27 de dezembro de 2008

Álbum expõe os matizes dos Beatles em 1968

Resenha de CD
Título: As Outras Cores
do Álbum Branco
- Beatles' 68
Artista: Vários
Gravadora: Discobertas
/ Coqueiro Verde
Cotação: * *

Em coincidentes 68 minutos, o álbum As Outras Cores do Álbum Branco - Beatles' 68 expõe alguns matizes pouco conhecidos da obra composta pelos Fab Four no profícuo ano de 1968. Em suas 21 faixas, o CD não propõe uma recriação do repertório do disco The Beatles - mais conhecido como Álbum Branco - mas, sim, uma exposição de releituras de músicas que entraram no LP duplo de 1968 e, sobretudo, de temas que não entraram e ficaram dispersos na obra dos Beatles. Há até uma inédita de George Harrison (1943 - 2001), Dehra Dun, composta na Índia em 1968 e apresentada somente no vídeo Anthology em 1995. Quase um mantra, a canção ganha o primeiro registro oficial em disco na voz de Zé Ramalho, mas não é grande coisa e não é de admirar que nunca tenha sido gravada pelos Beatles ou mesmo por Harrison em sua carreira solo. Melhor resultado artístico obteve Paul McCartney ao compor Junk, também feita na Índia em 1968, mas excluída da seleção final do Álbum Branco. Com sua voz grave, Regina Machado defende bem o tema, gravado por McCartney em seu primeiro álbum solo, de 1970. Outro que também marca boa presença neste disco é Paulinho Moska, que se acompanha ao violão em Look at me, canção de John Lennon (1940 - 1980) que somente seria gravada pelo autor em seu primeiro álbum solo, Plastic Ono Band (1970). Na mesma linha voz-e-violão (no caso, tocado por Walter Villaça), Zélia Duncan revive com classe Step Inside Love, música de Paul McCartney que chegou a ser gravada para o Álbum Branco, mas acabou sobrando (o registro original é da cantora e apresentadora de TV Cilla Black). Em contrapartida, Fagner nada faz por Across the Universe - composta em 1968, mas lançada em 1969 num disco beneficente restrito ao circuito inglês - além de pôr seu sotaque nordestino na bela canção. A propósito, o CD As Outras Cores do Álbum Branco inclui até o Assum Preto em vinheta em que Vasco Faé cita Blackbird. Tal licença poética se justifica pela lembrança do boato surgido em 1968 de que os Beatles teriam gravado Asa Branca, o maior clássico da parceria de Luiz Gonzaga (1913 - 1989) e Humberto Teixeira (1915 - 1979). No todo, soam mais ou menos pálidas as cores dos registros de Lobão (Revolution, na versão roqueira lançada no lado B do compacto de Hey Jude), Paulo Ricardo (Sour Milk Sea, outra música feita por George Harrison na irregular safra indiana de 1968), Alvin L (Not Guilty, sobra do Álbum Branco), Branco Mello (What's the New Mary Jane? - outra música limada do álbum de 1968), Isabella Taviani (The Inner Light) e A Bolha (Lady Madonna), entre outros cantores e grupos mais associados à cena indie. O problema do CD As Outras Cores do Álbum Branco é que o repertório em si tem qualidade oscilante, sendo formado por várias músicas que não passaram pelo crivo dos próprios Beatles naquele ano mágico. Logo, tais músicas não poderiam brilhar em registros de nomes sem tantos matizes quanto os Fab Four. O tom é de pouca ousadia.

Disco exibe alcance mundial da voz de Aznavour

Resenha de CD
Título: Duos
Artista: Charles Aznavour
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * *

Aos 84 intensos anos, Charles Aznavour ainda é um dos maiores símbolos da canção francesa no vasto imaginário mundial. Duos - o bom álbum duplo que a EMI Music lançou neste mês de dezembro de 2008 - reforça o alcance de sua voz através de 28 duetos do artista com nomes como Carole King (The Sound of your Name), Laura Pausini (Paris au Mois D'Aoüt) e Liza Minnelli (Quiet Love). O CD 1 apresenta 13 duos cantados em francês. O CD 2 enfileira 15 duetos entoados (quase sempre) em inglês, sendo que o intérprete que canta com Aznavour em francês bisa a música em inglês - casos de Celine Dion (Toi et Moi e You and Me), Nana Mouskouri (Mourir D'Aimer e To Die of Love) e Sting (L'Amour C'est Comme un Jour e Love Is New Everyday). No caso do tenor Plácido Domingo, o bis de Les Bateaux Sont Partis é dado em espanhol na faixa El Barco ya se Fue. No todo, o nível dos encontros é harmonioso - ainda que eventualmente haja intérpretes fora de sintonia com a canção escolhida (caso de Brian Ferry e She, o maior sucesso de Aznavour em língua inglesa). Em contrapartida, astros do mesmo universo sentimental do anfitrião parecem se sentir mais à vontade - como, por exemplo, Julio Iglesias, convidado de Que C'est Triste Venise. No geral, os arranjos orquestrais embalam os encontros com pompa e circunstância, à altura do projeto. Duos pode até ter cara de coletânea, mas trata-se de álbum inédito, gravado ao longo dos últimos anos, sendo que 26 dos 28 duetos nunca tinham sido lançados em disco. O leque de convidados é bem abrangente. Há inclusive encontros virtuais com Dean Martin (1917 - 1995) e com Frank Sinatra (1915 - 1998) - em Everybody Loves Somebody Sometime e Young at Heart, respectivamente - e, por conta dos recursos da tecnologia, nem se nota a diferença. Trata-se, aliás, das duas únicas músicas não assinadas por Charles Aznavour, cantor e compositor que faz de Duos uma espécie de inventário de obra que, em inglês ou em francês, se fez ouvir no mundo todo.

Páginas autorais no diário do baixista do Barão

Aproveitando o recesso por tempo indeterminado do grupo Barão Vermelho, o baixista da banda, Rodrigo Santos, dá continuidade às gravações de seu segundo álbum solo, O Diário do Homem Invisível, que traz o grupo Autoramas na faixa-título, parceira de Santos com Leoni. O disco, aliás, está repleto de convidados, quase todos oriundos da vasta cena indie. A banda Cidade Negra participa de Não Vá. João Penca e seus Miquinhos Amestrados aparecem na vinheta de abertura, Bom Dia, ao lado da banda Canastra. Outro grupo da cena indie, Os Filhos da Judith tocam em Longe, Perto de Vc, parceria de Santos com Mauro Sta. Cecília e Fernando Magalhães. Co-autora de Você Não Entende o que É o Amor, faixa que talvez ganhe a voz de Ney Matogrosso, a cantora e compositora Marília Bessy participa de Vamos Dormir em Paz, tema do anfitrião com Humberto Barros. Já a primeira parceria do baixista com Dado Villa-Lobos, Linhas Pontilhadas, exibe baixo tocado por Nilo Romero, o produtor da faixa Não Vá. Outras páginas d'O Diário do Homem Invisível são 32 Segundos (balada que pode ter a voz de Monique Kessous), O Homem da Máscara de Ferro, ...E Agora? e Trem Bala. O primeiro CD solo de Rodrigo Santos, Um Pouco Mais de Calma, saiu em 2007, pela Som Livre. O lançamento do segundo CD está previsto para 2009.

Belo show do U2 em 1983 ganha edição em DVD

Em 1983, no rastro da sólida projeção mundial obtida com seu terceiro álbum, War, o U2 fez sua primeira turnê pelos Estados Unidos. O registro ao vivo contido em Live at Red Rocks - "Under a Blood Red Sky" capta a apresentação feita pela banda irlandesa em 5 de junho de 1983 em Red Rocks, um anfiteatro encravado nas montanhas de Denver, em Colorado. A gravação ganha reedição em DVD, cuja capa remete ao homônimo EP de 1983 que, embora associado ao show de Red Rocks, trazia apenas duas músicas, Gloria e Party Girl, captadas na lendária apresentação. Ao material original editado em VHS, o DVD acrescenta cinco números - Out of Control, Twilight, Two Hearts Beats as One, An Cat Dubh / Into the Heart e Cry / The Electric Co. - e somente não rebobina o espetáculo na íntegra porque uma falha na filmagem impossibilitou a inclusão de I Fall Down. Já nas lojas, o DVD sai pela Universal Music e apresenta comentários do diretor do show.

Duran detalha a criação do clássico álbum 'Rio'

Mais um ótimo título da série Classic Albums - produzida para a TV e editada em DVD pela Eagle Vision - chega ao mercado brasileiro pela gravadora ST2. O álbum enfocado na coleção de documentários é Rio, disco de 1982 que logo deu projeção mundial ao tecnopop do Duran Duran por conta de hits como Save a Prayer. No DVD, os músicos originais da banda - John Taylor, Simon Le Bon, Nick Rhodes e Roger Taylor - esmiuçam a criação de seu segundo álbum, faixa por faixa, como é regra no programa. Há depoimentos também do empresário do grupo na época (Paul Berrow) e do designer Antony Price. O documentário - que contém 75 minutos de material excluído da seleção final do programa de TV - mostra como, com a ajuda da MTV, o Duran Duran fez com que seu som e seu visual se tornassem uma das marcas registradas do gênero New Romantic, tão em voga nos anos 80. Nos extras, o Duran Duran toca - com sua formação atual - cinco músicas de Rio. As novas versões de Save a Prayer, New Religion, Hungry Like the Wolf, The Chauffeur e da faixa-título foram gravadas, ao vivo, em Boston (EUA). Inclui também vídeos.

Eis um livro essencial sobre a gênese da bossa

Resenha de Livro
Título: Eis Aqui
os Bossa Nova
Autoria: Zuza
Homem de Mello
Editora: Martins
Fontes
Cotação: * * * * 1/2

Eis Aqui os Bossa Nova não é um livro inédito. Foi lançado originalmente em 1976, mas ganhou recente e oportuna reedição neste ano de 2008, marcado pela intensa celebração do cinqüentenário da bossa sempre nova. Trata-se de livro essencial para entender a criação do batida que modernizou a música brasileira na segunda metade dos anos 50. Zuza Homem de Mello - autor do não menos essencial A Canção no Tempo, livro assinado por ele com o pesquisador musical Jairo Severiano de Mello - fez uma espécie de biografia oral do começo do movimento. Pontuada por breves textos informativos do autor, a narrativa de Eis Aqui os Bossa Nova entrelaça (de forma picotada) os depoimentos de 24 personalidades ouvidas por Zuza entre 1967 e 1971. São nomes ligados às origens da Bossa Nova (Baden Powell, Carlos Lyra, Milton Banana, Nara Leão, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, entre outros) ou à música brasileira formatada nos festivais da canção já com a influência da bossa (Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina, Geraldo Vandré, Gilberto Gil e Maria Bethânia). Ordenados por temas, montando uma seqüência quase cronológica dos fatos, os depoimentos publicados na primeira pessoa ajudam a mapear a movimentação que iria gerar a Bossa Nova. É fato que, em determinada altura do livro, os depoimentos ficam um pouco repetitivos e técnicos demais, só que essa repetição ajuda a corroborar a versão apresentada no livro sobre o surgimento da Bossa Nova. E alguns pontos merecem menção. Como, por exemplo, o fato de todos os entrevistados serem unânimes em ressaltar o caráter inovador da música de Johnny Alf - compositor e pianista que, de fato, antecipou um pouco da modernidade harmônica sedimentada em 1958 por João Gilberto. Também é curioso perceber, no depoimento de Elis Regina (1945 - 1982), que a Pimentinha também ficou deslumbrada ao ouvir a batida diferente de João Gilberto - embora o canto grandioso de Elis seja por natureza a negação da economia proposta pelos bossa nova. Enfim, o livro de Zuza Homem de Mello é leitura obrigatória para quem acha que (ainda) não chega de saudade da velha bossa nova.

26 de dezembro de 2008

Stones, Madonna, Beatles e Elvis para os bebês

A capa do CD Beatles para Bebês - um dos cinco títulos da Coleção para Bebês, editada no Brasil pela Coqueiro Verde Records sob licença da gravadora norte-americana San Juan Music - exibe desenho de Larissa Conceição dos Santos. Paciente do INCA (Instituto Nacional do Câncer), a garota, de 10 anos, recriou a pose dos Fab Four na capa do álbum Help (1965) para ilustrar o disco dedicado aos Beatles na série que reembala os repertórios de ícones do pop nacional em versões instrumentais próprias para crianças pequenas. O diferencial da edição brasileira da Coleção para Bebês são justamente as capas, ilustradas com desenhos feitos por crianças do INCA, instituição que vai ficar com parte da renda obtida com as vendas dos discos. Além de Beatles para Bebês, a série traz os títulos Elvis Presley para Bebês, Madonna para Bebês, Pink Floyd para Bebês e Rolling Stones para Bebês. O preço varia entre R$ 10 e R$ 15.

My Love compila o essencial romântico de Dion

Aos 40 anos de idade (e 27 de carreira fonográfica, iniciada em 1981 com um álbum em francês, La Voix du Bon Dieu), Celine Dion ganhou real projeção mundial quando passou a gravar seus discos em inglês. O primeiro de uma série, Unison, saiu em 1990 e rendeu o mediano hit Where Does my Heart Beat Now, não por acaso escolhido para abrir a coletânea My Love - Essential Collection, lançada no Brasil pela gravadora Som Livre na forma de CD simples (no exterior, a edição é dupla). Na edição nacional, a compilação mapeia em 17 faixas, dispostas cronologicamente, a trajetória de Dion nas paradas globalizadas, cujo ápice ocorreu ao longo dos anos 90. De tom essencialmente romântico, a seleção inclui Beauty and the Beast - o tema gravado pela cantora em duo com Peabo Bryson para a trilha sonora do filme A Bela e a Fera - e My Heart Will Go on, hit da trilha do filme Titanic. Eis as 17 faixas da versão brasileira de My Love - Essential Collection:
1. Where Does my Heart Beat Now
2. Beauty and the Beast - com Peabo Bryson
3. If You Asked me to
4. The Power of Love
5. My Love
6. Because You Loved me
7. The Power of the Dream
8. It's All Coming Back to me Now
9. All by Myself
10. My Heart Will Go on
11. I'm your Angel - com R. Kelly
12. That's the Way It Is
13. A New Day Has Come
14. I'm Alive
15. I Drove All Night
16. Taking Chances
17. There Comes a Time

O balanço de Normando encerra o ano da bossa

Antes que chegue ao fim 2008, o ano marcado na música pelos festejos das cinco décadas da Bossa Nova, chegou um disco que repõe em cena um dos pioneiros do ritmo. Trata-se do CD Balanço com Bossa, o (tardio) primeiro álbum de Normando Santos (visto à direita em foto de Caterine Velasco). Embora nascido em Recife (PE), longe do cenário carioca que viu nascer a batida diferente, o cantor, compositor e violonista já vivia no Rio de Janeiro e integrava a primeira geração bossa-novista quando em 1958 João Gilberto revolucionou a música brasileira com o compacto de Chega de Saudade. Radicado em Paris desde 1963, Normando apresenta no disco 14 temas autorais, incluindo duas inéditas parcerias com Vinicius de Moraes (1913 - 1980), Aconteceu e Lamento do Adeus. Produzido pelo guitarrista conterrâneo Robertinho de Recife, Balanço com Bossa recupera também Depois do Amor e Deixa o Nosso Amor, parcerias de Normando com outro ícone bossa-novista, Ronaldo Bôscoli (1927 - 1994). Entre músicas compostas solitariamente pelo violonista, como Amor no Samba e Conselho, o CD (re)apresenta Castelinho, parceria de Normando e Billy Blanco. A edição de Balanço com Bossa é independente.

Obra-prima de Ritchie ganha edição de 25 anos

Um dos melhores discos do pop nacional dos anos 80, o álbum de estréia de Ritchie - Vôo de Coração, lançado originalmente em 1983 no embalo das 500 mil cópias vendidas do compacto com Menina Veneno - ganha edição comemorativa de seus 25 anos. Primorosa, a reedição está à altura dos relançamentos do gênero produzidos no exterior. Para cativar os 800 mil compradores da edição original de 1983, a obra-prima do inglês Richard David Court volta às lojas, em embalagem digipack, com quatro faixas-bônus e um som à altura do tecnopop inicial do cantor, graças à remasterização feita por Carlos de Andrade a partir das fitas originais (o som soa alto e fiel aos timbres da época). Entre as faixas-bônus, há a versão 2008 da balada que deu título ao álbum, Vôo de Coração, rebobinada com o violão de Moska. O material adicional inclui a gravação em espanhol de Menina Veneno, um registro em inglês de The Letter (sucesso do grupo The Boxtops nos anos 60, revivido por Ritchie no álbum original numa literal versão em português intitulada A Carta) e Baby Meu Bem, que vem a ser o lado B do compacto de Menina Veneno (a música não entrou no LP). Há ainda fotos inéditas (sobras dos ensaios clicados por Clício Barroso e Milton Montenegro para ilustrar o compacto e LP, respectivamente), um texto de Bernardo Vilhena - o letrista de jóias como A Vida Tem Dessas Coisas, Pelo Interfone e Casanova - e um faixa-a-faixa em que Ritchie comenta cada música deste álbum que resiste majestosamente bem ao tempo. Em 1983, ano de boa memória para o pop nativo, Ritchie foi o Rei.

Roberto recicla emoções em especial de Natal


Resenha de Programa de TV
Título: Roberto Carlos Especial
Artista: Roberto Carlos
Exibição: Rede Globo de Televisão
Data: 25 de dezembro de 2008
Fotos: Divulgação / TV Globo
Cotação: * * *
Gravado em show realizado em 11 de dezembro de 2008, na HSBC Arena (RJ), o especial anual de Roberto Carlos para a TV Globo reciclou tradicionais emoções do Rei. Exibido nesta quinta-feira de Natal, 25 de dezembro de 2008, o programa seguiu o padrão habitual do artista. Teria sido um show convencional (com direito aos closes embevecidos de atrizes como Eliane Giardini e Leona Cavali, presenças vips da platéia) se na edição não tivessem sido inseridos takes do bate-papo protocolar entre Roberto, Caetano Veloso e Nelson Motta sobre Bossa Nova, o início de carreira do Rei - quando ele, ainda sem trono, imitava João Gilberto - e o espetáculo centrado na música de Tom Jobim (1927 - 1994) que uniu Roberto e Caetano. Motta, mais preocupado em afagar o ego dos artistas, não desenvolveu a entrevista nem quando Caetano lembrou que, em seu exílio londrino, caiu em prantos ao conhecer em primeira mão As Curvas da Estrada de Santos, instântaneo clássico do Rei revelado por Roberto ao colega baiano quando o visitou na Inglaterra, em novembro de 1969. Dessa entrevista, a palhinha de Roberto cantando Rosa Morena, samba de Dorival Caymmi (1914 - 2008), com sua bossa toda particular, foi a emoção mais inusitada, um tributo silencioso ao saudoso Caymmi.
A participação de Caetano se estendeu também ao show, tendo sido chamado ao palco da HSBC Arena ao som de Debaixo dos Caracóis de seus Cabelos, a música que Roberto e Erasmo Carlos compuseram em 1971 para animar o tristonho baiano exilado. Na seqüência, Roberto e Caetano fizeram dueto em Força Estranha e em Chega de Saudade sem que o belo encontro perdesse certo ar burocrático. A propósito, a reunião inédita com Rita Lee também padeceu dessa espontaneidade ensaiada. Juntos, o Rei e a Rainha do Rock no Brasil - como Roberto anunciou a cantora - fizeram pot-pourri que entrelaçaram por afinidades temáticas sucessos de ambos como Papai me Empresta o Carro / Parei na Contramão, Flagra / Splish Splash (com os dois cantando juntos) e Mania de Você / Cama e Mesa. A celebração do rock'n'roll transcorreu em temperatura morna num encontro pontuado por clima afetuoso entre estes dois artistas sessentões que, em diferentes épocas, comandaram a juventude. Por incrível que pareça, a descontração pareceu mais genuína no encontro de Roberto com a dupla Zezé Di Camargo & Luciano, que uniram suas vozes sertanejas ao Rei em À Distância e em O Portão, motivo até para Zezé contar boa história.
Após números mais (Emoções, Como É Grande o meu Amor por Você, Outra Vez, É Preciso Saber Viver) ou menos (Mulher Pequena, O Concavo e o Convexo) tradicionais dos shows de Sir Carlos, tudo (quase) acabou em samba com a presença alegre de Neguinho da Beija-Flor, com quem o Rei entrelaçou bem Ângela (sucesso de Neguinho) com Eu e Ela (hit de Roberto nos anos 80). O samba propriamente dito entrou em cena com a presença da bateria da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis, sob a batuta de Mestre Paulinho. Foi o pretexto para Roberto cair no samba com Neguinho em A Deusa da Passarela, tema que saúda a escola da Baixada Fluminense (RJ). Mas eis que, na seqüência, imagens de crianças desamparadas pela seca entraram no ar como um sinal, um anticlimax, para preparar o fim religioso ao som de Jesus Salvador, um dos temas menos inspirados de Roberto na seara cristã. Seguiram-se um brinde ao Natal, um voto de Feliz 2009 e, claro, o hino Jesus Cristo. E assim, entre o sacro e o profano, o Rei proporcionou novas velhas emoções aos seus (habituais) súditos.

25 de dezembro de 2008

Charlie Brown migra da EMI para a Sony BMG

O grupo Charlie Brown Jr. é o mais novo contratado da gravadora Sony BMG. Após nove álbuns editados pela Virgin Records e, depois, pela EMI Music (que incorporou o acervo e o elenco da desativada filial brasileira da Virgin), a banda de Chorão migrou para a Sony, por onde vai gravar e lançar em 2009 seu décimo CD.

Valle amplia conexão com Camelo em CD inglês

A conexão de Marcos Valle com Marcelo Camelo - iniciada quando Valle (em foto de Lívio Campos) convidou o hermano para participar do CD e DVD que gravou ao vivo em 2007 em série de shows na casa carioca Cinemathèque Jam Club - foi ampliada e rendeu parceria. Os compositores já fizeram duas músicas juntos, Eu Vou e Vamos Sambar, ambas incluídas no quinto CD de Valle para o selo inglês Far Out Recordings. Em fase de finalização no Rio de Janeiro (RJ), o álbum sai em 2009 e tem a participação de Camelo - o que pode gerar alguma visibilidade para o compositor de Cara Valente no circuito indie europeu, onde Valle é cultuado.

DVDs revivem pop italiano de Ornella e Peppino

Dois cantores italianos em evidência nos anos 60, Ornella Vanoni e Peppino Di Capri, podem ser vistos e ouvidos em DVDs da série Live @ RTSI, editada no Brasil pela gravadora Coqueiro Verde com registros de programas gravados para a Televisione Svizzera, da Suíça. O DVD de Ornella traz o especial exibido em 5 de maio de 1982. No roteiro, a curiosidade é um medley com versões em italiano de sucessos brasileiros como Sentado à Beira do Caminho (L'Appuntamento), Detalhes (Dettagli) e Canta, Canta Minha Gente (La Gente Canta, Canta). Já o DVD de Peppino perpetua o programa que foi ao ar em 23 de abril de 1980. Os dois maiores sucessos do cantor, Champagne e Roberta, figuram (naturalmente) no enxuto roteiro de 12 músicas.

Arranjos estragam Natal à moda bem brasileira

Resenha de CD
Título: Natal Bem Brasileiro
Artista: Célia, Dominguinhos, Elba Ramalho, Flávio
Venturini, Francis Hime, Jane Duboc, Leila Pinheiro,
Marcos Sacramento, Maria Alcina, Maria Bethânia,
Miúcha, Olivia Hime, Toquinho, Vinicius de Moraes,
Wanderléa e Zezé Motta
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * *

Natal Bem Brasileiro merece real destaque entre os discos produzidos no Brasil para celebrar o Natal pelo fato de se escorar em cancioneiro exclusivamente nacional. Por mais que o mercado fonográfico brasileiro somente tenha atentado para o gênero a partir do sucesso comercial do disco lançado por Simone em 1995, alvo de grande campanha de marketing da gravadora então denominada PolyGram, desde a década de 30 os compositores brasileiros ocasionalmente fizeram músicas para festejar a festa cristã. O mérito de Natal Bem Brasileiro reside na pesquisa feita pelo produtor Thiago Marques Luiz para desencavar esse nativo cancioneiro natalino. O CD reúne gravações inéditas de 13 músicas feitas em período que vai de 1933 a 1998. Como bônus, oferece o Poema de Natal, recitado por Vinicius de Moraes (1913 - 1980) ao som do violão de Toquinho. A pesquisa de repertório, contudo, não garante por si só a qualidade do álbum. Nem todas as músicas estão no nível das obras de seus compositores. Assim como o time de intérpretes é bem superior aos arranjos, a rigor bem opacos, que banalizam tal cancioneiro e estragam este Natal.

Duas das 14 faixas saltam de imediato aos ouvidos pelo refinado resultado artístico. Emoldurada pelas cordas virtuosas do violão de Zé Paulo Becker, a voz de Olivia Hime atinge o ponto exato da melancolia dos versos de Velho Amigo, tema de Baden Powell (1937 - 2000) e Vinicius de Moraes lançado por Elizeth Cardoso (1920 - 1990) em 1979. Melancolia que também aparece no mais antigo e mais conhecido tema de natal composto no Brasil, Boas Festas, revivido ternamente por Maria Bethânia entre o acordeom de João Carlos Coutinho e os violões tocados por seu maestro Jaime Alem, arranjador da faixa. A música de Assis Valente (1911 - 1958) atravessou gerações desde a gravação original feita por Carlos Galhardo (1913 - 1985) em 1933. E por falar em sanfona, Dominguinhos também acerta ao rebobinar no ritmo do xote outro tema que também permanece no inconsciente coletivo brasileiro, O Velhinho, composição de 1953 em que o compositor Otávio Filho alimenta a ilusão de um Natal sem diferenças sociais. É o mesmo sonho ambicionado por Blecaute (1919 - 1983) nos versos idealizados de Natal das Crianças (1955), música em que o fraseado límpido de Jane Duboc disfarça a banalidade do arranjo. Da mesma forma que a voz esfuziante de Maria Alcina dialoga brilhantemente com o frenético piano ouvido em E Nasceu Jesus, espécie de charleston composto por Orlandivo com Roberto Jorge em 1962 com o molho que caracteriza a música do rei do balanço.

A celebração de E Nasceu Jesus é antecedida pela tragicomédia retratada por Adoniran Barbosa (1910 - 1982) em Véspera de Natal, recontada na voz de Marcos Sacramento. Já Simone Guimarães saúda o espírito feliz do Natal em Ô de Casa no ritmo folclórico das folias de reis e com os versos de Sérgio Natureza, ouvidos na voz mineira de Flávio Venturini. Já Martinho da Vila celebra o Natal na cadência do samba. Pena que Feliz Natal, Papai Noel não figure entre suas melhores composições. Zezé Motta faz o que pode para valorizar a música - inovadora do ponto de vista poético por pedir ao bom velhinho até vigor sexual - mas a frouxa cama percussiva da faixa ajuda a derrubar o samba. Célia é mais bem-sucedida ao valorizar Meu Menino Jesus, tema de Roberto e Erasmo Carlos, lançado em 1998 sem a inspiração mostrada pela dupla em outras canções religiosas. Por sua vez, Wanderléa não consegue disfarçar o fato de que, em Recadinho de Papai Noel (1934), Assis Valente nem de longe reedita a inspiração tida no ano anterior ao compor Boas Festas. Completando o repertório, Cartão de Natal - toada composta por Luiz Gonzaga (1913 - 1989) com Zé Dantas (1921 - 1962), gravada pelo Rei do Baião em 1954 em disco de 78 rotações - ganha a voz de Elba Ramalho. Entre altos e baixos, o valor do álbum reside mesmo no fato de celebrar o Natal à moda bem brasileira. Com o que isso tem de bom e ruim.

24 de dezembro de 2008

Aretha celebra Natal com sua voz cheia de soul

Nos seus (mais de) 50 anos de trajetória fonográfica, Aretha Franklin já celebrou o Natal diversas vezes em gravações avulsas. Contudo, a Rainha do Soul nunca havia dedicado um álbum inteiro ao cancioneiro de Noel. Até este ano de 2008. Seu álbum This Christmas, Aretha (capa à direita) não foi - e nem vai ser - editado no Brasil, mas já está à venda no exterior desde outubro. O repertório prioriza os clássicos como Silent Night, entoados por Aretha com sua voz cheia de soul. Feliz Natal aos leitores de Notas Musicais!

Ao vivo, Celso incursiona mal por searas alheias

Resenha de CD/DVD
Título: Celso Fonseca
ao Vivo
Artista: Celso Fonseca
Gravadora: EMI Music
Cotação: * *

Ao longo dos anos 90, Celso Fonseca consolidou sua bela parceria com Ronaldo Bastos, projetada em 1985 com a gravação da canção Sorte por Gal Costa. O brilho da safra autoral da dupla foi coroado com o êxito mundial de Slow Motion Bossa Nova, o tema que deu título ao álbum lançado pelos compositores em 2001. De lá para cá, Fonseca vem tentando se impor em carreira solo construída paralelamente no Brasil e na Europa. Em 2007, ao ser contratado pela EMI Music, o artista ensaiou guinada popular no CD Feriado, no qual regravou até sucesso do funkeiro MC Leozinho, Ela Só Pensa em Beijar, rebobinado neste registro de show captado em 12 de agosto de 2008 no Canecão (RJ). No CD e DVD Celso Fonseca ao Vivo, postos nas lojas neste fim de ano, há clara tentativa de ampliar a popularidade do cantor. O que explica a inclusão no roteiro de Um Dia de Domingo, a balada de Michael Sullivan & Paulo Massadas que fez sucesso em 1985 nas vozes de Gal Costa e Tim Maia (1942 - 1998). O dueto é recriado por Fonseca com Ana Carolina num registro suave que atesta que a cantora não precisa carregar no tom para cativar os ouvintes. Contudo, se Ana tem cacife vocal para encarar música lançada por Gal, Fonseca fica a anos-luz do vozeirão do Síndico. Até porque uma gravação ao vivo, por mais que esteja maquiada, sempre evidencia os limites de artistas não vocacionados para o canto. E o fato é que Celso Fonseca incursiona mal por searas alheias neste ao vivo. O número final - Ive Brussel, com adesões de Gilberto Gil, Roberta Sá e João Pedro Fonseca (filho de Celso) - é exemplo perfeito do tom pálido da gravação. Salva-se o dueto com Roberta Sá em A Voz do Coração, canção em que transparece toda a bossa da parcerias de Fonseca com Ronaldo Bastos. Já a participação de Gil - em números como o reggae Is This Love? - chega até a ser constrangedora porque Gil estava quase sem voz no dia da gravação. Tanto que a festiva Palco nunca soou tão desanimada nos palcos. E o que justifica a inclusão de Maria Fumaça, o maior sucesso da banda Black Rio? O registro instrumental soa como xerox da gravação original feita pelo grupo em 1977. Enfim, por ser sobretudo um compositor, Celso Fonseca parece perdido em gravação em que tenta se posicionar como intérprete. Falta voz...

Chegam ao Brasil boas reedições do Simply Red

Lançadas no mercado externo em 24 de junho, as Collector's Editions dos dois discos mais bem-sucedidos do Simply Red nos anos 80 - Picture Book (de 1985) e A New Flame (1989), o primeiro e o terceiro álbuns do ativo grupo inglês, respectivamente - estão enfim aportando nas lojas do Brasil, neste mês de dezembro de 2008, via Warner Music. As reedições são excelentes. Além do som remasterizado com apuro, Picture Book oferece como bônus remixes de cinco de suas dez faixas - inclusive de Holding Back the Years, o maior hit do álbum - e DVD com o show apresentado pela banda em 1986 no Montreux Jazz Festival. Já A New Flame - o álbum que estourou em todo o mundo por conta da balada soul If You Don't Know me by Now - traz o registro em DVD do show Let me Take You Home, gravado ao vivo em março de 1990 no The School of Theater, em Manchester, Inglaterra. Inclui também cinco faixas-bônus: I Wish (em registro ao vivo captado na Austrália), X, The Great Divide (S.H.T.G.), Sugar Daddy e o tema instrumental Funk on out. Ambas as reedições incluem encarte de 16 páginas com fotos e textos inéditos de Brian Southall, o biógrafo oficial do Simply Red.

Biquini retorna aos anos 80 sem apuro de 2001

Resenha de CD / DVD
Título: 80 Vol 02
- Ao Vivo Circo Voador
Artista: Biquini Cavadão
Gravadora: Som Livre
Cotação: * *

Em 2001, ao lançar o CD 80, o Biquini Cavadão abordou o repertório de bandas de sua geração, projetadas na década de ouro do pop nacional. Havia um apuro nessa abordagem e na própria seleção do repertório - com mais lados B das bandas do que propriamente hits - que impediu que o disco caísse na vala comum dos projetos de covers. Sete anos depois, o grupo carioca faz nova incursão pelo repertório dos anos 80, mas, em vez de voltar ao estúdio, gravou ao vivo CD e DVD em show no Circo Voador (RJ), casa emblemática para a geração pop da época. Desta vez, no entanto, o cuidado pareceu ter sido menor. Não tanto na parte visual - o diretor Roberto de Oliveira captou boas imagens que traduzem o tom caloroso da apresentação gravada em 20 de setembro de 2008 - mas, sobretudo, na seleção do repertório e dos convidados. Talvez porque a preocupação com o resultado comercial tenha sido (bem) maior. Parece ter havido a intenção de incluir hits mais óbvios e populares como Inútil (Ultraje a Rigor, 1985), A Fórmula do Amor (Leo Jaime, 1986) e O Astronauta de Mármore (Nenhum de Nós, 1989) sem que tais sucessos ganhem um toque realmente especial do Biquini. Sim, há o bandolim tocado por Carlos Coelho que adorna a quilométrica Infinita Highway (Engenheiros do Hawaii, 1987). Há também o competente solo de guitarra de Hudson (da dupla sertaneja Edson & Hudson) em Revoluções por Minuto (RPM, 1985). Justiça seja feita: os arranjos, como um todo, pairam acima do nível populista do som das festas Ploc's 80. Basta conferir a pegada nervosa de Marvin (Titãs, 1983). Contudo, nenhuma das 20 músicas (14 no CD editado simultaneamente) ganha um brilho realmente especial - como o registro de Juvenília, para citar somente um exemplo do CD de estúdio 80. Para piorar, os cantores que duetam com o vocalista Bruno Gouveia - cheio de energia e garra - fazem suas intervenções via telão. A participação de Tico Santa Cruz em Índios (Legião Urbana, 1986) até se justifica pelo caráter politizado do vocalista do grupo Detonautas. Mas qual o propósito de convidar Claudia Leitte, estranha no ninho do rock, para um dueto virtual na balada Romance Ideal (Os Paralamas do Sucesso, 1984)? A cantora de axé nem tantos recursos vocais que legitime a incursão por território alheio. Da mesma forma, um dos hinos do saudoso Ira!, Envelheço na Cidade (1986), não merecia ser associado a Egypcio, vocalista de uma banda dos anos 90/2000, Tihuana, nada identificada com a ideologia do pop dos 80. E, a propósito, o que credencia Sexta-Feira (Biquini Cavadão, 1998) para figurar em repertório centrado em década anterior? Enfim, fica a impressão de que o grupo foi menos rígido na concepção dessa segunda abordagem dos 80. É pena, pois, a julgar por seu último bom CD de inéditas, Só Quem Sonha Acordado Vê o Sol Nascer (2007), o Biquini Cavadão tem fôlego e inspiração suficientes para evitar olhares burocráticos para o passado alheio.

Grupo prolonga festa dos 60 sem originalidade

Resenha de CD / DVD
Título: A Festa
Continua!
Artista: The
Originals
Gravadora:
Universal Music
Cotação: *

Talvez a nostalgia de uma irreal modernidade seja a única razão para a edição deste terceiro CD e DVD do grupo carioca The Originals, formado por ex-integrantes dos conjuntos Renato e seus Blue Caps e The Fevers. A festa, a rigor, já acabou há muito tempo para esses sessentões que, sim, tiveram lá sua importância na formatação do pop mais popular das décadas de 60 (e 70 no caso dos Fevers, cujo auge comercial foi vivido alguns anos depois do apogeu da Jovem Guarda). Contudo, Ed Wilson (voz e violão), Paulo César Barros (voz e baixo), Miguel Plopschi (sax), Pedrinho (bateria e vocal), Cleudir (teclados e vocal) e Guto (bateria e vocal) prolongam essa festa sem um mínimo de originalidade, inclusive quando apresentam a inédita Viva o Rock and Roll (A Festa Continua) na abertura do show. As vozes soam opacas como as imagens capturadas pelo diretor Fausto Villanova em show realizado no Espaço Cultural Veneza (RJ) em 3 de junho de 2008. Ao se revezar entre o sax e a função de mestre de cerimônias, Plopschi acentua o caráter nostálgico da festa ao apresentar com elogios superlativos cada músico ou convidado que entra em cena. Almir Bezerra, o vocalista da fase áurea dos Fevers, é convocado em cinco dos 19 números para reviver hits como Ninguém Vive sem Amor, Mar de Rosas, Vem me Ajudar e Nathalie. Almir soa como um clone de si mesmo. Mas ninguém parece se importar. É como se o show fosse um baile. Sim, o público - também ele saudosista - embarca na onda e faz coro nas músicas. E certamente também cantaria todas se não estivessem ali nomes da pré-história do pop nacional, mas quaisquer outros músicos ou cantores. O show não pode parar. Saudade não tem idade? Talvez. Deve ser por isso que Wanderléa também entra em cena para reviver, sem brilho, seus eternos sucessos da fase da Jovem Guarda. No fim, todos se juntam para cantar Whisky a Go Go, o hit oitentista do Roupa Nova que evoca o clima da festa dos anos 60. Já faz parte do show do The Originals. E a festa continua!!

23 de dezembro de 2008

Ovídio faz bela viagem pelo mundo de Martinho

Resenha de CD
Título: Viajando
com Martinho
Artista: Ovídio Brito
Gravadora: Zambo
Discos
Cotação: * * * 1/2

O último roteiro desta bonita viagem proposta por Ovídio Brito ao redor do mundo de Martinho da Vila, Pensando Bem, é tema instrumental em que o percussionista exibe sua maestria na cuíca. Contudo, a parada de Viajando com Martinho é outra. Aos 63 anos, Ovídio - músico recorrente nos bastidores do samba - se lança como cantor, com insuspeita desenvoltura, em CD que celebra a obra do artista com quem mais tocou em seus 50 anos de samba. Produzido por Ana Costa e Bianca Calcagni, o tributo fogo do tom trivial que banaliza muitos discos do gênero, sobretudo porque o repertório evita acertadamente os clássicos de Martinho. E, quando não o faz, como em Roda Ciranda e no medley que une os sambas-enredos Quatro Séculos de Modas e Costumes e Yayá do Cais Dourado, é justamente quando o disco soa com menos brilho. A obra do Da Vila é tão vasta quanto rica. Tem muito samba bom que ficou encoberto na poeira da estrada. Ovídio dá segunda chance a temas como Cresci no Morro (que em sua voz adquire legítimos tons autobiográficos pelo fato de ele ter sido criado na favela carioca da Praia do Pinto), Eterna Paz (correta lição de moral dada em clima terno com Mart'nália), É de Black Tie (parceria bissexta de Martinho com Zeca Pagodinho, regravada por Ovídio com o vocal descontraído de Pagodinho), Balança Povo (em dueto com Almir Guineto) e Leila Diniz (parceria com Nei Lopes no qual figura Ana Costa), Plim Plim e Maria da Hora, unido em medley com Requenguela. Um dos hits bissextos do repertório é Casa de Bamba, samba emendado com outro sucesso da fase inicial de Martinho, Pra que Dinheiro?, ambos rebobinados por Ovídio ao lado de Arlindo Cruz. Entre tantos convidados, Sandra de Sá põe sua alegria em Cidadã Brasileira - grande samba que deu título ao álbum lançado por Leci Brandão em 1990 - e Analimar sai da sombra da irmã hype Mart'nália em Samba da Cabrocha Bamba, mostrando cacife para iniciar uma carreira solo (ela atua como backing-vocal de Martinho e da própria Mart'nália). Enfim, Ovídio faz viagem segura que leva o ouvinte a recantos desconhecidos da música de Martinho da Vila - por si só, roteiro dos mais sedutores.

Gribel estréia em CD na rica cena indie de 2008

A cena indie esteve agitada em 2008. Com a música cada vez mais ao alcance do ouvinte, sobretudo na internet, vários artistas puderam gravar e logo lançar discos por caminhos independentes. Foi o caso de Alvaro Gribel, jovem cantor e compositor radicado no Rio de Janeiro (RJ). O artista, de 28 anos, exibe no seu primeiro CD, Alvaro Gribel, dez temas autorais de uma safra inicial que começou a ser composta em 2001, quando Gribel se mudou de Vitória (ES) para o Rio. O repertório prioriza os sambas - entre eles, Gosto de Você (cantado em dueto com Patrícia Oliveira) e Adeus e É Só - ao mesmo tempo em que explicita a influência da Bossa Nova em faixas como Mais um Samba e Para Sempre. O CD já está disponível para download gratuito no site oficial de Gribel.

CD do trio de Amarante sai no Brasil em janeiro

Lançado em 4 de novembro de 2008 no exterior, pelo selo Rough Trade, o CD Little Joy vai ganhar edição nacional na segunda quinzena de janeiro de 2009 pelo selo Som Livre Apresenta, da gravadora Som Livre. Exibindo um rock de tom bem pop e ensolarado, apesar de uma ou outra faixa de caráter mais melancólico como With Strangers, o álbum Little Joy marca a estréia fonográfica do homônimo trio formado por Rodrigo Amarante com o guitarrista Fabrizio Moretti (projetado como baterista do grupo The Strokes) e com a tecladista Binki Shapiro. Produzido por Noah Georgeson (da turma de Devandra Banhart), o disco reúne 11 músicas. Dez são cantadas em inglês. Somente Evaporar é entoada em português. Eis as faixas do (elogiado) CD Little Joy:

1. The Next Time Around
2. Brand New Start
3. Play the Part
4. No One's Better Sake
5. Unattainable
6. Shoulder to Shoulder
7. With Strangers
8. Keep me in Mind
9. How to Hang a Warhol
10. Don't Watch me Dancing
11. Evaporar

Na seqüência imediata da chegada de seu CD de estréia nas lojas nacionais, o Little Joy faz miniturnê pelo Brasil que começa por Porto Alegre (RS) - com show no Bar Opinião, em 27 de janeiro de 2009 - e termina no Rio de Janeiro (RJ), em 6 de fevereiro, com apresentação no Circo Voador depois de passar por São Paulo (SP) e Belo Horizonte (MG), no Clash Club e Freegels, respectivamente.

Caio sopra seu sax juvenil nos ventos do sertão

Caio Mesquita já deixou de ser um grande vendedor de discos como em 2006, ano em que esteve entre os líderes do mercado fonográfico nacional por conta do fraco CD Jovem Brazilidade, mas o músico - projetado no programa de TV comandado pelo apresentador Raul Gil - continua com uma trajetória regular no mundo do disco. Atualmente com 18 anos, o rapaz já está lançando o sexto título de sua discografia, Sertanejo, que, como diz o óbvio título, tem repertório centrado na música dita sertaneja. Caio sopra seu sax teen em sucessos lançados por duplas como Victor & Leo (Fadas), Bruno & Marrone (Dormi na Praça), Leandro & Leonardo (Não Aprendi a Dizer Adeus e Pense em mim), Zezé Di Camargo & Luciano (É o Amor) e Chitãozinho & Xororó (Evidências). O CD Sertanejo é distribuído pela gravadora Universal Music e já está à venda desde novembro.

Álbum de 1969 dos Bee Gees volta com inéditas

O quarto álbum do trio Bee Gees - Odessa, lançado em 1969 - vai ganhar reedição de luxo, em formato triplo, para festejar os 40 anos do LP duplo original. A maior novidade da reedição - à venda no exterior a partir de 13 de janeiro de 2009 - são duas músicas inéditas, Pity e Nobody's Someone, gravadas para o álbum, mas excluídas da seleção final. O CD 1 reproduz as 17 faixas de Odessa no formato original em estéreo. O CD 2 apresenta as mesmas faixas em som mono. Já o CD 3 revela 22 fonogramas nunca lançados (demos, takes alternativos das faixas e as duas músicas que sobraram) - além de um anúncio promocional do LP. A Deluxe Edition de Odessa recupera o formato da capa do LP original e traz no libreto um faixa-a-faixa escrito pelo pesquisador Andrew Sandoval que promete revelar nuances de um dos álbuns mais ambiciosos da obra dos irmãos Barry, Maurice e Robin Gibb.

22 de dezembro de 2008

Em tom nordestino, Zé é fiel às idéias de Dylan

Resenha de CD / DVD
Título: Tá Tudo
Mudando - Zé Ramalho
Canta Bob Dylan
Artista: Zé Ramalho
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * *

Em depoimento do ralo documentário exibido nos extras do DVD Tá Tudo Mudando - Zé Ramalho Canta Bob Dylan, o compositor e jornalista Nelson Motta defende com razão que nenhum outro artista do Brasil está mais credenciado para fazer um disco com versões de músicas do compositor norte-americano do que o autor de Avohai. Já perfilado com o Bob Dylan do Sertão por conta do canto meio falado, das letras verborrágicas e do misticismo que o fazem ser associado ao bardo, Ramalho encara o desafio de cantar Dylan em português em versões que ora são quase traduções das letras originais (caso de O Vento Vai Responder em relação a Blowin' in the Wind), ora são mais livres, sem contudo deixar de ser fiel em maior ou menor grau à firme ideologia de Dylan (caso de Rock Feelingood, a versão de Tombstone Blues que cita até o filme Tropa de Elite ao abordar a conivência da classe média com a guerra gerada pelo tráfico de drogas). Rockfeeling Good é uma versão já pré-existente de Maurício Baia que ganhou uns versos adicionais de Ramalho. A faixa tem adição da guitarra virtuosa de Robertinho de Recife, co-produtor do projeto. Já a música-título - Tá Tudo Mudando, versão de Things Have Changed, ótimo tema da seara mais recente de Dylan - é tocada com a guitarra de Frejat.

Novas ou antigas, fiéis ou livres, as versões cantadas por Ramalho a rigor quase nunca alcançam o vôo poético das letras existenciais de Dylan. O que dá um toque especial ao projeto é a intenção de trazer a obra de Dylan para o universo da música nordestina. A sanfona de Dodô Moraes pontua, por exemplo, O Amanhã É Distante, versão de Babal e Geraldo Azevedo para Tomorrow Is a Long Time, gravada por Azevedo em 1985 no disco A Luz do Solo. Já If Not for You - a única música entoada por Ramalho com os versos originais, em inglês - é formatada no ritmo agalopado recorrente no cancioneiro do compositor paraibano. Assim como Batendo na Porta do Céu, a versão II de Knocking on Heaven's Door (aliás, inferior à primeira). É dentro desse espírito brazuca que Mr. Tambourine Man se transforma na figura sedutora de Mr. do Pandeiro, em alusão (explicitada na letra em português, escrita por Bráulio Tavares em 1978) a Jackson do Pandeiro (1919-1982).

Gravado em show fechado, feito sem platéia, o DVD reproduz as mesmas 12 faixas do CD homônimo, editado simultanea e separadamente. Contudo, o DVD é prejudicado pelas introduções algo vagas feitas pela jornalista Ana Maria Bahiana antes da exibição de cada música. Custa crer que uma jornalista com o currículo de Bahiana - ícone da crítica musical dos anos 70 e referência para todas as gerações posteriores de críticos - tenha aceitado falar um texto tão pomposo e com dois erros graves, um de informação e outro de omissão. A informação errada diz respeito à origem da música Don't Think Twice, It's All Right (Não Pense Duas Vezes, Tá Tudo Bem na versão cantada por Ramalho). Bahiana afirma se tratar de música lançada pelo autor em disco dos anos 70 quando, na realidade, a composição é de The Freewheelin' Bob Dylan, o álbum de 1963 no qual Dylan lançou o hino Blowin' in the Wind. Já a omissão é feita quando, ao apresentar a faixa Negro Amor, a jornalista não ressalta o fato de a versão (de alto teor poético) de It's All Over Now, Baby Blue ser da lavra fina de Caetano Veloso e Péricles Cavalcanti, dando a entender que se trata de mais uma das criações de Ramalho. E tal omissão é agravada pelo fato de na mesa redonda comandada pela jornalista Christina Fuscaldo - atrativo dos extras em que nomes como Bráulio Tavares e Maurício Baia detalham a origem das versões mais antigas - também não ser feita qualquer referência à autoria da bela Negro Amor. Erros e omissões à parte, Tá Tudo Mudando é projeto fiel ao tom e à ideologia do próprio Ramalho.

CD de Bruce exibe cenas da gravação em DVD

O álbum que Bruce Springsteen vai lançar em 27 de janeiro de 2009, Working on a Dream, vai ser lançado simultaneamente em edições simples e dupla. A Deluxe Version - como foi batizada no mercado norte-americano - vem com um DVD com 30 minutos de cenas da gravação do disco, produzido por Brendan O'Brien e gravado pelo Boss com sua E-Street Band. O CD sai pela Sony BMG.

Fundo insiste em ao vivo e Mário Sérgio sai solo

Na seqüência de dois registros de shows, intitulados O Quintal do Samba (2007) e Samba de Todos os Tempos (2008), o grupo Fundo de Quintal arremessa no início de 2009 coletânea de gravações ao vivo, sendo algumas inéditas. Como os dois projetos anteriores, Vou Festejar com Fundo de Quintal vai chegar às lojas simultaneamente nos formatos de CD e de DVD. É o último trabalho do grupo com o vocalista Mário Sérgio, que deixou o Fundo de Quintal para seguir carreira solo iniciada com disco que vai ser lançado já no primeiro semestre de 2009, pela LGK Music.

Sabah faz CD com poemas e inédita de Melodia

Após lançar dois CDs com a já batida receita de música brasileira com levadas eletrônicas, Drum'n Bossa (2004) e Drum'n Bossa 2 - É Com Esse que Eu Vou (2006), Karla Sabah - em foto de Lívio Campos - prepara álbum em que o mote é a sua poesia (em janeiro, ela vai lançar o livro de poemas Rainha de Sabah). Nomes como Rildo Hora e Perinho Santana musicaram versos de Sabah. Rildo criou melodia para os versos de Cala a Boca e me Beija. Já Perinho musicou Metade com Metade. Está certa também no disco uma inédita de Luiz Melodia, Me Beija, parceria do compositor com Renato Piau e Tureco. O lançamento do CD está previsto para abril de 2009, pela gravadora LGK Music.

21 de dezembro de 2008

Linkin Park registra grande show em CD e DVD

No dia 29 de junho de 2008, o grupo de nu metal Linkin Park fez no The National Bowl - um anfiteatro construído em vasta área pública de Londres, na Inglaterra - o único show ao ar livre de sua atual turnê. Cerca de 65 mil pessoas assistiram à apresentação, capturada com grande requinte pelas câmeras conduzidas pelo diretor Blue Leach. O registro está sendo lançado pela Warner Music em edição dupla que agrega CD e DVD. Road to Revolution - Live at Milton Keynes perpetua os 18 números do espetáculo que, no fim, teve a intervenção do rapper Jay-Z - com quem o Linkin Park gravou o álbum Collision Course, de 2004 - em Numb / Encore e em Jigga That / Faint. A gravação ao vivo reproduz a pegada explosiva da banda norte-americana de rapcore. Já saiu no Brasil.

Pausini 'antecipa' primavera em duo com Blunt

Primavera in Anticipo - o décimo álbum de estúdio de Laura Pausini, lançado na Itália em 14 de novembro de 2008 - já chegou às lojas do Brasil neste mês de dezembro, via Warner Music. A cantora e compositora italiana volta a gravar inéditas de sua lavra autoral depois de ter dedicado CD, Io Canto (2006), às músicas de compositores conterrâneos. A única faixa que não traz o nome de Pausini nos créditos é Prima Che Esci, tema dado a ela por Gianluca Grignani. A faixa-título, Primavera in Anticipo (It's my Song), foi gravada pela cantora num dueto bilingüe com o astro britânico James Blunt, que entoa obviamente os versos que compôs em inglês. A exemplo de discos anteriores de Laura Pausini, Primavera in Anticipo foi lançado simultaneamente em versão em espanhol - já disponível no Brasil.

Il Divo vai de ABBA a Cohen em 'The Promise'

Resenha de CD
Título: The Promise
Artista: Il Divo
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * *

Quarteto fabricado em 2004 pelo empresário inglês Simon Cowell, Il Divo abre o leque pop em seu quinto álbum, The Promise, editado pela Sony BMG. As vozes operísticas do quatro cantores nunca foram postas a serviço de um repertório tão popular - ainda que haja um ou outro tema erudito, como Adagio, entre as 11 faixas do CD. Na intenção de soar globalizado, Il Divo canta em inglês, em espanhol e em italiano. Entre músicas das searas do compositor Leonard Cohen (Hallelujah - Aleluya) e do grupo inglês Frankie Goes to Hollywood (The Power of Love - La Fuerza Mayor), os jovens tenores (a rigor, há também um barítono no quarteto) cantam um sucesso do grupo ABBA em espanhol - The Winner Takes it All, rebatizado Va Todo al Ganador em castelhano - e outro de Charles Aznavour, She, em italiano! A técnica dos rapazes é inegável, mas tanto virtuosismo vocal serve apenas para cativar platéias que se deixam seduzir por este tratamento pseudo-erudito dado à música popular. A gravadora Sony BMG alardeia que Il Divo já vendeu cerca de 22 milhões de discos. Pode ser, mas o fato é que The Promise soa como mais um CD fabricado em salas de marketing. Como o próprio quarteto, aliás. Mas tem quem compre o produto.

'Kit' de CD e DVD documenta os sons de Bond

De A-ha a Madonna - passando por Duran Duran e por Paul McCartney - são diversos os astros que já orbitaram em torno dos filmes estrelados pelo agente secreto 007, o James Bond. Apesar de reunir 24 temas gravados para a série de filmes, a ótima coletânea The Best of Bond... James Bond seria apenas mais uma compilação dentre as várias já lançadas pela gravadora EMI Music se sua edição dupla não agregasse ao CD um DVD que exibe o documentário The Bond Sound - The Music of 007 (sobre essa trilha sonora que vem marcando época ao longo dos tempos) e os clipes das músicas A View to a Kill (Duran Duran), For Your Eyes Only (Sheena Easton), Goldneye (Tina Turner), The Living Daylights (A-Ha), All Time High (Rita Coolidge) e Goldfinger (o sucesso de Shirley Bassey, em take ao vivo captado no Royal Albert Hall, em Londres, em 1974).

Artistas celebram Zappa em 'Detritos Cósmicos'

Resenha de Livro
Título: Zappa -
Detritos Cósmicos
Autor: Fabio Massari
(organizador)
Editora: Conrad
Cotação: * * * 1/2

Já uma entidade, como bem define Pitty em seu depoimento para o livro-tributo Detritos Cósmicos, Frank Zappa (1964 - 1993) faria 68 anos neste domingo, 21 de dezembro de 2008, se não tivesse saído de cena, aos 53, vítima de um câncer. Por conta dos 15 anos de sua morte, completados no último dia 4 de dezembro, a editora Conrad está repondo no mercado livro de 2007 em que fãs famosos celebram Zappa, relatando a experiência de tomar contato com a música inclassificável do artista. Zappa - Detritos Cósmicos é livro estruturado por seu organizador - Fabio Massari, fã fervoroso de Zappa - em formato similar a de um almanaque. Os depoimentos ostentam linguagem coloquial, a exemplo do relato de Evandro Mesquita, que revive as emoções da viagem que o levou a ver um show de Zappa no pomposo Palladium, em Nova York (EUA). Há depoimentos que já são em si uma viagem como o relato de Rogério Skylab. Ao todo, são 38 depoimentos de um time que inclui também Kid Vinil e Wander Wildner. Os relatos têm sabor desigual, mas vale destacar o do guitarrista André Christovam, que, entre reminiscências musicais da sua adolescência, lembra a experiência de ter visto Zappa ao vivo em Los Angeles (EUA), em 1980. Nem todos celebram Zappa com depoimentos. O cartunista gaúcho Allan Sieber, por exemplo, tributa o artista através de quadrinhos. Há também artigos, duas entrevistas brasileiras do homenageado (uma delas dada ao próprio Fabio Massari) e uma Zappagrafia, espécie de bibliografia e discografia de recorte pessoal, que, além dos álbuns oficiais do período 1966-2006, lista compactos e faz até seleção dos bootlegs da entidade Frank Zappa.

Show do Doors no Matrix ganha registro oficial

Resenha de CD
Título: Live at the
Matrix 1967
Artista:
The Doors

Gravadora: Warner Music
Cotação: * * *

É improvável que algum fã do grupo The Doors desconheça a gravação do show feito por Jim Morrison (1943 - 1971) e Cia. no início de março de 1967, no clube Matrix, em São Francisco (EUA). O registro das lendárias apresentações - há anos pirateado em bootlegs - ganha edição oficial neste ano de 2008 em CD recém-editado pela gravadora Warner Music. O disco é duplo e traz no encarte fotos da época e textos inéditos que contextualizam o momento do Doors ao subir ao palco do Matrix. Apesar de a Warner Music dar tratamento luxuoso à edição e de ter alardeado o processo de restauração das fitas, o som ouvido no CD Live at the Matrix 1967 é apenas satisfatório. Ainda assim, salta aos ouvidos a energia de um quarteto em processo de maturação, antes da fama massiva que iria levar Morrison a mergulhar fundo nas drogas e a levar a banda e sua própria vida a um fim precoce. E é óbvio e claro que o valor documental é alto. No palco do Matrix, o grupo tocou músicas do primeiro álbum (The Doors, 1966) - entre elas, o hino Light my Fire - e, mais importante, antecipou parte do repertório que viria a ser gravado em seu segundo disco, Strange Days (1967), casos de When the Music's Over e People Are Strange. Enfim, como já dito, é bem difícil que as 24 faixas deste CD duplo nunca tenham sido ouvidas pelos admiradores fervorosos do The Doors. Independentemente do grau de raridade de sua gravação, Live at the Matrix incorpora à discografia oficial do grupo um registro peculiar que merecia passar oficialmente para posteridade digital.