7 de agosto de 2010

Tudo é sertão no toque do violeiro Almir Sater

Resenha de Show
Título: Almir Sater - O Cavaleiro da Lua
Artista: Almir Sater (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Citibank Hall (RJ)
Data: 6 de agosto de 2010
Cotação: * * * *
Parafraseando verso de Um Violeiro Toca, linda parceria de Almir Sater com Renato Teixeira que foi popularizada na trilha sonora da novela Pantanal (1990) na voz do artista de Mato Grosso, tudo vira sertão quando toca um violeiro como Almir Sater. Até um tema instrumental blueseiro como O Ganso. Vinte anos depois do estouro de Pantanal e três após sua última apresentação no Rio de Janeiro (RJ), Sater voltou aos palcos cariocas na noite de 6 de agosto de 2010 para fazer show no Citibank Hall. Munido de sua viola, que afinou durante grande parte do show ("Dizem que um violeiro passa metade da vida afinando sua viola e o resto do tempo tocando desafinado", gracejou em cena), Sater desfiou - na companhia de azeitada banda - temas pantaneiros e toadas criadas dentro da melhor tradição da música rural nativa. E contou causo!
"Verdade é voz que vem de dentro", sentenciou ele em verso de O Vento e o Tempo, a música que abriu o roteiro que alternou temas instrumentais e cantados. No show, Sater pôs sua voz verdadeira a serviço de nobre repertório sertanejo composto solitariamente e com parceiros como Renato Teixeira e Paulo Simões ("O carioca mais caipira que eu conheço"). Da obra com Teixeira, toadas como Brasil Poeira e Tocando em Frente marcaram presença, sendo que, ao fim de Tocando em Frente, o artista recomeçou a cantar a música a capella, puxando o coro do público que encheu a casa Citibank Hall carioca e se mostrou íntimo do repertório de Sater. Do cancioneiro composto com Paulo Simões, Sater reviveu Mês de Maio e, no decepcionante bis, Maneira Simples. Para ouvidos urbanos menos habituados com a música feita no interior do Brasil, a excelente surpresa foi Kikiô, toada melodiosa de Geraldo Espíndola, compositor de Campo Grande (MS), conterrâneo de Sater. Íntimo do universo musical da região central do Brasil, o artista perfilou os boiadeiros da região em Peão, repôs nos trilhos o seguro Trem do Pantanal e pediu ao acordeonista Marcelus Publius Anderson para comandar um "bailão pantaneiro". Mas, antes do baile, houve solo de berimbau do percussionista Papete (ao som do Canto de Nanã) e passagens instrumentais em temas como O Cavaleiro da Lua que possibilitaram a Sater mostrar suas habilidades na viola. Ao fim, após abrir espaço para os irmãos Gisele e Rodrigo Sater mostrarem músicas de seus discos (ela cantou Irmão da Lua, de Renato Teixeira, e ele solou Uma pra Estrada), o artista embarcou na melancolia da velha Chalana (Mário Zan e Arlindo Pinto), arrematando um show pontuado pela verdade de sua voz e de sua música. Tudo é sertão em seu toque...

'Guia', quarto disco de Zambujo, chega ao Brasil

Lançado em abril de 2010, em Portugal, o quarto álbum do ótimo cantor lusitano António Zambujo, Guia, ganha edição brasileira neste mês de agosto pelo selo MP,B (distribuído via Universal Music). Em Guia, Zambujo religa Portugal ao Brasil ao alinhar no repertório músicas de Vinicius de Moraes (1913 - 1980) - Poema dos Olhos da Amada e Apelo, parcerias do poeta com Paulo Soledade e Baden Powell - com temas como Barroco Tropical (José Eduardo Agualusa) e Zorro (João Monge e João Gil). Nascido no Alentejo, Zambujo celebra sua terra natal na autoral Toada Alentejana. Dentro das fronteiras brasileiras, o cantor registra a valsa seresteira A Deusa da Minha Rua (Jorge Faraj e Newton Teixeira, 1939) e duas canções do brasileiro Rodrigo Maranhão, Quase um Fado e De Mares e Marias, ambas registradas pelo autor em seu CD Passageiro, lançado em maio no Brasil - com a adesão do próprio Zambujo em Quase um Fado.

Som Livre empobrece (boa) coleção de Nelson

Lançada em 2005, a coleção A Volta do Boêmio - que traz compilação da obra de Nelson Gonçalves (1919 - 1998) - está sendo reeditada pela Som Livre neste segundo semestre de 2010. Desta vez, a coleção volta no formato de dois CDs duplos, vendidos de maneira avulsa. Só que a edição atual é mais pobre, pois suprime as letras das músicas e o texto crítico-biográfico que analisava o canto do intérprete de sucessos como Fica Comigo Esta Noite. Ainda assim, a coleção merece atenção de quem admira Nelson, mas não tem CDs do cantor. A Volta do Boêmio distribui 56 gravações do artista em quatro temas. O primeiro CD do volume 1 reapresenta duetos feitos por Nelson nos anos 80 com nomes como Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, Chico Buarque e Zizi Possi. O segundo CD junta gravações que justificam a alcunha de boêmio que identifica o intérprete no cancioneiro nacional - casos de Mariposa, Meu Vício É Você e da música de Adelino Moreira que batiza a coleção. Já o primeiro CD do volume 2 prioriza tangos e boleros enquanto o segundo disco alinha registros de músicas de compositores como João Donato, Lobão, Rita Lee e Arnaldo Antunes para mostrar que Nelson pôs, à sua moda, o vozeirão (àquela altura já sem a potência de outrora) em músicas compostas fora de seu habitual universo folhetinesco.

Sorriso Maroto registra show 'Sinais' no Recife

Grupo de pagode que iniciou sua carreira fonográfica em 2002, Sorriso Maroto grava ao vivo neste sábado, 7 de agosto de 2010, o oitavo título de sua discografia. Sinais - O Show marca a estreia do grupo na Universal Music e vai ser editado até o fim do ano nos formatos de CD, DVD e blu-ray. Sob a direção de Joana Mazzucchelli, a gravação acontece no Marco Zero, no Centro de Recife (PE). Com músicas ilustradas por videografismos em 2D e 3D, o roteiro do show alterna hits do quinteto (Por Você, Ainda Existe Amor em Nós, É Diferente, Eu Vacilei) com músicas inéditas como A Festa Vai Começar, Clichê, Sou Eu e Mais Ninguém, Ex-Namorada, Eu me Rendo e Quem Tá Solteiro Nunca Fica Só.

6 de agosto de 2010

Pato Fu é feliz ao brincar com músicas alheias

Resenha de CD
Título: Música de Brinquedo
Artista: Pato Fu
Gravadora: Rotomusic / Microservice
Cotação: * * * * 1/2

Ao gravar seu último CD, Daqui pro Futuro (2007), o Pato Fu recorreu eventualmente a sons de caixinhas de música e a pianos de brinquedo. Três anos depois, o futuro chegou pela música do passado. Décimo álbum do grupo mineiro, o primeiro gravado fora da esfera autoral, Música de Brinquedo foi todo urdido com instrumentos de brinquedo (ou miniaturas de instrumentos de adultos). O resultado é um disco fofo que devolve ao Pato Fu a aura lúdica com que o quinteto debutou no mercado fonográfico em Rotomusic de Liquidificapum (1993). A partir do álbum Televisão de Cachorro (1998), o Pato Fu foi ficando mais pop e mais sério - ainda que tenha mantido uma cota mínima de fofura em cada um de seus álbuns. Em Música de Brinquedo, CD pilotado por John Ulhoa, a tal aura lúdica rodeia e revigora a obra fonográfica do grupo. O Pato Fu brinca feliz com doze músicas alheias. E dois fatores foram fundamentais para que a felicidade se estendesse ao ouvinte de todas as idades. O primeiro é a absoluta fidelidade das regravações aos arranjos originais. O barato da brincadeira foi reproduzir com o arsenal infantil - que incluiu o tecladinho de uma calculadora, mimos eletrônicos e até elefante de brinquedo - as levadas com que músicas como Primavera (hit de Tim Maia 1970), Twiggy Twiggy (do grupo japonês Pizzicato Five) e Ska (com um kazoo assumindo a função do sax ouvido na gravação original dos Paralamas dos Sucesso, de 1984) foram gravadas em seus célebres registros originais. O segundo fator que deu ao disco salutar e verdadeiro ar infantil foi a convocação das crianças Nina Takai (filha de Fernanda Takai com John Ulhoa) e Matheus D'Alessandro para cantar a maioria das músicas. Com suas vozes desajeitadas e eventualmente até mesmo desafinadas, as crianças reforçam o tom informal do disco sem nunca perseguir aquela formalidade asséptica dos corais infantis. É uma graça ouvir Nina pregando a paz através dos versos falados de Todos Estão Surdos (1971), o hino humanista composto por Roberto Carlos e Erasmo Carlos com inspiração nos spirituals norte-americanos. A despreocupação do grupo com a assepsia técnica fez Música de Brinquedo soar mais gracioso e honesto. E, como o repertório foi geralmente bem sacado, a diversão é garantida. Brincando nas onze, o grupo consegue recriar com um piano de brinquedo a levada clássica de Ovelha Negra (1975), sendo que o solo de guitarra é feito por um glockenspiel de brinquedo. Já o som do interfone de Pelo Interfone (Ritchie, 1983) é tirado com alto-falante de brinquedo. Destaque do CD, Frevo Mulher (1979) tem a pegada da sanfona simulada por um drawdio (lápis que emite sons, no caso os de um theremin). Impossível não lembrar da gravação de Amelinha. Outro exemplo da habilidade do Pato no manuseio do arsenal infantil é Live and Let Die (1973), cuja pegada grandiosa do arranjo é transposta com brilho para o universo lúdico das crianças. Entre brincadeiras eletrônicas com Sonífera Ilha (Titãs, 1984) e abordagem menos charmosa de My Girl (The Temptations, 1964 - com a kalimba fazendo o riff original da guitarra), o Pato Fu devolve a Rock'n'Roll Lullaby (1972) a sua aura infantil, já que o sucesso de BJ Thomas - propagado no Brasil como tema romântico do casal protagonista da novela Selva de Pedra - já evocava, a rigor, o espírito de uma canção de ninar. Mas é Love me Tender (1956) - a balada popularizada por Elvis Presley (1935 - 1977) - que soa como acalanto ao fechar este álbum atípico na discografia do Pato Fu, mas, ao mesmo tempo, tão coerente com o espírito que já norteava a discografia da banda lá em 1993. Música de Brinquedo é como voltar a esse começo.

Riva vai da marcha ao frevo em registro ao vivo

Três anos depois de debutar no mercado fonográfico com (sedutor) disco em que buscou a interação das músicas brasileira e cubana, a cantora Marina de la Riva apresenta seu primeiro registro ao vivo. Gravado em show no Teatro Bradesco (SP), Ao Vivo em São Paulo rebobina algumas músicas gravadas por Riva em seu álbum de estreia - como a marchinha Ta-Hí (Pra Você Gostar de mim) - e acrescenta outras ao bom repertório da artista, caso do frevo Bloco do Prazer (Moraes Moreira e Fausto Nilo), lançado em 1979 por Moraes no LP Viva Dodô & Osmar. Pupillo (baterista da Nação Zumbi) e Andreas Kisser (guitarrista do Sepultura) fazem intervenções no roteiro que enfileira músicas como Aos Pés da Cruz, Mariposa, Adivinha o Quê? - o sucesso de Lulu Santos que Riva gravou também em dueto com o autor no Acústico MTV II, de Lulu - e Ojos Malignos, entre outras faixas. Este Mal de Amor é novidade da lavra do cubano José Antonio Castilho, descoberta por Riva em viagem a Havana. Em CD e DVD.

Duetos e faixas ao vivo moldam 'Perfil' de Jorge

Enquanto badala nos Estados Unidos álbum gravado com o grupo Almaz, Seu Jorge ganha no Brasil compilação na série Perfil, da Som Livre. Posta à venda nesta primeira semana de agosto de 2010, a coletânea reúne 14 fonogramas de Jorge em discos próprios e alheios. A seleção inclui recentes hits radiofônicos (os casos de Mina do Condomínio e Burguesinha), faixas ao vivo captadas em shows (Tive Razão, São Gonça, Zé do Caroço, Carolina) e duetos com Ana Carolina (É Isso Aí - a versão de The Blower's Daughter que dominou as paradas em 2005), Teresa Cristina (Me Deixa em Paz), Alexandre Pires (Eu Sou o Samba), Marcelinho da Lua (Cotidiano) e Marcelo D2 (Pode Acreditar - Meu Laiá Laiá). Quase todos os fonogramas do Perfil de Seu Jorge são do acervo da EMI Music.

EP de Antony inclui 'covers' de Dylan e Lennon

Antony & the Johnsons vai lançar EP, Thank You for your Love, em 30 de agosto de 2010. A música-título do disco editado pela gravadora Rough Trade - só no exterior - é o primeiro single do álbum, Swanlights, que o grupo vai apresentar em 5 de outubro. Mas o atrativo maior entre as cinco faixas são covers dos repertórios de John Lennon (Imagine) e Bob Dylan (Pressing on). You Are the Treasure e My Lord my Love completam o EP de Antony Regarty e seus colaboradores. Em tempo: Björk participa de Flétta, faixa do álbum Swanlights.

5 de agosto de 2010

Weezer programa álbum 'Hurley' para setembro

Já em fase de mixagem, o oitavo álbum de estúdio do Weezer, Hurley, tem lançamento agendado para 13 de setembro de 2010. O sucessor do pop Raditude (2009) conta com colaborações dos compositores Ryan Adams e Mac Davis na música Time Flies. Inspirado pelo pop dos anos 70, o álbum já tem um primeiro single, Memories. Outras faixas do CD são Smart Girls, Hang on e Ruling me. Hurley é o primeiro disco do grupo norte-americano de rock pela gravadora indie Epitaph - na qual encontrou abrigo após sair da poderosa Geffen / Interscope, em dezembro de 2009.

Sistema solar inspira disco instrumental de Dre

Um dos produtores mais influentes no mercado fonográfico de hip hop, Dr. Dre revelou esta semana que está preparando um álbum instrumental inspirado pelo sistema solar e - por ora - intitulado The Planets. O rapper e produtor disse que o disco vai ter a sua interpretação dos sons de cada planeta. Já quanto ao seu sempre adiado álbum Detox - previsto para ser lançado desde 2004 - sabe-se que o sucessor de 2001 (1999) não vai sair antes de 2011.

Caixa embala 814 gravações de Elvis em 30 CDs

A obra completa de Elvis Presley (1935 - 1977) foi embalada na caixa The Complete Elvis Presley Masters. O lançamento está agendado para 19 de outubro de 2010, mas o produto já está em pré-venda no site oficial do cantor. A caixa reúne, em 30 CDs, 814 gravações do cantor, incluindo todos os 711 registros oficiais de Elvis e 103 fonogramas extra-oficiais, de caráter (mais ou menos) raro. As gravações foram restauradas com fidelidade ao áudio original. Um livro de capa dura e 240 páginas acompanha os 30 CDs com análise da discografia do artista, exposição da arte gráfica dos álbuns originais, índice de músicas e ensaio de Peter Guralnick. Para o Brasil, a caixa sai por R$ 2.594, 42 - mais o frete.

Daniela revisita 'Outros Clássicos' com Guedes

Gravado em 14 de julho de 2010 em show no Palácio das Artes, em Belo Horizonte (MG), o segundo DVD de Beto Guedes, Outros Clássicos, tem lançamento previsto para este semestre. Fã do compositor mineiro, Daniela Mercury participou da gravação ao vivo. A cantora baiana - vista no post com Beto na foto de Lívia Bastos, do blog oficial do cantor - dividiu com o anfitrião os vocais de Luz e Mistério (Beto Guedes e Caetano Veloso) e Meu Ninho (Wagner Tiso e Ronaldo Bastos). Wagner Tiso fez o arranjo e tocou o piano de Meu Ninho. O registro rende também CD ao vivo.

4 de agosto de 2010

30º Prêmio Shell de Música é de Dominguinhos

Dominguinhos é o vencedor da 30º edição do Prêmio Shell de Música. A eleição do nome do cantor, compositor e acordeonista foi feita nesta quarta-feira, 4 de agosto de 2010, pelo júri formado pelos jornalistas Antônio Carlos Miguel e Marcus Preto, a cantora Mariana Aydar, o cantor e compositor Edu Krieger, o produtor musical Alê Siqueira e o produtor cultural Pedro Seiler. Aos 69 anos, Dominguinhos - visto no post em foto de Greg Salibian - vai receber o prêmio em show no Rio de Janeiro (RJ) em data e local ainda incertos. Em 2008, ele foi o homenageado do Prêmio Tim.

Roberta e Trio giram ousados na roda de Roque

Resenha de CD
Título: Quando o Canto É Reza - Canções de Roque Ferreira
Artista: Roberta Sá & Trio Madeira Brasil
Gravadora: MP,B / Universal Music
Cotação: * * * * *
A ausência de signos da cultura afro-brasileira na capa do álbum Quando o Canto É Reza já dá a pista certeira da trilha seguida por Roberta Sá e o Trio Madeira Brasil neste CD em que abordam a obra do compositor baiano Roque Ferreira. Sem romper com a estética da obra fonográfica da cantora, o disco tira a obra de Roque - caracterizada por louvação aos orixás e aos símbolos míticos da Bahia - do sagrado altar afro-brasileiro em que seu repertório é mantido quando gravado (com muita propriedade, diga-se) por cantoras como Maria Bethânia e Mariene de Castro. Produtor do álbum, Pedro Luís soube manter a leveza dos discos anteriores de Roberta, cujo canto cheio de frescor se mostra cada vez mais refinado nesse diálogo inteligente com as cordas do Trio Madeira Brasil. As percussões sutis de Zero Telles e Paulino Dias temperam o cancioneiro sem que o baticum dê o tom do disco. São as cordas magistrais de Marcello Gonçalves (violão de sete cordas), Ronaldo do Bandolim e Zé Paulo Becker que imperam refinadas nos arranjos que eventualmente até deslocam a obra de Roque de seu eixo habitual sem anular a origem afro-baiana - já impressa, a rigor, na maioria das letras do compositor, repletas de imagens. A introdução instrumental do ijexá Menino - para citar um detalhe - evoca o universo dos afro-sambas de Baden Powell & Vinicius de Moraes e é exemplo do bordado sofisticado que costura 13 músicas de Roque com múltiplas referências alinhadas com tal maestria que todo o trançado soa natural. A vivência carioca do Trio Madeira Brasil e da própria Roberta - nascida no Rio Grande do Norte, mas desde menina radicada no Rio de Janeiro (RJ) - transparece no ritmo de samba-choro que baixa em Orixá de Frente (em curioso contraponto com a temática afro-baiana da letra que versa sobre signos do Candomblé), na pitada de maxixe que tempera o samba-de-roda Cocada (com um toque de coco também) e no embate conjugal interpretado por Roberta com Moyseis Marques em Tô Fora, samba moldado à moda da Lapa (bairro carioca em cujo circuito atuam novas vozes do samba como Moyseis). Girando na roda situada entre Rio e Bahia, Quando o Canto É Reza soa irretocável - com direito a uma escala na América Latina na introdução marota de A Mão do Amor. Sozinha com as cordas do Trio Madeira Brasil, Roberta canta Roque em feitio de oração em Marejada e em Festejo. Ao fim do disco, Festejo põe na roda citação de Samba pras Moças (Grazielle & Roque Ferreira), um sucesso de Zeca Pagodinho. Do repertório de Zeca, aliás, Roberta e Trio pescam lindamente Água da Minha Sede, samba embebido em ondas de maracatu e ciranda. A parceria de Roque com Dudu Nobre ressurge mais melodiosa e límpida com esse banho de loja dado em registro que destaca a viola caipira de Zé Paulo Becker quando a letra cita o instrumento normalmente associado ao cancioneiro ruralista. Para quem espera mergulho mais tradicional no mar da Bahia, o samba de roda Chita Fina ganha o instrumental típico do gênero. Já em outro samba-de-roda - Xirê, no qual os floreios vocais de Roberta atestam a crescente evolução da cantora - as palmas se inserem em outro contexto harmônico sem nunca descaracterizar o ritmo original do tema. É que Roberta Sá e o Trio Madeira Brasil rezam ousados pela cartilha de Roque Ferreira sem devoção cega ao universo em que o compositor ambienta sua obra. É por isso que temas como Mandingo (que retorna ao ritmo original de samba com o qual foi composto por Roque com Pedro Luís, intérprete original do tema em registro feito com a Parede) e Zambiapungo (parceria de Roque com Zé Paulo Becker) soam tão leves. A carga afro-brasileira enraizada no cancioneiro de Roque é atenuada sem prejuízo estético. A voz de Roberta deita e rola na elegante cama instrumental armada pelo Trio Madeira Brasil, cujos integrantes se alternaram na confecção dos arranjos. E o trio brilha na execução dessas orquestrações. Ora é um solo do bandolim de Ronaldo que adorna um tema. Ora são as sete cordas do violão de Marcello Gonçalves que transportam Roque Ferreira para outro universo. Ora é a viola caipira de Zé Paulo Becker que entra majestosa na roda. Resultado: os sons ouvidos em Quando o Canto É Reza parecem mesmo sagrados quando se escuta o ijexá Água Doce, de cuja letra foi extraído o verso que dá título a este CD que entroniza Roberta Sá no time (con)sagrado das grandes cantoras brasileiras.

Quinto álbum do Kings of Leon sai em outubro

Com o título de Come Around Sundown, o quinto álbum do quarteto norte-americano Kings of Leon vai estar nas lojas a partir de 18 de outubro de 2010. O grupo gravou o sucessor de Only by the Night (2008) no Avatar Studios, em Nova York (EUA), sob a batuta (habitual) dos produtores Angelo Petraglia e Jacquire King.

Erasmo, Lages e Valle exaltam 'Rei' em samba

Parceiro de Roberto Carlos, Erasmo Carlos compôs com Eduardo Lages - maestro do Rei desde 1978 - e com Paulo Sérgio Valle um samba-enredo em que exaltam Roberto. A composição foi inscrita pelo trio no concurso promovido pela escola de samba Beija-flor de Nilópolis (RJ) para escolher o samba-enredo com o qual a agremiação vai homenagear Roberto Carlos no Carnaval de 2011. O samba feito por Erasmo - visto no post em foto de Gilda Midani - com Lages e Valle vai ser apresentado na quadra da escola em 12 de agosto ao fim da etapa inicial do concurso. Será que vai ganhar?

3 de agosto de 2010

Gadú lança em outubro DVD que teve até Sandy

A gravadora Som Livre vai lançar em outubro de 2010 0 CD e DVD Maria Gadú - Multishow ao Vivo, gravado em show realizado pela cantora na casa Credicard Hall, em São Paulo (SP), em 29 de julho de 2010. A maior surpresa foi a participação de Sandy no bis, quando Gadú cantou Quando Você Passa, tema do repertório da dupla Sandy & Junior. Entre músicas de seu primeiro álbum, editado em 2009, Gadú transitou pelos cancioneiros de Adoniran Barbosa (Trem das Onze), Alanis Morissette (Right Through You), Legião Urbana (Quase sem Querer) e P!nk (Who Knew). Eis, na íntegra, o roteiro do show que vai gerar o CD, o DVD e o especial do canal de TV Multishow Maria Gadú - Multishow ao Vivo:
1. Encontro (Maria Gadú)
2. Bela Flor (Maria Gadú)
3. Shimbalaiê (Maria Gadú)
4. Tudo Diferente (André Carvalho)
5. Dona Cila (Maria Gadú)
6. Lanterna dos Afogados (Herbert Vianna)
7. A História de Lilly Braun (Chico Buarque e Edu Lobo)
8. Altar Particular (Maria Gadú)
9. Paracuti (Luiz Murá e Maria Gadú) – com Luiz Murá
10. Aurora - com Dani Black
11. Linda Rosa (Gugu Peixoto e Luiz Kiari) – com Leandro Léo
12. A Culpa - com Os Varandistas
13. Quando Fui Chuva - com Luiz Kiari
14. João de Barro (Leandro Léo) - solo de Leandro Léo
15. Laranja (Maria Gadú) - com Leandro Léo
16. Right Through You (Glen Ballard e Alanis Morissette)
17. Filosofia (Noel Rosa)
18. Lounge (Maria Gadú)
19. Trem das Onze (Adoniran Barbosa)
20. Quase Sem Querer (Dado Villa Lobos, Renato Russo e Renato Rocha)
21. Escudos (Maria Gadú)
22. Who Knew (Lukasz Doctor Luke Gottwald e M. Martin e P!nk)
23. Ne Me Quitte Pas (Jacques Brel)
Bis:
24. Quando Você Passa - com Sandy
25. Laranja (Maria Gadú) - com Leandro Léo

Trilha de filme sobre Martinho soa bem em CD

Resenha de CD
Título: Filosofia de Vida
Artista: Martinho da Vila
Gravadora: MZA Music
Cotação: * * *

Três meses após lançar Poeta da Cidade, álbum em que aborda a obra de Noel Rosa (1910 - 1937), Martinho da Vila está de volta ao mercado fonográfico com outro CD. Trata-se de Filosofia de Vida, trilha sonora do homônimo documentário dirigido por Edu Mansur que estreou em maio de 2009 (clique aqui para ler a resenha do filme). O destaque da trilha é o encontro de Martinho com Ana Carolina no melodioso registro do belo samba que batiza o documentário. Parceria do compositor com Fred Camacho e Marcelinho Moreira, lançado por Martinho no kit de CD e DVD O Pequeno Burguês (2008), Filosofia de Vida abre o disco (no registro suingado do autor) e o fecha na gravação que reitera a habilidade de Ana para interpretar temas alheios. No mais, a trilha sonora é composta por regravações mais ou menos íntimas de lados B da vasta e rica obra de Martinho - casos de Linha do Ão (1970), Meu Off Rio (1994) - samba em que o cantor expõe a relação afetiva que tem com sua cidade natal Duas Barras (RJ), fio condutor do documentário - e de Pra Mãe Tereza (1989). Integra ainda o CD registro instrumental do choro Um a Zero (Pixinguinha e Benedito Lacerda). No todo, por mais que sua cota de novidade seja mínima, a trilha sonora de Filosofia de Vida resiste bem fora da tela. Para fãs de Martinho!!

Lendas legitimam o blues competente de Lauper

Resenha de CD
Título: Memphis Blues
Artista: Cyndi Lauper
Gravadora: Lab 344
/ Microservice
Cotação: * * * 1/2

Aos 57 anos, Cyndi Lauper preserva a potência vocal dos anos 80. É com sua voz forte e cortante que a intérprete pop de hits como Girls Just Wanna Have Fun simula o sentimento do blues em seu primeiro disco dedicado ao gênero. Justiça seja feita: o álbum é bom. Até porque não tem como ser ruim um disco que agrega bluesmen como B. B. King (voz e guitarra em Early in the Mornin'), o gaitista Charlie Musselwhite (em Just your Fool e em Down Don't Bother me) e o hábil pianista de Nova Orleans Allen Toussaint (em Shattered Dreams, em Early in the Mornin' e em Mother Earth). Tais lendas legitimam a incursão de Lauper pelo blues. Difícil não se embriagar com o clima de fim de estrada em que a artista ambienta temas como Rollin' and Tumblin' - faixa em que Lauper repõe em cena a voz de Ann Peebles, hoje esquecida cantora associada ao soul de Memphis. Talvez por ter escutado blues desde sempre, como tem revelado em entrevistas, Lauper forja de maneira convincente alma blueseira que dá credibilidade a regravações de clássicos como Crossroads, na qual figura (como cantor e guitarrista) Jonny Lang. Tanto que soa até dispensável a faixa-bônus exclusiva da edição brasileira, I Don't Want to Cry, balada gravada com o saxofonista Leo Gandelman. E o fato é que - por mais que represente, a rigor, o simulacro de um espírito blueseiro - o competente Memphis Blues de Cyndi Lauper é CD coeso esculpido com a pegada dos verdadeiros mestres do gênero.

'Tide' põe Luciana entre o samba e o pop jazz

Resenha de CD
Título: Tide
Artista: Luciana Souza
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * * 1/2

"Não posso mais, ai que saudade do Brasil / Ai que vontade que eu tenho de voltar", confessa logo Luciana Souza, cheia de suingue, nos versos do samba Adeus América (Haroldo Barbosa e Geraldo Jacques, 1948) que abrem seu álbum Tide. Lançado em 2009 nos Estados Unidos e editado no Brasil neste mês de agosto de 2010, Tide reitera a perfeição técnica do canto da artista paulista - radicada nos Estados Unidos - e situa Luciana entre o balanço nacional e o pop jazz ouvido em temas como Circus Life e Fire and Wood, ambos assinados pela própria artista (uma compositora nem sempre tão talentosa quanto a cantora) em parceria com o baixista Larry Klein (marido de Luciana e produtor do CD) e com David Batteau. Da produção autoral do trio, a balada Once Again é o destaque absoluto de Tide, inclusive pela ambiência de delicada densidade, pontuada por acordes minimalistas da guitarra de Larry Koonse e pelo piano de Larry Goldings. Se Love - Poem 65 e a faixa-título, Tide, recorrem a versos do poeta E.E. Cummings (1894 - 1962) nessa mesma atmosfera quase etérea, Sorriu pra mim (Garoto e Luis Cláudio) é samba em que Luciana exercita a arte do suingue à moda brasileira (e não deve ser por acaso que tanto Sorriu para mim quanto o medley inicial Adeus América & Eu Quero um Samba fazem parte do repertório lapidado por João Gilberto). Por fim, a exímia cantora sustenta Amulet - tema inédito de Paul Simon composto para Luciana Souza - nos vocalises, reafirmando a majestade vocal que valoriza o cancioneiro deste elegante Tide.

Tihuana prepara disco com música de 'Tropa 2'

Grupo paulista cuja carreira ganhou sobrevida em 2007 por conta da inclusão de sua música Tropa de Elite na trilha sonora do homônimo filme de José Padilha, Tihuana prepara seu sexto disco de estúdio no embalo da entrada da inédita Comboio do Terror na seleção musical de Tropa de Elite 2. O repertório do CD inclui regravação de Funk do Edmilson, um tema da banda Ostheobaldo.

2 de agosto de 2010

Djavan inclui Gil, Luiz, Chico e Silas em 'Ária'

Nas lojas na segunda quinzena de agosto de 2010 pela gravadora Biscoito Fino, o primeiro disco de Djavan como intérprete, Ária, reúne músicas como Oração ao Tempo (Caetano Veloso), Palco (Gilberto Gil), Apoteose ao Samba (Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola) e Luz e Mistério (Caetano Veloso e Beto Guedes). Eis, na ordem, as 12 faixas de Ária, que apresenta tema de Luiz Gonzaga (1912 - 1989), Treze de Dezembro, em uma gravação de vocalises:
1. Disfarça e Chora (Cartola e Dalmo Castello)
2. Oração ao Tempo (Caetano Veloso)
3. Sabes Mentir (Othon Russo)
4. Apoteose ao Samba (Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola)
5. Luz e Mistério (Beto Guedes e Caetano Veloso)
6. La Noche (Enrique Heredia Carbonell e Juan Jose Suarez Escobar)
7. Treze de Dezembro (Luiz Gonzaga e Zé Dantas)
8. Valsa Brasileira (Edu Lobo e Chico Buarque)
9. Brigas Nunca Mais (Tom Jobim e Vinicius de Moraes)
10. Fly me to the Moon (Bart Howard)
11. Nada a nos Separar (Wayne Shanklin em versão de Romeo Nunes)
12. Palco (Gilberto Gil)

Chega ao Brasil o primeiro DVD do Chickenfoot

Já na sequência da edição de seu álbum de estreia, Chickenfoot (2009), o grupo homônimo - formado por dois ex-membros do Van Halen (o vocalista Sammy Hagar e o baixista Michael Anthony) com o baterista Chad Smith (egresso do Red Hot Chili Peppers) e o guitarrista Joe Satriani - saiu em turnê e fez seu primeiro registro ao vivo de show em setembro de 2009, durante apresentação no Dodge Theater em Phoenix (Arizona, EUA). A gravação foi editada em DVD e blu-ray em abril de 2010. Trata-se do DVD Get your Buzz Live on (capa acima à esquerda), ora lançado no Brasil neste segundo semestre de 2010 pela gravadora ST2. Além do show em si, no qual o Chickenfoot toca temas de sua própria lavra e recicla o hino da banda The Who (My Generation), o DVD exibe documentário que detalha o show e o som desse supergrupo que faz rock pesado.

A-ha sai de cena com 'single' inédito e coletânea

Antes de sair definitivamente de cena em dezembro de 2010, o trio norueguês A-ha vai lançar um último single e uma nova coletânea. Disponível a partir de 20 de setembro, o single se chama Butterfly, Butterfly (The Last Hurrah) e puxa a compilação 25 - The Very Best of A-ha, que vai chegar às lojas em 4 de outubro com todos os hits acumulados pelo grupo nos 25 anos de carreira iniciada em 1985 com o estouro da música Take on me.

Vida de Beth Carvalho é documentada em filme

A longa trajetória de Beth Carvalho no mundo do samba vai ser retratada no cinema. Já entrou em fase inicial de produção, no Rio de Janeiro (RJ), um documentário sobre a vida e obra da cantora (vista à direita em foto de Thiago Martins). Alexandre Avancini é o diretor do filme, que terá pesquisa e roteiro assinados por Diogo Ely. Beth - que se recupera de problema na coluna detectado em 2009 - avaliza a produção e já deu entrevista a Ely na semana passada para o filme.

Loroza põe seu bloco na loja com Us Madureira

Um dissidente do Monobloco, o cantor e compositor Serjão Loroza se junta à banda Us Madureira e põe seu próprio bloco nas lojas neste mês de agosto de 2010. No CD e no DVD Loroza & Us Madureira ao Vivo, gravados em show no Centro Cultural Niemeyer, em Goiânia (GO), o artista revisita sucessos de Blitz (A Dois Passos do Paraíso, canção transfigurada na leitura rapeada de Loroza), Paralamas do Sucesso (A Novidade), Gonzaguinha (O que É o que É), O Rappa (O Pescador de Ilusões) e Tim Maia (Não Quero Dinheiro - Só Quero Amar). Entre samba, soul, funk, rap e reggae, Loroza apresenta temas autorais compostos em parceria com Fabinho D'Lélis (Jongo d'Us Madureira), Jacutinga (Hasta la Pista Baby) e Alexandre Alika (Meu Ponto Fraco É Mulher). A captação do som - feita somente em áudio 2.0 - prioriza a voz de Loroza em detrimento do baticum d'Us Madureira. Um certo desleixo da produção é evidenciado nos créditos da música Jacksoul Brasileiro (Lenine), grafada no CD e DVD como se fosse Jacksoul do Pandeiro. Tal faixa conta com a participação de Gabriel Moura, convidado também de Doidinha.

1 de agosto de 2010

'Lero-Lero' projeta bela música urbana de Maita

Resenha de CD
Título: Lero-Lero
Artista: Luísa Maita
Gravadora: Oi Música
Cotação: * * * * 1/2

No promissor disco de estreia do cantor e (bom) compositor paulista Rodrigo Campos, São Mateus Não É um Lugar Assim Tão Longe (2009), a voz segura de Luísa Maita - parceira de Campos - apareceu em músicas como Amor na Vila Sônia. Na mesma época, Mariana Aydar lançou seu segundo álbum (Peixes, Pássaros, Pessoas) com Beleza, parceria de Maita e Campos que se destacou no antenado repertório. Foi o crescimento de obra que nasceu em 2001 com a formação da Urbanda e que já vinha emergindo com força na cena indie desde 2007, a ponto de Maita ter sido sondada (em vão) pela EMI Music em 2008. Dois anos depois, a cantora e compositora paulistana debuta no mercado fonográfico, via selo Oi Música, com álbum, Lero-Lero, que já se impõe entre os melhores discos de 2010. Com sua música urbana, Maita transita pelo samba (sem se confinar ao ritmo) enquanto perfila personagens da mesma periferia que inspirou o disco de Rodrigo Campos. Ainda que geograficamente a personagem-título de Desencabulada - samba desencanado de Rodrigo com Luis Felipe Gama - seja moradora de morro do Rio de Janeiro. Além de ter co-produzido Lero-Lero, Campos também é o autor de Maria e Moleque - tema que narra em versos cinematográficos a paixão entre garoto do morro (e do tráfico) e menina casada do asfalto - e de Mire e Veja, outro destaque do repertório. No entanto, Maita sai da sombra de Campos em Lero-Lero. Tanto como cantora como compositora. Ela assina sozinha oito das onze faixas do CD. E, entre estas músicas autorais, há joias como o samba que abre o disco e lhe dá título (Lero-Lero) e a bossa (Amor e Paz) que fecha o álbum com elegante reciclagem do universo musical formatado por João Gilberto, Tom Jobim (1927 - 1994) e Vinicius de Moraes (1913 - 1980) nos anos 50. Entre um e outro, há Fulaninha, tema que evoca tanto o morro quanto o Nordeste (pela rabeca de Siba). Com sutis programações eletrônicas que nunca embaçam os sons orgânicos que moldam a ambiência eletroacústica de Lero-Lero, o produtor Paulo Lepetit deu tom contemporâneo hype à música urbana de Luísa Maita, harmonizando cuícas e beats com classe que projeta toda a beleza da obra da artista que debuta com força.

Black Eyed Peas anuncia álbum 'The Beginning'

The Beginning é o título do sexto álbum do Black Eyed Peas. O grupo norte-americano vai lançar o sucessor do incendiário The E.N.D. (2009) até o fim deste ano de 2010. E por falar na banda de will.i.am, o segundo single de The E.N.D. - I Gotta Feeling - acaba de atingir a marca de seis milhões de downloads, tornando o Black Eyed Peas o campeão de vendas no setor de música digital.

Iggy prepara CD com Stooges e reedita 'Kill City'

O grupo The Stooges já prepara um álbum com Iggy Pop. Trata-se do segundo trabalho de estúdio desde a reunião da banda em 2003. Iggy já está trabalhando nas letras e pondo alguns vocais em músicas do sucessor do fraco The Weirdness (2007). O repertório está sendo formatado por Iggy Pop com base em melodias e riffs enviados a ele pelo guitarrista James Williamson. Aliás, paralelamente aos preparativos deste novo CD com o Stooges, o artista vai relançar em Deluxe Edition, em 19 de outubro de 2010, Kill City, o caótico álbum editado em 1977 que Iggy gravou com Williamson, em 1975, após deixar o Stooges.

Discobertas edita 'Coisas de Menina', de Luen

(Bem) produzido por Clemente Magalhães, o primeiro CD de Luen - cantora e compositora norte-americana que mora no Brasil desde os nove anos - está sendo editado pelo selo carioca Discobertas. Coisas de Menina enfileira temas autorais de Luen Cugler - 4 da Manhã, Não se Arrepender, Duas Luas (este em parceria com o baixista Gian Fabra) - entre incursões pelos repertórios de Bob Dylan (If Not for You), Rita Lee (Menino Bonito) e Julie London (Cry me a River, o standard do compositor norte-americano Arthur Hamilton, de 1953). Além de ter pilotado o disco, Clemente Magalhães contribuiu com músicas como Sexta-Feira e Rock'n'Roll (esta em parceria com Luen). O CD Coisas de Menina foi gravado por Luen na companhia de banda formada por Antônio Van Ahn (teclados), Paulo Aiello (baixo), Pedro Terra (guitarra) e Rick De La Torre (bateria e programação).

Ralphes não lima os clichês do reggae do Chima

Resenha de CD
Título: Só pra Brilhar
Artista: Chimarruts
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * 1/2

Banda de reggae que já revela a origem gaúcha no engenhoso nome, Chimarruts chega ao quinto CD, Só pra Brilhar, e aos dez anos de carreira - iniciada em 2000 em ensaios nas praças de Porto Alegre (RS). Para festejar essa década de (crescente) sucesso comercial no mercado nacional, o grupo experimenta sutil guinada no álbum. Até então mais ambientado em clima praieiro, o reggae da banda ganha tonalidade urbana sob a batuta de Paul Ralphes, recrutado para polir o som do Chima. Sem afastar o octeto da praia do pop reggae, Ralphes formata com habilidade uma ou outra novidade - como o leve toque roqueiro de Presente de Deus. Mas o galês, que já pilotou discos de Skank e Cidade Negra, nem sempre consegue evitar os clichês do reggae asséptico do Chima. O flerte com o dancehall em Roots Dance poderia ter mais pressão, por exemplo. Mas o que parece ter norteado o disco é a pressão para manter a leveza pop do Chimarruts, perceptível na melodiosa Do Lado de Cá, faixa estrategicamente eleita o primeiro single de Só pra Brilhar. E o fato é que o álbum acaba soando meio linear. Os cantores Rafa Machado e Tati Portela se alternam no posto de vocalista e defendem repertório quase todo inédito que passeia por reggaes de versos sentimentais (Novo Começo, Pode Ir Agora, Quando o Amor Bate à Porta) e eventuais skas como Outono e o ensolarado Luz e Vida, destaque do disco, inclusive pelo acabamento instrumental que remete ao som dos Paralamas do Sucesso - de quem, aliás, o Chimarruts rebobina em tom banal o hit Meu Erro. Cover por cover, o de Dia Especial - tema do repertório do Cidadão Quem, regravado com a intervenção da guitarra de Duca Leindecker, líder desse bom grupo gaúcho - é mais surpreendente porque o Brasil ainda não explorou para valer as belezas das praias do Sul. Entre clichês e novidades bem sutis, o CD Só pra Brilhar preserva a identidade sonora do Chimarruts...