1 de novembro de 2008

As vozes cariocas do BeBossa chegam ao disco

Grupo vocal formado no Rio de Janeiro (RJ) em 2000, BeBossa chega ao CD, lançado pela gravadora carioca Sala de Som. Com capa que remete à estética elegante implantada pelo artista gráfico César Villela nos LPs da gravadora Elenco, na década de 60, o primeiro álbum do sexteto - formado por Cauê Nardi, Carol Assad, Cissa de Luna, Marcela Velon, Matias Corrêa e Zeca Rodrigues - reúne no repertório músicas como Capim (Djavan), Folhetim (Chico Buarque), Luíza (Tom Jobim), Samba de Verão (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle) e Pra que Discutir com Madame? (Haroldo Barbosa e Janet de Almeida). Com direção musical e arranjos de Zeca Rodrigues, o BeBossa canta a capella e simula com vozes os sons de instrumentos como baixo e guitarra.

Bio lembra que Graham ganhou (a) vida no rock

Resenha de Livro
Título: Bill Graham
Apresenta: Minha
Vida Dentro e
Fora do Rock
Autor: Bill Graham e
Robert Greenfield
Editora: Barracuda
Cotação: * * * *

Em 25 de outubro de 1991, um trágico acidente de helicóptero tirou a vida de Bill Graham, aos 60 anos. Lançada em 2004 nos Estados Unidos, a biografia deste lendário empresário do rock chega quatro anos depois ao Brasil para lembrar que este judeu de origem russa, nascido na Alemanha em 1931, ganhou (a) vida no mundo do rock. Não foi por acaso que, em seu enterro, Joan Baez cantou Amazing Grace, encerrando comovida série de homenagens musicais feitas no funeral por nomes como The Grateful Dead e Crosby, Stills, Nash & Young. Não é por acaso também que o prefácio desta biografia - iniciada por Graham e finalizada por Robert Greenfield, ex-editor da revista Rolling Stone - é assinado por ninguém menos do que Pete Townshend, ícone da banda The Who. Graham nunca foi um nome conhecido do tal grande público, mas foi figura de atuação decisiva nos bastidores do rock, sobretudo nos anos 60, década em que criou eventos, como o Fillmore East, que projetaram nomes como Otis Redding (1941 - 1967) e Janis Joplin (1943 - 1970). Escreve Pete Townshend em seu prefácio, com razão, que a biografia de Graham ajuda a definir o que é rock. Pelo maior ou menor envolvimento do empresário em eventos do porte do festival de Woodstock e do concerto Live Aid, o livro descortina os bastidores do rock em narrativa coesa, objetiva e envolvente. Sem nunca ser acadêmica ou patinar em linguagem empresarial, a biografia de Graham expõe a logística às vezes atribuladas das grandes turnês da mesma forma que expõe angústias existenciais de estrelas como Joplin. É, enfim, um relato interessante para todos os que querem entender como funciona, na real, o negócio desse tal de rock'n'roll.

Bloc Party segue rota estranha no CD 'Intimacy'

Resenha de CD
Título: Intimacy
Artista: Bloc Party
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * *

Lançado em formato digital em 21 de agosto de 2008, o terceiro álbum do Bloc Party, Intimacy, chega ao formato de CD com três faixas a mais (uma delas é Flux, tema dance já lançado em single) no repertório. O disco é diferente do anterior A Weekend in the City (2007), um trabalho mais politizado e introspectivo que, por sua vez, já divergia do primeiro grande álbum do quarteto britânico, Silent Alarm (2005), cuja atmosfera roqueira e dançante é evocada somente em uma ou outra faixa de Intimacy. Em especial, em Halo. Repleto de referências a divindades já nos títulos de alguns temas, Intimacy é trabalho pautado por efeitos eletrônicos que dão ao álbum uma carga de estranheza. Baladas como Biko e a delicada Signs expõem a força do canto do vocalista Kele Okereke, que saiu do armário no disco anterior do grupo. Contudo, um punhado de boas músicas, como Mercury, não é suficiente para tirar a impressão de que essa nova mudança de rota levou o Bloc Party para caminhos mais marginais. Intimacy é bem esquisito.

Verdadeiro, Morrison soa pop no segundo disco

Resenha de CD
Título: Songs for You,
Truths for me
Artista: James Morrison
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * * *

No primeiro inebriante CD do compositor James Morrison, Undiscovered (2006), havia faixas que pareciam da lavra de Stevie Wonder. Neste segundo disco, também arrasador, o cantor britânico soa mais pop, mas igualmente verdadeiro na forma de fazer música. Entre dueto com Nelly Furtado (em Broken Strings) e baladas poderosas como Once When I Was Little e You Make It Real, o inspiradíssimo compositor apresenta temas cuja pulsação evoca o soul sem deixar de seguir a cartilha do pop. Nesta linha, vale destacar Nothing Ever Hurt Like You (aliás, um exemplo perfeito das letras geralmente melancólicas em que Morrison expia suas dores de amores), Precious Love, The Only Night e Save Yourself. Rótulos à parte, temas cheios de energia como Please Don't Stop the Rain fazem de Songs for You, Truths for me um grande segundo disco que sinaliza vida longa para James Morrison. O rapaz passa verdade - artigo bem raro na volátil cena pop... - em suas canções.

Notas Musicais festeja seu segundo aniversário

Com este post, o de número 3.011, Notas Musicais comemora seu segundo aniversário e ingressa a partir deste sábado, 1º de novembro de 2008, em seu terceiro ano de vida. No ar desde 1º de novembro de 2006, o blog está cada vez mais cheio de...vida. A cada dia, são milhares de acessos e algumas boas dezenas de comentários que, antes da aprovação e conseqüente publicação, passam por um filtro que vai ficar cada vez mais rigoroso para que a qualidade das discussões e das idéias seja tão alta quanto a rotatividade de leitores, oriundos de toda parte do Brasil e de Portugal. E é justamente por conta dessa grande quantidade de leitores que o blogueiro vai manter a decisão - tomada já há algum tempo - de não responder perguntas de forma individual. Para que ninguém seja preterido em favor de outrem. Contudo, todas as idéias e opiniões sempre serão muito bem-vindas. Sobretudo as discordantes. Desde que expostos sem qualquer traço ou ranço de agressividade ou de negatividade gratuita, tais pontos de vista divergentes somente ampliam a percepção coletiva da questão enfocada. Mesmo porque o assunto do blog é música, a mais emocional das formas de Arte. Além do toque aos comentaristas, a função primordial deste post é expressar a gratidão do blogueiro aos leitores - em especial, aos que apontam erros de informação e/ou digitação - e a todos os profissionais que mantém vivo o mundo do disco e dos shows. Todos - consumidores de CDs/DVDs, freqüentadores de shows, artistas, empresários, assessores de imprensa, funcionários de gravadoras - estão fazendo valer a pena o esforço de manter atualizado este espaço virtual de domingo a domingo. Obrigado a todos pela leitura fiel!! E que venha o ano 3!!!

31 de outubro de 2008

Krall celebra Jobim com bossa em show no Rio

Resenha de Show
Título: Live in Rio
Artista: Diana Krall
Local: Vivo Rio (RJ)
Data: 30 de outubro de 2008
Cotação: * * * * 1/2
Foto: Rodrigo Amaral

"Obrigado, Rio", agradeceu Diana Krall, comovida, ao público que cantava em português os versos de Corcovado nas passagens instrumentais da música de Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994), apresentada pela cantora canadense na célebre versão em inglês, Quiet Nights of Quiet Stars, na primeira das três apresentações agendadas por Krall na casa Vivo Rio (RJ) para possibilitar a gravação do DVD Live in Rio no berço carioca da bossa hoje cinqüentenária. A gravação propriamente dita vai ser feita na apresentação de sábado, 1º de novembro de 2008, com a adição de uma orquestra, mas a equipe de produção colheu imagens da estréia do refinado recital - cujo roteiro incluiu The Look of Love - somente para convidados, na noite de quinta-feira, 30 de outubro.
Na primeira parte do show, Krall se revelou uma cantora apta a conquistar os fãs de jazz mais ortodoxos, entoando ao seu piano temas com apurado senso rítmico e com muito espaço para as improvisações do irretocável trio que a acompanha em cena e que inclui o violonista Anthony Wilson e o baterista Jeff Hamilton. Na segunda parte, com menor dose de improvisos, o trio fez a a cama perfeita para que Diana cantasse Quiet Nights of Quiet Stars em suave tom aveludado, para que sustentasse toda a leveza do Samba de Verão (sucesso de Marcos Valle, um dos marcos da explosão mundial da então nova bossa nos anos 60) e para que arriscasse entoar num português de sotaque carregadíssimo Este seu Olhar, outro tema de Jobim, saudado em cena por Diana Krall.
Entre referências a clássicos como Insensatez, citado na bonita abordagem bossa-novista de Let's Face the Music and Dance (Irving Berlim, 1936), Krall reviveu temas do repertório de Nat King Cole (1919 - 1965) e teceu loas a João Gilberto ("Ele é muito amável") e ao Rio de Janeiro, a cidade naturalmente escolhida para a gravação de seu tributo aos 50 anos da Bossa Nova (o DVD Live in Rio vai incorporar também takes de um show privado feito por Krall no Hotel Fasano, em Ipanema, com direito a dueto com Carlos Lyra em Cheek to Cheek). No bis, antes de cantar 'S Wonderful, a cantora ainda inverteu em inglês o gênero da célebre Garota de Ipanema, que, na sua voz afinada, virou The Boy from Ipanema, sinalizando que Diana Krall também tem (muita) bossa.

Machete se equilibra no trapézio do ecletismo

Resenha de Show
Título: Bomb of Love
- Música Safada para Corações Românticos
Artista: Silvia Machete
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 30 de outubro de 2008
Cotação: * * * 1/2
Foto: Mauro Ferreira

Prestes a lançar o CD e DVD Eu Não Sou Nenhuma Santa pela gravadora EMI Music, Silvia Machete está encerrando a série de shows calcados em seu primeiro independente disco, Bomb of Love - Música Safada para Corações Românticos, editado em 2006. Cultuada na cena indie carioca por conta do caráter performático de suas interpretações, Machete sobe literalmente no trapézio e consegue se equilibrar no ecletismo de um roteiro que vai de Roberto e Erasmo Carlos (Gente Aberta, bem-sacado lado B) a Sérgio Sampaio (Foi Ela), passando por Guns N' Roses (Sweet Child of Mine). A propósito, o tema de Axl Rose e Slash foi rebobinado em dueto com o talentoso Momo na apresentação única agendada pela cantora no Teatro Rival e feita na noite de quinta-feira, 30 de outubro - com direito a uma peruca azul posta na cabeça de Momo e a um ventilador manuseado pela intérprete.

É sintomático, aliás, que o roteiro inclua Girls Just Want to Have Fun, o sucesso de Cyndi Lauper. No palco, Machete é uma cantora que parece querer somente diversão. E, sim, ela diverte com seus bambolês e com as performances acrobáticas. Contudo, Machete consegue entreter sua platéia não somente pelo fato de lançar mão de truques circenses, mas por se mostrar uma cantora afinada e de universo bem original. Ao subir no trapézio, a propósito, a cantora entoa lá do alto 2 Hot 2 Be Romantic, parceria sua com Nick Jones que soa como um clássico da canção americana da primeira metade do século 20. Quando canta Curare (Bororó) cheia de dengo, bem acompanhada pelo violão de Edu Krieger, Machete se mostra apta a vôos musicais mais altos - ainda que ela soe especialmente talhada para um repertório que se preste mais a um tom jocoso e sensual. Nessa linha, Eu Não Tenho Namorado - pérola juvenil do repertório de Celly Campello (1942 - 2003) - é um achado e ganha registro gracioso da artista. Comunicativa, Silvia Machete tem sobrenome que rima com chacrete - como a própria, perspicaz, ressalta em cena - e mostra que sabe comandar o seu auditório ao vivo e em cores quentes e sensuais como o vermelho que adorna o cenário kitsch. Nem era preciso recorrer a tantos convidados. Machete, por si, garante a atenção do público.

Vercillo recebe Moah ao gravar o terceiro DVD

Seis meses depois de estrear a turnê nacional do show Todos Nós Somos Um no Canecão, em duas apresentações lotadas feitas no fim de abril, Jorge Vercillo volta nesta sexta-feira, 31 de outubro de 2008, ao palco da mais tradicional casa de shows do Rio de Janeiro (RJ) para mais duas apresentações. O objetivo é registrar o espetáculo em DVD, o terceiro da videografia do artista. Vercillo (em foto de Washington Possato) inseriu no roteiro inédito reggae de sua autoria, Trem da Minha Vida. Outra novidade é Filosofia de Amor, samba de Jota Maranhão, Deusdedith Maranhão e Paulo César Pinheiro, gravado por Vercillo em participação no terceiro e inédito CD de Jota Maranhão, que, aliás, vai subir ao palco nas duas apresentações. Já o outro convidado especial da gravação, Serginho Moah, vocalista do grupo gaúcho Papas da Língua, entra em cena somente no show desta sexta-feira. O DVD sairá em 2009.

Duas inéditas de Martinho no DVD do Arranco

Dez anos depois de dedicar seu segundo álbum ao cancioneiro de Cartola (1908 - 1980), o grupo carioca Arranco de Varsóvia se volta para a obra de outro bamba nacional. O quinteto aproveita a temporada que faz no Teatro Fecap em São Paulo (SP) - de 30 de outubro a 2 de novembro de 2008 - para gravar ao vivo CD e DVD centrados na obra de Martinho da Vila. Generoso, o compositor homenageado turbinou o roteiro do show com os inéditos sambas Disritmou (parceria bissexta com Carlinhos Vergueiro) e Nossos Contrastes, criado com Nelson Sargento, convidado especial da gravação. Um tributo dos portelenses Monarco e Ratinho ao ícone da escola Unidos de Vila Isabel, Amigo Martinho, também integra o repertório ao lado de sucessos como Casa de Bamba, Ex-Amor, Segure Tudo, Sonho de um Sonho e Devagar, Devagarinho. Luxo!

30 de outubro de 2008

Caixa 'Camaleão' joga nas lojas 17 CDs de Ney

A partir de 25 de novembro de 2008, a gravadora Universal Music manda para as lojas, enfim, a caixa Camaleão, que embala 17 discos de Ney Matogrosso - títulos já bem raros no mercado. Organizada pelo pesquisador Rodrigo Faour, a coleção repõe em catálogo 16 álbuns originais da obra fonográfica do cantor e compila gravações obscuras de sua discografia na coletânea Pérolas Raras. Eis os títulos da caixa, que celebra os 35 anos de carreira do camaleônico intérprete, projetado no Brasil em 1973:

* Água do Céu-Pássaro - 1975
* Bandido - 1976
* Pecado - 1977
* Feitiço - 1978
* Seu Tipo - 1979
* Sujeito Estranho - 1980
* Ney Matogrosso - 1981
* Matogrosso - 1982
* Brazil Night Montreux 83 - 1983
(com Caetano Veloso e João Bosco)
* ...Pois É - 1983
* Destino de Aventureiro - 1984
* Bugre - 1985
* Pescador de Pérolas - 1987
* Quem Não Vive Tem Medo da Morte - 1988
* Ney ao Vivo - 1989
* À Flor da Pele - 1991 (com Raphael Rabello)
* Pérolas Raras (coletânea, 2008)

Vanguart ingressa na Universal e grava ao vivo

Um dos grupos mais incensados da cena pop brasileira, o Vanguart - oriundo de Cuiabá (MT) - é o mais novo nome do elenco da gravadora Universal Music. Projetado na cena indie quando seu primeiro CD, Vanguart (2007), foi encartado na revista Outra Coisa, o quinteto se prepara para gravar ao vivo, em dezembro de 2008, DVD e CD produzidos pela Universal em parceria com o canal de TV Multishow. A idéia é misturar músicas inéditas com sucessos como Semáforo e Cachaça, já disseminados na internet. Fã declarada do mix de rock, folk e blues feito pelo Vanguart, a cantora e compositora Mallu Magalhães tem presença confirmada entre os convidados do registro ao vivo da boa banda.

Terceiro álbum do Kaiser Chiefs traz Lily Allen

Lançado esta semana no exterior, o terceiro álbum do Kaiser Chiefs, Off with their Heads, vai chegar às lojas do Brasil nos próximos dias, via Universal Music, no embalo da vinda do grupo britânico ao país para show no festival Planeta Terra - agendado para 8 de novembro de 2008, em São Paulo (SP). Produzido por Mark Ronson e Eliot James nos estúdios RAK e Eastcote, em Londres, o CD apresenta inéditas como Spanish Metal e Tomato in the Rain. De quebra, traz a participação de Lily Allen nos backing-vocals da faixa Always Happens Like That enquanto na canção Remember You're A Girl, que encerra o disco, quem assume os vocais é o baterista Nick Hodgson. Já Like It Too Much ostenta arranjos orquestrais criador por David Arnold, maestro que tem no currículo trabalhos com nomes como Björk. Contudo, o primeiro single do sucessor do bom Yours Truly, Angry Mob (2007) é Never Miss a Beat, cujo clipe pode ser visto no YouTube.

Encontro de Bethânia com Omara cresce ao vivo

Resenha de DVD
Título: Ao Vivo
Artista: Maria
Bethânia e Omara
Portuondo
Gravadora: Biscoito
Fino
Cotação: * * * *

No palco, o encontro da Bahia de Maria Bethânia com a antiga cuba de Omara Portuondo - que havia resultado íntimo no CD de estúdio lançado em fevereiro pela gravadora Biscoito Fino - ganhou tons mais calientes. E não somente por conta das cores berrantes do cenário tropical de Gringo Gardia que emoldurou as cantoras no show ora editado em DVD pela mesma Biscoito Fino. Do ponto de vista técnico, apesar do excesso de imagens captadas de baixo para cima, trata-se de um vídeo bem superior a Maricotinha e a Brasileirinho, ambos filmados sem o apuro a que os respectivos espetáculos faziam jus. O cuidado com a filmagem deste Omara Portuondo e Maria Bethânia Ao Vivo - feita em 3 e 4 de abril nas apresentações da turnê no Palácio das Artes, em Belo Horizonte (MG) - se revela já na primeira parte do show. Imagens sóbrias, de tons azulados, valorizam os duetos das cantoras em temas como Cio da Terra e Cálix Bento. E, a julgar pela titubeada de Omara no começo de Gente Humilde, parece não ter havido a intenção de maquiar o espetáculo perpetuado em DVD. A partir do bloco solo de Bethânia, quando aparecem números com mais vivacidade rítmica, como a rumba Escandalosa, sucesso de Emilinha Borba (1923 - 2005) em 1947, o diretor Mário de Aratanha - da produtora Cineviola, responsável pela filmagem - vai inserindo as cores quentes que dão o tom do belo show, que resulta sedutor em vídeo. Num close, por exemplo, as câmeras revelam o prazer de Bethânia ao ver Omara cantar num português esforçado a ruralista Você (Penas do Tiê), destaque de um roteiro que saúda Dorival Caymmi (1914 - 2008) em Doce - a deliciosa inédita feita pelo baiano Roque Ferreira antes da morte do compositor - e celebra afinidades entre Brasil e Cuba em Havana-me, tema de Joyce e Paulo César Pinheiro que serve de pretexto para Bethânia e Omara afirmarem de forma lúdica o encanto que sentem uma pela outra. Sem abrir mão do lirismo de músicas como Para Cantarle a mi Amor. No bis, não creditado no roteiro exposto na contracapa e no encarte do DVD, as duas intérpretes aquecem o público com o calor de Guantanamera. E, enquanto rolam os créditos, um segundo bis, com Marambaia, reitera a interação de Bethânia com Omara, rala no personalíssimo CD de estúdio, mas intensa neste show que merecia um registro em DVD.

29 de outubro de 2008

Melodia sintoniza o samba na estação da MTV

Resenha de CD / DVD
Título: Especial MTV
Luiz Melodia - Estação
Melodia ao Vivo
Artista: Luiz Melodia
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

Há finas ironias em torno deste registro de show lançado por Luiz Melodia com o selo da MTV. A primeira vem do fato de se tratar da primeira parceria do canal pop com a Biscoito Fino, gravadora associada à MPB mais tradicional. A segunda vem do fato de ser um disco de samba derivado de Estação Melodia, CD de estúdio - lançado em 2007 - em que Melodia sintonizou sambas de sua memória afetiva, ouvidos na infância vivida no Morro de São Carlos, no Estácio (RJ), celeiro carioca de bambas como Ismael Silva (1905 - 1978), cujo samba Contrastes abre o roteiro em versos entoados por Melodia ao som minimalista do pandeiro de Joaquim Oliveira Netinho. A ironia, no caso, vem do fato de o samba reinar no repertório - soberania da qual Melodia abriu mão por ideologia ao despontar no mercado fonográfico em 1973 com o álbum Pérola Negra, respaldado por gravações emblemáticas de Gal Costa (a própria Pérola Negra, no show Fa-Tal - Gal a Todo Vapor, de 1971) e Maria Bethânia (Estácio Holly, Estácio, no LP Drama, de 1972). Afinal, na época, esperava-se que um negro criado no morro cantasse samba. Com seu amplo leque estético, Luiz Melodia surgiu desafiando tal lógica preconceituosa.

Para quem já tem o CD Estação Melodia, o registro ao vivo do especial da MTV vai soar inevitavelmente redundante, pois, além de rebobinar o repertório do disco anterior, o cantor bisa o tom de gafieira dado pela metaleira direção musical do saxofonista Humberto Araújo e pelos arranjos do trompetista Silvério Pontes. Como novidade, há uma boa inédita - Sem Hora pra Voltar, samba de formato mais tradicional, inserido nos extras do DVD e também no CD. Contudo, Melodia é fino estilista de sua música e consegue com que um velho sucesso como Fadas ganhe um suingue todo novo, remodelado em universo próximo do samba-choro. Mesmo sendo a rigor um registro ao vivo do Estação Melodia, como já explicita com honestidade o subtítulo deste Especial MTV, a gravação feita em São Paulo (SP), em 27 de julho de 2008, mantém o excelente padrão estilístico de Luiz Melodia e funciona como saboroso aperitivo para o disco de repertório inédito e de tom jazzístico que o cantor e compositor planeja lançar em 2009.

Canções de amor que soam muito bem na tela

Resenha de filme
Título: Canções
de Amor (Les
Chansons d'Amour,
França, 2007)
Diretor: Christophe
Honoré
Cotação: * * * *

Em cartaz nos cinemas do Brasil, o fofo Canções de Amor é um filme musical do jovem diretor francês Christophe Honoré, muito cultuado por conta de seu longa-metragem anterior, Em Paris, sucesso nas telas indies em 2006. O enquadramento no já elástico rótulo de musical é justificado pelo fato de que uma parte dos diálogos entre as personagens ser dita na forma de música, as tais canções de amor, compostas por Alex Beaupain, amigo de Honoré. Some-se a isso algumas referências a Nouvelle Vague, o encanto natural de Paris - cenário das externas e de algumas passagens musicais do filme - e o resultado é um filme encantador. As canções de Beaupain flertam com o pop contemporâneo francês e soam muito bem na tela com seus versos que traduzem as divagações existencialistas das personagens às voltas com suas amores e tragédias pessoais. O próprio Honoré rejeita o rótulo de musical para a produção, definida pelo diretor como um "filme popular com canções". Seja como for, o diretor fez um filme com canções populares que traduzem em suas rimas as inquietações amorosas das personagens que, afinal, são de toda a humanidade. Dividido em três atos (a partida, a ausência e o regresso), Canções de Amor aborda com poesia e sensibilidade o cotidiano de um triângulo amoroso que, dissolvido com a morte de um de seus vértices, acaba enquadrando o protagonista Ismael (Louis Garrel) numa sensual relação gay. Enfim, Honoré - com a big help das canções do amigo Beaupain - criou um filme cheio de magia e sedução que, sendo ou não musical, tem encantado platéias ao redor do mundo.

Gachot desvenda Martha em Conversa Noturna

Martha Argerich é reclusa pianista erudita argentina encoberta por sua postura reservada. Além de dar recitais bissextos, evita exposições na mídia. Num fim de tarde de 2001, Georges Gachot - o diretor suíço que ganhou alguma projeção no Brasil por ter retratado Maria Bethânia no sensível documentário Música É Perfume (2005) - penetrou (um pouco) na intimidade de Argerich numa entrevista de três horas, concedida na Alemanha no intervalo entre o ensaio e a apresentação de um concerto. O papo revelador é a matéria-prima de Conversa Noturna, filme de Gachot sobre a pianista, lançado em 2002 e editado no Brasil, em DVD, pela gravadora Biscoito Fino neste mês de outubro de 2008. A conversa é entremeada com trechos de recitais e raras imagens de arquivo, coletadas ao redor do mundo. Entre confidências de Argerich, Gachot expõe sua habilidade para enfocar artistas repletos de musicalidade no escurinho do cinema.

Taylor consegue deixar sua marca em 'Covers'

Resenha de CD
Título: Covers
Artista: James Taylor
Gravadora: Hear Music
/ Universal Music
Cotação: * * * 1/2

Em texto sucinto, escrito para o encarte deste disco em que aborda somente cancioneiro alheio, James Taylor parece se justificar ao lembrar que, desde o começo de sua carreira, grava músicas de outros compositores. E ressalta que dois de seus grandes sucessos dos anos 70 - You've Got a Friend e Handy Man - não foram criados por ele. De fato, Taylor consegue deixar sua marca em repertório alheio e essa habilidade que faz com que seu álbum Covers não caia na vala comum de CDs do gênero. Desde a faixa de abertura, It's Growing, pérola soul de Smokey Robinson que fez sucesso com o grupo The Temptations, o disco se revela sedutor e com surpreendente unidade para uma seleção que vai do country (Why Baby Why) ao blues, celebrado em faixas como Summertime Blues (de Eddie Cochran) e (I'm a) Road Runner. Entre temas de Buddy Holly (Not Fade Away) e Leonard Cohen (Suzanne), o intérprete de voz anasalada realça todo o brilho de jóia de Jimmy Webb, Wichita Lineman, destaque deste álbum azeitado e cheio de personalidade que merecia título (bem) menos simplório e óbvio do que Covers.

28 de outubro de 2008

Primeiro DVD de Clara já está no forno da EMI

Anunciado pela EMI Music em abril de 2008, o primeiro DVD de Clara Nunes (1942 - 1983) já está, enfim, no forno da gravadora e - salvo algum imprevisto - chega às lojas até o fim do ano com a reunião de 21 clipes gravados pela cantora (em foto de Wilton Montenegro) entre 1974 e 1983 para o programa Fantástico, apresentado pela Rede Globo aos domingos. A idéia inicial da gravadora era exibir nos extras do DVD a entrevista concedida por Clara ao programa TV Mulher - então comandado pela jornalista Marília Gabriela na emissora carioca - em 19 de janeiro de 1982, data da morte de Elis Regina (1945 - 1982). No entanto, tudo indica que o DVD vai para as lojas somente com os 21 vídeos:
1. Conto de Areia
2. É Doce Morrer no Mar - com Dario Lopes
3. Você Passa Eu Acho Graça
4. Macunaíma
5. A Deusa dos Orixás
6. O Mar Serenou
7. Coisa da Antiga
8. À Flor da Pele
9. Sagarana
10. Guerreira
11. Banho de Manjericão
12. Na Linha do Mar
13. Abrigo de Vagabundos - com Adoniran Barbosa
14. Feira de Mangaio - com Sivuca
15. Viola de Penedo
16. Morena de Angola
17. Oricuri (Segredos do Sertanejo)
18. Portela na Avenida
19. Como É Grande e Bonita a Natureza
20. Nação
21. Ijexá - com Filhos de Gandhi

Alaíde realça luzes e sombras da obra de Milton

Resenha de CD
Título: Alaíde Costa
Canta Milton
- Amor Amigo
Artista: Alaíde Costa
Gravadora: Lua Music
Cotação: * * * *

"O tempo para Alaíde não passa", espanta-se Milton Nascimento, em frase estampada no encarte deste CD que a cantora, em boa forma vocal para seus 73 anos, dedica ao cancioneiro do amigo que a acolheu no Clube da Esquina, em 1972. Alaíde foi a única presença feminina admitida no célebre álbum duplo que estabeleceu os cânones musicais do movimento mineiro. Em 1988, a voz divina de Milton voltaria a encontrar a de Alaíde em Bela, Bela, faixa de um dos melhores álbuns da artista, Amiga de Verdade. Vinte anos depois, o reencontro se dá pleno neste songbook que realça luzes e sombras da obra de um compositor que conseguiu se iluminar na escuridão imposta pelo regime militar. A seleção do repertório, a propósito, foca nos anos 60 e 70 - período áureo da música de Milton. Com justa exceção aberta para River Phoenix (Carta a um Jovem Ator), belo tema confessional embebido em lirismo e lançado pelo autor em 1988 no disco Miltons. Aberto e fechado com citações de duas músicas pouco badaladas na obra do cantor (Bodas e Amor Amigo, respectivamente), o álbum cresce quando aposta em arranjos minimalistas. O criado pela própria Alaíde para Travessia - urdido somente com o violoncelo tocado e eventualmente percutido por Jonas Moncaio - é o melhor e consegue dar nova nuance à música mais batida do cancioneiro de Milton. O mesmo cello de Moncaio cita as linhas clássicas do arranjo de Cais, emendada com Um Gosto de Sol. Também na linha menos é mais, a voz de Alaíde revive os devaneios épicos de E a Gente Sonhando - o tema mais obscuro do repertório - emoldurada apenas pelos acordes do acordeom de Iuri Savagnini. Na faixa, a cantora mostra um vigor vocal que soa diluído em alguns registros - como o de Milagre dos Peixes, por exemplo. Já o violão de Ronaldo Rayol, mesmo sem renovar Morro Velho, se mostra acompanhante apropriado na incursão de Alaíde por esta grande música de cunho social da fase inicial de Milton que já anunciava em 1967 a revolução particular feita por sua obra na música brasileira: as harmonias ricas que se embrenhavam pelas matas das Geraes em tom absolutamente inovador. Mesmo construída sob os duros rigores de um contexto político específico, o cancioneiro de Milton Nascimento continua forte, atemporal e moderno. E Alaíde enriquece sua discografia ao celebrar a obra e a amizade Milton Nascimento neste sincero CD idealizado pelo produtor Thiago Marques Luiz. Até porque Alaíde Costa sempre foi, desde 1972, uma das vozes femininas do cantor.

Filho de Luizão Maia evoca altos e baixos do pai

Falecido em (28 de) janeiro de 2005 no Japão, onde estava radicado desde 1996, o ótimo baixista Luizão Maia (1949 - 2005) tocou com cantores do primeiríssimo time da música brasileira, tendo feito parte da banda de nomes como Elis Regina (1945 - 1982), Elizeth Cardoso (1920 - 1990) e Gilberto Gil. Ao sair de cena em Tóquio, Luizão deixou composições tiradas do ineditismo por seu filho, Zé Luiz Maia, também baixista, no CD Tal Pai, editado neste mês de outubro de 2008 pela Delira Música, gravadora carioca especializada em álbuns instrumentais. Músicos como Rildo Hora, Lula Galvão, Gilson Peranzzetta (parceiro de Luizão no tema Pinta Lá) e Mário Adnet participam deste disco que evoca a figura e o som desse grande contrabaixista brasileiro, dono de um suingue memorável.

Parceiro do Skank, Amaral faz um solo singular

Resenha de CD
Título: Singular
Artista: Chico Amaral
Gravadora: Sem
indicação
Cotação: * * *

Quem começar a audição do primeiro disco solo de Chico Amaral pela última faixa - a bonita balada Bodas, cantada por Samuel Rosa - teria a falsa impressão de que o parceiro mais constante do guitarrista do Skank segue caminho similar ao do grupo mineiro neste disco editado nas Geraes no fim de 2007 e badalado na mídia em escala nacional a partir de setembro de 2008. A pista seria mesmo errada. Depois de dividir em 2002 o álbum Livramento com o cantor e compositor Flávio Henrique, Amaral - que toca sax, flauta e piano - se lança solo no mercado fonográfico em CD basicamente instrumental que evoca o samba-jazz dos anos 60 no tema Sambage à Trois, destaque de repertório autoral que, em faixas como Maio e Panamericana, se formata embebido em suingue latino. Como cantor bissexto, Amaral é um bom músico e ótimo compositor que, acertadamente, se limita a soltar a voz somente em Boca, mesmo assim em dueto com o conterrâneo mineiro Leo Minax, que sola o vocal de Tempo de Samba, parceria com Amaral. Enfim, Singular é um trabalho... singular que expõe a rica musicalidade de seu autor e sugere que talvez Chico Amaral seja muito mais do que o "letrista do Skank"...

27 de outubro de 2008

Muggiati perfila jazzistas com textos elegantes

Resenha de livro
Título: Improvisando
Soluções
Autor: Roberto Muggiati
Editora: Best-Seller
Cotação: * * * * 1/2

Com escrita de fraseado elegante, o jornalista Roberto Muggiati - um dos maiores críticos de jazz do Brasil - defende em seu saboroso livro Improvisando Soluções que o jazz não é apenas um estilo musical, mas uma forma de encarar a própria vida. Para tal, ele apresenta breves perfis de lendas do gênero que superaram adversidades em nome da música. Um dos casos mais pungentes é o do violonista Django Reinhardt (1910 - 1953), que se viu induzido a criar um novo estilo de tocar seu instrumento por conta de um incêndio que lhe queimou parte do corpo e paralisou dois dedos de sua mão esquerda. Outro é o do pianista Art Tatum (1910 - 1956), que, praticamente cego desde o nascimento, fez da música a sua janela para o mundo - com a mesma garra e força de vontade com que outro virtuose do piano, Michel Petrucciani (1962 - 1999), driblou congênita doença degenerativa que moía seus ossos e conseguiu se impôr com toque raro na cena jazzística.

Além de perfilar músicos que superaram tragédias pessoais, sem nunca cair em tom melodramático, o novo livro de Muggiati é, de certa forma, excelente introdução ao mundo do jazz por retratar com exatidão a arte, o som e a personalidade de mitos como o saxofonista Charlie Parker (1920 - 1995), o pianista Thelonious Monk (1920 - 1982) e a cantora Billie Holiday (1915 - 1959), entre outros ícones que enfrentaram resistências e somente passaram para a posteridade porque souberam improvisar tanto na vida como na música. Por fim, o autor se expõe de forma pessoal e confessional no capítulo O Jazz Salvou a Minha Vida, em que conta como, na juventude, um solo do saxofonista Barney Wilen, ouvido nas ruas de Paris, o desviou do caminho do suicídio. Nem o destoante epílogo que roça a literatura de auto-ajuda, em capítulo intitulado O Jazz como Estratégia para o Sucesso, tira o brilho de livro preciso para quem quer entender o espírito do jazz.

Gravação de show do Buena Vista chega ao CD

Graças à (bem-vinda) parceria da empresa paulista MCD com a gravadora britânica World Circuit, o Brasil foi incluído na rota mundial de lançamento do álbum duplo Buena Vista Social Club at Carnegie Hall. Trata-se do registro do único show realizado em 1º de julho de 1998, em Nova York (EUA), pelo grupo formado pelos veteranos artistas cubanos Compay Segundo, Eliades Ochoa, Ibrahim Ferrer, Omara Portuondo e Rubén González. Com ingressos esgotados, o show foi feito no embalo da excelente receptividade obtida pelo CD Buena Vista Social Club, editado em 1997, com produção do guitarrista norte-americano Ry Cooder. Cenas do espetáculo foram inseridas no documentário dirigido pelo alemão Wim Wenders e lançado nos cinemas em 1999. Contudo, o registro ao vivo do grupo nunca havia sido editado em CD nestes dez anos - período em que saíram de cena os cantores Compay Segundo (1907 - 2003), Ibrahim Ferrer (1927 - 2005) e o pianista Rubén González (1919 - 2003). Disco histórico!

DVD revive a obra e o pensamento de Herivelto

Resenha de DVD
Título: Programa
Ensaio 1990
Artista: Herivelto
Martins
Gravadora: Biscoito
Fino
Cotação: * * * *

A despeito de ser o autor de alguns dos maiores clássicos do cancioneiro popular brasileiro, como Ave Maria no Morro e Caminhemos, Herivelto Martins (1912 - 1992) tem sido mais lembrado pelas desavenças públicas com a cantora Dalva de Oliveira (1917 - 1972), com quem viveu turbulento cotidiano conjugal em um dos casamentos mais polêmicos da música popular brasileira. Daí a importância da edição deste DVD extraído do programa Ensaio dedicado a Herivelto em 1990. Dois anos antes de morrer, o compositor expôs seu pensamento - com leveza insuspeita para personalidade contraditória, tida como machista e carrancuda no imaginário coletivo - e sua obra em entrevista concedida a Fernando Faro e entremeada com 21 números musicais. O valor documental do DVD lançado pela gravadora Biscoito Fino - em parceria com a TV Cultura - é alto pela oportunidade rara de ver Herivelto em cena, sob os holofotes. Artista da era pré-VHS, o compositor conta no programa que para ter sua primeira música gravada - a marchinha Da Cor do meu Violão, sucesso do Carnaval de 1932 - teve que dar parceria a J.B. de Carvalho, nome bem relacionado na incipiente indústria fonográfica da época. Herivelto também revela detalhes da parceria com Grande Otelo (1915 - 1993), que rendeu sambas como Praça Onze, e remói as mágoas vividas com a amada Dalva, pretexto para a criação de músicas como Atiraste uma Pedra e Segredo, parcerias com os amigos David Nasser (1917 - 1980) e Marino Pinto (1916 - 1965), respectivamente. Enfim, já há muitos títulos descartáveis nestas séries de DVDs originados do programa Ensaio, mas o de Herivelto Martins é absolutamente bem-vindo (e até necessário) para que seja perpetuada, na era digital, a imagem do compositor.

O Papas é pop em irregular disco mais roqueiro

Resenha de CD
Título: Disco Rock
Artista: Papas da Língua
Gravadora: EMI Music
Cotação: * *

Formado em 1993, no Rio Grande do Sul, o grupo Papas da Língua ganhou projeção inicial na praia do reggae. Era um fenômeno regional no Sul do Brasil, longe demais das capitais que exportam modas para o País, até que em 2006 a balada Eu Sei foi propagada em escala nacional na trilha sonora da novela global Páginas da Vida, invadindo as FMs e motivando a EMI Music, que até então apenas distribuía os discos do quarteto, a contratar o Papas da Língua. Sexto álbum da banda, Disco Rock é o primeiro produto desse contrato e chega às lojas pautado pela produção uniforme de Paul Ralphes, o galês que já se tornou onipresente nas fichas técnicas de discos de rock made in Brazil. O Papas é pop neste seu disco mais roqueiro que apresenta 13 inéditas, a grande maioria de seu guitarrista Leo Henkin. Por mais que Henkin siga bem a fórmula pop, com habilidade rara para compor músicas palatáveis, Disco Rock se ressente de um repertório mais diversificado do ponto de vista autoral. Quando Henkin acerta, como na gostosa faixa-título (parceria com Serginho Moah, bom vocalista do grupo) e como em Juliana (canção melodiosa à moda simples da Jovem Guarda), o CD soa sedutor e prima por trazer a voz apropriada de Paula Toller na canção O Amor se Escondeu. Mas o fato é que o álbum vai perdendo pique à medida que avança. Ainda que a última das 13 faixas, Balada do Amor Perdido, seja o melhor momento de Disco Rock pela beleza da música e a elegância do arranjo, turbinado com órgão tocado por Humberto Barros e percussão pilotada pelo próprio Paul Ralphes. A praia do Papas da Língua é outra neste CD eventualmente tragado por ondas rasteiras de pop-luau em músicas como Oba Oba. No todo, mesmo com irregular safra inédita, Disco Rockupgrade na discografia do quarteto.

26 de outubro de 2008

Alceu entra na Biscoito e Cozza sai da Eldorado

Alceu Valença (acima em foto de Lívio Campos) é o mais novo contratado da Biscoito Fino, gravadora na qual o cantor vai dar continuidade à discografia cujo último título é Marco Zero - Ao Vivo, editado pela Indie Records em 2006 nos formatos de CD e DVD. Já Fabiana Cozza se desligou da gravadora Eldorado, por onde lançou em 2007 o álbum Quando o Céu Clarear. A cantora gravou seu primeiro (e ainda inédito) DVD em show realizado em 30 de maio de 2008 no Auditório Ibirapuera, em São Paulo (SP), com participação de Maria Rita (admiradora de Cozza).

Tim: No palco, Camelo solidifica som particular

Resenha de Show / Tim Festival 2008
Título: Sou
Artista: Marcelo Camelo
Foto: Domingos Guimarães / Site Tim Festival 2008
Local: Marina da Glória (RJ)
Data: 26 de outubro de 2008
Cotação: * * * 1/2

"Pô, ele não parado... O cara está em movimento", argumentou um espectador para sua acompanhante ao sair da apresentação solo de Marcelo Camelo no Tim Festival 2008. Mesmo com o cancelamento da vinda do cantor inglês Paul Weller ao festival, o show do hermano conseguiu sustentar o interesse do público e se tornou um dos mais concorridos da esvaziada última noite carioca do evento (o grupo The Gossip, que se apresentaria em outro palco na mesma noite, também cancelou sua vinda ao Brasil). Na companhia do grupo Hurtmold, com quem gravou seu disco solo Sou, Camelo solidifica no palco a construção de um universo sonoro bem particular, já esboçado no CD. Ao vivo, o som do artista fica mais encorpado e ganha peso. Em contrapartida, algumas nuances e delicadezas do álbum se diluem no palco. De todo modo, como bem observou o espectador, Camelo segue caminho próprio sem reproduzir a estética do rock-MPB dos Los Hermanos. Mesmo quando lança mão de uma outra música do cancioneiro do desativado grupo, como Morena e Pois É, o cantor o faz dentro de sua atmosfera atual, sem tentar evocar a memória afetiva de saudosos fãs do quarteto. Ou seja, ele não faz concessão.

Ao aparecer no palco Bossa Mod aos 34 minutos deste domingo, 26 de outubro de 2008, Camelo já contava a seu favor com a disposição de boa parte da platéia. Ver a primeira apresentação solo do artista em sua cidade natal era a motivação de quem optou por ficar com o ingresso da noite após o anúncio do cancelamento do show de Paul Weller - ainda que quem tenha fechado a noite tenha sido Arnaldo Antunes, convocado às pressas (assim como Roberta Sá) pela produção do festival para ajudar a tapar o rombo aberto com a ausência de Weller. "Foi muito bom tocar em casa", disse Camelo, ao fim do show, ciente da importância simbólica da apresentação carioca em meio a uma turnê iniciada em setembro.

Uma hora depois, findo o show, a sensação dominante na platéia era positiva. Aberto em clima viajante com Téo e a Gaivota, tema sucedido no mesmo tom pela balada Tudo Passa, o roteiro termina em clima carnavalesco com o público dançando ao som da deliciosa marchinha Copacabana, que, no palco, ganha a vivacidade rítmica diluída em estúdio. Camelo acerta ao elevar os tons e ao dar ao show um caráter menos intimista que amplifica os barulhinhos bons de seu etéreo disco solo. Se a jam experimental e polifônica do Hurtmold (à qual Camelo adere tocando seu violão sentado no chão do palco) assusta ouvidos mais convencionais, pouco acrescentando ao espetáculo, músicas como Janta - em que Camelo assume também a parte em inglês solada no disco por Mallu Magalhães - e Doce Solidão tiveram suas respectivas belezas reiteradas em cena, entre temas de regionalismo estilizado. Apareceram a ciranda Menina Bordada e Vida Doce - tema temperado com molho de salsa e carimbó, pretexto para Camelo exaltar os Mestres da Guitarrada, atração da mesma noite do festival. Ainda dentro dessa linha, a surpresa foi Despedida, a música que o compositor deu para Maria Rita gravar em seu disco Segundo (a versão da cantora tem mais força e beleza). Enfim, o show deixa a impressão de que Marcelo Camelo não saiu do Los Hermanos por egotrips e rivalidades com Rodrigo Amarante, mas pela consciência de já caminhar em movimento diverso do grupo.

Tim: Klaxons eletriza público com sua 'rave' pop

Resenha de Show / Tim Festival 2008
Título: Myths of the New Future
Artista: Klaxons
Foto: Marcus Schaefer / Site Tim Festival 2008
Local: Marina da Glória (RJ)
Data: 25 de outubro de 2008
Cotação: * * * *

Uma das revelações da volátil cena britânica em 2007, o grupo Klaxons fez show eletrizante na última noite carioca do Tim Festival 2008. O transe provocado na platéia lembrou até a apresentação de outra banda, The Killers, no mesmo palco, na edição de 2007 do festival. Enquadrado no rótulo de new rave, o som do Klaxons ganha peso ao vivo sem perder sua deliciosa aura pop. Sim, a rigor, o Klaxons faz música pop. Seu som tem energia roqueira e batidas dançantes, mas, em essência, é pura música pop - como já sinalizara o álbum Myths of the Near Future (2007), cujo repertório é a base do show apresentado pelo grupo inglês no festival. Temas como Atlantis to Interzone, Magik, Golden Skans (com seus deliciosos vocais em falsete) e It's Not over Yet já são naturalmente sedutores. Tocados ao vivo, com boa pegada e com o vigor juvenil, incendeiam a platéia. E foi isso o que aconteceu no show carioca do Tim Festival 2008. Memorável!

Tim: Tecnopop do Neon soa sem brilho ao vivo

Resenha de Show / Tim Festival 2008
Título: Stainless Style
Artista: Neon Neon
Foto: Domingos Guimarães / Site Tim Festival 2008
Local: Marina da Glória (RJ)
Data: 25 de outubro de 2008
Cotação: * *

Quem (a)parece triste na foto é Gruff Rhys, mentor (ao lado do produtor de hip hop Boom Bip) e vocalista do Neon Neon, mas foi o performático - e bizzaro - convidado Har Mar Superstar que roubou a cena no show do grupo. Primeira das duas atrações do palco principal na última noite carioca do Tim Festival 2008, a banda formada em 2007 não mostrou brilho à àltura de seu nome. Quando Rhys se despediu do público morno com um protocolar "Obrigado, Rio, a gente ama vocês", a sensação era a de que a animação era maior no palco do que na platéia. Rhys bem que tentou ser simpático ao longo de toda a apresentação do Neon Neon, chegando a nominar músicas como I Lust U. Contudo, o tecnopop do grupo - com sintetizadores à moda dos anos 80 e elementos de rap - não empolgou e justificou a aura hype criada em torno do álbum Stainless Style, editado neste ano de 2008. Com uso de projeções repletas de referências a ícones do universo pop, como National Kid, o Neon Neon apresentou show conceitual sobre a vida de John DeLorean, lendário executivo da indústria automobolística norte-americana especializado na criação de carros de contorno futurista. Poderia ser interessante, mas não foi. A ponto de a figura bizarra de Har Mar Superstar - apresentado como "o próximo presidente dos Estados Unidos" quando foi convocado para assumir os microfones - roubar a cena com suas estripulias. Vestido com um camisa estampada com foto do grupo Menudos (ícone teen dos 80) que deixava sua pança à mostra, Har Mar plantou bananeira e até cantou um rap. Foi o momento mais animado de espetáculo pretensioso em que faltou brilho. E neon...