18 de outubro de 2008

Natalie valoriza a era inesquecível de King Cole

Resenha de CD
Título: Still Unforgettable
Artista: Natalie Cole
Gravadora: DMI Records
/ Rhino / Warner Music
Cotação: * * * *

Still Unforgettable é um excelente disco, por mais que este 21º álbum de Natalie Cole pareça bem oportunista já no título, que força associação com Unforgettable... With Love, o álbum de 1991 que levou a cantora ao topo das paradas norte-americanas por conta de dueto com seu pai, Nat King Cole (1919 - 1965), fabricado graças a recursos tecnológicos que, na época, soavam quase revolucionários. É fato que a fórmula é a mesma. Não parece haver no disco uma motivação meramente comercial como a que moldou a gravação em 1996 de um segundo dueto entre pai e filha na balada When I Fall in Love. Natalie recorre novamente ao cancioneiro de King Cole sem sentimentalismos. Tanto que a música escolhida para o terceiro encontro virtual entre Natalie e Nat foi Walkin' my Baby Back Home, um tema encharcado de suingue, composto em 1931, lançado por Louis Armstrong (1901 - 1971) na mesma década e revisitado com êxito por King Cole em 1952. A propósito, Still Unforgettable evoca o balanço das big-bands em faixas como Come Rain or Come Shine e Coffee Time, tema lançado em 1945 por Fred Astaire(1899 - 1987). Entre o suingue do jazz dos anos 40 e baladas do porte de Somewhere Along the Way, sucesso na voz de King Cole em 1952, Natalie Cole tira do baú jóias do quilate de But Beaufitul, tema lançado em 1948 por Bing Crosby (1903 - 1977) com arranjos (a cargo de Patrick Williams, John Clayton, Nan Schwartz e Victor Vanacore) que evocam com muita propriedade a atmosfera da era de ouro da canção norte-americana. Still Unforgettable pode não ser um disco inesquecível, mas está longe de ser mero caça-níquel, como pode parecer caso seja avaliado de forma apressada.

Samba apimenta fervida farofa carioca de Rogê

Resenha de CD
Título: Brasil em Brasa
Artista: Rogê
Gravadora: Independente
Cotação: * * *

Rogê é um cantor, compositor e agitador cultural que lançou seu médio primeiro disco solo, Rogê, em 2003. No segundo CD, Brasil em Brasa, o artista retrata o caldeirão fervente que caracteriza o país, em especial o Rio de Janeiro, em sambas como o que dá título ao álbum, compostos por Rogê com parceiros fervidos como Gabriel Moura, Jovi Joviniano e Arlindo Cruz. Aliás, o suingue do samba é o melhor tempero da farofa carioca de Rogê. Que soa apimentada em Numa Cidade Muito Longe Daqui, samba em que Arlindo Cruz, Acyr Marques e Franco expõem as brasas que queimam as relações entre polícia e bandido. A faixa, das melhores do CD, tem trechos narrados pelo ator Paulo César Pereio e conta com o luxuoso auxílio vocal de uma autoridade do morro, Luiz Melodia. Pena que o sabor da farofa nem sempre seja original. Em faixas como Cuidar de mim e Ótima, Rogê parece - como Bebeto nos anos 70 - um diluidor do (sam)balanço de Jorge Ben Jor. Em contrapartida, o artista acerta ao demolir o arranjo antológico de Construção (Chico Buarque) - arquitetado pelo maestro Rogério Duprat (1932 - 2006) - com uma releitura da música numa batida de reggae que incorpora a ambiência do samba (por conta da cuíca de Armando Marçal) e, no trecho final, o discurso falado do rap. É a primeira vez que uma releitura de Construção consegue realmente se dissociar da orquestração de Duprat. Ponto para Rogê, que ainda põe a sua voz de pequeno alcance a serviço de bonita balada, Estrela do Céu, destaque de CD que esquenta o braseiro que mantém o Brasil em ponto de fervura.

Kent põe delicadeza feminina nos hits dos 'boys'

Resenha de CD
Título: The Boy Next Door
Artista: Stacey Kent
Gravadora: LAB 344
/ Som Livre
Cotação: * * * *

Stacey Kent é uma cantora de Nova York que tem ganhado projeção crescente no mundo do jazz. No Brasil, Kent está em especial evidência por conta de sua vinda ao país para shows na edição 2008 do Tim Festival e também por causa da recente edição nacional de seu sexto álbum, The Boy Next Door, lançado em 2003 e reeditado pelo selo londrino Candid neste ano de 2008 com duas faixas-bônus cantadas em francês, Que Reste-t-Il de Nos Amours? e Que Feras-Tu de ta Vie?, ambas obviamente incluídas na edição brasileira viabilizada pelo selo LAB 344 dentro da série LAB 344 Excellence. A idéia do disco é apresentar a visão de Kent para músicas associadas a um time masculino formado por ícones como Frank Sinatra (The Boy Next Door, a faixa-título), Tony Bennett (The Best Is Yet to Come), Ray Charles (Makin' Whoopee), Dean Martin (All I Do Is Dream of You), entre outros cantores. Kent aborda com delicadeza feminina o repertório dos boys - ora em clima realmente jazzístico (como em I Got It Bad and That Ain't Good, tema ligado tanto a Louis Armstrong como a Duke Ellington), ora em tom pop (como no seu incensado registro de You've Got a Friend, música de Carole King associada a James Taylor). O bom senso rítmico da intérprete pode ser apreciado em Ooh-Shoo-Be-Doo-Bee, faixa cheia de suingue que remete a Dizzy Gillespie. Em disco que concilia um clássico do papa do pop Burt Bacharach (What the World Needs Now Is Love) e termina com tema de Paul Simon (a pungente Bookends), Stacey Kent lembra por vezes Norah Jones, inclusive pelo similar timbre de sua voz suave, mas também mostra personalidade num mundo jazzístico historicamente dominado pelos boys. A garota merece atenção...

Brönner foca Rio com bossa e olhar estrangeiro

Resenha de CD
Título: Rio
Artista: Till Brönner
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * 1/2

Pouco conhecido no Brasil, o trompetista e cantor alemão Till Brönner é uma estrela do jazz na Europa que flerta com o pop. Rio é seu 11º álbum e está focado na Bossa Nova, por conta dos 50 anos do gênero nascido em solo carioca. Elegantes, os arranjos reembalam a MPB sob a ótica estrangeira de Brönner, cujo toque do trompete é tão suave quanto sua voz, ouvida em músicas como Só Danço Samba (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes). Jobim (1927 - 1994), a propósito, predomina em repertório que inclui Bonita, Lígia, Ela É Carioca (com o vocal de Sérgio Mendes), Amor em Paz (na versão em inglês, Once I Loved, adornada com o vocal cool de Aimme Mann) e Sim ou Não. Contudo, Rio somente consegue escapar do lugar comum quando filtra sob a estética da bossa cinqüentenária músicas nunca associadas ao gênero. Caso de O Que Será (À Flor da Pele), a obra-prima de Chico Buarque que vira sambinha bossa-novista com o vocal titubeante de Vanessa da Mata. Também estranha no ninho do pop jazz, Annie Lennox põe sua voz a serviço de Mistérios (Joyce e Maurício Maestro) num dueto desajustado com Milton Nascimento, que reaparece no CD em outro dueto, feito com Luciana Souza em Evening (Tarde). Totalmente à vontade, Luciana Souza bisa seu rigor estilístico em Aquelas Coisas Todas (Toninho Horta) com a mesma propriedade com que Melody Gardot, cantora em ascensão na cena do pop jazz, entoa em inglês os versos de Alta Noite, a bela música de Arnaldo Antunes, gravada por ele no CD Nomes (1993) em dueto com Marisa Monte. Boa surpresa de um álbum que vai encontrar admiradores mais fervorosos no circuito estrangeiro de pop jazz...

17 de outubro de 2008

Virgínia amarra recital lírico com seu laço afro

Resenha de show
Título: Recomeço
Artista: Virgínia Rodrigues
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 16 de outubro de 2008
Cotação: * * * * 1/2
Em cartaz até sábado, 18 de outubro de 2008, às 19h30m

Quando se aventura a encarar uma interpretação a capella de Por Toda Minha Vida, no bis do show de lançamento de seu quarto CD, Recomeço, Virgínia Rodrigues já nem consegue surpreender a platéia, pois, no decorrer do recital, a cantora baiana já havia mostrado tantas interpretações arrepiantes como a do bis que o público, embora embevecido, já nem fica impactado diante do virtuosismo vocal da artista. Já soa até natural tanta beleza e força naquela voz projetada na peça Bai Bai Pelô, encenada em 1994 pelo Bando de Teatro Olodum, do qual saiu também o ator Lázaro Ramos, uma das presenças vips da estréia nacional do novo show de Virgínia, na noite de quinta-feira, 16 de outubro de 2008, no Teatro Rival, no mesmo palco onde a cantora se apresentou pela primeira vez no Rio de Janeiro, em 1997, para lançar seu CD de estréia, o luminoso Sol Negro, infelizmente já tirado de catálogo.

Em cartaz até sábado, 18 de outubro, o show Recomeço segue obviamente a lírica estética camerística do recém-lançado disco homônimo, mas sem reproduzir exatamente o som ouvido no álbum. Prmeiro, porque o pianista que gravou o CD com Virgínia e concebeu os arranjos, Cristóvão Bastos, não integra o trio que acompanha a cantora em cena. Cabe no show ao igualmente virtuoso Itamar Assiére assumir o piano e assinar os arranjos calcados no instrumento. Segundo, porque a cantora amarra o roteiro com o laço afro que caracteriza seu canto operístico que transita na fronteira entre o lírico e o popular. A ponto de o show ser encerrado (antes do bis) com quente afro-samba, Labareda, adornado pela percussão refinada de João Bani e acompanhado (no refrão) pelo público enquanto a cantora ensaia uns passos de dança pelo palco. Labareda vem do repertório do CD anterior da artista, Mares Profundos (2003), do qual a cantora pesca também o Canto de Xangô e o Canto de Ossanha, este numa interpretação absolutamente arrebatadora que (re)afirma a total propriedade de Virgínia ao se apoderar dos afro-sambas de Baden Powell (1937 - 2000) e Vinicius de Moraes (1913 - 1980). É dela!!!

Extrapolando o repertório do CD Recomeço, a cantora apresenta também uma sublime Melodia Sentimental, pouco antes de realçar toda a melancolia contida em Hora da Razão, um dos sambas nobres do repertório do compositor baiano Batatinha (1924 - 1997). Contudo, Virgínia Rodrigues não nega as liberdades estéticas e estilísticas testadas em Recomeço ("Cada disco é um desafio", confidenciou em cena, na estréia). Emoldurada ora pelo toque do violoncelo de Iura Ranevsky, ora pelo piano de Assiére, ou mesmo pelos dois, a voz de mezzo-soprano da cantora passeia lírica e majestosa por músicas como Alma, Canção de Amor, Todo Sentimento, Beatriz (destaque do show, como no disco) e Boa Noite, Amor - todas regravadas no CD que a gravadora Biscoito Fino acaba de pôr nas lojas. Pena que, ainda insegura com as músicas mais difíceis, como Triste Baía da Guanabara e Porto de Araújo (a propósito, duas apropriadas sugestões de Olivia Hime, diretora artística da Biscoito Fino), Virgínia Rodrigues precise ler as letras das composições enquanto as canta. Mas isso é detalhe pequeno de um show de grande beleza que merece ser apreciado.

Cidade prepara CD com inédita de Ana Carolina

Reduzido a um trio por conta das saídas do vocalista Toni Garrido e do guitarrista Da Gama, o Cidade Negra já começa no Rio de Janeiro (RJ) a produção de um CD de inéditas sob a batuta de Nilo Romero. O repertório vai ser majoritariamente autoral, mas Bino (baixo), Lazão (bateria) e o novo vocalista, Alexandre Cardoso (egresso dos grupos Berimbrown e Preto Massa), vão incluir no disco a música inédita que ganharam de Ana Carolina. A idéia, a propósito, é que o álbum agregue na ficha técnica nomes como Chorão, Gabriel O Pensador, Marcelo Yuka e MV Bill. Para a gravação do novo disco e para acompanhá-los nos shows, os três músicos (em foto de Leonardo Aversa) já contrataram o tecladista Alex Meirelles e os guitarristas Alexandre Prol e Egler Bruno. A intenção inicial do Cidade Negra é lançar o CD em março de 2009.

Paula Toller lança o DVD 'Nosso' em novembro

Nosso é o nome do DVD que Paula Toller vai lançar em meados de novembro. O bem-sacado título é um anagrama de SóNós, nome do segundo CD solo da cantora, base do show gravado ao vivo em 12 de agosto de 2008 no Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro (RJ), com intervenções de Kevin Johansen (em Glass e em Anoche Soñe Contigo, canção gravada por Paula em português no disco) e de Dado Villa-Lobos (em Pane de Maravilha e no samba 1.800 Colinas). O DVD solo da vocalista do Kid Abelha será editado pela artista de forma independente, com distribuição da Microservice.

Celebrare refaz festa para gravar segundo DVD

No embalo do sucesso comercial de seu primeiro DVD, Pra Dançar (2007), cujas vendas desafiam a crise e beiram a casa das 40 mil cópias, a banda Celebrare grava seu segundo vídeo digital em show agendado para esta sexta-feira, 17 de outubro de 2008, no Canecão (RJ). Valorizado no circuito de shows por conta de suas apresentações festivas, nas quais revive sucessos dançantes lançados a partir dos anos 70, o grupo vai rebobinar hits de Billy Paul, Donna Summer, Earth Wind & Fire, James Brown (1933 - 2006), Queen e Village People. Rainha das pistas, Madonna vai ser celebrada no roteiro com medley que costura três de suas músicas mais dançantes: Holiday, Into the Groove e Like a Prayer. O DVD da banda Celebrare vai ser lançado pela gravadora Indie Records.

16 de outubro de 2008

Frankenreiter tira onda na praia do pop de luau

Resenha de CD
Título: Pass It Around
Artista: Donavon Frankenreiter
Gravadora: Universal Music
Cotação: * *

Para quem não liga o nome à música, Donavon Frankenreiter é o cantor, compositor e surfista norte-americano projetado no Brasil ao gravar com o grupo Kid Abelha no DVD Pega Vida (2005) e ao participar do segundo CD solo de Paula Toller, SóNós (2007). Pass It Around, o álbum de Frankenreiter ora lançado no mercado nacional, é o terceiro da discografia deste pegador de ondas da Califórnia (EUA). A idéia foi mesclar as tonalidades acústicas do primeiro CD do artista, Donavon Frankenreiter (2004), com os timbres elétricos do segundo (Move by Yourself, 2006). Mas o fato é que nem a participação de Ben Harper na boa faixa-título, Pass it Around, ameniza a sensação de que Frankenreiter quase morre na praia do pop-luau. Suas canções melodiosas e positivistas - casos de Come with me e de Life, Love & Laughter, exemplos perfeitos da ideologia do surfista - acabam soando muito lineares. Tanto que os metais à moda dos mariachis ouvidos em Your Heart acabam sobressaindo no álbum justamente por ser uma onda diferente no ensolarado pop praieiro do artista. Contudo, Donavon Frankenreiter, não pega onda como Jack Johnson, cantor e compositor (um pouco) mais inspirado na previsível cena do gênero. Seu Pass It Around quase faz marola.

Grupo Catch Side é a aposta digital da Deckdisc

Quarteto formado no Rio de Janeiro (RJ) em 2002, já com fiel público adolescente conquistado via internet, Catch Side é uma das apostas da gravadora Deckdisc para consolidar seu recém-aberto selo Deck Digital, criado para fazer exclusivamente o marketing e a comercialização digital de artistas projetados na rede. Com seu pop de aura roqueira, o Catch Side cumpre regular agenda de shows pelo circuito carioca e já atravessa a fronteira fluminense, chegando ao Sul do Brasil e a Estados como Bahia e Espírito Santo. A banda tem centenas de vídeos no YouTube - postados por fãs - e já figura (bem) no ranking do MySpace Brasil.
Antes do Catch Side, contratado pela Deckdisc em agosto, o selo Deck Digital já tinha em seu catálogo o álbum Só Quem Sonha Acordado Vê o Sol Nascer, último trabalho de inéditas do Biquini Cavadão - grupo que, embora veterano, tem dedicado especial atenção às novas mídias. Os álbuns lançados pelo selo vão ser disponibilizados para download em portais como Deckpod, Sonora e UOL Megastore, sendo vendidos também nos formatos de ringtones, truetones e de fulltracks via operadoras de telefonia.

D2 faz barulho com Aydar, Roberta e seu Jorge

Nas lojas a partir de 20 de novembro, o CD que marca a estréia de Marcelo D2 na gravadora EMI Music, A Arte do Barulho, agrega na ficha técnica os nomes de três badaladas cantoras da geração contemporânea. Mariana Aydar, Roberta Sá e Thalma de Freitas dão suas canjas, respectivamente, nas faixas Congado, Minha Missão e Ela Disse. Produzido por Mario Caldato Jr., o álbum conta também com as intervenções de Marcos Valle, Seu Jorge, do grupo Jongo da Serrinha, Stephan (o filho de D2, em mais uma participação em disco do pai, desta vez na faixa Atividade na Laje) e do rapper americano Medaphor. Em boa rotação nas rádios desde 25 de setembro, o primeiro single do repertório de inéditas, Desabafo, tem seu refrão urdido com sample do samba Deixa Eu Dizer, na bela gravação que deu título ao LP lançado por Cláudia em 1973 na companhia Odeon e ainda inédito em CD. Quase desconhecido, o samba é parceria de Ivan Lins com Ronaldo Monteiro de Souza, tendo sido (re)gravado por Ivan no álbum Modo Livre, de 1974.

15 de outubro de 2008

Oasis preserva boa forma em disco psicodélico

Resenha de CD
Título: Dig out your Soul
Artista: Oasis
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * * 1/2

Entre tapas e beijos públicos, os arrogantes irmãos Liam e Noel Gallagher estão chegando ao oitavo álbum - o sétimo de inéditas - reabilitados na cena por conta de seu CD anterior, Don't Believe the Truth (2005). Em Dig out your Soul, disco puxado por um rock típico do Oasis, The Shock of Lightning, o grupo inglês - ícone do BritPop nos anos 90 - mantém a boa forma sinalizada em seu último trabalho. Até o produtor, Davi Sardy, é o mesmo, A diferença, se existe, são as ligeiras tonalidades psicodélicas que moldam faixas como Bag It Up e, com mais intensidade, To Be Where There's Life, tema adornado com cítaras. O que permanece igual são as referências retrôs ao rock dos anos 60. Dig out your Soul está salpicado de sons que remetem aos Doors, ao Who e, sobretudo, aos Beatles. O Oasis às vezes até extrapola nas citações. A ponto de a bela balada I'm Outta Time - a mehor das três contribuições de Liam Gallagher à regular safra de 11 inéditas - incluir trecho de entrevista concedida por John Lennon (1940 - 1980) à rádio BBC de Londres em 1960. Se você não ouvir Dig out your Soul com a esperança de se deparar com um novo (What's the Story?) Morning Glory, o álbum de 1995 que colocou o Oasis na pole position da pista (concorrida) do BritPop, a satisfação é garantida.

Alaíde inclui tema raro em 'songbook' de Milton

Uma das composições menos conhecidas de Milton Nascimento, lançada pelo Tempo Trio em 1965 em registro instrumental e regravada por Alaíde Costa em raro compacto de 1972, E a Gente Sonhando é revivida pela cantora no CD Alaíde Costa Canta Milton - Amor Amigo, já no forno para edição pela gravadora Lua Music. Produzido por Thiago Marques Luiz, o disco reúne 13 músicas do compositor em 12 faixas e - como licença poética - inclui na seleção Beijo Partido, tema de Toninho Horta associado a Milton desde que foi gravado pelo autor de Morro Velho em seu álbum Minas, de 1975. Eis as músicas do disco Alaíde Costa Canta Milton - Amor Amigo e seus respectivos autores e anos:

1. Bodas (Milton Nascimento e Ruy Guerra, 1974)
2. Um Gosto de Sol (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1983)
/ Cais (Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, 1972)
3. Outubro (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1967)
4. Viola Violar (Milton Nascimento e Márcio Borges, 1974)
5. Carta a um Jovem Ator (River Phoenix)
(Milton Nascimento, 1988)
6. Sentinela (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1969)
7. Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1967)
8. Morro Velho (Milton Nascimento, 1967)
9. Milagre dos Peixes (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1973)
10. Canção do Sal (Milton Nascimento, 1966)
11. E a Gente Sonhando (Milton Nascimento, 1965)
12. Beijo Partido (Toninho Horta, 1975)
/ Amor Amigo (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1981)

Banda de Junior aposta em 12 inéditas autorais

Enquanto Sandy ainda guarda segredo sobre o primeiro projeto fonográfico de sua carreira solo, seu irmão, Junior Lima, começa nova fase com a edição do primeiro CD da banda Nove Mil Anjos, na qual atua como baterista ao lado do vocalista Péricles Capagiani, o Péri , do baixista Champignon (egresso dos grupos Charlie Brown Jr. e Revolucionários) e do guitarrista Peu Souza (até então na banda de Pitty). Já em fase de mixagem e de masterização, o disco tem lançamento previsto para fim de 2008 ou - no máximo - início de 2009 em formato que tanto pode ser físico como digital. Ou os dois. Gravado em Los Angeles (EUA), com produção de Sebastian Krys, o disco apresenta no repertório 12 inéditas do quarteto, que estreou ao vivo com apresentação no VMB 2008, na noite de 2 de outubro. Uma das músicas, Chuva Agora, já foi disponibilizada pela banda para download gratuito e legalizado. Eis, em ordem alfabética, as 12 músicas do primeiro CD da banda Nove Mil Anjos (em foto de Picky Talarico), escolhidas entre as mais de 40 compostas, nos últimos meses, pelos músicos:
1. A Ilha
2. Ainda Há Tempo
3. Chuva Agora
4. Espelho
5. Mágica
6. Misturando Coisas
7. O Rio
8. Projétil
9. Sem Deixar
10. Stripper
11. Vício
12. Visionário

Pecado é ignorar canto fervido de Márcia Castro

Resenha de show
Título: Pecadinho
Artista: Márcia Castro
Local: Mistura Fina (RJ)
Data: 14 de outubro de 2008
Cotação: * * * * 1/2

Márcia Castro é uma cantora da Bahia que vem chamando a atenção da crítica e do público mais antenado com seu fervido primeiro CD, Pecadinho, (mal) lançado pela gravadora paulista Eldorado. A faixa-título é um frevo composto por Tom Zé com Tuzé de Abreu. Mas não pense que o repertório e a postura de Márcia Castro evoquem o axé aeróbico de cantoras como Claudia Leitte. O dendê é outro - e bem mais apimentado. No show que chegou ao Rio de Janeiro na terça-feira, 14 de outubro, em apresentação única na casa Mistura Fina, feita basicamente para platéia de convidados, Márcia mostrou que tem personalidade, ousadia e cacife para se consolidar no populoso país das cantoras.
Uma provável e natural tensão no primeiro número - Cá Tu, Cá Eu - prejudicou a dicção da cantora e impediu que o público fruisse todo o interessante jogo de palavras armado pelos autores Jarbas Bittencourt, André Simões e Karina de Faria neste tema que já sinaliza a fina ironia de um repertório pavimentado à margem do mercado. Entre músicas nada óbvias de compositores Itamar Assumpção (Tua Boca, em que Márcia combina atmosfera roqueira com o tom lânguido apropriado para os versos sensuais), Jorge Mautner (Rainha do Egito, veículo para a expressão do gestual forte da intérprete) e Sérgio Sampaio (Em Nome de Deus), Márcia Castro embaralha sutis tons de jazz, rock e blues num roteiro que prioriza ritmos brasileiros sem ranços nacionalistas. O delicioso samba Barraqueira (Manuela Rodrigues) exprime com perfeição o caráter provocante que molda o canto de Márcia Castro. A propósito, a cantora já marca posição na faixa mais badalada do disco Pecadinho, Queda, cuja letra direta expõe a tensão que balança a estrutura de namoros convencionais de duas mulheres às voltas com desejos ocultos. E ela saboreia os versos...
Com seu canto cheio de suingue e sua firme postura cênica, Márcia Castro entra no campo da sensualidade em números como Futebol para Principiantes - samba de Kleber Albuquerque - e Você Gosta, outra música de Tom Zé, fã declarado de sua conterrânea. E ganha o jogo quando subverte o sentido original de "Você não gosta de mim, mas sua filha gosta", o emblemático verso de Jorge Maravilha, recado cifrado de Chico Buarque (então na pele de Julinho da Adelaide) ao durão Emilio Garrastazu Médici, então instaurado à força na presidência do Brasil. Em roteiro composto essencialmente por músicas desconhecidas, Jorge Maravilha marca a presença bissexta do que se convencionou chamar de sucesso. A música reside na memória afetiva do público que acompanhava a MPB na década de 70. Assim como Coração Selvagem, tema passional da fase mais inspirada de Belchior. É quando Márcia faz pulsar sua veia bluesy em interpretação que renova a música, com citação de Sua Estupidez (Roberto e Erasmo Carlos) e o toque do trompete de Sidimar Vieira - trunfo da banda.
O que impressiona ainda no show de Márcia Castro é a capacidade de combinar tons e universos musicais díspares sem perda da unidade. Se a cantora deixa baixar sua Janis Joplin ao reviver em arranjo heavy o alucinado Crazy Pop Rock, do conterrâneo Gilberto Gil, ela também experimenta clima cool em Lágrimas Negras (outra de Jorge Mautner) e na introdução do samba Barulho (Roque Ferreira), embalado no disco com mais molho e com o luxuoso auxílio vocal de Zélia Duncan. Enfim, o show Pecadinho é - como o disco que lhe dá nome - provocante, indie, abusado. Mais do que voz (e a dela é boa sem ser exatamente excepcional), Márcia Castro tem atitude, tempero raro na aguada moqueca da cena atual. Pecado é ignorar o canto da nova baiana...

Leila canta McCartney na série 'Letra & Música'

Uma das baladas mais populares da profícua carreira solo de Paul McCartney, lançada pelo ex-Beatle em 1973, My Love ganhou regravação de Leila Pinheiro. O registro foi feito por Leila em seu estúdio doméstico - ao lado do acordeonista Bebê (com a cantora na foto de Flávia Souza Lima) - especialmente para o volume dedicado a McCartney na série de coletâneas Letra & Música, que vai ser lançada ainda em outubro pelo selo Discobertas, do pesquisador musical Marcelo Fróes. Trata-se de compilações que misturam gravações exclusivas com fonogramas licenciados pelas grandes companhias. A coletânea de McCartney tem lançamento agendado para novembro. Antes, a série abre com os volumes dedicados aos cancioneiros de George Harrison (1943 - 2001) e Renato Russo (1960 - 1996). O CD Letra & Música de Harrison reúne fonogramas de Zizi Possi e Rosa Maria, entre outros nomes. Já o de Russo apresenta gravações de suas músicas nas versões de Cássia Eller (1962 - 2001), Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Barão Vermelho, Leo Jaime, Pato Fu e Leila Pinheiro. A conferir...

14 de outubro de 2008

Altos e baixos no show dos 100 anos de Cartola

Resenha de show
Título: Cartola Eterno
Artista: Alcione, Beth Carvalho, Dorina, Elba Ramalho,
Emílio Santiago, Leci Brandão, Maria Rita, Nelson
Sargento, Orquestra de Violinos Cartola Petrobrás, Rildo Hora, Sandra de Sá, Sombrinha, Vander Lee e a Velha Guarda da Mangueira
Local: Canecão (RJ)
Data: 13 de outubro de 2008
Cotação: * * 1/2

Beth Carvalho chorou, ajoelhada, ao cantar As Rosas Não Falam em registro pungente. Maria Rita fez número histórico ao se aventurar pelo repertório de sua mãe, Elis Regina (1945 - 1982), e reviver Basta de Clamares Inocência. Emílio Santiago reafirmou a sua técnica impecável com interpretação aveludada de Acontece. Sandra de Sá fez O Mundo É um Moinho girar no toque caloroso de seu canto. Já Alcione, a anfitriã, soltou o vozeirão com muita propriedade em Autonomia. Contudo, apesar desses cinco bons momentos, o tributo aos 100 anos de Cartola (1908 - 2008) realizado na noite de segunda-feira, 13 de outubro de 2008, no Canecão (RJ) - com renda em benefício do Centro Cultural Cartola - transcorreu morno e começou a engrenar somente na segunda metade. E a desencontrada interpretação de O Sol Nascerá que juntou todos os intérpretes, ao fim, alimentou a sensação de que a sincera homenagem a Cartola poderia ter sido mais bem azeitada - como o número instrumental em que Rildo Hora solou a melodia de Peito Vazio na gaita, com algumas justas liberdades estilísticas.

Aberto pela Orquestra de Violinos Cartola Petrobrás, formada por crianças que tocaram As Rosas Não Falam e O Mundo É um Moinho, o show teve sua primeira parte entremeada por leituras de uma carta fictícia endereçada a Cartola por seu neto. Coube ao ator Flávio Bauraqui - que já encarnou o compositor no teatro e apareceu no palco do Canecão perfeitamente caracterizado como o autor de Sim - ler o texto de cunho biográfico. Entre uma leitura e outra, os cantores iam entrando no palco para cantar músicas do mestre. Nelson Sargento ainda se saiu bem ao entoar samba cuja letra lírica costurava títulos de várias músicas de Cartola e terminava com um verso ("As rosas não falam, mas podem enfeitar a grande festa da vida") digno das obras dos dois poetas mangueirenses. Contudo, as intervenções de Rosemary (Sala de Recepção, com teclados equivocadamente realçados no arranjo) e Sombrinha (Não Quero Mais Amar a Ninguém), na seqüência, sinalizaram o tom quase burocrático dessa primeira parte do show. Até intérpretes normalmente cheias de vivacidade - casos de Leci Brandão (Corra e Olhe o Céu), Dorina (Tive Sim) e Elba Ramalho (Ensaboa) - não renderam e não contagiaram como de hábito. Mas o show começou a ganhar vida a partir da entrada de Sandra de Sá, que, mesmo subindo o tom em demasia em algumas partes de O Mundo É um Moinho, injetou forte pulsação no tributo e contagiou a platéia, preparando o terreno para as consagradoras entradas de Emílio Santiago, Maria Rita, Alcione e Beth Carvalho, a intérprete que renovou a popularidade da música de Cartola a partir de sua gravação de As Rosas Não Falam, em 1976. No todo, entretanto, o espetáculo não foi tão bom quanto as intenções de todos os que uniram forças e vozes para saudar Cartola e sua obra.

13 de outubro de 2008

Maria Rita saúda Cartola com tema dado a Elis

Maria Rita protagonizou um dos momentos mais emocionantes do show coletivo idealizado em tributo aos 100 anos de Cartola (1908 - 2008) e apresentado na noite de segunda-feira, 13 de outubro de 2008, num Canecão (RJ) lotado. Já com sua própria identidade delineada no mundo da música, a cantora se permitiu cantar uma música lançada por sua mãe, Elis Regina (1945 - 1982), e saudou o centenário do grande compositor com uma irretocável interpretação de Basta de Clamares Inocência, o samba-canção que Cartola deu a Elis para ser gravado no álbum Essa Mulher, editado pela gravadora Warner Music em 1979. Com a habitual segurança, Maria Rita defendeu a música num registro vigoroso que mereceu justa ovação da platéia. Exceto num especial produzido pela Rede Globo sobre a vida da Pimentinha, no qual cantou Essa Mulher, Maria Rita nunca havia entoado em público música do repertório de Elis Regina. Seu número honrou Cartola...

Pop do Skank está em (alta) rotação nas rádios

Fatos são fatos: embora a faixa Ainda Gosto Dela não tenha apelo popular tão aparente quanto outras faixas do recém-lançado disco do Skank, Estandarte, como a balada Sutilmente e a dançante Escravo, a canção pop de Samuel Rosa e Nando Reis emplacou mesmo nas paradas. Um mês depois de seu lançamento nas rádios, Ainda Gosto Dela continua com ótimo desempenho no ranking radiofônico. No Rio de Janeiro, a música é a mais tocada - com 113 execuções entre 5 e 11 de outubro de 2008, de acordo com relatório da empresa Crowley - e, em São Paulo, ocupa honroso quinto lugar, com 97 execuções no mesmo período semanal. Nos bastidores, os radialistas comentam que a música já pegou. Em bom português, Ainda Gosto Dela não precisa mais da injeção das institucionalizadas verbas promocionais para continuar tocando. Ponto para o Skank (em foto de Weber Pádua), que soube renovar seu pop sem perder o elo com o público. E ponto também para a gravadora Sony BMG, que soube detectar o potencial de um single que não era a escolha mais óbvia dentre as músicas do álbum do quarteto mineiro. Resta torcer para que o sucesso radiofônico de Ainda Gosto Dela levante logo de cara as vendas de Estandarte, cuja tiragem inicial é de respeitáveis 40 mil cópias - marca ousada em tempos de baixaria virtual e vendas cada vez mais minguadas.

KLB apela para o sertanejo entre o céu e a terra

A única boyband brasileira que resiste no volátil mercado da música teen, já com oito anos de (irregular) carreira fonográfica, o grupo KLB experimenta um leve toque sertanejo em seu oitavo álbum, Entre o Céu e a Terra, nas lojas a partir de 28 de outubro de 2008 pela gravadora Universal Music. Puxado pela balada Amor de Verdade, de autoria de Marcelo Marron e Carlos Colla, o disco conta com a participação especial da dupla Zezé Di Camargo & Luciano na música Quem É Ele? - da lavra de Zezé. A faixa-título, Entre o Céu e a Terra, é versão de Kiko para Nada Es para Siempre, de Amauri Gutierrez. Kiko também assina as versões de Le me Be the One (Olhe pra Nós Dois) e Half a World Away (Te Amei, mas Acabou). É para as fãs...

Trilha de 'Negócio da China' traz Ney, Tim e Gal

Antiga marcha de Oswaldo Santiago e Paulo Barbosa, lançada no Carnaval de 1937 e tirada do baú por Adriana Calcanhotto no seu projeto infantil Adriana Partimpim (2004), Lig-Lig-Lig-Lé ganha regravação de Ney Matogrosso (à direita). O registro inédito abre o CD que traz a trilha sonora nacional de Negócio da China, a novela recém-estreada pela Rede Globo no horário das 18h. Editado pela Som Livre, o disco reúne fonogramas de Tim Maia (1942 - 1998) - a balada Eu Amo Você, lançada pelo Síndico em 1970 - e de Gal Costa (Simples Carinho), entre outros cantores. Eis, na ordem, as 16 faixas do disco, nas lojas até o fim de outubro:
1. Xi Shua Shua - The Flowers
2. Samba da Zona - Mariana Baltar

3. Eu Amo Você - Tim Maia
4. Lugar Comum - Sérgio Mendes e Jovanotti
5. Ainda Gosto Dela - Skank
6. Tempo de Estio - Jammil
7. Deixa Quieto - Gabriel O Pensador
8. Devaneio - Jorge Vercillo
9. Mais Alguém - Roberta Sá
10. Vidro Fumê - Ricky Vallen
11. De Volta pro Amor (Way Back into Love) - Yahoo!
12. Burguesinha - Seu Jorge
13. Alguém como Tu - Dick Farney
14. Simples Carinho - Gal Costa
15. Moço Velho - Toni Platão
16. Lig-Lig-Lig-Lé - Ney Matogrosso

Sexto DVD de Marisa traz CD e hit radiofônico

Nas lojas a partir de 31 de outubro de 2008, o sexto DVD de Marisa Monte, intitulado Infinito ao meu Redor, tem caráter documental. Porém, vem com CD-bônus que inclui nove músicas captadas na turnê do show Universo Particular. Uma delas, a inédita Não É Proibido, já é um hit nas rádios com um apelo popular similar ao de sucessos anteriores de Marisa - como Já Sei Namorar e Amor, I Love You. Entre as faixas do CD, há outra música inédita na voz da cantora, Pedindo pra Voltar, lançada pelo grupo Timbalada em 2006 no álbum Alegria Original e regravada por seu autor, Carlinhos Brown, no disco A Gente Ainda Não Sonhou (2007). Pedindo pra Voltar entrou no meio da turnê Universo Particular e logo se tornou um dos números mais festejados do show. Por fim, o CD-bônus do DVD de Marisa - cujo mote é um documentário sobre o processo de lançamento dos discos-gêmeos Infinito Particular e Universo ao meu Redor e sobre a vida da artista na estrada com o show - inclui outra música que vai soar como novidade na voz da cantora. Trata-se de Mais uma Vez, canção que Marisa entoava em breve cena de bastidor inserida no DVD Barulhinho Bom, de tom documental similar ao de Infinito ao meu Redor.

Oportunismo pauta a precoce biografia de Amy

Resenha de livro
Título: Amy Winehouse
-Biografia
Autor: Chas
Newkey-Burden
Editora: Globo
Cotação: * 1/2

Por mais brilhante que seja Amy Winehouse, e a artista é simplesmente a voz feminina mais interessante surgida na cena britânica nesta década, nada justifica a edição de uma biografia tão precoce como a escrita (às pressas?) pelo jornalista Chas Newkey-Burden. Recém-lançada no Brasil, a biografia ostenta caráter nitidamente oportunista. Como Amy já agoniza sob os holofotes, vítima do vício em álcool e em drogas pesadas, a ordem é faturar em cima da figura desorientada da artista. Contudo, justiça seja feita, o texto de Newkey-Burden não segue a receita escandalosa dos tablóides britânicos. Na falta de maior assunto, já que a cantora acaba de completar apenas 25 anos, o autor historia as influências da artista, mostra que seu comportamento desajustado já vem de longe e detalha a gênese e a receptividade entre a crítica dos dois únicos álbuns de Amy, Frank (2003) - disco de ligeiro acento jazzístico - e o denso Back to Black (2007), no qual a compositora depurou suas influências (inclusive as jazzísticas) ao misturá-las com soul e r & b. Ainda assim, o livro parece tão precoce quanto oportunista. Como se tivesse sido editado e posto nas livrarias à espera de um provável desenlace fatal. Viva, Amy!!

Morrison diz 12 verdades no seu segundo álbum

Cantor e compositor britânico que despontou em 2006 com o CD Undiscovered, James Morrison acaba de lançar no exterior seu segundo álbum. Songs for You, Truths for me chega às lojas - inclusive as do Brasil, onde já vai ser editado em breve - com a dura missão de igualar o sucesso de seu antecessor, que vendeu dois milhões de cópias ao redor do mundo e emplacou nada menos do que cinco singles. Entre eles, You Give me Something. A propósito, a balada You Make It Real foi eleita o primeiro single do segundo álbum do talentoso discípulo inglês da soul music. Eis as 12 verdades ditas por ele em Songs for You, Truths for me:

1. The Only Night
2. Save Yourself
3. You Make It Real
4. Please, Don't Stop the Rain
5. Broken Strings
6. Nothing Ever Hurt Like You
7. Once When I Was Little
8. Precious Love
9. If You Don't Wanna Love me
10. Fix the World up for You
11. Dream on Hayley
12. Love Is Hard

12 de outubro de 2008

Camerística, Virgínia extrapola fronteira baiana

Resenha de CD
Título: Recomeço
Artista: Virgínia
Rodrigues
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * 1/2

Em seu primeiro álbum, Sol Negro (1997), gravado com direção artística de Caetano Veloso, Virgínia Rodrigues cantou um leque de compositores que abria de Synval Silva (Adeus Batucada) até Djavan (Nobreza), passando por Ary Barroso (Terra Seca) e pelo próprio Caetano (Sol Negro). Contudo, por trás do aparente ecletismo daquele repertório, o disco apresentava Virgínia ao mercado fonográfico sob adequado filtro afro-baiano, muito coerente com a trajetória artística da intérprete, projetada no Bando de Teatro Olodum, no qual brilhou especialmente em 1994 ao cantar a capella o tema sacro Verônica ao fim da peça Bai Bai Pelô. Tal caráter afro-baiano seria realçado nos dois trabalhos seguintes da cantora, Nós (2000) - voltado para o samba-reggae dos blocos afros de Salvador (BA) - e Mares Profundos (2003), dedicado aos afro-sambas de Baden Powell (1937 - 2000) e Vinicius de Moraes (1913 - 1980). Em Recomeço, CD que a gravadora Biscoito Fino lança esta semana, Virgínia Rodrigues extrapola a fronteira afro-baiana, gravando majestosamente temas como Alma (Sueli Costa e Abel Silva, 1982), Canção de Amor (Elano de Paula e Chocolate, 1950) e Todo Sentimento (Cristóvão Bastos e Chico Buarque, 1987). Dez!

Com título que remete ao fato de o CD delimitar nova fase na carreira fonográfica da intérprete, Recomeço mostra que, em qualquer eixo estético ou geográfico, Virgínia Rodrigues é uma das grandes cantoras do Brasil. Urdido com vocalises e agudos penetrantes, seu registro de Beatriz (Edu Lobo e Chico Buarque, 1983) faz frente às magistrais gravações de Milton Nascimento, Cida Moreira e Mônica Salmaso. Com sua voz de mezzo-soprano, de timbre operístico, Virgínia valoriza o repertório como um sol negro a iluminar nuances camerísticas de temas como Por Toda Minha Vida (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1959) e Estrada Branca (Tom Jobim e Vinicius de Moraes, 1958). Recomeço, a propósito, é um disco de voz e piano. O piano de Cristóvão Bastos, autor dos arranjos e acompanhante solitário da cantora nesse passeio virtuoso por uma música brasileira mais tradicionalista. A ponto de fechar com uma linda valsa que marcou o repertório de Francisco Alves (1898 - 1952), a onírica Boa Noite, Amor (José Maria de Abreu e Francisco Mattoso, 1936). Fecho de ouro, aliás...

Duas faixas, em especial, sobressaem em Recomeço por realçar a textura sacra do canto de Virgínia Rodrigues, o que já levou um crítico do jornal The New York Times a classificar de celestial a voz da cantora. Esse tom sacro de raiz africana se manifesta de forma intensa em Triste Baía da Guanabara (Noveli e Cacaso, 1980) - faixa incrementada com sons de água - e em Porto de Araújo (Guinga e Paulo César Pinheiro, 1988). Com auxílio de percussão minimalista, Virgínia mergulha nos mares profundos da música de Guinga e Pinheiro - lançada por Miúcha num de seus melhores discos - com seu canto que mais parece uma forma de oração. Canto que ela suaviza ao entoar o acalanto A Noite do meu Bem (Dolores Duran, 1959). Enfim, um grande disco que, mesmo soando às vezes linear, pode - permitam os deuses - marcar fase de maior popularidade no Brasil para Virgínia Rodrigues, o sol negro.

Midani relata seu apogeu fonográfico com afeto

Resenha de livro
Título: Música, Ídolos
e Poder - Do Vinil
ao Download
Artista: André Midani
Editora: Nova Fronteira
Cotação: * * * 1/2

No fim dos anos 50, quando já trabalhava na gravadora Odeon, André Midani não entendia porque os discos cafonas do cantor Orlando Dias (1923 - 2001) eram os líderes das paradas de uma companhia que amargava as vendas pífias de cantores que gravavam uma música muito mais sofisticada - casos de Lúcio Alves (1927 - 1993) e Sylvia Telles (1935 - 1966). Até que Midani, um sírio que desembarcara no Brasil em 1955 fugindo de uma possível convocação para a Guerra da Argélia e de um destino que o estava induzindo ao ofício de confeiteiro, conversou com Dias e detectou, ao ouvir a história triste do cantor pernambucano, que havia um sentimento genuíno em suas gravações que gerava a empatia popular inexistente nos discos de Lúcio Alves ou Sylvia Telles. Naquele momento, Midani aprendeu uma das lições que iria nortear sua bem-sucedida trajetória na indústria fonográfica brasileira, contada por ele na primeira pessoa na autobiografia Música, Ídolos e Poder - Do Vinil ao Download, lançada pela editora Nova Fronteira com texto de apresentação escrito por Arnaldo Antunes, saudado por Midani no livro como o "maior poeta de sua geração" (o grupo Titãs chegaria ao disco via Midani).

Midani recorda sua trajetória folhetinesca com açúcar e com afeto. Ele não chega a mascarar os podres poderes que, não raro, regem a indústria fonográfica mundial. Ao contrário, o executivo relata no livro como os tecnocratas rebaixaram a Warner Music no mercado e lembra o equilíbrio delicado que fazia balançar sua relação com os frios comandantes holandeses da multinacional Philips (Phonogram) na primeira metade dos anos 70. Midani também expõe, no fim do livro, alguns mafiosos caminhos da pirataria de CDs que levaram às gravadoras a um estado de agonia no Brasil. Contudo, a narrativa - leve e fragmentada, dividida em 54 breves capítulos - é adocicada pelo carinho que Midani devota a seus ídolos. E esses ídolos - Erasmo Carlos, Gilberto Gil e Jorge Ben Jor, entre outros -são retratados com altas doses de generosidade pelo executivo. E histórias com esses ícones sobram na biografia ímpar de Midani. Em sua gloriosa passagem pela filial brasileira da Phonogram, entre 1967 e 1975, ele fez Chico Buarque trocar a RGE pela Philips, amansou Elis Regina (1945 - 1982) - então decidida a sair da companhia - e garantiu a continuidade das carreiras fonográficas de Caetano Veloso e Gilberto Gil quando ambos amargavam exílio em Londres. Era um trabalho que se desenvolvia também fora dos escritórios, como no episódio em que, atendendo aos apelos de Dona Canô, Midani teve que ir à Bahia para acabar com briga bissexta de Caetano com Maria Bethânia, momentaneamente estremecidos por divergências na gravação do LP Drama, gravado pela cantora em 1972 com produção do irmão. Mais tarde, já na WEA, abriu as portas da companhia para grupos de rock indicados por seus produtores, como Kid Abelha e Titãs, para livrar a WEA da falência (iminente).

O livro termina com o relato da festa organizada em 2005 no Golden Room do hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro (RJ), para comemorar os 50 anos do desembarque no Brasil deste amante do jazz que aprendeu a amar a música brasileira e a conviver com artistas que viraram colegas, ídolos e - em alguns casos - até amigos. Música, Ídolos e Poder - Do Vinil ao Download não cumpre tudo que seu título e subtítulo sugerem. Por ter sido testemunha ocular e privilegiada de fatos marcantes que desembocaram na Bossa Nova, na Tropicália e no boom do rock brasileiro dos anos 80, Midani tinha material para escrever livro mais contundente sobre as relações entre artistas e gravadoras - bem como sobre o poder que determinou a música gravada e ouvida no Brasil nos últimos 50 anos. Contudo, o executivo preferiu o relato afetuoso de sua longa permanência no olho do furacão. Sua autobiografia é quase sempre diplomática. Ainda assim, é livro interessante por sua improvável história de vida - como bem caracteriza o jornalista Zuenir Ventura em texto escrito para uma das orelhas do livro. É com algum açúcar e com muito afeto que Midani faz a viagem de volta na memória afetiva dos fatos que marcaram uma vida movida pelo prazer de trabalhar na engrenagem industrial que fabrica tanto música como ídolos...

ZZ Top lança primeiro registro ao vivo em DVD

Na carreira fonográfica há 38 anos, o trio texano ZZ Top - que faz um rock embebido em blues e em boogie - nunca havia feito uma gravação ao vivo de show. Live from Texas vem preencher tal lacuna e sai no Brasil em DVD ora lançado pela gravadora ST2. Até então, o único DVD do lendário grupo era Greatest Hits, editado em 1999 com coletânea de clipes já lançada em 1992 no formato de VHS. Para quem curte o som do trio, que destaca a guitarra virtuosa de Billy Gibbons, Live from Texas dá uma geral na carreira dos três coroas barbudos e reúne os hits de álbuns como Tres Hombres (1973) e Eliminator (1983), dois títulos bem-sucedidos de uma discografia iniciada em 1970 e que ficou irregular ao longo dos anos 90. La Grange, Legs e Just Got Paid figuram no roteiro para delírio da entusiasmadas platéia do show captado na terra natal do trio. Nos extras, há as tradicionais cenas de bastidores e fotos, além de um registro de Foxey Lady, de Jimi Hendrix (1942 - 1970). O áudio é primoroso.

Pouco verde e amarelo na ode ao Álbum Branco

Resenha de CD
Título: Álbum Branco
- Beatles
Artista: Vários
Gravadora: Discobertas
/ Coqueiro Verde
Cotação: * * 1/2

É difícil avaliar Álbum Branco - o ousado tributo ao LP The Beatles produzido por Marcelo Fróes para festejar os 40 anos de um dos títulos mais cultuados da discografia dos Fab Four - sem cair na tentação de comparar as 30 inéditas regravações (realizadas e bancadas pelos próprios participantes entre novembro de 2007 e junho de 2008) com os imbatíveis registros originais das 30 músicas do álbum lançado pelos Beatles em 22 de novembro de 1968. Vencida a tentação da comparação, há que se louvar alguns acertos neste CD duplo editado por Fróes por seu selo Discobertas, distribuído pela gravadora Coqueiro Verde Records. O maior é o de Zé Ramalho, que deu cores nordestinas a Dear Prudence. Celso Fonseca também brilha ao trazer Julia para o universo bossa-novista. Contudo, há pouco verde e amarelo neste Álbum Branco. A maioria das bandas e artistas - boa parte egressa da cena indie - seguiu o caminho da reverência. Alguns com competência - casos de Pato Fu (Birthday, com os bons barulhinhos eletrônicos do grupo), Érika Martins (afinada e sedutora em I Will), Jerry Adriani (terno no acalanto Good Night, gravado com a base do grupo Tantra) e da banda Os Britos (Ob-la-di, Ob-la-da - em apropriado tom lúdico). Outros, com doses bem menores de êxito. Ainda assim, vale registrar a participação charmosa da irmã de Renato Russo (1960 - 1996), Carmen Manfredini, em Rocky Raccoon, faixa de textura country. Bem como a correta adesão de Sylvinha Araújo (1951 - 2008) em Blackbird. Foi a última gravação da cantora projetada na Jovem Guarda. Enfim, o Álbum Branco poderia ser mais colorido. Mas tem lá seus bons momentos e reafirma a força da obra dos Beatles.