18 de setembro de 2010

'Trilhas' refaz bom caminho seguido por Baleiro

Resenha de CD
Título: Trilhas - Música
para Cinema e Dança
Artista: Zeca Baleiro
Gravadora: Saravá Discos
Cotação: * * * 1/2

Trilhas - a boa coletânea ora apresentada por Zeca Baleiro - reúne vários temas compostos pelo artista para filmes e espetáculos de dança. Com exceção de Cunhataiporã, canção de Geraldo Espíndola gravada pelo cantor para a trilha sonora do filme Carmo (2008), todas as músicas são assinadas por Baleiro. Ao alinhar onze fonogramas dispersos na discografia do artista, Trilhas adquire quase status de disco de carreira por refazer o caminho musical seguido pelo compositor nos últimos 11 anos. De quebra, o CD registra também um tema sensível até então nunca gravado, Roxinha, composto por Baleiro para o espetáculo multimídia Mãe Gentil (2000) e gravado especialmente para a compilação pela atriz Rosi Campos. O grande destaque da seleção é Carmo, noturna canção do estradeiro filme homônimo. Ao incorporar alguns versos em espanhol, a letra de Carmo evoca o clima de fronteira no qual foi ambientado o longa-metragem do cineasta Murilo Pasta. Já atravessando a fronteira, o tango Baile dos Anões é tema instrumental criado por Zeca para o espetáculo de dança Cubo (2005), de cuja trilha sonora - toda assinada por Baleiro - o artista reapresenta na coletânea Nome de Amor (tema cujo arranjo integra bem percussão e programações eletrônicas), Três de Espadas e o hilário Samba do Balacobaco. Aliás, para quem prefere o humor espirituoso do artista, a pedida é Turbinada, samba-rock do espetáculo de dança Geraldas e Avencas (2007), de cuja trilha sonora a coletânea também reúne Quem Não Samba Chora, o tema instrumental Dez Passos e o Xote do Edifício. Completa a boa seleção o tristonho tema instrumental Flores para os Mortos (Opus 3), cuja melancolia é realçada pelo violino de Thomas Rohrer. Ainda que olhe para o passado recente do multimídia artista maranhense, Trilhas também aponta novos caminhos para o artista no mercado fonográfico por ser - ao lado do registro ao vivo do show Concerto - um dos dois primeiros CDs de Zeca Baleiro editados pelo selo do artista (o Saravá Discos).

Bethânia grava hit de Hime e Chico para trilha

Pela segunda vez consecutiva, uma novela de Gilberto Braga vai contar com gravação exclusiva de Maria Bethânia em sua trilha sonora. Quatro anos depois de reviver o samba-canção Sábado em Copacabana (Dorival Caymmi e Carlos Guinle, 1955) para a abertura de Paraíso Tropical (2006), a cantora - vista em foto de Murilo Meirelles - aceitou o convite para gravar Trocando em Miúdos (Francis Hime e Chico Buarque, 1977) para a trilha sonora de Insensato Coração, a novela de Gilberto e Ricardo Linhares que estreará em janeiro de 2011. A música estará no CD da novela.

'Arquivo 3' historia a superação dos Paralamas

Dando sequência à sua série de coletâneas oficiais iniciada em 1990 com o CD Arquivo e desenvolvida em 2000 com Arquivo II, o trio carioca Paralamas do Sucesso edita Arquivo 3 neste mês de setembro de 2010 pela EMI Music - com a diferença de que, desta vez, não há sequer uma gravação inédita para promover a compilação. A imagem da capa (acima à direita) sugere tratar-se de uma caixa, mas Arquivo 3 é um CD simples que historia em 12 fonogramas - recolhidos nos cinco álbuns gravados pelo grupo entre 2002 e 2009 - uma década de brava superação, já que o grave acidente de ultraleve sofrido em 2001 pelo vocalista e guitarrista do grupo, Herbert Vianna, o deixou paraplégico e fez o trio trilhar - unido - um longo caminho até a bem-sucedida volta aos palcos e aos estúdios. Eis as 12 faixas de Arquivo 3, cuja seleção abrange do melancólico álbum da volta Longo Caminho (2002) até o ensolarado Brasil Afora (2009):
1. A lhe Esperar - Faixa do álbum Brasil Afora (2009)
2. Cuide Bem do seu Amor - Faixa de Longo Caminho (2002)
3. 2A - Faixa do álbum Hoje (2005)
4. O Calibre - Faixa do álbum Longo Caminho (2002)
5. Quanto ao Tempo - Faixa do álbum Brasil Afora (2009)
6. Na Pista - Faixa do álbum Hoje (2005)
7. Seguindo Estrelas - Faixa do álbum Longo Caminho (2002)
8. De Perto - Faixa do álbum Hoje (2005)
9. Mormaço - Faixa do álbum Brasil Afora (2009)
10. Soldado da Paz - Faixa do álbum Uns Dias ao Vivo (2004)
11. Que País É Este? - Faixa do álbum Uns Dias ao Vivo (2004)
12. Selvagem + Polícia (com Titãs) - Faixa do álbum Paralamas & Titãs: Juntos e ao Vivo (2008)

DVD desvenda criação do clássico de Meat Loaf

Em 1977, ano dominado pela disco music e pela explosão do punk, Meat Loaf - nome artístico do cantor (e também ator) norte-americano Marvin Lee Aday - desafiou as leis do mercado fonográfico da época e lançou a sua ópera de rock pesado. Era o álbum Bat Out of Hell, recebido com indiferença pelos críticos da época, mas, ao longo dos anos, consagrado pelo público. Trinta e três anos depois, o disco de estreia de Loaf tem sua criação dissecada em DVD da ótima série Classic Albums, lançado no Brasil neste mês de setembro de 2010 pela gravadora ST2. O documentário costura imagens de arquivo (extraídas de shows feitos em 1978 para promover o álbum) com entrevistas com Meat Loaf, com Jim Steinman - o compositor e pianista que escreveu os temas interpretados por Loaf - e com o produtor Todd Rundgren. Todos detalham a gênese de um álbum que, mesmo ignorado pela crítica da época, se tornaria realmente um clássico, vendendo cerca de 30 milhões de exemplares ao redor do mundo.

17 de setembro de 2010

'Orfeu' perde a aura mítica em montagem atual

Resenha de Musical
Título: Orfeu
Texto: Vinicius de Moraes
Música: Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes
Direção: Aderbal Freire-Filho
Direção musical: Jaques Morelenbaum e Jaime Alem
Elenco: Érico Brás (Orfeu), Aline Nepomuceno
(Eurídice), Jéssica Barbosa (Mira), Wladimir Pinheiro
(poeta), Isabel Fillardis (Dama Negra) e outros
Foto: Divulgação / Mario Canivello
Cotação: * * 1/2
Em cartaz no Canecão (Rio de Janeiro - RJ) até 19 de setembro,
no HSBC Brasil (São Paulo - SP) de 23 de setembro a 3 de outubro,
no Teatro Nacional (Brasília - DF) de 8 a 10 de outubro,
no Teatro Rio Vermelho (Goiânia - GO) em 14 de outubro,
no Teatro do Sesi (Porto Alegre - RS) em 22 e 23 de outubro e
no Teatro Guaíra (Curitiba - PR) em 27 e 28 de outubro

Musical de caráter (literalmente) mítico, Orfeu da Conceição delimita o início da parceria de Tom Jobim (1927 - 1994) com Vinicius de Moraes (1913 - 1980), encontro que daria caráter histórico ao espetáculo que estreou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (RJ) em 25 de setembro de 1956. Ao transpor a paixão de Orfeu & Eurídice para um morro carioca, numa atmosfera carnavalesca, Vinicius abrasileirou o mito grego e o ajustou ao perfil das músicas compostas para a trilha, caso do samba Mulher, Sempre Mulher, tema que pontua a remontagem do musical - ora intitulado somente Orfeu - sob a direção de Aderbal Freire-Filho. Em turnê nacional iniciada pelo Rio de Janeiro, a cidade que o inspirou e na qual Orfeu fica em cartaz até domingo, a encenação de Aderbal não faz jus à expectativa criada. A saga do Orfeu 2010 não transmite em cena o essencial: paixão. É fato que a beleza soberana da música de Tom & Vinicius paira acima de tudo e de todos. Quando se faz ouvir em cena uma obra-prima como Se Todos Fossem Iguais a Você - o tema da trilha sonora de Orfeu que ganharia projeção além do musical se tornaria um clássico mundial - qualquer eventual falha da encenação se apequena diante da grandeza da música, reapresentada em cena sob a reverente direção musical de Jaques Morelenbaum e Jaime Alem. Só que a modernidade atemporal da música não absolve Aderbal pela mexida excessiva na fraca estrutura original do musical - e o arremate com Chega de Saudade (1958) deixa a sensação final de que há inserções desconexas (ainda que não se tenha registro audiovisual da mítica montagem original de 1956). O uso de gírias associadas à bandidagem envolvida em tráfico de drogas também contribui para realçar a artificialidade que por vezes dá o tom da remontagem de Orfeu. Em contrapartida, há belas soluções cênicas. A cena de sexo do casal protagonista - ao som do Soneto da Infidelidade e da fatalista O Que Tinha de Ser (1959) - é instante que eleva a encenação defendida por talentoso elenco negro no qual se destacam as figuras vivazes de Érico Brás (um Orfeu com a ardência que não se vê em Eurídice), Wladimir Pinheiro (na figura do Poeta que funciona como um alter-ego de Vinicius e que tem seu grande momento ao cantar lindamente a Modinha) e Jéssica Barbosa (Mira, a rival de Eurídice na briga por Orfeu). No papel da Dama Negra, Isabel Fillardis tem bela presença cênica - valorizada pelo figurino deslumbrante de Kika Lopes - que ganha alguma real expressividade quando a atriz entoa o recém-redescoberto Tema da Dama Negra em bonito registro vocal. Esse elenco cheio de garra segue as coreografias de Carlinhos de Jesus, cujas marcas são especialmente visíveis nos números de samba. Por fim, entre tantas músicas que não foram criadas para Orfeu, vale ressaltar que A Felicidade (1959) e Água de Beber (1961) - alocada em cena de bar, como a água simbolizando a cerveja - se ajustaram bem à narrativa poética de Vinicius. Mas o fato é que, mesmo diante de tanta música de qualidade excepcional, a remontagem de Orfeu transcorre fria, sem a emoção esperada de texto movido a paixão.

'Marco Zero ao Vivo', de Elba, chega em outubro

Marco Zero - Ao Vivo é o título do CD que Elba Ramalho lança no início de outubro de 2010, via Biscoito Fino, com o registro do show feito em 12 de março no Marco Zero, o point do Centro Histórico de Recife (PE). O CD contabiliza 14 faixas. Entraram os duetos de Elba com Lenine (Queixa, música de Caetano Veloso também incluída por Maria Bethânia no roteiro do show Amor, Festa, Devoção), Alcione (O Meu Amor, de Chico Buarque), Zé Ramalho (Admirável Gado Novo) e Geraldo Azevedo (Canta Coração). Eis as faixas de Marco Zero ao Vivo:
1. Anunciação
2. Banquete de Signos
3. Canta Coração - com Geraldo Azevedo
4. Morena de Angola
5. Pavão Mysteriozo
6. O Meu Amor - com Alcione
7. De Volta pro Aconchego
8. Queixa - com Lenine
9. Admirável Gado Novo - com Zé Ramalho
10. Chorando e Cantando
11. É Só Você Querer
12. Chão de Giz
13. Chuva de Sombrinhas
14. Frevo Mulher

Skank adiciona faixas de estúdio em CD ao vivo

O Skank adicionou duas faixas-bônus de estúdio ao CD duplo que traz, na íntegra, o registro ao vivo do show captado no estádio Mineirão em junho de 2010 em Belo Horizonte (MG). As duas músicas gravadas em estúdio são inéditas. O reggae De Repente já havia sido incluído no roteiro do show. Já Fotos na Estante - parceria de Samuel Rosa com Rodrigo Leão - foi gravada apenas em estúdio. Nas lojas no fim de setembro de 2010, o CD Multishow ao Vivo - Skank no Mineirão totaliza 31 faixas e inclui uma terceira inédita, Presença, gravada ao vivo.

Milton regrava sucessos de Nana, Lulu e Ramil

Belo bolero de Cristovão Bastos e Aldir Blanc, lançado por Nana Caymmi em 1998, Resposta ao Tempo ganha registro na voz de Milton Nascimento no álbum ...E a Gente Sonhando. Nas lojas entre fins de setembro e início de outubro de 2010 em edição viabilizada por parceria do selo do cantor, Nascimento Música, com a gravadora EMI Music, o disco também traz regravações de músicas de Lulu Santos (Adivinha o Quê?) e Vitor Ramil (Estrela, Estrela). Contudo, o repertório é majoritariamente inédito. Entre temas autorais e criações de compositores mineiros, Milton lança músicas como Olhos do Mundo (de Heitor Branquinho e Marco Elízeo), Amor do Céu, Amor do Mar (Milton Nascimento e Flávio Henrique), Eu, Pescador (Clayton Prosperi e Haroldo Jr.) e Do Samba, do Jazz, do Menino e do Bueiro (Ismael Tiso Jr.). A faixa-título é regravação de tema antigo de Milton, lançado em 1965 pelo Tempo Trio, mas até então inédito na voz profunda do autor.

16 de setembro de 2010

Saul Barbosa deu dignidade à música da Bahia

Quem viu o último show de Maria Bethânia - Amor, Festa, Devoção - sabe que um dos grandes momentos do espetáculo é Fonte. Música gravada por Bethânia no álbum Tua (2009), Fonte é parceria de Jorge Portugal e Saul Barbosa (foto). Morto aos 57 anos na madrugada de quarta-feira, 15 de setembro de 2010, Saul sai de cena como um dos melhores compositores baianos dos últimos 20 anos. Não é à toa que o último álbum de Saul - Bahia, Cidade Aberta II (2009), extensão do CD editado em 1995 - enfileirou participações de nomes como Gilberto Gil, Lenine e Jorge Aragão. Gravado por cantoras como Daniela Mercury (Menino do Pelô), Elba Ramalho (Acaba Quando Começa) e Margareth Menezes (Toté de Maiangá, hit no Carnaval da Bahia), Saul Barbosa construiu obra que sempre pairou acima do nível rasteiro da maior parte da música afro-baiana rotulada como axé music. Nascido em Ilhéus (BA), Saul foi compositor do porte de seus contemporâneos Gerônimo, Vevé Calazans, Jorge Portugal e Roberto Mendes, entre outros nomes que deram e dão dignidade à música da Bahia - sem jamais apelar para o populismo.

CD Ti Ti Ti 1 destaca Zélia, Gottsha, Gadú e Ney

Com 29 gravações divididas em dois volumes e editadas pela gravadora Som Livre em dois CDs já à venda nas lojas de maneira avulsa, a trilha sonora nacional da novela Ti Ti Ti inclui - no volume 1 - gravações inéditas de Maria Gadú (a música de Caetano Veloso Rapte-me, Camaleoa), Titãs (Go Back, em regravação que inclui versos em espanhol), Zélia Duncan (Décadence avec Elégance, música de Lobão que o diretor musical da TV Globo, Mariozinho Rocha, tinha pensado em ter na trilha em regravação de Deborah Blando), Rita Lee (Ti Ti Ti), Gottsha (Fala, tema do primeiro álbum do Secos & Molhados), Ney Matogrosso (Seu Tipo, revival da música que deu título ao LP lançado pelo cantor em 1979). O CD Ti Ti Ti Volume 1 traz também fonogramas de Ivete Sangalo (Teus Olhos, com Marcelo Camelo), Caetano Veloso (Nature Boy) e de Sandy (Quem Eu Sou).

Ti Ti Ti 2 traz inédita de Vallen e hit de Dussek

Menos interessante do que o primeiro volume, o CD Ti Ti Ti Volume 2 traz gravação inédita de Rick Vallen - Sei Lá, canção da lavra autoral de Vallen - e um hit de Eduardo Dussek em 1986, Aventura, rebobinado na trilha sonora nacional da novela em recente regravação do próprio Dussek. A irregular seleção alinha registros de Alcione (Overjoyed), Dudu Falcão (Crença, em dueto com Lenine), Jussara Silveira (Quizás, Quizás) e Maria Bethânia (O Que Eu Não Conheço), entre outros nomes. Detalhe: a faixa que fecha Ti Ti Ti 2 é o samba de Michael Sullivan e Paulo Massadas A Vida É Dura, ouvido no CD na mesma gravação de 1985 que juntou Benito Di Paula ao grupo paulista Demônios da Garoa e que fez parte da trilha sonora da primeira versão da história de Cassiano Gabus Mendes. No todo, as 29 gravações da trilha sonora nacional de Ti Ti Ti poderiam ter sido peneiradas para caberem num único CD que resultaria mais coeso do que os dois volumes postos à venda pela gravadora Som Livre.

Leci, Rappa e Cazuza fazem o som de '´Tropa 2'

A gravadora EMI Music exibiu esta semana a sombria capa do CD que traz a trilha sonora do filme Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora É Outro. Nas lojas em outubro de 2010, no embalo da estreia do filme do cineasta José Padilha, o disco agrega fonogramas de Cazuza (Brasil), Leci Brandão (Zé do Caroço), Legião Urbana (Que País É Este?) O Rappa (Tribunal de Rua) e Zeca Pagodinho (Quem É Ela?) entre duas gravações inéditas do grupo Tihuana (Comboio do Terror e uma nova versão da música Tropa de Elite).

15 de setembro de 2010

Moraes e Pepeu - velhos e baianos - se entrosam

Resenha de Show
Título: Pepeu Gomes Canta Novos Baianos
Artista: Pepeu Gomes (em fotos de Mauro Ferreira)
Participação especial: Moraes Moreira
Local: Espaço Acústica (RJ)
Data: 14 de setembro de 2010
Cotação: * * *
A despeito de sua original e miscigenada musicalidade, burilada no rastro da explosão tropicalista de 1967, o som dos Novos Baianos seduziu o Brasil nos anos 70 por representar um estado libertário de espírito. Um sopro de vida e juventude em época em que até o ar parecia mais pesado. Por estar associado a uma época e a um contexto sócio-político específico, esse som não se presta a revivals como o que aconteceu no Rio de Janeiro (RJ) na noite de 14 de setembro de 2010. A pretexto de oficializar a abertura de nova casa carioca de shows, o Espaço Acústica, Pepeu requentou mais uma vez em cena um cancioneiro que rendeu clássicos como Preta Pretinha. A novidade residiu na convocação de Moraes Moreira, o companheiro de grupo, com quem Pepeu formou dupla em 1990 para gravar revigorante álbum de inéditas que, vinte anos depois, merece (urgente) reedição em CD pela Warner Music.
Obviamente, o espírito da música dos Novos Baianos não baixou no palco do Espaço Acústica. Nem por isso a apresentação deixou de oferecer alguns bons momentos. Até porque Pepeu continua sendo um genial guitarrista. E o furioso toque hendrixiano de sua guitarra saltou aos ouvidos quando ele citou Fire (Let me Stand Next to your Fire) - tema de Jimi Hendrix (1942 - 1970), lançado pelo trio Jimi Hendrix Experience em 1967 - em roteiro que, em sua parte solo, alinhou sucessos do lendário grupo (Dê um Rolê, Tinindo Trincando) e tributo a Chico Science (1966 - 1997), "fã dos Novos Baianos", como Pepeu ressaltou em cena, orgulhoso, para o público que estava ali para badalar e, de quebra, testemunhar seu reencontro com Moraes. Pepeu reverenciou Science ao cantar A Cidade, número em que o percussionista Repolho evocou a força dos tambores da Nação Zumbi e no qual Pepeu se permitiu até a licença poética de citar a cidade do Rio de Janeiro na letra. Sem o viço e o vigor do colega, Moraes entrou em cena declamando versos que contam a história dos Novos Baianos. Se Acabou Chorare resultou apática, A Menina Dança começou a mostrar o entrosamento de Pepeu (na guitarra) com Moraes (no canto). A pegada roqueira posta pela dupla - e pela afiadíssima banda - no Samba da Minha Terra (Dorival Caymmi) deu peso ao show, que cresceu quando Moraes e Pepeu uniram vozes e guitarras para reviver Swing de Campo Grande. Na sequência, O Mistério do Planeta chegou a ter passagem heavy, mas sem animar o público como o samba Brasil Pandeiro (Assis Valente), destaque de roteiro que ainda teve nova incursão de Moraes após Pepeu abrir espaço para que o filho já ilustre do colega, o guitarrista Davi Moraes, mostrasse sua música. Novos Baianos, afinal, foi grupo-comunidade no qual sempre podia caber mais um filho-agregado.

Sartori põe voz e técnica a serviço de Franciscos

Resenha de CD
Título: Franciscos na Voz
de Mateus Sartori
Artista: Mateus Sartori
Gravadora: Tratore
Cotação: * * * 1/2
Quem ouviu discos como o tributo coletivo Ataulfo Alves - 100 Anos (Lua Music, 2009) sabe que Mateus Sartori é um dos excelentes cantores brasileiros ainda não descobertos pelo dito grande público. Dois anos depois de celebrar a obra de Dorival Caymmi (1914 - 2008) no majestoso álbum Dois de Fevereiro (2008), Sartori volta ao mercado fonográfico com seu terceiro CD, Franciscos na Voz de Mateus Sartori. Sob a produção elegante e leve do pianista Tiago Costa, Sartori põe sua técnica vocal a serviço de músicas de compositores brasileiros batizados com o nome de Francisco. Quando alia essa técnica à alguma emoção, como na doída canção Lembrança Boa (Zezo Ribeiro e Chico César) e na valsa Eu Sonhei que Tu Estavas tão Linda (Lamartine Babo e Francisco Mattoso), o disco resulta mais sedutor. Contudo, certa frieza técnica pauta uma ou outra interpretação - sobretudo a de Pandeiro É meu Nome (Chico da Silva e Venâncio) - e deixa a impressão de que Sartori poderia brilhar mais se pusesse na voz o sentimento que já brotou em discos anteriores. Ainda assim, o álbum é ótimo cartão de visitas para quem quiser descobrir um cantor cheio de suingue para entoar sambas como Cantando no Toró (Chico Buarque) - em arranjo adornado pelo violão magistral de Chico Pinheiro - e Doce Sereia (João Bosco e Francisco Bosco). Doce Sereia, sobretudo, emerge na voz de Sartori como um grande samba de Bosco que merece ser mais ouvido. Entre cantos que evocam o espírito do Rio de Janeiro (Morro Dois Irmãos, Chico Buarque) e de Minas Gerais (Casa Aberta, Flávio Henrique e Chico Amaral - outro bom momento do álbum), o paulista Sartori recebe Chico César em Nicanor Belas Artes - parceria bissexta de João Nogueira (1941 - 2000) com Chico Anysio - para dueto que não explora toda a espirituosidade do tema. Mas Chico César está presente na ficha técnica da faixa que é um dos destaques de Franciscos na Voz de Mateus Sartori: Dúvida Cruel, frenética parceria de César com Itamar Assumpção (1949 - 2003), pouco conhecida, mas entre as melhores produções de ambos. Enfim, os Franciscos da música brasileira são bem tratados pela voz de Sartori, ainda que permaneça a sensação de que Sartori poderia brilhar (ainda) mais.

Canto engajado de Makeba é revivido em DVD

Voz bissexta em registros audiovisuais, Miriam Makeba (1932 - 2008) tem seu canto engajado revivido em DVD ora lançado no Brasil pela gravadora Coqueiro Verde. Lugano Festival Jazz 1985 rebobina com áudio 2.0 a apresentação da cantora no festival suíço que dá nome ao DVD. Em curto roteiro de seis números, Makeba canta músicas como Malaika, Soweto Blues, Hapo Zamani, Meet me at the River e, obviamente, Pata Pata - tema que lhe projeção mundial em 1967.

Brown promove 'Tantinho', inédita de seu disco

Tantinho é uma das músicas do álbum de inéditas que Carlinhos Brown vai lançar entre outubro e novembro de 2010. O cantor e compositor baiano - visto no post em foto de João Meirelles - já vem promovendo o tema em shows e na internet (clique aqui para conferir no YouTube o vídeo do ensaio da gravação da música, captada no estúdio Ilha dos Sapos, em Salvador - BA). Patrocinado pelo projeto Natura Musical, o disco de inéditas do tribalista conta com a participação especial do trio carioca Paralamas do Sucesso em duas faixas, Verdade e Yarahá.

14 de setembro de 2010

Arcade Fire radiografa desilusão dos subúrbios

Resenha de CD
Título: The Suburbs
Artista: Arcade Fire
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * * * 1/2

Há insatisfação e melancolia por trás da vida aparentemente feliz dos subúrbios. Em seu terceiro álbum, The Suburbs, o grupo canadense Arcade Fire arranca essa máscara de felicidade para dissertar em grande estilo sobre a juventude desperdiçada nos arredores das metrópoles. The Suburbs eleva o status de uma banda que ganhou prestígio e projeção em 2004 ao lançar seu belo primeiro álbum, Funeral, um tratado épico sobre perdas e morte. Na sequência, o septeto criou densa atmosfera emocional em Neon Bible (2007) para questionar dogmas sociais impostos em nome de Deus sem abrir mão do forte aparato orquestral que envolve o som do Arcade - violinos, pianos, órgãos, coros - e lhe dá grandiosidade instrumental. Em The Suburbs, contudo, o som é mais enxuto. Tal aparato orquestral ainda se revela perceptível em uma ou outra faixa - caso de Rococo. No todo, o grupo optou por som mais enxuto, pop, quase convencional. Tudo em favor de letras primorosas que radiografam o estado de espírito da juventude suburbana. "Nós já estamos entediados", sentencia verso da faixa-título, The Suburbs. A opção se revela acertada porque a força do álbum reside nos versos de músicas como Ready to Start, City with no Children e We Used to Wait. Versos construídos em tom permanente de desilusão, fruto da pressão interna resultante de cobranças externas para se ter sucesso, fama, dinheiro, modernidade. "Como um disco que está pulando, eu sou um homem moderno. E o relógio continua marcando - Eu sou um homem moderno", canta Win Butler em Modern Man. Com justa aura de clássico imediato, The Suburbs é grandioso álbum conceitual que tira o Arcade Fire da trilha indie e prova que o grupo já está pronto para ingressar no mainstream.

Caixa de 5 CDs repisa andanças iniciais de Beth

Em 1965, Beth Carvalho fez sua tímida estreia no mercado fonográfico com a gravação de compacto simples que trazia a música Por Quem Morreu de Amor (Roberto Menescal & Ronaldo Bôscoli). Essa música é uma das raridades reunidas por Marcelo Fróes na caixa de cinco CDs Beth Carvalho - Primeiras Andanças - Os 10 Primeiros Anos, nas lojas nos próximos dias pelo selo de Fróes, Discobertas. A caixa embala 71 gravações feitas por Beth entre 1965 e 1975. O CD 1 reproduz, na ordem, as 13 faixas do álbum Canto por um Novo Dia (1973), o segundo de Beth e o primeiro dedicado ao samba. O CD 2 é dedicado ao álbum Pra seu Governo (1974) enquanto o CD 3 agrupa os 14 fonogramas de Pandeiro e Viola (1975), o último dos três álbuns gravados pela cantora na extinta gravadora carioca Tapecar. Já os CDs 4 e 5 reapresentam fonogramas avulsos da discografia de Beth - casos das três músicas (Berenice, Meu Tamborim e Guerra de um Poeta) que completaram o compacto duplo promovido por Andança e editado em 1969. A seleção inclui fonogramas realmente raros - até então nunca editados em CD - como Namorinho e A Velha Porta. Outros - casos de Geração 70, Só Quero Ver e Domingo Antigo - figuraram apenas em coletâneas já fora de catálogo, como a dedicada a Beth na série Meus Momentos. Por fim, há várias gravações - como Minie e Sem Rumo e sem Destino - que tinham sido disponibilizadas em CD apenas como faixas-bônus da edição japonesa do primeiro álbum de Beth, Andança (1969). A caixa fecha com Foi um Rio que Passou em Minha Vida, em registro curioso pelo fato de o samba composto por Paulinho da Viola em tributo à Portela ser ouvido na voz de uma famosa mangueirense.

Todos os Olhos, de Tom Zé, é reeditado em vinil

Dono de uma das capas mais controvertidas da discografia brasileira, o quarto álbum de Tom Zé, Todos os Olhos (1973), ganha reedição no formato original de vinil. Nas lojas entre fim de setembro e início de outubro, o LP volta ao catálogo dentro da série Clássicos em Vinil, da Polysom, a (reativada) fábrica de vinil da Baixada Fluminense (RJ). Dirigida por João Augusto, da Deckdisc, a PolySom produziu o vinil de Todos os Olhos sob licença da Warner Music, herdeira do acervo da Continental, a gravadora que editou originalmente o excelente álbum de Tom Zé.

Blunt revela terceiro álbum com 'Stay the Night'

Ainda associado ao hit You're Beautiful, de seu álbum Back to Bedlam (2005), James Blunt está lançando neste mês de setembro de 2010 o single que dá a partida na promoção de seu terceiro álbum, Some Kind of Trouble, agendado para chegar às lojas em 8 de novembro. Já em rotação na página do cantor e compositor britânico no portal MySpace, Stay the Night é o animado single que anuncia o sucessor de All the Lost Souls (2007). O single vai ser editado em formato físico em 25 de outubro. Gravado em Los Angeles (EUA), Some Kind of Trouble reúne dez faixas co-produzidas por Linda Perry, do grupo 4 Non Blondes. A conferir...

Trilha de 'Glee' vai de Beatles a Gaga no disco 3

Bem-sucedida série da atual TV norte-americana, cujo êxito já vem sendo bem explorado pela indústria da música, Glee gera sucessivos CDs somente em sua primeira temporada. O último a ser arremessado no mercado brasileiro pela Sony Music é o CD The Music Volume 3 - Showstoppers, editado numa Deluxe Edition com 20 faixas e na Standard Edition, que totaliza somente 14 fonogramas. Em ambas, a seleção do repertório vai de Bonnie Tyler (Total Eclipse of the Heart) a Lady Gaga (Bad Romance), passando por Lionel Richie (Hello) e Beatles (Hello, Goodbye), entre outros sucessos.

13 de setembro de 2010

Sonho pop adolescente de Perry resulta artificial

Resenha de CD
Título: Teenage Dream
Artista: Katy Perry
Gravadora: Capitol / EMI Music
Cotação: * * 1/2
A pose de pin-up da capa do segundo álbum de estúdio de Katy Perry - ou o terceiro se levado em conta o CD de gospel de 2001, assinado pela cantora norte-americana com o nome artístico de Katy Hudson - dá a pista certeira sobre o tom bem artificial de Teenage Dream. Com medo de arriscar o sucesso conquistado com One of the Boys, o fraco álbum de 2008 que lhe rendeu o megahit I Kissed a Girl (And I Liked It), Katy Perry fez um disco descaradamente pop - como já sinalizara o primeiro arrassador single, California Gurls, gravado com adesão do rapper Snoop Dogg. Músicas como Teenage Dream e a festiva Last Friday Night (T.G.I.F.) - a mais saborosa da safra de 12 inéditas - são a trilha das baladas contemporâneas movidas a álcool e sexo fugaz. Teenage Dream, o álbum, soa tão artificial quanto superficial. Daí, talvez, o barulho que já vem fazendo na indústria da música. Na segunda parte do disco, mais baladeira, Perry até tenta esboçar alguma densidade em Who I Am Living for? antes de encerrar Teenage Dream no clima açucarado de Not Like the Movies. Antes, ela apela para a vulgaridade quase pornográfica em Peacock, faixa dançante de alto teor eletrônico, provável futuro single de disco quase banal, moldado para realizar sonhos adolescentes com seu combustível pop capaz de durar um ou - no máximo - dois verões.

Vitoriosa, Gaga revela nome de álbum no VMA

Born This Way é o nome do terceiro álbum de Lady Gaga. O título foi revelado pela própria artista durante a edição de 2010 do Video Music Awards. Gaga - vista no post em foto extraída do site oficial da MTV norte-americana - foi a grande vencedora da premiação, levando oito dos 13 troféus a que concorria. Inclusive o mais cobiçado deles, o de Vídeo do Ano, por conta do clipe de Bad Romance. Este clipe rendeu sete troféus a Lady Gaga.

Entrevista de Chico em 1973 é editada em DVD

Em 1973, quando deu entrevista ao programa MPB Especial, Chico Buarque era o alvo preferencial da censura insana do Governo militar comandado em linha duríssima pelo presidente Emílio Garrastazu Médici (1905 - 1985). Dizendo e cantando o que podia, Chico expôs a Fernando Faro - diretor do programa exibido pela TV Cultura - parte do processo de criação dessa obra que desafiava a autoridade arbitrária do regime político da época. De caráter histórico, tal depoimento - costurado com 17 números musicais, incluindo citações de temas como Amanhã Ninguém Sabe, Ilmo Sr. Cyro Monteiro e Meu Refrão - está sendo editado em DVD pela gravadora Biscoito Fino (em nova parceria com a TV Cultura) na primeira quinzena deste mês de setembro de 2010. Na entrevista, Chico mostrou músicas como Tatuagem, então recém-composta para a trilha sonora do musical Calabar, cuja montagem viria a ser proibida pela censura ainda naquele duro ano de 1973. Eis os 17 números musicais do DVD Chico Buarque - MPB Especial:
1. Tatuagem
2. Meu Refrão (citação)
3. Amanhã Ninguém Sabe (citação)
4. Deus lhe Pague
5. Desalento
6. Ela Desatinou / Construção (citação)
7. Samba de Orly
8. Ilmo Sr. Cyro Monteiro (citação)
9. Hino Do Polytheama
10. Cuidado com a Outra
11. Bom Conselho
12. Cotidiano
13. Caçada
14. Soneto (citação)
15. Olê, Olá
16. Boi Voador Não Pode (citação)
17. Flor Da Idade

Gil grava DVD 'Fé na Festa' no Rio em outubro

Embora ainda permaneça em turnê com o show BandaDois, Gilberto Gil - visto no post em foto de Beti Niemeyer - vai armar um arraial no Horto, no Rio de Janeiro (RJ), para gravar o DVD do show Fé na Festa. O registro ao vivo foi agendado para 2 de outubro de 2010. Sob a direção de Andrucha Waddington, Gil vai gravar em vídeo o repertório junino e autoral do revigorante álbum que lançou no início de junho em parceria de seu selo, Geléia Geral, com a gravadora Universal Music, que vai distribuir o DVD.

12 de setembro de 2010

Ana carrega nas tintas do bom 'Ensaio de Cores'

Resenha de Show
Título: Ensaio de Cores
Artista: Ana Carolina (em fotos de Rodrigo Amaral)
Local: Vivo Rio (RJ)
Data: 11 de setembro de 2010
Cotação: * * * 1/2
Em cartaz até 12 de setembro de 2010 no Vivo Rio (RJ)
Ana Carolina faz o show Ensaio de Cores em tons oscilantes. A suposição de um som mais camerístico - gerada pela presença em cena de enxuto trio de piano (Délia Fischer), violoncelo (Gretel Paganini) e percussão (LanLan) - é de cara descontruída pelo peso instrumental que molda o registro desbotado de Rai das Cores (Caetano Veloso), primeiro número de roteiro que alinha inéditas da lavra de Ana, releituras de músicas até então nunca cantadas pela artista e vários sucessos colhidos em seus oito álbuns. Musa inspiradora desse show que passa longe da calmaria de um recital, a paixão de Ana pela pintura - exercitada desde 2002 - é o mote de As Telas e as Elas, inédito samba lento (não muito distante dos tons pastéis da Bossa Nova) em que a compositora relaciona com elegância o tema das artes plásticas com o universo das paixões que moldam seu repertório autoral. A despeito de a interpretação intensa de Força Estranha (Caetano Veloso) ser seu grandioso e maior momento, Ensaio de Cores cresce quando ganha tons suaves. Como no número em que o trio rodeia Ana na beira do palco e forma breve quarteto de cordas enquanto a cantora desfia em clima quase seresteiro a gênese do Violão (Sueli Costa e Paulo César Pinheiro). Contudo, Ana Carolina nunca foi cantora de tons pastéis. Fiel ao seu padrão passional, a cantora exacerba ao listar as mulheres de Todas Elas Juntas num Só Ser (Lenine e Carlos Rennó), ao sublinhar o tom folhetinesco de algumas passagens de Alguém me Disse (Jair Amorim e Evaldo Gouveia) - bonito bolero imortalizado em 1960 na voz kitsch de Anísio Silva (1920 - 1989) e introduzido no Ensaio pelo violoncelo virtuoso de Paganini - e ao reviver outros sucessos de seu repertório ao longo do roteiro que contabiliza 19 números em cerca de 1h20m de show. E o fato é que o público da artista, igualmente passional, reage calorosamente quando a cantora carrega nas tintas de temas como Heroína e Vilã (Ana Carolina e Antonio Villeroy) e Garganta (Antonio Villeroy). Garganta, aliás, fecha o show com o mesmo peso instrumental da abertura. Entre um número e outro, Ana desafia a percussionista LanLan num dueto de pandeiro, dá outra chance a duas canções menos inspiradas de seu repertório autoral (Claridade e Só Fala em mim), imprime outra tonalidade a Azul (Djavan) - tingida com divisão inusitada no único momento em que a artista fica sozinha em cena com seu baixo elétrico - e apresenta um inédito samba sincopado composto com Edu Krieger, Pra Tomar Três, unido em apropriado link temático com outro samba de universo boêmio, Cabide (Ana Carolina). Na sequência, Força Estranha (Caetano Veloso) mostra que a voz tamanha de Ana se agiganta quando encara música de seu tamanho, Quem de Nós Nós Dois (hit de Gianluca Grignani vertido por Ana e Dudu Falcão) descamba em forte coro popular e Eu Comi a Madona (Ana, Villeroy, Alvin L. e Mano Melo) reitera que a (grande) cantora se apequena quando apela para o erotismo mais vulgar. Interessante em sua essência, Ensaio de Cores não precisa de tintas fortes para entrar no tom.

'Ensaio' de Ana tem cores de Caetano e Djavan

Bela música de Djavan, lançada por Gal Costa em 1982 no álbum Minha Voz, Azul ganha tons inusitados na voz de Ana Carolina. Em registro elétrico de voz e baixo, Azul é um dos números do roteiro de Ensaio de Cores, show inspirado nas telas da artista (pintora nas horas vagas). Estreado em São Paulo (SP) em 30 de julho de 2010, o show chegou ao Rio de Janeiro (RJ) em 11 de setembro, na casa Vivo Rio (RJ), onde continua em cartaz até este domingo, 12 de setembro. Além de Azul, o repertório de Ensaio de Cores inclui músicas até então inéditas na voz de Ana - casos de Rai das Cores (Caetano Veloso), de Todas Elas Juntas num Só Ser (Lenine e Carlos Rennó) e de Violão (Sueli Costa e Paulo César Pinheiro). Eis o roteiro seguido por Ana Carolina - vista no post em fotos de Rodrigo Amaral - na estreia carioca do novo show:
1. Rai das Cores (Caetano Veloso)
2. As Telas e Elas (Ana Carolina)
3. Alguém me Disse (Jair Amorim e Evaldo Gouveia)
4. Carvão (Ana Carolina)
5. Todas Elas Juntas num Só Ser (Lenine e Carlos Rennó)
6. Azul (Djavan)
7. Violão (Sueli Costa e Paulo César Pinheiro)
8. Feriado (Chico César)
/ O Amor É Rock (Tom Zé)
/ Entre Tapas e Beijos (Nilton Lamas e Antônio Bueno)
9. Duo de pandeiro - com LanLan
10. Pra Tomar Três (Ana Carolina e Edu Krieger)
11. Cabide (Ana Carolina)
12. Heroína e Vilã (Ana Carolina e Totonho Villeroy)
13. 10 Minutos (Ana Carolina e Chiara Civello)
14. Claridade (Ana Carolina e Aleh)
/ Só Fala em mim (Ana Carolina e Totonho Villeroy)
/ Pra Rua me Levar (Ana Carolina e Totonho Villeroy)
15. Força Estranha (Caetano Veloso)
16. Quem de Nós Dois (La Mia Storia Tra le Dita)
(Gianluca Grignani e Massimo Luca em versão de Ana Carolina e Dudu Falcão)
17. Eu Comi a Madona (Ana Carolina, Totonho Villeroy, Alvin L. e Mano Melo)
18. Garganta (Totonho Villeroy)
Bis:
19. É Isso Aí (The Blower's Daughter)
(Damien Rice em versão de Ana Carolina e Seu Jorge)

'Festa' de Bethânia em registro de alta definição

A gravadora Biscoito Fino debuta no ascendente mercado de blu-ray com o registro ao vivo do show Amor, Festa, Devoção - captado em março de 2010 em duas apresentações na casa Vivo Rio (RJ). A gravação vai ser editada em outubro nos formatos de CD duplo e DVD. Na sequência, a Biscoito Fino lança o blu-ray, o primeiro de Bethânia (vista no show em foto de Mauro Ferreira).

'Simonal Sempre' revive os sucessos de sempre

Tema de Geraldo Vandré, Fica Mal com Deus é uma das poucas surpresas do (já bem batido) repertório selecionado pela gravadora Som Livre para coletânea dedicada a Wilson Simonal (1938 - 2000) na série Sempre. Ao longo de 16 faixas, o CD rebobina sucessos há tempos recorrentes em outras compilações do cantor. É indicado somente para quem (ainda) não conhece as impagáveis interpretações de Vesti Azul (Nonato Buzar), Carango (Carlos Imperial e Nonato Buzar), Balanço Zona Sul (Tito Madi), Sá Marina (Antônio Adolfo e Tibério Gaspar), Tributo a Martin Luther King (Wilson Simonal e Ronaldo Bôscoli) e Mamãe Passou Açúcar em mim (Carlos Imperial), entre outros clássicos do cancioneiro do artista. Entre as poucas faixas que fogem da obviedade, há Na Galha do Cajueiro, tema de Tião Motorista revivido por Luciana Mello em 2007 no (bom) álbum Nêga - coincidentemente ora reeditado pela mesma gravadora Som Livre que põe nas lojas a nova coletânea do reabilitado Wilson Simonal.