26 de maio de 2007

'Discoteca MTV' revive a pedrada de 'Selvagem?'

Resenha de programa de TV
Título: Discoteca MTV - Selvagem?
(Paralamas do Sucesso, 1986)
Exibição: MTV
Data: 25 de maio de 2007
Cotação: * * *

Lançado em 1986, Selvagem? foi disco visionário que marcou época com sua fusão de rock, reggae, levadas africanas e música brasileira. Foi uma pedrada no formato clássico do rock que há apenas quatro anos moldava um mercado pop no Brasil. E fez dos Paralamas do Sucesso o alvo de dura crítica. Inclusive de colegas. “Todo mundo deu pedrada... Titãs, Barão, Ira!...”, lembrou, com ar de vitória, Bi Ribeiro no programa da série Discoteca MTV que reviveu a saga do terceiro (renovador) álbum do trio carioca.

Ao fim do (bom) episódio, o vocalista e guitarrista do trio, Herbert Vianna, até filosofou: “Na linguagem paralâmica, Selvagem? é um vômito impressionista”. A produção do programa promoveu o reencontro de Herbert, Bi e João Barone com Liminha, no estúdio, para reouvir algumas músicas do álbum – caracterizado como um “divisor de águas” no depoimento do produtor. “Não foi um disco criado no estúdio”, salientou Liminha, como que ressaltando que a banda já chegou ao estúdio com as sementes que fariam brotar um dos trabalhos mais marcantes da década de 80. “Selvagem? antecipou tendência que ia vigorar nos anos 90”, contextualizou o jornalista Jamari França, autor da boa biografia do grupo, Vamo Batê Lata. Tendência que angariou fã ilustre como Rappin' Hood. "Adoro o repertório deste disco", testemunhou o rapper paulista.

“Em 1985, a gente ouviu muito reggae e música africana”, lembrou Barone, o baterista do trio. Então estudante universitário, Herbert recordou que cruzava a Favela da Maré na ida para a faculdade. A experiência desaguaria na letra de Alagados, o primeiro single do álbum. Gilberto Gil - convidado da faixa - assinaria os versos de A Novidade. E novidade foi tudo que os Paralamas apresentaram em seu álbum clássico. Digno de figurar na seleta Discoteca MTV...

Muda single do segundo CD solo de Paula Toller

A gravadora Warner Music já escolheu outro single para puxar o segundo CD solo de Paula Toller, Só Nós, nas lojas em junho. A idéia inicial era trabalhar duas músicas, All Over e À Noite Sonhei Contigo. Contudo, atrasos na liberação internacional de ambas as composições forçaram o adiamento do lançamento do disco para junho (antes, sairia em maio) e motivaram a troca do single. A nova música de trabalho é Meu Amor se Mudou pra Lua, já em rotação em rádios cariocas. A canção é de autoria de Nenung, o músico do grupo gaúcho The Darma Lovers.

DVD flagra Van Van em ação na Europa e Cuba

Formado em 4 de dezembro de 1969 pelo baixista Juan Formell, ainda hoje no comando, o grupo Los Van Van já é uma das referências da música cubana. Lançado neste mês de maio no mercado nacional pela nova gravadora Coqueiro Verde, o DVD Live in Europe flagra a orquestra em ação com sua mistura de ritmos da ilha com leves toques de jazz e de sons afros. O roteiro de 10 números do show europeu entrelaça músicas de Formell com tema (Canción Urgente para a Nicarágua) de Silvio Rodriguez - ícone da canção cubana. Nos extras, o DVD mostra a banda em ação em palco de Havana com vocais de Mayito Rivera.

Deluqui lança em julho seu segundo disco solo

Guitarrista projetado no RPM, Fernando Deluqui (foto) vai lançar em julho seu segundo CD solo, Delux, sucessor do álbum editado pelo músico - de forma independente - em 2000. Em meio à (mais uma) volta do RPM, Deluqui vai apresentar inéditas como Chuva, composta com Luiz Schiavon, o tecladista do RPM. Delux agrega convidados como Humberto Gessinger (mentor do grupo gaúcho Engenheiros do Hawaii) e Luiz Carlini, nome da banda Tutti Frutti.

25 de maio de 2007

Últimos shows de Los Hermanos serão gravados

Serão gravados os três shows que o grupo carioca Los Hermanos vai fazer na Fundição Progresso (RJ), de 7 a 9 de junho, antes de o quarteto entrar em recesso por tempo indeterminado. É provável que o registro da provisória despedida seja editado em DVD e em CD ao vivo. A banda nunca lançou uma gravação de show em CD...

Sandy & Junior ensaiam acústico com Ralphes

Prevista no início para maio, a gravação do Acústico MTV de Sandy & Junior foi marcada para 5 e 6 de junho - em São Paulo (SP). Junior vai dividir a produção com o galês Paul Ralphes, que encara de KLB a Skank. Na foto de divulgação de NPL (à direita), os irmãos ensaiam para a gravação. Ivete Sangalo é a única convidada já confirmada oficialmente, mas Milton Nascimento é um possível nome. No site oficial da dupla (www.sandyejunior.com.br), há votação para formar o repertório. O CD e o DVD serão lançados em agosto, precedendo a turnê nacional de despedida dos irmãos.

Dafé refaz seu baile com parceria com Baleiro

Cantor e compositor carioca projetado na onda Black Rio dos anos 70, Carlos Dafé (em foto de Kélita Myra) volta ao mercado fonográfico com CD, Bem-Vindo ao Baile, que vai sair em julho. Produzido por dois jovens fãs do artista, Marlon Sette e Felipe Pinaud, o álbum chegará às lojas pela Deckdisc. Dafé inaugura parcerias com Zeca Baleiro (em Sigo Só) e Heitorzinho dos Prazeres (Ana Foliana). Há também regravações como De Alegria Raiou o Dia, A Cruz e Venha Matar Saudades. As duas primeiras músicas foram lançadas por Dafé em seu primeiro bom LP, Pra que Vou Recordar, editado em 1977 - há 30 anos.

Nana deverá revisar carreira em projeto ao vivo

Já encerrada a série de álbuns com regravações do cancioneiro de seu pai, Dorival Caymmi, Nana Caymmi (foto) deverá gravar nos próximos anos um projeto retrospectivo ao vivo. O CD e o DVD (o primeiro solo da cantora) vão ser produzidos por José Milton. A intenção é dar uma geral na carreira de Nana. Ela vai regravar até Saveiros, a música com que levou histórica vaia ao vencer a final do Festival Internacional da Canção (FIC) de 1966. Belo projeto!!

24 de maio de 2007

Bublé extrapola universo de Sinatra em belo CD

Resenha de CD
Título: Call me
Irresponsible
Artista: Michael Bublé
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * *

Ainda é bem difícil dissociar o canto de Michael Bublé da voz de Frank Sinatra. Na primeira faixa deste quinto álbum do cantor canadense, The Best Is Yet to Come, parece até que nem o próprio Bublé faz questão disso. Canto e arranjo orquestrado com big-band evocam o estilo de Sinatra. O mesmo clima continua na segunda faixa, It Had Better Be Tonight, a despeito do leve toque de latinidade impresso na música de Henry Mancini. Mas é justo reconhecer que, a partir da terceira faixa, Me and Mrs. Jones, boa regravação do hit de Billy Paul, Bublé vai extrapolando o universo de Sinatra em repertório que mescla canções clássicas com outras contemporâneas. E a sua classe é uniforme. Seja em Lost (balada forrada com teclados), seja no registro lento e delicado de Always on my Mind, sucesso de Willie Nelson. No meio, há a velha bossa brasileira em Wonderful Tonight, faixa que conta com o vocal (em português) de Ivan Lins. Mais no fim, o coro gospel de That’s Life sinaliza que Bublé, aos poucos, conseguirá delimitar seu próprio universo. Ainda que o sublime cover de Dream (Johnny Mercer, 1944), que fecha o CD, confirme que a habilidade do artista como crooner à moda antiga paira acima de comparações com Sinatra.

Berna e Kassin produzem quarto do Autoramas

Teletransporte é o título do novo CD do Autoramas. Editado este mês pelo selo Mondo 77, o quarto disco do grupo indie foi produzido pela dupla Berna Ceppas e Kassin. Hotel Cervantes, Surtei, Mundo Moderno e Eu Mereço estão entre as inéditas da lavra de Gabriel Thomáz, autor, vocalista e guitarrista da banda. O músico Lafayette, ícone da Jovem Guarda com seu órgão, toca na faixa Panair do Brasil. Joana Ceccato, da banda paulista Biônica, faz locução em Digoró, cover do repertório do grupo brasiliense Radical sem Dó. O CD anterior do Autoramas foi editado em 2004.

KLB constrange com 'covers' de bandas nativas

Resenha de CD
Título: Bandas
Artista: KLB
Gravadora: Universal
Music
Cotação: *

Fica difícil entender o que se passa na cabeça do executivo de uma gravadora – no caso, a Universal Music – para criar e desenvolver um projeto tão descabido quanto este incrível CD de covers do KLB de bandas que marcaram época na história do pop nacional. É fato que o trio formado pelos irmãos Kiko, Leandro e Bruno tem lá seu charme junto ao seu público juvenil. Mas talvez até este séqüito pouco exigente de fãs não engula um CD em que o KLB arrisca regravar músicas de grupos como Mutantes (Balada do Louco), RPM (Rádio Pirata), Secos & Molhados (O Vira) e até Ultraje a Rigor (Nós Vamos Invadir sua Praia). Claro que tudo soa como xerox bastante apagada dos registros originais. Os arranjos são clonados das gravações das bandas que lançaram as músicas. E o que dizer dos vocais de Leandro???!!! Sofríveis e desajustados. Curiosamente, Kiko soa bem menos constrangedor do que o irmão quando assume o microfone para cantar Pro Dia Nascer Feliz, hit do Barão Vermelho em 1983. Se o repertório tivesse se restringido ao cancioneiro pueril da Jovem Guarda, talvez o resultado ainda conseguisse extrapolar um pouco o clima de karaokê que permeia todo o disco. Mas, definitivamente, o KLB não tem o mínimo cacife para historiar o pop nativo. E de nada adianta a produção de Paul Ralphes. Como de nada também adiantam as cordas que adornam Todo Azul do Mar (14 Bis) e O Astronauta de Mármore (Nenhum de Nós). O resultado é invariavelmente ruim. E cabe lembrar que a gravação original de Erva Venenosa foi feita pelo conjunto Golden Boys na década de 60 e não pelo grupo Herva Doce em 1982 como afirma erroneamente o - apesar deste vacilo - informativo encarte.

DVD revive Carl Perkins com amigos em 1985

Gravada ainda em 1955 pelo autor Carl Perkins, mas lançada em compacto no começo de 1956, Blue Suede Shoes faria mais sucesso no registro imediatamente posterior de Elvis Presley. Entretanto, a composição deu a Carl Perkins lugar de honra na história inicial do rock'n'roll e foi com o pretexto de comemorar os 30 anos de seu hit seminal que ele reuniu alguns colegas - entre eles, Eric Clapton e os ex-Beatles George Harrison e Ringo Starr - no longínquo 21 de outubro de 1985 no Limehouse Studios, em Londres, para gravar especial de TV. Tal programa está sendo rebobinado no DVD Carl Perkins and Friends - editado neste mês de maio no mercado brasileiro pela nova gravadora Coqueiro Verde. No repertório, há primazia de temas de Carl Perkins como Honey Don't, Matchbox, Turn Around, Your True Love e - claro - Blue Suede Shoes (duas vezes). Para velhos roqueiros saudosistas.

23 de maio de 2007

As raridades não muito raras de Zezé & Luciano

Raridades é o título da nova coletânea de Zezé Di Camargo & Luciano que está chegando às lojas pela gravadora Som Livre com 14 encontros da dupla sertaneja com nomes como Dominguinhos (Tenho Sede), Chico Buarque (Minha História), Daniela Mercury (Eu Só Quero um Xodó) e até Julio Iglesias (Dois Amigos). Só que vale ressaltar que as raridades não são assim tão raras. Boa parte delas foi lançada no sétimo volume da coleção Dois Corações e uma História, vendido separadamente em várias lojas virtuais. De inédito, há somente uma gravação com Wanessa Camargo, Eu Nasci pra Amar Você. Nada que justifique o título Raridades!!...

Vânia Bastos revê carreira em 'Tocar na Banda'

Cantora paulista projetada nos anos 80, durante o movimento vanguardista comandado por Arrigo Barnabé, Vânia Bastos passa em revista sua carreira no ótimo repertório do DVD (o primeiro da artista) e CD (capa à esquerda) ao vivo Tocar na Banda. DVD e CD chegarão às lojas em junho pela gravadora Dabliú. O projeto revisionista de Vânia Bastos registra show gravado em 2005 no Teatro do Sesc Vila Mariana, em São Paulo (SP). Eis o roteiro do show, incluído na íntegra apenas no DVD (as faixas com * também entraram no CD):

1. Cidade Oculta (Arrigo Barnabé,
Eduardo Gudin, Roberto Riberti) *
2. Eternamente (Tunai, Sérgio Natureza e Liliane) *
3. Eu Sou É do Papai (My Heart Belongs to Daddy)

(Cole Porter em versão de Carlos Rennó) *
4. O Beto (Regina Rehda, Sandra Rogers, Elaine Farah)
5. Sabor de Veneno (Arrigo Barnabé)

/O Rouxinol (Gilberto Gil / Jorge Mautner)
6. Mal Menor (Itamar Assumpção) *
7. Casaco Marrom (Danilo Caymmi, Renato Corrêa e Guarabyra) *
8. Você Não Entende Nada (Caetano Veloso)
9. Trem das Cores (Caetano Veloso) *
10. Nem Camões (Eduardo Gudin e Luiz Tatit) *
11. Luiza (Tom Jobim) *
12. Loosi Yelav (tema do folclore armênio)
13. Sonora Garoa (Passoca)
14. Certas Coisas (Lulu Santos e Nelson Motta) *
15. Pra Sempre e Mais um Dia (Marina Lima e Antônio Cícero)
16. Paulista (Eduardo Gudin e J.C. Costa Netto) *
17. Chegou a Bonitona (Geraldo Pereira e José Batista)

/ A Vizinha do Lado (Dorival Caymmi) *
18. Esse Rapaz (Eduardo Gudin) *
19. Absolutamente (Joubert de Carvalho e Olegário Mariano) *
20. Frou-Frou (Rita Lee e Roberto de Carvalho)

/ A Filha da Chiquita Bacana (Caetano Veloso)
21. Tocar na Banda (Adoniran Barbosa) *

Tributo a Ella marca os 90 anos da diva do jazz

Para lembrar os 90 anos que a dama Ella Fitzgerald (1917 - 1996) completaria em 2007, a gravadora Verve produziu um tributo em que nomes como Michael Bublé e Diana Krall recriam o repertório celebrizado pela intérprete. We All Love Ella (capa acima) tem lançamento mundial agendado para junho. A própria diva do jazz encerra o disco na faixa inédita You Are the Sunshine of my Life, um registro ao vivo da música de Stevie Wonder, feito por Ella em 1977 no New Orleans Jazz and Heritage Festival. A produção é de Phil Ramone. Eis a lista de músicas e astros de We All Love Ella:
1. A-Tisket, A-Tasket - Natalie Cole
2. Lullaby Of Birdland - Chaka Khan
3. The Lady Is A Tramp - Queen Latifah
4. Dream A Little Dream of Me - Diana Krall e Hank Jones
5. (If You Can Sing It) You'll Have To Swing It - Natalie Cole com Chaka Khan
6. Oh, Lady Be Good! - Dianne Reeves
7. Reaching For The Moon - Lizz Wright
8. Blues In The Night - Ledisi
9. Miss Otis Regrets - Linda Ronstadt
10. Someone To Watch Over Me - Gladys Knight
11. Do Nothin' Till You Hear From Me - Etta James
12. Angel Eyes - k.d. Lang
13. Too Close for Comfort - Michael Bublé

14. You Are the Sunshine of my Life - Ella Fitzgerald com
Stevie Wonder
15. Cotton Tall - Dee Dee Bridgewater

16. Airmail Special - Nikki Yanofsky

Yusuf registra os sucessos de Stevens em DVD

De volta ao mundo pop em 2006, Yusuf Islam canta sucessos da época em que se chamava Cat Stevens em DVD gravado em março, na casa Porchester Hall, em Londres. No roteiro do show intimista, perpetuado no DVD intitulado Yusuf's Café Session, nas lojas já em junho em lançamento mundial da Universal Music, há hits de Stevens como Father & Son e Where Do the Children Play. Contudo, o repertório prioriza as músicas do CD An Other Cup of Coffee. Além do show, o DVD exibe nova edição - com trechos inéditos - do documentário A Few Good Songs, uma produção da BBC criada para exibição na rede de televisão inglesa.

22 de maio de 2007

Péricles fica entre a vanguarda e o pop irônico

Resenha de CD
tulo: O Rei da Cultura
Artista: Péricles
Cavalcanti
Gravadora: DeleDela
Cotação: * * 1/2

Compositor cult gravado por nomes como Simone, Adriana Calcanhotto e Caetano Veloso, Péricles Cavalcanti transita com fina ironia numa tênue linha entre a música de vanguarda e a canção feita no mainstream. Neste bom quinto CD, ele não roça a beleza de Canções (seu primeiro álbum, de 1991). Contudo, se confirma como artista bem inquieto. O Rei da Cultura soa irônico já a partir do título tropicalista. Péricles faz experimentos poéticos em um mosaico rítmico que flerta com o rock (O Galope do Guitarrista Apaixonado), o bolero (Sou Sua) e com a efervescência latina (Porto Alegre - Nos Braços de Calipso). Após odes ao erotismo feminino (Eva e Eu - com letra de Arnaldo Antunes - e Mangá), Péricles fecha o disco com o redondo Samba do Eterno Retorno, que traz a voz do hermano Rodrigo Amarante (autor da boa capa e do projeto gráfico) no tema incidental É pra Sambar. A faixa-título tem produção de Pedro Sá e agrega a turma carioca formada por Domenico Lancelotti e Moreno Veloso, autor do texto de apresentação do CD. Cantor muito deficiente, Péricles apresenta substancial manancial de canções que deverão ganhar melhor tratamento vocal em futuros registros de Calcanhotto etc.

'Bordado' costura obra inspirada de Maranhão

Resenha de CD
Título: Bordado
Artista: Rodrigo
Maranhão
Gravadora: MP, B
/ Universal Music
Cotação: * * * *

Bordado é a síntese da obra inspirada de um compositor carioca que já estava dispersa nos álbuns de cantores como Maria Rita, Roberta Sá, Pedro Luís e Fernanda Abreu. Rodrigo Maranhão vinha tecendo grande cancioneiro urdido com ritmos brasileiros. Neste primeiro disco solo, o integrante da banda Bangalafumenga explora a variedade de ritmos nacionais em registros despojados, gravados de forma econômica. E o que salta aos ouvidos é a beleza uniforme do repertório. O compositor transita por xote (O Osso), aboio (Olho de Boi), ciranda (Caminho das Águas, em uma levada mais próxima do coco e ligeiramente menos melódica do que a feita por Maria Rita em seu CD Segundo), samba (Pra Tocar na Rádio e Recado, este cantado a capella) e samba-de-roda (Todo Dia). Fora da fronteira tupiniquim, Maranhão usa elementos de tango na poética Milonga e flerta com sons orientais na pungente canção Noites do Irã. Enfim, Rodrigo Maranhão borda toda uma pluralidade rítmica que reverencia o Brasil sem xenofobia e com visão contemporânea (há timbres eletrônicos no Baião Digital). Merece a projeção que Lenine obteve ao lançar seu primeiro solo há exatos dez anos, pois nada fica a dever ao colega. Ele vai longe.

Klaxons faz bom pop além do rótulo 'new rave'

Resenha de CD
Título: Myths of the
Near Future
Artista: Klaxons
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * * *

O Klaxons é um grupo inglês que adquiriu aura hype antes mesmo de lançar este ótimo primeiro CD. No caso, todo o oba-oba foi criado em torno de um rótulo, new rave, que designaria um rock eletrônico urdido para as pistas com camadas de sintetizadores. É certo que faixas como Atlantis to Interzone e Magick (um dos singles que precederam o álbum) transitam mesmo neste universo. Contudo, Myths of the Near Future transcende bem o rótulo new rave. Em essência, o Klaxons apresenta revigorantes gemas pop como Golden Skans e Two Receivers. Tem algo de Erasure, tem algo de Pet Shop Boys (especialmente na faixa As Above, So Below), mas, sobretudo, o Klaxons soa como Klaxons. E não é que It's Not Over Yet é um excelente hit radiofônico? Não é new e tampouco rave, e é ótimo.

Fagner acerta com romantismo lírico e sereno

Resenha de CD
Título: Fortaleza
Artista: Fagner
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * *

Depois de um CD meio fora de hora, Donos do Brasil (de 2004), lançado na seqüência do belo álbum dividido com Zeca Baleiro, Fagner retorna ao mercado fonográfico com Fortaleza, CD de razoáveis inéditas. É trabalho marcado pela serenidade. Uma aposta no romantismo lírico - como já sinaliza a faixa Amor e Utopia, parceria de Fagner com Fausto Nilo. Entre as baladas e os boleros, Fortaleza mostra também improvável parceria de Evaldo Gouveia com Paulo César Pinheiro, Preciso de Alguém. Evaldo, vale lembrar, vem do Ceará.

Fagner produziu o disco na tentativa de criar um som mais pop e contemporâneo. Só que o universo evocado por Fortaleza é o da MPB mais tradicional. E o fato é que Fagner se mostra forte em sua placidez como sinaliza na letra de Difícil Acreditar, a parceria com Clodô que se destaca entre as inéditas. O disco já começa bem com ótimo arranjo que dilui o sentimentalismo de Rancho das Flores, tema letrado por Vinicius de Moraes (1913 - 1980) sobre melodia da cantata Jesus, Alegria dos Homens, composta por Bach (1685 - 1750). Aliás, destaca-se nos arranjos Cristiano Pinho, responsável pelas guitarras e violões do disco. Pinho é o diretor musical do CD.

Fortaleza é CD em que Fagner apara excessos e evita arroubos. Inclusive os vocais. É no clima sereno e lírico que ele homenageia a capital do Ceará na faixa-título - com versos de Fausto Nilo que evocam Mucuripe, a parceria de Fagner e Belchior que detonou a carreira dos compositores a partir de 1972 - e se deixa levar pela nostalgia bucólica de No Tempo dos Quintais, antiga parceria de Sivuca e Paulinho Tapajós, já gravada por Fagner no disco Cabelo de Milho, lançado por Sivuca em 1980. Era tema pedido no show.

Se Maria Luiza (Fagner e Câmara Cascudo) reforça o laço lírico do CD, Maria do Futuro joga luz sobre jóia obscura do cancioneiro de Taiguara (1945 - 1996). Numa aquarela de texturas suaves, a tinta fica levemente mais forte apenas no tango Colando a Boca no teu Rosto, que junta Fagner a Zeca Baleiro. Abrindo o leque rítmico, há ainda um pop reggae (Fácil de Entender, composto por Jorge Vercilo - o convidado da faixa, em trio formado com Fagner e com o cearense Paulo Façanha) e um forró (Toque, Sanfoneiro, Toque) que deixa impressão agradável ao fim de CD que não está entre os melhores de Fagner, mas acerta na opção pela serenidade madura.

21 de maio de 2007

Samba de Fato registra a obra de Mauro Duarte

Compositor de grandes sucessos de Clara Nunes (entre eles, Lama, Canto das Três Raças, Portela na Avenida), sozinho ou em parceria com Paulo César Pinheiro, Mauro Duarte (1930 - 1989) - que também era conhecido nas rodas de samba como Bolacha - deixou composições inéditas feitas em parceria com Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Cristina Buarque, Paulinho César Pinheiro, Carlinhos Vergueiro e Hermínio Bello de Carvalho, entre outros. Esta valiosa produção vai ganhar registro em disco no trabalho duplo que marcará a estréia do grupo Samba de Fato no mercado fonográfico. Formado por Alfredo Del-Penho, Paulinho Dias, Pedro Amorim e Pedro Miranda, o grupo já assinou contrato com a Deckdisc para gravar o álbum - em fase de seleção de repertório. O Samba de Fato gravará apenas sambas de Duarte.

Nine Nails registra turnê 'With Teeth' em DVD

Em seu terceiro registro de show em vídeo, Live: Beside You in Time, editado em DVD com a gravação (feita em março de 2006) de dois shows da turnê de lançamento do álbum With Teeth (2005), o grupo Nine Inch Nails é enfocado pelas câmeras refinadas do diretor Rob Sheridan. No roteiro de 24 números, a banda do vocalista Trent Reznor alterna músicas do último CD de estúdio (Only, The Hand that Feeds) e temas mais antigos (Closer, Head Like a Hole, Hurt). Nos fartos extras, há clipes e trechos de ensaio dos shows. Sai pela Universal.

Chegará em junho a ajuda musical para Darfur

Vai sair em 12 de junho, nos Estados Unidos, pela Warner Music, o álbum duplo Instant Karma - The Amnesty International Campaign to Save Darfur. O disco conta com 27 recriações de músicas de John Lennon por time estelar de artistas que inclui os grupos U2 e Green Day. O objetivo é levantar fundos com a venda do CD para a sofrida população de Darfur (Sudão Ocidental), o país africano que está em conflito desde 1993. Por conta da crise, uma das piores de acordo com a Unicef, já morreram 400 mil pessoas e 3,5 milhões passam privações neste momento. No Brasil, Instant Karma deverá estar nas lojas a partir de 25 de junho. Eis a lista de músicas e intérpretes do álbum duplo, de caráter humanitário:

Disco 1:
1) Instant Karma - U2
2) #9 dream - R.E.M.
3) Mother - Christina Aguilera
4) Give Peace a Chance - Aerosmith
(com Sierra Leone's Refugee All Stars)
5) Cold Turkey - Lenny Kravitz
6) Love - The Cure
7) I'm Losing You - Corinne Bailey Rae
8) Gimme Some Truth - Jakob Dylan
9) Oh, my Love - Jackson Brown
10) One Day at a Time - The Raveonettes
11) Imagine - Avril Lavigne
12) Nobody Told me - Big & Rich
13) Mind Games - Eskimo Joe
14) Jealous Guy -Youssou N'Dour

Disco 2:
1) Working Class Hero - Green Day
2) Power to the People - Black Eyed Peas
3) Imagine - Jack Johnson
4) Beautiful Boy - Ben Harper
5) Isolation - Snow Patrol
6) Watching the Wheels - Matisyahu
7) Growl Old with me - The Postal Service
8) Gimme Some Truth - Jaguares
9) (Just Like) Starting Over - The Flaming Lips
10) God - Mike Fleetwood, Jack's Mannequin
11) #9 Dream - A-ha
12) Instant Karma - Tokyo Hotel
13) Real Love - Regina Spektor

Tribo lança dois CDs e reedita álbum de estréia

Já fora da gravadora Indie Records, a Tribo de Jah está lançando dois CDs pelo selo Central de Reggae. Love to the World, Peace to the People foi gravado inteiramente em inglês e é dirigido ao mercado externo. Já The Babylon Inside foi feito para o Brasil, apesar de incluir três músicas em inglês extraídas do outro álbum - além da versão em português de The Little You Do, intitulada O Pouco a Fazer. Paralelamente, a banda está reeditando seu álbum de estréia, Roots Reggae, de 1993. A nova reedição reapresenta o disco com suas 17 faixas originais. Na última reedição, da Indie Records, três faixas tinham sido suprimidas por questões autorais.

20 de maio de 2007

Biografia capta a gangorra emocional de Maysa

Resenha de livro
Título: Maysa - Só numa
Multidão de Amores
Autor: Lira Neto
Editora: Globo
Cotação: * * * *

Quando a Brasília azul dirigida a mais de 100 km por hora por (uma sóbria) Maysa se chocou contra os muros de concreto da ponte Rio-Niterói, no fim da tarde triste de 22 de janeiro de 1977, fechava-se entre as duras ferragens do carro retorcido o ciclo intenso de uma das vidas mais apaixonadas e conturbadas da música brasileira. Foi vida movida a álcool, amores, música, escândalos e a um natural talento para desafiar as normas da moral vigente. Vida cuja essência sensível o jornalista Lira Neto consegue resumir nas 393 páginas da biografia da cantora que amou, viveu, bebeu, cantou e barbarizou demais.

Se a biografia quase simultânea Meu Mundo Caiu - A Bossa e a Fossa de Maysa exibe mais a forma de um ensaio poético sobre a cantora, escorado no texto espirituoso de Eduardo Logullo, Só numa Multidão de Amores tem a consistência de uma devida biografia, apurada sob rigor jornalístico. Lira Neto capta e retrata a gangorra emocional da biografada. E ter o aval dos herdeiros de Maysa, com acesso irrestrito aos diários da artista, não deixou o livro com caráter chapa-branca. Ao contrário. Maysa é retratada com intensidade isenta nas páginas da biografia. Sem julgamentos. Sem tentativas de maquiar o temperamento tão sensível quanto sombrio da artista. Se sofreu, e muito, Maysa também fez sofrer...

O acesso aos escritos mais íntimos da biografada dá conseqüente atestado de veracidade aos fatos revividos. Neto escreve sob os estados d'alma de Maysa com a autoridade de quem não precisou recorrer somente a terceiros. É a própria Maysa que, volta e meia, toma conta da envolvente narrativa na primeira pessoa através da reprodução de trechos de seus diários e de uma autobiografia que nunca saiu do papel. O livro parte de uma das muitas tentativas de suicídio da artista - no caso, em 11 de fevereiro de 1958, quando ela já contabilizava 22 anos e já fazia sucesso como cantora - para reconstituir os passos de Maysa Figueira Monjardim, nascida em 6 de junho de 1936, no Rio de Janeiro, em seus 40 turbulentos anos.

Criada entre Vitória e o Rio, Maysa logo despertou para a música. Que logo disputaria espaço com a vida de princesa moldada para ela. Um casamento precoce, com André Matarazzo, logo poria à prova a determinação de Maysa. Pioneira feminista, ela faria valer seus direitos, mas o fim da união conjugal lhe daria o passaporte para o inferno do álcool. Contra a bebida, travou numerosas lutas ao longo da vida. Lira detalha todas. Como também os excessos a que Maysa era levada pelas doses cavalares de uísque e vodca que bebeu dentro e fora do Brasil. Nisso, reside o mérito da biografia. Maysa é retratada com erros e acertos. Inclusive na música, pois sua discografia alternava grandes discos com álbuns equivocados. Só que pairou acima de tudo - dos discos, dos erros, dos pileques, dos excessos e dos amores - a sua voz personalíssima que exalava melancolia quando desfiava seu rosário noturno de lamentações amorosas. Se o mundo de Maysa caiu diversas vezes, ela soube se levantar. E coube a Lira Neto sintetizar nesta grande biografia o levantamento de vida marcada pela intensidade e que, por conta da voz imortal da dona, não se acabaria entre as ferragens de um carro retorcido justamente quando ela mais parecia querer viver.

Zélia acerta ao se transformar de novo em Zélia

Resenha de DVD
Título: Pré Pós Tudo Bossa Band

– O Show
Artista: Zélia Duncan
Gravadora: Duncan Discos

/ Universal Music
Cotação: * * * *

Zélia Duncan vivia seu auge artístico com dois sucessivos CDs muito bem recebidos por público e crítica - Eu me Transformo em Outras (2004) e Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band (2005) - quando surpreendeu todo o meio musical ao ser anunciada como a vocalista que ocuparia o lugar de Rita Lee na volta dos Mutantes. Sua postura discreta nos palcos divididos com os Mutantes está aquém de sua capacidade de intérprete – e Zélia somente tem evoluído como artista, como atesta o registro do show Pré-Pós-Tudo-Bossa-Band em DVD filmado com requinte em 18 de novembro de 2006 no Auditório Ibirapuera (SP). Justo na semana em que os Mutantes lançavam o DVD e o CD duplo gravados numa única apresentação em Londres.

Zélia acerta ao editar a gravação somente em DVD e ao descartar um CD que seria inevitavelmente redundante. Ainda que o roteiro já apresente algumas novidades em relação à estréia nacional do show. Próxima Encarnação - tema de Itamar Assumpção, em que a artista cita Cigarra, de Milton Nascimento e Fernando Brant - e a enfática Chega Disso (inédita de Alzira Espíndola e Arruda) são as boas novas de um show em mutação que foi captado em momento já azeitado. Com direito às participações de Hamilton de Holanda (cujo bandolim trava diálogo inquieto com a voz grave de Zélia em Capitu) e de Anelis Assumpção (no dueto cool que valoriza a linda Milágrimas - mais uma jóia de Itamar da qual Zélia se apropriou).

Nos extras, entre bons clipes de Vi, Não Vivi e Redentor, o mesmo Hamilton volta à cena com o take de Valsa em Si, inédita exibida no show, mas não incluída no roteiro oficial. No todo, a gravação celebra os 25 anos de carreira de uma artista que tem sabido se preservar das garras da indústria fonográfica. Mutantes à parte, Zélia Duncan fica ótima quando se transforma em... Zélia Duncan!!

Retrato pequeno e sem retoque de Tim em cena

Resenha de CD / DVD
Título: Tim Maia in Concert
Artista: Tim Maia
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * *

Tim Maia (1942 – 1998) não viveu para ver a era do DVD. E também não foi um artista de imagens fartas em VHS. Daí o valor de Tim Maia in Concert, DVD e CD que põem o Síndico em cena com material extraído da gravação do raro especial exibido pela Rede Globo em março de 1989. O DVD perpetua os 32 elétricos minutos do programa que foi ao ar - editado a ponto de parecer mutilado. Ainda assim, é um curto e belo retrato sem retoques de Tim, que não se impressionou com o aparato montado pela emissora, em janeiro de 1989, no Teatro do Hotel Nacional e se comportou da forma irreverente com que se mostrava em cena. Fosse em clube da favela ou numa casa de luxo, Tim Maia sempre era... Tim Maia!!

O diferencial deste DVD é que ele capta Tim em produção luxuosa. Orquestra de cordas dividiu o palco com a habitual Banda Vitória Régia para que ele enfileirasse com propriedade infalível arsenal de sucessos, alguns responsáveis por ter dado cor brasileira à soul music americana. “Todo mundo refrescando o cê-cê”, ordenou o Síndico ao orquestrar as palmas do público. É, Tim não fez gênero por estar diante de platéia vip que incluía estrelas como Erasmo Carlos, Lulu Santos e Vera Fischer, saudada por ele em cena como “a coisa mais linda do mundo”. Uma cantada, e em rede nacional...

As cordas deram tempero especial às baladas como Me Dê Motivo. Pena que números como Azul da Cor do Mar sejam apresentados na íntegra somente no CD. Embora a mutilação seja um (d)efeito da edição original do programa, a redução do especial desvaloriza DVD que tinha tudo para ser antológico por flagrar Tim em cena sem embuste e com produção que inexiste no - até então - único e descuidado DVD do cantor, lançado pela Paradoxx há alguns anos.

Trechos de entrevista antológica gravada para o especial pontuam números como Coroné Antonio Bento, em que Tim simula sotaque nordestino para realçar a bela ponte erguida entre João do Vale e James Brown. Para quem abre mão da imagem e valoriza apenas o som, o CD rebobina em 62 minutos o áudio quase integral do show – com a vantagem de incluir músicas suprimidas do especial, caso de Baby, a canção de Caetano Veloso que Tim embebe em suingue soul. Corte à parte, Tim Maia in Concert tem inegável valor por eternizar 32 minutos do balanço e da verve do Síndico nos palcos.

Jane e Arismar cantam Marias em CD jazzístico

Jane Duboc e Arismar Espírito Santo lançam ainda neste semestre, pela Biscoito Fino, o CD Uma Porção de Marias. Trata-se de um trabalho mais jazzístico em que a bela cantora e o músico recriam músicas de compositores como Ataulfo Alves, Ary Barroso, Carlos Lyra, Haroldo Barbosa, Mário Lago e Vinicius de Moraes. Os temas do repertório falam de mulheres nas suas letras. Daí o título do CD.