27 de setembro de 2008

Mart'nália curte madrugada em estado de graça

Resenha de show
Título: Madrugada
Artista: Mart'nália
Local: Vivo Rio (RJ)
Data: 26 de setembro de 2008
Cotação: * * * * *

Era para Mart'nália ter deixado o palco da casa Vivo Rio - onde estreou a turnê nacional do show Madrugada na noite de 26 de setembro de 2008 - ao som de Vai Passar, o samba-enredo de Chico Buarque e Francis Hime. Era o bis do show. Mas as cortinas se fecharam e o público, que lotou a casa, não arredou pé. Diante dos pedidos inflamados por um segundo bis, a cantora teve que voltar à cena e improvisou Pra Mart'nália e Chega, dois sambas acompanhados em coro pela platéia. "Vou encher a cara", avisou a cantora, com a habitual espontaneidade, feliz pela consagração obtida em seu primeiro (belo) show solo em casa de grande porte.
O fato é que Madrugada, o show, é uma celebração do momento feliz vivido por Mart'nália. Em cena, emoldurada por um cenário que traduz o tom carioca do disco homônimo, ela se mostra em estado de graça. E tão contagiante é a alegria do show que seus pequenos defeitos (como a dicção ainda deficiente da artista em números como ) se tornam insignificantes. Don't Worry, Be Happy - parece dizer Mart'nália a todo momento e não somente quando canta a sua desencanada versão do tema de Bob McFerrin, feita logo na abertura do show (antes de Cabide) e repetida no bis.
Com figurino que realça seu tom informal, a intérprete djavaneia no início do show - em músicas como Alívio e Pára Comigo -para depois cair no sambalanço que pontua o repertório do CD Madrugada. Como no disco, a seqüência com Tava por Aí, Deu Ruim e Ela É a Minha Cara resulta irresistível no palco. É um repertório delicioso através do qual Mart'nália, assumidíssima, faz ode a mulher. E, dentro desse espírito, a maior surpresa do roteiro foi Garota Porongondon, tema pouco badalado da parceria de Vinicius de Moraes (1913 - 1980) com Baden Powell (1937 - 2000). Mais tarde, a artista recorreria novamente ao cancioneiro do Poetinha em Mulher, Sempre Mulher (samba de Vinicius com Tom Jobim) e em A Tonga da Mironga do Kabuletê, parceria de Vinicius com Toquinho que ganhou ginga toda especial na sua voz.
Com desenvoltura, Mart'nália alterna-se entre o pandeiro (como em Pretinhosidade) e o tosco violão, como em Pé do meu Samba, saudada em cena como "a música da sorte" por ter sido o hit do disco homônimo de 2002 que projetou a filha de Martinho da Vila. Os 70 anos do pai, a propósito, são festejados com a inclusão de Mulheres e Beija, me Beija, me Beija no roteiro alto astral. Marota, Mart'nália simula sotaque português ao apresentar Angola, samba pelo palco em Sai Dessa e expõe o gosto pela boemia em Amanhã Eu Não Vou Trabalhar, de Alexandre Grooves, antes de sair de cena. O clima é de leveza e de uma descontração que confirmam o momento especialmente feliz de Mart'nália em Madrugada. O show reedita o alto astral do disco.

Bom filme documenta o reinado alegre de Celia

Resenha de filme
Título: Celia, a Rainha
(Celia, The Queen
- EUA, 2008)
Direção: Joe Cardona
e Mario de Verona
Cotação: * * * 1/2
Em exibição no Festival
do Rio 2008:
Mostra Midnight Songs
Domingo, 28 de setembro:
* Estação Vivo Gávea,

às 15h50m e às 22h20m.
Domingo, 5 de outubro:
* Estação Barra Point 1,
às 18h.

"Azúcar!", brada Celia Cruz (1923 - 2003), evocando seu grito de guerra na primeira imagem do documentário Celia, a Rainha. Lançado nos Estados Unidos neste ano de 2008, o filme está em exibição no Brasil dentro da mostra Midnight Songs, do Festival do Rio 2008. Mesmo não escapando da armadilha de expor visão idealizada da cantora cubana, o documentário é interessante e reconstitui os principais passos da trajetória da rainha da salsa. Entre depoimentos de fãs comuns e entrevistas com artistas como David Byrne e Quincy Jones, o filme mostra como o legado de Celia Cruz se expandiu pelo mundo, chegando a países distantes da cultura latina como o Japão. Das primeiras gravações com a banda La Sonora Mantancera (feitas em 1951) aos álbuns feitos com o grupo The Fania All-Stars, Celia foi ganhando terreno com sua voz vivaz e seu aguçado senso rítmico. Sem expor a intimidade da rainha, o documentário relata brevemente a bela história de amor que uniu Celia a Pedro Knight (1921 - 2007) entre preciosas imagens de arquivo que flagram a artista em cena - caso do número de televisão em que a cantora entoa, em espanhol, Usted Abusó, música tida como salsa no mercado hispânico, mas que, na verdade, trata-se da brasileiríssima canção Você Abusou, gravada pelo duo Antonio Carlos & Jocafi em 1971.

Em seu reinado pontuado pela alegria, Celia Cruz nunca escondeu a mágoa de jamais ter podido voltar a Cuba - o país natal que deixou em julho de 1960 para fugir do regime totalitarista implantando por Fidel Castro - mesmo depois de ter exportado a música de sua terra para os quatro cantos do mundo. Inicialmente acolhida no México, Celia encontraria abrigo mais duradouro em Nova York (EUA). Foi quando viveu momentos importantes na carreira ao gravar com o percussionista Tito Puente e ao se ligar musicalmente a Johnny Pacheco, o líder do grupo Fania All-Stars. Com o grupo, a propósito, Celia é vista no filme em ação no Zaire, África, cantando Guantanamera em apresentação de 1974. Show!

O documentário mostra como a morte da rainha, em 16 de julho de 2003, deixou inconsoláveis súditos de origens tão diversas. Parece persistir no transformista que encarna Celia no cabaré Azúcar!, na Flórida (EUA), a mesma devoção que transparece no depoimento emocionado do estilista Narciso Rodriguez, criador de alguns vestidos usados pela diva cubana em eventos e premiações importantes. É essa admiração resistente - alardeada com sinceridade perceptível nos depoimentos de nomes como Gloria Estefan e o rapper Wyclef Jean - que faz de Celia, a Rainha um documento valioso da perenidade da obra da artista. Sem falar na alegria genuína que explode na tela quando Celia Cruz está em cena, afirmando a felicidade de seu reinado. Azúcar, Celia!

Sepultura lança 'A-LEX' em novembro com Jean

Primeiro álbum do grupo mineiro Sepultura com o baterista Jean Dolabella, recrutado para substituir Iggor Cavalera, A-LEX - o título é uma expressão em russo que significa "sem lei" - tem lançamento agendado para novembro pelo independente selo alemão SPV. Baseado em Laranja Mecânica, o livro editado por Anthony Burgess em 1962 que inspirou o filme homônimo lançado pelo diretor Stanley Kubrick em 1971, A-LEX foi gravado em meados de 2008 nos estúdios da Trama, em São Paulo (SP). Eis as 18 faixas do disco, cujo repertório é dividido em quatro blocos:

1. A-LEX I
2. Moloko Mesto
3. Filthy Rot
4. We've Lost You
5. What I Do!

6. A-LEX II
7. The Treatment
8. Metamorphosis
9. Sadistic Values
10. Forceful Behavior
11. Conform

12. A-LEX III
13. The Experiment
14. Strike
15. Enough Said
16. Ludwig Van

17. A-LEX IV
18.Paradox

Mesmo adultos, New Kids ainda soam artificiais

Resenha de CD
Título: The Block
Artista: New Kids
on the Block
Gravadora: Arsenal Music
/ Universal Music
Cotação: * 1 /2
Quando as múltiplas boybands mandavam no pedaço, bem na virada dos anos 80 para os 90, os New Kids on the Block fizeram a festa adolescente com sucessos como Step by Step. Até aí nada demais. A indústria fonográfica sempre fabricou cantores e grupos rentáveis. E o New Kids on the Block era somente mais uma peça na engrenagem. Tanto que em 1994, já com baixa cotação no mercado, o grupo se dissolveu. Os garotos viraram homens e eis que, 14 anos depois, estão de volta com The Block, álbum de estúdio em que testam sons mais adultos sem que deixem de soar artificiais como na primeira fase da carreira. O que se ouve em The Block é um pop insosso misturado com elementos de r & b e rap. Até mesmo a extensa lista de convidados - o rapper Akon (Put It on my Tab), a banda The Pussycat Dolls (Grown Man), o grupo New Edition (Full Service) e Ne-Yo (Single) - parece sinalizar que The Block é mais um disco na incessante linha de montagem da fábrica de sucessos.

26 de setembro de 2008

Bethânia remonta 'Brasileirinho' em noite nobre

Resenha de show
Título: Brasileirinho
Artista: Maria Bethânia
Local: Theatro Municipal do Rio de Janeiro (RJ)
Data: 25 de setembro de 2008
Cotação: * * * *

Um dos melhores títulos da discografia de Maria Bethânia, Brasileirinho (2003) gerou show comovente na explicitação de um amor por um Brasil mais grandioso. Da mesma forma que posteriormente mergulharia em águas profundas nos CDs Mar de Sophia e Pirata, ambos editados em 2006, a intérprete se embrenhou nas matas brasileiras para exaltar uma pátria cheia de religiosidade e referências indígenas. Brasileirinho, o show, foi tão especial no currículo de Bethânia e na memória afetiva de seus fãs que sua remontagem para uma apresentação beneficente no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (RJ), na noite de 25 de setembro de 2008, promoveu grande corrida por ingressos. Em noite nobre, tanto pela causa (angariar fundos para a construção do Hospital Pro Criança, da ONG Pro Criança Cardíaca) como pelo fato de marcar a tardia estréia solo de Bethânia no palco do mais imponente teatro carioca, Brasileirinho voltou à cena com figurinos e roteiro similares ao espetáculo gravado para edição em DVD. O time de convidados contou com Miúcha e o grupo Tira Poeira (merecidamente ovacionado pela platéia ao desbravar novos caminhos para o Trenzinho do Caipira), mas não teve Nana Caymmi (ainda em recesso por conta da morte de seus pais), o grupo Uakti e a atriz Denise Stoklos, substituída por Renata Sorrah, que recitou texto de Mário de Andrade, O Poeta Come Amendoim, em registro excessivamente suave que diluiu a força das idéias do autor. Grande atriz, Sorrah poderia ter rendido mais.
Prejudicada pela falta de sincronia do vídeo de abertura (em que Ferreira Gullar recita o poema O Descobrimento, de Mário de Andrade), Bethânia entrou no palco exibindo seu bissexto falsete em Salve as Folhas. E o que se viu em cena foi, mais uma vez, uma intérprete dona do dom e de personalidade majestosa que, fiel a si mesma, cantou a Cabocla Jurema (em dueto com Miúcha, em momento sempre especial), exaltou a beleza do Luar do Sertão com sua alma interiorana e expôs sua fé em bloco pontuado pelo sincretismo religioso que caracteriza o Brasil (com Padroeiro do Brasil, Santo Antônio e um ponto de Xangô, prenúncio da festiva São João Xangô Menino). Sem poder contar com o auxílio luxuoso da voz de Nana Caymmi, Bethânia solou João Valentão e Sussuarana antes de saudar o Senhor da Floresta e suas origens em Motriz. Driblando a insegurança com a letra de Purificar o Subaé, outra referência à baiana cidade natal de Santo Amaro da Purificação, a intérprete cantou Titãs (Miséria e Comida) e sairia do palco ao som da libertária Não Existe Pecado ao Sul do Equador se um segundo bis - com O que É O que É, samba de Gonzaguinha plenamente justificado num show remontado em favor da vida - não tivesse fechado em clima festivo uma noite tão nobre quanto histórica. Porque Brasileirinho continua sublime!

'Maga' suaviza seu canto em bom disco de MPB

Resenha de CD
Título: Naturalmente
Artista: Margareth
Menezes
Gravadora: MZA Music
Cotação: * * *

Deslocada do eixo afro-baiano pelo produtor Marco Mazzola, Margareth Menezes abaixa o tom e a temperatura de seu canto em álbum pautado pela MPB mais tradicional. Naturalmente supera Pra Você, o CD de 2005 em que a cantora se aventurou de forma equivocada pelo universo pop. Trata-se de bom disco de MPB que, embora dilua a força do canto de Maga, expande o horizonte estético da cantora. Em registros suaves, pontuados pelos teclados padronizados do arranjador Ricardo Leão, a cantora incursiona tanto por samba propagado por Jorge Aragão (Abuso de Poder) quanto por hit de Amelinha (Foi Deus Quem Fez Você, imbatível na versão da sumida intérprete cearense). A propósito, os arranjos é que nem sempre fazem jus ao canto caloroso de Margareth. Nesse ponto, Naturalmente carece de identidade. A impressão é a de que se ouve um disco de Simone ou de qualquer cantora de MPB que tenha passado pelo filtro de Mazzola - mas, justiça seja feita, sem o tom pasteurizado dos anos 80. Quanto ao repertório em si, o saldo é positivo. Vale destacar as composições de Chico César e Zeca Baleiro. Embalada por cordas excessivas, a canção de Chico César - Por que Você Não Vem Morar Comigo?, lançada pelo autor no álbum De Uns Tempos pra Cá (2006) - reafirma a habilidade do compositor de pisar no terreno da música popular romântica sem escorregar na breguice. Em grande forma como compositor, Zeca Baleiro contribui com a pegajosa Febre, parceria com Lúcia Santos que tem todo jeito de hit. Talvez até mais do que a bacana releitura de Os Cegos do Castelo, sucesso dos Titãs, escolhido pela MZA Music para promover o disco. Já o dueto com Gilberto Gil em Mulher de Coronel soaria mais forte se a música - lançada por Gil em 1989 - fosse mais inspirada. Da mesma forma, Lua no Mar, parceria da cantora com Robson Costa, indica que Margareth deveria se dedicar somente ao ofício de cantora. É a sua grande habilidade como cantora que valoriza Gente - inédita parceria de Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Pepeu Gomes que evoca o estilo habitualmente festivo de sua discografia - e O Perdão, parceria de J. Velloso com Roberto Mendes. Sem falar em Matança, galope de Jatobá, boa sacada do repertório. Por fim, há insosso dueto com o cantor e compositor português Luís Represas - provavelmente empurrado por Mazzola - em Um Caso a Mais que nada acrescenta ao disco. Mesmo com alguns acidentes de percusso motivados por arranjos e algumas escolhas equivocadas, Naturalmente deixa boa impressão e a certeza de que Margareth Menezes pode se sair muito bem além da fronteira afro-pop-baiana com sua voz quente.

Labiata desabrocha com arranjos contundentes

Resenha de CD
Título: Labiata
Artista: Lenine
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * *

Sexto trabalho solo de Lenine, Labiata é o primeiro disco de estúdio do artista desde 2002. Por mais que a safra autoral de onze inéditas não reedite o brilho dos anteriores O Dia em que Faremos Contato (1997, ainda imbatível), Na Pressão (1999) e Falange Canibal (2002), Labiata é álbum que desabrocha com contundência. Seja pela abordagem de temas explosivos como os problemas ambientais (A Mancha e É Fogo, parcerias com Lula Queiroga e Carlos Rennó, respectivamente, que contam com a camada percussiva da Parede), seja pela força dos arranjos. Mais do que nas músicas, toda a força de Labiata reside nas orquestrações e na produção dividida pelo guitarrista Jr. Tostoi com o próprio Lenine. A propósito, temas como Magra (menos inspirada parceria com Ivan Santos) são turbinados com efeitos, programações e a guitarra de Tostoi. A contundência dos arranjos já se faz notar logo na primeira música de Labiata, Martelo Bigorna, urdida a partir da pulsação entre a viola e os violinos do Quinteto da Paraíba, convidado da faixa. Entre balada moldada para FMs e trilhas de novelas (É o que me Interessa) e temas de atmosfera mais roqueira (O Céu É Muito e Excesso Exceto, boas parcerias com Arnaldo Antunes, sobretudo a primeira), Lenine globaliza o seu Nordeste em Ciranda Praieira, introduzida com a textura erudita do Quinteto da Paraíba em belo arranjo que, na seqüência, incorpora guitarras e dubs que valorizam a música letrada por Paulo César Pinheiro. Se a badalada parceria póstuma com Chico Science (Samba e Leveza, feita a partir de manuscritos do conterrâneo mentor do movimento Mangue Beat) não justifica a alta expectativa, Continuação fecha o disco em clima familiar. Lenine canta com os filhos esta música que soa quase como um mantra. Jr. Tostoi programa sons e ruídos que parecem extraídos do âmago, em belo efeito. Enfim, Labiata é bom disco, embora nunca esteja à altura da (excelente) discografia anterior de Lenine.

Química de Beck com Mouse gera um bom CD

Resenha de CD
Título: Modern Guilt
Artista: Beck
Gravadora: Arsenal Music
/ Universal Music
Cotação: * * * 1/2

Artista de discografia pautada por sua natureza camaleônica, Beck atira para vários lados - com surpreendente unidade - neste álbum bem produzido por Danger Mouse, a metade mais incensada da dupla Gnarls Barkley. Que ninguém espere que Modern Guilt tenha o mesmo peso de Odelay (1996) ou a efervescência black de Midnite Vultures (1999). A rigor, há um pouco de tudo neste álbum em que Beck parece sintetizar sua discografia. Se Youthless mira as pistas, Soul of a Man é flerte com rock enquanto Volcano remete ao folk. A propósito, em que pesem seus contemporâneos efeitos eletrônicos, Modern Guilt volta e meia evoca os anos 60. Sobretudo em Chemtrails, tema que quase poderia entrar em um disco dos Beach Boys. Até a melancolia de Sea Changes (2002) é perceptível em Walls, uma das dez faixas deste disco que traz tanta informação que até os vocais (não creditados) de Cat Power em Orphans correm o risco de passar meio despercebidos. Enfim, um bom álbum gerado pela química entre Beck e Danger Mouse. Mas não espere um Odelay!!

25 de setembro de 2008

Olho de Lince não foca toda inquietude de Waly

Resenha de show
Título: Olho de Lince - Tributo a Waly Salomão
Artista: Adriana Calcanhotto, Jards Macalé, Omar
Salomão (com a banda VulgoQinho&eosCara)
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 24 de setembro de 2008
Cotação: * * *

Quem chegasse no fim do show Olho de Lince - idealizado dentro do projeto Grandes Encontros, do Teatro Rival, para reverenciar a figura de Waly Salomão (1944 - 2003) - e visse de cara a sedutora anarquia polifônica de Vapor Barato certamente ficaria bastante encantado com o espetáculo. Se a memória é uma ilha de edição, como dizia Waly em verso repetido no show por seu filho Omar Salomão, as retinas do espectador deveriam priorizar este número final, pois Adriana Calcanhotto, Jards Macalé, Omar Salomão e a banda carioca VulgoQinho&osCara conseguiram traduzir em Vapor Barato - e as partes soladas pela cantora nesta música associada a Gal Costa foram um brilho à parte - toda a inquietude poética/humana de Waly. Nem sempre, contudo, Olho de Lince conseguiu focar com nitidez toda a magnitude da obra do poeta e compositor baiano. Inclusive porque a presença de Omar em cena - recitando poemas e textos do pai entre as músicas e no meio delas - somente se justifica pelo fato de ele ser filho de Waly. A maneira quase mecânica como Omar Salomão recitou os versos não permitiu que a platéia sentisse (toda) a efervescência que caracterizava a obra poética do verborrágico Waly, figura talhada por excessos, inclusive os de linguagem. Sem falar que a licença poética do roteiro - ao apresentar Juízo Final (Nelson Cavaquinho e Élcio Soares) no excelente arranjo heavy (bem) executado pela banda VulgoQinho&osCara - soou totalmente fora de propósito...

Macalé abriu o show, com seu violão dissonante, indie como a banda VulgoQinho&osCara que logo foi ocupando a cena. Parceiro de Waly, Macalé conhece como ninguém os caminhos sinuosos de músicas como Mal Secreto - também associada a Gal Costa por ter sido incluída no roteiro do lendário show Fa-Tal Gal a Todo Vapor - e o reggae Negra Melodia. No entanto, o grande intérprete que aparece em discos como o recente Macao não deu as caras por completo no palco do Teatro Rival. O brilho maior foi de Calcanhotto, que fez o show crescer quando entrou em cena para apresentar músicas como Anjo Exterminado, A Fábrica do Poema, Teu Nome Mais Secreto (com Macalé ao violão, recriando o dueto gravado para o último álbum da cantora, Maré) e Remix Século XX. A artista gaúcha sempre teve afinidades poéticas e musicais com Waly, como provou ao apresentar a inédita Motivos Reais e Banais, musicada a partir do homônimo poema do livro Gigolô de Bibelô, mas nem a sua presença luminosa tirou a sensação de que Olho de Lince não ofereceu visão mais apurada da insana lucidez que pontuou vida e obra de Waly Salomão. Pena.

Metallica evoca fúria e peso dos áureos tempos

Resenha de CD
Título: Death
Magnetic
Artista: Metallica
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * * *

Há algum exagero entre os que apontam o novo ótimo CD do Metallica, Death Magnetic, como um trabalho à altura do célebre Álbum Negro (1991). Da mesma forma que há certo exagero ao citar o CD anterior do grupo, St. Anger (2003), como um erro na discografia da banda. Contudo, é fato que o Metallica evoca a fúria e o peso dos áureos tempos em Death Magnetic. Tanto que o álbum tem sido consumido com voracidade pelos admiradores da banda. Talvez a chave do sucesso esteja na troca de produtor. O Metallica teve a coragem de dispensar seu recorrente produtor Bob Rock e de recrutar para o posto Rick Rubin, bola da vez na cena roqueira dos Estados Unidos. Seja como for, Death Magnetic merece mesmo ser cultuado pela tribo metaleira. Com dez temas que têm a morte com mote, o CD remete ao som furioso dos discos lançados pelo Metallica ao longo dos anos 80 - década em que a banda do guitarrista Kirk Hammett se firmou como um dos ícones do thrash metal. Hannett, a propósito, faz vigorosos solos neste álbum que destaca composições como Cyanide, All Nightmare Long e My Apocalypse. O ponto fraco do disco são as letras, que enfileiram clichês do metal satânico. Basta acompanhar os versos de temas como The Judas Kiss. "O que não mata te torna mais forte", rosna o vocalista (e também guitarrista) em verso de Broken, Beat & Scarred. O Metallica sobreviveu a fases ruins e reapareceu mais forte. Death Magnetic é disco de peso que honra o seu passado.

Ivete lança CD infantil e grava projeto de duetos

Antes de, em tese, gravar em 2009 seu ambicionado DVD no Madison Square Garden, em Nova York (EUA), Ivete Sangalo vai lançar dois projetos fonográficos. O primeiro é infantil, chama-se A Casa Amarela, sai em outubro de 2008 e traz músicas como o Funk do Xixi. Foi todo composto e gravado pela cantora baiana com Saulo Fernandes e tem a participação de Xuxa. O segundo é um CD e DVD de duetos com nomes como Carlinhos Brown, Lulu Santos, Marcelo Camelo, Maria Bethânia e Mônica Sangalo. O projeto de duetos é intitulado Pode Entrar em alusão ao fato de ser gravado - a partir desta semana e até meados de outubro - no estúdio construído por Ivete em seu apartamento, em Salvador (BA). O lançamento de Pode Entrar está previsto para o início de 2009.

Lages se volta para as velhas emoções do 'Rei'

Resenha de CD
Título: Inesquecível
Artista: Eduardo Lages
Gravadora: Som Livre
Cotação: * *

Maestro de Roberto Carlos desde 1978, o correto pianista Eduardo Lages iniciou carreira fonográfica em 2005 com o previsível disco Emoções, de repertório inteiramente dedicado ao cancioneiro do Rei. Em 2006, Lages foi além dos hits do cantor no álbum Cenário - linha que seguiu em seu primeiro registro de show, Com Amor (2007), editado em 2007 nos formatos de CD e DVD. Em Inesquecível, o quarto título de sua discografia, ora lançado pela Som Livre, o pianista se volta para o repertório de Roberto, mas com maior liberdade estética. Se Debaixo dos Caracóis dos seus Cabelos (1971) ganha ar quase interiorano por conta do acordeom de Marinho do Acordeom, Vista a Roupa, meu Bem (1970) é alvo de um dos arranjos mais interessantes, à moda de Ray Conniff (1916 - 2002). Já O Calhambeque (1963) é envolvida em orquestração que evoca o suingue de Glenn Miller (1904 - 1944) com êxito. São as melhores faixas de um disco que patina na padronização melosa - nos arranjos de músicas como Você em Minha Vida (1976) e Eu Preciso de Você (1971) - e que parece não aproveitar todo o potencial vocal do grupo Ponto 4, convidado de Jesus Cristo (1970). São as velhas emoções em novas embalagens.

24 de setembro de 2008

Sai DVD que capta turnê de Bethânia e Omara

Se ainda permanece incerta a edição em DVD do show Dentro do Mar Tem Rio, gravado por Maria Bethânia em agosto e em dezembro de 2007, no Rio de Janeiro (RJ) e em São Paulo (SP), o DVD que registra o encontro nos palcos da intérprete baiana com a cantora cubana Omara Portuondo já está chegando as lojas pela gravadora Biscoito Fino. A turnê feita pelas cantoras entre março e junho de 2008 - por Brasil, Argentina e Chile - foi captada em 4 e 5 de abril no Palácio das Artes, em Belo Horizonte (MG), com direção de Mário Aratanha, da nova produtora carioca Cineviola.
Emolduradas por colorido cenário tropical de Gringo Cardia, as cantoras extrapolam em duetos o repertório do CD editado em fevereiro. O Cio da Terra, Cálix Bento, O Que Será (À Flor da Terra), Começaria Tudo Outra Vez, Guantanamera e Havana-me são algumas músicas que entraram somente no show e - nos casos de O Cio da Terra, O Que Será e Começaria Tudo Outra Vez - foram apresentadas em português e em versões em espanhol (nas partes cantadas por Omara). O roteiro inclui a inédita Doce, tema em que Roque Ferreira celebra as afinidades de Dorival Caymmi (1914 - 2008) com a Bahia mais mítica. Não há extras no DVD Omara Portuondo Maria Bethânia. O registro do show não sai em CD.

Virgínia grava Chico e Guinga no quarto álbum

Cinco anos depois de pôr a sua bela voz de timbre operístico a serviço dos afro-sambas de Baden Powell (1937 - 2000) e de Vinicius de Moraes (1913 - 1980) no majestoso CD Mares Profundos (2003), Virgínia Rodrigues retorna à cena para lançar, em outubro, um álbum pela gravadora Biscoito Fino. No quarto título de sua discografia, iniciada nos anos 90, a cantora atravessa a fronteira afro-baiana e grava compositores como Francis Hime, Guinga e Chico Buarque.

'História de Amor' de Kleiton & Kledir em filme

Com planos de lançar CD de inéditas em 2009, a dupla Kleiton & Kledir compôs a música História de Amor para a trilha sonora do filme As 9 Musas da Memória, do diretor Edson Erdmann. Os irmãos gaúchos vão incluir o inédito tema no repertório de seu próximo trabalho. O último projeto da dupla foi DVD e CD ao vivo.

Funk Brothers revivem hits da Motown em DVD

Grupo que acompanhava o elenco da Motown no auge da gravadora black, Funk Brothers hoje se resume a um trio integrado pelos resistentes Bob Babbitt, Eddie Willis e Uriel Jones. No DVD Live in Orlando, gravado em 2005 e ora editado no Brasil pela ST2, os bons músicos enfileiram no roteiro 13 sucessos em cujas gravações originais os três tocaram. Os Funk Brothers tentam reacender a velha chama ao reviver jóias do quilate de Signed, Sealed, Delivered (do repertório de Stevie Wonder), Neither One of Us (Wants to Be the First to Say Goodbye) - hit de Gladys Knight and the Pips - e Ain't no Mountain High Enough (jóia lapidada tanto por Marvin Gaye quanto por Diana Ross). Nos extras, o DVD exibe entrevistas com os virtuoses. Para os fãs do som da Motown.

23 de setembro de 2008

Baleiro lança trilha e oferece faixas do novo CD

Com lançamento programado para novembro, o segundo volume do álbum O Coração do Homem-Bomba, de Zeca Baleiro, já tem três faixas disponibilizadas pelo cantor para download legal e gratuito em seu site oficial. As músicas já antecipadas são Tacape, Como Diria Odair - em que Baleiro se refere a Odair José, cantor e compositor em alta nas paradas populares dos anos 70 - e Débora.
E por falar em Baleiro, o artista maranhense - de atividade cada vez mais intensa - lança, por seu selo Saravá Discos, SMD com os 17 temas que compôs para a trilha sonora de Cubo, espetáculo de dança idealizado e dirigido pelo cineasta hype Fernando Meirelles.

Calcanhotto e Macalé saúdam a poesia de Waly

Célebre parceria de Jards Macalé com Waly Salomão (1944 - 2003), associada à fase de desbunde de Gal Costa, Vapor Barato vai ganhar registro inédito de Adriana Calcanhotto no show Olho de Lince, idealizado dentro do projeto Grandes Encontros do Teatro Rival (RJ). Com duas apresentações agendadas para terça e quarta-feira, 23 e 24 de setembro de 2008, o show junta Calcanhotto a Macalé e a Omar Salomão (à esquerda na foto de Geraldo Rocha), filho do poeta, compositor e agitador cultural. Na companhia da banda VulgoQinho&Os Cara, o trio vai saudar a poesia e a figura de Waly em roteiro que costura músicas letradas pelo compositor (Negra Melodia, A Fábrica do Poema, Anjo Exterminado e Cobra Coral, entre outras) com intervenções poéticas. Além de cantar e dizer textos, Calcanhotto vai tocar atabaque. O show abre com a voz do próprio Waly - recitando o poema que dá título ao tributo, Olho de Lince - e pode virar disco.

Sylvia com Nara em exposição baiana da bossa

A foto acima flagra um raro encontro em estúdio de Sylvia Telles (1935 - 1966) com Nara Leão (1942 - 1989). A imagem que retrata as duas saudosas musas da Bossa Nova faz parte de exposição sobre os 50 anos do movimento musical. Em cartaz até domingo, 28 de setembro de 2008, no Shopping Iguatemi, em Salvador (BA), a exposição exibe outras fotos pouco batidas de artistas associados à bossa cinqüentenária. Há um flagrante de João Gilberto com Vinicius de Moraes (1913 - 1980) em encontro de 1978, entre belas imagens de Tom Jobim (1927 - 1994), Roberto Menescal e Carlos Lyra, entre outros. Todas com breves legendas.

Kelly Key lança CD já com faixa em 'Malhação'

Com faixa (Tô Fora) já em rotação na nova trilha sonora da novela Malhação, o primeiro álbum de inéditas de Kelly Key pela Som Livre chega às lojas esta semana. O repertório do CD Kelly Key inclui músicas como O Tempo Vai Passar, Quero Sair, Larguei e Mexe. Além da regravação de Você pra mim - balada de Fernanda Abreu, do primeiro CD solo da autora, de 1990 - e de Parou para Nós Dois, versão de Strictly Physical, hit do trio alemão Monrose.

22 de setembro de 2008

Donato participa do álbum de inéditas de Zeca

Com lançamento agendado pela Universal Music para a próxima sexta-feira, 26 de setembro de 2008, o novo álbum de inéditas de Zeca Pagodinho - Uma Prova de Amor, produzido por Rildo Hora - traz a inusitada participação do pianista João Donato na última das 16 faixas, Sambou...Sambou, tema da lavra do próprio Donato com João Melo. Além de Donato, o disco tem intervenções de Jorge Ben Jor - em Ogum, um samba de Marquinhos PQD com Claudemir - e da Velha Guarda da Portela, em três sambas antigos.
Puxado pela faixa-título, parceria de Nelson Rufino com Toninho Geraes, já nas rádios, o disco Uma Prova de Amor apresenta inédita de Monarco com Mauro Diniz (Não Há Mais Jeito) e dois novos sambas de Zeca com Arlindo Cruz (Sempre Atrapalhado, composto para a trilha sonora da novela A Favorita, e Se Eu Pedir pra Você Cantar). Já o Trio Calafrio - formado por Marcos Diniz, Luiz Grande e Barbeirinho do Jacarezinho - assina (com a tradicional verve) Sincopado Ensaboado. O repertório inclui ainda samba de Luiz Carlos da Vila e parceria de Almir Guineto com Dudu Nobre. Eis as 16 músicas do CD Uma Prova de Amor:
1. Uma Prova de Amor
2. Não Há Mais Jeito
3. Normas da Casa
4. Se Eu Pedir pra Você Cantar
5. Falsas Juras / Pecadora / Esta Melodia
- com Velha Guarda da Portela
6. Esta Melodia
7. Que Alegria
8. Eta Povo pra Lutar
9. Ogum - com Jorge Ben Jor
10. Terreiro em Acari
11. Sincopado Ensaboado
12. Sujeito Pacato
13. Então Leva
14. Pra Ninguém mais Chorar
15. Sempre Atrapalhado
16. Sambou... Sambou - com João Donato

Com Little Joy, Amarante transita pelo rock pop

Tema de clima tristonho, With Strangers é uma das 11 músicas do álbum de estréia da nova banda de Rodrigo Amarante, Little Joy, formada pelo cantor e compositor do grupo Los Hermanos com o brasileiro Fabrizio Moretti (o baterista do grupo norte-americano The Strokes) e Binki Shapiro (a namorada de Moretti). Produzido por Noah Georgeson, o disco já tem lançamento (internacional) agendado pelo selo Rough Trade para 4 de novembro. Com um pouco de alegria, a julgar pelas três músicas já disponibilizadas no MySpace, a banda Little Joy transita pelo rock e pelo pop - com eventuais batidas de reggae - em temas como Evaporar (a única faixa que tem letra em português e que já foi gravada), The Next Time Around, Play the Part, Keep me in Mind e Brand New Start enquanto No One's Better Sake já remete à psicodelia dos anos 60.

Trilha de Malhação 2008 traduz o gosto juvenil

Nas lojas nos próximos dias, pela gravadora Som Livre, o CD com a trilha sonora nacional da temporada de 2008 da novela juvenil Malhação reflete na seleção do repertório - quase todo formado por gravações atuais de bandas como Capital Inicial, Detonautas Roque Clube, Fresno, Jammil, NX Zero, O Rappa (estranho nesse ninho adolescente) e Seu Cuca, entre outras - o gosto discutível do pop consumido pelas galeras nessa década. Eis as 17 faixas do CD Malhação 2008, cuja capa estampa fotos dos atores do seriado:
1. Daqui pra Frente - Nx Zero
2. Uma Música - Fresno
3. Monstro Invisível - O Rappa
4. Quero te Ver Bem - Udora
5. Verdades do Mundo - Detonautas Roque Clube
6. Tudo É Passageiro - Primadonna
7. Quase sem Rumo - El Niño
8. Medo de Amar - Claus e Vanessa
9. Dançando com a Lua - Capital inicial
10. Divina Comédia - Scracho
11. Tô Fora - Kelly Key
12. Cartas pra Você - NX Zero
13. Impossível - Seu Cuca
14. Um Tempo de Paixão - Tânia Mara
15. Não Vá Embora - Jammil
16. Vaza! - Ruanitas
17. Quando Eu te Conheci - The Banda

Sem graça, trio Pedra Letícia repete piada pop

Resenha de CD
Título: Pedra Letícia
Artista: Pedra Letícia
Gravadora: EMI Music
Cotação: *

Sem a menor graça, sobretudo para quem não consegue rir da escatalogia de versos ruins de músicas como Anos Atrás, o trio Pedra Letícia tenta repetir neste grosseiro primeiro álbum a piada pop que deu fama a grupos como Mamonas Assassinas. Natural de Goiás, o trio é mais um caso de nome projetado via Internet. No caso, no YouTube, o canal de vídeos no qual o clipe de Como ocê Pode Abandoná Eu? virou um campeão de audiência, atraindo a atenção da gravadora EMI Music. Supostamente influenciada pela música cafona, a banda Pedra Letícia convocou um dos ícones do brega brasileiro, Reginaldo Rossi, para participar da faixa Em Plena Lua de Mel. Mas nem a adesão de Rossi dá alguma graça ao CD, puxado pela música Teorema de Carlão e produzido por Marcelo Sussekind com sua habitual eficácia asséptica. Além de velha, a piada não tem graça. Falta ao trio a espontaneidade que havia nos Mamonas.

21 de setembro de 2008

Ao vivo, Ione costura (bem) as linhas do samba

Resenha de show
Título: Na Linha do Samba
Artista: Ione Papas (com participação de Roberto Mendes)
Local: Fieb Sesi Rio Vermelho (Salvador, Bahia)
Data: 20 de setembro de 2008
Cotação: * * * * 1/2
Em cartaz até domingo, 21 de setembro

Há 17 anos sem se apresentar oficialmente no seu Estado natal, a cantora baiana (radicada em São Paulo) Ione Papas voltou aos palcos de Salvador (BA) em minitemporada que se encerra neste domingo, 21 de setembro de 2008, com o show de lançamento de seu segundo ótimo CD, Na Linha do Samba (2007). Ao vivo, com banda que chega a agregar nove músicos em determinados números, a intérprete realça e amplia a bela impressão deixada pelo álbum. Com graça, Ione entrelaça diversas linhas do samba em roteiro bem costurado que mantém o espectador preso a uma atmosfera envolvente. Mesmo sem ter voz de extensão ou volume excepcionais, a artista oferece interpretações cheias de nuances para sambas como As Árvores (faixa-título de um disco de Oswaldo Pereira) e o menos inspirado Bondinho, em que Nando Távora esboça um postal de Santa Teresa, único bairro carioca ainda servido pelos bondes que transitavam pelas ruas na primeira metade do século passado. Tudo emoldurado pela leveza do toque elegante da bateria de Denilson Oliveira, da afiada banda.

Embora tribute ao fim do show um dos ícones do samba da Bahia, Batatinha (1924 - 1997), saudado com Foguete Particular, Ione prioriza compositores que trafegam pelas linhas marginais por falta de oportunidade num mercado fonográfico cada vez mais viciado. Casos de Péri (O Samba É Bom, com o toque do pandeiro da cantora) e de Doda Macedo, autora de Moleque É Tu (com intervenções dos teclados do maestro convidado Bira Marques) e de Infinita Beleza, majestoso samba de cadência baiana que fas jus ao nome. Nada soa óbvio no emaranhado do repertório de Ione, que se equilibra na vivaz linha rítmica de Vestido de Malha. O samba frenético de Tuzé de Abreu lhe cai tão bem que volta no bis.

Em linha mais foliã, Ione volta ao tocar pandeiro para apresentar outra jóia do roteiro, Pérolas do Carnaval, da lavra de Mário Leite, compositor do Samba da Vela, um dos quintais mais nobres de São Paulo. E por falar nos batuques paulistas, outro luminoso momento do roteiro é Sonho Colorido de um Pintor, samba-enredo defendido pela escola Camisa Verde e Branco no Carnaval de 1971. Na seqüência, extrapolando o repertório do CD Na Linha do Samba, Ione tira do baú um samba esquecido de Wilson Batista (1913 - 1968), Sabotagem no Morro, e depois - em diálogo travado somente entre sua voz e a cuíca percutida por Giba Conceição - faz um bloco que emenda O Ronco da Cuíca (João Bosco e Aldir Blanc) e Triste Cuíca, jóia do repertório de Noel Rosa (1910 - 1937), mote do primeiro álbum da cantora, Noel por Ione (2000) e de seu anterior show na Bahia (de 1991).

Após enveredar por um Nordeste de tom quase forrozeiro, em vigoroso tema de inspiração afro da lavra de Doda Macedo e Carlos Prazeres que destoa da linha do samba que costura o roteiro, Ione convoca o compositor Roberto Mendes, convidado da apresentação de sábado. Com seu violão e a voz tímida, Mendes apresenta medley que une Beira-Mar e Só se Vê na Bahia. No bis, um Noel Rosa de bissexta cadência baiana, Na Bahia (parceria com José Maria Abreu), arremata a graciosa costura de Ione Papas em show sedutor calcado em samba quase sempre alinhado.

Taviani mostra parceria com Duncan em show

Apesar de algumas tentativas, Isabella Taviani (foto) ainda não conseguiu fazer música com a colega Ana Carolina (elas chegaram a trocar letras que foram desaprovadas por ambas). Já com Zélia Duncan a parceria não apenas está concretizada como vai chegar aos palcos. Taviani vai apresentar sua primeira música feita com Duncan, Melhor Nem Dizer, na volta do show Diga Sim ao Rio de Janeiro, em apresentações agendadas no Canecão para 3 e 4 de outubro de 2008. Detalhe: no show do dia 3, a música vai ser mostrada em dueto com Duncan - em participação especialíssima.

Sony edita dez álbuns de Dave Matthews Band

No embalo do retorno de Dave Matthews Band ao Brasil, a gravadora Sony BMG edita dez títulos da vasta discografia do quinteto norte-americano. Quatro álbuns - Busted Stuff, Stand Up, Dave Matthews Band & Tim Reynolds – Live at Radio City e a coletânea The Best of What's Around - eram até então inéditos no mercado nacional. Os seis restantes (Before These Crowded Streets, Crash, Everyday, Under the Table and Dreaming e os dois ao vivos Live at Luther College e The Central Park Concert) eram, em sua maioria, discos já raros no Brasil que estão sendo repostos em catálogo. Coleção sai este mês.

Comunidade Nin-Jitsu realiza Atividade na Laje

Atividade na Laje é o título do sexto álbum (foto) da banda Comunidade Nin-Jitsu. Editado pelos selos Thurbo e Olelê Music e já à venda com preço promocional de R$ 9,90, o CD apresenta 13 músicas produzidas por Fredi Chernobyl Endres. O grupo vem badalando o lançamento do disco com a promoção de duas faixas, Chuva nas Calcinha e Sem Vacilar, tema cujo registro conta com intervenções do rapper Nitro Di. A Comunidade é do Sul do Brasil, mas seu som é centrado no batidão do funk carioca - como já sinalizam os títulos de algumas músicas deste disco, em especial Funk Filosofal (cuja letra faz gozação com máximas de Descartes, Platão e Heráclito...), Funkstein e Funk da Paz (Rebola o Resbolá).