Boa caixa '83-94' expõe diversidade de Caetano
Título: 83 - 94
Artista: Caetano Veloso
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * *
É difícil enquadrar num único rótulo os dez álbuns de Caetano Veloso encaixotados em 83-94, o terceiro bom box da coleção Quarentas Anos Caetanos, idealizada para celebrar em 2007 os 40 anos de permanência do artista na gravadora hoje denominada Universal Music. São discos de diversos eixos estéticos que vão da euforia à melancolia. Uns (1983) é solar e já expõe no repertório a diversidade que, de certa forma, pauta os álbuns. A canção Você É Linda - estrategicamente posicionada no disco logo após Coisa Mais Linda (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes) para sublinhar a influência da Bossa Nova na música de Caetano - e o pop rock Eclipse Oculto foram os hits. Velô (1984) é o disco de sotaque roqueiro que se alinhou com o frescor pop que dava as cartas no jogo fonográfico daquele ano. De seu repertório, ecoam até hoje Podres Poderes, O Quereres, Língua (gravada com Elza Soares) e - em menor grau - Shy Moon (canção dividida com Ritchie) e O Homem Velho (repescada no show Cê). Totalmente Demais (1986) é o álbum ao vivo que ampliou o público de Caetano Veloso e contabilizou 250 mil cópias vendidas. Foi gravado no mesmo estilo voz-e-violão que moldou Caetano Veloso (1986), o álbum de caráter íntimo e retrospectivo feito para os Estados Unidos e lançado no Brasil somente em 1990. Já Caetano (1987) é pautado pela melancolia provocada pela morte do pai do artista, José. É o álbum em que aparecem Eu Sou Neguinha? e a bela O Ciúme. Por seu turno, Estrangeiro (1989) - disco produzido por Arto Lindsay e Peter Scherer - retoma o viés tropicalista, exposto já na capa ilustrada com pintura feita por Hélio Eichbauer para o cenário da peça O Rei da Vela. O hit radiofônico foi Meia-Lua Inteira, da lavra do então desconhecido Carlinhos Brown, na época percussionista da banda de Caetano. Mas a faixa-título - O Estrangeiro, repleta de citações na letra caudalosa - e a invernal Genipapo Absoluto sinalizaram que o compositor estava em boa forma. Na sequência, Circuladô (1991) se impôs pela crueza do pensamento direto - expressado nas letras de músicas como Fora de Ordem - enquanto Circuladô Vivo (1992) foi o registro do show antológico em que o intérprete irmanou Bob Dylan (Jokerman), Michael Jackson (Black or White), Djavan (Oceano) e Roberto Carlos (Debaixo dos Caracóis de seus Cabelos) sob os arranjos sofisticados de Jaques Morelenbaum. Em seguida, Tropicália 2 (1993) celebrou com atraso os 25 anos do movimento com reunião de seus dois líderes e mentores, Caetano e Gilberto Gil, em CD que rendeu os clássicos Haiti e Desde que o Samba É Samba. Por fim, Fina Estampa (1994) fecha o período abordado na caixa 83/94 com a classuda releitura do cancioneiro hispânico que, de uma forma ou de outra, sempre esteve presente nessa obra tropicalista de Caetano Veloso.