Maria Rita rejuvenesce ao cair ao vivo no samba
Título: Samba Meu
Artista: Maria Rita
Local: Fundição Progresso - Lapa (RJ)
Data: 1º de dezembro de 2007
Cotação: * * * * 1/2
Maria Rita rejuvenesceu... A cantora de 30 anos que apareceu no palco jovial da Fundição Progresso (RJ) - aos 18 minutos de 1º de dezembro, para iniciar a estréia nacional do show Samba Meu - perdeu aquele ar senhoril, de diva, de seus dois shows anteriores (o primeiro foi excelente e o segundo, equivocado). Maria caiu no samba descontraída, feliz, cheia de ginga. E encontrou seu público - jovem como ela. Parecia que Samba Meu era um show de Los Hermanos na Fundição Progresso, já que, com exceção do samba que batizou o terceiro disco de Rita e que abriu o show em registro a capella, a platéia fez espontâneo e incansável coro em todos os 21 números do roteiro sem novidades na voz da intérprete (as 21 músicas foram extraídas dos repertórios de seus três álbuns). A ponto de a cantora, feliz e emocionada, cair no choro no meio de Caminho das Águas. Não foi para menos. O show foi consagrador.
No palco, o samba de Maria Rita soa contagiante - sem aquele tom meio comedido do disco, que, embora seja bom, é limpo demais. O piano, o baixo e a bateria estavam lá, só que, no show, a percussão deu as cartas e garantiu o calor. Daí o pique incendiário percebido desde o segundo número, O Homem Falou, o belo samba lançado por Gonzaguinha em 1985 que Rita teve a inteligência de trazer à tona. A festa começou e o público não dispersou. Tá Perdoado - o samba de Arlindo Cruz e Franco que bomba nas rádios em versão remixada - manteve o clima quente, sendo seguido por Maria do Socorro (a jóia de Edu Krieger que tem todo jeito de hit nacional), Veja Bem meu Bem (com direito a uma cuíca roncando no final) e Novo Amor (outra música de Krieger, em ritmo de samba-choro).
Emoldurada por cenário simples, bonito e funcional que projetou desenhos do grafiteiro Spetto, Maria Rita cresceu no palco. E fez crescer sambas que, no disco, resultaram apenas medianos - casos de O Que É o Amor e de Cria. É que o samba dela ficou bem menos intimista em cena. E isso fez toda a diferença. Até mesmo quando o roteiro atravessou a fronteira rítmica do samba no segundo set. Com caras, bocas e toques de latinidade, a cantora reviveu Muito Pouco, de Moska. Até mesmo a dramaticidade da interpretação de Santa Chuva, embora destoante do clima do show, soou sedutora.
A pequena jam da banda ao fim de A Festa preparou a volta à cena da cantora com outro figurino. Foi quando começou o bloco com os sambas mais pagodeiros. Corpitcho, Casa de Noca, Num Corpo Só e Maltratar Não É Direito retomaram o caloroso pique inicial e arremataram o show, encerrado com Conta Outra, o sambalanço de Edu Tedeschi que entrou no CD Segundo em registro ao vivo (o bis foi dado com Tá Perdoado e com Cara Valente). Aliás, e a propósito, apenas dois anos depois da desastrosa estréia do show Segundo, em que tudo pareceu fora do tom, Maria Rita parece estar encontrando seu rumo e sua turma. Tanto que em nenhum momento do show Samba Meu paira sobre ela a sombra de Elis Regina. Um feito impensável para quem, há apenas quatro anos, estreou nacionalmente nos palcos com um show instintivamente calcado nos registros de sua mãe imortal. Enfim, Samba Meu é um grande, enxuto (tem cerca de uma hora e 15 minutos) e, sim, delicioso show. Que seria ainda melhor se o roteiro incluísse um ou outro samba inédito na voz (agora jovem) da grande cantora...