14 de novembro de 2009

Ana retoma padrões (e paixões) no show 'N9ve'

Resenha de Show
Título: N9ve
Artista: Ana Carolina (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Credicard Hall (SP)
Data: 13 de novembro de 2009
Cotação: * * * 1/2
Em cartaz em São Paulo (SP) até 15 de novembro de 2009
* Porto Alegre (RS) - 18 de novembro de 2009
* Joinville (SC) - 19 de novembro de 2009
* Pelotas (RS) - 22 de novembro de 2009
* Salvador (BA) - 12 de dezembro de 2009
* Rio de Janeiro (RJ) - 15 a 17 de janeiro de 2010

A despeito de ostentar hi-tech estética cinematográfica no cenário da diretora Bia Lessa, em moldura inédita nos palcos pisados por Ana Carolina, o show N9ve retoma padrões e paixões da artista. A ambiência cool do CD homônimo - editado em agosto de 2009 - se dilui em cena por conta da intensidade vocal que dá o tom de números como Dez Minutos e Hoje Eu Tô Sozinha. Até o habitual figurino preto é recorrente no espetáculo, apesar da brecha para permitir uma perna de fora em Traição, balada na qual a cantora se aventura ao piano sem reeditar a atmosfera jazzy do registro do disco, feito com o piano de Daniel Jobim e a voz de Esperanza Spalding. Se quase não existem sutilezas no canto passional da intérprete, há - em contrapartida - nuances na direção musical de Alê Siqueira que valorizam o show, cuja estreia nacional ocorreu na casa Credicard Hall, em São Paulo (SP), na noite de sexta-feira, 13 de novembro de 2009. Lampejos de ousadia perceptíveis nas cordas orquestradas de forma inusitada em Era - número em que a Ana canta e toca violão sobre um trilho que a desloca de uma extremidade à outra do palco - e na percussão (de Leonardo Reis) que dá pulsação criativa a 8 Estórias e faz o tema crescer no show, que salpica (boa) dose de erotismo no roteiro de tom confessional.

Tampouco há obviedade no roteiro que descarta a função retrospectiva de um show que, em tese, celebra os dez anos de carreira fonográfica da artista. Hits radiofônicos como Garganta e Quem de Nós Dois cedem lugar a alguns lados B (Dois Bicudos, Tolerância, Corredores - este entoado sob efeitos de chuva idealizados pela diretora Bia Lessa) da discografia da intérprete. Mas as nove músicas do CD N9ve marcam natural presença no repertório do show homônimo. Entreolhares é cantada em dueto virtual com o cantor norte-americano John Legend, convidado da faixa mais explicitamente pop do álbum. Em tons azuis, Dentro abre medley de baladas entoadas por Ana sob uma grua e diferenciadas pelas cores da iluminação (o verde ambienta Aqui enquanto a luz laranja dá o tom de O Avesso dos Ponteiros). Já Torpedo, o samba de Ana letrado por Gilberto Gil, se perde no bis, quando o público passional da intérprete já se espreme e se acotovela na frente do palco em busca de um afago da artista (na estreia nacional, um fã subiu ao palco e agarrou Ana, que deu sinal verde para o segurança permitir o arroubo - mico do espectador).

N9ve, o show, reitera a certeza de que Ana Carolina cresce em cena quando aborda obras alheias. Ela é bamba quando leva para sua roda Não Quero Saber Mais Dela - partido alto de Sombrinha e Almir Guineto, gravado por Beth Carvalho e pelo grupo Fundo de Quintal - e Essa Mulher, o samba de Arnaldo Antunes que ganha outro sentido na interpretação irônica, quase mordaz, de Ana. É, aliás, em Essa Mulher que entram no palco quatro homens que percutem vassouras à moda do grupo Stomp em ritmo inebriante que permanece em cena para ambientar Bom Dia, o tema de Swami Jr. que se encaixa com perfeição em bloco costurado com sutis links temáticos. Bloco que agrega Odeio, o rock de Caetano Veloso, finalizado com citação de Eu Nunca te Amei Idiota (Alvin L.). Na sequência, O Cristo de Madeira se insinua deslocado de início, mas ganha peso no roteiro pelo árido arranjo que inclui bem-sacada citação instrumental de Construção (Chico Buarque). Pena que, em seguida, cantora e diretora tenham sucumbido à tentação de encerrar o show com o sucesso Rosas, pretexto para gritarias e coro de fãs, num clima meio ensandecido que se repete no verdadeiro fim do show, quando Ana termina o bis com Elevador, hit de refrão tão fácil quanto infame. Fecho óbvio, mas coerente para um show movido a paixões. Da artista e do público!!

Ana canta Arnaldo, Caetano e Swami em 'N9ve'

Embora N9ve seja o show comemorativo dos dez anos de carreira fonográfica de Ana Carolina, o roteiro - montado pela cantora em parceria com a diretora Bia Lessa - não tem caráter retrospectivo. A ponto de ignorar hits como Garganta (1999), Quem de Nós Dois (2001) e Encostar na Tua (2003). Fora da obra autoral da artista, as novidades foram Essa Mulher (samba de Arnaldo Antunes), Odeio (rock de Caetano Veloso, lançado pelo compositor em 2006 no álbum ), Bom Dia (tema de Swami Jr.) e Não Quero Saber Mais Dela (partido alto do repertório do grupo Fundo de Quintal). Eis o roteiro seguido por Ana Carolina (vista acima em foto de Mauro Ferreira) na estreia nacional do show N9ve, feita na casa Credicard Hall - em São Paulo (SP) - em 13 de novembro de 2009:
1. Que se Danem os Nós
2. Dez Minutos
3. Hoje Eu Tô Sozinha
4. Era
5. Resta
6. Dois Bicudos
7. 8 Estórias
8. Entreolhares
9. Tolerância
10. Traição
11. Corredores
12. Dentro / O Avesso dos Ponteiros / Aqui / A Canção Tocou na
Hora Errada / É Isso Aí
13. Não Quero Saber Mais Dela
14. Tá Rindo, É?
15. Ela É Bamba
16. Essa Mulher
17. Bom Dia
18. Odeio - com citação de Eu Nunca te Amei Idiota
19. O Cristo de Madeira - com citação de Construção
20. Rosas
Bis:
21. Torpedo
22. Elevador

Ana passa por 'Corredores' chuvosos em 'N9ve'

Se há nuvens, é sinal de chuva. Diretora do novo show de Ana Carolina, N9ve, Bia Lessa seguiu a lei da natureza ao montar o roteiro em parceria com a cantora. Dez números depois de entrar em cena elevada por uma grua, como se estivesse suspensa nas nuvens, Ana interpreta Corredores - música do álbum duplo Dois Quartos (2006) - enquanto efeitos de chuva são simulados no palco. A estreia nacional do show aconteceu na casa Credicard Hall, em São Paulo (SP), na noite de sexta-feira, 13 de novembro de 2009. A foto acima, do número da chuva, é de Mauro Ferreira.

Bia põe Ana Carolina nas nuvens no show 'N9ve'

Diretora do show N9ve, de Ana Carolina, Bia Lessa põe a cantora nas nuvens. Quase literalmente. É elevada por uma grua, atrás de uma tela que projeta imagens de nuvens, que Ana abre seu novo show - cuja estreia nacional aconteceu na noite de sexta-feira, 13 de novembro de 2009, no Credicard Hall em São Paulo (SP) - cantando Que se Danem os Nós, balada de seu segundo álbum, Ana Rita Joana Iracema e Carolina (2001). A propósito, gruas, praticáveis, trilhos e rebatedores de luz moldam o cenário de estética cinematográfica - assinado por Lessa - que remete ao cenário de Universo Particular, espetáculo lançado por Marisa Monte em 2006. N9ve é o show mais hi-tech da intérprete, vista acima no bonito número de abertura - em foto de Rodrigo Amaral.

13 de novembro de 2009

Enfim, (todas) elas cantam Roberto em DVD...

Resenha de CD / DVD
Título: Elas Cantam Roberto Carlos
Artista: Roberto Carlos e 20 cantoras
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * 1/2

Apesar de os fabricantes de DVDs piratas já terem feito a festa em junho, aproveitando a exibição do show Elas Cantam Roberto pela TV Globo (em 31 de maio) para captar imagens do tributo e abarrotar os camelôs com cópias fajutas da gravação ao vivo, a tardia edição oficial do tributo em DVD - nas lojas neste mês de novembro pela Sony Music - é o primeiro registro integral do espetáculo apresentado em 26 de maio de 2009, no Theatro Municipal de São Paulo (SP), dentro do ciclo idealizado pelo Itaú Brasil para festejar os 50 anos de carreira do cantor. Afinal, sem consultar Roberto, a TV Globo exibiu o show com cortes, tendo eliminado os números de cantoras como Adriana Calcanhotto (Do Fundo do meu Coração, em voz-e-violão), Marina Lima (estilosa em Como Dois e Dois) e Mart'nália (cheia de ginga no samba Só Você Não Sabe, única música obscura do roteiro cravado de hits).
As edições oficiais do DVD e do CD duplo - este nas lojas desde setembro - reiteram erros e acertos da escalação do elenco recrutado pela diretora Monique Gardenberg, além de motivar algumas reavaliações. Embora não tenha surtido efeito ao vivo, a pregação pacifista feita por Fernanda Abreu em Todos Estão Surdos resulta bacana no disco. Assim como a abordagem terna de Ivete Sangalo para Olha. Em contrapartida, o número teatral de Marília Pêra em 120...150... 200 km por Hora - música, aliás, grafada erroneamente no DVD como 120...130...150 km por Hora - perde impacto, sobretudo no CD, por ter sido idealizado para os palcos. Dos erros, a escalação de Claudia Leitte - tentando forjar estilo em Falando Sério - é o mais gritante. Mas é fato também que Paula Toller poderia ter pisado mais fundo n'As Curvas da Estrada de Santos. E que a voz de Sandy realmente ainda não tem maturidade para encarar As Canções que Você Fez pra Mim. Dos acertos, mais numerosos, vale destacar a classe com que Alcione (Sua Estupidez), Nana Caymmi (Não se Esqueça de mim), Zizi Possi (Proposta) cantam Roberto fiéis aos próprios estilos. Já Fafá de Belém dá tom adequado a Desabafo enquanto Ana Carolina exercita seu poder vocal na apropriada Força Estranha. Enfim, já é possível ver e ouvir no DVD todas elas cantando Roberto Carlos. Mas a tiragem inicial do vídeo - expressivas 100 mil cópias - sinaliza que a gravadora Sony Music deposita no DVD Elas Cantam Roberto Carlos um fôlego que ele, o DVD, talvez já tenha perdido por conta do imediato ataque dos piratas em junho.

Chega ao Brasil o DVD de Simon com os amigos

Em 23 de maio de 2007, o inspirado Paul Simon teve sua obra celebrada por um bom grupo de artistas que subiu ao palco do Warner Theatre, em Washington (EUA), para cantar temas como Graceland. O show foi gravado para edição em DVD, intitulado Paul Simon & Friends e ora lançado no Brasil neste mês de novembro de 2009 pela gravadora Coqueiro Verde, que tem mantido o (bom) hábito de legendar em português as falas dos DVDs que edita no mercado nacional. Entre os números do show, há o reencontro de Simon com Art Garfunkel - em Bridge over Troubled Water - e a reunião do anfitrião com Stevie Wonder em Me and Julio Down by the Schoolyard e em Loves me Like a Rock (este com a adição do grupo de gospel Dixie Hummingbirds). O elenco inclui James Taylor (Still Crazy After All These Years, tema que deu título a disco solo editado por Simon nos anos 70) e Philip Glass (cool, como de hábito, em Sounds of Silence). Justo tributo!!

Chicas desafiam a crise e lançam primeiro DVD

Três anos após editar o seu primeiro CD, Quem Vai Comprar Nosso Barulho? (de 2006), o grupo Chicas desafia a apatia da indústria do disco e apresenta seu primeiro registro ao vivo de show, gravado no Teatro Rival (RJ). Em Tempo de Crise Nasceu a Canção chega às lojas - pela Biscoito Fino - nos formatos de CD e de DVD. Além de rebobinar dez músicas do primeiro álbum, as Chicas cantam músicas inéditas em suas vozes. Casos de Divino Maravilhoso (Caetano Veloso e Gilberto Gil) e de Androginismo, música obscura de Kledir Ramil, lançada nos anos 70 pelo grupo Almôndegas. Nos extras do DVD (e também no CD), há Caras e Bocas, o tema de abertura da novela homônima, cuja gravação das Chicas deu projeção nacional ao quarteto formado em 1996 por Amora Pêra, Fernanda Gonzaga, Isadora Medella e Paula Leal.

Filme sobre o rock brasileiro é editado em DVD

Documentário dirigido por Bernardo Palmeiro, com roteiro e pesquisa de Kika Serra, o didático Rock Brasileiro - História em Imagens está sendo editado em DVD que será distribuído gratuitamente às escolas e às bibliotecas públicas de todo o Brasil. No filme, já exibido em festivais (clique aqui para ler a resenha de Notas Musicais), Palmeiro passa em revista a história do rock nacional a reboque de imagens de arquivo e depoimentos de nomes como Erasmo Carlos, João Barone e Pitty. O filme foi viabilizado graças a uma parceria da Fuzo Produções - empresa que tem na direção artística Jorge Davidson, executivo que muito investiu no rock nacional enquanto atuou na indústria fonográfica - com a Planmusic, dirigida por Luiz Oscar Niemeyer, com quem, aliás, Davidson trabalhou na (extinta) gravadora BMG.

12 de novembro de 2009

João Araújo é celebrado na festa da Som Livre

Embora hoje seja mais conhecido aos olhos do público como o pai de Cazuza (1958 - 1990), João Araújo é - e sempre foi - um dos executivos mais importantes da indústria fonográfica brasileira. Sua história se cruza especialmente com a da gravadora Som Livre. Por isso, Araújo foi o grande homenageado na festa dos 40 anos da companhia, na noite de 11 de novembro de 2009, na varanda da casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro (RJ), cidade que viu a Som Livre nascer em 1969. Naquele ano, ao assumir a Som Livre, João Araújo - que já trabalhara em várias gravadoras - já tinha incentivado a contratação de Caetano Veloso e Gal Costa na sua passagem pela Philips. Mas foi sua longa gestão na diretoria da Som Livre - durante 38 anos - que pôs definitivamente o nome de Araújo em lugar de destaque na história fonográfica do Brasil. Na diretoria da Som Livre, ele abriu as portas da indústria do disco para Djavan - então sem perspectivas profissionais no Rio de Janeiro - e apostou em Xuxa, fenômeno de vendas nos anos 80, década em que, contrariado, foi convencido também a deixar o grupo de Cazuza, o Barão Vermelho, entrar em estúdio para fazer seu primeiro disco. Em fevereiro de 2005, quando já ocupava o conselho da Som Livre sem efetivamente dirigir a companhia, João Araújo foi anunciado presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Discos, ABPD. Mas aí ele já era, há anos, o pai de Cazuza para quem desconhece os bastidores da indústria do disco.

'Covers' de Gabriel vão de Bowie a Radiohead

Peter Gabriel confirmou de forma oficial nesta quinta-feira, 12 de novembro de 2009, as 12 faixas do álbum de covers, Stratch my Back, que vai lançar em 25 de janeiro, com distribuição da EMI Music. O repertório vai de David Bowie (Heroes) a Radiohead (Street Spirit), passando por temas de Talking Heads (Listening Wind), Lou Reed (The Power of the Heart), Arcade Fire (My Body Is a Cage), Neil Young (Philadelphia) e de Regina Spektor (Apres Moi) - entre outros nomes. Bob Ezrin assina a produção do álbum.

Fábio Jr. atenua carga caipira de hits sertanejos

Resenha de CD
Título: Romântico
Artista: Fábio Jr.
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * *

Romântico é o disco em que Fábio Jr. se aventura por (ótimo) repertório sertanejo sob a habitual ótica popular. Contudo, pela beleza da maior parte das 13 canções selecionadas, o CD é o único do cantor nos últimos anos que equilibra mais acertos do que erros. A produção de Guto Graça Mello procura trazer os clássicos caipiras para o universo do intérprete sem patinar na modernice pop. A ideia de usar o grupo vocal Ponto 4 para simular o efeito de uma segunda voz funciona bem em algumas faixas, em especial em Cabecinha no Ombro (Paulo Borges). O próprio Fábio está cantando bem sem carregar nos tons - qualidade perceptível nas regravações de hits como Fio de Cabelo (Darci Rossi e Marciano) e É o Amor (Zezé Di Camargo & Luciano), este prejudicado pelos vocais arranjados por Juliano Cortuah. No todo, Romântico - 25º título da discografia do cantor - atenua a carga caipira dos amores sertanejos. A rigor, o acordeom de Julinho Teixeira é o único instrumento a sublinhar a origem ruralista de composições como Amizade Sincera (Renato Teixeira) - aliás, uma das músicas mais bonitas do CD ao lado de No Rancho Fundo (Ary Barroso e Lamartine Babo). Soa mais elegante do que o sotaque caipira forjado na introdução falada de Cabocla Tereza (Raul Torres e João Pacífico) e em alguns versos de Rio de Piracicaba (Rio de Lágrimas), o clássico de Piraci, Tião Carreiro e Lourival dos Santos. Enfim, o disco tem méritos. Por isso mesmo, é lamentável que esteja sendo promovido com a aguada versão de Don't Know Why, o hit de Norah Jones que, na letra em português de Sylvia Massari, virou Amar É Perdoar. A versão roda na trilha sonora da novela Cama de Gato, mas é péssimo cartão-de-visitas para um disco que roça a elegância em vários momentos. E por falar em novela, a regravação de Alma Gêmea - num registro mais suave, condizente com a harmonia do disco - soa meramente oportunista. Deve ter entrado a pedido da gravadora Sony Music pelo fato de a Rede Globo estar reprisando a trama de Walcyr Carrasco que propaga a canção de Peninha - gravada originalmente por Fábio em álbum de 1993 - na abertura. Oportunismos à parte, o CD encerra com Românticos, balada de Vander Lee que, embora tenha sido bem gravada por Fábio, soa deslocada no repertório. No geral, justiça seja feita, Romântico é upgrade na discografia rala do cantor. Que acerta ao baixar os tons e, assim, realçar a real beleza e os sentimentos sinceros entranhados nessas (subestimadas) pérolas do universo sertanejo.

Barbra reafirma classe em CD urdido por Krall

Resenha de CD
Título: Love Is the Answer
Artista: Barbra Streisand
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * 1/2

Aos 67 anos, a voz de Barbra Streisand já não ostenta a longa extensão que encantou o mundo em 1964 por conta da emblemática gravação de People. Mas a emissão e a afinação continuam perfeitas. E, como a estrela não procura exibir poder vocal no álbum produzido por Diana Krall, Love Is the Answer, o resultado roça a excelência. Não se trata de um disco de jazz, como faz supor o nome da cantora e pianista canadense na produção. Contudo, há delicada ambiência jazzy - urdida pelo quarteto liderado pela própria Krall - que acomoda o punhado de standards reunidos por Barbra no álbum co-produzido por Tommy LiPuma e orquestrado (com uma previsível sofisticação) por Johnny Mandel, que já trabalhara com Barbra no álbum Back to Broadway (1993). Ao lapidar joias como Here's to Life, destaque do repertório, Barbra reafirma sua classe e sua categoria num disco que, se não surpreende, também não decepciona. E, como Krall é admiradora da Bossa Nova, Love Is the Answer eventualmente evoca o suave balanço made in Brazil - em especial em Gentle Rain, tema de Luiz Bonfá (1922 - 2001) letrado por Matt Durey. Outra faixa que envolve o Brasil é Love Dance, a balada de Ivan Lins e Gilson Peranzzetta que já ganhou várias gravações no meio jazzístico norte-americano. Em órbita mais popular, Barbra apresenta versão em inglês de Ne me Quitte Pas - If You Go Away, com correção asséptica que dilui a densidade emocional do clássico do belga Jacques Brel - e revive balada melosa do repertório grupo The Platters, Smoke Gets in your Eyes. Primeiro álbum de estúdio de Barbra em quatro anos, o sucessor de Guilty Pleasures (2005) não é um grande disco. Mas é bom disco suave que honra o nome de La Streisand, cuja popularidade já parece ser mais extensa do que sua voz, a julgar pelo fato de Love Is the Answer ter ido direto para o topo da parada norte-americana ao ser lançado em setembro de 2009, desbancando o álbum da favorita Mariah Carey. Isso é que poder!

MZA (re)põe o 'Balaio do Sampaio' no mercado

Em 15 de maio de 1994, Sérgio Sampaio (1947 - 1994) saiu de cena. Naquele ano, começou a ser concebido um belo disco-tributo que veio a ser editado pela gravadora MZA Music em 1998. Produzido pelo parceiro Sérgio Natureza, sob a direção artística de Marco Mazzola, o Balaio do Sampaio está sendo reeditado pela MZA por conta dos 15 anos de morte do compositor de Eu Quero É Botar meu Bloco na Rua, a marcha que abre o CD (na gravação original de Sampaio, feita em 1972 e acrescida de cordas arranjadas por Eduardo Souto Neto) e o fecha (no inequivocado registro feito por Elba Ramalho em 1995). O Balaio do Sampaio agregou alguns fonogramas já existentes - caso da gravação de Meu Pobre Blues por Zizi Possi - mas, em sua maioria, as gravações foram feitas especialmente para o tributo por afiado time de intépretes que incluiu Chico César (Em Nome de Deus), Zeca Baleiro (Tem que Acontecer), Erasmo Carlos (Feminino Coração de Deus), Lenine (Pavio do Destino) e João Nogueira (Até Outro Dia) - entre outros.

Dead Fish lança CD 'Contra Todos' na Argentina

Oitavo álbum do grupo Dead Fish (o sexto de inéditas), lançado em fevereiro pela Deckdisc, Contra Todos vai ganhar edição na Argentina no fim deste mês de novembro de 2009. Caberá ao selo Pinhead Records editar o CD na Argentina. O grupo toca hardcore.

11 de novembro de 2009

Novo tempo litúrgico de padre Fábio inclui Ivan

Canção de Ivan Lins com Vítor Martins que batizou o álbum lançado por Ivan em 1980, Novo Tempo faz parte do repertório do 13º título da discografia de padre Fábio de Melo em registro que conta com o grupo Roupa Nova. Nas lojas de todo o Brasil a partir de 24 de novembro de 2009, Iluminar é a maior aposta de vendas da gravadora Som Livre para o período de Natal. E por falar em Ivan Lins, seu primeiro parceiro, Ronaldo Monteiro de Souza, é co-autor de No Meio de Nós, faixa que tem a participação da dupla Zezé Di Camargo & Luciano. Outra participação do disco é a de Elba Ramalho, que exercita sua fé católica na faixa Maria e o Anjo, de Dalvimar Gallo. André Leonno - um cantor revelado no programa de calouros do apresentador de TV Raul Gil - completa o time de convidados na faixa Viver pra mim É Cristo (Anderson Freire). Fábio assina sete das 15 músicas do CD - duas em parceria.

Dudu embala cancioneiro autoral com elegância

Resenha de CD
Título: Dudu Falcão
Artista: Dudu Falcão
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * 1/2

Não é à toa que o primeiro CD de Dudu Falcão, batizado com seu nome e lançado neste mês de novembro de 2009 pela Som Livre, recebe o aval de ninguém menos do que Nana Caymmi em texto reproduzido na contracapa interna. Foi a cantora que lançou o compositor pernambucano (radicado no Rio de Janeiro desde meados da década de 80) no mercado fonográfico, há exatos 20 anos, quando incluiu duas músicas de Dudu, Deixa Eu Cantar e Era Tudo Verdade, em seu álbum Nana (1989). Duas décadas depois, Dudu já é nome recorrente nas fichas técnicas de discos de cantores como Jorge Vercillo, Ana Carolina, Lenine e Luiza Possi. Dono de obra elástica, que pode tanto soar refinada como contentar os anseios populares de executivos marqueteiros de gravadoras, o autor de Coisas que Eu Sei - hit na voz de Danni Carlos em 2007 - embala com elegância 14 temas de seu já vasto cancioneiro autoral no álbum Dudu Falcão, produzido por Max Viana ao lado do cantor estreante. Obra que se engrandece com Samba Pequeno, tema de ambiência bossa-novista que afaga o Rio que acolheu o artista. Com direito ao piano de Daniel Jobim, captado no lendário número 107 da rua carioca Nascimento e Silva, onde Elizeth Cardoso (1920 - 1990) aprendeu as canções do amor demais com Tom Jobim (1927 - 1994). A propósito, Falcão parece buscar certa atmosfera jobiniana em faixas como A Musa que me Quer Assim, em contraste com a levada pop da canção Coisas que Eu Sei, rebobinada com apropriada simplicidade e a guitarra precisa de Max Viana, parceiro do compositor em Canções de Rei, outro destaque do repertório. Entre regravações de belas baladas compostas com Lenine (Paciência, O Silêncio das Estrelas e Crença - esta com vocais guturais do parceiro, amigo e conterrâneo), Dudu entoa bolero com um leve toque de tango (Quando Eu Falo de Você) e balada que confirma sua veia pop (Diz, com participação da cantora e compositora italiana Chiara Civello). Ele não é um cantor nato, mas, mesmo sem brilhar como intérprete, sua voz flui com naturalidade e o entendimento que somente os criadores têm a respeito de suas criaturas. Vale ouvir!!

Jorge aborda Michael em show e CD de estúdio

Seu Jorge aborda o repertório de Michael Jackson (1958 - 2009) em show - que vai ser gravado ao vivo para exibição no canal de TV Multishow - e em álbum de estúdio. Já finalizado, o disco tem produção de Mario Caldato e inclui regravação de Rock with You, música lançada por Michael em 1979 no álbum Off the Wall, marco inicial da obra adulta do Rei do Pop. Ainda sem previsão de lançamento, o CD alinha no repertório temas de Jorge Ben Jor (Errare Humanum Est, 1974), Tim Maia (Cristina, parceria com Carlos Imperial, lançada pelo Síndico em 1970) e da parceria de Baden Powell com Vinicius de Moraes, de quem Jorge revive o Samba do Veloso (Tempo de Amor), gravado pelo Zimbo Trio em 1967. O álbum foi feito com a banda Almaz, que tem na formação dois integrantes do grupo Nação Zumbi: o guitarrista Lúcio Maia e o baterista Pupillo. Do Kraftwerk, The Model é a surpresa do disco.

Wayne lança enfim 'Rebirth' em 15 de dezembro

Agendado de início para abril, e depois adiado para agosto, o lançamento de Rebirth Tha Carter III - o novo álbum do rapper Lil Wayne - já teria nova data certa para chegar às lojas da Europa e EUA: 15 de dezembro de 2009. O disco tem as intervenções de Lenny Kravitz e de Travis Baker (o baterista da banda Blink-182), além do Fall Out Boy, grupo cujo último CD contou com Wayne. O curioso é que o álbum vai chegar às lojas - ao que parece, a data é definitiva - quase um ano após seu primeiro single, Prom Queen, ter vindo à tona, em janeiro. Será que justifica tantos adiamentos?

RoRo regrava hit de Lobão para trilha de novela

Canção de Lobão, lançada pelo autor em 1984 no LP Ronaldo Foi pra Guerra e gravada por Marina Lima (no mesmo ano) no álbum Fullgás, Me Chama ganha registro 25 anos depois na voz de Ângela RoRo em associação curiosa de dois artistas que ganharam fama de loucos ao longo dos anos 80. A regravação de Me Chama por RoRo figura na trilha sonora da novela Bela, a Feia. O disco com a trilha sonora da trama da TV Record chega às lojas neste mês e novembro, com distribuição da Warner Music. A faixa de RoRo é a 14ª de CD que enfileira fonogramas de Cine, Chimarruts, Zé Luiz Mazziotti, Eduardo Costa e Royce do Cavaco - entre outros nomes.

Novo plano de Affonsinho inclui Vander e Érika

Cantor e compositor mineiro, o guitarrista Affonsinho reúne um repertório autoral em seu quinto CD, Meu Plano, nas lojas neste mês de novembro de 2009 pela gravadora Dubas Música. As 16 músicas, em sua maioria, são inéditas. Entre as exceções, figuram Enfeitiçado (o samba lançado por Aline Calixto) e Disco Voador (tema gravado por Marina Machado). Os cantores Vander Lee, Regina Souza e Érika Machado - conterrâneos de Affonsinho - participam do disco. Entre as faixas de Meu Plano, há Sal no Café, Samba do Carinho, Silêncio, Acordei Feliz, Engano, Picolé e a música-título.

10 de novembro de 2009

Tecnomacumba ao vivo vai sair também em CD

O registro ao vivo do show Tecnomacumba - feito pela cantora Rita Ribeiro em 3 de julho de 2009 na casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro (RJ) - também vai ser lançado no formato de CD (veja a capa acima). Nas lojas ainda neste mês de novembro, em edição viabilizada pela Biscoito Fino através de parceria com a Manaxica Produções, o CD e o DVD Tecnomacumba a Tempo e ao Vivo perpetuam o show apresentado com sucesso nos palcos cariocas desde setembro de 2003. Eis o repertório da gravação ao vivo que contou com a participação especial de Maria Bethânia, em Iansã:
1. Divino (somente no DVD)
2. Saudação / Abertura
3. Moça Bonita
4. Domingo 23
5. Cavaleiro de Aruanda
6. Balá Alapalá
7. Xangô, o Vencedor
8. Oração ao Tempo (somente no DVD)
9. A Deusa dos Orixás
10. Iansã - com participação de Maria Bethânia
11. Rainha do Mar
12. É d'Oxum
13. Coisa da Antiga
14 Cocada
15. Jurema (somente no DVD)
16. Tambor de Crioula
17. Canto para Oxalá

Donna volta a ser 'rainha' quando recorre a hits

Resenha de Show
Título: Stamp Your Feet Tour
Artista: Donna Summer (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Citibank Hall (RJ)
Data: 9 de novembro de 2009
Cotação: * * * 1/2
Em cartaz no Credicard Hall, em São Paulo (SP), em 10 e 12 de novembro de 2009. Ingressos (ainda) disponíveis
Ao aparecer no palco do Citibank Hall, após sua banda e bailarinos terem preparado o clima para sua entrada triunfal, Donna Summer cantou de imediato música de seu recente álbum Crayons (2008): The Queen Is Back, cujo título já traduzia o pensamento e o sentimento de felicidade que moviam o público que encheu a grandiosa casa do Rio de Janeiro (RJ) numa noite de segunda-feira, 9 de novembro de 2009. Sim, a rainha vitalícia da disco music estava de volta aos palcos nacionais com a Stamp Your Feet Tour, que chega nesta terça-feira a São Paulo (SP) para dois shows na casa Credicard Hall. Na sequência, uma Love to Love You Baby quase broxante - com gemidos que fingiram orgasmo num simulacro do registro original de 1975 que fundou o reinado de Donna na era das discotecas - fez supor um show requentado. Mas eis que, a partir de I Feel Love (o tema de batizada sintetizada que, lançado em 1977, ainda soa moderno na era eletrônica), a rainha começou de fato a voltar à cena, fazendo o público levantar das - inapropriadas!! - cadeiras dispostas na pista do Citibank Hall.
Com a voz em boa forma para seus 61 anos, Donna Summer retornou ao mercado fonográfico em 2008 com álbum de inéditas (o primeiro de estúdio em 17 anos), Crayons, em que recusou o saudosismo e buscou produtores contemporâneos para se inserir na atual cena dance. Justiça seja feita: as batidas da faixa-título e de Stamp your Feet não fazem feio nas pistas. Mas o show deixou claro que Donna volta a reinar somente quando recorre aos hits das discotecas, com a banda tentando reproduzir com alguma eficiência as levadas sintetizadas pelo produtor Giorgio Moroder, compositor italiano que foi fundamental para a construção do reino da cantora nos embalos noturnos dos anos 70. São estes sucessos - Could It Be Magic, No More Tears (Enough Is Enough) e On the Radio, entre eles - que fizeram o show soar mágico para os súditos da artista enquanto, para espectadores distanciados (e parecia haver nenhum no Citibank Hall), a cantora poderia dar a impressão (real) de ser uma diva destronada tentando evocar seu passado de glória. A simpatia de Donna também ajudou a forjar a magia, fazendo o público fingir que não percebeu que Sand on my Feet (balada introduzida por violão) é apenas mediana e que I'm a Fire contrariou seu título e esfriou o show. Ou ainda que Drivin' Down Brazil é tentativa caótica de evocar o suingue nacional. Fora do universo da disco music, o único momento realmente especial foi Smile, a sublime canção de Charles Chaplin (1889 - 1977), interpretada por uma Donna aparentemente de fato muito emocionada por lembrar do Rei do Pop Michael Jackson (1958 - 2009). Contudo, esperta, a rainha soube oferecer a seus súditos o que eles queriam: os hits irresistíveis da era das discotecas. Bad Girl, Hot Stuff e Mac Arthur Park - revivida no formado de suíte que engloba os temas One of a Kind e Heaven Knows - deram o ar da graça no roteiro e garantiram a satisfação do público. Ao sair de cena no bis, dado com a previsível Last Dance, Donna Summer continuou entronizada nas mentes e nos corações de seus súditos.

Donna canta 'Smile' no Rio para saudar Michael

Smile, música de Charles Chaplin (1889 - 1977), foi a surpresa e o momento mais tocante do show apresentado por Donna Summer no Citibank Hall, no Rio de Janeiro (RJ), na noite de segunda-feira, 9 de novembro de 2009. De volta ao Brasil com a Stamp Your Feet Tour, baseada em seu álbum Crayons (2008), a cantora incluiu o tema de Chaplin no repertório do show em pungente tributo a Michael Jackson (1958 - 2009). A rainha da disco music se emocionou ao falar do Rei do Pop e ao lembrar que Smile era a música preferida de Michael. Eis o roteiro da apresentação carioca da diva Donna Summer (vista, acima, em foto de Mauro Ferreira):

1. Overture
2. The Queen Is Back
3. Love to Love You Baby
4. I Feel Love
5. Could It Be Magic
6. Dim All the Lights
7. I'm a Fire
8. Sand on my Feet
9. On the Radio
10. Drivin' Down Brazil
11. Crayons
12. No More Tears (Enough Is Enough)
13. Mac Arthur Park / One of a Kind / Heaven Knows
14. Smile
15. Stamp Your Feet
16. She Works Hard for the Money
17. Bad Girls
18. Hot Stuff
Bis:
19. Last Dance

Knopfler revira memórias no íntimo 'Get Lucky'

Resenha de CD
Título: Get Lucky
Artista: Mark Knopfler
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * * 1/2

Em seu sexto álbum solo, Get Lucky, Mark Knopfler parece feliz ao revira as memórias da infância passada na cidade escocesa de Glasgow. Tanto que a faixa que abre o disco é country, Border Reiver, que aborda o cotidiano árduo dos caminhoneiros dos anos 60 que transitavam pelas estradas que ligam a Escócia à Inglaterra. Pode soar esquisito na teoria, mas, no CD player, o mosaico íntimo e pessoal do cantor e guitarrista - projetado em escala mundial no fim dos anos 70 como líder do grupo Dire Straits - soa bem harmonioso. Get Lucky é disco envolvente tanto pela qualidade do repertório inédito e autoral quanto pelo instrumental refinado e pautado pelo tempo da delicadeza. Get Lucky tem country e tem blues, You Can't Beat the House, mas as baladas dão o tom do álbum. Monteleone e Before Gas and TV são os destaques no gênero. E, para saudosistas do Dire Straits, vale ressaltar que ao menos duas boas canções de Get Lucky - Cleaning my Gun e The Car Was the One - evocam de leve o som da banda e poderiam até figurar nos discos da fase áurea do grupo.

'The Blueprint 3' dá fôlego a Jay-Z sem surpresa

Resenha de CD
Título: The Blueprint 3
Artista: Jay-Z
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * 1/2

Projetado nos anos 90, Jay-Z é um dos rappers mais atuantes e importantes do universo do hip hop norte-americano. Sim, ele andou lançando uns álbuns irregulares, mas sua carreira fonográfica começou a voltar para os trilhos em 2006, quando o artista editou Kingdom Come, álbum em que procurou renovar a batida de seu rap através de associações com Chris Martin (o vocalista do Coldplay) e John Legend. American Gangster - disco de 2007 inspirado no filme homônimo de Riddley Scott - confirmou o inspirado momento do rapper na segunda metade desta década. Algo ratificado por The Blueprint 3, terceiro título da trilogia trilogia que já rendeu os discos The Blueprint (2001) e The Blueprint²: The Gift & the Curse (2002). Embora sem surpresas, o álbum renova o fôlego de Jay-Z. Capitaneada por nomes como Timbaland e Kanye West, sem esquecer dos Neptunes, a produção é grandiosa como a lista estelar de convidados. Run This Town (com Rihanna e o recorrente West, convidado também de Hate) e Empire State of Mind (com Alicia Keys) são faixas que se destacam no repertório e se impõem pelo tom pop. Já Thank You vai chamar a atenção de ouvidos brasileiros por utilizar sample de Ele e Ela, gravação de Marcos Valle dos anos 70. No todo, o álbum tem vigor. A reboque de batidas azeitadas, Jay-Z dispara petardos com o habitual jeito marrento. Fãs de rap vão identificar de imediato os méritos do CD.

9 de novembro de 2009

Remake de 'Fama' dilui conflitos do filme de 80

Resenha de Filme
Título: Fama
Direção: Kevin
Tancharoen
Elenco: Naturi
Naughton, Asher Book,
Walter Perez, Kay
Panabaker e outros
Cotação: * * *
Em cartaz nos cinemas
do Brasil desde 6/11/09

Que fique claro logo no início: quem for assistir ao remake do musical Fama sem ter em mente o filme original de 1980 - dirigido por Alan Parker - tem grandes chances de gostar da refilmagem comandada pelo coréografo e hoje cineasta Kevin Tancharoen. O roteiro - que acerta ao seguir a estrutura básica do original - e as coreografias sustentam bem o interesse do espectador. Contudo, é inegável que o Fama de 2009 evoca intencionalmente o clima do musical High School Musical, o fenômeno juvenil criado pela Disney. Escorado em inspirada trilha sonora que rendeu hits como Fame (tema explosivo que ressurge em levada modernosa e é mal aproveitado na sequência final do remake) e Out Here on my Own (entoado na refilmagem por Naturi Naughton, dona da voz mais poderosa do elenco de 2009), o Fama de 1980 focou conflitos existenciais típicos da juventude enquanto narrava a luta de uma turma de aspirantes artistas ao longo dos quatro anos vividos na conceituada e disputada New York City High School of Performing Arts. O Fama de 2009 dilui estes conflitos em trama maquiada para fisgar os fãs de High School Music (sintomaticamente, o papel do mocinho cantor Marco foi confiado a um ator com pinta de galã, Asher Book, fofo, mas com uma voz asséptica). A própria cidade de Nova York pareceu bem mais real e conflituosa no filme original. No remake, a dose de realidade é menor. Talvez por isso, a emoção seja rarefeita, embora a narrativa seja fluente e - vale repetir - prenda a atenção porque a história em si continua boa. Do elenco, o único nome promissor é Naturi Naughton, intérprete de Denise, pianista clássica que se descobre cantora e incursiona pelo universo do hip hop para desgosto dos pais. Naughton canta bem. Aliás, sua interpretação de Out Here on My Own é um dos poucos números musicais realmente bacanas da refilmagem (os duetos de Naughton com Collins Pennie, bom intérprete de Malik, também têm vitalidade). A presença do rap na atual trilha sonora é justificada porque o ritmo já está enraizado no universo musical norte-americano e soa tão natural quanto a disco music evocada no filme de 1980. O real problema do novo Fama é a diluição dos conflitos dos jovens artistas em favor de uma estética mais clean e, sobretudo, de uma superficialidade que traduz os dias de hoje...

Samba do Moinho dribla precocidade de ao vivo

Resenha de CD / DVD
Título: Moinho
ao Vivo
Artista: Moinho
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * *

Com apenas um álbum de estúdio em seu currículo fonográfico, o trio Moinho deveria ter esperado um pouco mais para partir para um registro ao vivo. Há inevitável redundância no repertório do precoce Moinho ao Vivo, ora editado em CD e em DVD captados em 18 de junho de 2009 em show no Circo Voador, no Rio de Janeiro (RJ). Mas, justiça seja feita, o samba do grupo tem pegada e dribla essa precocidade imposta ao trio pelo mercado, transitando entre Rio e Bahia em mix urdido pelos produtores Berna Ceppas e Kassin, os mesmos que pilotaram o bom álbum de estreia do trio, Hoje de Noite (2007). Sacudido, samba vivaz de Paquito, é uma das poucas novidades do roteiro, que, na falta de repertório próprio, apela para hits de Novos Baianos (Besta É Tu), Jorge Ben Jor (Ive Brussel, número em que o guitarrista Toni Costa, dando uma de cantor, cita ao final Congênito, de Luiz Melodia) e Caetano Veloso (É de Manhã, primeira música gravada do compositor). A interação da guitarra de Toni com a percussão de Lan Lan e a voz (simpática, mas não exatamente expressiva) de Emanuelle Araújo produz som azeitado que aborda o samba com toque pop. Como a balança pende um pouco para a Bahia ao longo do roteiro, como sinalizam músicas como Saudade da Bahia (o samba de Dorival Caymmi que o Moinho já gravara no primeiro CD e Sai, Mané, o trio afaga o Rio e o samba carioca ao receber Gilberto Gil (Aquele Abraço, disponível somente no DVD) e Dudu Nobre (Casa de Bamba, de Martinho da Vila). No todo, Moinho ao Vivo se impõe pela vivacidade que não ameniza a sensação de redundância da gravação posta na loja pela gravadora EMI Music.

Bublé já planeja reeditar 'Crazy Love' com bônus

Mal lançou o álbum Crazy in Love, já um sucesso de vendas nos Estados Unidos e no Brasil, Michael Bublé já planeja reeditar o CD com faixas-bônus registradas nas sessões de gravação do disco. A reedição está programada para 2010. Uma das músicas novas é parceria de Bublé com o compositor canadense Robert Scott, Hollywood Dead, já cotada para ser o terceiro single o álbum, sucedendo Haven't Met You Yet e Hold on. Outra faixa-bônus é The End of May (cover do repertório do grupo The Actual Tigers).

Paulo revive Vinicius com Toquinho (e inédita)

Sem gravar desde 2006, ano em que lançou via EMI Music o CD Prisma, Paulo Ricardo finalizou álbum, Viva Vinicius, em que aborda com sonoridade contemporânea o cancioneiro de Vinicius de Moraes (1913 - 1980). Toquinho assina o disco com Paulo. O grande destaque do repertório de standards é a inédita Romeu e Julieta, canção tristonha da lavra de Vinicius com Toquinho. A melodia estava na memória de Toquinho, mas a letra - até então perdida - foi encontrada durante o processo de gravação do disco. Que já estava pronto quando Paulo voltou aos estúdios para gravar Sei Lá... A Vida Tem Sempre Razão por conta da exposição nacional do samba de Toquinho e Vinicius na abertura da novela Viver a Vida. Eis a seleção de clássicos do CD Viva Vinicius, cujo repertório está centrado nas parcerias do Poetinha com Tom Jobim (1927-1994), Baden Powell (1937 - 2000) e com Toquinho:
* Insensatez (1961)
* Chega de Saudade (1958)

* Garota de Ipanema (1963)
* Tarde em Itapoã (1971)
* Canto de Ossanha (1966)
* Eu Sei que Vou te Amar (1959)
* Água de Beber (1961)
* Carta ao Tom (1974)
* Pra que Chorar? (1962)
* Romeu e Julieta (inédita)
* Samba da Benção (1967)
* Samba de Orly (1970)
* Sei Lá... A Vida Tem Sempre Razão (1971)

Margareth edita Naturalmente ao Vivo em 2010

Em 2010, Margareth Menezes (em foto de Guto Costa) vai lançar outro registro ao vivo - já o quarto desde 2003. Naturalmente Acústico vai ser editado nos formatos de CD e DVD. Turbinado com participações especiais ainda não reveladas, o roteiro agrega músicas inéditas na voz da cantora, mas a base é o repertório do disco de estúdio Naturalmente, lançado em setembro de 2008. Neste seu primeiro álbum pela MZA Music, a cantora de afro-pop-baiano incursionou pelo universo da MPB e do pop rock nacional.

8 de novembro de 2009

Bio demole clichês ao detalhar saga de Simonal

Resenha de Livro
Título: "Nem Vem
que Não Tem"
A Vida e o Veneno
de Wilson Simonal
Autor: Ricardo
Alexandre
Editora: Globo
Cotação: * * * * *

Apesar de certa tendência a absolver Wilson Simonal (1938 - 2000) da acusação de dedo-duro dos colegas da Esquerda, notadamente na tristonha parte final, a biografia do cantor escrita pelo jornalista Ricardo Alexandre - já nas livrarias pela Editora Globo, com opções de capa amarela ou azul - é documento histórico que investiga com seriedade o caso jurídico do artista e ajuda a entender a ascensão e queda de Simonal no mundo da música. Fruto de dez anos de pesquisa e entrevistas, o detalhista trabalho de reportagem do autor faz com que o livro avance em relação ao que já foi exposto no (também histórico) documentário Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei, estreado em março de 2008 no festival É Tudo Verdade e sucesso de público desde que entrou oficialmente em circuito em maio de 2009. Um dos méritos da biografia é enfatizar e contextualizar a existência de documento assinado pelo próprio Simonal, em 24 de agosto de 1971, a pedido de integrantes do Departamento de Ordem Política e Social, o famigerado Dops, órgão repressor do regime militar instaurado no Brasil em 1964. Nesse documento, elaborado para forjar perseguição política ao cantor e assim justificar perante a Opinião Pública o fato de o Dops ter dado uma dura no contador de Simonal a pedido do próprio, o artista assumia "cooperar com informações" que ajudaram o Dops a "desbaratar por diversas vezes movimentos subversivos no meio artístico". Provável farsa, criada para livrar a cara do próprio Dops, o documento foi o estopim da bomba que explodiu na cabeça de Simonal, tão ingênuo quanto arrogante. A propósito, Nem Vem que Não Tem cumpre honrosamente sua função ao perfilar o cantor sem escamotear seus defeitos. E demole clichês e mitos sobre o caso Simonal ao historiar a trajetória profissional e pessoal do cantor depois do incidente. Primeiro, o livro deixa claro que o artista não caiu em imediato ostracismo. Foi Simonal - conta Alexandre - que quis se desligar da Odeon, a gravadora na qual ingressara em 1961 e na qual vivera momentos áureos com popularidade que chegou a rivalizar com a de Roberto Carlos no final dos anos 60. E convite não lhe faltou naquele momento. Mesmo após o mau passo político do cantor, que realmente acionou contatos no Dops para dar uma coça no contador de sua mastodôntica empresa, Raphael Viviani, a RCA acenou com proposta polpuda - recusada pelo então novo empresário do cantor, Marcos Lázaro, que, num gesto equivocado que custaria muito a Simonal, sugeriu a André Midani, então no comando da Philips, que a contratação de Simonal seria uma recomendação de "Brasília". Acuado, Midani recebeu o artista em seu elenco, o que gerou mais desprezo a Simonal por parte da elite da MPB que se abrigava na Philips. Mas, política à parte, o primeiro álbum de Simonal na nova companhia, Se Dependesse de mim (1972), não surtiu o efeito comercial esperado, levando a Philips a enquadrar o artista no samba no álbum seguinte, Olhaí, Balandro... É Bufo no Birrolho Grinza (1973). Novamente sem sucesso. O fato - normalmente omitido nas reportagens maniqueístas sobre Simonal, mas abordado no livro - é que o cantor já amargava declínio de popularidade antes do imbróglio político, em 1970, quando lançou álbum, Simonal, embebido em black music. E nunca mais recuperaria o sucesso e o prestígio. Contudo, como ressalta Alexandre, é impossível tentar prever se o cantor reeditaria o êxito comercial da áurea fase da Pilantragem após a dissolvição do ralo movimento se não tivesse havido a questão política. Mas outro fato normalmente ignorado é que Simonal ainda gravou regularmente ao longo dos anos 70 - com destaque para um álbum intimista feito na RCA em 1975, Ninguém Proibe o Amor, cultuado por soulmen como Ed Motta. O livro também demole o clichê de que Simonal foi completamente banido do mercado de shows. Ele continuou se apresentando com agenda cheia até o fim dos anos 80. O que houve foi uma progressiva mudança de rota e status nas suas turnês, deslocadas para cidades do Nordeste ou então para casas menores. Outro mito que cai por terra é o de que Simonal viveu deprimido após a confusão com o Dops. Alexandre deixa claro que a depressão não foi imediata, tendo o cantor mantido num primeiro instante a alegria que ainda o identificava no imaginário nacional. E mostra como a arrogância e a intransigência de Simonal - reincidentes mesmo depois do episódio de 1971 - o ajudaram a cavar a própria cova. Contudo, as qualidades artísticas do cantor - dono de voz privilegiada, suingue fenomenal e carisma grandioso - são enfatizadas na narrativa na mesma medida dos defeitos e erros do biografado. Nem Vem que Não Tem refaz os primeiros passos artísticos de Simonal com o mesmo rigor na apuração com que detalha sua descida ao inferno, sobretudo a partir do fim da década de 80, quando a perda da voz acelerou o processo de alcoolismo e consequente depressão, diluindo a autoestima do cantor. Foi aí que os filhos já crescidos, Wilson Simoninha e Max de Castro, entraram em cena para segurar a barra do pai. Inclusive a financeira. Na parte final, a narrativa fica mais pungente e o biógrafo não esconde certa ternura quase parcial pelo biografado, enfocado como uma vítima. Mas o livro jamais absolve explicitamente Wilson Simonal de seus erros. O que engrandece a biografia e a torna leitura essencial para todos que se interessam pela música brasileira e, em especial, por uma de suas personagens mais controvertidas de todos os tempos. Dez!

Sul minimiza mortes de Neguinho e Verequete

A pouca repercussão na imprensa musical de Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) das mortes recentes de Neguinho do Samba (1955 - 2009) e Verequete (1916 - 2009) - ocorridas em 31 de outubro e 3 de novembro, respectivamente - é claro indício de que a mídia das ditas capitais culturais do Brasil ainda minimiza talentos de outras regiões do país que não se rendem a elas. Se a atividade do pareanse Augusto Gomes Rodrigues, o Verequete, na difusão da música de seu Estado (em especial, do carimbó) sempre esteve de fato restrita ao Norte do Brasil, a atuação do baiano Antonio Luis Alves de Souza, o Neguinho do Samba, extrapolou as fronteiras brasileiras. Percussionista que ajudou a fundar o seminal bloco afro-baiano Olodum, Neguinho é reverenciado como o principal criador da batida do samba-reggae, base de toda a axé music. Batida que seduziu astros internacionais como Paul Simon - que em 1990 recorreu ao baticum afro-baiano para gravar o álbum Rhythm of the Saints - e Michael Jackson (1958 - 2009), que em 1996 usou os tambores do Olodum na filmagem do clipe da música They Don't Care About us. Se hoje cantoras como Daniela Mercury encantam a Europa com a batida do samba-reggae, muito desse sucesso se deve ao talento pioneiro de Neguinho do Samba. Da mesma forma que, em menor escala, a música e os artistas do Norte devem muito a Verequete, fundador em outubro de 1971 do Conjunto de Carimbó Uirapuru do Verequete, ainda em atividade. O silêncio (quase) total das mídias carioca e paulista sobre as mortes de Neguinho e Verequete mostra o quanto a imprensa cultural ainda precisa olhar com mais imparcialidade para sons e talentos brasileiros que nascem, crescem e morrem longe demais das capitais sem pedir a benção às ditas capitais culturais. Triste!!

'Pimenteira' confirma as qualidades de Miranda

Resenha de CD
Título: Pimenteira
Artista: Pedro Miranda
Gravadora: Sem
indicação
Cotação: * * * * 1/2

Por mais que o entusiasmado texto de Caetano Veloso sobre o segundo disco solo de Pedro Miranda tenha contribuído para gerar espaço e elogios na mídia para Pimenteira, o fato é que o CD é mesmo magistral e confirma as qualidades do artista, já reveladas em abril de 2006, quando Miranda estreou na carreira solo com álbum delicioso, Coisa com Coisa. Logo na primeira de suas doze faixas - Hello, my Girl, um samba de Silvio da Silva arranjado no clima das gafieiras - Pimenteira reitera o faro apurado de Miranda para garimpar repertório longe do óbvio. Outra qualidade confirmada é a divisão esperta do canto de Miranda - habilidade que valoriza voz que nem é especialmente sedutora e volumosa. Somadas à inspiração do violonista Luis Filipe de Lima na condução da produção e dos arranjos, tais proezas dão coesão e brilho ao disco. Entre samba de gafieira (Caso Encerrado, de Eduardo Neves e Alfredo Del-Penho) e até chula (Pimenteira, composta por Roque Ferreira e gravada com o toque ruralista da viola caipira de Júlio Caldas), Miranda abre espaço para canção de tom interiorano, Baticum, parceria de Maurício Carrilho e Paulo César Pinheiro, valorizada na gravação pelas cordas do Trio Madeira Brasil. Faixa roça o sublime. Assim como Imagem, samba melancólico de Wilson das Neves e Trambique. Os autores tocam percussão na bela gravação.

Pimenteira consegue a proeza de conciliar modernidade com tradição. Às vezes numa mesma faixa, como em Meio-Tom, o samba de Rubinho Jacobina que Miranda gravou com os vocais do conjunto Anjos da Lua, o órgão hammond pilotado por Itamar Assiere e um tom eventualmente meio falado que evoca o rap. Com sua divisão antenada, o cantor realça as síncopes de Na Cara do Gol (Elton Medeiros e Afonso Machado) e traça um perfil crepuscular do fictício Compadre Bento, escrito pelo bamba Nei Lopes com soma de referências de mulatos reais que habitaram o antigo universo do samba carioca. O trombone de Zé da Velha e o trompete de Silvério Pontes pontuam o arranjo. Mote da faixa, a nostalgia melancólica também pauta Cartas de Metrô (Moyseis Marques) e Velhice (Nelson Cavaquinho e Alcides Dias Lopes), embora a letra deste samba inédito negue qualquer "saudade da mocidade" com a fina amargura típica da obra de Cavaquinho. Por mais que um ou outro tema seja ligeiramente menos inspirado, caso do Samba da Moreninha (Pedro Amorim), Pimenteira já tem seu lugar garantido entre os grandes discos de 2009. Quando se encerra com Coluna Social, samba em que Edu Krieger exercita espirituosa crônica de costumes à moda da turma capitaneada por Zeca Pagodinho, o álbum deixa a certeza de que Pedro Miranda não precisa de elogios de Caetano Veloso - ou de qualquer outro medalhão da MPB - para ter seu valor reconhecido pela crítica e, tomara, pelo público. Pimenteira merece repercussão nacional.

Valdés dosa paixão de Buika ao festejar Chavela

Resenha de CD
Título: El Último Trago
Artista: Buika
(com Chucho Valdés)
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * *

Hoje com 90 anos, Chavela Vargas é cantora nascida em Costa Rica que se radicou no México, país onde alcançou projeção nas décadas de 50 e 60 ao gravar uma série de canções rancheiras. Hoje com 32 anos, Buika é cantora espanhola que o mundo descobriu em 2006 a partir do belo CD Mi Niña Sola, segundo título de trilogia em que a intérprete arejou o flamenco. Hoje com 68 anos, Chucho Valdéz é pianista cubano que se impôs no universo do jazz latino. Da união desses três artistas de ritmos e latitudes diversas, surgiu El Último Trago, álbum que celebra os 90 anos de Chavela com doses fartas de emoção e sofisticada musicalidade. A emoção vem sobretudo da voz rouca de Buika, cuja paixão salta aos ouvidos em temas como Las Ciudades e Las Simples Cosas. Como o toque límpido e econômico do piano de Valdés dá a medida exata da paixão, funcionando quase como um contraponto para o canto passional de Buika, o resultado é um tributo pautado por emotiva elegância. Por mais que o bolero seja ritmo recorrente em faixas como Sombras e Cruz de Olvido, El Último Trago transcende o universo do gênero com sua gama sutil de referências trazidas na bagagem por Buika e Valdés. Que se encontram sozinhos na faixa-título, um dos destaques deste álbum apresentado pelo cineasta espanhol Pedro Almodovar, fã de Buika e admirador de Chavela, tendo sido responsável pela redescoberta da veterana intérprete ao projetá-la em seus filmes. E, sim, é justo o entusiasmo de Almodovar no texto que escreveu para o encarte deste disco pilotado por Javier Limón, produtor dos três álbuns anteriores de Buika. El Último Trago honra o legado de Chavela.

Mukenga canta Angola com Baleiro e Martinho

Em 1981, ao regravar a música Humbiumbi em seu álbum Seduzir, Djavan abriu as portas do mercado brasileiro para Filipe Mukenga, cantor angolano que, desde 1973, se dedica a difundir a música de sua terra natal. No momento, a Nova Música de Angola, ou NMA, base de seu quarto CD, Nós Somos Nós, editado no Brasil neste último trimestre de 2009. De certa forma um presente pelos 60 anos de Mukenga, completados em 7 de setembro, o disco foi gravado inteiramente com músicos brasileiros entre novembro de 2007 e agosto de 2008 com produção de ninguém menos do que Zeca Baleiro, que conheceu Mukenga em 2003 num festival de música na Ilha do Sal, em Cabo Verde. Além de participar de Uma Volta e Meia, uma das canções de amor do atual repertório de Mukenga, Baleiro edita Nós Somos Nós por seu selo, Saravá Discos. Já Paquete conta com os vocais de Martinho da Vila, artista que, desde 1980, tem relações estreitas com Angola, tendo recrutado Mukenga para o elenco do projeto O Canto Livre de Angola, cujo show realizado no Rio de Janeiro (RJ) em 1983 gerou um disco ao vivo. Vânia Abreu completa o trio de convidados ao pôr sua voz em Aprisionar a Negra Noite, faixa de tom mais romântico. Entre duas regravações, Fruto Maduro e Humbiumbi, Mukenga monta em Nós Somos Nós painel particular da música de Angola. Na faixa que abre o álbum, Ixi Yeto Yatululuka, cantada no dialeto kimbundu, o compositor celebra o fim da guerra civil de Angola, terminada em abril de 2002. Em português, o título significa A Nossa Terra Está em Paz. Já Rainha do Carnaval evoca a folia de Luanda enquanto Noite de Tambi reproduz o ritmo local hoje conhecido como rebita. Ao longo de seus 14 temas, Nós Somos Nós faz viagem por Angola com escalas em Portugal - país onde Mukenga viveu entre 1992 e 2004 - e, claro, no Brasil que gerou este disco idealizado desde que Zeca Baleiro estreitou relações com Mukenga ao visitar Angola em 2006. Bela iniciativa de Zeca...