Resenha de gravação de CD / DVDTítulo: Um Barzinho, Um Violão - Novela 70Artistas: Celso Fonseca, Diogo Nogueira, Dudu Nobre, Fernanda Takai, Herbert Vianna, Isabela Taviani, Lobão, Marjorie Estiano, Moinho, Paula Toller, Pedro Mariano, Tunai e Zélia Duncan Local: Morro da Urca (RJ)Data: 13 de maio de 2008Cotação: * * * 1/2Bem mais ágil do que a primeira, e com resultado artístico mais apurado, a segunda noite de gravação do CD e DVD Um Barzinho, um Violão - Novela 70 apresentou 14 cantores no palco armado no espaço de shows do Morro da Urca, um dos cartões postais mais lindos do Rio de Janeiro, embora dissociado do conceito de um projeto que visa reviver músicas projetadas em trilhas de novelas exibidas pela Rede Globo nos anos 70. Um dos destaques da segunda noite foi Paula Toller. Acompanhada por violões tocados por Celso Fonseca e Coringa, a abelha rainha encantou com leitura classuda e sóbria de Sonhos (Sem Lenço, Sem Documento, 1977), obra-prima do cancioneiro popular que deu impulso à carreira de Peninha. Caetano não faria melhor...
Sobraram em Paula Toller a segurança e a concentração que faltaram a Diogo Nogueira, responsável pelo momento constrangedor da noite. Desatento, o filho de João Nogueira errou numerosas vezes a letra de Você Abusou (O Primeiro Amor, 1971) - mesmo acompanhando pelo teleprompter os versos do maior sucesso da dupla Antonio Carlos e Jocafi. "Desculpa, gente...", pediu Diogo várias vezes. Seu registro certamente deverá ser bastante retocado em estúdio, já que, a rigor, nenhum take ficou no nível dos gravados pelos demais participantes do projeto.
Antes de Diogo Nogueira, Isabella Taviani se atrapalhou três vezes com a letra de Um Jeito Estúpido de te Amar (O Astro, 1977), mas deu a volta por cima e foi um dos destaques da noite. Gravada por Roberto Carlos em 1976 e já no ano seguinte por Maria Bethânia, a música de Isolda e Milton Carlos é perfeita para o canto exacerbado de Taviani. E ela acertou ao alternar tons suaves com outros mais intensos. Além do mais, justiça seja feita, sua emissão vocal começa a adquirir mais personalidade e a se distanciar do estilo de Ana Carolina. Ponto para a intensa Taviani.
Grande intérprete, Zélia Duncan não cumpriu, desta vez, a alta expectativa (era uma das presenças mais aguardadas pela platéia de convidados) ao recordar Paralelas (Duas Vidas, 1976). Em registro correto e quase linear, Duncan não explorou todas as possibilidades da música de Belchior. Já o grupo Moinho se sentiu em casa ao apresentar Meu Pai Oxalá (O Bem Amado, 1973) pela proximidade com o universo do samba afro-baiano. Por sua vez, Marjorie Estiano - que entrou e saiu do palco cercada de seguranças, com aparato digno de popstar - deu novas nuances a Broto Legal (Estúpido Cupido, 1976), evocando a sonoridade de seu segundo (razoável) álbum, Flores, Amores e Blábláblá.
Presença cada vez mais assídua em shows e projetos alheios, Fernanda Takai surpreendeu ao se acompanhar toscamente ao violão para cantar Pavão Mysteriozo (Saramandaia, 1976) em arranjo que também aglutinou o acordeom tocado por Arthur de Faria. Talvez intimidada pela presença na platéia de Ednardo, autor da música, Takai não chegou a alçar vôo na asa do Pavão, sinalizando que muito do êxito de seu festejado trabalho solo se deve aos barulhinhos bons criados por John Ulhoa e Lulu Camargo. Sem eles, a voz graciosa de Takai fica (bem) minimizada.
Vivaz como sempre, Dudu Nobre trouxe Malandragem Dela (O Espigão, 1974) para o universo do partido alto e obteve boa resposta do público, que marcou na palma da mão o ritmo do samba de Tom e Dito. Já Lobão, que já parece encarnar um personagem, botou a platéia para cantar o refrão de Como Vovó Já Dizia (O Rebu, 1974), improvisando versos para o tema malandro de Raul Seixas (1945 - 1989) e Paulo Coelho. Foi o momento roqueiro da noite. Pedro Mariano, intérprete de Beijo Partido (Pecado Capital, 1975), não obteve receptividade calorosa da platéia. Defendeu bem a música de Toninho Horta - gravada por Nana Caymmi em registro definitivo - mas era tanto o burburinho e a conversa paralela nas mesas que o diretor musical do projeto, Guto Graça Mello, chamou a atenção do público, que, então, escutou o segundo take de Mariano em respeitoso silêncio.
Após Tunai, que cantou Nuvem Passageira (O Casarão, 1976) no tom informal e descontraído dos barzinhos, Margareth Menezes fechou a noite com releitura mais melódica de Filho da Bahia (Gabriela, 1975), samba de roda inadequado para o espírito mais aconchegante do projeto. Com mais acertos do que erros, a gravação da terça-feira, 13 de maio de 2008, resultou até interessante, redimiu o projeto e deixou a sensação de que pode originar bons CD e DVD. O bar dos teletemas tem lá o seu charme...