Resenha de DVDTítulo: Ao VivoArtista: MariaBethânia e OmaraPortuondoGravadora: BiscoitoFino
Cotação: * * * *No palco, o encontro da Bahia de Maria Bethânia com a antiga cuba de Omara Portuondo - que havia resultado íntimo no CD de estúdio lançado em fevereiro pela gravadora Biscoito Fino - ganhou tons mais
calientes. E não somente por conta das cores berrantes do cenário tropical de Gringo Gardia que emoldurou as cantoras no show ora editado em DVD pela mesma Biscoito Fino. Do ponto de vista técnico, apesar do excesso de imagens captadas de baixo para cima, trata-se de um vídeo bem superior a
Maricotinha e a
Brasileirinho, ambos filmados sem o apuro a que os respectivos espetáculos faziam jus. O cuidado com a filmagem deste Omara
Portuondo e Maria Bethânia Ao Vivo - feita em 3 e 4 de abril nas apresentações da turnê no Palácio das Artes, em Belo Horizonte (MG) - se revela já na primeira parte do show. Imagens sóbrias, de tons azulados, valorizam os duetos das cantoras em temas como
Cio da Terra e
Cálix Bento. E, a julgar pela titubeada de Omara no começo de
Gente Humilde, parece não ter havido a intenção de maquiar o espetáculo perpetuado em DVD. A partir do bloco solo de Bethânia, quando aparecem números com mais vivacidade rítmica, como a rumba
Escandalosa, sucesso de Emilinha Borba (1923 - 2005) em 1947, o diretor Mário de Aratanha - da produtora Cineviola, responsável pela filmagem - vai inserindo as cores quentes que dão o tom do belo show, que resulta sedutor em vídeo. Num close, por exemplo, as câmeras revelam o prazer de Bethânia ao ver Omara cantar num português esforçado a ruralista
Você (Penas do Tiê), destaque de um roteiro que saúda Dorival Caymmi (1914 - 2008) em
Doce - a deliciosa inédita feita pelo baiano Roque Ferreira antes da morte do compositor - e celebra afinidades entre Brasil e Cuba em
Havana-me, tema de Joyce e Paulo César Pinheiro que serve de pretexto para Bethânia e Omara afirmarem de forma lúdica o encanto que sentem uma pela outra. Sem abrir mão do lirismo de músicas como
Para Cantarle a mi Amor. No bis, não creditado no roteiro exposto na contracapa e no encarte do DVD, as duas intérpretes aquecem o público com o calor de
Guantanamera. E, enquanto rolam os créditos, um segundo bis, com
Marambaia, reitera a interação de Bethânia com Omara, rala no personalíssimo CD de estúdio, mas intensa neste show que merecia um registro em DVD.