie experimentada por Caetano no álbum homônimo, editado em setembro com repertório de tintas sexuais e rarefeita inspiração melódica. Os jovens curtiram o disco - superestimado pela crítica.

O roteiro de reproduz com fidelidade músicas e arranjos do CD com o auxílio luxuoso da guitarra de Pedro Sá, do baixo (e teclado eventual) de Ricardo Dias Gomes e da bateria de Marcelo Callado. As roqueiras Odeio e Rocks tiveram imediata empatia com o jovial público, com seus refrões repetidos em coro. Em contrapartida, a ibérica Minhas Lágrimas - grande destaque da safra caetânica de 2006, ao lado da bela canção confessional Não me Arrependo - não ressurgiu no palco com toda a beleza do disco. Por sua vez, o rap O Herói - sem empolgar - teve confirmado seu caráter insosso.

Os grandes momentos de são números em que Caetano adapta músicas antigas (e bem mais inspiradas) ao tom roqueiro do show. Sampa (de 1978) ganhou contornos modernistas. Fora da Ordem (1992) reapareceu muito distorcida. London London (de 1971) foi moldada a la Pixies. Já o reggae Nine Out of Ten (1972) teve o seu andamento acelerado em contraponto com o solo de Caetano em A Voz do Violão, bonita música do repertório de Francisco Alves.

Entre o deslocado frevo Chão da Praça (Moraes Moreira e Fausto Nilo, 1979) e o bom bis, encerrado com Descobri que Sou um Anjo (Jorge Ben Jor, 1969), o compositor apresentou até inédita, Amor Mais que Discreto, precedida por Ilusão à Toa (Johnny Alf), musa inspiradora da trivial canção. Bem sacadas foram a inclusão de O Homem Velho (1984) - de temática em sintonia com o universo do CD - e a releitura minimalista de Desde que O Samba É Samba (1993), com direito à guitarra wah wah e percussão suave. Enfim, é um bom show que valoriza um disco não tão bom, mas que, compreensivelmente, caiu nas graças do público jovem e tem sido incensado pela crítica que segue a cartilha do rock indie - ao qual, aliás, Caetano Veloso nunca precisou recorrer para soar moderno.

Coleção traz, de fato, a obra essencial de Chico

Resenha de CD
Título: Chico Buarque Essencial
Artista:
Chico Buarque
Gravadora:
Universal Music
Cotação:
* * * * *

Compositor que vem trilhando refinados caminhos harmônicos em seus últimos e espaçados CDs, mas sem a inspiração melódica de outrora, Chico Buarque tem reeditados - de forma avulsa - 17 discos de sua fase áurea em coleção arquitetada pela gravadora Universal. Em 2001, todos os álbuns já haviam sido reembalados majestosamente na caixa Construção, que tinha virado raridade nas lojas até ser reposta em catálogo em meados de 2006. Cinco anos depois, os discos passaram por uma nova remasterização - a cargo do técnico Luigi Hoffer, sempre hábil na tarefa de depurar o som sem modificar os timbres das matrizes originais - e reafirmam sua força na série Chico Buarque Essencial. São obras-primas.

Carioca, álbum de inéditas lançado por Buarque em maio, perde feio na comparação com qualquer disco de estúdio da coleção. Foi no período 1970 - 1986 que o compositor solidificou a construção de sua obra genial, iniciada nos anos 60 na RGE com compactos e com três álbuns reeditados em 2006 pela Som Livre na bem-vinda caixa Os Primeiros Anos. Os 17 CDs da Universal Music exibem o compositor - então ainda tímido como cantor - em época áurea, já dono de precoce maturidade. Basta reouvir álbuns do porte e do quilate de Construção (1971), Meus Caros Amigos (1976), Chico Buarque (1978) e Vida (1980) para atestar a supremacia dessa fase da obra do artista. São desses 17 discos que vieram o cancioneiro que ainda reverbera bem forte no imaginário popular.

Nos anos 70, a criatividade de Chico jorrava profícua. A ponto de ele lançar um disco a cada ano. Podiam até ser trilhas de peças de teatro como Calabar (cujo disco, de 1973, pela primeira vez é reeditado de forma avulsa com a bela capa censurada pelo regime militar) ou Ópera do Malandro (1979). Ou mesmo de um filme, caso de Quando o Carnaval Chegar, em cuja trilha, de 1972, o compositor apresentou sete músicas inéditas. Entre elas, Baioque. Foi a fase também de registros de shows emblemáticos como o que uniu Chico a Caetano Veloso - encontro perpetuado no álbum Chico e Caetano Juntos e ao Vivo (1972). Enfim, a magnífica série reapresenta o melhor do melhor compositor vivo do Brasil (ao lado de Dorival Caymmi...) e faz jus ao seu título: é essencial!!!!

Padre é o campeão de vendas de CDs em 2006

E o Brasil católico novamente pediu a benção a Marcelo Rossi... O padre cantor é o campeão de vendas do mercado fonográfico em 2006 por conta das (cerca de) 860 mil cópias de seu sétimo disco de inéditas, Minha Benção, editado em outubro pela gravadora Sony BMG. Os números sequer roçam os alegados três milhões de CDs vendidos com o álbum Músicas para Louvar ao Senhor, de 1998, só que são fenomenais no mercado atual e representam a volta de Rossi ao topo depois de discos de repercussão restrita ao meio religioso. Desta vez, sem superexposição do padre na mídia.

Com quatorze músicas produzidas por Newton D'Ávila, entre elas Invocamos (Eros Biondini) e Tudo É do Pai (Frederico Cruz), o CD Minha Benção surpreendeu os fiéis com a participação da dupla sertaneja Bruno & Marrone em Nossa Senhora do Brasil, canção feita por Bruno em louvor a Nossa Senhora. Rossi propagou sua fé e - claro - o disco no programa diário que mantém na Rádio Globo e na missa semanal que reza na Rede Vida de Televisão e na Rede Globo. E o fato é que o padre acabou tirando de Marisa Monte o posto de campeã de vendas de CDs em 2006, triste ano em que as gravadoras majors amargaram queda estimada entre 20 e 30%. A propósito: os dois discos de Marisa Monte, Infinito Particular e Universo ao meu Redor, venderam cerca de 170 mil cópias, cada um, de suas (respectivas) tiragens iniciais de 300 mil cópias.

Luis Miguel dilui doçura natalina com big-band

Resenha de CD
Título:
Navidades

/ Feliz Natal
Artista:
Luis Miguel
Gravadora: Warner Music
Cotação:
* *

Cantor meloso por natureza, já habituado a interpretar alguns dos boleros mais derramados, o astro mexicano Luis Miguel se aventura a entoar clássicos natalinos neste Navidades, título traduzido para Feliz Natal na edição brasileira. As letras foram vertidas para o espanhol, o idioma natal do artista latino. Assim, White Christmas, jóia de Irving Berlin, virou Blanca Navidad. As releituras de Miguel obviamente nem de longe têm o refinamento exigido por estes standards, mas o intérprete, que produziu o CD, acertou ao recrutar uma big-band para diluir o sentimentalismo já embutido naturalmente em temas do gênero. Músicas como Santa Claus Llegó a la Ciudad e Frente a la Chimenea ganharam suingue e, no caso da segunda, até um leve contorno jazzístico. Um coro gospel encorpa Noche de Paz. Mas nem orquestra e coro tornam este álbum especialmente recomendável. O cancioneiro natalino já foi valorizado por intérpretes mais sofisticados do que Miguel...

Retrô 2006 - Aos 68, Orlandivo retorna ao disco

Para quem curte o sambalanço, um dos fatos marcantes de 2006 na área fonográfica foi o ótimo retorno de Orlandivo ao disco. Cantor, compositor e percussionista oriundo de Santa Catarina, diplomado na escola musical do Rio dos anos 50, Orlandivo (foto) iniciou carreira solo em 1962 com LP muito apropriadamente intitulado A Chave do Sucesso. É que ele, então crooner dos bailes animados por nomes como Ed Lincoln, impressionava os freqüentadores dos salões cariocas ao usar um molho de chaves como instrumento de percussão para dividir seu samba sincopado. Por isso mesmo, uma chave ilustrou a capa de Sambaflex, o disco que marcou, em janeiro deste ano, a volta de Orlandivo ao mercado fonográfico depois que seu sambalanço foi descoberto e valorizado por DJs e produtores da cena européia dos anos 90. Coube à gravadora Deckdisc produzir e editar o CD.

Aos 68 anos, Orlandivo se mostrou em grande forma. A voz, claro, já não era a mesma dos áureos tempos, mas - no caso dele - o que sempre contou foi o molho, a divisão de seus sambas sincopados. Que desceram redondos em Sambaflex. O CD nem precisava da releitura eletrônica de Vô Bate Pá Tu, sucesso da efêmera dupla Baiano e os Novos Caetanos nos anos 70, já que o repertório se sustentou muito bem entre regravações de sucessos de Orlandivo (Chavinha, Bolinha de Sabão, Sambadinho, Samba Toff) e várias músicas inéditas em disco - algumas realmente novas como a boa faixa-título, Sambaflex, parceria do artista com o percussionista Beto Cazes. Outras tiradas do baú, caso de Eu Vendo um Samba, escrita há 35 anos (e nunca gravada pelo autor nem por ninguém).

Bastou ouvir Palladium - parceria de Ed Lincoln com Orlandivo, composta em 1975 e gravada em 1977 para disco reeditado pela EMI em 2005 - para atestar que o balanço do artista permanecia contagiante e ainda moderno. Com sambas sacudidos de Dorival Caymmi (Doralice, Rosa Morena) e clássicos do sambalanço como Boogie Woogie na Favela, Orlandivo voltou à cena com um disco delicioso à altura de seu passado e do Rio das décadas de 50 e 60.

20 de dezembro de 2006

Milton grava Jobim para trilha de novela global

Além de Maria Bethânia, com um registro inédito de Sábado em Copacabana (parceria de Dorival Caymmi com Carlos Guinle), o CD com a trilha da nova novela das 21h da Rede Globo, Paraíso Tropical, vai apresentar mais uma gravação inédita na voz de medalhão da MPB. Milton Nascimento já foi convidado para regravar para a trilha Samba do Avião, tema de Tom Jobim. A trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares tem sua estréia programada para março.

Enya insere EP natalino no álbum 'Amarantine'

Amarantine, o (bom) álbum lançado por Enya em 2005, está voltando às lojas numa Special Christmas Edition (capa à direita). Trata-se de edição dupla que adiciona quatro gravações natalinas às 12 faixas do repertório do CD original. A musa da new age apresenta duas músicas de sua lavra autoral (The Magic of the Night e Christmas Secrets, ambas compostas com Roma Ryan) e recria dois clássicos do cancioneiro do gênero, We Wish You a Merry Christmas (em belo registro) e Adeste, Fideles. No exterior, os quatro fonogramas também foram lançados separadamente no EP Christmas Secrets. Para os fãs!!

Zefirina Bomba dá peso aos clássicos natalinos

O power trio paraibano Zefirina Bomba (em foto de João Wainer) envenenou dois clássicos do cancioneiro natalino. O grupo gravou versões hardcore de Boas Festas (Assis Valente, 1933) e Sino de Belém (versão de Evaldo Ruy para Jingle Bells). As duas gravações já estão disponibilizadas - para download gratuito - no endereço www.tramavirtual.com.br/zefirina_bomba, situado no bom portal TramaVirtual, ligado à gravadora Trama, que já editou em 2006 Noisecoregroovecocoenvenenado, álbum de estréia do trio, integrado por Guga (bateria), Martin (baixo) e Ilson (voz e viola).

Retrô 2006 - Stones fizeram história em Copa

Foi (quase) somente rock'n'roll, com alguns blues e uma ou outra balada, mas todo mundo gostou. Na noite de 18 de fevereiro, os Rolling Stones mostraram no Rio, em show histórico na Praia de Copacabana, para público estimado em um milhão de pessoas, que o rock ainda sobrevive muito bem sem batidas de rap, sem bases programadas por DJs, sem toques de world music, enfim, sem qualquer aditivo que não faça parte de sua árvore genealógica. Quando a guitarra de Keith Richards reproduziu o riff incendiário de I Can't Get no (Satisfaction) (1965), com Mick Jagger vestido com camisa estampada com a Bandeira Nacional na qual se lia 'Brasil - Rio de Janeiro', A Bigger Bang World Tour começou a se despedir do Rio após show antológico e bastante coeso em seus 20 números (apesar dos pequenos intervalos entre um e outro...).

Jagger e Cia. já entraram no palco dizendo a que tinham vindo. O primeiro bloco do show, enxuto e roqueiro, foi dinamite pura com seqüência aberta por Jumpin' Jack Flash (1969) e seguida por It's Only Rock'n'Roll (But I Like It) (1974), You Got me Rocking (1994, tema não previsto no roteiro dito oficial) e Tumblin' Dice (1972). Com as boas guitarras de Keith Richards e Ron Woods em primeiro plano, Mick Jagger correu elétrico pelo palco e saudou o público, em português até desenvolto, com frases como "Tudo bem?" e "Boa noite, galera". Por esse certeiro bloco inicial, pareceu que o tempo não passara para os Stones. Mas o tempo não espera por ninguém, como aliás sentenciou o próprio Jagger, e o rock Oh no, Not You Again (2005) - do último e bom disco do grupo, A Bigger Bang - até cresceu ao vivo, só que não resistiu à cruel comparação com os petardos antigos. E foram eles que garantiram o pique do show, entre balada de 1971 (Wild Horses, definida por Jagger como "uma triste canção de amor") e números que ratificaram a raiz blues da obra stoniana - casos de Rain Fall Down (grande música de 2005 em que brilhou o bom baixista Darryl Jones) e Midnight Rambler (1969), blues cheio de improvisos e climas, em que Jagger rebolou alucinado pela extensão do palco armada em forma de passarela.

Se houve surpresa no roteiro, foi a inclusão de (Night Time Is) The Right Time, blues gravado por Ray Charles em 1958, revivido com direito a imagem do Genius no telão. Se houve momento em que o show perdeu um pouco o pique, foi quando Keith Richards pegou o microfone e o violão para cantar, tal qual um trovador folk dos anos 60, This Place Is Empty (anêmica canção da safra de 2005). Richards ainda emendou Happy (número recorrente em sua voz desde os anos 70) antes de Jagger reassumir o microfone para reviver Miss You (1978), o flerte dos Stones com a disco music (mas sem - felizmente!! - evocar qualquer clima retrô ou dance...).

Com Jagger no palco móvel que o aproximou da multidão, o show retomou o pique roqueiro com Rough Justice (o mais típico rock stoniano da safra 2005), Get Off of my Cloud (1965), Honky Tonk Women (1969), Sympathy for the Devil (1968), Star me up (1981) e Brown Sugar (1971). Outra seqüência infalível e arrebatadora! Em seguida, You Can't Get Always What You Want (1969) até poderia ter sido um anticlímax se a platéia, atendendo ao apelo de Jagger, não tivesse repetido o título da música em (enjoado) coro.

Ao som de seu hino Satisfaction, cantado a plenos pulmões pela multidão, os Stones deixaram o palco com a missão cumprida de entreter uma platéia que, em boa parte, nem era nascida quando eles deram seus primeiros passos, em 1962. Foi um grande show! Foi quase somente rock'n'roll. Por isso mesmo, todos gostaram. E, pela energia do quarteto, sobretudo a de Jagger, ficou a sensação de que - contrariando excepcionalmente a máxima do grupo - o tempo até tem esperado por esses grandes roqueiros sessentões...

Hits de Blunt, Barbra e Sinatra para elevadores

Resenha de CD
Título: I'm in the Mood
for
Love...The Most Romantic
Melodies of
All Time
Artista: Kenny G
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * *

Claro que a bela canção You're Beautiful, de James Blunt, iria ser soprada - mais dia menos dia - pelo sax de Kenny G. Rápido no gatilho, o músico escalou o hit de Blunt para abrir este CD em que reúne um punhado de músicas românticas que, no toque palatável de seu sax, têm acentuado o alto teor de glicose. Em suma, é mais munição certeira para elevadores e consultórios. Entre clássicos da canção americana (The Way You Look Tonight, It Had to Be You, As Time Goes By), balada dos Beatles (Yesterday, claro...), standard de Barbra Streisand (The Way We Were) e um medley batido de sucessos de Frank Sinatra (Fly me to the Moon com You Make me Feel So Young), Kenny G abusa do direito de ser meloso e bem previsível. Mas há quem goste. E, por isso, G resiste no mercado...

19 de dezembro de 2006

Nostálgico, rapper Nas lança 'Hip Hop Is Dead'

Um dos bons rappers que mais vendem discos nos Estados Unidos, com 12 milhões de cópias contabilizadas em 12 anos de carreira, Nas lançou no seu país nesta terça-feira, 19 de dezembro, o álbum Hip Hop Is Dead (foto). Em tese reconciliado com o seu rival Jay-Z, com quem faz dueto na faixa Black Republican, Nas exala certa nostalgia em letras como as de Where Are They Now? e Carry on Tradition. Snoop Dogg participa de Play on Playa. Já o onipresente will.i.am intervém na faixa-título, Hip Hop Is Dead, de um certo cinismo, já que o mercado fonográfico norte-americano tem se alimentado da vitalidade do hip hop para continuar forte...

Show captado para o DVD da Nação sai em CD

Está chegando às lojas neste fim de ano o CD duplo ao vivo com o áudio do primeiro DVD da Nação Zumbi (foto), Propagando, editado em 2004. Captado por 23 câmeras posicionadas na casa DirecTV Music Hall, em São Paulo (SP), o show reúne 17 números em roteiro que destacou a releitura da banda pernambucana para Purple Haze (standard do repertório do guitarrista Jimi Hendrix).

EMI adia DVD e CD ao vivo de Fafá para 2007

Agendado inicialmente para dezembro, o lançamento do CD e DVD Fafá de Belém ao Vivo - gravados em shows no Theatro da Paz (PA) em 5 e 6 de outubro - foi adiado pela EMI para o começo de 2007. É bem provável que o projeto retrospectivo - que marca a entrada da cantora na major inglesa, a única grande gravadora que ainda não havia editado um disco de Fafá - chegue às lojas somente em março, depois do Carnaval. A foto é de João Ramid.

Pedro Miranda e Casuarina na 'Estação Lapa 2'

Coisa com Coisa - faixa-título do excelente primeiro disco solo de Pedro Miranda (foto) - é um dos fonogramas selecionados pela gravadora carioca Deckdisc para o segundo volume da coletânea Estação Lapa. Gravações de Cristina Buarque (Portela na Avenida), Teresa Cristina (Swing de Campo Grande, com o grupo Casuarina), Abraçando Jacaré (Gostosinho) e Alfredo Del-Penho & Pedro Paulo Malta (Moenda Velha) também estão na compilação. O lançamento de Estação Lapa 2 está previsto para janeiro. O primeiro volume foi lançado em março de 2005. O bairro da Lapa é point de sambistas no Rio.

Retrô 2006 - Música de Seu Jorge vira cachaça

Seu Jorge (foto) já entrou em 2006 sob o signo da (imensa) popularidade radiofônica. Em janeiro, as paradas já estavam dominadas pela controvertida É Isso Aí, carro-chefe do DVD e do CD ao vivo Ana e Jorge, que tinham chegado às lojas nos últimos dias de 2005. Foi graças ao auxílio luxuoso de Ana Carolina, com quem até se desentendeu na fase de mixagem do DVD, que Seu Jorge obteve na música uma projeção que, no Brasil, tinha tido somente no cinema ao trabalhar como ator em filmes do quilate de Cidade de Deus.

Aliás, por conta de sua atuação nas telas, Jorge atravessou 2006 cultuado no exterior. Ele gravou com Quincy Jones e lançou DVD com show feito no Festival de Montreux em 2005. Mas pecou ao diluir as músicas de David Bowie em versões constrangedoras que puderam ser ouvidas no CD The Life Aquatic Studio Sessions, editado no primeiro semestre. No fim do ano, já preparando seu terceiro disco de carreira, Nova América, previsto para março, o artista lançou na internet a inédita música Eterna Busca, de letra inspirada na marca da cachaça Sagatiba - da qual Jorge é um dos garotos propaganda. Tudo a ver, pois sua música virou cachaça...

18 de dezembro de 2006

Disco que sai em março coroa volta dos Stooges

De volta à ativa em 2003, após 30 anos fora de cena, o grupo americano The Stooges - um dos precursores do rock punk desde sua formação, em 1967 - sedimenta o retorno com o lançamento, em 20 de março, de seu primeiro álbum desde Raw Power, editado no já longínquo 1973, ano em que a banda fundada por Iggy Pop se dissolveu. Intitulado The Weirdness, o CD conta com produção de Steve Albini e traz músicas inéditas como End of Christianity.

No disco, que será lançado pela Virgin, Iggy Pop se reencontra em estúdio com os irmãos Ron e Scott Asheton, guitarrista e baterista dos Stooges (em foto de 1969), respectivamente. O baixo - que era originalmente de Dave Alexander - já foi assumido por Mike Watt.

Tributo ao Sublime chega (atrasado) ao Brasil

Com um ano e meio de atraso em relação ao lançamento nos Estados Unidos, em junho de 2005, o CD Look at All the Love We Found - A Tribute to Sublime (foto) chega ao mercado brasileiro pela gravadora Lua Music. Como o título do disco já explicita, trata-se de homenagem ao extinto grupo Sublime (1988 - 1996), surgido na Califórnia (EUA) com um som garage punk mixado com ska que influenciou bandas e artistas da cena indie americana. No disco, nomes como Jack Johnson (Badfish / Boss DJ), No Doubt (DJ's, a única faixa ao vivo do álbum) e Los Lobos (Pawn Shop) apresentam releituras inéditas de músicas do grupo.

DVD da Velha Guarda da Mangueira traz Leila

Programado para ser lançado em 2007, o primeiro DVD da Velha Guarda da Mangueira tem a participação de Leila Pinheiro, que canta o samba Piano na Mangueira, de 1992. Vestida com um terno branco, como sugerem os versos da parceria de Tom Jobim com Chico Buarque, a cantora regravou o samba na quadra da escola verde e rosa. Na foto, clicada por Flávia Souza Lima, Leila posa com integrantes da Estação Primeira durante o registro, feito no começo de 2006. Na gravação, a artista se acompanhou ao piano - estrategicamente posicionado sobre o belo escudo da agremiação.

Dirigido por Mário Lago Filho, o primeiro DVD da Velha Guarda da Mangueira apresenta também show feito no Teatro Municipal de Niterói (RJ), em setembro de 2005, com as presenças de Jamelão, Nelson Sargento e do saudoso Guilherme de Brito. Uma roda de samba na quadra da escola - com as participações de nomes como Beth Carvalho - integra o DVD, que traz imagens de Chico Buarque ao lado da Velha Guarda da Mangueira (cedidas pelo compositor).

Caio Mesquita toca com Ivan no primeiro DVD

Além de seu novo CD (Natal - nas lojas desde novembro), Caio Mesquita lança seu primeiro DVD neste fim de ano com a gravação de show realizado em 11 de outubro na casa Citibank Hall (SP). Entre músicas populares como Que Nem Maré (Jorge Vercilo) e Mas que Nada (Jorge Ben Jor), o saxofonista teen recebeu Ivan Lins para dueto em quatro belos standards do compositor (Madalena, Vitoriosa, Somos Todos Iguais Nesta Noite e Dinorah, Dinorah). A bateria mirim da Escola de Samba Camisa Verde e Branco acompanhou Caio em Aquarela do Brasil e Canta Brasil. Nos extras, o DVD traz clipe de Wave e álbum de fotos do rapaz. A gravação também será lançada em CD.

Retrô 2006 - Mart'nália em Berlim, Rio e Bahia

Em 2006, Mart'nália reafirmou com Menino do Rio, editado em fevereiro, o talento evidenciado em 2002 com o lançamento de Pé do meu Samba. O quinto disco da filha de Martinho da Vila marcou sua estréia no selo Quitanda, dirigido por Maria Bethânia em parceria com a Biscoito Fino. Não por acaso, Mart'nália pisou com Menino do Rio no terreiro baiano da Abelha Rainha sem tirar os pés do samba carioca. Mas, no meio do caminho, houve estratégica parada em Berlim, Alemanha, onde a artista gravou em 16 de junho show feito na Casa das Culturas do Mundo, durante a Copa da Cultura. A gravação pode ser vista no kit de CD e DVD Mart'nália em Berlim ao Vivo, lançado esta semana pelo selo Quitanda. Nos extras, há encontros da cantora com Chico Buarque (nos sambas Sem Compromisso e Deixe a Menina) e Luiz Melodia (em registro de estúdio de Estácio, Holly Estácio, um hit de 1972).

Menino do Rio fecha 2006 como um dos melhores CDs do ano. No encarte, Mart'nália agradeceu a Bethânia por ter enxergado "com outros olhos" sua espiritualidade - evidente na releitura suave de Nas Águas de Amaralina (1997), samba baianíssimo de Martinho da Vila e Nelson Rufino. O fato de o maestro de Bethânia, Jaime Alem, ter assinado os arranjos de 14 das 15 faixas trouxe a cantora para o universo musical da colega baiana, que leu poema de Vinicius de Moraes (Cartão Postal) numa bossa, São Sebastião.

Cheio de bossa, Menino do Rio apresentou uma ambiência cool, urdida com violão e suaves percussões. Fina e delicada atmosfera permeou o ótimo repertório, inclusive um samba abusado de Ana Carolina (Cabide) e uma balada antiga de Guilherme Arantes (Só Deus É quem Sabe, de 1980, em registro etéreo). O resultado foi tão sedutor quanto o de Pé do meu Samba (2002), o anterior disco de estúdio de Mart'nália, produzido por Celso Fonseca com direção de Caetano Veloso, presente em Menino do Rio com a recriação em voz & violão (e eventual cuíca) da faixa-título, de sua autoria. De 1980, Menino do Rio apareceu unido a Estácio, Holly Estácio - a pérola negra de Luiz Melodia que Bethânia teve a honra de lançar no LP Drama (1972) e que a filha de Martinho da Vila rebobinou com o Negro Gato em setembro de 2006 para os extras do DVD Mart'nália em Berlim ao Vivo. Sutilezas de Bethânia.

Mart'nália transitou ainda pela novíssima bossa de fraseado soul (em Pára Comigo, faixa excepcionalmente arranjada pelo baixista Arthur Maia), por pop acústico (em Soneto do teu Corpo, parceria de Moska e Leoni) e por levadas eventualmente funkeadas, mas deixou claro logo na abertura de Menino do Rio que sua praia é a do samba. "O samba corre em minhas veias / O samba é a minha escola", avisou em Pra Mart'nália, samba feito para ela por Jorge Agrião e Fred Camacho, gravado com várias citações de sucessos de Martinho da Vila. O mais carioca dos ritmos brasileiros deu o tom também de Boto meu Povo na Rua (de Arlindo Cruz, Acyr Marques e Ronaldinho) e de Sem Perdão a Vida É Triste Solidão, parceria mais poética da lavra de Zélia Duncan e Ana Costa com a própria Mart'nália (as três moças estão compondo regularmente).

O Rio encontrou a Bahia em Casa da Minha Comadre, delicioso samba de roda, de Roque Ferreira e do mesmo Jorge Agrião de Pra Mart'nália. Da seara autoral de Mart'nália, o destaque foi Pretinhosidade, colaboração com seu fiel escudeiro Mombaça. O mosaico de referências negras costurou ainda parceria afro com Moska (Essa Mania, versão de música africana), samba raro de Monsueto (Casa 1 da Vila, em arranjo eficientemente econômico que valorizou os versos "Eu sinto sede, eu sinto fome / Mas mulher de amigo meu pra mim é homem", de outro - ousado - significado na voz feminina de Mart'nália) e partido de alta estirpe, A Origem da Felicidade, que agregou o calor da bateria da escola de samba Unidos de Vila Isabel e fechou o álbum com alta espiritualidade. Mart'nália foi até à Bahia sagrada de Bethânia e parou em Berlim, mas continuou com os pés na Vila de Noel (e de seu pai Martinho).

17 de dezembro de 2006

Simone e Zélia harmonizam vozes e universos

Resenha de show
Título: Tom Acústico
Artistas: Simone e Zélia Duncan
Local: Vivo Rio (RJ)
Data: 16 de dezembro de 2006
Cotação: * * * *

Quando as vozes de Simone e Zélia Duncan são ouvidas ainda na coxia, entoando em uníssono Alguém Cantando (Caetano Veloso), a harmonia ímpar do dueto das cantoras prenuncia que o show do projeto Tom Acústico - apresentado em São Paulo, em agosto, e bisado no Rio na noite de sábado, 16 de dezembro - será especial. Sensação plenamente confirmada ao longo do lindo espetáculo. As intérpretes estavam cúmplices, felizes, sedutoras e seduzidas pela possibilidade de dividir o mesmo palco - selando a amizade e uma surpreendente parceria profissional iniciada em agosto de 2005, quando a Cigarra convidou Zélia para participar da gravação do CD / DVD Simone ao Vivo e acabou registrando Então me Diz, a versão feita por Zélia para The Blower's Daughter, bela canção do irlandês Damien Rice que Ana Carolina também verteu na mesma época para duo com Seu Jorge, gerando inevitáveis comparações.

Inserido no bis, antes de Jura Secreta (a música de Sueli Costa e Abel Silva que Simone lançou em 1977 e Zélia reviveu em 2004 na trilha da novela Da Cor do Pecado) e do samba Tô Voltando (Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, 1979), Então me Diz é número afetivo de roteiro norteado por músicas dos anos 70 e início dos 80. Cantoras de gerações e universos diferentes, Simone e Zélia celebram no show - de certa forma - a fase de maior êxito artístico da Cigarra. Músicas como Petúnia Resedá (1978, com pegada de rock rural), Mar e Lua (1980, pontuada pela flauta de Fábio Luna) e Vento Nordeste (pérola de Sueli Costa e Abel Siva, lançada por Simone no álbum Pedaços, de 1979) simbolizam a época em que a baiana da gema ainda não tinha deixado sua obra adquirir o tom pasteurizado e padronizado da fase da Sony Music.

A combinação das duas graves vozes soa perfeita, sem forçação. Mais do que vozes, porém, Simone e Zélia harmonizam estilos e aparam arestas. É bom ouvir Simone incursionar elegantemente pelo repertório mais pop de Zélia em Não Vá Ainda (um número iniciado em clima folk e que ganha certo peso na segunda parte) e no blues Mãos Atadas. A convergência de universos é selada no medley que une a Alma de Simone (Sueli Costa e Abel Silva, 1982) com a Alma de Zélia (Arnaldo Antunes e Pepeu Gomes, 2001). E se desenvolve em cinco músicas nunca associadas a nenhuma das cantoras: Grávida (Marina Lima e Arnaldo Antunes, 1991), Gatas Extraordinárias (Caetano Veloso, 1999), Ralador (Roque Ferreira e Paulo César Pinheiro, 2004) Agito e Uso (Ângela RoRo, 1979) e Quero que Vá Tudo pro Inferno (Roberto Carlos, 1965). Luxo só!!!

Por tudo o que representa de positivo, inclusive a emoção de ver a Cigarra evocar um passado de glória, o belo encontro de Simone e Zélia Duncan no show do projeto Tom Acústico merece virar DVD.

Diana Ross desfia rosário de pérolas amorosas

Resenha de CD
Título:
I Love You
Artista:
Diana Ross
Gravadora:
EMI Music
Cotação:
* * *

Diana Ross volta com disco de gravações inéditas no embalo da redescoberta de Blue, um perdido álbum do começo dos anos 70 no qual transitava por jazz e blues, no embalo de filme em que encarnou Billie Holiday. Produzido por Peter Asher e Steve Tyrell com corretos arranjos orquestrais, I Love You merece algum crédito por não soar tão pausterizado quanto os recentes discos da cantora. Desconsidere a única inédita do repertório, a banal I Love You (That's All that Really Matters). A artista desfia com elegância bom rosário de canções amorosas. O destaque é Remember, tema belo e menos conhecido de Harry Nilson (autor da insistentemente regravada Without You). Embora já bem desgastada, The Look of Love (Burt Bacharach e Hal David) merece atenção pela batida suave e muito sensual. Outro bom momento é Crazy Little Thing Called Love, hit do Queen, reprocessado com a intervenção afetiva da guitarra de Brian May, integrante do grupo. É como ouvir o Queen em plena era das big-bands. Em contrapartida, as incursões da ex-Supreme pela seara de Marvin Gaye (I Want You) e do grupo The Platters (Only You) são protocolares. No todo, I Love You sinaliza que o fim de carreira de Diana Ross ainda pode ser - ao menos... - digno.

DJs acertam ao imaginar Nina Simone na pista

Resenha de CD
Título do disco:
Remixed
& Reimagined
Artista:
Nina Simone
Gravadora:
Sony BMG
Cotação:
* * * *

Puristas devem passar longe deste belo disco! Remixed & Reimagined reúne releituras de 13 gravações de Nina Simone (1930 - 2003) por produtores e DJs de música eletrônica. São fonogramas registrados entre 1967 e 1973, período em que a artista gravou pela RCA. Bem, é fato que Nina Simone nunca precisou de beats e aditivos eletrônicos para soar moderna e contemporânea. Mas é também fato que a turma recrutada para trazer a cantora para as pistas fez um trabalho de ótimo nível. De algumas gravações originais, permanece no remix praticamente apenas a voz da intérprete - caso de Turn me on. Em outras, há bem mais elementos dos arranjos que serviram de base para os DJs. No fim das contas, os remixes cumprem seu papel de oferecer nova visão de músicas como Here Comes the Sun, The Look of Love e To Love Somebody (um dos destaques do CD, pela pulsação envolvente dada ao hit dos Bee Gees). Deslocadas estão somente as palmas de gravações ao vivo como Obeah Woman, rebobinada pelo DJ Logic sem perda do original tom visceral da interpretação da cantora. Em essência, Remixed & Reimagined honra a memória de Nina Simone. Mas não é disco para puristas...

Biscoito Fino reúne 14 duetos de seu catálogo

Com belos cinco anos de vida, a gravadora Biscoito Fino já começa a explorar seu ótimo catálogo em coletâneas. O CD Duetos Biscoito Fino reúne 14 encontros de estrelas da MPB registrados para álbuns editados pela companhia. A seleção inclui Tomara (faixa que une Bebel Gilberto à mãe Miúcha), Choro Incontido (Francis Hime em dueto com Paulinho da Viola), Mulher Faladeira (Chico Buarque e Zeca Pagodinho), Anjo Exterminado (Jards Macalé com Adriana Calcanhotto), A Pescaria (Maria Bethânia e Caetano Veloso), Na Aldeia (Mônica Salmaso e Teresa Cristina), Milagre dos Peixes (Simone Guimarães e Milton Nascimento) e Eu Não Existo sem Você (Ana Jobim com Tom Jobim - o fonograma mais antigo, extraído do álbum Tom Jobim Inédito, editado em 1995). A coletânea já está nas lojas.

Retrô 2006 - Arctic Monkeys, o fenômeno inglês

2006 já começou sob a precoce aura mítica construída em torno do Arctic Monkeys, um quarteto inglês nascido em Sheffield que, graças à divulgação de suas músicas na internet a partir de 2003, se tornou um fenômeno e conquistou a atenção de nomes como Mick Jagger e o enjoado Noel Gallagher. Quando o primeiro álbum do grupo chegou às lojas, em 23 de janeiro, os macacos árticos já formavam a melhor banda de todos os tempos da última semana, o que fez com que o CD Whatever People Say I Am, That's What I'm Not vendesse cerca de 100 mil cópias logo em seu primeiro dia e chegasse a 363 mil na primeira semana - número até trivial no mercado americano, mas que, na praça britânica, adquiriu caráter recordista e provou que a web pode também ser aliada da indústria fonográfica e não apenas a vilã que desmotiva os fãs a comprar discos - como pensam (erroneamente) as majors.

O culto ao Arctic Monkeys já ganhara força em outubro de 2005 com o lançamento do primeiro single oficial do quarteto formado por Alex Turner (guitarra e vocal), Jamie Cook (guitarra), Andy Nicholson (baixo) e Matt Helders (bateria). O petardo I Bet You Look Good on the Dance Floor mostrou que havia muita energia no rock econômico do grupo. Algo que pôde ser comprovado no Brasil fora da web quando a Trama lançou no mercado nacional, em abril, o álbum de estréia da banda. Antes tarde do que nunca...

O álbum era realmente excelente. Tinha aquela energia e urgência juvenis que costumam nortear bandas em começo de carreira até que a entrada no mainstream comece a apagar lenta - ou mesmo vorazmente - o fogo que as impulsionou no início. Deu até para identificar a garra típica do punk em faixas como You Probably Couldn't See for the Lights, but You Were Looking Straight at me. O que não deu para fazer foi alçar o quarteto inglês à condição de oitava maravilha do rock - como vinha fazendo a sempre enfática imprensa britânica. Mas Whatever People Say I Am, That's What I Am Not conquistava logo na primeira faixa, The View from the Afternoon. E não perdeu o pique e a ótima pegada nem em temas ligeiramente mais lentos - casos de Fake Tales of San Francisco e, sobretudo, Riot Van. Escorado em boas letras sobre o universo adolescente, o Arctic Monkeys apresentou munição verdadeiramente explosiva. Tomara que a energia não se perca na poeira da estrada ao longo de 2007. Que venha o segundo álbum!!