19 de abril de 2008

Nem inédita justifica 'best of' precoce de Teresa

Resenha de CD
Título: Eu Sou Assim
- O Melhor de
Teresa

Cristina e Grupo Semente
Artista: Teresa Cristina
e Grupo Semente
Gravadora: Deckdisc
Cotação: * * *

Sobra do segundo álbum de Teresa Cristina, A Vida me Fez Assim (2004), a regravação de Novo Amor (Chico Buarque) pela cantora e o Grupo Semente é o chamariz usado pela gravadora Deckdisc para atrair compradores para a primeira e precoce coletânea da artista. Mas nem este fonograma inédito - a rigor, insosso e aquém do alto padrão do disco para o qual feito -justifica a edição da compilação, que inclui 15 faixas gravadas entre 2002 e 2005. Além de Novo Amor, os únicos fonogramas não incluídos nos três primeiros álbuns de Teresa são Se a Alegria Existe (gravado para o CD Samba Novo, editado pela Som Livre em 2007) e a regravação do samba As Forças da Natureza (João Nogueira e Paulo César Pinheiro), feita em 2003 para o álbum duplo que saudou a obra e o canto de Clara Nunes, que, por coincidência, lançou Novo Amor em seu último disco (Nação, 1982). Mas é pouco. Eu Sou Assim - O Melhor de Teresa Cristina e Grupo Semente é coletânea indicada somente para fãs de última hora da intérprete, que debutou no mercado fonográfico em 2002 com tributo ao cancioneiro de Paulinho da Viola. A melhor faixa deste álbum duplo - Para um Amor no Recife, em que Teresa encontra o exato tom de melancolia do samba de Paulinho - foi selecionada para o best of da artista e valoriza uma compilação cujo único objetivo é render uns trocados para o cofre da gravadora Deckdisc, dona do acervo inicial de Teresa Cristina e do Grupo Semente. Bom e dispensável!!

Cravo Albin lança 'Tons e Sons do Rio' nos EUA

O pesquisador carioca Ricardo Cravo Albin lança neste sábado, 19 de abril de 2008, em Washington (EUA), o livro Tones and Sounds of Rio de Janeiro of Saint Sebastian. É a versão norte-americana da luxuosa publicação já editada no Brasil. Arquitetado pelo Ministério das Relações Exteriores, o lançamento do livro - que ganha versão japonesa ainda em 2008 - nos EUA acontece na Sala de Música da universidade Georgetown. Detalhe: na edição norte-americana, o livro vem encartado com o DVD Sinfonia do Rio de Janeiro de São Sebastião - gravado por Francis Hime.

Sai o CD que harmoniza vozes de Simone e Zélia

Chegará às lojas ainda em abril o CD que registra o lindo show que reúne Simone e Zélia Duncan. Gravado ao vivo em 12 e 13 de outubro de 2007, no Auditório Ibirapuera (SP), o espetáculo teve origem em 2006 no projeto Tom Acústico, da casa Tom Brasil (SP). Ao ser remontado para a gravação do CD (e do DVD que será lançado pela Biscoito Fino na seqüência), o show ganhou o título Amigo É Casa, nome de um choro de Capiba letrado por Hermínio Bello de Carvalho e gravado por Lenine - e incorporou ao roteiro (assinado pelas cantoras) músicas como Kitnet (Alzira E e Arruda), Cuide-se Bem (hit da fase inicial de Guilherme Arantes) e A Companheira (Luiz Tatit). Eis o repertório do álbum Amigo É Casa - Ao Vivo:

1. Alguém Cantando (Caetano Veloso)
2. Petúnia Resedá (Gonzaguinha)
3. Grávida (Marina Lima e Arnaldo Antunes)
4. Kitnet (Alzira E e Arruda)
5. Cuide-se Bem (Guilherme Arantes)
6. Na Próxima Encarnação (Itamar Assumpção)
7. A Companheira (Luiz Tatit)
8. Mãos Atadas (Simone Saback)
9. Meu Ego (Roberto e Erasmo Carlos)
10. Idade do Céu (Jorge Drexler - versão de Moska)
11. Diga Lá, Coração (Gonzaguinha)
12. Medo de Amar nº 2 (Sueli Costa e Abel Silva)
13. Encontros e Despedidas (Milton Nascimento e Fernando Brant)
14. Vou Ficar Nu pra Chamar sua Atenção (Roberto e Erasmo Carlos)
15. Gatas Extraordinárias (Caetano Veloso)
16. Ralador (Roque Ferreira e Paulo César Pinheiro)
17. Agito e Uso (Ângela RoRo)
18. Tô Voltando (Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro)

Caetano regrava 'Tempo de Estio' com Jammil

Simpatizante da música pop baiana rotulada como axé music, Caetano Veloso regravou sua música Tempo de Estio - lançada pelo compositor em 1978 no álbum Muito (Dentro da Estrela Azulada) - para CD e DVD do grupo Jammil e uma Noites - nas lojas em julho. A foto de Fred Pontes flagra o artista com o trio baiano no estúdio AR, no Rio de Janeiro (RJ). Feita em 9 de abril, a gravação vai entrar no vídeo em forma de clipe. Gravado ao vivo em shows feitos pela banda em Porto Seguro (BA) e no Carnaval de Salvador (BA), o terceiro DVD do Jammil e uma Noites vai contar também com adesões de Biquini Cavadão (na música Amar É), Carlinhos Brown (Maralinda), Daniela Mercury (Dom de se Dar), Adelmo Casé (Quer Saber?) e Larissa Luz, a cantora que substituiu Tatau no posto de vocalista do grupo baiano Ara Ketu (Papapaia).
E por falar em axé music, a gravação em CD e DVD da turnê Asa 20 Anos - agendada pelo grupo Asa de Águia para 1º de maio, em show no Parque de Exposições de Salvador (BA) - contará com a presença já certa de Ivete Sangalo em música ainda não divulgada.

18 de abril de 2008

Warner lança nova música de Alanis em celular

Agendado iniciamente para 20 de maio, o lançamento do sétimo álbum da canadense Alanis Morissette, Flavors of Entanglement, vai chegar às lojas somente no início de junho. Contudo, a gravadora Warner Music - em parceria com a Motorola - decidiu lançar o primeiro single do CD, Underneath, em um novo modelo de celular antes mesmo da chegada da faixa às rádios. O aparelho W270 já virá pré-carregado com o fonograma, em iniciativa que sinaliza o (real) crescimento do comércio de música via telefonia móvel. Eis, na ordem, as 11 músicas de Flavors of Entanglement, CD que vai chegar às lojas entre 2 e 10 de junho:
1. Citizen of the Planet
2. Underneath
3. Straitjacket
4. Versions of Violence
5. Not as We
6. In Praise of the Vulnerable Man
7. Moratorium
8. Torch
9. Giggling Again for No Reason
10. Tapes
11. Incomplete

Eletropop do Hot Chip soa mais pop e orgânico

Resenha de CD
Título: Made in the Dark
Artista: Hot Chip
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * *

Hot Chip é um quinteto inglês que transita bem na seara eletrônica com pop rock de ambiência electro. O grupo foi projetado no Brasil em 2007 quando se apresentou no Tim Festival e, no embalo, teve editado com atraso no mercado nacional seu segundo CD, The Warning (2006), que rendeu um megahit para as pistas, a deliciosa Over and Over. Made in the Dark é o terceiro álbum do grupo e sinaliza algumas mudanças. A primeira é que, em vez de timbres sintetizados, o Hot Chip buscou som mais orgânico. A segunda é que, no geral, seu electro pop está ainda mais pop. Basta ouvir faixas como Ready for the Floor (a melhor música do álbum) e One Pure Thought. Há também um número maior de baladas neste disco. We're Looking for a Lot of Love é uma delas. E, no todo, o que ainda salta aos ouvidos no som do Hot Chip, é a alternância de timbres dos produtores, compositores e vocalistas Alexis Taylor e Joe Goddard. Mas cabe a ressalva de que não há em Made in the Dark uma música tão sedutora como Over and Over. As pistas estão menos animadas...

Ana brilha no país do suingue (e das cantoras)

Resenha de CD
Título: Mil Rosas
Artista: Ana Paula Lopes
Gravadora: Usina Brasil
Cotação: * * *

País do suingue, o Brasil é também a nação das cantoras - como atestou reportagem da revista Veja de 11 de abril de 2007. Pois a paulistana Ana Paula Lopes brilha neste país de dimensões continentais. Em seu segundo CD, Mil Rosas, a intérprete sai do eixo da MPB mais tradicional, evidenciada em seu primeiro álbum (Meu, 2005), para dar voz a compositores novos como Giana Viscardi, Juliana Kehl, Marcelo Silva, Rodrigo Leão e o saxofonista Celso Marques, produtor e arranjador deste segundo (e mais contemporâneo) CD.
Com técnica apurada, Ana Paula impressiona de cara pelo suingue. Em Gata Lúcida, de Giana Viscardi e Michael Ruzitschka, ela se equilibra bem no balanço sinuoso orquestrado sob trio de metais - o mesmo que garante a pulsação rítmica de Mesmo que Tarde, de tom mais bluesy. Embora exale frescor, o repertório de Mil Rosas desabrocha de forma irregular. O perfume que torna o disco agradável é mesmo a voz de Ana, que debutou nos palcos paulistanos em 2001 com show em que abordava o repertório de Billie Holiday (1915 - 1959). Entre tema pautado por suavidade bossa-novista (Quem Sabe, de Domenico Lancellotti e Tomás Ferreira) e samba destoante do clima do repertório (Rainha da Laje, de Rodrigo Leão), a cantora surpreende em A Chegança, faixa de textura regional cujas flautas tocadas por Celso Marques remetem ao som dos pífanos de Caruaru (PE). Menos regionalista, embora pontuada pelo acordeom de Beto Corrêa, Pedrarias, Prata e Pó joga luz sobre a produção autoral de Juliana Kehl. Enfim, um bom disco cujo maior mérito é confirmar a beleza charmosa de (ótima) voz que tem cacife para se projetar na nação das cantoras.

DVD do Matanza é trago forte de 'countrycore'

Resenha de CD /DVD
Título: MTV Apresenta
Matanza - Ao Vivo no
Hangar 110
Artista: Matanza
Gravadora: Deckdisc
Cotação: * * * 1/2

Único grupo brasileiro que explora a fusão de hardcore com country, o quarteto carioca Matanza teve o espírito sujo de seu som retratado com fidelidade em registro de show que gerou o primeiro DVD da banda. Foi bem captado no apropriado palco do Hangar 110, reduto roqueiro de São Paulo (SP), em apresentação feita para um público já habituado com a podreira que exala do repertório do Matanza, sempre turbinado com alta dose de álcool. São 26 músicas (tanto no DVD como no CD) e mais a Intro que a anuncia o clima pesado de zoação. Pelos títulos das músicas (Meio Psicopata, Clube dos Canalhas, Ressaca sem Fim, Whisky para um Condenado e outras pérolas afins), dá para perceber o tom do roteiro que embaralha músicas dos quatro álbuns do quarteto. MTV Apresenta Matanza - Ao Vivo no Hangar 110 é trago forte indicado somente para quem digere os altos decibéis e o alto teor etílico do som da banda - valorizado no DVD por um áudio compatível com seu peso. É a arte do insulto...

17 de abril de 2008

Gil faz disco com reflexões e malícia nordestina

Gilberto Gil vai oscilar entre as reflexões existenciais e a malícia nordestina em seu primeiro disco de repertório inédito e autoral desde Quanta, álbum duplo editado em 1997. Previsto para junho e inicialmente intitulado Cordel Banda Larga, em alusão à turnê Banda Larga que o cantor vem apresentando pelo Brasil e pelo exterior, o novo CD de Gil (em foto de Priscila Casaes Franco, extraída do site oficial do artista) vai trazer no repertório músicas como Gueixa no Tatame, Olho Mágico e Canô - esta composta em tributo ao centenário de Dona Canô, mãe de seu parceiro e amigo Caetano Veloso. Gil fez o disco no Rio de Janeiro.
As reflexões existenciais estarão presentes sobretudo na faixa Não Tenho Medo da Morte, em que Gil compara a morte ao fim de um mandato político, entre outras imagens poéticas. Já a malícia nordestina será evocada em músicas como o xote Despedida de Solteira e Não Grude, Não. Esta foi composta para a trilha do filme O Homem que Desafiou o Diabo e tem versos de duplo sentido típicos dos temas nordestinos mais apimentados. O repertório inclui ainda duas recentes parcerias de Gil com Jorge Mautner, Os Pais e Outros Viram, já gravadas por Mautner no CD Revirão, editado em 2006 pelo selo Geléia Geral, do próprio Gil. Já A Faca e o Queijo é música criada pelo compositor em tributo à sua mulher, Flora Gil, já homenageada em outros temas do artista.
Em fina sintonia com os tempos cibernéticos, Gil pretende disponibilizar em seu canal no Youtube trechos das gravações do álbum. A propósito, uma das músicas do novo disco, O Oco do Mundo, já pode ser conferida em registro ao vivo captado em show no Circo Voador (RJ). A música tem letra quilométrica de alta voltagem poética, sinalizando que a intensa agenda de Gilberto Gil na função de Ministro da Cultura do Governo Lula não dissipou a inspiração do compositor, que, desde Quanta, dividiu disco com Milton Nascimento, lançou registros de shows e prestou tributos aos repertórios de Luiz Gonzaga e de Bob Marley.

Zizi recorda hits italianos e sambas de sua terra

No quinto e no sexto espetáculos da série Cantos e Contos, apresentada por Zizi Possi às terças-feiras na casa Tom Jazz (SP), os roteiros foram temáticos. Sozinha em cena, a cantora reviveu no recital intitulado Anema e Core, feito em 8 de abril, os temas italianos que gravou nos álbuns Per Amore (1997) e Passione (1998). Nesta última terça-feira, 15 de abril, também sem convidados, Zizi (em foto de Ronaldo Aguiar) passeou por roteiro de sambas no show intitulado O Samba da Minha Terra. Eis os repertórios das duas apresentações do projeto Cantos e Contos:

Anema e Core (8 de abril):
1. 'Na Música / O Paese d'o Sole
2. Lacreme Napulitane / Vurria
3. E Chiove
4. Dicitencello a Vule
5. Caruso
6. Io Che Amo Solo te
7. Scapricciatello mio
8. Torero
9. Io, Màmmeta e Tu
10. Gelsomina
11. Canzone per te
12. Ho Capito che ti Amo
13. Senza Fine
14. Anema e Core
15. Passione
16. Cu'mme
17. L'Aurora
18. Grande, Grande, Grande
19. Torna a Surriento
20. Core'ngrato
21. Per Amore

O Samba da Minha Terra (15 de abril):
1. Na Baixa do Sapateiro
2. As Rosas Não Falam
3. Sei Lá, Mangueira
4. Escurinho
5. Palavras / Tudo se Transformou
6. Circo sem Lona
7. Paixão e Medo (Dívidas)
8. Retrato em Branco e Preto
9. Caminhos Cruzados
10. Desafinado
11. Sufoco / Linda Flor
12. Sinal Fechado
13. Bala com Bala
14. Desesperar Jamais
15. Madalena
16. O Bêbado e a Equilibrista
17. Tico-Tico no Fubá
18. O Samba da Minha Terra

Deckdisc aposta no pop reggae de Aline Duran

Da mesma forma que contratou Edu Ribeiro, cantor projetado na cena indie em 2006, a gravadora carioca Deckdisc permanece na praia do reggae e aposta na paulistana Aline Duran. A cantora e compositora já arremata álbum que prioriza regravações do repertório autoral lançado pela artista em CD editado em 2007 de forma independente. Entre as músicas, Pra Quem Jah Olha, É com Você (faixa escolhida para ser o primeiro single promocional), Na Maré, Bem-Vindo à Selva e Olhar pro Sol. O lançamento do novo disco de Aline Duran está programado pela companhia para julho.

Blues Boy se abriga sob a lona do registro visual

Cantor, compositor e bom guitarrista que sempre trilhou o caminho mais marginal do blues, gênero que incorporou até ao seu sobrenome artístico, Celso Blues Boy resume a sua trajetória em CD e em DVD (o primeiro do artista) gravados ao vivo em show no Circo Voador (RJ), casa carioca que, aliás, sempre abrigou o músico sob sua lona. Celso Blues Boy ao Vivo no show Quem Foi que Falou que Acabou o Rock'n'Roll? perpetua 12 números da apresentação do guitarrista. Em roteiro que inclui até versão instrumental do Hino Nacional Brasileiro, há hits undergrounds como Brilho da Noite, Sempre Brilhará e, claro, Aumenta que Isso Aí É Rock'n'Roll. Nos extras do DVD, Blues Boy exibe imagens de seu acervo pessoal na seção intitulada Momentos Históricos. Os extras incluem também galeria de fotos.

16 de abril de 2008

Vitor Araújo une técnica e espírito performático

Resenha de CD / DVD
Título: TOC - Ao Vivo no
Teatro de Santa Isabel
Artista: Vitor Araújo
Gravadora: Deckdisc
Cotação: * * *

Jovem pianista de Recife, de 19 anos, Vitor Araújo estréia no mercado fonográfico com o dualdisc TOC, de título emprestado do tema de Tom Zé regravado por Araújo neste registro ao vivo de show captado em 20 de dezembro de 2007 num dos mais imponentes teatros da cidade natal do músico. Pela foto da capa, já dá para perceber o espírito jovial e performático do rapaz. Araújo tem provocado discussões no meio acadêmico erudito por conta da forma pouco ortodoxa com que encara partituras de músicas de compositores como Heitor Villa-Lobos (Dança do Índio Branco, O Trenzinho do Caipira e Dança nº 4 - Miudinho) Edino Krieger (Sonatina para Piano) e Claudio Santoro (Paulistana nº 1). É fato que o jovem tem técnica e talento como pianista. Contudo, a performance para Araújo parece ser mais importante do que a música em si. Daí o visual despojado. Daí a idéia (já batida) de tocar seu piano não somente pelas teclas, mas também através de toda a estrutura do instrumento. Vitor Araújo é músico mais para ser visto do que ouvido. Daí o providencial lançamento de sua gravação no formato de dualdisc com CD de um lado e DVD de outro. É no vídeo que sua abordagem pop de temas de Chico Buarque (Samba e Amor, com citação do Tema da Pantera Cor-de-Rosa, de Henry Mancini), Luiz Gonzaga (Asa Branca) e até Radiohead (Paranoid Android) soa mais sedutora. Não espere rigores eruditos de Araújo. Como já revela no figurino descontraído que remete a Jamie Cullum, o moço quer acentuar sua jovialidade ao tocar o piano sentado e em pé. Com as mãos e com os pés... Araújo está fazendo seu barulho, mas este não deve ser amplificado por polêmicas inúteis feitas em nome de valores conservadores. Até porque o tempo vai se encarregar de pôr Araújo no devido lugar...

Moby volta para a pista da disco em 'Last Night'

Resenha de CD
Título: Last Night
Artista: Moby
Gravadora: EMI Odeon
Cotação: * * * *

Desde meados do ano passado, Moby já vinha dando pistas de que seu oitavo álbum, Last Night, seria mais direcionado para a eletrônica, sem o flerte com o rock de Hotel, o álbum de 2005 em que Moby experimentou repertório autoral que, por conta do eventual sotaque roqueiro, remetia aos seus primeiros discos, gravados antes de ele se tornar ícone da música eletrônica mundial com o lançamento de Play, sua obra-prima de 1999. Dito e feito. Em Last Night, um trabalho quase conceitual que procura reproduzir o clima de uma noite na cena dance de Nova York (EUA), o DJ reassume o primeiro plano e, apesar de o repertório ser autoral, tira o foco principal do compositor, evidenciado em Hotel - trabalho, aliás, que causou decepção em parte de seus fãs.
Como Moby também já vinha sinalizando, ele volta para a pista da disco music, cujo espírito é evocado logo na primeira faixa de Last Night, Ooh Yeah. O DJ norte-americano mistura referências de disco music e da velha escola do hip hop. O rap se faz presente em músicas como I Love to Move in Here. Embora turbinado com grooves contemporâneos, Last Night remete a uma época específica - o início dos anos 80 - em que a disco music já dava seus últimos suspiros e o rap começava a entrar em cena. Mas a disco music toca mais forte na pista de Moby. Os melhores momentos do álbum são faixas turbinadas com cordas e vocais femininos que tributam divas das discotecas como Donna Summer e Grace Jones. I'm in Love, Disco Lies e The Stars formam seqüência irresistível. E, como toda noite também tem seus momentos mais calmos, o DJ desacelera os beats em faixas como Mothers of the Night. No todo, Last Night prima por captar a efervescência da noite dance com altas doses de eletrônica - Everyday It's 1989 tenta eternizar o apogeu inicial das raves na cena estrangeira - e se impõe como um dos títulos mais inspirados da discografia de Moby. Embora não seja tão genial quanto Play.

Rita Ribeiro dá corda aos suburbanos corações

Resenha de show
Título: Som às Sete - (Sub)Urbano Coração
Artista: Rita Ribeiro (com o violonista João Gaspar)
Local: Teatro Sesc-Ginástico (RJ)
Data: 15 de abril de 2008
Cotação: * * * * 1/2

"Estava com saudades de cantar canções", confidenciou Rita Ribeiro à platéia que testemunhou a estréia do novo show da intérprete, (Sub)Urbano Coração, em cartaz no Rio de Janeiro até quarta-feira, 16 de abril de 2008, no projeto Som às Sete, do Teatro Sesc-Ginástico. Após quatro anos de apresentações do espetáculo Tecnomacumba, a cantora buscou refúgio no conforto de canções que versam sobre amores urbanos. Sem disputar espaço com os grooves turbinados do show anterior, a voz de Rita ressurge límpida, em primeiro plano e em tom mais cool, emoldurada apenas pelas cordas de João Gaspar, que alterna violões e guitarras, criando uma rica gama de timbres para acompanhar a boa intérprete em repertório de caráter romântico.
É um momento novo - como define Rita em cena, já no fim do show. Por isso mesmo, o repertório foi bastante renovado sem deixar de lado músicas já gravadas pela cantora em seus três primeiros CDs (Lenha, Pra Você Gostar de mim, Impossível Acreditar que Perdi Você, Pensar em Você, Há Mulheres, Muzak, Uma Noite sem Você, O Conforto dos teus Braços). Logo no número de abertura, imponente leitura a capella de Cordas de Aço (Cartola), Rita explicita a importância do violão e do romantismo no roteiro. Em seguida, canta em inglês You'll See, balada lançada por Madonna no CD Something to Remember. É uma bela surpresa que denota a intenção da cantora de abrir o leque estilístico de seu cancioneiro após o baticum afro-brasileiro.
"A cordialidade passa pelas cordas do coração e pelas minhas cordas vocais", filosofou Rita após reviver Aceito seu Coração, balada gravada por Roberto Carlos num estupendo disco de 1969 que evidenciou outras músicas como Sua Estupidez, As Curvas da Estrada de Santos, Não Vou Ficar e As Flores do Jardim de Nossa Casa. Pois esta balada de tom resignado - de autoria de Puruca - é das jóias mais valiosas do baú do Rei e tem tudo para fazer sucesso na voz de Rita (a música vai fazer parte do quinto CD da artista). Aliás, (Sub)Urbano Coração é show tecido com canções melodiosas para seduzir românticos que choram com baladas, como caracterizou Vander Lee na letra de Românticos, música não por acaso incluída no roteiro. Dentro deste espírito, Caminhos de Sol - música de autoria do maranhense Salgado Maranhão, regravada por Rita em CD idealizado em tributo ao compositor - é tiro certeiro no coração desses tipos populares tão bem retratados por Vander Lee - de quem Rita também canta Contra o Tempo, balada melodicamente mais inspirada. Outro grande momento é Nua, a parceria de Ana Carolina com Vítor Ramil, revivida com belo toque bluesy das cordas de João Gaspar.
Fora de seu habitual universo de compositores, Rita surpreende positivamente ao irmanar no seu canto um samba de Benito Di Paula (Como Dizia o Mestre), uma música de Fred Martins (Janelas - com inteligente citação de Esquadros, de Adriana Calcanhotto), um tema de tintas nordestinas (Nhem Nhem Nhem, do repertório de Totonho & os Cabra) e uma canção pop de Verônica Sabino (Agora - com citação de Life, de Des'ree). Rita é intérprete das boas e precisava mesmo aposentar seu antológico projeto Tecnomacumba para seguir adiante. Mesmo porque o coração de seu público inicial bate forte no compasso deste romantismo elegante e suburbano que dá o tom do show. Confira!

Jota busca 'upgrade' com Caldato e com Kassin

Grupo de grande popularidade na cena pop nacional, mas ainda em busca de maior reconhecimento na imprensa musical, o quarteto mineiro Jota Quest recorreu a Mario Caldato Jr. e a Kassin em busca de um upgrade conceitual. Caldato e Kassin dividirão a produção do sexto álbum de inéditas da banda, já em fase de pré-produção em Belo Horizonte (MG). O lançamento está programado pela gravadora Sony BMG para setembro ou outubro.

15 de abril de 2008

O barulhinho da irmã de Marisa é quase bom...

Resenha de CD
Título: Irreversíveis
Artista: Irreversíveis
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * 1/2

Irreversíveis é uma dupla de tecnopop formada pelo cantor e guitarrista Leo Benitez com Carol Monte. A irmã de Marisa Monte não canta, mas pilota teclados e samplers, criando suaves climas eletrônicos para as composições da dupla. Há faixas em que as doses de eletrônica são um pouco mais altas - especialmente em Lo-Fi e na releitura moderninha de Wave, de Tom Jobim (1927 - 1994). Wave é faixa estranha no ninho essencialmente autoral do duo. Mas a questão é que o barulhinho da irmã de Marisa não chega a ser realmente bom. O que impede a real bonança é a qualidade irregular do repertório da dupla, que transita entre o pop e o rock. Das nove faixas autorais, Boa Sorte, Os Dois Irreversíveis e Musa Clássica merecem menção honrosa. No todo, o álbum Irreversíveis não chega, de fato, a se impor na atual cena musical. Mas não é ruim...

Tira Poeira espana a obviedade no segundo CD

Resenha de CD
Título: Feijoada Completa
Artista: Tira Poeira
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

Já foi dito inúmeras vezes que, bem mais do que um gênero musical, o choro é uma forma de tocar. Pois o espírito do choro permeia as 13 faixas deste grandioso segundo álbum do grupo carioca Tira Poeira, mas, diferentemente do primeiro (Tira Poeira, 2003), em que o quinteto revivia temas de mestres do gênero, como Jacob do Bandolim (1918 - 1969) e Waldir Azevedo (1923 - 1980), não há em Feijoada Completa um choro em sua forma mais ortodoxa. Com andamentos inusitados e acordes sempre surpreendentes, o Tira Poeira espana a obviedade ao tocar músicas dos repertórios de Edu Lobo (Arrastão), Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959 - O Trenzinho do Caipira), Chico Buarque (a faixa-título, samba de 1978) e até Beatles (Eleanor Rigby, reconhecível, mas com nova cara). As ousadias estilísticas são tantas que os vocais de Lenine (em Atrás da Porta), Maria Bethânia (em Gente Humilde, faixa em que o grupo cita clássicos dos recorrentes mestres Jacob e Waldir) e Olivia Hime (na Valsa de Eurídice) são temperos que nem alteram o sabor apimentado da feijoada. Em cujo caldeirão cabem uma inédita de Baden Powell (1937 - 2000 - Introdução ao Canto de Yansã), um clássico da música norte-americana (My Favourite Things, de Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II) e ótima investida na música eletrônica em O Morro Não Tem Vez, faixa turbinada com os grooves do DJ Sany Pitbull. Sem patinar no terreno do exotismo, o Tira Poeira varre a mesmice que provoca mofo em alguns discos de choro. Sem renegar as tradições, o quinteto revitaliza o gênero.

Rival anuncia indicados da 6ª edição de prêmio

Conforme Ângela Leal anunciou em dezembro de 2006 na cerimônia de entrega do 5º Prêmio Rival Petrobrás de Música, Antonio Adolfo vai ser o homenageado da sexta edição do prêmio - dedicado à produção fonográfica criada de forma independente, fora do controle das gravadoras multinacionais - por conta de seu disco Feito em Casa (1977), considerado um marco da produção independente nacional. A intenção inicial era prestar a homenagem em 2007, quando o álbum pioneiro de Adolfo completava 30 anos, mas a entrega do 6º Prêmio Rival Petrobrás de Música acabou agendada para 29 de abril de 2008. Estruturada em torno da homenagem a Adolfo, a premiação vai contar com números de Carlos Lyra (que lançou Adolfo como pianista no musical Pobre Menina Rica), Joyce, Ângela RoRo (parceira de Adolfo), Mauro Senise e Carol Saboya (cantora, filha do pianista). Eis os indicados - revelados nesta terça-feira, 15 de abril de 2008:

Excelência
* Baden Powell (1937 - 2000)
* Francis Hime
* Maria Bethânia

Atitude
* Marcelinho da Lua
* Meninas de Sinhá
* Sassaricando - E o Rio Inventou a Marchinha

Cantor
* Luiz Melodia (pelo CD Estação Melodia)
* Marcos Sacramento (pelo CD Sacramentos)
* Rodrigo Rodrigues (pelo CD Fake Standards)

Cantora
* Mart'nália (pelo CD/DVD Em Berlim - Ao Vivo)
* Olivia Byington (pelo CD Olivia Byington)
* Roberta Sá (pelo CD Que Belo Estranho Dia para se Ter Alegria)

CD
* Casa de Villa - Guinga
* Estação Melodia - Luiz Melodia
* Inéditos de Jacob do Bandolim Volume II - Déo Rian & Noites Cariocas

Tributo
* Radamés Gnattali 100 Anos - Novo Quinteto
* Viva Cartola! 100 Anos
* Wagner Tiso - Um Som Imaginário

Grupo
* Casuarina (pelo CD Certidão)
* Quinteto Villa-Lobos (pelo CD Quintetos de Sopro Brasileiros 1926 - 1974 Vols. 1 e 2)
* Spok Frevo Orquestra (pelo CD/DVD Passo de Anjo ao Vivo)

Compositor
* Arlindo Cruz (pelo CD Sambista Perfeito)
* Délcio Carvalho (pelos CDs Inédito e Eterno)
* Guinga (pelo CD Casa de Villa)

Arranjador
* Paulão Sete Cordas (pelo conjunto da obra)
* Spok (pelo CD/DVD Passo de Anjo ao Vivo)
* Zé Menezes (pelo CD Gafieira Carioca Autoral)

Produtor Musical
* André Agra (pelo conjunto da obra)
* Kassin (pelo CD Futurismo)
* Ronaldo Bastos e Leonel Pereda (pelo conjunto da obra)

Instrumental
* André Mehmari & Hamilton de Holanda (pelo CD Contínua Amizade)
* João Donato & Bud Shank (pelo CD Uma Tarde com João Donato & Bud Shank)
* Zé Menezes (pelo CD Gafieira Carioca Autoral)

Revelação
* Fino Coletivo
* Thaís Gulin
* Zé Luiz do Império Serrano

João tributa a bossa em quatro shows no Brasil

Papa da Bossa Nova, João Gilberto volta aos palcos brasileiros em agosto e setembro para render homenagens ao cinqüentenário do gênero que formatou de forma definitiva em julho de 1958 ao gravar a sua revolucionária batida diferente no disco de 78 rotações que seria lançado no mês seguinte, apresentando ao mundo a primeira gravação de Chega de Saudade na voz do cantor. João vai fazer quatro shows no Brasil. Em agosto, o artista vai se apresentar em São Paulo (dias 14 e 15 de agosto, no Auditório Ibirapuera) e Rio de Janeiro (24 de agosto, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro). Em 5 de setembro, João fecha o ciclo de shows nacionais com um recital no Teatro Castro Alves, em Salvador (BA). O patrocinador dessa miniturnê é o Banco Itaú.

14 de abril de 2008

'Mulher 80' documenta explosão feminina de 79

Resenha de DVD
Título: Mulher 80
Artista: vários
Gravadora: Biscoito Fino
/ Som Livre
Cotação: * * * *

Por mais que seja datado por celebrar conquistas femininas já bem assimiladas pela sociedade machista, o programa Mulher 80 - ora lançado em DVD com o registro deste especial criado pelo diretor Daniel Filho e exibido pela Rede Globo na noite de 16 de dezembro de 1979, no rastro do sucesso da série Malu Mulher - é documento perene e ainda sedutor da explosão feminina que deu o tom da música brasileira naquele ano. Foi em 1979 que despontaram Ângela RoRo, Marina Lima e Joanna - três nomes presentes no elenco recrutado por Daniel, diretor da série e do especial - e foi também em 1979 que Gal Costa, Maria Bethânia, Rita Lee e Simone ampliaram seus públicos. Gal vivia resplandecente fase tropical. Bethânia saboreava o primeiro milhão de discos vendidos com o emblemático Álibi (1978). Rita tornava seu rock mais pop com a parceria com Roberto de Carvalho, emplacando naquele ano um dos sucessos atemporais da dupla, Mania de Você. Simone explodia em todo o Brasil com Começar de Novo, a música encomendada a Ivan Lins por Daniel para ser o tema de abertura de Malu Mulher. Como o diretor conta (sem citar nomes) na reveladora entrevista exibida nos extras do DVD, Simone não era a primeira opção para gravar a música de Ivan e Vítor Martins, oferecida originalmente (e isso Daniel não conta...) a Maria Bethânia, que, na época, nem ouviu tal canção, alegando já ter alinhavado todo o repertório de seu próximo disco (diz a lenda que ela teria se arrependido amargamente ao conhecer a música). Daniel também não cita nomes, mas as duas cantoras que não se falavam era Bethânia e Elis Regina (1945 - 1982) - e coube ao diretor omitir o estranhamento na edição do número final, em que todas as cantoras apareceram reunidas no palco do Teatro Fênix.
Foi nesse contexto favorável que Mulher 80 foi idealizado e gravado com a apresentação da atriz Regina Duarte, intérprete da socióloga que dava nome à série Malu Mulher. De acordo com Daniel Filho e com Guto Graça Mello, diretor musical do especial, a seleção das músicas e cantoras teria sido feita com base na prévia seleção feita para a trilha sonora do seriado, o que explicaria a ausência de nomes como Elba Ramalho, Fátima Guedes e Zizi Possi - também projetadas naquele fértil ano em que as mulheres dominavam a cena - e a omissão de sambistas como Beth Carvalho, também em fase de grande popularidade. E o fato é que o especial é retrato bem acabado daquele boom feminino e feminista de 1979. Somente o número coletivo, em que todas as intérpretes entoam Cantores do Rádio (Alberto Ribeiro, João de Barro e Lamartine Babo, 1936), já vale a edição do programa em DVD pela imagem histórica, que, como todas do DVD, merecia ter passado por processo de restauração, embora não apresente má qualidade técnica - assim como o áudio original, bem conservado.
Questões técnicas à parte, o acerto do especial reside também no fato de entrelaçar os números musicais com depoimentos em que as cantoras acabam se expondo. Geralmente travada, Elis se emociona ao falar da filha Maria Rita, então com dois anos, antes de aparecer cantando O Bebâdo e a Equilibrista no palco em que apresentava o show Elis, Essa Mulher, inspirado no homônimo disco de 1979 em que, a pedido da gravadora Warner Music, adotou imagem mais feminina, com os cabelos mais longos. Em cenário adornado com almofadas e velas, em clima baiano, Bethânia admite a gangorra emocional que molda seu temperamento. "Deve ser difícil conviver comigo", supõe a Abelha Rainha, antes de interpretar Álibi (Djavan) na companhia do saudoso violão de Rosinha de Valença (1941 - 2004). Simone, que abre o especial com Começar de Novo, expõe a consciência de sua força física viril. Zezé Motta - então desenvolvendo uma carreira de cantora que se tornaria espaçada a partir dos anos 80 - chora ao lembrar da morte do pai na noite em que recebeu seu primeiro prêmio. Na flor de seus 22 anos, Marina justifica seu despojamento e liberdade joviais (ainda incomuns na época) antes de apresentar Não Há Cabeça com o piano de uma contrariada Ângela RoRo, de cara amarrada por não ser ela a intérprete da própria música. Mas, como ratifica Guto Graça Mello em entrevista dos extras, Mulher 80 teria reproduzido a escalação anterior da trilha de Malu Mulher. É por isso que Feminina, música de Joyce, de teor condizente com o espírito libertário da época, não é apresentada pela autora, mas pelo Quarteto em Cy (com adição da atriz Narjara Turetta, intérprete de Elisa, a filha de Malu na série). O número, aliás, foi gravado no cenário do seriado.
Além de mostrar uma Gal Costa no auge da fase tropical arquitetada pelo empresário Guilherme Araújo (1936 - 2007), Mulher 80 flagra também cantoras que migrariam para terrenos populistas nos anos seguintes. Emoldurada por cenário regional, Fafá de Belém, grávida da filha Mariana, entoa Que me Venha Esse Homem. Joanna - novata no mercado fonográfico, com uma chama que pareceu ter se apagado ao longo dos anos - interpreta Seu Corpo, a canção de Roberto e Erasmo Carlos que ela regravara em seu primeiro LP, editado naquele ano. Enfim, por mais que esteja definitivamente atrelado a um momento e a um contexto específicos, Mulher 80 ainda cativa pela emoção atemporal que brota das falas e dos cantos daquelas vozes que o programa reuniu de maneira antológica. Nunca a música brasileira foi tão feminina.

Música dos Mutantes depois de Zélia e Arnaldo

Já centrado no guitarrista Sérgio Dias Baptista, a partir das saídas simultâneas de Arnaldo Baptista e de Zélia Duncan, o grupo Os Mutantes agendou para 25 de abril o lançamento - em seu site oficial - da primeira música da banda na nova fase. Mutantes Depois, a tal música, foi gravada com a participação do cantor norte-americano Devendra Banhart, fã ardoroso do grupo, que está preparando um disco de inéditas com temas compostos por Sérgio Dias em parceria com nomes como Tom Zé. É para este ano.

Coldplay lista as dez músicas do quarto álbum

Conforme divulgado pelo Coldplay em seu site oficial na quinta-feira, 10 de abril de 2008, o quarto álbum da banda - intitulado Viva la Vida or Death and All his Friends, e não Prospekt como chegou a ser ventilado na internet em janeiro - vai ter 10 músicas gravadas entre Londres, Barcelona e Nova York sob as batutas dos produtores Brian Eno e Markus Dravs. O lançamento mundial do CD está agendado pela Capitol Records para 17 de junho. Eis - na ordem - as dez faixas do sucessor de X & Y (2005), cuja capa vai reproduzir tela de textura política do pintor francês Eugène Delacroix batizada Liberdade Guiando o Povo (1830):
1. Life in Technicolor
2. Cemeteries of London
3. Lost!
4. 42
5. Lovers of Japan / Reign of Love
6. Yes
7. Viva la Vida
8. Violet Hill
9. Strawberry Swing
10. Death and his Friends

Senise lança CD em duo e já planeja outros dois

Formado há 22 anos, o duo Gilson Peranzzetta & Mauro Senise vai lançar em maio seu quarto CD, Êxtase, pelo selo Marari Discos. Enquanto isso, Senise (foto) planeja gravar outros álbuns. Em junho, a convite da gravadora Delira Música, o saxofonista já entra em estúdio para gravar disco ao lado do pianista Kiko Continentino e do guitarrista Leo Amuedo. Em dezembro, Senise começa a concretizar o projeto da gravação de um álbum - com lançamento previsto pela gravadora Biscoito Fino para março ou abril de 2009 - em que vai entrelaçar as obras de Dolores Duran (1930-1959) e Sueli Costa. Olivia Hime cantará Por Causa de Você.

13 de abril de 2008

Quinze CDs de Tom voltam avulsos e em caixa

Brasileiro é o título da caixa de discos de Tom Jobim (1927 - 1994) que a gravadora Universal Music vai pôr nas lojas a partir de 6 de maio. A caixa embala reedições remasterizadas de cinco títulos da discografia original do compositor - Caymmi Visita Tom (1964), Garota de Ipanema (1967), Matita Perê (1973), Elis & Tom (1974) e Edu & Tom - Tom & Edu (1981) - e três coletâneas inéditas (Tom Feminino, Tom Masculino e Tom pra Dois) com gravações de músicas de Jobim em vozes de vários cantores. Dos cinco álbuns originais, a trilha sonora de Garota de Ipanema - filme dirigido por Leon Hirszman em 1967 com músicas de Tom e Vinicius de Moraes (1913 - 1980) - é o título mais raro. A trilha somente foi reeditada em CD em 2001 dentro da caixa de 27 discos Como Dizia o Poeta, dedicada à obra fonográfica de Vinicius, e permanece desconhecida até hoje.
Paralelamente ao lançamento da caixa Brasileiro, a Universal Music também vai pôr nas lojas em maio, em reedições avulsas, mais sete títulos que envolvem a obra de Tom Jobim. Voltarão ao mercado fonográfico nacional The Composer of Desafinado Plays (1963, primeiro disco em que Jobim gravou as próprias músicas - até então ouvidas somente em vozes alheias), Wave (1967), Tide (1970), Ella Abraça Jobim (álbum de 1981 dedicado pela cantora americana Ella Fitzgerald ao cancioneiro jobiniano), Passarim (1987, em edição remasterizada), Rio Revisited (1992, gravado ao vivo com a participação de Gal Costa e também remasterizado para a atual reedição em CD) e Antonio Carlos Jobim and Friends (álbum póstumo que registrou show feito pelo maestro soberano no Free Jazz Festival).

Conjunção social entristece som do Detonautas

Resenha de CD
Título: O Retorno
de Saturno
Artista: Detonautas
Roque Clube
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * *
Inspirado de forma inevitável pela trágica conjunção social que resultou na morte do guitarrista Rodrigo Netto, vítima de assalto em seu carro quando voltava de almoço dominical em família no fim da tarde de 4 de junho de 2006, O Retorno de Saturno é o quarto álbum do Detonautas Roque Clube e, de certa forma, gira em torno do acontecimento que abalou o grupo carioca justamente quando seu então recém-lançado terceiro ousado CD, Psicodeliamorsexo&distorção, começava a espanar o ar juvenil que moldou o perfil inicial da banda. Tal conjunção entristeceu o som da banda neste novo CD, mais baladeiro e melancólico, pautado pelas letras confessionais do vocalista Tico Santa Cruz, que teve acentuado seu caráter militante desde a morte de Netto - a quem, aliás, o CD é dedicado.

O disco começa muito bem com o pop rock que lhe dá título e em cuja letra o ativista Tico garante vencer o cansaço e o medo do futuro. Mas são as baladas que dão o tom angustiado de O Retorno de Saturno. "Sinto pressa em imaginar uma solução para um problema que nem me aconteceu", admite o vocalista em Só pelo Bem-Querer, destaque entre as canções do álbum. O tempo muda a gente o tempo inteiro", conclui Tico em Nada É Sempre Igual, outra balada de grande inspiração melódica. Em Verdades do Mundo, Tico dialoga com o colega de banda morto na guerrilha urbana. A música também se impõe entre as 11 faixas.

A questão de O Retorno de Saturno é que nem sempre Tico consegue traduzir sua militância em boas letras e músicas. A primeira metade do disco - com faixas de contorno pop como Lógica - é (muito) superior à segunda, quando o discurso indignado de Tico esbarra na obviedade (Enquanto Houver..., de versos-clichês como "Não dormiremos em paz enquanto houver desigualdade"), na pretensão (Ensaio sobre a Cegueira, faixa chata que evoca no título o livro homônimo do escritor português José Saramago) e numa forma até pueril quando cospe na cara dos políticos brasileiros os versos raivosos de Eu Vou Vomitar em Você, faixa que tem citação de AAUU, clássico da obra-prima dos Titãs (Cabeça Dinossauro, 1986). Por falar em bandas dos anos 80, Soldados de Chumbo, de leve levada country, tem letra que remete ao cancioneiro de Renato Russo (1960 - 1996). Embora Tico nunca alcance a densidade poética de Russo, um dos grandes pensadores do pop brasileiro, o cantor do Detonautas mostra nos versos de Oração do Horizonte que está em evolução e, como o planeta pop gira sem parar, o Detonautas Roque Clube tem tudo para entrar - no futuro - em órbita musicalmente menos irregular.

Vanessa e Maria Rita ganham Discos de Platina

O terceiro álbum de Vanessa da Mata, Sim, lançado em maio de 2007, já faz jus a um Disco de Platina - de acordo com os atuais critérios adotados pela Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) - por ter atingido a marca de 125 mil cópias vendidas no embalo da extraordinária execução radiofônica da faixa Boa Sorte / Good Luck. Assim como Vanessa da Mata, Maria Rita também festeja o Disco de Platina conquistado por seu terceiro CD, Samba Meu, editado em setembro de 2007. A marca é boa e até rara em tempos de irreversível crise no mercado fonográfico, mas vale lembrar que o primeiro CD da filha de Elis Regina, Maria Rita (2003), vendeu 800 mil cópias e que Segundo (2005) bateu nas 250 mil cópias...

Áurea vai de Alf a Herbert no seu terceiro disco

Em seu terceiro álbum, Até Sangrar, à venda via Biscoito Fino, a boa cantora carioca Áurea Martins dá continuidade a uma espaçada trajetória fonográfica que começou no início dos anos 70 com dois compactos e raro LP produzidos por Rildo Hora. Em Até Sangrar, disco idealizado por Hermínio Bello de Carvalho, a intérprete - que fez respeitável carreira na noite carioca - canta um repertório que entrelaça músicas de compositores como Johnny Alf, Lupicínio Rodrigues e, na faixa mais surpreendente, Herbert Vianna e Paula Toller, de quem Áurea regrava a balada Nada por mim (1985). Eis o repertório do CD Até Sangrar, voltado para a MPB tradicional:

1. Ilusão à Toa (Johnny Alf)
2. Nada por mim (Herbert Vianna e Paula Toller) / Baralho da Vida (Ulisses Oliveira)
3. Não Sou de Reclamar (Lupicínio Rodrigues) / Há um Deus (Lupicínio Rodrigues) / Até o Amargo Fim (Newton Teixeira e David Nasser) / Ocultei (Ary Barroso)
4. Até Quem Sabe (João Donato e Lysias Enio de Oliveira)
5. Moeda Quebrada (Luiz Reis e Ary Vidal)
6. Ededron Vermelho (Herivelto Martins) / Molambo (Jaime Florence e Augusto Mesquita)
7. Janelas Abertas (Tom Jobim e Vinicius de Moraes)
8. Noturno em Tempo de Samba (Custódio Mesquita e Evaldo Ruy)
9. Sem Mais Adeus (Francis Hime e Vinicius de Moraes)
10. Vida de Bailarina (Chocolate e Américo Seixas)
11. Migalhas (Lupicinio Rodrigues e Felisberto Martins)
12. Valsa Dueto (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes)
13. Um Favor (Lupicínio Rodrigues) / Volta (Lupicínio Rodrigues)
14. Embarcação (Francis Hime e Chico Buarque)