25 de novembro de 2007

Fluente, Mazzola narra a arte de produzir disco

Resenha de livro
Título: Ouvindo Estrelas - A Luta,
a Ousadia e a Glória de um dos
Maiores Produtores Musicais do Brasil
Autor: Marco Mazzola
Editora: Planeta (304 páginas,
R$ 39,90)
Cotação: * * * 1/2

A partir da década de 70, a trajetória de Marco Mazzola no mundo do disco passou a se entrelaçar com a história da indústria fonográfica brasileira. Em sua autobiografia Ouvindo Estrelas, o produtor escreve com texto fluente sobre a arte de produzir disco. O livro não é um manual técnico, embora contenha uma ou outra dica para manuseio de uma mesa de som - ofício no qual este carioca é um mestre. É, como já avisa o rótulo autobiografia exposto entre parêntesis na capa, um relato da vida e obra de um produtor que se tornou grife na indústria brasileira.

Por mais que apresente um perfil idealizado de si mesmo, como já denuncia o subtítulo do livro, Mazzola tem muito o que contar. E conta suas peripécias musicais em narrativa enxuta, escrita com objetividade. Farejador de talentos e de hits, Mazzola começou a brilhar na indústria da música em1973 com a produção dos dois primeiros discos de Raul Seixas para a Philips, a companhia hoje incorporada à Universal Music. Foram Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock e a obra-prima Krig-Ha, Bandolo! que deram credibilidade ao então iniciante produtor que. Prestigiado, ele em 1976 incentivaria a contratação de Belchior, estourado na voz de Elis Regina (Como Nossos Pais), mas sem chance na indústria após o fiasco comercial de um LP gravado em 1974 para a Continental.

Por conta dessa bem-sucedida fase inicial na Philips, Mazzola já foi levado - ainda em 1976 - por André Midani para a então nascente filial brasileira da WEA (hoje Warner Music). Na nova companhia, na função de diretor artístico, ele contratou Marina Lima, investiu nas Frenéticas (a gravação do sucesso Dancin' Days nos Estados Unidos teve o seu dedo, embora os discos do grupo tivessem sido produzidos pelo estreante Liminha) e - em mais uma prova de seu aguçado faro do sucesso - convenceu Gilberto Gil a gravar Não Chores Mais, a versão do reggae No Woman no Cry (Bob Marley) que Gil fizera para disco de Zezé Motta. Gil relutou, mas gravou e obteve um dos maiores êxitos de sua carreira. Estouro nacional!!!

Diplomático, Mazzola obviamente evita relatar no livro fatos que possam melindrar as estrelas com quem trabalhou. Contudo, os melhores momentos de sua autobiografia são justamente os que revelam detalhes saborosos de bastidores. Como o ciúme de Elis Regina quando Mazzola, entusiasmado, vivia falando de Marina. Ou a luta para implantar em 1980 a gravadora Ariola no Brasil, contratando nomes como Chico Buarque e Milton Nascimento a peso de ouro e apostando em estrelas que começavam a brilhar - caso de Elba Ramalho, que estouraria em 1981 com o forró Bate Coração. Luta que teve lances dramáticos em outubro de 1981 quando - apesar de todo o sucesso artístico e comercial da nova gravadora - a matriz alemã decidiu fechar a recém-fundada filial brasileira da Ariola e vendê-la para a PolyGram por um dólar... E Mazzola ficou na nova/velha companhia para levantar os ânimos.

Foi em 1981 que Mazzola - sempre político - conseguiu convencer Ney Matogrosso a pôr voz no forró Homem com H, rejeitado pelo cantor num primeiro momento. A música foi hit em todo o Brasil. Com o mesmo faro, Mazzola fez João Bosco incluir a balada Papel Machê - feita por Bosco para Zizi Possi - em seu álbum Gagabirô. Outro hit. Em 1986, já na CBS, Mazzola teria um papel decisivo na construção do fenômeno RPM. Ele produziria o LP Rádio Pirata ao Vivo, que venderia mais de dois milhões de cópias. Foi na CBS (atual Sony Music) que Mazzola ajudou Simone a ganhar vendas e a perder prestígio em série ruim de álbuns pautados por fórmulas comerciais. E que arregimentaria o violonista Paco de Lucia para fazer um solo em Oceano (hit de Djavan em 1989). Nessa época, foi Mazzola também que fez a conexão de Paul Simon com o baticum do Olodum, em gravação que daria visibilidade mundial ao grupo baiano a partir do lançamento do álbum The Rhythms of the Saints, editado por Simon em 1990. A gravação foi uma odisséia.

Em 1989, Mazzola inaugurou o seu estúdio Impressão Digital com equipamentos de última geração e, em 1996, antecipando o boom de selos indies que mudariam a face do mercado fonográfico nos anos 2000, ele inaugurou sua gravadora MZA Music, para a qual contratou artistas como Renata Arruda, Chico César, Zeca Baleiro e Rita Ribeiro. Aliás, ao produzir em 1997 o CD Acústico MTV de Gal Costa, Mazzola incentivaria a cantora a convidar Baleiro para a vitoriosa gravação. Não teve o mesmo sucesso, contudo, ao tentar convencer Baleiro, Chico César e Rita Ribeiro a gravar CD em trio, revelando nas entrelinhas a falta de afinidade entre os três astros. Em contrapartida, obteve êxito no projeto de atrair Martinho da Vila - então desprestigiado na Sony Music - para o elenco da MZA.

Em que pesem os elogios superlativos ao autobiografado, o livro Ouvindo Estrelas apresenta narrativa envolvente para quem se interessa pelos bastidores da indústria do disco. E teria ainda mais valor se seu texto tivesse passado por uma rigorosa checagem de dados. Mazzola foi traído pela memória em algumas passagens. Na página 121, ele credita a Baden Powell a faixa-título do disco Essa Mulher, gravado por Elis Regina em 1979 (Essa Mulher é da lavra de Joyce e Ana Terra. O samba inédito que Baden deu a Elis foi Cai Dentro). Mais adiante, na página 211, o autor narra a sua alegria ao ver a música Naquela Estação projetada na trilha da novela global Renascer, quando, na realidade, o hit do primeiro LP de Adriana Calcanhotto, gravado em 1990, entrou na trilha sonora da novela Rainha da Sucata (em 1993, Renascer propagou Mentiras, o sucesso do segundo disco da cantora gaúcha). Bem mais grave é a atribuição (nas páginas 52 e 53) da letra de Ouro de Tolo a Paulo Coelho. Raul Seixas compôs sozinho a melodia e a letra da música, lançada em 1973. Contudo, tais lapsos de memória nunca tiram o brilho da narrativa auobiográfica de Marco Mazzola - ele próprio uma estrela por conta de seu domínio técnico e de seu faro para o sucesso. Mazzola lutou, ousou e - sim - já saboreia a glória de ser um dos maiores produtores de discos do Brasil. Ouça a sua estrela.

14 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Olá, Mauro.

Se me permite uma correção, a música "Bate coração", foi gravada por Elba Ramalho no (excelente) álbum "Essa Alegria" em 1982.

25 de novembro de 2007 às 20:54  
Blogger Mauro Ferreira said...

Não, anônimo das 8:54, Elba lançou Alegria em 1982, mas a música Bate Coração é anterior ao disco e fez sucesso ainda em 1981. O LP veio depois e, quando foi lançado, foi promovido com a faixa Amor com Café. Mas valeu o toque.

25 de novembro de 2007 às 21:05  
Anonymous Anônimo said...

Tem razão Mazzola foi péssima influência na então discografia impecável de Simone, só foi trabalhar com outros produtores que se reencontrou depois de ter confiado tanto tempo no mesmo.

25 de novembro de 2007 às 23:26  
Anonymous Anônimo said...

O nome da novela é "Rainha da Sucata", e não "A Rainha da Sucata"...

Falar da falta de checagem de dados dos outros com outro erro... que feio!

26 de novembro de 2007 às 08:59  
Anonymous Anônimo said...

É anônimo das 8:59...

Como compromete a resenha do Mauro a ausência de um artigo definido..

O toque, em si, vale, mas a banca com que você vem pra cima, isso sim, é feio.

26 de novembro de 2007 às 09:28  
Anonymous Anônimo said...

Também acho que Mazzola foi uma influência ruim na discografia de Simone. Veio tudo junto: produtor com faro para o sucesso e dinheiro fáceis, gravação nos EUA, status de estrela. Tudo isso pode ter dado popularidade e dinheiro a Simone, mas a transformou em uma cantora de músicas superficiais, infelizmente - não combinava com a densidade anterior que ela tinha. Sinceramente, fiquei feliz quando ela abandonou o Mazzola e partiu para tentar outras possibilidades. Obviamente ela não foi ingênua nessa história toda.

26 de novembro de 2007 às 11:06  
Anonymous Anônimo said...

Olá, amigos.

O título do livro parece até nome de enredo de escola de samba (rsrsrs). Porém deve ser um livro muito interessante.

O ano de 2007 foi muito bacana em lançamentos de livros sobre música (Roberto Carlos, Clara Nunes, Noites Tropicais, Carmen Miranda, etc...)

Que bom.

abração,
Denilson

26 de novembro de 2007 às 11:23  
Anonymous Anônimo said...

Emanel Andrade disse..

BATE CORAÇÂO foi lanada primeiro no LP ao vivo do festival de Montreux - com Elba, Toqinho e Moraes Moreia. Depois veio o Alegria viu?

O Mazola fez muitas coisas boas algumas ruins.


E acho quem esculhambou a carreira de Simone, em certa fase, Oliveira, lembram dela?
Ai vem globo e as rádios bregas que são maioria no país que só tocam porcarias. Claro, cheias de analfabetos.
Mas a cigarra taí firme e forte, e fisicamente dando banho.

26 de novembro de 2007 às 18:58  
Anonymous Anônimo said...

Com certeza, Emanuel Andrade, a Cigarra tá aí firme e forte. Tem realizado projetos muito interessantes e de boa qualidade. Quando disse que ele foi negativo na carreira dela, é porque acho uma lástima o que aconteceu. Acho Simone uma das melhores.
No caso do RPM, por exemplo, teve tudo a ver. Eles se casaram perfeitamente - o resultado foi ótimo.

26 de novembro de 2007 às 23:34  
Anonymous Anônimo said...

Zzzzz... Ronc!

27 de novembro de 2007 às 10:01  
Anonymous Anônimo said...

Simone é um exemplo de erro de tato do produtor. Já no esquema de grande estrela na CBS ela teve a oportunidade de fazer Delírios e Delícias com produtor Sérgio Carvalho - um ótimo disco. Deveria ter trabalhado mais com o Guto Graça Melo também.

27 de novembro de 2007 às 16:29  
Anonymous Anônimo said...

Pois é....

Comprei o livro e ainda estou lendo, mas já dá pra perceber o seguinte:

Antes tínhamos Mazzola, hoje temos Rick Bonadio.

Triste...

abração,
Denilson

28 de novembro de 2007 às 16:05  
Anonymous Anônimo said...

O livro tem muito pouco de " Ouvindo Estrelas" e muito, muitíssimo de " Ouvindo Mazzola". O texto é fraquíssimo, os auto-elogios derramam-se pelas páginas. Ruim, muito ruim, mesmo. Valeu Mauro pela sua crítica. Acho que Mazzola foi audacioso demais pretendendo que a vida dele pudesse interessar a alguém. Propaganda enganosa: pouco se lê sobre os artistas que tiveram discos produzidos por ele. Algumas informações são super conhecidas, nada de novo. Passo.

6 de dezembro de 2007 às 20:26  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, segura aí cara. Voce tá sendo pródigo em atribuir excesso de estrelas sem merecimento. Esse livro do Mazzola é muito ruim, vi o cara no programa do Jô, maior luta pro ego dos dois caber na telinha. Ruim. Pedi de presente de amigo secreto me lasquei. Happy Christmas prá voce!!

21 de dezembro de 2007 às 12:36  

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