20 de junho de 2009

Boa caixa '83-94' expõe diversidade de Caetano

Resenha de Caixa
Título: 83 - 94
Artista: Caetano Veloso
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * *

É difícil enquadrar num único rótulo os dez álbuns de Caetano Veloso encaixotados em 83-94, o terceiro bom box da coleção Quarentas Anos Caetanos, idealizada para celebrar em 2007 os 40 anos de permanência do artista na gravadora hoje denominada Universal Music. São discos de diversos eixos estéticos que vão da euforia à melancolia. Uns (1983) é solar e já expõe no repertório a diversidade que, de certa forma, pauta os álbuns. A canção Você É Linda - estrategicamente posicionada no disco logo após Coisa Mais Linda (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes) para sublinhar a influência da Bossa Nova na música de Caetano - e o pop rock Eclipse Oculto foram os hits. Velô (1984) é o disco de sotaque roqueiro que se alinhou com o frescor pop que dava as cartas no jogo fonográfico daquele ano. De seu repertório, ecoam até hoje Podres Poderes, O Quereres, Língua (gravada com Elza Soares) e - em menor grau - Shy Moon (canção dividida com Ritchie) e O Homem Velho (repescada no show ). Totalmente Demais (1986) é o álbum ao vivo que ampliou o público de Caetano Veloso e contabilizou 250 mil cópias vendidas. Foi gravado no mesmo estilo voz-e-violão que moldou Caetano Veloso (1986), o álbum de caráter íntimo e retrospectivo feito para os Estados Unidos e lançado no Brasil somente em 1990. Já Caetano (1987) é pautado pela melancolia provocada pela morte do pai do artista, José. É o álbum em que aparecem Eu Sou Neguinha? e a bela O Ciúme. Por seu turno, Estrangeiro (1989) - disco produzido por Arto Lindsay e Peter Scherer - retoma o viés tropicalista, exposto já na capa ilustrada com pintura feita por Hélio Eichbauer para o cenário da peça O Rei da Vela. O hit radiofônico foi Meia-Lua Inteira, da lavra do então desconhecido Carlinhos Brown, na época percussionista da banda de Caetano. Mas a faixa-título - O Estrangeiro, repleta de citações na letra caudalosa - e a invernal Genipapo Absoluto sinalizaram que o compositor estava em boa forma. Na sequência, Circuladô (1991) se impôs pela crueza do pensamento direto - expressado nas letras de músicas como Fora de Ordem - enquanto Circuladô Vivo (1992) foi o registro do show antológico em que o intérprete irmanou Bob Dylan (Jokerman), Michael Jackson (Black or White), Djavan (Oceano) e Roberto Carlos (Debaixo dos Caracóis de seus Cabelos) sob os arranjos sofisticados de Jaques Morelenbaum. Em seguida, Tropicália 2 (1993) celebrou com atraso os 25 anos do movimento com reunião de seus dois líderes e mentores, Caetano e Gilberto Gil, em CD que rendeu os clássicos Haiti e Desde que o Samba É Samba. Por fim, Fina Estampa (1994) fecha o período abordado na caixa 83/94 com a classuda releitura do cancioneiro hispânico que, de uma forma ou de outra, sempre esteve presente nessa obra tropicalista de Caetano Veloso.
P.S.: Em relação ao som, todos os dez álbuns avançam em relação às reedições anteriores, tendo passado por um novo processo de remasterização neste ano de 2009, sendo que dois títulos - Uns e Velô - conservam a remixagem feita para a caixa Todo Caetano, produzida por Charles Gavin em 2002. Já em relação à arte gráfica houve ligeira perda de qualidade em dois álbuns, Tropicália 2 e Fina Estampa, já idealizados originalmente no formato de CD. A atual capa de Tropicália 2, por exemplo, não tem o efeito visual da capa da edição de 1993. Contudo, todo o material gráfico dos encartes originais está preservado nas reedições da caixa 83-94.

Coletânea acerta ao revirar o baú de Caê nos 80

Resenha de CD
Título: Certeza da Beleza
Raridades 3 (83 - 94)
Artista: Caetano Veloso
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * * *

Embalada como bônus na boa caixa 83-94, terceiro título da coleção Quarenta Anos Caetanos, que reedita a imensa obra fonográfica de Caetano Veloso, a compilação Certeza da Beleza revira de forma certeira o baú do artista nos anos 80 (das 20 faixas, apenas duas são da década de 90). A compilação prima por agrupar fonogramas avulsos da discografia do artista. Algumas gravações já aparecem volta e meia em coletâneas, mas outras são (de fato) bem obscuras - como a de Preciso Aprender a Só Ser (Gilberto Gil), feita em 1987 para a trilha sonora da novela Brega & Chique. Caetano, a propósito, de vez em quando grava músicas (próprias e também alheias) exclusivamente para trilhas sonoras. Compilados por Rodrigo Faour, os registros de Isto Aqui o Que É (Ary Barroso) e Cidade Maravilhosa (André Filho) - idealizados para as novelas Vale Tudo (1988) e O Dono do Mundo (1991), respectivamente - figuram em Certeza da Beleza ao lado do ijexá Falou Amizade (composto e gravado pelo artista em 1988 para trilha sonora do filme Dedé Mamata) e do registro original de Milagres do Povo, destaque da trilha sonora da minissérie Tenda dos Milagres, de 1985. É fato que nem todos os fonogramas ostestam o rigor estilístico que pontua a discografia de Caetano, sobretudo os gravados para álbuns alheios. Banda Nova - parceria de Vinicius Cantuária com Péricles Cavalcanti, gravada por Cantuária em dueto com Caetano em 1985 para o LP Siga-me - apresenta o tom pausterizado que predominou em muitos discos dos anos 80. É pop datado. Já o frevo Pra Valer (Moacyr Albuquerque) - gravado por Caetano em 1984 para o compacto Carnaval Liberou Geral - é atemporal. Trata-se, aliás, de outro fonograma realmente raro. Assim como a bossa Asa Delta, extraída do álbum Companheiros, lançado em 1985 pelo violonista paulista Marito Correa com a Banda Cooperativa. Também obscura até mesmo para fãs do cantor é a faixa-título da compilação, Certeza da Beleza, canção de Caetano, registrada pelo autor em 1983 em dueto com Telma Costa (1953 - 1989) para álbum da cantora. Verdade seja dita: a música não é das mais inspiradas do compositor, mas seu registro raro tem alto valor documental. Entre duetos com Luiz Caldas (É Tão Bom, tema cool distante do calor da axé music), Eugénia Melo e Castro (Coração Imprevisto, em clima camerístico), Beto Guedes (Luz e Mistério, em registro ao vivo de 1987) e Péricles Cavalcanti (Meu Bolero), a coletânea deixa a certeza óbvia da grandeza de Caetano Veloso como intérprete e da sua salutar boa vontade para encarar - sem preconceito - todos os ritmos e faces da música popular brasileira.

Cunha ergue com elegância ponte Brasil-Canadá

Resenha de CD
Título: Brasil Canadá
Artista: Fernanda Cunha
Gravadora: Sem
indicação
Cotação: * * *

Sobrinha da compositora Sueli Costa, a boa cantora Fernanda Cunha conta no encarte de seu quarto CD que a feliz acolhida que tem recebido de platéias do Canadá desde 2005 a motivou a gravar disco que entrelaçasse as músicas brasileira e canadense. Feito na companhia do trio formado pelo baixista Mike Lent (que também é produtor do CD ao lado de Fernanda), pelo pianista Ricardo Rito e pelo baterista Sandro Dominelli, Brasil Canadá começa muito bem com a imersão de um tema da compositora canadense Joni Mitchell, Dreamland, em levada mais brasileira (mas sem evocar os clichês do suingue tropical). Essa batida azeitada do trio também dá outra pulsação a um tema menos gravado de Sueli Costa, O Primeiro Jornal, parceria com Abel Silva. Na sequência, vem Candy (Mack David, Joan Whitney e Alex Kramer), boa descoberta do cancioneiro canadense. Infelizmente, à medida que o disco avança, cai a qualidade do repertório. Temas como Pescador (Marcio Hallack) e Quanto Tempo Faz (balada composta pela cantora com Mike Lent) não estão à altura da ideia do projeto. Já o classudo registro de Último Desejo - em arranjo urdido somente com o piano personalíssimo de Sueli Costa - soa deslocado por excluir o trio que moldou Brasil Canadá. Por seu turno, Some of These Days (Shelton Brooks) tem clima jazzy condizente com a elegância da ponte erguida por Fernanda Cunha. Que acaba em samba cool, Amanheceu, parceria da artista com Ricardo Rito e Luiz Sergio Henriques. Tivesse a cantora sido mais rigorosa na seleção do repertório, o disco resultaria mais sedutor.

Com ternura, Telles gravita em torno da família

Resenha de CD
Título: Quem Sabe Você
Artista: Claudia Telles
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * 1/2

Nos últimos 20 anos, Claudia Telles tem sobrevivido no mercado de shows e discos com tributos à Bossa Nova e a Sylvia Telles (1935 - 1966), mãe da cantora. Quem Sabe Você, o CD lançado esta semana pela Lua Music, segue por essa trilha tão segura quanto trivial. Com ternura, a artista gravita em torno da família, da bossa e do samba. O mérito do disco é não ficar repisando os clássicos do gênero, ainda que Minha Namorada esteja presente no repertório com a introdução geralmente suprimida nas gravações dessa parceria de Carlos Lyra com Vinicius de Moraes (1913 - 1980). Telles mostra produção recente ou pouco batida de compositores como Roberto Menescal (parceiro de Abel Silva na inédita faixa-título, Quem Sabe Você), Johnny Alf (Ai Saudade, tema composto com Rômulo Gomes) e o próprio Lyra (Só Mesmo por Amor). A intenção é boa, mas o fato é que essas músicas estão aquém do padrão de seus autores. Dentro desse círculo familiar em todos os sentidos, a cantora tira do baú parcerias bissextas de sua mãe com Chico Anysio (Sem Você pra que) e de seu pai - Candinho - com Ronaldo Bôscoli (1928 - 1994), Biquininho Azul, colocado em dueto com Emílio Santiago em dueto gracioso. Nada no disco é especialmente ruim. Tampouco soa especialmente sedutor. Os arranjos investem nas levadas-clichês da bossa nem sempre nova - como fica evidente já na faixa de abertura, Reza (Edu Lobo e Ruy Guerra). Estranho nesse ninho bossa-novista, o jovem-guardista Tema de Não Querer Ver Você Triste (Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Mário Telles) somente se justifica no repertório pelo fato de ter sido a última música gravada por Sylvia Telles. Enfim, Quem Sabe Você é, de certa forma, mais um tributo de Claudia Telles à família. Um tributo menos óbvio, diga-se, mas ainda assim não realmente indispensável. A cantora deve respirar outros ares.

19 de junho de 2009

Compilação rebobina 14 duetos de Zé Ramalho

Mal a Sony Music pôs nas lojas a compilação Zé Ramalho Canta Luiz Gonzaga, o mercado fonográfico já está sendo abastecido com outra coletânea do artista. Duetos sai pela gravadora Som Livre e reúne 14 encontros musicais de Ramalho. Boa parte dos 14 fonogramas é recente. Alguns são do álbum Parceria dos Viajantes, editado em 2007 com extenso time de convidados que incluiu Zélia Duncan, Pitty e Daniela Mercury, entre outros nomes. Eis as 14 faixas do CD Duetos, de Zé Ramalho - já à venda:
1. Chão de Giz (ao vivo) - com Elba Ramalho
2. Sinônimos - com Chitãozinho & Xororó
3. Garoto de Aluguel (Taxi Boy) (ao vivo) - com Belchior
4. Galope Razante (ao vivo) - com Geraldo Azevedo
5. Porta de Luz - com Zélia Duncan
6. O Amanhã É Distante (Tomorrow Is a Long Time)
- com Geraldo Azevedo
7. Fica Mal com Deus - com Luiz Gonzaga
8. Pedras que Cantam (ao vivo) - com Moska
9. A Terceira Lâmina (ao vivo) - com Elba Ramalho
10. Procurando a Estrela - com Daniela Mercury
11. Coração Bobo - com Alceu Valença
12. A Nave Interior - com Pitty
13. Banquete de Signos - com Elba Ramalho e Geraldo Azevedo
14. Bienal - com Zeca Baleiro

Sting evoca tradições britânicas em CD invernal

Finda a turnê que reavivou o trio The Police entre 2007 e 2008, Sting prepara o lançamento de álbum que mergulha novamente no passado, a exemplo do que já fizera em seu último CD solo, Songs from the Labyrinth (2006). Com lançamento agendado para 27 de outubro de 2009, pelo selo clássico alemão Deutsche Grammophon, In on a Winter's Night... tem seu repertório centrado em temas tradicionais do cancioneiro britânico como The Snow It Melts the Soonest e Gabriel's Message - este do século 14. Robert Sadin assina a produção deste álbum de tom invernal cujo repertório traz duas canções de Sting, Lullaby for an Anxious Child e The Hounds of Winter. O CD inclui o antigo tema A Soalin'.

McCartney compõe para trilha de filme infantil

Paul McCartney vai compor algumas canções para a trilha sonora de um filme de animação, High on the Clouds, dirigido por Rob Minkoff. Trata-se da adaptação cinematográfica de um homônimo livro infantil escrito pelo ex-Beatle. Vale lembrar que McCartney colabora eventualmente com trilhas de cinema desde 1966. Em 1973, ele fez Live and Let Die - um dos maiores hits de sua carreira solo - para um dos títulos da franquia de filmes sobre James Bond.

Muse apresenta 'The Resistance' em setembro

The Resistance é o título do quinto álbum do Muse, gravado em clima de rock sinfônico, de acordo com declaração feita pelo trio britânico em março de 2009. O álbum tem lançamento agendado para 14 de setembro. Uma das faixas, United States of Eurasia, remete ao livro 1984, em que o autor George Orwell imaginou fusão entre Europa e Ásia. O álbum anterior do trio saiu em 2006.

18 de junho de 2009

Zélia Duncan pauta álbum saboroso pela leveza

Resenha de CD 
Título: Pelo sabor do gesto 
Artista: Zélia Duncan 
Gravadora: Universal Music 
Cotação: * * * * 1/2

Nono álbum solo de Zélia Duncan, Pelo sabor do gesto nem parece ter sido urdido por dois produtores (John Ulhoa e Beto Villares) em duas cidades diferentes (Belo Horizonte e São Paulo) tamanha a unidade que harmoniza as 14 faixas. Se há um defeito no CD é talvez a suavidade linear que uniformiza músicas de lavras tão distintas, mas o fato é que tanta leveza e frescor geraram um dos melhores discos do primeiro semestre de 2009. Sem repetir a receita do anterior Pré-pós-tudo-bossa-band (2005), a artista dá continuidade ao processo de renovação de sua música e à salutar abertura do leque de parceiros. Tudo sobre você - belo single que já rola nas rádios - é exemplo de pop perfeito. Trata-se de parceira de Zélia com Ulhoa, que, no papel de produtor, usa a criatividade e a delicadeza já mostradas nos discos do Pato Fu para formatar músicas como Telhados de Paris - exemplo de como o uso dosado de programações eletrônicas pode valorizar uma gravação. O tema, do gaúcho Nei Lisboa, ilustra também a habilidade de Zélia de garimpar repertório alheio sem obviedade. Qualidade atestada na feliz escolha de Ambição, música pouco conhecida de Rita Lee, feita em 1977 para a trilha sonora da novela O astro. De leve atmosfera roqueira, a balada jovial de Rita cai muito bem na voz de Zélia e no universo de Pelo sabor do gesto. A faixa-título, aliás, é a abordagem sensível de Zélia para As-tu déjà Aimé? - um dos dois temas da trilha sonora do filme Canções de amor (França, 2007) vertidos por ela com aval do autor Alex Beaupain. A outra versão, Boas razões (De bonnes raisons), abre o disco em dueto gracioso da cantora com Fernanda Takai, adornado pela sanfona tocada por Marcelo Jeneci, parceiro de Zélia em Todos os verbos, outra delícia pop do disco. Que reedita a pegada mais forte do anterior Pré-pós-tudo-bossa-band no funk Esporte fino confortável, tema em que Zélia e Chico César (parceiro e convidado da faixa) versam sobre a amizade. Neste como naquele belo álbum, há inédita de Itamar Assumpção (1949 - 2003), compositor recorrente na discografia de Zélia desde seu terceiro trabalho, Intimidade (1996). Duas namoradas - da lavra de Itamar com Alice Ruiz - é quase tão interessante quanto a (ótima) safra apresentada no disco de 2005.
Mais próximo do universo pop do que da MPB tangenciada em Pré-pós-tudo-bossa-band, Pelo sabor do gesto matura a diversidade experimentada por Zélia Duncan desde o irregular Sortimento (2001). Entre sensível parceria com Moska (Sinto encanto), um lado B da dupla Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle (Os dentes brancos do mundo, rebobinado em registro melodioso dentro do espírito delicado do CD) e tema com Dante Ozzetti (Se eu fosse, faixa em que o produtor Beto Villares evoca o universo erudito no arranjo mais criativo do que a música em si), Pelo sabor do gesto aproxima Zélia Duncan de compositores como Edu Tedeschi (com duas parcerias, Aberto e Nem tudo, ambas de bom nível) e Zeca Baleiro (Se um dia me quiseres, balada em que a compositora, habitual letrista, exercita o ofício de melodista). Enfim, por mais que sua segunda metade não seja tão irretocável quanto a primeira, Pelo sabor do gesto é grande disco, de elegância sedutora, que confirma a excelente fase de Zélia Duncan.

Quatro títulos populares de Elba voltam às lojas

Por conta dos 30 anos de carreira fonográfica de Elba Ramalho, a Universal Music - gravadora que detém em seu acervo os álbuns da fase de maior popularidade da cantora - relança quatro títulos da coerente discografia da intérprete. Alegria (1982), Coração Brasileiro (1983), Do Jeito que a Gente Gosta (1984) e Fogo na Mistura (1985) já tinham sido reeditados em CD em 1993 na Série Colecionador, mas, além de vir sem a arte gráfica dos LPs originais, as reedições pecaram pela remasterização infeliz, que deixou o som chapado e estridente. Nas lojas ainda neste mês de junho de 2009, as atuais reedições passaram por novo processo de masterização e preservam a arte gráfica dos encartes originais.

Livro sobre Pinheiro revolve mágoa com Guinga

No embalo dos 60 anos do compositor Paulo César Pinheiro, completados em 28 de abril de 2009, a Casa da Palavra põe nas livrarias A Letra Brasileira de Paulo César Pinheiro - Uma Jornada Musical, obra em que a jornalista Conceição Campos disseca o mundo e o processo de criação do parceiro de nomes como Baden Powell (1937 - 2000), Dori Caymmi, Francis Hime e Tom Jobim (1927 - 1994). O livro se origina de uma tese de mestrado defendida pela autora, mas sua narrativa não tem ranços acadêmicos. Ao contrário, é clara e objetiva. Conceição mapeia a origem do compositor, aborda sua relação com os muitos parceiros e traça a rota geográfica do cancioneiro de Pinheiro, fincado em terras cariocas, mineiras, baianas e amazônicas. Ao fim, há completo inventário da obra monumental do compositor com o levantamento de toda sua discografia e das canções gravadas. E, entre tantos dados, a autora dá uma versão para o fim abrupto da amizade e da parceira entre Guinga e Pinheiro. União que rendeu frutos saborosos como Senhorinha, a modinha lançada por Ronnie Von em 1986 na trilha sonora da versão original da novela Sinhá Moça. O motivo da ruptura teria sido o desabafo de Guinga ao jornalista João Máximo em entrevista publicada na edição de 8 de novembro de 1991 do Jornal do Brasil. Eis a declaração, reproduzida no excelente livro:

"Cometi um erro ao acreditar que, sendo parceiro de um letrista consagrado, tudo aconteceria naturalmente. Mas não. Paulinho tinha a carreira dele e custei a perceber que eu precisava ter a minha própria. Ele era um parceiro com outra cabeça. Por exemplo, achava minhas músicas difíceis, herméticas, nada populares. Não acreditava nelas. É mais ou menos como ficar 21 anos num emprego e o patrão não te dar o mínimo valor. Um dia você muda de emprego e novo patrão te acha o maior". Guinga em entrevista ao Jornal do Brasil, edição de 8 de novembro de 1991.

Magoado com a visão de Guinga, Paulo César Pinheiro teria dado por encerradas a parceria e a amizade com o colega compositor. Contudo, A Letra Brasileira de Paulo César Pinheiro mostra que, com ou sem Guinga, a jornada musical do autor de Canto das Três Raças sempre teve fôlego porque seu coração parece ser a casa da palavra por já abrigar - generoso - cerca de duas mil letras.

Harvey e Parish experimentam entre rock e folk

Resenha de CD
Título: A Woman A Man
Walked by
Artista: PJ Harvey
& John Parish
Gravadora: Island
/ Universal Music
Cotação: * * *

Segundo álbum assinado por PJ Harvey com John Parish (compositor e produtor de vários discos da artista), A Woman a Man Walked by é trabalho de caráter experimental e de difícil digestão. É preciso paciência para entrar no universo particular (por vezes confuso...) da música apresentada por Parish (Harvey entra com as letras e com a voz) num mix de folk e rock com elementos de blues. Há baladas de contorno folk que são mais assimiláveis à primeira audição - casos de Leaving California e, sobretudo, de The Soldier. Em contrapartida, Pig Will Not ostenta tosco acabamento que remete até ao caos sonoro do punk entre gritos e ruídos. A confusão se instala de fato e em especial no tema instrumental The Crow Knows Where All The Little Children Go, acoplado à faixa-título de textura bluesy. Para ouvidos mais impacientes, o primeiro álbum dividido por Harvey com Parish - Dance Hall at Louse Point, editado em 1996 - vai soar bem superior. Ainda assim, há alguma beleza por trás do caos que rege A Woman a Man Walked by. E, justiça seja feita, com ou sem John Parish, PJ Harvey nunca faz o que se espera dela. Isso é bom.

DVD exibe jazz eletrônico de Miles na Alemanha

Miles Davis (1926 - 1991) estava bastante imerso no jazz eletrônico em 1987 - quatro anos antes de sair de cena - quando fez show em Munique, Alemanha. A apresentação - feita por um octeto liderado pelo imortal trompetista - foi gravada e eternizada no (bem-vindo) DVD That's What Happened - Live in Germany 1987, ora lançado no Brasil pela gravadora ST2. O roteiro agrega duas músicas do cult álbum Tutu, então recém-lançado por Davis. O músico toca Portia e a faixa-título do disco que lhe rendeu um Grammy. Entre temas típicos do jazz, o repertório surpreende ao incluir hits de Cyndi Lauper (Time After Time) e de Michael Jackson (Human Nature). Nos extras, o DVD exibe entrevista de meia hora com o trompetista. Não há legendas em português. Em contrapartida, o áudio oferece a opção DTS 5.1.

17 de junho de 2009

Com bossa, Zambujo dá outros sentidos ao fado

Resenha de CD
Título: Outro Sentido
Artista: António Zambujo
Gravadora: MP, B /
Universal Music
Cotação: * * * *

A audição das faixas iniciais do terceiro álbum do cantor português António Zambujo - Eu Já Não Sei e Amor de Mel, Amor de Fel - dá a entender que o título do disco, Outro Sentido, não faz tanto sentido assim e que o cantor é mais um fadista à moda tradicional, com direito às inconfundíveis guitarras portuguesas. Mas a impressão é errada. Sem trair o genuíno sentimento do fado e da Terrinha, Zambujo busca outros tons e sentidos para o gênero neste CD lançado em 2007 no mercado lusitano e editado neste mês de junho de 2009 no Brasil com três faixas adicionais: Bilhete (entoada com Ivan Lins, autor da canção), Fado Partido (parceria de Pedro Luís com Ricardo Cruz, gravada com a participação de Roberta Sá e um leve clima de seresta) e Se Tu Soubesses (música apaixonada que traz a voz sempre clara de Zé Renato). A faixa-título, Outro Sentido, cruza a música portuguesa com a leveza típica da Bossa Nova. Já Chamateia tem o reforço do coro de vozes búlgaras Angelite, o que lhe confere acento quase sacro. Contudo, além de rótulos, Zambujo é ótimo cantor. Capaz de encarar Foi Deus num registro quase a capella - além de sua voz, há na faixa apenas o baixo acústico tocado pelo produtor musical do disco, Ricardo Cruz - que foge do estilo derramado habitualmente adotado pelos intérpretes desse clássico da música portuguesa. Da mesma forma, a gravação da bela balada Ao Sul (João Monge e João Gil) soa límpida, com a mesma acertada economia que pauta a canção Quando Tu Passas por mim, parceria de Vinicius de Moraes e Antônio Maria, regravada recentemente por Olivia Byington e Zé Renato. Nessa faixa, o natural sotaque português de Zambujo soa menos carregado do que em temas como o Fado Menor. Enfim, um disco que dá novos e velhos sentidos ao fado com tal beleza que nem era preciso a adição das três faixas brasileiras para torná-lo interessante para ouvidos nacionais sensíveis ao ritmo lusitano.

P.S.: No Brasil, António Zambujo lança o CD em show agendado para quinta-feira, 18 de junho de 2009, no Teatro Tom Jobim - RJ.

Em casa, Sandra canta ritmos do 'país tropical'

Resenha de Show
Título: Sete em Ponto
Artista: Sandra de Sá e Orquestra de Violinos Cartola
Petrobrás
Foto: Mauro Ferreira
Local: Teatro Carlos Gomes (RJ)
Data: 16 de junho de 2009
Cotação: * * *

"É tipo em casa", avisou Sandra de Sá, ressaltando a informalidade da apresentação, ao fim de elétrica versão de Não Vou Ficar, o funk de Tim Maia (1942 - 1998) lançado por Roberto Carlos em 1969. O bom astral e a descontração da cantora garantiram bons momentos para o público que foi ao Teatro Carlos Gomes (RJ) na noite de terça-feira, 16 de junho de 2009, para assistir ao show que juntou Sandra à Orquestra de Violinos Cartola Petrobrás no projeto Sete em Ponto. O início bem comportado do show - com Meninos da Mangueira e As Rosas não Falam - jamais faria supor um bloco final tão espontâneo. A ponto de Sandra descer para a platéia e circular por ela - convidando o público a fazer o mesmo - enquanto revivia Eu Quero É Botar meu Bloco na Rua, marcha de Sérgio Sampaio (1947 - 1994) que culminou com uma citação de Maracatu Atômico. No número seguinte, Olhos Coloridos, alguns integrantes da orquestra juvenil já tinham trocado até o violino pela percussão. No bis, dado com País Tropical (Jorge Ben Jor), o clima de euforia animava parte do público. Que já estava em casa.

A voz de Sandra de Sá perdeu um pouco de volume nos últimos anos, mas conserva intacto seu calor. Mais perceptível quando a equipe técnica ajustou enfim o volume do microfone da cantora, excessivamente baixo em números inusitados como Atração de Turista, fraco samba que fez Sandra ser premiada em festival estudantil, aos 12 anos, por conta da letra escrita sob viés social bissexto na discografia da artista. No show, a propósito, a cantora arriscou músicas diferentes de seu repertório habitual. Eu e a Brisa (Johnny Alf) ganhou suingue atípico por conta do baticum dos músicos da boa banda. Já Que Bloco É Esse? - um das obras-primas do repertório afro-brasileiro - foi pretexto para discurso antiracismo, feito com uma clareza nem sempre presente na interpretação da letra (no início da música, Sandra - empolgada - atropelou alguns versos). No fim, o samba O Morro Não Tem Vez reafirmou o clima descontraído que regeu a caseira apresentação.

Show extra valoriza farto blu-ray de Winehouse

Resenha de Blu-ray
Título: I Told You
I Was a Trouble
Artista: Amy Winehouse
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * * * *

Ver um show com imagem de alta definição, com um áudio compatível com a tecnologia HD, é experiência que amplifica a sensação de estar no meio da platéia. Destaque da (boa) leva inicial de títulos editados pela gravadora Universal Music em blu-ray, I Told You I Was a Trouble - primeiro e único registro audiovisual ao vivo de Amy Winehouse - fica mais sedutor em alta definição. Não somente pela qualidade excepcional da imagem e do som, mas também pelo fato de adicionar um show-bônus ao conteúdo já previamente editado no DVD homônimo. Com exclusividade, a versão em blu-ray de I Told You I Was a Trouble exibe show captado no Porchester Hall, em Londres, em 2007. São 14 números inéditos, incluindo músicas ausentes do outro show - filmado no Shepherd's Bush Empire, também em 2007 e também na capital da Inglaterra - como Know You Now e a balada I Heard Love Is Blind. A base de ambos os shows é o já antológico segundo álbum da artista, Back to Black, no qual Winehouse mostrou que bebeu nas melhores fontes do soul. No palco, a artista às vezes parece meio aérea - como quando fica agachada, com um copo de bebida na mão, no meio da música Back to Black - mas, no todo, a performance soa arrasadora com as (altas) definições proporcionadas pelo blu-ray.

Leve, Krall saúda o Rio e a Bossa Nova em DVD

Resenha de DVD
Título: Live in Rio
Artista: Diana Krall
Gravadora: Verve /
Eagle Vision / ST2
Cotação: * * * *

É uma tomada de Santa Teresa, bairro da região central do Rio de Janeiro (RJ), que abre o DVD em que Diana Krall saúda não somente a Bossa Nova, mas o próprio Rio de Janeiro - celebrado nas imagens (quase todas típicas de cartão postal) inseridas entre os números do show captado em 1º de novembro de 2008 na casa carioca Vivo Rio (RJ). Walk on By (tema de Burt Bacharach e Hal David), por exemplo, é introduzida no DVD com imagens de pedestres caminhando numa rua do Centro da cidade que gestou a Bossa Nova. Esta propriamente dita aparece na abordagem reverente de So Nice - a versão em inglês do Samba de Verão (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle) - na qual se percebe que o toque do piano de Krall tem leveza condizente com a Bossa Nova. Nem mesmo as cordas opulentas que adornam números como Ev'ry Time We Say Goodbye (Cole Porter) tiram a leveza dessa gravação que reafirma a classe de Diana Krall, hábil na feitura de um jazz de contorno pop. Filmado em alta definição para ser editado também em blu-ray, ainda não disponível no mercado brasileiro, o show resulta sedutor no DVD Live in Rio, transcorrendo coeso, num tom similar ao do CD de estúdio Quiet Nights. Krall celebra Tom Jobim (1927 - 1994) - de quem canta Este seu Olhar com português cheio de sotaque - e João Gilberto, cuja gravação de S'Wonderful no emblemático álbum Amoroso (1977) fez com que a cantora canadense aprendesse a apreciar a Bossa Nova, como a própria Diana Krall conta orgulhosa na seção Conversations dos extras, entre tomadas das belezas naturais do Rio de Janeiro. S'Wonderful, a propósito, integra o roteiro de Live in Rio em arranjo de Claus Ogerman, o mesmo que orquestrou o registro inspirador de João. Nos extras é exibido também o clipe promocional de The Boy from Ipanema, feito com esses postais cariocas que enfatizam a paixão da artista pela cidade que, para os fãs da Bossa Nova, vai ser sempre maravilhosa. E o Rio continua lindo na visão embevecida de Diana Krall - como mostra seu DVD.

'Dentro do Mar Tem Rio' navega digno em DVD

Resenha de DVD
Título: Dentro do Mar Tem Rio - Ao Vivo
Artista: Maria Bethânia
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

Nenhum DVD de Maria Bethânia conseguiu captar por inteiro a magia de um show da intérprete. Não é diferente com o registro audiovisual de Dentro do Mar Tem Rio, lançado um ano e meio depois do CD ao vivo pelo fato de a cantora ter rejeitado a filmagem feita em agosto de 2007 no Canecão (RJ). Por conta da recusa, a primeira gravação gerou somente o intenso álbum duplo lançado em novembro daquele ano. A gravação ora editada em DVD pela Biscoito Fino é a feita em dezembro de 2007 no Citibank Hall de São Paulo (SP). Justiça seja feita: a filmagem dirigida por Andrucha Waddington para a Conspiração Filmes ostenta bom nível e alguns belos planos, sobretudo quando aproxima bem as câmeras para mostrar as expressões de Bethânia - como, por exemplo, no número em que a cantora lê os versos de Agora, dos Titãs. Se o DVD não transmite toda a grandeza do show - em que Bethânia revolveu suas memórias das águas com base nos repertórios dos álbuns Mar de Sophia (2006) e Pirata (2006) - é porque é difícil mesmo (talvez impossível) capturar a atmosfera teatral dos shows da intérprete. Contudo, Dentro do Mar Tem Rio - espetáculo caudaloso, salpicado de textos e poemas entre as canções - ressurge digno. Sobretudo se levado em conta que ele já foi filmado na derradeira parada da turnê nacional. O segundo ato, em especial, já resultou bem diferente em relação ao roteiro apresentado na estreia nacional, em novembro de 2006, na mesma cidade de São Paulo em que a turnê chegou ao fim. Já não havia no repertório músicas como Poema Azul, Sonhei que Estava em Portugal, As Praias Desertas e O Mundo É Grande. E tampouco há Você e Sob Medida, músicas alienígenas no roteiro marítimo, incluídas no CD. No todo, o DVD resulta bonito, ficando no mesmo nível do anterior Tempo Tempo Tempo Tempo e superando, sim, os registros audiovisuais de Maricotinha e Brasileirinho.

Livro relaciona vida e obra passionais de Russo

Resenha de Livro
Título: Renato Russo
- O Filho da Revolução
Artista: Carlos
Marcelo
Editora: Agir
Cotação: * * * 1/2

No dia 11 de outubro de 1996, ao saber da morte de Renato Russo (1960 - 1996), um funcionário de um parque de diversões do município baiano de Euclides da Cunha - Luís Araújo, de 22 anos - entra sozinho no trem fantasma. Enquanto ouve músicas da Legião Urbana na fita cassete que pôs para tocar num aparelho de som portátil, o rapaz dispara um tiro contra a própria cabeça, alegando na carta de despedida que sua vida não tem mais sentido após a morte de Russo. Tal passagem trágica, contada pelo jornalista Carlos Marcelo ao fim de seu livro Renato Russo - O Filho da Revolução, dá a dimensão que a obra do mentor da Legião Urbana adquiriu em pouco mais de dez anos desde o seu nascimento, em Brasília, até a explosão nacional. O livro não é uma biografia convencional do artista (os últimos discos da Legião Urbana bem como a carreira solo do cantor são mencionados de forma breve), mas prima por reconstituir os passos iniciais de Renato Russo relacionando sua vida com sua obra ao enfocar paralelamente os acontecimentos que geraram Brasília e fizeram com que, na virada dos anos 70 para os 80, fosse criada na cidade uma cena punk comparável somente à de São Paulo. A obra passional de Renato Russo é fruto da Revolução (a de 64) e também dessa cena roqueira que driblava o tédio com festas e as audições dos então raros LPs importados da Inglaterra.

Fartamente ilustrado com fotos e documentos, o livro não mergulha fundo na mente tão criativa quanto atormentada de Renato Russo, mas contextualiza muito bem o nascimento de um cancioneiro que faria a cabeça da juventude do Brasil. Foi da convivência do futuro artista com os amigos da lendária Turma da Colina que se originou um dos repertórios mais contundentes do rock brasileiro a partir da formação de grupos como o Aborto Elétrico (1978 - 1982). O autor mostra como o rapaz tímido, que chegou a fazer teatro para ficar mais expansivo, se tornou o líder mítico e por vezes messiânico de uma legião urbana que lhe devotaria amor e ódio na mesma proporção - como fica claro na convulsão, detalhada no livro, provocada pela volta do artista a Brasília em 1988 para um show no estádio Mané Garrincha que culminou em violência e desordem. Com narrativa coloquial, às vezes romanceada, Renato Russo - O Filho da Revolução revira o berço que impulsionou o cérebro mais inquieto daquela cena a traduzir na sua música as angústias e os sentimentos da Geração Coca-Cola. Até aquela manhã triste de outubro de 1996...

Fagner conceitua o CD com que festeja 60 anos

Fagner vai fazer 60 anos em 13 de outubro de 2009. A data é festejada com álbum de inéditas, Uma Canção no Rádio, nas lojas em breve pela gravadora Som Livre. O CD tem intervenções de Gabriel O Pensador (em Martelo) e de Zeca Baleiro (parceiro de Fagner na faixa-título). Eis o texto (claro e objetivo) escrito pelo próprio Fagner para conceituar o disco, de repertório romântico:
"A idéia deste CD começou a surgir quando ouvi pela primeira vez o cantor cearense Oliveira do Ceará, meu conterrâneo, que eu não conhecia. Passou uma noite cantando para mim várias de suas músicas, que me encantaram. Foi uma surpresa. A partir dali, comecei a selecionar algumas delas e terminei por gravar Regra do Amor, Amor Infinito e Martelo.
Fui apresentado ao Clemente Magalhães pelo produtor Marcelo Froes e então começamos um trabalho que evoluiu para a concretização de todo o CD. Regra do Amor e Amor Infinito são músicas românticas com mensagens simples que logo encontraram suas formas da maneira que sempre gravei esse tipo de canção. Para a música Martelo, Clemente sugeriu que mostrássemos a Gabriel O Pensador já que o tema é bastante instigante e poderia despertar o interesse do Gabriel em fazer a participação no CD. Para minha surpresa, o Menino Pensador não só gostou do tema, como de bate-pronto escreveu ao seu estilo os versos que canta. Embora falando do mesmo tema, são duas leituras distintas para os dias cheios de violência e injustiça social que vivemos.
Neste mesmo período, comecei a trabalhar com meus parceiros Zeca Baleiro e Fausto Nilo e também fiz minha primeira parceria com Chico Cesar, na canção Farinha Comer. Essa música já estava combinada há algum tempo. Mandei a música pro Chico num dia e no dia seguinte ele mandou a letra com versos de grande poeta. Com Zeca fiz Uma Canção no Rádio, também título do CD. A participação de Zeca se dá logo na abertura da faixa. É um fato raro o artista convidado abrir a canção, mas, no meu entender, é apenas a continuidade do trabalho que fizemos recentemente e que se revelou de grande afinidade. A Voz do Silêncio foi feita com Fausto Nilo, parceiro mais antigo. É uma balada que nos remete às canções dos Beatles.
A canção que abre esse CD, Muito Amor, eu já havia gravado em 2001 e regravado ao vivo no CD Me Leve. Foi uma canção que agradou bastante ao meu público, mas, mesmo assim ,achava que ainda faltava outra leitura musical e resultou nesse tango, bem ao estilo do tango eletrônico que está se fazendo hoje. Aproveitei a sanfona do Italo Almeida para tirar som de bandoneon.
Como sempre, incluo em meus discos alguma canção nordestina e as escolhidas foram Me dá Meu Coração e Flor do Mamulengo, duas canções já conhecidas do público do Nordeste que mereciam uma levada mais universal, já que elas haviam sido gravadas em estilo regional.
Sonetos é uma canção de amor simples e direta e me foi mandada pelo compositor Domer, de quem eu já havia gravado Certeza, em 2001, e que está bem dentro do espírito romântico do disco.
Por fim, quero elogiar o trabalho de todos que estiveram envolvidos nesse projeto, especialmente Edinho, Humberto, Amaro Pena, Erivanes (Fortaleza) – sempre conectados com o estúdio do Rio – e Clemente Magalhães e sua equipe de músicos e técnicos do Corredor 5. Todos fizeram de tudo para que o trabalho saísse com muita competência e carinho -como vai chegar aos ouvintes.
Este é o CD que comemora meus 60 anos de vida e que diz bem o momento que estou vivendo musicalmente e motivado naquilo que mais gosto de fazer com a música.
Por que o título?
Uma Canção no Rádio pode resumir todo o sentimento do trabalho no seu contexto poético e musical além da referência que faz ao rádio, destino natural de músicas que são feitas para chegar aos ouvintes, relevando cada vez mais sua importância na comunicação". Raimundo Fagner

16 de junho de 2009

Mariah lança 'Obsessed', novo 'single', nos EUA

Primeiro single do 12º álbum de Mariah Carey, Memoirs of an Imperfect Angel (nas lojas a partir de 25 de agosto de 2009), Obsessed - veja capa à direita - foi lançado nesta terça-feira, 16 de junho, na rede e nas rádios dos Estados Unidos. A música - que vai render vídeo a ser dirigido por Brett Ratner - foi composta e produzida por The-Dream e Tricky Stewart com a própria Mariah.

'Portela, Passado de Glória' retorna ao catálogo

Lançado em 1970, com o aval e a produção de Paulinho da Viola, o primeiro álbum da Velha Guarda da Portela ganha justa reedição pela gravadora Biscoito Fino. Foi a partir da gravação deste disco que a Velha Guarda portelense se constituiu pela primeira vez como o grupo que até hoje (com diferentes formações ao longo do tempo) grava discos e faz shows. Foi também nesse antológico álbum que sambas clássicos como Quantas Lágrimas (Manacéa), Desengano (Aniceto) e Sofrimento de Quem Ama (Alberto Lonato) ganharam seus primeiros registros fonográficos. Editado originalmente pela extinta RGE, Portela Passado de Glória tinha sido lançado em CD pela mesma gravadora, em 1997, mas numa edição precária. A atual reedição é avalizada por Paulinho da Viola, que escreveu um texto novo sobre o disco, a exemplo do que fizera para a edição original. Eis o texto do artista:
"Na primeira edição deste disco, gravado em menos de uma semana em um estúdio de quatro canais, deixei de citar na contracapa, por descuido, a participação de três importantes músicos: o trombonista, arranjador e maestro Nelsinho (já falecido), nas faixas 8 e 12; o contrabaixista Sérgio Barroso, nas faixas 3, 8, 12 e 13; e Olímpio da Cuíca (também já falecido), que se juntou ao conjunto da Velha Guarda algum tempo depois do lançamento do LP, no segundo semestre de 1970. Os compositores Chico Santana e Alberto Lonato, além de intérpretes de suas músicas e integrantes do coro, também reforçaram o ritmo tocando pandeiro e reco-reco em um ou outro samba. Casquinha e Eliseu (Eliseu Felix, um excelente e conhecido ritmista) alternaram instrumentos durante as gravações e, como não havia tempo nem assistentes para registrar essas mudanças, não se pode afirmar com segurança quem tocou o quê em todas as faixas, exceto no caso da cuíca, tocada apenas pelo Olímpio. Naquela época, o grupo ainda não dispunha de músicos próprios e foi necessária a formação de uma base com alguns profissionais, sem a qual o trabalho não seria possível. Após o lançamento do disco, a Velha Guarda tratou de criar essa base convidando outros nomes, podendo então realizar, com grande sucesso, sua primeira apresentação, no auditório do antigo prédio da UNE, na praia do Flamengo. Tive a grata satisfação de acompanhar durante um longo tempo esses pioneiros, baluartes da minha querida Portela, em ocasiões como a do memorável show realizado no Teatro da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, durante as comemorações dos 50 anos da Semana de Arte Moderna de 1922. Com um precioso acervo de sambas, um ritmo inconfundível, inúmeros discos, livros, especiais de televisão, um belo documentário, vários shows fora do Brasil e perto de completar 40 anos, a Velha Guarda da Portela se mantém atuante, reunindo velhos e novos sambistas para nos encantar com suas estórias, ou mesmo “para a mocidade brincar”, como queria Chico Santana. Apesar das dificuldades técnicas, do reduzido número de pessoas na produção (no estúdio apenas eu e o técnico de som) e do pouco tempo disponível, creio que este registro tornou-se uma referência importante para aqueles que quiserem conhecer um pouco da cultura do samba, em especial a da Portela. Monarco, nosso grande mestre, no final de um dos seus mais belos sambas afirmou: “Se for falar da PORTELA, hoje eu não vou terminar”; e eu, lhe pedindo licença, acrescento: “de sua VELHA GUARDA também”. Rio, 31 de março de 2009. Paulinho da Viola.

Ney registra em CD repertório de Beijo Bandido

Enquanto finaliza a bem-sucedida turnê nacional do espetáculo Inclassificáveis, que volta esta semana ao Rio de Janeiro (RJ) para duas apresentações no Citibank Hall carioca, Ney Matogrosso começa a registrar em estúdio o repertório de Beijo Bandido, o show que estreou em dezembro de 2008, em Santos (SP), e voltou à cena uma única vez em apresentação especialíssima no Teatro Tom Jobim (RJ) em 29 de janeiro de 2009. O CD já tem algumas vozes e bases gravadas. Eis o (fino) repertório de Beijo Bandido:
1. Tango pra Teresa (Jair Amorim e Evaldo Gouveia)
2. Segredo (Herivelto Martins e Marino Pinto)
3. Fascinação (F. D. Marchetti e M. de Feraudy
- Versão de Armando Louzada)
4. Invento (Vitor Ramil)
5. De Cigarro em Cigarro (Luiz Bonfá)
6. A Bela e a Fera (Chico Buarque e Edu Lobo)
7. A Distância (Roberto Carlos e Erasmo Carlos)
8. Nada por mim (Herbert Vianna e Paula Toller)
9. Mulher sem Razão (Cazuza, Dé Palmeira e Bebel Gilberto)
10. Doce de Coco (Jacob do Bandolim e Hermínio Bello
de Carvalho)
11. Medo de Amar (Vinicius de Moraes)
12. Bicho de Sete Cabeças (Geraldo Azevedo)
13. As Ilhas (Astor Piazzolla e Geraldo Carneiro)
14. A Cor do Desejo (Ricardo Guima e Júnior Almeida)

Bethânia, Zélia e Aydar cantam Clara no prêmio

Maria Bethânia vai participar do show que reverencia a obra de Clara Nunes (1942 - 1983) na 20ª edição do Prêmio da Música Brasileira. Bethânia vai cantar Conto de Areia (1974), primeiro grande sucesso de Clara (em foto de Wilton Montenegro). O elenco do show da cerimônia de premiação - agendada para 1º de julho de 2009, no Canecão (RJ) - já conta também com as adesões de Alcione (Sem Companhia, 1980), Mariana Aydar (Portela na Avenida, 1981 - em dueto com Leandro Sapucahy), Lenine (O Mar Serenou, 1975 - em dueto com João Cavalcanti), Zeca Pagodinho (Menino Deus, 1974), Fabiana Cozza (Um Ser de Luz, 1983), Arlindo Cruz (Mineira, 1975 - em dueto com Altay Velloso) e Zélia Duncan (Nação, 1982 - num dueto com João Bosco), entre outros.

Selma grava CD com obra e inédita de Pinheiro

A partir da próxima quinta-feira, 18 de junho de 2009, Selma Reis vai conciliar a agenda de produção da novela Caminho das Índias - em cujo elenco ingressou recentemente no papel de uma indiana - com a gravação de CD dedicado à obra de Paulo César Pinheiro. A cantora (acima em foto de Marcelo Faustini) entra em estúdio com algumas inéditas do compositor na manga. Entre elas, há Passatempo, que tem música e letra assinadas somente por Pinheiro. Contudo, o repertório inclui basicamente regravações da obra do parceiro de Sueli Costa em Cordilheira - música, aliás, garantida na seleção ao lado de Minha Missão (parceria com João Nogueira), Tô Voltando (com Maurício Tapajós) e Vou Deitar e Rolar (Quaquaraquaqua), samba da lavra de Pinheiro com Baden Powell. A própria Selma Reis comanda a produção do disco, que a traz de volta ao universo da MPB após dois álbuns de cunho sacro. A gravação do álbum estava programada para 2008, mas atrasou.

15 de junho de 2009

Trio do New Order forma quarteto com ex-Blur

Em 1980, a morte de Ian Curtis (1956 - 1980) pôs fim ao grupo Joy Division, que gerou o New Order. Vinte nove anos depois, os três músicos que integravam a última formação do New Order - dissolvido em 2007 por decisão (ao que pareceu) unilateral do baixista Peter Hook - anunciaram a formação de nova banda, Bad Lieutenant. O cantor Bernard Sumner, o baterista Stephen Morris e o guitarrista Phil Cunningham (que não fez parte do Joy Division e do New Order original) recrutaram o baixista Alex James (ex-Blur) para formar o quarteto. O primeiro álbum do Bad Lieutenant já está gravado - cheio de guitarras, de acordo com declarações de Sumner - e já tem lançamento programado para outubro de 2009.

Afro-sambas de Baden juntam Philippe e Adnet

Os antológicos afro-sambas de Baden Powell (1937 - 2000) e Vinicius de Moraes (1913 - 1980) rendem mais um disco, de tonalidade jazzística - como já anuncia, aliás, o título Afro Samba Jazz. Editado pela gravadora Biscoito Fino neste mês de junho de 2009, o CD junta o pianista Philippe Baden Powell - filho do autor de Canto de Ossanha - ao violonista e arranjador Mario Adnet. Gravado sob a direção musical dos dois instrumentistas, o álbum procura outras soluções harmônicas paras os afro-sambas de Baden. Basicamente instrumental, o disco traz a voz cálida de Mônica Salmaso - cantora que despontou no mercado fonográfico com trabalho dedicado aos afro-sambas e dividido com o violonista Paulo Belinatti - no Canto de Yemanjá e na Ladainha de Yansan (o segundo tema é parte integrante da Suite Yansan). O repertório apresenta temas raros de Baden, caso de Alodê. Em texto escrito para o encarte do CD, Philippe Baden Powell lembra que seu pai considerava Adnet "um cara da pesada".

Pitty registra inéditas com climas psicodélicos

Ainda em fase de gravação em São Paulo (SP), no estúdio Cabo da Goiabeira, o quarto álbum de Pitty - o terceiro de inéditas - vai ter clima psicodélico em algumas músicas. Inteiramente autoral, o repertório inclui o abolerado rock Sob o Sol, parceria da roqueira com Fabio Magalhães, líder da resistente banda baiana Cascadura, conterrânea e contemporânea do grupo (Inkoma) em que Pitty despontou. A letra de Sob o Sol enfileira impressões dos autores sobre Salvador (BA). Outras músicas do CD - produzido por Rafael Ramos - são Me Adora (recado aos críticos que alfinetam o som de Pitty), Fracasso (faixa dançante com ecos de disco music), Medo (tema mais pesado), 8 ou 80, Água Contida e Rato na Roda. A foto acima - clicada por Caroline Bittencourt e extraída do site onde a artista adiante detalhes do disco - capta momento da gravação. O lançamento está previsto pela gravadora Deckdisc para agosto de 2009. O terceiro álbum de inéditas de Pitty ainda não foi batizado.

Titãs aludem a Cabeça Dinossauro no novo clipe

Com atores e figurantes encapuzados com sacos, em alusão ao título do recém-lançado álbum de inéditas do grupo Titãs, Sacos Plásticos, o clipe da música de trabalho - a balada Antes de Você - foi gravado no Viaduto Santa Efigênia, em São Paulo (SP), com direção de Oscar Rodrigues Alves. Curiosidade: um dos figurantes (ajoelhado diante do guitarrista Tony Bellotto na foto de Silmara Ciuffa) portava um saco com a imagem utilizada na capa do álbum mais emblemático do então octeto, Cabeça Dinossauro (1986).

'Wait for me' expõe um Moby íntimo e reflexivo

Resenha de CD
Título: Wait for me
Artista: Moby
Gravadora: Mute
/ Little Idiot
Cotação: * * *

Em seu álbum anterior, Last Night (2008), Moby voltou para as pistas e captou muito bem o frenesi da noite dance, evocando os embalos da disco music. Em seu nono álbum, Wait for me, o clima é bem calmo - como o próprio DJ avisara ao anunciar o disco, em abril de 2009. Nas lojas a partir de 30 de junho, mas já vazado na internet, Wait for me flagra Moby em estado mais íntimo e reflexivo. As 16 faixas - várias instrumentais, a exemplo de Division, que abre o CD com cordas sintetizadas em forma quase erudita - são mais apropriadas para um lounge. Os vocais femininos ouvidos em temas como Pale Horses e Walk with me (faixa que insere ruídos numa atmosfera mais etérea) podem até remeter a Play (1999) - obra-prima da discografia do artista - mas o fato é que Wait for me não se impõe entre os melhores momentos fonográficos do DJ. Pelo fato de ter sido gravado com equipamento analógicos, o CD tem todo um clima retrô que salta aos ouvidos em faixas como Mistake (um dos temas turbinados com os vocais do próprio Moby). Sim, há beleza na melancolia expressada em JLTF, balada forrada com o piano, mas, no todo, o álbum soa repetitivo, quase cansativo. Consta que a inspiração para o disco veio de palestra sobre criatividade ministrada pelo cineasta David Linch - aliás, diretor do vídeo da faixa Shot in the Back of the Head. Moby teria se decidido a gravar um CD guiado somente pela liberdade criativa, sem pressões externas. Seja como for, embora Wait for me tenha lá seus bons momentos, quando chega ao fim, com a instrumental Isolate, o álbum deixa no ouvinte sensação estranha. Como se fosse um filme de Lynch...

14 de junho de 2009

Frevo Diabo prioriza Edu Lobo no primeiro CD

Embora expresse já no nome a sua dedicação ao carnavalesco ritmo de Pernambuco, Frevo Diabo é um grupo que se diferencia dos demais por ter sido criado no Rio de Janeiro (RJ), sob a liderança de Daniel Marques (guitarrista carioca) e do cantor - pernambucano - Armando Lôbo. O primeiro CD do grupo, Frevo Diabo, acaba de ser lançado pela gravadora Delira Música. No repertório, entre poucos temas próprios como Carnaval de Perneta (de Daniel), o Frevo Diabo revive clássicos do gênero. Entre eles, Não Existe Pecado ao Sul do Equador (Chico Buarque e Ruy Guerra) e De Chapéu de Sol Aberto (Capiba). Compositor predominante no disco, Edu Lobo está representado por No Cordão da Saideira, por Frevo de Itamaracá e pelo tema que batiza o quinteto. De igual quilate, mas pouco conhecido, há Henriquieto, de Guinga e Aldir Blanc. Aliás, Guinga elogia o grupo.

Oasis encaixota edições em vinil de oito títulos

Já está à venda na internet, por exatos 100 euros, a edição limitada da caixa que embala as edições em vinil dos sete álbuns de estúdio do grupo britânico Oasis. De quebra, o box - comercializado pela gravadora da banda, Big Brother Recordings - inclui The Masterplan, coletânea de lados B de singles do quarteto. Eis os oito títulos encaixotados em vinil:
* Definitely Maybe (1994)
* (What's The Story) Morning Glory? (1995)
* Be Here Now (1997)
* The Masterplan (1998)
* Standing on the Shoulder of Giants (2000)
* Heathen Chemistry (2002)
* Don't Believe The Truth (2005)
* Dig Out your Soul (2008)

Maestria dos arranjos de Pixinguinha em série

Produzida por Lu Araújo, com direção musical do violonista Caio Cezar, a Série Pixinguinha vai totalizar dez álbuns. Os três primeiros discos - Pixinguinha no Cinema, Pixinguinha Sinfônico e Pixinguinha Sinfônico Popular - estão sendo editados neste mês de junho de 2009 com distribuição da gravadora Rob Digital. Vendidos de forma avulsa, os CDs também chegam ao mercado embalados em caixa com libreto. Trata-se de série essencial para o compreendimento da maestria de Alfredo da Rocha Vianna Filho, o genial Pixinguinha (1893 - 1973), como compositor e, sobretudo, arranjador. Um mergulho no baú do artista - liderado por seu neto, Marcelo Vianna - possibilitou o encontro de arranjos sinfônicos escritos pelo maestro entre os anos 20 e 50. Feitos para orquestras que atuavam nas emissoras da era de ouro do rádio brasileiro, esses arranjos forem seguidos com fidelidade na produção dos CDs Pixinguinha Sinfônico e Pixinguinha Sinfônico Popular, gravados em 2008, em Rio de Janeiro (RJ) e Recife (PE) - respectivamente - com a Orquestra Petrobrás Sinfônica e a Orquestra Sinfônica do Recife, sob as regências dos maestros Silvio Barbato (1959 - 2009) e Osman Gioia. Já o primeiro CD, Pixinguinha no Cinema, revive em gravações inéditas - feitas em novembro de 2007 no estúdio da Rádio MEC, no Rio de Janeiro (RJ) - a trilha sonora do filme Sol Sobre a Lama (Alex Viany, 1963), composta e arranjada por Pixinguinha. Nunca editada em disco, a trilha é composta por 16 temas de Pixinguinha, sendo que quatro ganharam letras de Vinicius de Moraes (1913 - 1980). Versos que, em Pixinguinha no Cinema, ganharam as vozes de Céu (Seule), Diogo Nogueira (Iemanjá), Elza Soares (Mundo Melhor), Jards Macalé (Samba Fúnebre) e Mariana de Moraes (Lamento, em dueto com Marcelo Vianna). Mesmo para quem já conhece bem a obra seminal de Pixinguinha, os três CDs enfatizam a versatilidade do compositor, a maestria do arranjador e expandem a visão dessa obra sempre monumental - o pilar da música brasileira produzida no século 20.

Extras novos na reedição de 'Chico e as Cidades'

Lançado originalmente em 2001, o DVD Chico e as Cidades volta ao catálogo pela gravadora Biscoito Fino neste mês de junho de 2009 com extras inéditos. As novidades são o clipe de Cecília e takes das músicas Injuriado e Futuros Amantes. Produzido e dirigido pela equipe da Conspiração Filmes, Chico e as Cidades não é um registro ao vivo do show As Cidades - estreado por Chico Buarque em janeiro de 1999 com base no repertório do disco homônimo, editado em 1998 - mas, sim, um documentário que, a partir do show (filmado no Rio de Janeiro e em Buenos Aires), traça perfil do compositor carioca. Um dos destaques é o encontro de Chico com Maria Bethânia, ao ar livre. Compositor e intérprete revivem juntos a canção Olhos nos Olhos, lançada por Bethânia em 1976 no LP Pássaro Proibido. O filme foca a paixão de Chico por futebol.