13 de outubro de 2007

Boca Livre chega ao DVD preso ao passado...

Resenha de CD / DVD
Título: Boca Livre e ao Vivo
Artista: Boca Livre
Gravadora: MP,B
/ Universal Music
Cotação: * * *

(Quase) 30 anos depois de mostrar, de forma pioneira, a viabilidade comercial do mercado fonográfico independente, o grupo Boca Livre chega ao DVD preso ao passado. Ao seu passado e ao passado da música brasileira de sua geração. É claro que, por se tratar do primeiro DVD do ótimo quarteto vocal, Boca Livre e ao Vivo teria que reunir sucessos como Quem Tem a Viola, Bicicleta (turbinada com o exímio baixo de Marcelo Mariano) e Mistérios. Sem falar na emblemática Toada (Na Direção do Dia), cantada com adesão das vozes do MPB-4, em encontro pautado pelo afeto. Até aí tudo certo... A questão é que, exceto por um ou outro número, como o samba Eu no Futuro (de Lula Queiroga e Lulu Oliveira) e o cover de Al Otro Lado del Río (a música que deu um Oscar ao uruguaio Jorge Drexler), os vocais do Boca Livre parecem cristalizados, como se o grupo ainda estivesse na virada dos anos 70 para os 80. É claro que os arranjos dos hits foram renovados. É claro também que as vozes do quarteto soam harmoniosas como antes. Mas falta no DVD uma centelha de real novidade. Falta a capacidade de arriscar leituras para músicas de compositores mais contemporâneos - caso de Arnaldo Antunes, para citar somente um exemplo. Seja como for, o roteiro do show gravado em 3 de fevereiro de 2007 no Auditório Ibirapuera, em São Paulo (SP), reforça a identidade vocal e estética do grupo, que reitera especial predileção por temas bucólicos como Correnteza, Fazenda e Caxangá. Muitos são da lavra profícua de compositores mineiros. É o caso de Cruzada. A parceria de Tavinho Moura com Márcio Borges conta com a adesão da voz refinada de Renato Braz. Da mesma maneira, Fred Martins entoa Diana e o tímido Rodrigo Maranhão engrossa o coro de Feito Mistério. Dona de belo timbre destoante do time masculino, Roberta Sá marca boa presença em Desenredo, mostrando segurança ao interpretar os versos densos criados por Paulo César Pinheiro para a música de Dori Caymmi. Entre um registro protocolar de Panis et Circensis (reverente aos vocais originais desta parceria de Caetano Veloso e Gilbero Gil) e leitura para tema de contorno jazzístico (First Circle, parceria de Pat Metheny e Lyle Mays), o Boca Livre se junta à Caravana com respeito ao arranjo vocal original do tema de Geraldo Azevedo e Alceu Valença. A propósito, imagens antigas de shows divididos pelo Boca Livre com Geraldo e com o MPB-4, em 1981, constituem o maior atrativo do making of - em que os cantores recontam um pouco da história do quarteto vocal, entre elogiosas frases feitas ditas pelos convidados. Enfim, é o primeiro DVD e, como tal, este apresenta o usual tom retrospectivo de gravações do gênero. Mas seria salutar que o Boca se livrasse das amarras do passado - o seu e também o da MPB - para não ser engolido pela poeira do tempo.

Chega às lojas DVD dos Engenheiros do Hawaii

Com respeitável tiragem inicial de 15 mil cópias, o DVD Novos Horizontes, do grupo Engenheiros do Hawaii, está chegando às lojas - quase dois meses depois do CD homônimo. O vídeo foi dirigido por Roberto de Oliveira e o repertório é exatamente o mesmo do CD, contrariando a norma vigente do mercado de reservar algumas músicas exclusivamente para o DVD. Os extras incluem making of, entrevista com o líder Humberto Gessinger, galeria de fotos e alguns vídeos demos.

Novos Horizontes é o segundo projeto acústico consecutivo da banda gaúcha. Perpetua show gravado em 30 e 31 de maio na casa Citibank Hall, em São Paulo (SP). Além de os arranjos valorizarem instrumentos incomuns na cena pop, como a viola caipira, nove inéditas legais - com destaques para Vertical e No Meio de Tudo, Você - amenizam a inevitável redundância de registros do gênero.

'Cê' resulta sedutor em DVD que traz entrevista

Resenha de DVD
Título:
Artista: Caetano Veloso
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * *

" é lição para qualquer banda de rock brasileiro e até não brasileiro", exagera Caetano Veloso, ao comentar o fato de os arranjos não deixarem sua voz brigar com a fina massa sonora produzida pela banda que toca com o cantor neste projeto de ambiência roqueira. O depoimento envaidecido de Caetano está na entrevista de cerca de 31 minutos que vem nos extras do DVD que registra o show , bem captado em 12 de junho de 2007 no palco jovial da Fundição Progresso, no Rio de Janeiro. Entre (triviais) cenas de bastidores, o compositor comenta a similaridade da atmosfera de com a sonoridade de Transa (1972), um de seus discos mais cultuados - com direito a imagens (sem movimento) das gravações do álbum.

Já nas lojas, com tiragem inicial de 20 mil cópias, o DVD eterniza um trabalho que cresceu no palco. Emoldurado por belo cenário de Hélio Eichabuer, Caetano apresenta roteiro que, ao irregular repertório do disco original, adiciona músicas como Descobri que Sou um Anjo (de autoria de Jorge Ben Jor) e A Voz do Violão (do repertório de Francisco Alves) - dois números exclusivos do DVD. "Não são propriamente rocks, em sua maioria, mas são referências ao rock", situa o cantor na entrevista, a respeito das 14 músicas do disco, criadas com "tensão poética", como caracteriza o orgulhoso autor. Conceitos à parte, o show resulta sedutor em vídeo. Até porque a direção de Mauro Lima não procura ângulos e imagens limpinhas. Antes, busca a sujeira e a distorção que realçam a bela sonoridade ímpar do trabalho. Todo o mérito de está no som.

Jerry grava o primeiro DVD em clima acústico

Um dos cantores (eternamente) associados à Jovem Guarda, Jerry Adriani vai gravar seu primeiro DVD em show agendado para 24 de outubro, no Canecão (RJ). No usual formato acústico, o artista vai recordar os sucessos acumulados em seus 43 anos de carreira. Entre eles, Querida (com direito a cordas), Ninguém Poderá Julgar-me, Vivendo sem Você e Um Grande Amor. Sempre ligado à música italiana, o cantor incluiu no roteiro Torna a Surriento - um grande hit do gênero.

12 de outubro de 2007

Bonfá não guia o 'barco' além da Legião Urbana

Resenha de CD
Título: Mobile
Artista: Marcelo Bonfá
Gravadora: nenhuma
Cotação: * * 1/2

Tem sido difícil para Marcelo Bonfá sedimentar carreira solo sem sair da sombra da Legião Urbana - a banda lendária da qual foi baterista. A música do extinto grupo costuma ser (injustamente) atribuída no imaginário popular somente a Renato Russo (1960 - 1996) - o carismástico, atormentado e genial vocalista e principal compositor da Legião. Mas o fato é que Bonfá também contribuía para a criação da obra da banda. Isso fica muito claro com a audição de algumas faixas de Mobile, o terceiro CD solo de Bonfá, à venda somente na internet (http://www.marcelobonfa.com.br/). A batida clássica da Legião fica reconhecível logo aos acordes iniciais de De Onde os Sonhos Vêm e, sobretudo, de A Ponto de Partir. Só que não há os versos e tampouco a voz de Renato Russo. O disco até começa bem, com o tema instrumental que lhe dá nome, e também termina bem, com a balada Contando Estrelas. Entre uma faixa e outra, contudo, soa monocórdio e linear - até porque a voz de Bonfá nunca foi talhada para o canto. No todo, o álbum deixa a sensação desagradável de tempo perdido (numa alusão cruel ao homônimo grande sucesso da Legião). Sensação que persiste desde que o artista iniciou sua discografia individual em 2000 com o CD O Barco Além do Sol. Simplesmente porque, sozinho, Bonfá ainda não guiou seu barco muito além do legado da Legião Urbana. E não tem culpa por isso.

Livro demole mitos sobre obra musical do mago

Resenha de livro
Título: A Canção do Mago
- A Trajetória Musical de Paulo Coelho
Autor: Hérica Marmo
Editora: Futuro
Cotação: * * *

Na tarde de 19 de janeiro de 1982, Paulo Coelho estava em Viena, Áustria, onde escapou de ser soterrado por um bloco de gelo que desabara de uma marquise. Instantes depois, o letrista recebeu da mulher a notícia da morte de Elis Regina - cujo último sucesso, o bolero Me Deixas Louca, tinha os versos em português escritos por Paulo. Místico, o mago decidiu encerrar ali sua bela trajetória na música, iniciada dez anos antes, em 1972, ao receber ligação do então careta Raul Seixas, que se tornaria o seu parceiro mais reconhecido. Os passos dessa caminhada são reconstituídos pela jornalista Hérica Marmo no bom livro A Canção do Mago.

Escrita com objetividade jornalística, sem firulas, a narrativa de Marmo demole os mitos em torno da parceria de Paulo e Raul - mitológica por natureza e construída sob signos místicos. O livro mostra como, extrapolando sua função de letrista, Paulo também ajudou a criar o conceito dos melhores discos do Maluco Beleza, sobretudo o da seminal obra-prima Krig-ha, Bandolo! (1973). O mergulho nas drogas e as conseqüentes bad trips contribuiriam para diluir a criatividade da dupla - como evidenciou o fracasso do álbum Mata Virgem (1978) - e para provocar (sérias) crises como as vividas por Paulo em maio de 1974, quando, sofrendo de alucinações, ele admitiu para si mesmo que nunca acreditou nos ideais da Sociedade Alternativa que propagava ao lado de Raul e que largaria uma seita ligada ao mal. Dias depois, ao ser preso e barbaramente torturado por difundir os tais ideais da Sociedade Alternativa, ele prometeu a si mesmo que seus dias de loucura terminavam ali. E cumpriu sua palavra com rara determinação.

Saído do inferno das drogas, com tal determinação que Raul não teve ou não quis ter, Paulo se tornou atuante nos bastidores da indústria fonográfica. Contratado pela Phonogram (a companhia hoje incorporada à major Universal Music), ele ajudaria a criar o repertório e o marketing de artistas iniciantes como Fábio Jr. (que começou a cantar em português a partir de obscuro LP de 1976), Luiza Maria (cantora de postura pop que a gravadora tentou em vão emplacar no lugar de Rita Lee, que migrara para a Som Livre) e Sidney Magal. Documentar essa parte bem menos conhecida da trajetória musical do mago é um dos méritos do livro, cujo terno prefácio é de Roberto Menescal - o chefe de Paulo na Phonogram que acabou se tornando seu amigo. Depoimentos do próprio Paulo (colhidos pela autora em novembro de 2006 numa entrevista feita em Viena) abrem cada capítulo. A propósito, a edição da narrativa em cinco partes e 41 capítulos resulta às vezes confusa, sobretudo no início. Há capítulos que poderiam ser reunidos sem prejuízo da clareza da narrativa. Contudo, A Canção do Mago é livro bem-vindo que permite um maior entendimento da vida e da obra de um dos mais bem-sucedidos escritores brasileiros, cuja literatura esotérica tem as raízes fincadas em sua mítica produção musical.

Roberto não vai lançar CD de inéditas em 2007

E Roberto Carlos não vai mesmo lançar seu CD de inéditas este ano... Embora a gravadora Sony BMG ainda não esteja se pronunciando oficialmente sobre o assunto, já é certo na companhia que o lançamento anual do Rei em 2007 vai ser o CD e o DVD Roberto Carlos en Vivo - gravados em Miami (EUA), em maio. No repertório, o cantor (em foto de Luiz Garrido) entoa em castelhano sucessos como Emoções e Jesus Cristo.

Caixa compila a obra de Tiso como arranjador

A real importância do trabalho de Wagner Tiso como arranjador - sobretudo na MPB dos anos 70 - nunca foi devidamente avaliada e reconhecida, mas talvez fique mais clara com o lançamento, ainda em outubro, da caixa Da Sanfona à Sinfônica, que embala, em quatro CDs, 56 gravações originais orquestradas pelo maestro. Na seleção, há fonogramas de Milton Nascimento (Milagre dos Peixes e Caçador de mim, entre outros), Gal Costa (Só Louco), Elis Regina (Para Lennon & McCartney) e Djavan (Meu Bem Querer), além de registros menos conhecidos, como O Sonho (Egberto Gismonti), na gravação realizada em 1968 por Agostinho dos Santos. A caixa chega às lojas pela Universal Music, com patrocínio da Petrobrás.

11 de outubro de 2007

Trilha de Tropa de Elite vai sair em CD via EMI

Rápida no gatilho, a gravadora EMI Music pega sua carona na polêmica em torno de Tropa de Elite e vai lançar ainda em outubro o CD com a trilha do filme de José Padilha. O carro-chefe já é a música homônima do longa-metragem, gravada em 2000 pelo grupo Tihuana. Em sintonia com o som dos morros, a seleção é dominada por funk e rap. A propósito, o Rap das Armas aparece no disco em dois registros. Uma foi gravada com a bateria da escola de samba Acadêmicos da Rocinha. Para tentar combater a pirataria do CD, a gravadora inseriu na edição oficial miniposter, o trailler do filme e vale-ingresso que garante uma sessão gratuita do badalado longa.

Radiohead e o arco-íris de cores experimentais

Resenha de CD
Título: In Rainbows
Artista: Radiohead
Gravadora: nenhuma
Cotação: * * * 1/2

As batidas bem distorcidas e guitarras dissonantes da faixa 15 Steps - a primeira das dez músicas do sétimo álbum de estúdio do grupo Radiohead, disponibilizado para download desde quarta-feira, 10 de outubro, e à venda somente no site criado pela banda para comercializar o CD (http://www.inrainbows.com/) - já sinalizam que o quinteto de Thom Yorke segue em In Rainbows a difícil trilha experimental pavimentada com êxito em álbuns recentes como Kid A (2000) e Amnesiac (2001). A faixa seguinte, Bodysnatchers, não desfaz a impressão, em que pese a pegada roqueira, urdida com guitarras sujas. Contudo, há melodias no álbum - ainda que embaladas em produção que nem sempre realce as cores melódicas do arco-íris do Radiohead. É o que mostra Nude, boa balada de clima sombrio, cujo arranjo minimalista destaca o baixo de Colin Greewood. É o que mostra também All I Need, que exibe um romantismo soturno ao som de cordas, piano e sintetizadores. As duas faixas são belas.

Da primeira a última das dez músicas, a melancólica Videotape, os climas variam, mas a estranheza é a mesma. Ou quase. Às vezes, a experimentação lembra Kid A - como em Weird Fishes / Arpeggi, boa faixa que vai crescendo até explodir em clímax. Às vezes, não encontra paralelo na discografia do grupo - como em Reckoner. E os climas se sucedem. Faust Arp tem ambiência mais acústica e é exemplo de como, em se tratando de Radiohead, a produção pode aumentar ou diminuir o grau de beleza das músicas. É faixa etérea.

Enfim, In Rainbows já está no ar. Nas lojas propriamente ditas, o CD deverá chegar somente em 2008, por um selo ainda indefinido (a banda está sem gravadora). Por ora, o álbum do Radiohead tem chamado atenção pela inovação mercadológica, pois, ao solicitar seu download, o consumidor tem o direito de decidir o preço que vai pagar por ele. Inclusive o direito de não pagar pelo disco. Mais tarde, digerido com mais calma, o CD deverá ser posicionado com maior ou menor paixão na discografia da banda. É certo, contudo, que não se trata de álbum revolucionário como Ok Computer - a obra-prima lançada pelo Radiohead em 1997. Seria pedir demais!!

Reencontro de Titãs e Paralamas vira CD e DVD

O reencontro dos grupos Paralamas do Sucesso e Titãs na turnê 25 Anos Rock vai ser gravado ao vivo para gerar CD e DVD, ambos previstos para 2008. O registro do show deverá ser feito no Rio de Janeiro - última cidade agendada no cronograma inicial da turnê. A apresentação carioca já está programada para 26 de janeiro, em local ainda não confirmado. Os dois grupos - que aliás já dividiram o palco em 1992 e em 1999 - vão iniciar a série de shows em 27 de outubro, na casa Chevrolet Hall, em Belo Horizonte (MG). A turnê prevê ainda um show em Salvador (BA) - na Concha Acústica, em 11 de novembro - e outro em São Paulo (SP), na casa Via Funchal, em 24 de novembro. No palco, os oito músicos das duas bandas (em foto de Caroline Bittencourt) vão se misturar - em diferentes configurações - para trocar figurinhas. Herbert Vianna vai cantar Flores, dos Titãs. Já Paulo Miklos interpretará Óculos, um dos hits iniciais dos Paralamas. Por ora, já estão previstas as participações especiais de Marcelo Camelo (em Salvador e São Paulo), Arnaldo Antunes (em Belo Horizonte e em São Paulo), Carlinhos Brown (em Salvador), Dado Villa-Lobos (em Belo Horizonte) e Andreas Kisser (em São Paulo). A turnê 25 Anos Rock está sendo produzida pela Planmusic, com o patrocínio da Sky, e tem tudo para ser histórica.

Biscoito Fino justifica o DVD duplo de Bethânia

Diretora geral da boa gravadora Biscoito Fino, Kati Almeida Braga se manifestou, por e-mail, a respeito de um post, "Filmes sobre Bethânia caberiam em DVD único", de 6 de outubro. Braga explica a razão de ser duplo o DVD - e não simples, como questionava o post - que apresenta dois documentários sobre Maria Bethânia, Bethânia Bem de Perto (1966) e Pedrinha de Aruanda (2006). Eis a explicação (convincente) da diretora da gravadora, que já está vendendo o esperado vídeo:

"Permita-me umas notinhas sobre o DVD de Bethânia. Nossa intenção não foi multiplicar os pães .... Você está certo quando diz que os dois DVDs caberiam num só, mas decidimos fazer dois porque se tratava de dois filmes diferentes, feitos por dois grandes diretores brasileiros, e achamos deselegante colocar um como 'extra' do outro. Quanto a outros extras, não os colocamos porque não é um DVD de show, não tem making of ou coisa similar. São dois filmes que falam por si. E, para falar a verdade, ando pessoalmente cansada daqueles extras de DVDs, apesar de a Biscoito Fino algumas vezes ainda fazer... Mas estamos vendendo para os lojistas exatamente pelo mesmo preço que vendemos os DVDs simples - e acho que, para o consumidor, é mais prático ter os dois filmes já separados do que o trabalho de ir ao menu etc e tal. Bom, é só para você saber o que pensamos quando decidimos fazer assim".

Kati Almeida Braga

10 de outubro de 2007

Harper descarta clichês radiofônicos em Lifeline

Resenha de CD
Título: Lifeline
Artista: Ben Harper &
The Innocent Criminals
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * *

Já é bem provável que muitos brasileiros associem o nome de Ben Harper apenas à trivial canção Boa Sorte / Good Luck - composta e gravada por Harper com Vanessa da Mata. Contudo, se boa parte desse público guiado pelas paradas tiver sua atenção despertada pelo novo álbum do cantor, Lifeline, descobrirá um artista mais interessante. Harper descarta os clichês radiofônicos neste álbum gravado em Paris - durante apenas sete dias - com o auxílio sempre luxuoso da afiada banda The Innocent Criminals, que (merecidamente) divide os créditos do disco com o vocalista.

Harper vem de um pretensioso álbum duplo, Both Sides of the Gun, editado em 2006. Entretanto, não dá sinal de cansaço como compositor. Ao contrário. As 11 músicas inéditas do CD Lifeline estão entre as melhores já produzidas pelo artista - com destaque para Put It on me, grande tema em que Harper consegue cruzar a pulsação do blues com a pegada do funk à moda de James Brown. Aliás, o leque rítmico do álbum é muito aberto - como é praxe em se tratando de Harper. Ele transita por soul, blues, balada, rock e ainda reafirma sua total intimidade com o gospel (gênero a que já dedicou em 2004 sublime álbum dividido com o conjunto Blind Boys of Alabama). O gospel Needed You Tonight é um dos trunfos do repertório. Já a balada Younger than Today - arranjada com piano a la Coldplay - poderia muito bem tocar nas rádios se estas não estivessem dominadas pela banalidade evitada pelo artista em Lifeline. Como estão, a (boa sorte) é de quem comprar este disco.

'Shine', o novo de Mitchell, chega hoje ao Brasil

A gravadora Universal Music programou para esta quarta-feira, 10 de outubro, a tardia chegada às lojas do Brasil de Shine, o primeiro álbum de inéditas de Joni Mitchell (foto) em nove anos. Ainda uma das mais influentes compositoras do mundo da música, a artista canadense apresenta 10 novos temas no CD. Entre eles, One Week Last Summer, Hana, Bad Dreams, Night of the Iguana, If I Had a Heart e Big Yellow Taxi (2007). Todas as músicas de Shine foram compostas, arranjadas e produzidas pela própria Mitchell. A única exceção é If, cuja letra foi adaptada de original de Ruyard Kipling.

Danni ganha a chance de gravar 'Música Nova'

Com o (progressivo) enfraquecimento das vendas de seus discos de covers, Danni Carlos teve a ansiada chance de gravar canções inéditas de sua autoria. Por isso, o quinto álbum da cantora foi intitulado Música Nova. O nome foi extraído de uma das 13 canções do CD, que vai chegar às lojas ainda no mês de outubro pela Sony BMG. A faixa Coisas que Eu Sei foi a eleita para puxar o CD e já entrou na trilha sonora nacional da novela Duas Caras. Eis as 13 músicas novas do disco autoral de Danni Carlos, que não assina somente O seu Lugar - composta por Nando Reis para ela - e a citada Coisas que Eu Sei, de autoria de Dudu Falcão:

1. Música Nova
2. Gelo e Rocha
3. Cinema
4. Amor por mim
5. Ton Ton o Nando
6. O seu Lugar
7. Pisando em Marte
8. Arcanjo
9. Olhos de Serpente
10. Lobos
11. Coisas que Eu Sei
12. Doce Sal
13. Só Sucesso

Lyra e Melodia no drum'n bossa de Karla Sabah

Karla Sabah tem investido na fórmula já (bem) desgastada que turbina sucessos antigos da MPB e do pop nacional com previsíveis beats eletrônicos. Gravado em show no Teatro Rival (RJ), em 27 de abril de 2006, o DVD É com Esse que Eu Vou - Drum'n Bossa 2 está muito focado no repertório do segundo CD da artista no gênero. O roteiro concilia hits de Ultraje a Rigor (Eu me Amo), Titãs (Sonífera Ilha), Djavan (o samba Fato Consumado) e Jorge Ben Jor (Mas que Nada), entre outros. Nos extras, Carlos Lyra e Luiz Melodia comparecem nas regravações de suas respectivas músicas Lobo Bobo e Congênito. O DVD traz também os clipes de Reza e Corações Psicodélicos. Sai via LGK.

9 de outubro de 2007

Foo Fighters evoca os 70 em CD de menor peso

Resenha de CD
Título: Echoes, Silence, Patience & Grace
Artista: Foo Fighters
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * *

A experiência de ter gravado em 2006 um projeto acústico, Skin and Bones, reverbera no sexto CD de estúdio do Foo Fighters. Quem espera reencontrar aquela típica pegada inicial da banda de Dave Grohl vai ter que se contentar com algumas poucas faixas - casos de The Pretender (a cara do grupo...) e da metaleira Erase / Replace. No todo, Echoes, Silence, Patience & Grace é álbum de menor peso na discografia do Foo Fighters. Em todos os sentidos. Como se detecta em músicas como Summer's End, o grupo suavizou o seu som em CD que evoca o rock dos anos 70. A ponto de se permitir fechar o disco com tema (Home, de versos doloridos) gravado em clima de voz & piano. Parece outra banda.

Pautado pela diversidade, Echoes, Silence, Patience & Grace sintetiza com brilho os (muitos) caminhos já percorridos pelo Foo Fighters desde 1995. Mas pode decepcionar quem ansiava por um álbum de mais peso, no sentido musical. Sobretudo porque o bom trabalho marca a retomada da parceria do grupo com Gil Norton, produtor de um dos discos mais cultuados da banda, The Colour and the Shape (1997). Não, não há grande peso em faixas como Stranger Things Have Happened, arranjada com o violão em tom próximo do folk. Mas dez anos se passaram e, talvez, o mérito da banda de Dave Grohl seja o de nunca ter ficado parada no tempo.

New York Times comenta samba de Maria Rita

Com (breve) texto escrito em tom bem mais descritivo do que opinativo, Jon Pareles - o conceituado crítico do jornal New York Times - comentou a adesão de Maria Rita ao samba na edição do último domingo, 7 de outubro, do jornal mais influente dos Estados Unidos. Ao resenhar o álbum Samba Meu, já editado pela Warner Music nos EUA, Pareles destacou o toque suave dos arranjos e o tom casual com que Rita canta o samba que lhe foi apresentado por Leandro Sapucahy, produtor do álbum. Eis, no original, em inglês, o breve comentário de Pareles sobre o disco Samba Meu:

"Sooner or later every Brazilian pop singer comes to terms with the omnipresent, far-reaching tradition of samba. Maria Rita’s 'Samba Meu’ ('My Samba') (Warner Music Brazil) takes on a group of sambas with the lightest possible touch, using mostly unplugged instruments, easing in and out of jazz harmonies and singing in a casual tone that recognizes the longing in the songs but doesn’t get weighed down by it. Her voice enjoys a continual dialogue with the cuica, the Brazilian friction drum that regularly answers her with playful squeaks"Jon Pareles.

Radiolina de Chao transmite discurso repetitivo

Resenha de CD
Título: La Radiolina
Artista: Manu Chao
Gravadora: Warner Music
Cotação: * *

Em La Radiolina, primeiro CD de estúdio em longos seis anos, Manu Chao sintoniza a mesma estação politizada de álbuns anteriores com som e discurso globalizados que começam a dar forte sinal de desgaste. Musicalmente, a mistura de ritmos latinos - reggae, rumba e ska, sobretudo - com a linguagem do rock já soa menos efervescente.

La Radiolina transmite tristeza e desilusão em boa parte de suas 21 faixas - notadamente em Me Llaman Calle e Politik Kills (de tom quase soturno). O discurso contra George W. Bush feito ao fim do ska Tristeza Maleza já denuncia que o artista franco-espanhol está muito perto de soar panfletário. Em sintonia com o caráter global e miscigenado de sua música, Chao canta em inglês, em francês e em espanhol repertório irregular que transita por reggaes (Mundo Revés é um deles) e temas de pegada mais roqueira, como Rainin' in Paradize, faixa eleita o primeiro single, primeiro sinal de que a programação de La Radiolina não repetiria os áureos tempos do artista. Para fãs saudosos, aliás, a dica é sintonizar diretamente em El Hoyo, que, com sirenes e metais em brasa, dá razoável amostra do teor inflamado do som de Chao. Mas é hora de mudar o disco...

Jennifer volta a cantar em inglês no CD 'Brave'

Menos de sete meses depois de lançar álbum em espanhol, Como Ama una Mujer, a atriz e cantora Jennifer Lopez apresenta o CD Brave (capa acima), gravado em inglês e lançado mundialmente nesta terça-feira, 9 de outubro. O time de produtores é integrado por Swizz Beatz, o onipresente Timbaland, Cory Rooney, Jermaine Dupri, Ryan Tedder e Lynn & Wade LLP. Do It Well, música eleita o primeiro single, está disponível no disco no registro original e em remix assinado pelo rapper Ludacris. Eis as 13 faixas de Brave:

1. Stay Together
2. Forever
3. Hold It Don't Drop It
4. Do It Well
5. Gotta Be There
6. Never Gonna Give up

7. Mile in These Shoes
8. The Way It Is
9. Be Mine
10. I Need Love
11. Wrong When You're Gone
12. Brave
13. Do It Well (Remix de Ludacris)

8 de outubro de 2007

Queirogas fazem Elba soar interessante de novo


Resenha de CD
Título: Qual o Assunto
que Mais lhe Interessa?
Artista: Elba Ramalho
Gravadora: Ramax
/ Brazilmúsica!
Cotação: * * * * 1/2
Bem antenada, Elba Ramalho recicla raízes em grande CD de tom moderno e contemporâneo. Qual o Assunto que Mais lhe Interessa? - 25º disco solo da cantora, nas lojas este mês - é dos melhores da artista e corrige grave problema da pífia discografia de Elba nesta década: produção. Elba vinha sendo mal-produzida nos últimos anos. No atual álbum, Lula Queiroga - escalado para a função inicialmente pensada para Lenine, que precisou se afastar da produção por questões de agenda - consegue tornar o som de Elba novamente interessante. Lula recrutou o irmão - o baterista Tostão Queiroga - e o talentoso sobrinho, Yuri Queiroga, responsável pelas sutis programações eletrônicas que permeiam boa parte das 16 faixas. A (ótima) produção do trio valoriza repertório quase irretocável.
Já na faixa de abertura, a contagiante ciranda Gaiola da Saudade, fica perceptível o vigor que andou escasseando em CDs recentes da artista. Até mesmo uma música menor como Ave Anjos Angeli - lançada pelo autor Jorge Ben Jor em um álbum obscuro (Homo Sapiens, 1995) - cresce com a produção azeitada dos Queiroga, que turbinaram a faixa com os metais do grupo Trombonada, de Pernambuco. A propósito, a crescente espiritualidade da cantora salta aos ouvidos também em Novena (com intervenção do violão de nylon tocado pelo autor Geraldo Azevedo) e em Conceição dos Coqueiros. A gravação deste tema de Lula Queiroga, Lulu Oliveira e Alexandre Bicudo é instante sublime do álbum. Ao fim da letra, que retrata a procissão de Nossa Senhora da Conceição, Elba cita versos da Ave Maria ao som da harpa de Cristina Braga. É divino!
Elba soa contemporânea sem patinar em terreno modernoso. Não trai sua história e suas raízes na ânsia de parecer sintonizada com sons atuais. Ainda que estes estejam presentes, por exemplo, em Tempos Quase Modernos, a ácida parceria de Roberto Mendes e Capinam que retrata pluralidades e modernidades do caos social. O rap dito por Gabriel O Pensador está em perfeita sintonia com o espírito dos versos de Capinam - assim como a guitarra de Frejat está em harmonia com o arranjo. Da faixa, veio o título do álbum.
Aliás, o trio de produtores consegue dar unidade a um repertório que atravessa a fronteira estética do nordeste - embora o poético xote Noite Severina (gravado por Ney Matogrosso como o autor Pedro Luís no disco Vagabundo em 2004), Boi Cavalo de Tróia (a faixa de caráter mais assumidamente regionalista) e a singela A Natureza das Coisas (Accioly Neto) delimitem as felizes origens geográficas da leoa paraibana. Entre samba de formato tradicional (As Forças da Natureza, com gravação reverente ao registro feito por Clara Nunes em LP de 1977), pop urbano (Rua da Passagem - Trânsito, com as programações que evocam o congestionamento social proposto na letra da parceria de Arnaldo Antunes e Lenine) e balada romântica (Dois pra Sempre), Elba ainda encontro espaço para seguir o passo viajante da Dança das Borboletas, parceria de Alceu Valença e Zé Ramalho, e para dar tom quase etéreo a Argila (Carlinhos Brown) com o bandolim de Hamilton de Holanda. Luxo!
Qual o Assunto que Mais lhe Interessa? é um CD repleto de informação que reitera a pluralidade do canto já maduro de Elba Ramalho. Primeiro trabalho da cantora no mercado fonográfico indie, o álbum a repõe - enfim - entre as grandes vozes brasileiras.

Celine tenta outra chance no estilo de Aguilera

Tudo indica que, em seu décimo álbum de estúdio gravado em inglês, Taking Chances (capa acima), Celine Dion vai procurar se aproximar do estilo de cantoras como P!nk e Christina Aguilera. Haveria elementos de rap e de r & b entre as 16 faixas do álbum, cujo primeiro single é a música-título. A lista de colaboradores incluiria John Shanks, Linda Perry, RedZone, C. Trick Stewart, Ne-Yo (parceiro de Beyoncé no hit Irreplaceable) e Kara DioGuardi. Consta que até Timbaland estaria no time, mas a informação não é oficial. Skies of L.A. é uma das músicas do disco, cujo lançamento - nos Estados Unidos - já estaria programado para 13 de novembro.

Joanna retrata bom passado em Pintura Íntima


Resenha de CD / DVD
Título: Joanna em Pintura Íntima
Artista: Joanna
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * 1/2 (CD) e * * * (DVD)
Não foi somente o visual de Joanna que estava renovado quando ela subiu ao palco do Canecão - no primeiro semestre de 2006 - para estrear o show que, logo depois, seria intitulado Joanna em Pintura Íntima. O ânimo também parecia renovado. Havia uma garra que desaparecera dos registros fonográficos da artista. Já na seqüência, Joanna gravou o espetáculo em apresentação na casa Citibank Hall, em São Paulo (SP), em 1º de julho do ano passado. É esta gravação que está sendo editada em outubro em CD e em DVD distribuídos pela Universal Music. Já é o segundo registro de show consecutivo da cantora, mas a redundância é redimida pelo fôlego que faltou no apático Joanna ao Vivo em Portugal (de 2006).
Joanna retrata passado longínquo em Pintura Íntima. Só que a cantora se debate entre esse bom passado e um presente insosso, representado por músicas banais como Pra Começo de Conversa e pelo dueto virtual com o italiano Biagio Antonacci em Mensagem pra Você - a rigor, herança de recente álbum irregular (Eu Estou Bem, 2001). Já passa da hora de Joanna encarar o futuro e fazer um disco de inéditas. Contudo, a marcha-ré engatada em Pintura Íntima joga luz válida sobre seu honroso início de carreira. Não por acaso, três músicas do roteiro vem do álbum Chama (1981), o melhor da artista. Entre elas, a bela faixa-título (com introdução clonada do genial arranjo original do Wagner Tiso), Uma Canção de Amor e Mulher Marcada, surpresa do repertório. O lindo tema de Sueli Costa e Abel Silva é resquício de tempo em que Joanna se permitia soar mais densa. Espelho, de 1984, também é exemplo de fase em que a artista ainda não tinha adocicado e banalizado sua obra com o mel falsificado de hitmakers como Michael Sullivan, Paulo Massadas, Maurício Duboc e Carlos Colla - aliás, evocados (no bis) com a inevitável Amanhã Talvez e com Teu Caso Sou Eu.
Após cover dispensável do hit seminal do Kid Abelha que batiza o show, Joanna recorda Quarto de Hotel, número em que desce do palco e passa a cantar em roda aberta no meio da platéia. É neste bloco intimista que a cantora revive Descaminhos e Cicatrizes - músicas tristes e bonitas de seu primeiro disco, editado em 1979 - e que se apropria até com êxito de Desculpe o Auê, balada da fase tecnopop de Rita Lee e Roberto de Carvalho (é de disco de 1983).
Nos extras, há as cenas de coxia e momentos excluídos da edição final em Bastidores. Na Entrevista, concedida à beira da piscina, o tom é nostálgico - com lembranças do início da carreira, take de Espelho em programa de Chacrinha e exibição de fotos da infância e adolescência. Na falta de um presente mais alentado, talvez sem perspectiva para o futuro, Joanna continua presa ao seu passado.

KT Tunstall volta mais incisiva e menos 'bluesy'

Resenha de CD
Título: Drastic Fantastic
Artista: KT Tunstall
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * 1/2

A pose com a guitarra exposta na capa já traduz a atitude de KT Tunstall em seu segundo (bom) CD. Projetada em 2005 com Eye to the Telescope, álbum embebido numa atmosfera bluesy, a cantora e compositora escocesa volta à cena com um disco mais incisivo e menos bluesy. Não é um disco de rock, embora a faixa de abetura, Little Favours, tenha pegada roqueira. Com unidade estilística, mérito (talvez) do certeiro produtor Steve Osborne, a artista transita por folk (Paper Aeroplane), balada jazzy (Someday Soon) e até pop (I Don't Want You Now, faixa cujo título já dá amostra do caráter contundente, quase raivoso, das letras). Fãs que anseiam pela ambiência bluesy de Eye to the Telescope, um dos discos mais bem-sucedidos do ano passado, já devem começar a audição de Drastic Fantastic pela bela Beauty of Uncertainty. Além de pose, KT Tunstall parece fazer música de verdade. Ela não reinventa a roda, mas convence.

7 de outubro de 2007

Swami mergulha fundo na praia da composição

Resenha de CD
Título: Outra Praia
Artista: Swami Jr.
Gravadora: Chita Discos
Cotação: * * *

Swami Jr. é grande craque do violão e também da produção de discos. Outra Praia é seu primeiro CD solo de canções autorais. Se não chega a apresentar um compositor especialmente original ou genial, o álbum mantém o alto padrão harmônico das produções de Swami Jr. - com arranjos pautados pela delicadeza. A começar pela bossa Dois, cantada por Luciana Alves. Ciente dos limites vocais, o artista recrutou time numeroso de convidados. A voz de Chico César é ouvida na faixa-título. Zélia Duncan enobrece a toada Desamparinho, pontuada pelo leve acordeom de Toninho Ferraguti. O tema - letrado pelo poeta português Tiago Torres da Silva - exibe a densidade que permeia boa parte do repertório - a exemplo de Livrai-me, bela canção entoada por Vanessa da Mata, parceira de Swami na música. Entre sambas de inspiração maior (Bom Dia, com vozes, efeitos, apitos e percussão corporal a cargo de Marcelo Pretto) ou menor (O Tempo de um Samba, na voz de Luciana Alves, recorrente em Fim do Ano e Sul), Swami mergulha fundo na arte da composição. E, com o auxílio luxuoso de exímios colegas como o violonista Chico Pinheiro, ele não morre na praia.

Jorge afirma fé no samba da melhor qualidade

Resenha de CD
Título: Amigo de Fé
Artista: Cláudio Jorge
Gravadora: Zambo Discos
Cotação: * * * *

Amigo de Fé - o primeiro CD solo de Cláudio Jorge desde 2001 - é coisa de chefe. Saúda a amizade e o afeto com samba da melhor qualidade. Por um capricho do insano mundo do disco, Jorge ainda não tem grande projeção fora dos redutos do samba. Mas Amigo de Fé reitera o que gente bamba já sabe: ele está na linha de frente do samba, ou melhor, da música brasileira, pois o repertório do álbum concilia ijexá (Estrelinha e Conchinha), bossa (Laços no Tempo), cantiga (Esboço, com os versos do poeta Manuel Rui, de Angola) e até um Lundu de Cantigas Vagas, de belo toque ruralista dado pela viola caipira de Marco Pereira. Em que pese essa pluralidade rítmica do CD, Jorge reafirma sua fé no melhor samba. Que pode vir na forma de partidos de altíssimo quilate (Devagar com o Andor e Sambista Partidário), samba-enredo (O Independente, parceria antiga com Sidney Miller, gravada por Jorge em dueto com seu filho, Gabriel Versiani, a quem o samba foi dedicado no nascimento) ou cheio de síncopas malandras (Traz um Presente pra mim?). Tudo composto e gravado com rigoroso padrão de excelência. Compatível - aliás - com os nomes listados na ficha técnica. Entre eles, Nei Lopes, Luiz Carlos da Vila (co-autor do belo Parceiros e Amigos), Wilson das Neves e Martinho da Vila, parceiro de Alô Noel! - samba unido em pot-pourri temático com Sou da Vila, Não Tem Jeito. Enfim, um grande disco, valioso como a amizade. Ponha fé em Cláudio Jorge.

Takai masteriza CD solo em tributo a Nara Leão

Já está em fase final de masterização, num estúdio de São Paulo (SP), o primeiro CD solo de Fernanda Takai (à direita em foto de Nino Andrés). Pelo cronograma inicial, o álbum em que a vocalista do grupo Pato Fu canta o repertório de Nara Leão (1942 - 1989) - com a direção musical de Nelson Motta, idealizador do projeto - chegará às lojas em novembro. No repertório, urdido com arranjos de John Ulhoa (guitarrista do Pato Fu) e Lulu Camargo, há músicas como Insensatez (com a guitarra de Roberto Menescal, grande amigo de Nara) e Odeon (choro de Ernesto Nazareth). Extrapolando a Bossa Nova, Fernanda Takai selecionou composições de Chico Buarque e da dupla Roberto e Erasmo Carlos gravadas pela saudosa cantora.

Alcione, Beth e a originalidade do estilo de Clara

Alcione reacendeu no programa Sem Censura da última terça-feira, 2 de outubro, a polêmica em torno da originalidade do estilo de Clara Nunes - discussão quente despertada pela recém-lançada biografia de Clara (em foto de Wilton Montenegro), Guerreira da Utopia, escrita pelo jornalista Vagner Fernandes. Em sincero e raivoso depoimento ao autor do (excelente) livro, Beth Carvalho reivindica a primazia de ter gravado samba antes de Clara e acusa a colega de ter copiado um figurino e um cabelo que teriam sido criados para Beth por Zuzu Angel e Silvinho. No Sem Censura, do qual Vagner era um dos entrevistados, Alcione entrou na briga e defendeu Clara das acusações de Beth e disse, marota, que ia dar "pulserinha chamada desconfiômetro" para a colega, ressaltando que tanto o repertório de Beth como o de Clara são "inatacáveis".

A briga é inútil nessa altura do campeonato. Uma vez procurada pelo autor da biografia, Beth está no seu direito de contar a sua verdade. Contudo, a tese da cópia do estilo - defendida por Beth no livro sem provas concretas - mais parece um sintoma de seu ressentimento pelo fato de Clara ter feito sucesso com o samba antes dela. No livro, Beth argumenta que já gravara samba no LP Andança, de 1969. Data por data, Clara fez relativo sucesso em 1968 com Você Passa Eu Acho Graça, samba de Carlos Imperial que, malandro, forjou uma parceria com Ataulfo Alves na música para obter mais credibilidade no gênero. Por outro lado, Beth tem razão quando ressalta que Clara somente ficaria íntima do samba com o tempo. Aliás, uma das grandes contribuições da biografia de Vagner Fernandes é mostrar como a imagem de sambista com visual afro-brasileiro - adotada por Clara a partir de 1971, ano em que estourou com o hit Ê Baiana - foi pré-concebida por Adelzon Alves, radialista que assumiu a função de produtor dos primeiros discos de samba da cantora. Clara não estava dando certo no Rio de Janeiro. Tentou em vão emplacar com boleros, flertar com a Jovem Guarda e despontar como intérprete de festivais. Diante do fracasso de tudo, o samba lhe foi apresentado como uma tábua de salvação. Quase um golpe de marketing - se já existisse o termo na época. Mas, por conta disso, Beth ficou sem espaço na gravadora Odeon para cantar samba e teve que se transferir para a Tapecar.

Marketing à parte, Clara Nunes abraçou e amou verdadeiramente o samba e, de 1971 em diante, construiu discografia nobre. Beth, que somente gravaria seu primeiro LP de samba em 1973, seguiu a mesma trilha com igual nobreza. Como referência para o samba, a discografia de Beth nos anos 70 e 80 é tão ou mais importante do que a de Clara - até porque Clara, a partir de sua união com Paulo César Pinheiro, em 1976, abriria o leque estético de seus discos, priorizando o samba, só que transitando cada vez mais por outros ritmos brasileiros. Enfim, as duas cantoras têm lugar de honra na história da música brasileira. A rivalidade existiu - e a biografia de Clara cumpre sua função histórica ao relatar a real existência das desavenças entre as cantoras - mas a discussão não altera o status nobre das duas artistas de rara grandeza, cujas obras são imortais.