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Resenha de ShowEvento: Alô... Alô? - 100 Anos de Carmen Miranda
Título: A Pequena Notável
Artista: Pedro Luís e Roberta Sá (em foto de Mauro Ferreira)
Apresentação: Ruy Castro
Local: Centro Cultural Banco do Brasil (RJ) - Teatro II
Data: 12 de maio de 2009 - Sessão das 18h30m
Cotação: * * *
Como um (divertido) casal à moda antiga, Pedro Luís e Roberta Sá travaram o jocoso diálogo a dois proposto na letra de Quem É? (Custódio Mesquita e Joracy Camargo, 1937). Apresentado no bis de A Pequena Notável, primeiro dos quatro shows do ciclo Alô...Alô? - 100 Anos de Carmen Miranda, o dueto foi um dos destaques do espetáculo que uniu o casal Pedro e Roberta em torno do repertório da pioneira Carmen, em duas (concorridas) sessões apresentadas ontem, 12 de maio de 2009, no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (RJ). O ciclo é promovido pelo CCBB para lembrar o centenário de nascimento de Carmen Miranda (1909 - 1955), artista notável que, como bem lembrou Ruy Castro com a autoridade de ter escrito a melhor biografia da Brazilian Bombshell, teve ao longo dos anos 30 papel bem fundamental na consolidação da indústria do disco no Brasil, tendo sido também a primeira artista a unir o país - em especial, a capital do Rio de Janeiro - através dos microfones do rádio inicial.
Embora sempre precisos, e essenciais para que a maior parte do público compreendesse a origem e a importância do repertório apresentado por Roberta Sá e Pedro Luís, os comentários de Ruy Castro quebraram o ritmo do show. É como se A Pequena Notável fosse, a rigor, um talk-show. Pedro é o primeiro a ser chamado em cena por Castro. O líder da Parede não canta com a graça e a leveza de Roberta, mas caiu razoavelmente bem no suingue de Moleque Indigesto (Lamartine Babo, 1933), Paris (Alberto Ribeiro e Alcyr Pires Vermelho, 1938), Chegou a Hora da Fogueira (Lamartine Babo, 1933), O Dengo que a Nega Tem (Dorival Caymmi, 1940) e Goodbye, Boy (Assis Valente, 1932). Mais talhada para encarar o repertório buliçoso de Carmen, Roberta já se mostrou logo animada em Pra Você Gostar de mim (Taí) - a toada de Joubert de Carvalho que Pixinguinha (1893 - 1973) transformou em marchinha em gravação de 1930 que fez deslanchar a carreira fonográfica de Carmen - e, na sequência, enfrentou o ritmo veloz do chorinho Tico-Tico no Fubá (Zequinha de Abreu e Aloysio de Oliveira, 1945). O choro foi o veículo para que brilhasse também a flauta de Eduardo Neves, integrante do grupo que evocava a sonoridade dos velhos conjuntos regionais da primeira metade do século 20 (o grupo foi liderado pelo diretor musical do show, o violonista Luís Filipe de Lima). Em seguida, com a habitual leveza, Roberta tentou fazer do pequeno palco do Teatro II um salão de Carnaval para reviver a marchinha Balancê (João de Barro e Alberto Ribeiro, 1936), que, como foi ressaltado pela cantora, fez mais sucesso na voz de Gal Costa (em 1979, e não nos anos 80 como disse Roberta) do que na de Carmen Miranda. O público fez coro e até marcou, com palmas, o ritmo da marchinha.
Na volta de Roberta ao palco (seus números foram intercalados com os de Pedro Luís), a cantora brilhou em Disseram que Voltei Americanizada (Vicente Paiva e Luiz Peixoto, 1940) - entoada inicialmente a capella para expressar o sentimento de tristeza que envolveu Carmen na sua volta ao Brasil em 1940 por conta de uma recepção hostil que, como esclarece Ruy, foi obra de integrantes do Governo de Getúlio Vargas (à época mais simpatizado com a Alemanha nazista do que com os Estados Unidos) e não do povo brasileiro - e Na Batucada da Vida (Ary Barroso e Luiz Peixoto, 1934). Ao tema de Ary, Roberta deu tom mais emocional sem, no entanto, reeditar a força do imbatível registro impressionista feito por Elis Regina (1945 - 1982) em seu álbum Elis, de 1974. No fim, o casal une vozes em Alô, Alô (André Filho, 1941), a marchinha que já parece indissociada dos trejeitos e comics de Maria Alcina. Enfim, um bom show que cumpre sua função de ressaltar o valor e a importância histórica da voz e do repertório da notável Carmen.