10 de abril de 2010

Elegante, Dionne reitera leveza pop em 'Forever'

Resenha de Show
Título: Dionne Forever
Artista: Dionne Warwick (em fotos de Mauro Ferreira)
Convidados: David Elliott e Ivan Lins
Local: Vivo Rio (RJ)
Data: 9 de abril de 2010
Cotação: * * * *
Agenda da turnê Dionne Forever no Brasil:
* São Paulo (SP) - HSBC Brasil, 10 de abril
* Fortaleza (CE) - Siara Hall, 15 de abril
* Porto Alegre (RS) - Teatro Bourbon Country, 17 de abril
Voz fundamental na consolição do gênero que viria a ser rotulado de canção pop, por ter lançado a partir de 1962 todos os hits iniciais da dupla Burt Bacharach e Hal David, Dionne Warwick está de volta ao Brasil com uma nova turnê, Forever, cujo show é essencialmente o mesmo que foi apresentado no país, em maio de 2009, sob o título Dionne Warwick in Concert. Mas isso pouco pareceu importar para o público que foi ver a cantora norte-americana na noite de 9 de abril de 2010 na casa Vivo Rio, no Rio de Janeiro (RJ). Ainda em boa forma vocal, sobretudo se levados em conta seus alegados 70 anos, a intérprete reiterou a leveza pop de seu canto ao enfileirar os clássicos da parceria de Bacharach com David. Walk on by, Anyone Who Had a Heart, I'll Never Fall in Love Again, Message to Michael e Alfie, entre outros números, realçaram a elegância do fraseado da cantora. Novidades no roteiro foram a intervenção de Ivan Lins (num set que mostrou a intimidade da intérprete com o cancioneiro do compositor e que surpreendeu quando Dionne se arriscou a cantar Começar de Novo em português - veja post abaixo), o dueto com o filho David Elliott em I Say a Little Prayer - num registro de divisões bem inusitadas que descontruiu a perfeita arquitetura pop do tema - e a inclusão de Heartbreaker, pop em estado puro, fornecido pelos Bee Gees a Dionne em 1982. Como de praxe, houve o bloco dedicado às músicas brasileiras com o já tradicional medley com três clássicos de Tom Jobim (1927 - 1994) - Corcovado, Wave e Águas de Março, entoados em inglês e em clima bossa-novista - ao qual se seguiram The Girl from Ipanema e Bahia (Na Baixa do Sapateiro), números que, no show de 2009, foram divididos com Gal Costa. Na sequência do recorrente bloco nacional, houve também a habitual apresentação em ritmo de salsa de Do You Know the Way to San Jose? - música de 1968 revivida por Dionne tal como no dueto gravado em 1998 com a cantora cubana Celia Cruz (1925 - 2003). O número foi pretexto para a apresentação da banda que incluía músicos brasileiros na cozinha. No fim, o público - embevecido pela oportunidade de ver ao vivo, mais uma vez, uma das maiores cantoras dos EUA - fez coro forte e espontâneo na balada I'll Never Love This Way Again, hit de 1978 que reergueu a carreira de Dionne Warwick após período de baixa por conta do afastamento de Bacharach. E, como de praxe, a cantora saiu de cena ao som do hino fraterno That's What Friends Are for, número em que Dionne e o filho David Elliott fizeram um jogo de cena que empanou parte do brilho da música. Mesmo assim, não houve quem não saísse da casa Vivo Rio sem aplaudir com vontade Dionne, uma diva do pop, forever...

Dionne recebe Ivan no retorno aos palcos do Rio

Compositor celebrado no universo norte-americano do jazz, com prestígio superado somente por Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994), Ivan Lins foi o convidado de Dionne Warwick no retorno da cantora aos palcos cariocas. Em nova turnê pelo Brasil, Forever, a intérprete recebeu Ivan no show que fez na casa Vivo Rio, na noite de 9 de abril de 2010. O set de Ivan e Dionne - vistos acima em foto de Mauro Ferreira - foi aberto com o dueto dos artistas em She Walks This Earth, que vem a ser versão em inglês (escrita por Brenda Russell) para Soberana Rosa, parceria de Ivan com Chico César e Ivan Lins. Na sequência, Dionne se arriscou a cantar com Ivan, num português esforçado, Começar de Novo, outro standard internacional do compositor brasileiro (na versão em inglês intitulada The Island). Após este número, o mais aplaudido do set, Dionne e Ivan uniram vozes e suingues na versão em inglês de Camaleão, parceria do compositor com Vítor Martins e Aldir Blanc que foi lançada pela própria cantora, em 1993, em registro feito com Ivan para disco do extinto grupo Batacotô. Encerrando sua participação cheia de bossa, o compositor - atendendo a pedido de Dionne - solou o samba Madalena, com direito a novas divisões. Enfim, um encontro luxuoso que vai ser reeditado na apresentação que a cantora norte-americana vai fazer na noite deste sábado - 10 de abril - na casa HSBC Brasil, em São Paulo (SP).

Caetano, Takai, Elza e Baleiro na lírica de Nilo

Já lançado pela prefeitura de Fortaleza no Carnaval de 2010, por ora com circulação restrita ao Ceará, o tributo Quando Fevereiro Chegar - Uma Lírica de Fausto Nilo apresenta 12 gravações inéditas de músicas letradas por Nilo - compositor, poeta e cearense de Quixeramobim. O CD, ainda à espera de edição comercial, conta com produção de Robertinho de Recife e alinha na ficha técnica nomes como Caetano Veloso (Coisa Acesa, parceria de Nilo e Moraes Moreira que deu título ao álbum lançado por Moraes em 1982), Elza Soares (Santa Fé, tema da trilha sonora da novela Roque Santeiro), Fernanda Takai (O Elefante, parceria lúdica de Fausto Nilo com Robertinho de Recife), Ivan Lins (Pão e Poesia - o samba lançado por Simone em 1981), Zeca Baleiro (Eu Também Quero Beijar, hit de Pepeu Gomes nos anos 80), Jorge Vercillo (Zanzibar, parceria de Nilo e Armandinho, propagada pelo grupo A Cor do Som), Carlinhos Brown (Chão da Praça, clássico atemporal da fase pré-industrializada do Carnaval da Bahia), Zé Ramalho (Periga Ser, galope popularizado na voz de Amelinha) e Fagner (Chorando e Cantando, parceria com Geraldo Azevedo de cuja letra foi extraído o verso que batiza o disco). Principais parceiros de Nilo, Moraes Moreira e Geraldo Azevedo marcam presença no tributo. Moraes faz rolar novamente Pedras que Cantam, parceria de Nilo e Dominguinhos, lançada por Fagner em 1991. Já Geraldo abre o tributo com seu registro de Vida Boa, parceria com Armandinho. Quando Fevereiro Chegar encerra com o poeta celebrado, intérprete de Bloco do Prazer, o sedutor frevo gravado em 1981 por Nara Leão (1942-1989) e popularizado por Gal Costa em 1982.

DVD documenta tensão dos Beatles em estádio

Em 15 de agosto de 1965, o pop rock adentrou pela primeira vez os gramados - de onde ele nunca mais sairia. Naquela data, os Beatles fizeram história ao se apresentar no Shea Stadium, em Nova York (EUA). Foi a primeira vez que um grupo de rock fez show em um estádio a céu aberto. Era o auge (e já a agonia) da Beatlemania. Daí a histeria com que os 55 mil espectadores se portaram diante dos Fab Four. Recém-editado no Brasil pela gravadora Coqueiro Verde, o DVD Beatles - Live at Shea documenta o histórico show. Não se trata da exibição pura e simples da apresentação (até porque nem há imagens integrais de todos os onze números), mas do programa produzido pela TV norte-americana e exibido ainda em 1965. Detalhe: como o som da apresentação no Shea Stadium era inaudível (e os 55 mil fãs pareciam mais interessados em gritar do que em ouvir o grupo tocar músicas como Ticket to Ride e Help), os Beatles regravaram o áudio do show para o especial da TV. O que explica o aceitável áudio 2.0 do DVD, turbinado com extras. Bastidores entremeia cenas típicas de making of com takes do show e comentários em off dos Beatles. Já a seção Depoimentos dos Beatles expõe - como já anuncia seu título - a visão dos Fab Four sobre a emblemática (e tensa) apresentação no Shea Stadium. Como é praxe nas edições da Coqueiro Verde, as falas foram devidamente legendadas em português - o que valoriza a Edição de Colecionador do programa.

Disco que projetou Elton e Paulinho é reeditado

Embora já tivessem debutado no mercado fonográfico com o LP do musical Rosa de Ouro (1965) e com os dois volumes do álbum Roda de Samba (1965 e 1966), gravados como integrantes do conjunto A Voz do Morro, Elton Medeiros e Paulinho da Viola começaram a mostrar suas caras e seus sambas com maior projeção no álbum Na Madrugada, lançado originalmente - em 1968? - pela extinta gravadora RGE e ora reeditado, neste mês de abril de 2010, pela Biscoito Fino. Já relançado em CD em 1997, Na Madrugada é o disco em que Paulinho lançou sambas como Arvoredo e 14 Anos, além de ter regravado Recado e Jurar com Lágrimas. Já Elton canta parcerias com Cartola (1908 - 1980) - Sofreguidão e O Sol Nascerá - e Zé Kétti (1921 - 1999), com quem fez Mascarada e Samba Original. Detalhe: no texto escrito pelo pesquisador Arley Pereira para a reedição de 1997, consta que Na Madrugada foi gravado em 1966. Mas outras fontes sustentam que o LP original saiu em 1968.

9 de abril de 2010

Paula revive hit de Ivete em abertura de novela

Após ter dado banho de loja na música Caminhoneiro e com isso ter se tornado a grande surpresa do elenco do show Emoções Sertanejas (recente tributo coletivo em que artistas sertanejos cantaram sucessos de Roberto Carlos), Paula Fernandes fez nova incursão por seara alheia. Com discreto toque ruralista, a cantora regravou Quando a Chuva Passar - balada de Ramón Cruz que foi lançada com sucesso por Ivete Sangalo no fraco álbum As Super Novas (2005) - para a trilha sonora da nova novela da TV Globo, Escrito nas Estrelas, no ar a partir de segunda-feira, 12 de abril de 2010. A boa gravação de Paula é o tema de abertura da novela.

Homenagem a Dolores é prestada com respeito

Resenha de Show
Evento: Série MPB & Jazz - Temporada 2010
Título: Homenagem a Dolores Duran
Artista: Orquestra Petrobrás Sinfônica
(sob a regência de Carlos Prazeres e Wagner Tiso)
Solistas convidados: Emílio Santiago, Mariana Aydar
e Zélia Duncan (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Canecão (RJ)
Data: 8 de abril de 2010
Cotação: * * * 1/2
Caso alguém tenha travado um primeiro contato com o repertório de Dolores Duran (1930 - 1959) a partir do concerto apresentado no Canecão (RJ) na noite de 8 de abril de 2010, dentro da série MPB & Jazz, esse alguém sairia com bela impressão da obra dessa compositora ainda moderna que foi também uma intérprete versátil. A Homenagem a Dolores Duran foi prestada com respeito e reverência ao cancioneiro da artista. Os arranjos orquestrais seguiram os padrões do gênero sem deixar de pôr em primeiro plano a beleza das melodias compostas por Dolores com letras geralmente poéticas embebidas em fina melancolia. Em que pese o brilho maior ou menor dos solistas convidados (leia as análises das atuações de Emílio Santiago, Mariana Aydar e Zélia Duncan nos três posts anteriores), o 20º concerto da série MPB & Jazz reiterou a grandeza da obra de Dolores. Mérito de Wagner Tiso, mentor da série. Tiso se revezou no piano e na regência - alternada com Carlos Prazeres - da Orquestra Petrobrás Sinfônica, que se juntou no palco do Canecão a uma banda convidada que incluiu músicos como Itamar Assiére (teclados), Mingo Araújo (percussão) e Dirceu Leite (sopros). É fato que os dois números finais que juntaram os três solistas - A Noite do meu Bem (Dolores Duran) e Por Causa de Você (Dolores Duran e Tom Jobim) - pecaram pela desarmonia vocal (com prejuízo de Aydar e Zélia). Ainda assim, não há como negar o brilho de uma noite em que foram apresentados, com fino acabamento nos arranjos, músicas como Noite de Paz, Canção da Volta, Castigo, Ternura Antiga, Fim de Caso e Estrada do Sol, entre outras. Todo pautado pela modernidade atemporal, o repertório de Dolores Duran se adequa tanto aos registros de tom mais íntimo como às abordagens mais pomposas como a homenagem prestada à artista no ano em que ela festejaria seu 80º aniversário - se não tivesse partido tão cedo.

Emílio reiterou categoria vocal na ode a Dolores

Com a já conhecida categoria vocal que o põe entre os maiores cantores brasileiros de todos os tempos, Emílio Santiago reiterou a ótima fama e brilhou ao solar sete músicas do repertório de Dolores Duran no concerto da série MPB & Jazz apresentado no Canecão (RJ) na noite de 8 de abril de 2010. Na companhia da banda convidada e da Orquestra Petrobrás Sinfônica, o cantor - visto acima em fotos de Mauro Ferreira - pôs sua voz aveludada a serviço de Olha o Tempo Passando (Dolores Duran e Edson Borges), Se É Por Falta de Adeus (Tom Jobim e Dolores Duran), Sabra Dios (Álvaro Carrilho), Ternura Antiga (Dolores Duran e José Ribamar), Fim de Caso (Dolores Duran), Estrada do Sol (Tom Jobim e Dolores Duran) e A Noite do meu Bem (Dolores Duran). Por seguir padrão uniforme de interpretação, Emílio se ajustou bem ao ofício de crooner da orquestra, regida alternadamente por Carlos Prazeres e Wagner Tiso. Nem a feia derrapada na letra de Ternura Antiga empanou o brilho do set de Emílio Santiago na justa Homenagem a Dolores Duran feita na série MPB & Jazz.

Grande intérprete, Zélia honra obra de Dolores

"Grande ZD!...", gritou uma espectadora enquanto Zélia Duncan estava no palco do Canecão (RJ), na noite de 8 de abril de 2010, prestando tributo a Dolores Duran (1930 - 1959) na temporada de 2010 da série MPB & Jazz. Segunda solista a entrar em cena para cantar o fino repertório de Dolores na companhia da Orquestra Petrobrás Sinfônica, sob a regência dos maestros Carlos Prazeres e Wagner Tiso, Zélia se confirmou grande e versátil intérprete. Seu primeiro número - Noite de Paz, uma das músicas mais pungentes da obra autoral de Dolores - já reiterou de cara a maturidade conquistada por Zélia nos últimos anos. A cantora - vista acima em fotos de Mauro Ferreira - se transformou até numa correta crooner de jazz para cantar My Funny Valentine após contar história curiosa sobre a admiração de Ella Fitzgerald (1918 - 1996) - uma das grandes intérpretes do clássico de Richard Rodgers e Lorenz Hart - pelo registro feito por Dolores deste standard norte-americano (Ella veio ao Brasil nos anos 50 e conheceu Dolores). Antes, Zélia brilhou ao reviver O Negócio É Amar, a parceria póstuma de Dolores com Carlos Lyra, lançada em 1984 por Nelson Gonçalves (1919 - 1998) em dueto com Fafá de Belém. Zélia também entoou Canção da Volta (Ismael Neto e Antônio Maria), Castigo (Dolores Duran) e Solidão (Dolores Duran) em registros pautados pela contenção emocional. Uma voz à altura de Dolores!!

Aydar oscila ao entrar no mundo fino de Dolores

Primeira solista a entrar em cena no concerto da série MPB & Jazz em homenagem a Dolores Duran (1930 - 1959), apresentado pela Orquestra Petrobrás Sinfônica no Canecão (RJ) na noite de 8 de abril de 2010, Mariana Aydar não brilhou em seu primeiro número. A cantora - vista acima em fotos de Mauro Ferreira - não botou o suingue devido n'A Banca do Distinto (Billy Blanco). Contudo, Aydar foi ganhando segurança em cena. Na sequência, na companhia da orquestra regida por Wagner Tiso, a intérprete acertou o tom de Escurinho (Geraldo Pereira). Depois, teve outro momento legal ao cantar Bom É Querer Bem, bela pérola rara de Fernando Lobo. O set solo de Aydar fechou com Nossos Destinos (Luiz Vieira), deixando - no todo - boa impressão. Ainda assim, a artista precisa aprimorar seu discurso em cena. Ao falar sobre a importância de Dolores, Aydar apenas relacionou clichês sobre a modernidade pioneira da compositora projetada na década de 50.

Braga agrega Kassin e Dado em 'Feito um Peixe'

A harpista Cristina Braga faz conexões com nomes do universo pop nacional no disco que vai lançar pela gravadora Biscoito Fino. Coproduzido por Kassin, Feito um Peixe traz a guitarra de Dado Villa-Lobos em Peixe, o tema de Luiz Capucho que inspirou o título do álbum produzido por Ricardo Medeiros, parceiro de Jorge Mautner em Vendaval. Braga - vista em foto de José Luiz Pederneiras - instaura parceria com Moacyr Luz no samba Restos e põe sua harpa virtuosa a serviço de Insensatez (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) e Brasileirinho (choro de Waldir Azevedo).

8 de abril de 2010

Luen forma banda para fazer 'Coisas de Menina'

Vencedora em 2009 da primeira temporada do reality show Geléia do Rock, exibido pelo canal de TV Multishow, a cantora e compositora Luen vai lançar seu primeiro álbum em junho de 2010, pelo selo Discobertas, do produtor Marcelo Fróes. Coisas de Menina é o título do CD, produzido por Clemente Magalhães. Em vez de ficar sozinha sob os holofotes, Luen - nascida nos Estados Unidos, mas criada no Brasil - optou por se apresentar como líder de banda formada por Paulo Aiello (baixo), Rick de La Torre (bateria) e Toninho Van Ahn (teclados). Formatado no estúdio carioca Corredor 5 com tardia adesão do guitarrista Pedro Terra, o repertório do CD Coisas de Menina é essencialmente autoral, mas inclui as regravações de If Not For You (Bob Dylan, 1970) e Menino Bonito (Rita Lee, na fase com o Tutti Frutti, 1974).

Aos 70, Astrud tem raro DVD editado no Brasil

Aos 70 anos, festejados em 29 de março de 2010, a reclusa Astrud Gilberto tem lançado no Brasil um raro registro audiovisual da década - a de 80 - em que montou uma banda e partiu em turnê mundial. Editado no Brasil neste mês de abril de 2010, pela gravadora Coqueiro Verde, o DVD Astrud Gilberto Festival exibe show feito em 2 de julho de 1985 pela cantora baiana - radicada desde 1963 nos Estados Unidos - no Lugano Jazz Festival. No roteiro, Astrud - que encerrou sua carreira em 2001 - prioriza clássicos do repertório de Antonio Carlos Jobim (como Águas de Março, Dindi, Água de Beber e A Felicidade) entre música de João Donato (A Rã, em registro instrumental) e afro-samba de Baden Powell & Vinicius de Moraes (Canto de Ossanha). O repertório do show inclui , claro, The Girl from Ipanema, a música que projetou a voz de Astrud - e a própria Bossa Nova - em escala mundial em 1964, na célebre gravação do álbum Getz/Gilberto (de Stan Getz e João Gilberto).

Lucas ascende com o bom disco solo de Beeshop

Resenha de CD
Título: The Rise
and Fall of Beeshop
Artista: Beeshop
Gravadora: Arsenal Music
/ Universal Music
Cotação: * * * 1/2

Heterônimo de Lucas Silveira, Beeshop exibe em seu (bom) primeiro disco solo - todo cantado em inglês - o talento que o artista não consegue mostrar como vocalista do Fresno, um dos grupos que seguem a receita ditada pelo produtor Rick Bonadio. Projeto pessoal de Lucas, o CD The Rise and Fall of Beeshop revela um compositor hábil na manipulação da fórmula pop. Basta ouvir uma faixa, Cookies, para perceber que Beeshop foi capaz de compor com elementos do folk uma canção pop que não faz feio perto da produção dos grandes criadores do gênero. O disco cruza estilos com musicalidade pop e elegante. Outro destaque da safra de 13 inéditas autorais, Lovers Are in Trouble mixa referências de cabarés, Broadway e Queen. A influência do grupo de Freddie Mercury (1946 - 1991) aparece ainda com maior nitidez em Driving All Night Long. Entre baladas (Go on e Come and Go - esta eleita erroneamente para promover o CD) e flerte com o universo country (Rockstars and Cigarettes), The Rise and Fall of Beeshop promove a ascensão de Lucas Silveira no mercado fonográfico. E o fato do artista ter feito a produção e tocado quase todos os instrumentos somente ressalta o fato de que o talento do vocalista do Fresno vinha sendo omitido no trabalho com o grupo gaúcho. O solo de Beeshop é, desde já, uma das mais gratas surpresas do mercado fonográfico em 2010.

Fiel a si, Paez volta às guitarras no CD 'Confiá'

Resenha de CD
Título: Confiá
Artista: Fito Paez
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * *

Não é à toa que o novo álbum de Fito Paez, Confiá, abre com o som de uma guitarra. Som elétrico que, aliás, vai ser recorrente em faixas como o rock La Ley de la Vida. Na contramão do íntimo Rodolfo (2007), o anterior disco de inéditas - e de estúdio - do artista argentino, inteiramente estruturado no piano, Confiá marca a volta de Paez às guitarras elétricas. Embora não esteja entre as melhores da discografia do roqueiro, a safra de inéditas soa fiel à ideologia de Paez. Fuera de Control é um dos destaques pela poesia corrosiva que radiografa o permanente estado de emergência em que vivem grandes metrópoles como Buenos Aires, onde, a propósito, o CD Confiá foi finalizado com o auxílio do produtor Mariano López depois de ter sido parcialmente gravado em outras cidades da Argentina e do Brasil. Como mostram temas como El Mundo de Hoy, Paez faz pulsar novamente sua veia pop em Confiá, álbum cujo repertório alterna rocks (En el Baño de un Hotel) e baladas (London Town, momento mais introspectivo). A música às vezes até soa pouco inspirada, mas a poesia permanece sempre aguçada.

Filme revolve emoções de noite musical de 1967

Resenha de Documentário
Título: Uma Noite em 67
Direção: Renato Terra e Ricardo Calil
Em cartaz no É Tudo Verdade 2010
- 15º Festival Internacional de Documentários

Cotação: * * * *
Sessões:
08 de abril de 2010, 21h - Espaço Unibanco de Cinema (SP)
09 de abril de 2010, 21h - Espaço Unibanco de Cinema (SP)
10 de abril de 2010, 15h - Espaço Unibanco de Cinema (SP)
15 de abril de 2010, 19h - Unibanco Artplex (RJ)

Na noite de 21 de outubro de 1967, o Teatro Paramount, em São Paulo (SP), foi palco de disputa emblemática na história da música brasileira. Naquela noite, aconteceu a final do III Festival da Música Popular Brasileira, produzido e exibido pela TV Record. Defenderam músicas nessa mítica final nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Edu Lobo, Elis Regina (1945 - 1982), Gilberto Gil, Nana Caymmi, Roberto Carlos e Sérgio Ricardo. Time que - com exceções de Elis e Roberto - entraram em campo para cantar músicas de sua própria autoria. Os ânimos, nos bastidores e na platéia, estavam exaltados. Até porque o que estava em jogo não eram somente as primeiras colocações, mas as ideias musicais então inovadoras que Caetano e Gil defendiam, espalhando a semente tropicalista que iria germinar com força naquele ano e em 1968. De um lado, o bloco mais conservador, refratário à inclusão da guitarra elétrica na MPB. De outro, a turma mais antenada - a facção jovem - que absorvia as novidades estéticas da cultura pop (leia-se Beatles) de forma antropofágica. Cenário de disputas ideológicas, a final do III Festival da Música Popular Brasileira é revivida no documentário Uma Noite em 67, dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil. Ainda sem data marcada para entrar em circuito convencional nos cinemas brasileiros, o filme vai poder ser visto em três sessões da 15º edição do festival de documentários É Tudo Verdade, em cartaz no Rio de Janeiro (RJ) e em São Paulo (SP) de 8 a 18 de abril de 2010. A abertura do festival acontece nesta quinta-feira, 8 de abril, em São Paulo (SP), justamente com sessão (para convidados) de Uma Noite em 67.

A partir de entrevistas inéditas com os principais compositores envolvidos na disputa musical e ideológica, os diretores revolvem emoções, medos e inovações que deram caráter histórico àquela noite de 1967. Até o arisco Roberto Carlos - que defendeu samba bem tradicional, Maria, Carnaval e Cinzas (Luiz Carlos Paraná), embora estivesse associado à turma jovem por conta do som das tardes dominicais que ecoava no Brasil desde 1965 - fala no filme, contando que não pôde escolher a música que ia cantar, pois já recebeu a incubência de interpretar o samba que, afinal, lhe daria a 5ª colocação na intensa final do III Festival de Música Popular.

Todos os depoimentos são corroborados por imagens da noite, colhidas nos arquivos da TV Record. Além de mostrar entrevistas feitas com os artistas pelos jornalistas que cobriam o evento, o filme rebobina as apresentações das músicas que ficaram nos cinco primeiros lugares. E mostra também a lendária defesa de Beto Bom de Bola, quando o autor e intérprete da música, Sérgio Ricardo, perde a paciência com as vaias do público e arremessa seu violão contra a participativa plateia, num gesto intempestivo que renderia manchetes, custaria a desclassificação do artista e contribuiria para alimentar o mito da noite. "Não me arrependo", garante Sérgio Ricardo, lembrando que a plateia dos festivais se comportava como uma personagem, já previamente imbuída de vaiar ou aplaudir os artistas. "Era um espetáculo", admite Paulo Machado de Carvalho, diretor da TV Record na época do festival.

Dentro do espetáculo armado naquela noite de 1967, coube ao diretor e ao público delimitar bem os papéis de quem era jovem e de quem era conservador. Em depoimento para o filme, Chico Buarque - que subiu ao palco com o grupo MPB-4 para cantar sua politizada Roda Viva, um ano depois de ter seduzido o Brasil com a simplicidade de A Banda - recorda que se sentiu "sozinho", como representante de música e atitude conservadoras. A solidão de Chico é confirmada por Caetano Veloso, em depoimento que legitima o do colega-rival da noite. Caetano admite que o uso da guitarra elétrica no arranjo de Alegria, Alegria - a música que defendeu com o conjunto argentino Beat Boys - era também uma atitude política. Posição, diga-se, perfeitamente cabível dentro do contexto efervescente daquele ano. Não por acaso, no único momento em que se distancia da final do festival, o filme mostra imagem (rara) da inacreditável passeata contra a guitarra elétrica que aconteceu em 17 de julho de 1967 - três meses antes da noite retratada no documentário - e que agregou nomes como Elis Regina e Gilberto Gil. Sereno, Gil conta no filme que foi à passeata apenas por apoio ideológico a Elis e que não se identificava com o protesto (o que era verdade, pois o cantor logo depois recrutou Os Mutantes para defender com ele no festival a cinematográfica Domingo no Parque). Elis - vale lembrar - sentia seu reinado ameaçado pela explosão da Jovem Guarda. E não estava sozinha, pois, embora o filme não toque na questão ao entrevistar Roberto Carlos, quase toda a MPB fechou os ouvidos quando o então Rei da juventude mandou tudo para o inferno em 1965. Exceto Caetano...

A patrulha era grande. A ponto de Gil ter tido um ataque de pânico horas antes de defender Domingo no Parque. Prostrado na cama do hotel Danúbio, o cantor precisou ser reanimado com um banho dado pelo diretor da Record. No fim, os jovens Gil e Caetano se consagraram em segundo e em quarto lugar, respectivamente. O conservador Chico ficou em terceiro. E a vitória coube a Edu Lobo com sua Ponteio, defendida pelo autor com Marília Medalha. Lobo também enfatiza a divisão ideológica que havia na MPB em 1967 e lembra em seu depoimento a pressão do público em cima dos artistas em que ele - o público - apostava. Inclusive dinheiro. "A gente era um cavalo", conceitua Lobo, que, para fugir do assédio provocado pela vitória de Ponteio, partiu para a França para fazer longa temporada num cassino com Nara Leão (1942 - 1989), que, embora não seja vista no filme, também participou da noite ao defender A Estrada e o Violeiro em dueto com o autor da música, Sidney Miller (1945 - 1980). Enfim, a MPB nunca mais foi a mesma depois daquela noite de 1967. O Tropicalismo ganhou terreno e implodiu (pré)conceitos, Chico Buarque se impôs como (grande e politizado) compositor, Edu Lobo seguiu fiel às (suas) tradições e Roberto Carlos aderiu ao soul antes de ser entronizado Rei do público adulto nos anos 70. Mas tudo poderia ter sido diferente se não fosse aquela mítica noite de 21 de outubro de 1967 que, entre vaias e aplausos, consolidou revoluções estéticas e provocou um debate revivido pelo (ótimo) filme de Renato Terra e Ricardo Calil.

7 de abril de 2010

Teresa lança CD e DVD 'Melhor Assim' em abril

É em meio aos rumores de que a Universal Music vai incorporar a EMI Music na América Latina que Teresa Cristina lança pela EMI, neste mês de abril de 2010, o quinto título de sua discografia, o primeiro assinado pela artista sem o Grupo Semente. Melhor Assim - Teresa Cristina ao Vivo chega às lojas nos formatos de CD e DVD com o registro do show gravado em 27 de outubro de 2009 no Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro (RJ), com as participações de Marisa Monte (em Beijo Sem, samba inédito fornecido por Adriana Calcanhotto) e Seu Jorge (Pura Semente). Tanto CD quanto DVD trazem os registros adicionais feitos em estúdio por Teresa com Arlindo Cruz (Coisas Banais, samba de Candeia e Paulinho da Viola), Caetano Veloso (Festa Imodesta, samba de Caetano) e Lenine (Trégua Suspensa, parceria da artista com Lula Queiroga). Um quarto dueto captado em estúdio - o da sambista com sua mãe, D. Hilda, em Orgulho, sucesso de Ângela Maria nos anos 50 - pode ser conferido apenas nos extras do DVD.

Mombaça reedita (de novo) CD 'Afro Memória'

Em 2005, no rastro do grande sucesso obtido por Mart'nália com o disco Menino do Rio, Mombaça - parceiro constante da filha famosa de Martinho da Vila em sambas como Chega e Pretinhosidade - relançou seu segundo (bom) álbum, Afro Memória, gravado em 2002, e adicionou ao título o sufixo + Pretinhosidade para ressaltar o fato de que havia no CD sua leitura de Pretinhosidade. Cinco anos depois, em 2010, Mombaça reedita o mesmo disco - novamente com o título Afro Memória + Pretinhosidade - pela gravadora Biscoito Fino. A atual reedição apresenta outra capa, tem outra remasterização (feita em 2009) e inclui três novos registros entre as 13 faixas. Mombaça regrava Obnubilado em duo com Mart'nália e apresenta as inéditas Denegrir - faixa gravada com a cantora Maria Hime que ressalta a influência que Djavan tem na composição e no canto de Mombaça - e Pra Viver ou Morrer de Amor (tema de tom camerístico que agrega o cantor congolês Lokua Kanza e o pianista brasileiro João Carlos Coutinho). Grande parte das letras prega a igualdade racial.

West finaliza no Havaí CD que traz RZA e Q-Tip

O rapper norte-americano Kanye West está finalizando seu quinto álbum de inéditas - supostamente intitulado Good Ass Job - no estúdio Diamond Head, construído por ele em sua casa no Havaí. Com lançamento previsto para junho de 2010, o novo disco tem intervenções dos rappers Q-Tip, RZA e Pete Rock - nomes da velha escola do hip hop de Nova York (EUA). De acordo com declaração dada por West em janeiro, o sucessor de 808's & Heartbreak (2008) foi inspirado pelo músico-poeta Gil Scott-Heron, pela autora Maya Angelou e pela cantora de jazz Nina Simone (1933 - 2003). Os três nomes são fortes ícones da cultura afro-americana.

Titãs põem clipes e números de show em 'Sacos'

Dois números do show criado pelos Titãs para fazer o que seria sua última turnê como quinteto (e com seu baterista Charles Gavin) - Amor por Dinheiro e Deixa Eu Entrar, captados em apresentação do grupo no Hangar 110 (SP) - podem ser vistos no DVD que vem com a Edição Especial do 16º álbum da banda, o controvertido Sacos Plásticos (2009). A (re)edição dupla adiciona versão acústica de Antes de Você ao repertório original do CD. Mas quem concentra conteúdo inédito é o DVD. Além dos dois takes do show, há o clipe de Antes de Você e os home clipes de Porque Eu Sei que É Amor, Quanto Tempo (este dirigido pela atriz Malu Mader, mulher de Tony Bellotto) e Amor por Dinheiro. O making of do vídeo de Antes de Você abre o DVD.

6 de abril de 2010

CD solo de Okereke, 'The Boxer' tem som 'dance'

Enquanto o Bloc Party permanece em recesso por tempo indeterminado, o cantor do grupo inglês, Kele Okereke, revela detalhes de seu primeiro disco solo, The Boxer, cuja chegada às lojas está programada para 21 de junho de 2010 - uma semana depois da edição do primeiro single, Tenderoni. Okereke começou a formatar The Boxer na Inglaterra, em 2009, com produção de Hudson Mohawke, mas a maior parte do CD foi gravada em Nova York (EUA), sob a batuta do produtor XXXchange. O som é calcado na dance music. Eis as 10 músicas:
1. Walk Tall
2. On the Lam
3. Tenderoni
4. The Other Side
5. Everything You Wanted
6. New Rules
7. Unholy Thoughts
8. Rise
9. All the Things I Could Never Say
10. Yesterday's Gone

CD solo de Sandy vai ter edição dupla com DVD

Divulgados aos poucos pela Universal Music, os pequenos vídeos em que Sandy conceitua seu primeiro disco solo - Manuscrito, nas lojas a partir de 7 de maio de 2010 - fazem parte de filme, Tempo, que documenta toda a produção do álbum e que vai poder ser visto na íntegra no DVD que virá com a edição especial dupla do CD. Promovido pelo single Pés Cansados, já vazado, Manuscrito obviamente também vai ser lançado no formato de CD simples (em digipack).
Em tempo: Dias Iguais é o título da música composta e gravada por Sandy (vista em foto de Paschoal Rodriguez) com a cantora inglesa Nerina Pallot, única convidada de Manuscrito. O álbum foi gravado no estúdio construído pela artista em Campinas (SP), sua terra natal, só que foi mixado no T.O.P Studio e masterizado no Metropolis Studio - ambos situados em Londres, na Inglaterra.

Sony quer O Rappa, que deverá ficar na Warner

Como o atual contrato do Rappa com a Warner Music expira neste ano de 2010, já há gravadoras mobilizadas para adquirir o passe do grupo carioca. Líder do mercado em 2009, a Sony Music é uma delas. Mas Falcão e Cia. tendem a permanecer na Warner - por onde gravam desde o início da carreira, em 1994 - pelo fato de serem prioridade na companhia (cujo elenco nacional é reduzido).

Camelo já grava segundo disco solo e lança DVD

Marcelo Camelo grava seu segundo disco solo no estúdio El Rocha, em São Paulo (SP). O grupo Hurtmold - que já participou de algumas faixas do primeiro CD individual do artista, Sou, de 2008 - toca em todas as músicas (inéditas) do novo álbum. O lançamento está previsto para o segundo semestre de 2010. Antes, Camelo edita seu primeiro DVD solo, captado em 3 de abril de 2009, em show feito na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador (BA). Namorada do cantor, Mallu Magalhães participa da música Janta, reeditando due feito no CD Sou. Sai via Sony Music.

Mason planeja CD que associa Drexler e Ramil

Cantora carioca que debutou no mercado fonográfico com o CD Mosaico, gravado em 2008 com produção de Rodrigo Campello, Beatrice Mason planeja um segundo álbum pautado pela estética do frio. A boa ideia de Mason é fazer um disco inteiramente dedicado às músicas dos compositores Vítor Ramil e Jorge Drexler. Aliás, em Mosaico, a artista já interpreta músicas do gaúcho Ramil e do uruguaio Drexler. O novo CD é para 2011.

Tributo a Bowie sai em julho com 32 releituras

O álbum duplo Repetition - A Tribute to David Bowie vai ser comercializado a partir de 30 de julho de 2010 pela gravadora Manimal Vinyl. O tributo reúne 32 regravações do repertório do Camaleão por um elenco quase totalmente indie. Os únicos nomes mais conhecidos são o grupo Duran Duran, o duo MGMT, o cantor John Frusciante, a cantora Carla Bruni e o neohippie Devendra Banhart. Toda a renda obtida com a venda do projeto - lançado nos formatos de CD, vinil e em edição digital - vai ser destinada à ONG War Child UK, que ampara crianças afetadas pelas guerras. Eis as 32 músicas e os intérpretes do tributo duplo Repetitition:

Disco 1:
1. Space Oddity - Exitmusic
2. Boys Keep Swinging - Duran Duran
3. Sound + Vision (em espanhol) - Megapuss (Devendra Banhart)
4. Ashes to Ashes - Warpaint
5. Always Crashing in the Same Car - Charlift
6. Suffragette City - A Place to Bury Strangers
7. Fame - All Leather
8. Afraid of Americans - We Are The World
9. Absolute Beginners - Carla Bruni
10. Heroes - VOICEsVOICEs
11. Be my Wife - Corridor
12. John, I'm Only Dancing - Vivian Girls
13. World Falls Down - Lights
14. Life on Mars - Keren Ann
15. Soul Love - Genuflex
16. Memory of a Free Festival - Edward Sharpe & the Magnetic Zeroes

Disco 2:
1. TVC 15 - MGMT
2. African Night Flight - Aska & Bobby Evans (com Moon & Moon)
3. Repetition - Tearist
4. Theme from Cat People - The Polyamorous Affair
5. Look Back in Anger - Halloween Swim Team
6. I'm Deranged - Jessica 6
7. Quicksand - Rainbow Arábia
8. Red Money - Swahili Blonde (com John Frusciante)
9. The Superman - Aquaserge
10. The Bewlay Brothers - Sister Crayon
11. Changes - Lewis & Clarke
12. Sound + Vision - Mechanical Bride
13. It Ain't Easy - Zaza
14. Ziggy Stardust - Ariana Delawari
15. Ashes to Ashes - Mick Karn
16. China Girl - Xu Xu Fang

5 de abril de 2010

Duetos fabricados nada somam à obra de Russo

Resenha de CD
Título: Duetos
Artista: Renato Russo (com convidados)
Gravadora: EMI Music
Cotação: * *

Idealizado pelo produtor Marcelo Fróes para festejar os 50 anos que Renato Russo (1960 - 1996) teria completado em 27 de março de 2010, mas posto efetivamente nas lojas a partir desta segunda-feira, 5 de abril, com expressiva tiragem inicial de 20 mil cópias, o CD Duetos fabrica encontros e emoções sem acrescentar nada de relevante à discografia solo do cantor. Assim como os também póstumos O Último Solo (1997) e Presente (2003), produzidos para faturar com o culto ao mentor da banda Legião Urbana. É fato que as junções virtuais de algumas vozes - como as de Russo e Fernanda Takai em Like a Lover (a versão em inglês de O Cantador gravada por Russo em janeiro de 1995, em um registro até então inédito) - primam pela perfeição técnica. Um mérito de Clemente Magalhães, produtor musical dos duetos forjados virtualmente em estúdio. Contudo, tal apuro técnico não justifica a edição do disco. Falta o conceito que havia em discos de Russo e da Legião Urbana.

Com exceção do duo que junta Renato e Cássia Eller (1962 -2001) em Vento no Litoral, com a voz da cantora extraída do show coletivo Tributo a Renato Russo (realizado no Rio de Janeiro - RJ, em 15 de dezembro de 1999), nenhuma faixa inédita deste trabalho póstumo chega a roçar a emoção que permeava os discos do artista. Originado de registro caseiro feito em dezembro de 1993 em fita DAT, o dueto com Marisa Monte - Celeste, embrião da única parceria da cantora com Russo, Soul Parsifal, gravada pela Legião em 1996 no álbum A Tempestade - foi bem restaurado em estúdio. Contudo, a produção adicional da faixa - capitaneada pelo produtor Carlos Trilha com o aval de Marisa - não atenua o fato de que a música em si é insossa, aquém dos históricos dos autores. Ao menos, este dueto não soa tão frio e tão burocrático quando o encontro forjado de Russo e Caetano Veloso em Change Partners, o standard de Irving Berlin (1888 - 1989). A faixa tem o mesmo tom asséptico dos duetos virtuais de Russo com Laura Pausini (Strani Amori, já cantada com mais vigor pela cantora italiana), Leila Pinheiro (La Solitudine, outro hit de Pausini) e Célia Porto (Come Fa Un'Onda, a versão italiana de Como Uma Onda, a balada havaiana de Lulu Santos que Célia entoa em português). No caso de La Solitudine, a voz de Leila soa tão apagada que fica até difícil perceber a técnica sempre irretocável da cantora. Mais valor (documental) têm os encontros com Dorival Caymmi (1914 - 2008) - no samba-canção Só Louco, cantado por Russo com leve empostação - e com Adriana Calcanhotto (Esquadros). Ambos foram promovidos em 1994, no estilo vozes & violão, para o programa de TV Por Acaso, apresentado por José Maurício Machline. Enfim, o oportunista Duetos - que agrega seis faixas já disponibilizadas anteriormente no anterior Presente e em CDs e DVDs de artistas como Erasmo Carlos (A Carta), Paulo Ricardo (A Cruz e a Espada) e 14 Bis (Mais Uma Vez, em registro bem inferior à versão solo de Russo que foi lançada postumamente em 2003 no recém-citado álbum Presente) - é disco formatado para cativar órfãos de Renato Russo. Pena que muitos destes fãs não percebam que tais tributos escondem interesses meramente mercantilistas que até contrariam a ideologia do artista supostamente celebrado.

Bethânia saúda 'Mundo de Dentro', CD de Dori

Dori Caymmi lança no Brasil, neste mês de abril de 2010, o 12º álbum de sua discografia solo, Mundo de Dentro, já editado nos Estados Unidos e Japão com o título de Inner World. No disco, Dori - visto acima em foto de Myriam Vilas Boas - recebe Edu Lobo (no frevo Chutando Lata) e Renato Braz (em Quebra-Mar). A novidade é que a edição brasileira do CD é apresentada por Maria Bethânia, que gravou pela primeira vez música de Dori - É o Amor Outra Vez, incluída pelo compositor em Mundo de Dentro - no seu recente álbum Tua (2009). Eis o texto-saudação de Bethânia:

"Dori,
Seu disco é lindo. Tudo que eu gosto tanto: linda música, poesia inspirada, amizades novas, velhos amigos, vozes raras, timbres e intenções belíssimos. Sua música cobrindo a palavra do Paulinho, encontro de pura luz. Saúde de já poder dizer só o que mais interessa.
Outros parceiros, que novidade tão bem-vinda essa parceria com o Chico, que saudade do Buarque assim, sabendo de cada pulsação, do ritmo de amar de uma mulher, e o melhor, tão comovido com isso!
Edu com sua voz que o frevo tingiu, machucando os corações em dueto com você. Ai, todas as saudades que sinto do Recife...
Obrigada por me deixar dizer quanto me comoveu seu disco, suas escolhas, sua dedicatória. É bonito ver você com sua música, ver a música lhe ganhando, lhe dando um baile, lhe governando, guiando, dizendo que sem ela não há saída, muito menos encanto.
Que alegria sentir o ninho bem cuidado."
Maria Bethânia
Rio de Janeiro, 3 de março de 2010.
P.S.: Quando cita Chico Buarque, Bethânia se refere à primeira parceria do compositor com Dori Caymmi, Fora de Hora - não exatamente uma novidade, pois foi composta para a trilha sonora do filme Lara (2003) e regravada por nomes como Nana Caymmi.

Vagamente, Wanda evoca registro 'cool' de 1964

Resenha de CD
Título: Declaração
Artista: Wanda Sá
& Roberto Menescal
Gravadora: Albatroz
Cotação: * * * 1/2

Em 1964, então dando os seus passos iniciais como produtor de discos, Roberto Menescal deu forma ao primeiro aclamado LP de Wanda Sá, Vagamente. Por conta de uma greve dos transportes públicos motivada pela tomada do poder pelos militares, uma das faixas mais elogiadas do álbum - Inútil Paisagem (Tom Jobim e Aloysio de Oliveira) - acabou sendo gravada em 1º de abril de 1964 apenas com a voz de Wanda, a guitarra semiacústica de Menescal e o contrabaixo de Sérgio Barrozo (a ideia inicial era gravar o tema com orquestra regida por Eumir Deodato). É o tom íntimo e minimalista dessa gravação cool que Wanda e Menescal perseguem no bom CD, Declaração, que lançam nesta segunda-feira, 5 de abril de 2010. As 14 faixas do disco - que equilibra no repertório inéditas como a faixa-título (parceria de Bena Lobo com Paulo César Pinheiro) com standards da MPB e da bossa - foram gravadas com a mesma formação, com a diferença de que o contrabaixo atualmente ficou a cargo de Adriano Giffoni. Embora seja o título mais interessante das recentes discografias de Wanda e Menescal, Declaração evoca apenas vagamente aquela gravação de 1964. Já não há, evidentemente, o frescor do álbum produzido há 46 anos. A própria voz de Wanda já soa mais densa (embora igualmente afinada). O que não impede que Declaração seja sedutor a seu modo. A dupla traz para esse universo mais íntimo músicas como Bilhete (Ivan Lins e Vítor Martins - sem a carga dramática da emblemática gravação feita por Fafá de Belém em 1982), Futuros Amantes (Chico Buarque, 1993) e Eu Canto meu Blues (parceria recente de Menescal com Oswaldo Montenegro). É fato que a safra de inéditas - que inclui Sapatos Felizes (da lavra de Menescal com Abel Silva) - não está à altura de clássicos como a própria Inútil Paisagem. É fato também que há certa linearidade nos arranjos e nas interpretações. Contudo, Declaração tem lá seus encantos...

Simone lembra Rangel em DVD sobre o diretor

Um dos mais expressivos diretores do teatro brasileiro, Flávio Rangel (1934 - 1988) encenou musicais que fizeram história na cena nacional. Entre eles, O Homem de la Mancha (1972) e Piaf - A Vida de uma Estrela da Canção (1983), ambos estrelados por Bibi Ferreira. Paralelamente à direção de peças teatrais, Rangel conduziu Simone em seis shows estreados pela Cigarra entre 1979 e 1986. Por isso mesmo, o depoimento da cantora - alocado nos extras do DVD que exibe o documentário Flávio Rangel - O Teatro na Palma da Mão - enriquece o DVD recém-lançado pela gravadora Biscoito Fino. Em depoimento colhido em junho de 2009, no estúdio da própria Biscoito Fino, Simone lembra com saudade do diretor que a guiou nos shows Pedaços (1979), Simone (1980), Amar (1981), Corpo e Alma (1982), Delírios & Delícias (1983) e Amor e Paixão (1986). "Ele foi o grande diretor da minha vida. Flávio me abraçava como pessoa e sabia que, dali, ele podia extrair um monte de coisas. Eu sempre fui muito aberta para o Flávio", ressalta Simone, terna, enfatizando também a luz teatral com que o diretor emoldurava os shows. A cantora revela também que foi de Rangel a sugestão de que ela cantasse Caminhando (Pra Não Dizer que Não Falei de Flores), música - então ainda controvertida!! - de Geraldo Vandré.

Zizi celebra Chico no DVD 'Cantos & Contos 2'

Levada por Roberto Menescal em 1978 para a extinta gravadora Philips (cujo acervo hoje pertence à Universal Music), Zizi Possi estreou no mercado fonográfico naquele mesmo ano - com o LP Flor do Mal - e contou com o aval instantâneo de Chico Buarque. Encantado com a técnica e com a voz metálica da jovem cantora, o compositor a convidou para fazer dueto com ele - em Pedaço de mim, música que Zizi regravaria em seu segundo LP por conta da repercussão do encontro - no especial gravado por Chico para a TV Bandeirantes e levado ao ar no fim de 1978. Zizi inseriu trecho do número no documentário exibido no segundo volume de seu DVD Cantos & Contos, recém-lançado pela gravadora Biscoito Fino. O trecho aparece enquanto Zizi, grata, lembra a importância que o aval imediato de Chico teve na consolidação de sua carreira.
P.S.: E por falar em Chico Buarque, o autor de Construção voltou a compor. Sinal de que um álbum de inéditas pode estar a caminho. Não será surpresa se o sucessor de Carioca (2006) sair em 2011.

'Dia da Loja de Discos' une Metallica e Sabbath

Comemorado no Reino Unido em 17 de abril, o Record Store Day - data que agrega as lojas independentes do mercado fonográfico britânico - gera uma série de gravações e discos. Os consumidores poderão comprar lançamentos exclusivos, de tiragens limitadas, de grupos como Queens of the Stone Age (o EP Feel Good Hit of the Summer), Them Crooked Vultures (um picture disc excusivo), Muse e Dead Weather, entre outros. Um dos discos mais curiosos produzidos para o Record Store Day é o vinil de 12 polegadas que une as bandas Black Sabbath e Metallica, ícones do heavy metal. Este vinil vai ter uma tiragem limitada de mil cópias, que vão ser vendidas somente no dia 17. De um lado do single, há um remix de Frantic (tema do repertório do Metallica) feito pelo Unkle, grupo inglês de trip hop. Do outro, há gravação de Paranoid, do Sabbath.

4 de abril de 2010

Lucina abre em cena seu íntimo buquê de flores

Resenha de Show
Título: + do que Parece
- Universo Musical de Lucina e Zélia Duncan
Artista: Lucina (em fotos de Mauro Ferreira)
Participações especiais: Luz Marina e Zélia Duncan
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 3 de abril de 2010
Cotação: * * * 1/2
Até então dispersas nas discografias de Lucina e de Zélia Duncan, as parcerias das compositoras - afinadas cantoras de vozes graves que soam extremamente parecidas - ganharam força e visibilidade adicionais quando Lucina reuniu em seu quarto CD solo, + do que Parece (2009), nove músicas dessa obra que já contabiliza mais de 50 títulos. O álbum motivou a produção de um show que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) na noite de sábado, 3 de abril de 2010, em apresentação no Teatro Rival que teve intervenções de Luz Marina (filha de Alzira Espíndola) e da própria Zélia. Em cena, dirigida por Marisa Avellar e emoldurada por belos desenhos de luz criados por Patrícia Ferraz, Lucina amplia o repertório do disco, mas procura manter a mesma atmosfera acústica - quase minimalista, de eventuais tons afros - que realça as sutilezas do universo musical que compartilha com Zélia. Em alguns números iniciais, quando Lucina canta e toca sua guitarra semiacústica em músicas como Sem Suspiros (com intervenção de Luz Marina) e Dias e Noites, o show não traduz com absoluta fidelidade o clima íntimo do CD. Mas, à medida em que vai ganhando delicadeza, o universo sensível das autoras parece se expandir, mais sedutor, sob a direção musical de Ney Marques. Fim - tema formatado com a suave percussão de Décio Gioielli que remete aos sons do grupo Uakti - prepara o clima para o belo set em que, sentada e às vezes tocando violão, Lucina solta seus graves na bluesy Meu Amor, Você Sabe e em Eu Nunca Estava Lá (música que foi ofuscada pelos vários hits do álbum Zélia Duncan, lançado em 1994). Na sequência, a própria Zélia entra em cena para irmanar vozes e sentimentos com a parceira afim em Eu Não Sou Eu (a música que lançou em 2005 no celebrado Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band), Olhos de Marte (apaixonada balada folk do CD + do que Parece) e Coração na Boca (do álbum Intimidade, lançado por Zélia em 1996). Mais tarde, após a quase vinheta Na Areia, o show ganha vivacidade rítmica com os contratempos lúdicos de Tom Zé - o tema que saúda tanto o compositor quanto o gato encontrado por Zélia na rua (e que conta com nova intervenção de Luz Marina) - e com a levada de samba que dá o tom de Lar Lunar, música gravada por Lucina em seu primeiro CD solo, Inteira pra mim (1998). No fim, Hora Marcada e Há Tempos (já no bis) sublinham o clima delicado de um show que, na apropriada definição de Lucina, é como um buquê repleto de flores-músicas que, no caso, exalam bons perfume e sentimento - como um relicário amoroso.

Zélia compartilha o universo cênico de Lucina

Em 2009, Lucina registrou nove parcerias com Zélia Duncan em + do que Parece, CD em que montou delicado mosaico de sons e sentimentos. Na noite de sábado, 3 de abril de 2010, Lucina ampliou este relicário amoroso em show no Teatro Rival (RJ) que contou com a participação afetiva da própria Zélia. Logo ao ser chamada ao palco pela parceira, Zélia expressou publicamente sua admiração pelo universo musical de Lucina, a quem disse ter aliciado como parceira. Juntas em cena, Zélia e Lucina - vistas acima em fotos de Mauro Ferreira - uniram suas vozes graves de timbres similares em três números. Cúmplices, as compositoras cantaram Eu Não Sou Eu (música gravada por Zélia em 2005, no álbum Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band), Olhos de Marte (a canção que abre + do que Parece) e Coração na Boca (tema lançado por Zélia em 1996, no CD Intimidade). O dueto foi + do que parece...

Abujamra vai do afro ao indiano no CD 'Mafaro'

Lançado neste mês de abril de 2010, o terceiro disco solo de André Abujamra, Mafaro, vai dos beats africanos aos ritmos indianos em safra globalizada de inéditas autorais que reflete as andanças do artista por cidades (Praga), por Estados (Maranhão) e por continentes (África) de latitudes diversas. O CD foi produzido por Sérgio Soffiatti em São Paulo (SP), metrópole brasileira que gerou o rapper Xis e o cantor e multiinstrumentista Curumin, convidados da faixas Abuxiscuruma. O time de convidados, a propósito, já dá a pista do tom globalizado do álbum. O maranhense Zeca Baleiro aparece em Lexotan enquanto o norte-americano Zach Ashton figura em Origem. Já o carioca Evandro Mesquita faz a locução de O Amor. Por sua vez, o baiano Luiz Caldas dá o ar da graça no reggae Tem Luz na Cauda da Flecha, ode a Oxossi. Em tempo: Mafaro significa Alegria no dialeto africano falado em Zimbabwe.

Shumacher sustenta o musical sobre Celestino

Resenha de Musical
Título: Vicente Celestino - A Voz Orgulho do Brasil
Texto, direção musical e arranjos: Wagner Campos
Direção: Jacqueline Laurence
Elenco: Alexandre Shumacher (em foto de Guga Melgar),
Stella Maria Rodrigues, Camila Caputti, Pedro Garcia
Netto, Edmundo Lippi, Jacqueline Brandão, Bruno
Ganem e André Rebustini
Cotação: * * *
Em cartaz no Teatro Sesc Ginástico (RJ) até 23 de maio
de 2010, de quinta-feira a domingo. Ingressos a R$ 20

Vicente Celestino (1894 - 1968) foi ícone e ídolo da geração dos cantores de dó-de-peito que conquistaram multidões na fase pré-Bossa Nova. Com sua voz de tenor, talhada para o canto lírico, Celestino incursionou de forma passional pelo universo da música popular, gravando valsas, canções e serestas em tom exacerbado. Projetado em 1914 ao cantar a valsa Flor do Mal na revista Chuá Chuá, o intérprete estreou em disco em 1916, na Odeon, ainda na fase mecânica da indústria fonográfica. Embora sua discografia contabilize 137 discos de 78 rotações por minutos, 10 compactos e 31 LPs (a maioria destes com regravações de sucessos dos discos de 78 rotações), Celestino hoje é mais lembrado - isso quando é lembrado - por seus sucessos O Ébrio (1946) e Coração Materno (1951), tendo sido o primeiro propagado em filme homônimo de grande repercussão, protagonizado pelo tenor e dirigido de sua mulher, a cantora lírica Gilda Abreu (1904 - 1979). Por isso mesmo, o musical ora produzido pela Limite 151 Cia. Artística - Vicente Celestino, A Voz Orgulho do Brasil, em cartaz no Teatro Sesc Ginástico (RJ) até 23 de maio - já entra em cena com o mérito inicial de reviver este artista multimídia que atuou na música, no cinema e no teatro, tendo sido celebridade em sua era.

Encarnar Vicente Celestino de uma forma crível é tarefa das mais árduas porque não é qualquer ator que consegue mostrar em cena a potência vocal de Celestino. Dono de voz de baixo, Alexandre Schumacher consegue - e, em sua atuação, se escora o musical de dramaturgia convencional. O autor Wagner Campos optou por salpicar flashes biográficos do tenor em texto que vai e volta no tempo, tomando como ponto de partida a morte do artista, em 23 de agosto de 1968, aos 74 anos, quando ele se preparava para gravar um número com Caetano Veloso para um programa de televisão (fiel à antropofágica ideologia tropicalista, Caetano acabara de regravar Coração Materno - então já vista como uma música cafona - para provocar discussões e reavaliar conceitos). O dramaturgo recorre inclusive ao artifício da narração - feita pela personagem Guido (Pedro Garcia Netto), amigo fiel de Celestino - para fornecer ao espectador informações sobre a longa trajetória artística do cantor. A seu lado, Shumacher conta com atuações convincentes das atrizes Stella Maria Rodrigues (Gilda Abreu na maturidade) e Camilla Caputti (Gilda Abreu na juventude - com direito a um número musical em que Caputti mostra a potência de sua voz). Contudo, é justo reconhecer que é Shumacher quem sustenta a voz - quando entoa temas como Porta Aberta (1946) e Canção da Paz (1966) - e a encenação em si, dando credibilidade ao musical. A lamentar a ausência no roteiro de Ontem ao Luar (Catulo da Paixão Cearense e Pedro de Alcântara) - uma das mais belas músicas do repertório (a rigor, ultrapassado) de Celestino - e o italiano risível falado em cena pelos atores que encarnam os pais do artista (Giuseppe e Serafina, interpretados por Edmundo Lippi e Jacqueline Brandão). No todo, Vicente Celestino - A Voz Orgulho do Brasil cumpre bem sua função sem, de fato, arrebatar. Mas é louvável a intenção de jogar luz sobre a vida e a obra de artista que causou sensação em seu vasto tempo de glória.