Resenha de showTítulo: SóNósArtista: Paula Toller (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Vivo Rio (RJ)Data: 22 de setembro de 2007Cotação: * * * 1/2"As pernas dela são um barato...", confidenciou um espectador ao amigo enquanto Paula Toller cantava
Eu Quero Ir pra Rua. "Tira a roupa!", pediu outro, aos gritos, durante a música
If You Won't, a boa canção inédita de Jesse Harris que a
Abelha Rainha mostrou ao público, orgulhosa, depois de entoar, em pé, próxima ao piano, trecho de
Don't Know Why - o hit de Norah Jones composto por Harris. "Linda!", exclamou um terceiro em comentário recorrente na platéia. Não teve mesmo jeito: a boa forma vocal da cantora do Kid Abelha dividiu atenções com sua ótima forma física na estréia carioca de seu primeiro show solo em 25 anos de carreira.
SóNós aportou na casa Vivo Rio cercado de expectativas - devidamente cumpridas. Aos (recém-completados) 45 anos,
gatésima, a ponto de entrar em cena com vestido curto que deixava as belas pernas à mostra, Paula Toller seduziu seu público em todos os sentidos...
O primeiro número - com
? (O Q É Q Eu Sou?), boa inédita ofertada por Erasmo Carlos à cantora - fez supor que o show seria frio, mas Paula, falante, começou a quebrar o gelo já na segunda música,
All Over, em que o baixista Jorge Ailton assumiu os vocais para fazer dueto com a cantora no lugar que, no disco, foi do surfista norte-americano Donavon Frankenreiter. Aliás, Paula não se intimidou e apresentou 12 das 14 músicas de seu segundo CD solo - sem deixar de fazer surpresas no roteiro. A melhor foi
Mamãe Coragem, tema de Caetano Veloso e Torquato Neto - gravado por Gal Costa - que funcionou como perfeito elo entre
Oito Anos (canção do primeiro álbum solo de Paula, letrada com as perguntas feitas por seu filho, Gabriel, na época com oito anos) e
Barcelona 16, o sensível tema do CD
SóNós em que a compositora relata as dores - comparadas a um segundo parto - de ver o filho trilhar o seu próprio caminho. Emocionada, a cantora chegou a se atrapalhar com a letra de
Oito Anos, depois de relatar sua emoção ao vê-la cantada por Adriana Partimpim na mesma Vivo Rio que abrigou seu primeiro vôo solo.
Sem perder sua veia pop, realçada em músicas como
Meu Amor se Mudou pra Lua, Paula soube explorar o palco com boas soluções cênicas. Como a que fez reviver
Grand' Hotel - uma das mais belas baladas do cancioneiro do Kid Abelha - sentada em cima do piano tocado por Caio Fonseca. Também funcionou bem chamar a banda para a beira do palco para formar uma rodinha e entoar
Nada por mim, em clima folk, quase de luau. Inserir o refrão de
Só Love, hit de Claudinho & Buchecha, no meio de
Saúde, sucesso de Rita Lee, foi outro achado - inclusive pela citação no arranjo do
batidão dos bailes funks que agitam o Rio de Janeiro. Surpreendeu o público...
As músicas mais densas do CD,
Tudo se Perdeu e
Glass, não foram reproduzidas no palco com a força e a beleza de suas gravações de estúdio. Em cena, funcionam melhor as canções de tom mais pop - caso da deliciosa
À Noite Sonhei Contigo, em que a artista tentou em vão convidar os casais para dançarem juntos. Contudo, Paula foi muito além desse universo pop nos sambas
E o Mundo Não se Acabou... - em que conseguiu reproduzir o ar maroto da gravação de Carmen Miranda - e
1.800 Colinas, em que a cantora ensaiou uns passos sensuais de samba. O arranjo quase
cool deste sucesso de Beth Carvalho resultou em grande momento do show, pois os tons suaves realçam a beleza da melodia e a melancolia dos versos lamentosos. Extraídos da memória afetiva da artista, como contou Paula em cena, os dois sambas são do primeiro CD solo da
abelha.
O show termina de forma meio inesperada - em anticlímax - após
Derretendo Satélites, outra música do primeiro disco individual da cantora. No bis, um megahit recente do Kid Abelha (
Nada Sei, somente ao piano, em leitura superior à do grupo),
Glass e
Fly me to the Moon, o clássico americano cuja inclusão, no disco de 1998 e no show, atesta a maturidade e a boa forma vocal da intérprete. Paula Toller não precisa de suas pernas para seduzir seu público...