Resenha de ShowTítulo: Janelas do Brasil
Artista: Amelinha (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 21 de setembro de 2010
Cotação: * * *
Foi na sacada de uma janela que, em 1977, Amelinha posou para a foto que estampa a capa de seu primeiro LP, Flor da Paisagem, lançado naquele ano pela extinta gravadora CBS com repertório que incluía o xote Cintura Fina (Luiz Gonzaga e Zé Dantas, 1950). Passados 33 anos, a cantora cearense - uma das vozes firmes que se fizeram ouvir em escala nacional na corrente migratória que deslocou nordestinos para o eixo Rio-São Paulo ao longo da década de 70 - roda o Brasil com um show intitulado Janelas do Brasil e que inclui, já no bis, a já sessentona Cintura Fina. O nome do show - como contou a falante artista ao público que conferiu a simpática apresentação feita no Teatro Rival (RJ) na noite de 21 de setembro de 2010 - foi inspirado no comentário recente de um fã que, ao ouvir a voz de Amelinha, sentenciou que a artista deveria cantar em todas as janelas do Brasil. De fato, a voz da cantora ainda guarda a beleza que encantou o país na virada dos anos 70 para os 80. Sua interpretação sensível de Sol de Primavera (Beto Guedes, 1980) atesta a boa forma vocal da intérprete. O que não elimina os problemas do show. A rigor, Amelinha brilha pelas frestas de Janelas do Brasil. Para perceber esse brilho, é preciso ignorar um tema menor de Gonzaguinha (1945 - 1991) - Que Coisa Bonita, de tom solar - e os excessos de teclados da balada Água e Luz (Tavito, Ricardo Magno e Tavinho Paes), cujo arranjo remete ao som pasteurizado que diluiu a força da música brasileira nos anos 80. Já em Mulher Nova Bonita e Carinhosa Faz o Homem Gemer sem Sentir Dor (Zé Ramalho) os excessos são do discurso de Amelinha, que se perde em louvações aos atributos femininos enquanto conta que seu maior sucesso foi composto com inspiração em um mote do cantador Zé de Cazuza Nunes. Neste número, o quarteto que acompanha a cantora em cena consegue reproduzir o clima épico do arranjo da gravação original de 1982. Momentos antes, com êxito quase igual, Pedro Braga evoca no violão a batida veloz do Galope Rasante, outro tema de Zé Ramalho associado à voz de Amelinha. Após deslocado medley com três sucessos dos festivais da década de 60 (Alegria Alegria, A Banda e Pra Não Dizer que Não Falei de Flores), a cantora faz pungente interpretação de Penas do Tiê (Hekel Tavares e Nair Mesquita), clássico do cancioneiro ruralista revivido apenas com sua voz emotiva e o citado violão de Pedro Braga. Na sequência, Amelinha apresenta bonito tributo de Caio Sílvio ao universo carioca, Noites do Rio, antes de cair com menos elegância em set forrozeiro de tom pasteurizado. Doido pra te Amar (Nando Cordel e Dominguinhos) e a agalopada Periga Ser (Robertinho de Recife e Fausto Nilo) batem ponto nesse bloco mais animado que culmina obviamente com o Frevo Mulher, número em que o tecladista Ricardo Rito mostra que se garante na sanfona. No bis, ao sair de cena, Amelinha volta ao começo, ou seja, repete Foi Deus que Fez Você (Luiz Ramalho) com o coro do público. Sua real emoção ao recordar a bela música é mais uma fresta de Janelas do Brasil pela qual se vê uma cantora em forma - ainda sensível e sedutora.