30 de agosto de 2008

Marisa, Teresa e Diogo na noite linda da Portela

Resenha de show
Título: Velha Guarda da Portela e Convidados
Artista: Velha Guarda da Portela - com Marisa Monte,
Teresa Cristina e Diogo Nogueira
Local: Circo Voador (RJ)
Data: 30 de agosto de 2008
Cotação: * * * * 1/2

Foi uma noite linda - como bem definiu Marisa Monte após cantar Volta meu Amor (Manacéa e Áurea Maria) com a Velha Guarda da Portela no palco do Circo Voador, na Lapa, um dos redutos cariocas de culto ao samba. Idealizado para promover a estréia nos cinemas do documentário O Mistério do Samba, que desvenda a a poesia dos bambas da tradicional escola de samba, o show que junta Marisa, Teresa Cristina e Diogo Nogueira ao grupo chegou ao Rio de Janeiro após encantar São Paulo. Aos primeiros minutos deste sábado, 30 de agosto de 2008, cenas do filme começaram a ser exibidas no telão posicionado atrás do picadeiro do Circo Voador ao som de Nascer e Florescer (Manacéa). Na seqüência, já no palco, a Velha Guarda da Portela abriu o show com Vivo Isolado do Mundo (Alcides Dias Lopes) e o que se viu e ouviu, dali em diante, foi uma apoteose do samba mais nobre, cantado a plenos pulmões pelo público jovem que hiperlotou o Circo e que chegou a emocionar Teresa Cristina pela devoção ao repertório de compositores que criaram suas obras no anonimato.
Debilitado, ainda se recuperando de problemas de saúde, Monarco se apresentou sentado e deixou o comando da primeira parte do show na voz de seu filho, Mauro Diniz. Foi quando uma reciclada Velha Guarda sacudiu o Circo com os sambas Tudo Menos Amor (Monarco e Walter Rosa) e Nega Danada (Que Mulher) (Chatim) - este emendado com Ouço uma Voz (Candeia e Nelson Amorim). O público estava ali para reverenciar compositores e ritmistas como David do Pandeiro, Casemiro da Cuíca, Marquinhos do Pandeiro, Edir da Portela e Serginho Procópio, que recentemente assumiu o posto de cavaquinista no grupo. Sem falar em Casquinha, que - também sentado, ao lado de Monarco - cantou trechos de Recado, a parceria que fez com Paulinho da Viola nos anos 60, e de A Chuva Cai, o samba que compôs com Argemiro Patrocínio (1923 - 2003) e que ficou conhecido no Brasil pela voz (sempre) antenada de Beth Carvalho.
Havia uma magia na noite que disfarçou o tom menos empolgante de números como Você me Abandonou (Alberto Lonato) e Sentimentos (Mijinha). Assim como a ligeira desafinação de Diogo Nogueira em seus cinco números individuais. O portelense Diogo estava à vontade, em casa, e eletrizou o Circo Voador ao reviver sambas irresistíveis como Corri pra Ver (Chico Santana, Monarco e Casquinha), Lenço (Francisco Santana e Monarco), Coração em Desalinho (Mauro Diniz e Ratinho), Vai Vadiar (Monarco e Alcino Corrêa). Raras vezes, o jovem cantor mostrou tanta segurança ao incursionar por repertório alheio. Na presença de um dos autores.
A propósito, Monarco é o compositor de boa parte dos sambas apresentados naquela noite feliz. E, também por isso, foi saudado por uma emocionada Teresa Cristina logo após a apresentação de Quantas Lágrimas (Manacéa) e teve seu nome repetido em coro pela juventude que se esprimia na platéia do Circo. Embora nem sempre primasse pela técnica exemplar, a cantora manteve o pique do show ao cantar sambas como Minha Vontade (Chatim), Gorjear da Passarada (Argemiro e Casquinha), Sabiá Cantador (Alvarenga) e o altíssimo partido A Paz do Coração (Candeia e Cabana). Sua participação foi tão bonita que o público começou a gritar seu nome. "Teresa! Teresa!", repetia o público, fazendo a artista se emocionar novamente. "Eu vou chorar", avisou Teresa...
A presença elegante e luminosa de Marisa Monte - grávida de seis meses - acentuou a magia da noite, iniciando seu set com Volta meu Amor (Manacéa e Áurea Maria). Após uma apoteótica Dança da Solidão (Paulinho da Viola), a cantora entoou samba inédito em sua voz, Sofrimento de Quem Ama (Alberto Lonato), e reviveu Esta Melodia, da forma como havia gravado este belo samba de Jamelão (1913 - 2008) e Budu da Portela no álbum Cor-de-Rosa e Carvão (1994). No bis, Marisa apresentou outro samba de Manacéa, Volta, abrindo caminho para Foi um Rio que Passou em Minha Vida (o samba de Paulinho da Viola que o público já cantara sozinho antes do bis), já com Diogo Nogueira e Teresa Cristina de volta ao palco. Enfim, um show memorável, pontuado por trechos do documentário sobre a Velha Guarda da Portela que chegou, enfim, aos cinemas, viabilizado pelo projeto Natura Musical. Como um rio, a história majestosa da Portela passou pelo Circo através de 23 sambas que guardam mistério em sua nobreza.

Buena Vista é traduzido para reedição brasileira

Após relançar no Brasil álbuns de Ibrahim Ferrer (o póstumo Mi Sueño, CD de 2007, até inédito no mercado nacional) e Omara Portuondo (Flor de Amor, de 2004), a gravadora paulista MCD dá seqüência à sua parceria com o selo inglês World Circuit e põe nas lojas uma caprichada reedição do álbum coletivo Buena Vista Social Club. Gravado em março de 1996 (sob produção de Ry Cooder) e lançado originalmente em 1997, o disco deu visibilidade mundial a cantores e músicos da velha guarda da música cubana como Ferrer, Portuondo, Compay Segundo e Rubén González. O diferencial desta nova edição brasileira é a tradução para o português dos textos contidos no libreto original de 48 páginas, fartamente ilustrado com fotos. Inclusive as letras das músicas foram traduzidas para o português. Aos textos originais, foram acrescentadas notas com informações atualizadas sobre os artistas, alguns falecidos nestes onze anos que separaram o relançamento da edição original do CD Buena Vista Social Club, que gerou em 1999 documentário de Wim Wenders.

Coletânea brasileira de Michael sai em outubro

Para festejar os 50 anos feitos por Michael Jackson em 29 de agosto de 2008, uma inédita coletânea, King of Pop, foi formatada com os repertórios selecionados por fãs do Brasil, Austrália, Inglaterra e Estados Unidos. Cada país vai lançar uma compilação diversa com as 14 músicas mais votadas por seus habitantes. O disco do Brasil (capa acima à direita) chega às lojas em outubro pela Som Livre com os 14 hits e duas faixas-bônus. A votação foi encerrada no dia do aniversário do artista e abrangeu somente os fonogramas gravados por Michael a partir de 1979 para a companhia hoje denominada Sony BMG. Eis a seleção da coletânea King of Pop - editada na série Brazilian Collection, da Som Livre:
1. Don't Stop Til You Get Enough - do álbum Off the Wall (1979)
2. Rock With You- do álbum Off the Wall (1979)
3. Beat It - do álbum Thriller (1982)
4. Billie Jean - do álbum Thriller (1982)
5. Thriller - do álbum Thriller (1982)
6. Human Nature - do álbum Thriller (1982)
7. Bad - do álbum Bad (1987)
8. The Way You Make me Feel - do álbum Bad (1987)
9. Black or White - do álbum Dangerous (1991)
10. You Are Not Alone- da coletânea HIStory (1995)
11. Heal the World - do álbum Dangerous (1991)
12. Man in the Mirror - do álbum Bad (1987)
13. Say, Say, Say - do LP Pipes of Peace (1983), de Paul McCartney
14. Will You Be There - do álbum Dangerous (1991)
Faixas-bônus:
15. Wanna Be Startin' Something (remix) - do CD Thriller 25 (2008)
16) The Girl Is Mine (remix) - do CD Thriller 25 (2008)

Mehmari convida sócios infantis para o 'Clube'

Depois de (procurar) transportar o cancioneiro pop dos Beatles para o mundo infantil na interessante série MPBaby, da gravadora paulista MCD, o pianista André Mehmari volta a participar da coleção com disco em que convida sócios mirins para entrar no Clube da Esquina, o movimento capitaneado por Milton Nascimento, em Minas Gerais, no início dos anos 70. Entre as 14 faixas do CD MPBaby Clube da Esquina, metade vem do duplo álbum homônimo de 1972 que apresentou a música da turma. Deste célebre disco, Mehmari escolheu Paisagem na Janela, Um Girassol da Cor de seu Cabelo, San Vicente, Clube da Esquina nº 2, Tudo que Você Podia Ser, O Trem Azul e Cravo e Canela. Outras cinco faixas vieram do álbum, também duplo, Clube da Esquina 2 (1978): Nascente, E Daí?, Olho d'Água, Paixão e Fé e Canoa, Canoa. Completando o repertório, por afinidade temática com o movimento, há duas composições do disco Milton (1970): Clube da Esquina e Durango Kid. O encarte expõe as letras das músicas.

29 de agosto de 2008

Insano, Michael completa 50 com futuro incerto

Difícil se referir aos 50 anos completados por Michael Jackson nesta sexta-feira, 29 de agosto de 2008, sem abordar a recente chegada de Madonna aos mesmos 50 anos. Michael e Madonna são os dois maiores ícones da música pop da década de 80. Contudo, enquanto ela permanece em atividade com o mesmo vigor e marketing daqueles anos iniciais, ele parece ter perdido o rumo por conta de seu temperamento excêntrico. Mergulhado em dívidas e comportamentos bizarros, Michael Joseph Jackson em nada lembra o artista inovador que ditou boa parte da estética musical dos anos 80 com sua obra-prima Thriller (1982). A azeitada mistura de rock, funk e pop que pautou aquele álbum - e que já pulsara também em Off the Wall (1979), primeiro trabalho solo da fase adulta do artista - ainda hoje ecoa em discos de astros da atualidade como Justin Timberlake, por exemplo. Se havia muito do som de Michael nas entranhas de Justified, (2003), o primeiro álbum solo de Justin, é porque a música do Rei do Pop permanece influente e vai sobreviver à mente megalômana do cantor e aos problemas judiciais que o associaram ao abuso sexual de crianças (Michael foi absolvido da acusação em 2005). Pena que o retorno ao mercado fonográfico deste artista tão influente ainda seja incerto. Em fevereiro de 2007, começaram a espocar rumores sobre o sucessor do insosso Invincinble (2001), um álbum de inéditas que teria o dedo de will.i.am, o rapper do grupo Black Eyed Peas. Mas 2007 terminou e nada de Michael aprontar o álbum, que, pelo visto, também não vai sair neste ano de 2008. É pena. Por conta de títulos como Bad (1987) e Dangerous (1991), a discografia de Michael Jackson já lhe garante um reinado vitalício na música pop. Mesmo que o cantor nada venha a produzir de relevante daqui por diante. Ainda assim, é triste constatar que Michael Jackson chega aos 50 anos sem a força de outrora e com apenas uma nova coletânea (King of Pop, com hits escolhidos por fãs em seleção que diverge de país para país) no horizonte. Seu talento sucumbiu ao temperamento louco? Seus súditos anseiam que um novo álbum responda que ainda não.

Show do Rappa fica entre catarse e linearidade

Resenha de show
Título: 7 Vezes
Artista: O Rappa (Falcão em foto de Vera Donato)
Local: Canecão (RJ)

Data: 28 de agosto de 2008
Cotação: * * *
Em cartaz em 29 e 30 de agosto de 2008

O show 7 Vezes - base da turnê nacional que O Rappa estreou no Rio de Janeiro (RJ) na noite de quinta-feira, 28 de agosto de 2008 - oscila entre a catarse e uma certa linearidade, sobretudo em sua primeira metade. Contudo, a participação explosiva do público em números como Me Deixa e Rodo Cotidiano rendeu grandes momentos para um bom show encerrado de forma morna. Sem ter aparentemente programado um bis, O Rappa fechou o roteiro com a suingante Monstro Invisível e, na imediata seqüência, as caixas do Canecão propagaram um som alto de boate, cortando o barato da platéia que, certamente, iria pedir mais, mas logo se dispersou. Fecho esquisito à parte, 7 Vezes confirma o entrosamento dos músicos. As bases, ouvidas num volume muito alto, são vigorosas. Xandão e Lauro Farias arrasam nas guitarras e no baixo. Marcelo Lobato volta a pilotar bem os teclados, mas a decisão de passar a bateria para o percussionista Cleber Sena ainda parece arriscada...
No palco, pouco importa que as letras do sétimo álbum da banda propaguem idéias mal alinhavadas. A forma atropelada com que o vocalista Falcão canta os versos de músicas como Meu Santo Tá Cansado, Reza Vela, Na Frente do Reto e Às Comunidades do Engenho Novo igualam boa parte das músicas. Falcão nega em cena as conquistas obtidas como cantor no CD 7 Vezes. Mas isso também pouco importa para o público que estava ali para se esbaldar ao som de temas como O Que Sobrou do Céu. De todo modo, o som é azeitado, o belo cenário é coerente com a história da banda - com direito a um telão posicionado no meio, no qual são projetadas frases e imagens (como a de Jimi Hendrix, por exemplo, no momento em que a banda toca Hey Joe) - e o jogo de luz, quente, preenche e valoriza a cena. Sem falar nas vinhetas que pontuam o roteiro toda vez que Falcão dá a palavra de ordem, "Soundsystem!", numa alusão aos sistemas de som que ajudaram a propagar o reggae pelas ruas da Jamaica. Deram charme ao show!!
E assim, com um som que remete tanto à Jamaica como ao Bronx, passando pela Baixada Fluminense (RJ), o Rappa mandou o seu recado com numerosos efeitos eletrônicos e um som de peso. A presença invisível de Marcelo Yuka é sentida. Tanto que Falcão pede "uma salva de palmas" para o ex-integrante do Rappa antes de apresentar Todo Camburão Tem um Pouco de Navio Negreiro, número emendado em seqüência matadora com Minha Alma (A Paz que Eu Não Quero) e Vapor Barato (com arranjo que ganha peso crescente). Algumas boas músicas do álbum 7 Vezes, como o ragga Farpa Cortante, não surtem no palco o efeito do disco. Talvez seja questão de tempo. Ou não. Como disse Falcão em cena, o Rappa vive "outra história, outra vida, outro momento". É isso...

Compilação de Fito traz 15 'grandes canciones'

Aproveitando mais uma vinda de Fito Paez ao Brasil (o cantor e compositor argentino vai fazer show no Canecão, no Rio de Janeiro, em 11 de setembro de 2008, ao lado de cantores como Ana Cañas e Vanessa da Mata), a gravadora Sony BMG badala a edição da coletânea Grandes Canciones. O CD (à direita) reúne 15 gravações do compositor. A faixa La Rueda Mágica conta com a adesão de Charly García, outro roqueiro da Argentina. Eis a seleção do disco:
1. Mariposa Tecknicolor
2. Eso que Llevas Ahí
3. Un Vestido y un Amor
4. Tumbas de la Gloria
5. Fue Amor
6. Amor Despues del Amor
7. Cuarto de al Lado
8. Rodar mi Vida
9. La Rueda Mágica
10. Tema de Piluso
11. Yo Vengo a Ofrecer mi Corazón
12. Enloquecer
13. Naturaleza Sangre
14. Dar Es Dar
15. 11 y 6

Faixa inédita em CD na nova coletânea de Nara

Nara Tropicália - uma nova coletânea dupla de Nara Leão (1942 - 1989) que a gravadora Universal Music vai lançar em setembro dentro de sua série Concept - traz um fonograma nunca editado em CD. Trata-se de Capricho, poema de Castro Alves (1847 - 1871), musicado por Francis Hime e gravado pela cantora para a trilha sonora da novela O Casarão (1976). A trilha da novela já foi editada em CD em 2001 na série Vale a Pena Ouvir de Novo, mas veio sem a faixa Capricho, provavelmente por conta de questões relativas a direitos autorais. Nara Tropicália vai chegar às lojas em embalagem digipack, já tradicional na série.

28 de agosto de 2008

Phil expõe equilíbrio delicado da feitura de CDs

Resenha de livro
Título: Gravando!
- Os Bastidores
da Música
Autor: Phil Ramone
com Charles L. Granata
Editora: Guarda-Chuva
Cotação: * * * *

Produzir discos também é uma arte. Arte na qual Phil Ramone é um dos mestres. Recém-lançado no Brasil, o belo livro Gravando! não exibe um relato biográfico deste prestigiado produtor que pilotou discos de Frank Sinatra (1915 - 1998), Paul Simon e Barbra Streisand, entre outros astros da música norte-americana. Embora a narrativa também revele fatos da biografia de Ramone, o traço mais envolvente do livro está na exposição do equilíbrio delicado que é necessário atingir para um disco ser produzido com sucesso. Equilíbrio não somente dos sons - e a parte dedicada às dicas técnicas de como se fazer uma mixagem e uma masterização adequadas é a mais chata do livro - mas, sobretudo, de egos. Os dos artistas, os dos músicos contratatos e os dos diretores das gravadoras que bancam os discos. Escrito na primeira pessoa, o livro mostra como Ramone soube driblar a insegurança de Sinatra no momento em que ele voltava aos estúdios para fazer o álbum Duets (1993) - a Voz abandonou a primeira sessão de gravação por receio de não cumprir a expectativa - e lidar com o perfeccionismo de Barbra na gravação de trilhas de cinemas. A busca da batida perfeita para discos de Paul Simon e Billy Joel - artistas recorrentes o currículo de Ramone - ocupa boa parte da geralmente saborosa narrativa. É óbvio que Ramone preserva as estrelas com quem trabalhou e não abre todo o jogo. Ainda assim, Gravando! deixa uma porta entreaberta para quem se interessa em conhecer os bastidores das sessões de discos que marcaram época e fizeram o nome do autor.

'Desabafo' dá partida na promoção do CD de D2

A foto acima é um flagrante da gravação do clipe de Desabafo, a música que puxa o álbum que Marcelo D2 vai lançar em outubro. Já em rotação na MTV, o vídeo foi gravado no bar do Hotel Cambridge, em São Paulo (SP), e contou com as participações dos DJs Xis, Fernandinho Beat box, Nuts e Jackson - além de 90 figurantes. A direção do clipe é de Johnny Araújo, que assina o roteiro com D2. Já o CD, produzido por Mario Caldato Jr., marca a estréia do rapper na gravadora EMI Music (ele saiu da Sony BMG).

Sambas de Almir animam encontro com Dorina

Resenha de show
Título: Grandes Encontros - Almir Guineto & Dorina
Artista: Almir Guineto e Dorina
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 27 de agosto de 2008
Cotação: * * *
Em cartaz em 28 e 29 de agosto de 2008, às 19h30m
Integrante da formação original do Fundo de Quintal, Almir Guineto deixou o grupo logo após a gravação do primeiro álbum para seguir carreira solo iniciada em 1981. No auge da explosão do pagode carioca, nos anos 80, este compositor oriundo do Morro do Salgueiro, na Tijuca (RJ), se tornou um dos grandes vendedores de discos do Brasil por conta dos LPs Sorriso Novo (1985) e Almir Guineto (1986). Sua trajetória sairia dos trilhos - mais por problemas pessoais do que musicais - mas a força do repertório de Almir é grande. A ponto de seu cancioneiro ter respondido por alguns dos momentos de maior animação do show que (re)uniu o compositor a Dorina dentro do projeto Grandes Encontros, idealizado pelo Teatro Rival, onde o show vai ficar em cartaz apenas até sexta-feira, 29 de agosto. Merece ser conferido!!
Emoldurados por bela luz que preencheu o palco do Rival, Almir e Dorina abriram o show com dois números feitos em dueto, Edital e Mel na Boca. Neste samba, a platéia já fez um coro tão forte que não restou dúvida de que a maioria do público estava ali para ver Almir. Mas coube a Dorina, com sua calorosa presença de palco, entreter esse público na primeira metade do show. Na companhia do conjunto Samba com Atitude, ela teve bons momentos como O Apito no Samba, Gota d'Água (imersa no universo do pagode sem perda da dramaticidade exigida pelo tema de Chico Buarque) e o medley que juntou Zé Tambozeiro (samba da lavra fina do mestre Candeia) com Banho de Fé (do repertório do Fundo de Quintal). Mas nos sambas mais dolentes, de tonalidade romântica, casos de Na Hora de Voltar (Adalto Magalha e Adilson Gavião) e de Pedaço de Ilusão (parceria de Jorge Aragão, Sombrinha e Jotabê lançada por Beth Carvalho em 1981 no álbum Na Fonte), Dorina se apresentou menos sedutora. Talvez porque a atmosfera do show pedisse altos partidos como Fidelidade Partidária, no qual, aliás, a cantora deitou e rolou nas rimas ricas do craquíssimo Nei Lopes.
Já com Almir de volta ao palco, Dorina reviveu com ele Lama nas Ruas (parceria de Almir com Zeca Pagodinho que se sustenta basicamente pelo refrão inspirado) e Mãos. Ela já havia cantado os dois temas no CD Sambas de Almir, dedicado ao repertório de Guineto e gravado ao vivo pela cantora em 2002 no mesmo palco do Rival onde ela se reencontrou com o compositor, que, na sua parte individual, fez o animado público cantar a plenos pulmões os versos de sambas como Conselho, Pedi ao Céu, Insensato Destino e Saco Cheio. Como intérprete, Almir peca pela dicção extremamente deficiente. O que prejudica o pleno entendimento das letras de músicas como Boca sem Dente. Em compensação, Almir é partideiro dos bons e reafirmou que tem o dom do improviso quando, já com Dorina em cena novamente, criou versos instântaneos para Não Quero Saber Mais Dela, um dos grandes destaques do roteiro. Neste bloco final, Almir e Dorina surpreenderam com o ufanismo consciente de Meu Sangue É Brasil - parceria de Guineto com Luverci Ernesto, lançada por Beth Carvalho em 1999 no CD Pagode de Mesa - e com Ouro Só, um samba que evoca a Bahia e que rendeu saudação da dupla a Dorival Caymmi (1914 - 2008). No bis, Caxambu confirmou o entrosamento de Almir Guineto com Dorina. Mesmo com alguns baixos entre partidos tão altos, o show é animado. O samba é bom.

Quinto álbum do Fall Out Boy sai em novembro

Em alta no mercado fonográfico norte-americano desde que vendeu nos Estados Unidos 1,3 milhão de cópias de seu quarto álbum, Infinity on High (2007), o quarteto Fall Out Boy vai lançar seu próximo disco de estúdio, Folie a Deux, em 4 de novembro de 2008, pela gravadora Island. O primeiro single, I Don't Care, chega às rádios dos EUA já em 15 de setembro. Lake Effect Kid e ALPHAdog and OMEGAlomaniac são faixas do álbum.

27 de agosto de 2008

Jorge une Zeca e Ben Jor no CD de Pagodinho

O sincretismo religioso do Brasil regeu o inédito encontro de Zeca Pagodinho com Jorge Ben Jor no CD de estúdio que Pagodinho vai lançar em setembro pela Universal Music. Ben Jor (à direita na foto tirada com Zeca no estúdio carioca Cia. dos Técnicos) recita a Oração de São Jorge - santo católico do qual é devoto - na faixa Ogum, samba da lavra de Marquinhos PQD e Claudemir. No Rio de Janeiro, Ogum é o orixá que representa São Jorge no Candomblé enquanto, nos terreiros da Bahia, o santo guerreiro é identificado com Oxossi. Ainda sem título, o novo álbum de Zeca apresenta 13 músicas inéditas em 15 faixas. As exceções são Esta Melodia - samba de Jamelão (1913 - 2008) e Bubu da Portela, gravado por Marisa Monte em 1994 no CD Cor-de-Rosa e Carvão - e um pot-pourri com três sambas criados por integrantes da Velha Guarda da Portela. São eles: Manhã Brasileira (Manacéa), Pecadora (Jair do Cavaquinho e Joãozinho da Pecadora) e Falsa Jura (Candeia e Casquinha). A Velha Guarda da Portela - aliás - participa do álbum, intitulado Uma Prova de Amor, nome de um samba inédito de Toninho Geraes e Nelson Rufino. Produzido por Rildo Hora, o CD inclui músicas como Se Eu Pedir pra Você Cantar (Arlindo Cruz e Zeca Pagodinho), Não Há Mais Jeito (Monarco e Mauro Diniz) e Sincopado e Ensaboado (Marcos Diniz, Luiz Grande e Barbeirinho do Jacarezinho - o Trio Calafrio). P.S.: a foto é de Cristina Granato.

Baleiro 'imbola' em disco pautado pelos metais

Resenha de CD
Título: O Coração do
Homem-Bomba
Volume 1
Artista: Zeca Baleiro
Gravadora: MZA Music
Cotação: * * * * 1/2

Zeca Baleiro imbola ritmos de novo neste primeiro volume do CD duplo O Coração do Homem-Bomba, trabalho sem caráter conceitual, gravado com "um amontoado de canções acumuladas ao longo de alguns anos", como explica o artista no texto que escreveu para apresentar o disco. O sotaque globalizado da regravação de Alma Não Tem Cor - pérola do repertório do grupo Karnak - dá o tom deste disco pautado por arranjos de metais e pela diversidade rítmica já experimentada por Baleiro em seu segundo álbum, Vô Imbolá (1999). Sem o tom mais introspectivo de CDs como Líricas (2000) e Baladas do Asfalto & Outros Blues (2005), o artista dialoga com o iê-iê-iê da Jovem Guarda em Ela Falou Malandro (parceria com Zé Geraldo), rebobina com criatividade esquecido samba do repertório de Luiz Ayrão (Bola Dividida, de 1974) e embaralha os conceitos de brega e chique num sarcástico samba-funk (Vai de Madureira, do verso "Se não tem água perrier, eu não vou me aperrear") lançado em 2001 pelo reformulado sexteto As Frenéticas num disco que passou batido. Nem uma ou outra música menos inspirada, caso de Você É Má (feita em parceria com Joãozinho Gomes), tira o brilho deste primeiro volume de O Coração do Homem-Bomba. Sem querer ser cult, Baleiro evoca até o som do cancioneiro de cantores populares como Reginaldo Rossi no arranjo metaleiro do ska Você Não Liga pra Mim, de temática propositalmente sentimental. Pontuado por vinhetas, o disco fecha em clima de estranheza com Geraldo Vandré, parceria de Baleiro com Chico César que faz (suposta) homenagem ao compositor de Pra Não Dizer que Não Falei de Flores sem deixar de traçar na letra um perfil da figura arredia e enigmática de Vandré. Enfim, um trabalho coerente com o caráter já plural da discografia de Zeca Baleiro. Ele imbolou novamente...

Tributo ao 'Álbum Branco' vai sair em setembro

Entre novembro de 2007 e junho de 2008, o pesquisador Marcelo Fróes produziu 30 regravações de músicas lançadas em 1968 no disco duplo The Beatles, mais conhecido como o Álbum Branco dos Fab Four. O resultado vai poder ser conferido em setembro, quando a gravadora Coqueiro Verde - que distribui os produtos do valioso selo de Fróes, Discobertas - mandar para as lojas Álbum Branco, um tributo, também duplo, a um dos títulos mais incensados da discografia dos Beatles. Eis a lista de músicas e de intérpretes (quase todos, aliás, nomes da cena indie brasileira):
Disco 1
1. Back In the U.S.S.R. - Rodrigo Santos & George Israel
2. Dear Prudence - Zé Ramalho
3. Glass Onion - Cachorro Grande
4. Ob-la-di, Ob-la-da - Os Britos
5. Wild Honey Pie - Bacalhau
6. The Continuing Story of Bungalow Bill - Daniel Tendler
7. While My Guitar Gently Weeps - Manfred
8. Happiness Is a Warm Gun - Martha V & Mariana Davies
9. Martha My Dear - Márcio Greyck
10. I'm So Tired - Dissonantes
11. Blackbird - Sylvinha Araújo
12. Piggies - Twiggy & Andreas Kisser's Lostapes
13. Rocky Raccoon - Carmem Manfredini
14. Don't Pass me By - Ayrton Mugnaini Jr.
15. Why Don´t We do It In the Road - Surfadelica
16. I Will - Érika Martins
17. Julia - Celso Fonseca

Disco 2
1. Birthday - Pato Fu
2. Yer Blues - Sérgio Vid & Big Gilson
3. Mother Nature's Son - Reino Fungi
4. Everybody's Got Something to Hide Except me and my Monkey - Dr. Sin
5. Sexy Sadie - Metalmorphose
6. Helter Skelter - Andreas Kisser's Lostapes
7. Long Long Long - Milke
8. Revolution 1 - Tantra
9. Honey Pie - Flávio Venturini & Aggeu Marques
10. Savoy Truffle - Os Canibais com Renato Rocha
11. Cry Baby Cry - Autoramas
12. Revolution 9 - Rogério Skylab
13. Good Night - Jerry Adriani & Tantra

Arrigo retoma 'Clara' em CD feito em Portugal

Arrigo Barnabé (em foto de Edson Kumasaka) volta a remexer na sua obra mais conhecida, Clara Crocodilo, em disco ao vivo dividido com o pianista Paulo Braga. No recém-lançado CD Ao Vivo, em Porto, gravado em junho de 2004 em show no Teatro Nacional São João, em Portugal, Arrigo e Braga unem pianos e vozes para reviver temas como Office-Boy, Cidade Oculta, Outros Sons, Antro Sujo e Sabor de Veneno (nome também da banda que lançou com Arrigo o espetáculo e o LP Clara Crocodilo entre 1980 e 1981). Quem edita o álbum é a gravadora paulista Atração.

26 de agosto de 2008

Maria Rita lança DVD de samba em setembro

Seguindo sua tradição de lançar CDs e DVDs no mês de seu aniversário, Maria Rita apresenta na segunda semana de setembro o DVD Samba Meu, gravado ao vivo em show na casa Vivo Rio (RJ) em 10 de junho de 2008. Produzido pela própria Maria Rita (em foto de Tripolli), o vídeo tem direção de Hugo Prata, da Zulu Filmes, e chega às lojas pela gravadora Warner Music. Nos extras, há o making of da gravação, um slideshow com fotos de Marcos Hermes, o clipe de Num Corpo Só e o take de Não Deixe o Samba Morrer, hit inicial de Alcione, revivido pela artista no bis do show.
Em tempo: a partir de agora, a artista passa a ter sua carreira gerenciada pela divisão empresarial da gravadora Trama, dirigida por seu irmão, João Marcelo Bôscoli. Mas continua no elenco da Warner Music, de acordo com o comunicado da assessoria de Rita.

Represas navega melhor nas águas de Portugal

Resenha de CD
Título: Navegar É Preciso
Artista: Luis Represas
Gravadora: MZA Music
Cotação: * * *

Um dos artistas mais atuantes na história da música popular de Portugal, o compositor e cantor Luis Represas (re)ergue a ponte de seu país com o Brasil neste álbum produzido por Martinho da Vila e Mazzola para o mercado brasileiro. No todo, o disco é bom. Inclusive por dar oportunidade aos brasileiros de ouvir músicas do belo repertório autoral de Represas como Da Próxima Vez (de romantismo pungente), Colibri e o hit Feiticeira (regravado com os vocais do grupo Arranco de Varsóvia). Dentre as regravações de músicas brasileiras, o destaque é a regravação de Meu Erro, feita por Represas em suave dueto com Zélia Duncan que segue os caminhos melódicos apontados por Zizi Possi em sua imbatível releitura deste sucesso do trio carioca Paralamas do Sucesso. Contudo, a ponte erguida para religar Portugal e Brasil às vezes se mostra frágil. Represas nada acrescenta de relevante a temas como Sinal Fechado (Paulinho da Viola) e Apaga o Fogo, Mané (Adoniran Barbosa). Já o dueto com Martinho da Vila em Oração de Mãe Menininha seduz pela ternura com que os dois artistas encaram este tema afro de Dorival Caymmi (1914 - 2008) e fecha bem um disco indicado para quem ainda não conhece o universo musical de Represas. Até porque é preciso navegar mais pelas águas da música popular lusitana - um mar a ser desbravado.

Zizi grava Rosa dos Ventos para trilha de novela

Grande música lançada por seu autor Chico Buarque em 1970, mas associada a Maria Bethânia desde que batizou o emblemático show estreado pela cantora em 1971, Rosa dos Ventos ganha releitura de Zizi Possi (foto). A gravação foi feita a pedido de Manoel Barenbein (produtor associado à Tropicália) e Márcio Antonucci, diretores musicais da TV Record, para a trilha sonora da novela Os Mutantes. Feito no tempo da delicadeza, com intensidade crescente, o registro classudo de Rosa dos Ventos por Zizi - já disponível para audição no blog da artista - foi concebido pela cantora com o pianista Keco Brandão, que participou da gravação ao lado dos músicos Sylvinho Mazzucca (baixo) e Ramon Montagner (bateria).

Netinho acerta ao voltar para sua praia baiana

Resenha de CD
Título: Minha Praia
Artista: Netinho
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * *

É sintomático que seja Minha Praia o título deste 18º CD da irregular discografia do baiano Netinho (incluindo os álbuns gravados com a Banda Beijo). Em 2005, ele tentou se dissociar da axé music e alçar vôo pop em disco, Outra Versão, que se afogou nas ondas de um mercado pautado cada vez mais pela segmentação. De volta à sua praia baiana, o cantor apresenta disco que, no todo, se situa entre os bons trabalhos do gênero. Músicas como Muito Bom, Na Capoeira e Impossível são exemplos de que o axé é sempre melhor quando se sustenta na vivacidade rítmica sem apelar para letras vulgares. Celebração da alegria do ritmo pop afro-baiano, Muito Bom, aliás, é ouvida também em registro ao vivo. Minha Praia foi gravado em estúdio, mas inclui quatro faixas gravadas ao vivo. A melhor delas é Tá Bom? - irresistível manifesto de Carlinhos Brown (sempre inspirado) a favor da liberdade das opções sexuais. Tá Bom? encerra o álbum em astral tão grande que fica a certeza de que Netinho podia ter dispensado a versão axé de Caça e Caçador, um dos hits radiofônicos de Fábio Jr. nos anos 80. Contudo, entre altos e baixos, Netinho consegue emergir revigorado de sua praia.

25 de agosto de 2008

Música de João permanece grande como o mito

Resenha de show
Título: Itaúbrasil - João Gilberto
Artista: João Gilberto
Local: Theatro Municipal do Rio de Janeiro (RJ)
Data: 24 de agosto de 2008
Cotação: * * * * 1/2
Foto: Factoria Comunicação / Beti Niemeyer

Aos 77 anos, João Gilberto mostrou na volta aos palcos do Rio de Janeiro - a cidade na qual apresentou sua bossa sempre nova em 1958 - que sua música permanece tão grande quanto o mito alimentado (por ele mesmo) em torno de sua figura excêntrica. A voz já não conserva o viço de antes - se comparada com a última apresentação carioca do cantor, realizada em 1994 no desativado Teatro do Hotel Nacional - e toda a revolução estética já foi feita há 50 anos. Mas João é sempre surpreendente, único a cada show. E sua apresentação histórica no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na noite de domingo, 24 de agosto de 2008, apenas confirmou o caráter fenomenal de seu canto e do toque de seu violão. E o curioso é que o gênio de João aparece sobretudo nas músicas que ele toca há 50 anos. Samba do Avião, Wave, Desafinado e Chega de Saudade - único número em que, já no bis, a platéia se atreveu a cantar com João, para surpreendente deleite do artista - foram os grandes momentos da noite. As músicas mais velhas em sua voz foram justamente as que soaram mais novas, remodeladas por um intérprete que pôs seu nome na galeria mais nobre da música brasileira justamente por mexer e remexer com maestria na obra alheia e no próprio canto. A bossa ainda é nova...

A abertura silenciosa com três sambas de Dorival Caymmi (1914 - 2008) - Você Já Foi à Bahia?, Doralice e Rosa Morena - foi a maneira de o velho sempre novo baiano expressar com seu canto a reverência que tem ao colega conterrâneo que, de certa forma, antecipou as conquistas harmônicas da bossa. João consegue a proeza de soar atemporal mesmo apegado a seu passado musical. Com exceção de Lígia, entoada sem a pronúncia do nome da musa inspiradora da canção de Tom Jobim (1927 - 1994) e Chico Buarque, as demais músicas do roteiro foram lançadas entre os anos 30 e 60. Um roteiro que celebrou as belezas cariocas - e a inclusão de três peças da Sinfonia do Rio de Janeiro (Abertura, Hino ao Sol e O Mar) já diz tudo por si só - e o samba. É do baú do samba, cuja batida João conseguiu sintetizar magistralmente nas cordas de seu violão ao criar sua própria batida diferente, que João tira pérolas como Não Vou pra Casa, parceria de Antonio Almeida e Roberto Riberti, lançada em 1941 e regravada pelo mestre em 2000 no álbum João Voz e Violão. João canta macio - e cada vez mais sussurrado - mas é o vozeirão antenado de Orlando Silva (1915 - 1978), e não o de Mário Reis (1907 - 1981), que ele celebra quando canta músicas como Preconceito, samba de Wilson Batista (1913 - 1968) com Marino Pinto (1916 - 1965). Enfim, nada de novo. Mas, ao mesmo tempo, tudo soou novo. "Gênio!", gritou um espectador depois da reveladora releitura de Retrato em Branco e Preto. João Gilberto é mesmo um gênio. Que virou mito também por fatores extra-musicais. Mas o que conta - e o show atestou isso - é que a música ainda é grande como o mito.

Com seu violão, João faz bela sinfonia para Rio

Munido apenas de seu revolucionário violão, João Gilberto fez terna sinfonia para o Rio de Janeiro - a cidade na qual gerou sua bossa sempre nova - no show que marcou sua histórica volta aos palcos cariocas, das 21h54m às 23h38m da noite de domingo, 24 de agosto de 2008, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (RJ). Aliás, três temas da Sinfonia do Rio de Janeiro composta por Tom Jobim (1927 - 1994) e Billy Blanco em 1954 - Abertura, Hino ao Sol e O Mar - foram as surpresas de um roteiro que reverenciou a cidade e o samba. Ao sair de cena, ovacionado, João (em foto de Beti Niemeyer) deixou uma sensação de plenitude na privilegiada platéia que testemunhou a coerência e a Arte de um artista único.

Antes da plenitude, houve a ansiedade. Diante de uma platéia tensa (qualquer tosse, ruído ou luz era motivo para psius e até para pequenas discussões), o cantor apresentou 31 números - incluindo às duas repetições de Chega de Saudade - em roteiro sintomaticamente aberto com três sambas de Dorival Caymmi (1914 - 2008). Recorrente no repertório de João desde seu primeiro álbum, o cancioneiro de Caymmi ainda renderia um quarto número, Você Não Sabe Amar, apresentado no longo e descontraído bis, quando, após saudar o grupo vocal Os Cariocas, João - já falante - disse que tinha ouvido um "sussurrinho" durante Chega de Saudade e que havia gostado, pedindo então que o público voltasse a cantar com ele. João, então, tocou novamente a música que detonou a explosão da bossa, há 50 anos, mas se limitou a fazer uns vocais no final, deixando que o público cantasse sozinho a música de Tom Jobim e Vinicius de Moraes (1913 - 1980). Um momento histórico! "Não quero mais ir embora", confessou João, aplaudindo o público depois de um terceiro take de Chega de Saudade, em que ele voltou a cantar o tema. Eis o roteiro da apresentação feita por João Gilberto no Theatro Municipal do Rio de Janeiro dentro do ciclo de eventos Itaúbrasil - idealizado para reverenciar os 50 anos da Bossa Nova:
1. Você Já Foi à Bahia? (Dorival Caymmi)
2. Doralice (Dorival Caymmi e Antonio Almeida)
3. Rosa Morena (Dorival Caymmi)
4. 13 de Ouro (Herivelto Martins e Marino Pinto)
5. Meditação (Tom Jobim e Newton Mendonça)
6. Preconceito (Wilson Batista e Marino Pinto)
7. Samba do Avião (Tom Jobim)
8. Sinfonia do Rio de Janeiro (Tom Jobim e Billy Blanco)
(Abertura / Hino ao Sol / O Mar)
9. Lígia (Tom Jobim e Chico Buarque)
10. Caminhos Cruzados (Tom Jobim e Newton Mendonça)
11. Não Vou pra Casa (Antonio Almeida e Roberto Riberti)
12. Disse Alguém (All of me) (Gerald Marks e Seymour Simons)
13. Corcovado (Tom Jobim)
14. Chove Lá Fora (Tito Madi)
15. O Nosso Olhar (Sérgio Ricardo)
16. Wave (Tom Jobim)
17. De Conversa em Conversa (Haroldo Barbosa e Lúcio Alves)
18. Desafinado (Tom Jobim e Newton Mendonça)
19. Estate (Bruno Martino e Bruno Brighetti)
20. Isto Aqui o que É (Ary Barroso)
Bis:
21. Aos Pés da Cruz (Marino Pinto e Zé da Zilda)
22. Da Cor do Pecado (Bororó)
23. Retrato em Branco e Preto (Tom Jobim e Chico Buarque)
24. Você Não Sabe Amar (Dorival Caymmi e Carlos Guinle)
25. Tim-Tim por Tim-Tim (Haroldo Barbosa e Geraldo Jaques)
26. Chega de Saudade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes)
27. Improviso - música do repertório do grupo Os Cariocas
28. Chega de Saudade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes)
29. Chega de Saudade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes)
30. Garota de Ipanema (Tom Jobim e Vinicius de Moraes)
31. O Pato (Jayme Silva e Neusa Teixeira)

Meninas saúdam Caymmi na gravação de DVD

Jussara Silveira, Rita Ribeiro e Teresa Cristina fizeram na noite de domingo, 24 de agosto de 2008, a gravação ao vivo do gracioso show Três Meninas do Brasil. As cantoras (em foto de Rodrigo Amaral durante o registro do CD e DVD) apresentaram no Teatro Municipal de Niterói (RJ) o mesmo roteiro entoado na estréia do espetáculo, em dezembro de 2007, no Teatro Nelson Rodrigues (RJ). Antes de cantar Lá Vem a Baiana, as três meninas fizeram menção à importância de Dorival Caymmi (1914 - 2008), autor do samba, na música brasileira. Jussara Silveira - vale lembrar - lançou em 1998 o CD Canções de Caymmi, segundo título de sua discografia. O bem-vindo registro do show Três Meninas do Brasil (em CD e DVD) foi viabilizado pela gravadora Biscoito Fino. Eis o roteiro apresentado pelas três cantoras na gravação ao vivo:
1. Meninas do Brasil (Moraes Moreira e Fausto Nilo)
2. Menina, Amanhã De Manhã (Tom Zé e Antônio Perna Fróes)
3. Seo Zé (Carlinhos Brown, Marisa Monte e Nando Reis)
4. Mulher Nova Bonita e Carinhosa Faz o Homem Gemer Sem Sentir Dor (Zé Ramalho e Otacílio Batista)
5. Na Cabecinha da Dora (Antônio Vieira e Pedro Giusti)
/ Nega do Cabelo Duro (Rubens Soares e David Nasser)
6. Para Ver as Meninas (Paulinho da Viola)
7. Maiúsculo (Sérgio Sampaio)
8. Nu com a Minha Música (Caetano Veloso)
9. Ludo Real (Chico Buarque e Vinicius Cantuária)
10. Divino (Rita Ribeiro e Zeca Baleiro)
11. Impossível Acreditar que Perdi Você (Cobel e Márcio Greyck)
12. Dama do Cassino (Caetano Veloso)
13. Cantar (Teresa Cristina)
14. Lá Vem a Baiana (Dorival Caymmi)
15. Pôxa (Gilson de Souza)
16. Chula Cortada (Roque Ferreira)
17. Isso Aqui Tá Bom Demais (Dominguinhos e Nando Cordel)
18. Homem de Saia (Enéas de Castro e Gatinho)
19. Minha Tribo Sou Eu (Zeca Baleiro)
20. Deixa a Gira Girá (Adap. Mateus, Dadinho e Heraldo)

Madonna inicia tour que terá três shows em SP

Aos 50 anos de idade (recém-completados em 16 de agosto de 2008) e 25 de carreira fonográfica, Madonna iniciou sua oitava turnê mundial na noite de sábado, 23 de agosto. O primeiro show da Stick & Sweet Tour - que vai passar pelo Brasil em dezembro com dois shows no Rio de Janeiro e três em São Paulo, de 14 a 21 de dezembro - aconteceu no Millenium Stadium, em Cardiff, no País de Gales, para um público estimado em 40 mil pessoas. Eis o roteiro do show inicial da turnê que repõe a rainha em trono pop:
1. Candy Shop
2. The Beat Goes on
3. Human Nature
4. Vogue
5. Die Another Day (vídeo)
6. Into the Groove
7. Heartbeat
8. Bordeline
9. She's Not me
10. Music
11. Rain / Here Comes the Rain Again (vídeo)
12. Devil Wouldn't Recognize You
13. Spanish Lesson
14. Miles Away
15. La Isla Bonita / Lela Pala Tute
16. You Must Love me
17. Get Stupid (vídeo)
14. 4 Minutes (com Justin Timberlake no telão)
15. Like a Prayer
16. Ray of Light
17. Hung up
18. Give It to me

24 de agosto de 2008

Diversidade autoral situa terceiro solo de Frejat

"Este disco tem uma importância especial, pois dá continuidade à minha carreira individual, trazendo o primeiro grupo de novas composições que gravo desde 2003. Ele se chama Intimidade entre Estranhos e nele coexistem vários tipos de canções, histórias e idéias que tratam desta rica, louca e estranha experiência que é a vida urbana, com seus amores, encontros, desencontros e reflexões. Acho que o disco consegue refletir muito bem a minha percepção do mundo como cantor, compositor e guitarrista neste momento".

A declaração é de Frejat (visto acima em foto de Christian Gaul) e abre o texto escrito pelo artista para apresentar seu terceiro disco solo, Intimidade entre Estranhos, nas lojas no começo de setembro, pela Warner Music. Gravado e mixado no estúdio Dubrou, no Rio de Janeiro (RJ), entre maio e julho de 2008, o álbum é marcado pela diversidade de parceiros. "Trago novas parcerias, com amigos recentes e antigos, que me estimularam a alçar vôos criativos diversos", ressalta Frejat no texto. Um amigo antigo, Leoni, é o parceiro do guitarrista na faixa-título. Outro amigo dos velhos tempos, Maurício Barros, ex-tecladista do Barão Vermelho, assina a produção do disco e é co-autor do festivo funk Tudo de Bom, feito ao lado de Bruno Levinson e do próprio Frejat.
Abrindo bem o leque de parceiros, Frejat expõe em Intimidade entre Estranhos onze composições feitas com nomes como Zé Ramalho (Tua Laçada, música caracterizada como árida pelo cantor), Zeca Baleiro (Nada Além), Gustavo Black Alien (Eu Não Quero Brigar Mais Não), Paulo Ricardo (Controle Remoto, de letra reflexiva), Alvin L. (Fragmento), Flávio Oliveira (Eu Só Queria Entender, tema de atmosfera soul) e a escritora Martha Medeiros (co-autora de Farol, escrita com o poeta Mauro Sta. Cecília). Parceiro mais freqüente de Frejat nos últimos anos, Sta. Cecília também tem seu nome nos créditos de O Céu Não Acaba - tema feito para a peça Rei dos Escombros e que traz Ezequiel Neves na co-autoria - e de Dois Lados, pop criado com Maurício Barros e Frejat, lançado na trilha sonora nacional da novela Beleza Pura.
Intimidade entre Estranhos é o primeiro álbum solo de Frejat em cinco anos. O anterior, Sobre Nós 2 e o Resto do Mundo, foi editado em 2003 pela mesma gravadora Warner Music que lançou, em 2001, Amor pra Recomeçar, o título inaugural da discografia individual do vocalista e guitarrista do grupo carioca Barão Vermelho, atualmente em indefinido recesso.

Garrido põe 'Perfume da Nêga' no primeiro solo

Samba-rock de Gabriel Moura, lançado pelo autor em seu CD Brasis (2006), O Perfume da Nêga ganha registro de Toni Garrido em seu primeiro disco solo, gravado com a banda Flecha Black. Já em fase inicial de mixagem, a cargo do produtor Liminha, o álbum vai transitar pelo soul e pela black music. O repertório inclui releituras de Tudo que Você Podia Ser - parceria dos irmãos Lô e Márcio Borges, lançada em 1972 no álbum duplo Clube da Esquina - e de Me Libertei, música de Toni Tornado e Frankye, gravada por Tornado em seu LP de 1971. Entre os temas inéditos, há Minhas Lágrimas, música composta por Garrido - na foto de Bruno Levinson, numa sessão no estúdio carioca Blue - quando era adolescente. Previsto para outubro, o CD vai ter seu lançamento no mercado fonográfico viabilizado pela Tora Produções - marca carioca que agrega as empresas Pilastra, CD Promo e TG Produção.

Lenine registra 'Continuação' com os três filhos

A foto acima - postada por Lenine no blog criado para propagar informações sobre seu sexto álbum solo, Labiata, nas lojas em setembro com distribuição da Universal Music - registra a reunião do cantor com seus três filhos (Bernardo Pimentel, Bruno Giorgi, João Cavalcanti) na gravação da música que encerra o disco, Continuação, feita no Rio de Janeiro (RJ) em 27 de maio de 2008.
Viabilizado com um patrocínio do projeto Natural Musical, o CD Labiata apresenta duas parcerias inéditas do compositor com Arnaldo Antunes, O Céu É Muito e Excesso Exceto (faixa que conta com a voz de China, cantor pernambucano projetado no grupo Sheik Tosado). Uma das curiosidades do repertório é Samba e Leveza, música composta por Lenine a partir de fragmentos de manuscritos do também pernambucano Chico Science (1966 - 1997), um dos mentores nos anos 90 do movimento Mangue Beat.

Fundo põe quatro inéditas no quintal dos covers

O grupo Fundo de Quintal permanece no tempo das regravações de sucessos. Menos de um ano depois de apresentar o CD e DVD O Quintal do Samba, editados em outubro de 2007 com o registro ao vivo de show calcado em clássicos do gênero, o conjunto carioca investe em um projeto similar nos mesmos formatos. O CD e o DVD (capa à direita) Samba de Todos os Tempos chegam às lojas com selo da LGK e quatro inéditas - A Força do Samba (Sereno, Adilson Gavião e Roberto Lopes), Mulher Valente (André Renato e Ronaldo Barcelos), Pra Alegria Eu Peço Bis (Luiz Schiavon e Luciana Cardoso) e Tesouro de um Povo (Mário Sérgio e Ronaldinho) - entre regravações de sucessos de Ivone Lara (Sorriso Negro), Jovelina Pérola Negra (Sorriso Aberto), Paulinho da Viola (Foi um Rio que Passou em minha Vida), Ataulfo Alves (Ai, que Saudades da Amélia) e Zeca Pagodinho (um medley com Vai Vadiar e Deixa a Vida me Levar).