8 de novembro de 2008

A Arte popular de Candeia pulsa forte no teatro

Resenha de Musical
Título: É Samba na Veia, É Candeia
Autoria: Eduardo Rieche
Direção: André Paes Leme
Local: Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil (RJ)
Cotação: * * * *
Em cartaz de quarta-feira a domingo, às 19h30m.
Até 30 de novembro de 2008

Um dos pilares do samba carioca, Antonio Candeia Filho (1935 - 1978) foi duro na queda. Homem de cabeça e pensamentos fortes, o autor de Pintura sem Arte volta e meia carregou nas tintas para defender seus ideais em favor da preservação das tradições do samba e da raça negra. Seu sangue quente voltou a pulsar em cena no Teatro III do Centro Cultural do Banco do Brasil, onde fica em cartaz até 30 de novembro de 2008 o gracioso musical É Samba na Veia, É Candeia, solitária homenagem ao compositor no 30º aniversário de sua morte. Bem distante do modelo de musical exportado pela Broadway, o espetáculo tem sua força justamente na brasilidade da encenação descontraída do diretor André Paes Leme. O público é ambientado no quintal da casa de Candeia - com direito a uma pinga servida na entrada pelos atores - e, como se estivesse no clima descontraído de um pagode, é convidado a entrar no mundo de Candeia. Na música e na alma de Homem de princípios sólidos que dizia o pensava, nadando contra correntes.

Mito da resistência cultural afro-brasileira, como é apresentado no programa da peça, Candeia é encarnado nos palcos pelo ator Jorge Maya, que convence tanto nas cenas em que é revelada a face mais arrogante do sambista - quando no exercício de seu ofício de policial civil - como nos momentos em que Candeia (quase) se deixa abater pela fatalidade de ter ficado preso a uma cadeira de rodas por conta de uma discussão no trânsito. A cena em que Candeia, entre lágrimas, amarga sua sina é pungente e confirma o talento de Maya, solista de temas como Preciso me Encontrar. Contudo, todo o elenco tem desempenho uniforme e parece estar em total sintonia com o universo da personagem enfocada no texto de Eduardo Rieche. É justo destacar a vivacidade de Édio Nunes, que se reveza nos papéis de Casquinha, Argemiro Patrocínio e Manoel, valorizando as cenas de maior comicidade. Assim como Érika Ferreira, que também extrai humor das cenas de Firmina, a vizinha atribulada de Leonilda (Patrícia Costa, à vontade num papel que oscila entre o cômico e o dramático), a mulher de Candeia, seu esteio na saúde e na doença.

Ao sair de cena em 16 de novembro de 1978, Candeia deixou cerca de 110 composições. Com partidos do alto quilate de Peixeiro Granfino e A Flor e o Samba, o roteiro do musical enfileira 27 músicas de Candeia - com a informalidade típica de uma roda de samba - e inclui o samba-enredo Legados de D. João VI, com o qual a Portela se sagrou vencedora do Carnaval de 1957. Apenas dois sambas não são da lavra do compositor. Um deles, O Sonho Não Acabou, o tributo prestado ao mestre pelo fiel discípulo Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008), abre e pontua o espetáculo. O outro, Silêncio de Bamba (Wilson Moreira e Nei Lopes), ilustra o sentimento de tristeza que tomou conta da comunidade do samba quando Candeia morreu, às vésperas do lançamento de seu álbum Axé (uma das obras-primas do samba).

O elemento destoante do musical é o caráter panfletário que o texto assume em sua parte final. Dramaturgo estreante, Eduardo Rieche oferece consistente perfil de Candeia ao amarrar no texto os momentos mais significativos da trajetória do compositor, mas poderia ter apresentado alguns ideais do artista de forma diluída na narrativa, evitando o monológo em que Jorge Maya reproduz falas literais de Candeia, algumas extraídas do documentário Partido Alto, curta-metragem dirigido por Leon Hirszman (1937 - 1987). No início da narrativa, o autor também opõe sambistas e bossa-novistas com falas que soam até artificiais na boca de personagens populares, pois esboçam uma rivalidade que não chegou a se configurar de fato. Contudo, são pequenos detalhes de musical envolvente e necessário em que pulsa forte a Arte popular e imortal de Candeia, o negro de sangue quente e de idéias nobres.

Single do Roupa Nova antecipa mais do mesmo

Resenha de CD
Título: 4U - Roupa
Nova For You
Artista: Roupa Nova
Gravadora: Independente
Cotação: *

Após breve fase inicial voltada para pop de ligeira ambiência pós-hippie, quase no estilo propagado por Beto Guedes, o grupo Roupa Nova adocicou sua música ao ingressar na gravadora RCA em 1984. Vieram sucessivos hits urdidos com romantismo padronizado. Foram músicas de grande apelo popular que, sim, resistiram aos modismos do mercado fonográfico e, a partir de 2004, deram novo fôlego a então já morosa carreira do sexteto ao serem (re)embaladas no formato acústico em dois projetos sucessivos. No embalo dessa reconquista mercadológica, o grupo prepara em Londres, nos lendários estúdios de Abbey Road, CD e DVD com repertório inédito. 4U - Roupa Nova For You é o aperitivo deste novo trabalho. Trata-se de single editado com quatro músicas inéditas e autorais que anunciam fase de menor inspiração. São duas baladas e dois temas mais festivos. As baladas - Toma Conta de mim e Chamado de Amor - estão aquém do padrão do próprio grupo. Das músicas mais animadas, Cantar Faz Feliz o Coração é a mais envolvente, mas, assim como sua companheira Quero Você, também não está à altura da produção áurea de um conjunto que sempre soube fazer pop pautado pelo sentimento popular. Espera-se que o álbum gravado na Inglaterra reserve mais surpresas para que o Roupa Nova continue em alta...

P.S.: Ao anunciar o lançamento de 4U, o Roupa Nova propagou que o single tinha preço sugerido de R$ 7,90. Contudo, o grupo não estampou tal preço na capa do disco - como fazem os artistas que lançam trabalhos no formato de SMD, obrigatoriamente tabelado em R$ 5. Resultado: na prática, 4U está sendo vendido por mais de R$ 10. Alguns estabelecimentos, como a Livraria da Travessa, chegam a cobrar R$ 16 por um disco de quatro músicas, frustrando outra tentativa de emplacar o formato single no Brasil.

Registro de show do Clash em NY é oficializado

Os fãs mais curiosos do grupo inglês The Clash certamente já conhecem a gravação ao vivo captada em 13 de outubro de 1982 no Shea Stadium, em Nova York (EUA), no show feito pelo Clash para abrir a apresentação do The Who. Afinal, o registro sempre foi vendido no mercado paralelo em cobiçadíssimos bootlegs. Contudo, a Sony BMG está oficializando a gravação do show com a edição do CD Live at Shea Stadium. Com energia, o lendário grupo punk - então em evidência por conta do sucesso comercial de seu álbum Combat Rock (1982) - dá uma geral na obra em roteiro tocado de forma explosiva. Detalhe: antes de começar a executar as 15 músicas do roteiro, aberto com London Calling, o Clash é apresentado em cena por seu empresário Kosmo Vinil, em discurso preservado na edição oficial em CD do (histórico?) show.

Dead Fish grava o primeiro álbum sem Hóspede

Banda capixaba de hardcore, formada em Vitória (ES) em 1991, Dead Fish grava seu sexto álbum de inéditas sem a presença do guitarrista Hóspede, que deixou o grupo após o lançamento do CD anterior, Um Homem Só (2006). A partir de agora, o também guitarrista Philippe assume totalmente o instrumento. Ainda sem título, o CD está sendo produzido por Rafael Ramos entre Rio de Janeiro e São Paulo. O repertório inclui 14 músicas inéditas. Entre elas, Armadilhas Verbais e Descartáveis. Detalhe: na faixa Shark Attack, o quarteto - formado por Rodrigo (voz), Alyland (baixo) e Nô (bateria), além do já citado Philippe - volta a cantar em inglês como no início da carreira. O lançamento está previsto para 2009.

7 de novembro de 2008

Gil se ilumina ao explorar a 'máquina' de ritmo

Resenha de Show
Título: Concertos para Amazônia - Gil Luminoso
Artista: Gilberto Gil (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Tom Jobim (RJ)
Data: 6 de novembro de 2008
Cotação: * * * *

Artista pautado por aguçada consciência ambiental, Gilberto Gil foi escolhido para abrir a série Concertos para Amazônia, realizada dentro de uma programação de eventos que ocupa o Jardim Botânico, a reserva florestal carioca onde foi inaugurado recentemente o Teatro Tom Jobim. Na companhia de seu violão e do filho Bem Gil, que se revezou na percussão e num segundo violão, o cantor apresentou o show Gil Luminoso, inspirado no belo disco homônimo (encartado em livro de 1999 e relançado em 2006 pela gravadora Biscoito Fino em edição avulsa) em que o compositor alinhou reflexões espiritualistas em regravações intimistas de canções próprias e alheias. Este Gil interiorizado se iluminou em alguns números e especialmente no bis que encadeou Tempo Rei, A Linha e o Linho (com outra costura harmônica) e Retiros Espirituais. No todo, o roteiro do show extrapolou o repertório e o conceito espiritual do disco que o inspirou. A ponto de ter fechado com Soy Loco por Ti, America, tema de vivacidade rítmica que culminou num diálogo vivaz dos violões de Bem e Gil.

Dotado de musicalidade ímpar, Gil se iluminou sobretudo ao manipular seu violão, sua máquina de ritmo. Já no primeiro número, Flora, canção transmutada para o universo do samba, o artista brincou com o ritmo cheio de dengo que imprimou a esta composição de múltiplos sentidos. À vontade, Gil experimentou tons e divisões, explorando nuances ainda escurecidas de músicas como Esotérico e Metáfora (com citação assoviada de Penny Lane ao fim). Exímio contador de histórias (não por acaso escolhido para ser o primeiro artista nacional a gravar DVD e CD ao vivo na série Storytellers, que em 2009 passa a ser produzida também no Brasil pelo canal de TV VH1), Gil também discursou sobre questões ambientais, celebrou a eleição do mulato Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos ("Um avanço histórico já considerável em si mesmo") e dissertou sobre as dinastias da música brasileira antes de anunciar a entrada em cena do filho Bem Gil a partir de Chiclete com Banana. Bem teve seu melhor momento quando assumiu o pandeiro para acentuar as quebradas rítmicas do samba Amor até o Fim, (bem) gravado por Elis Regina.

Com Bem, Gil ressaltou a atmosfera lúdica de Gueixa no Tatame - música do disco Banda Larga Cordel (2008) que cresceu na abordagem intimista - e reviveu samba antigo, Senhor Delegado (Antoninho Lopes e Ernani Silva, 1957), regravado pelos Titãs em 1998 no Volume Dois. Escorado na sua máquina de múltiplos ritmos, Gil acentuou a batida de samba de roda que acompanha Andar com Fé, sintetizou no violão a pegada nordestina que originou Expresso 2222 e apimentou a levada de xote que envolve Despedida de Solteira - pretexto para discurso sobre a malícia característica do gênero, ilustrado com o improvisado canto a capella de Peba na Pimenta, xote composto em 1957 por João do Vale (1933 - 1996) em parceria com José Batista e Adelino Rivera.

Ao aproximar Se Eu Quiser Falar com Deus de Não Tenho Medo da Morte em bloco mais intimista, Gil enfatizou a superioridade da canção de 1981 sobre o tema gravado em seu último álbum. Tanto no que diz respeito à arquitetura das melodias como às divagações transcendentais feitas nas letras das duas canções. Na seqüência, outro link temático - bem mais inusitado - encadeou O Rouxinol (da lavra do próprio Gil) com Three Little Birds, o tema de Bob Marley (1945 - 1981). Foi momento espirituoso de um show que transcendeu a espiritualidade do CD Gil Luminoso em favor da musicalidade multifacetada de Gilberto Gil. Concerto iluminado...

Bethânia grava parceria de Vercillo com Velloso

Composição inédita, feita por Jorge Vercillo com J. Velloso, sobrinho de Maria Bethânia, O Que Eu Não Conheço é uma das músicas certas no repertório inédito do disco que a cantora baiana (à direita em foto de Leonardo Aversa) prepara para lançar no primeiro semestre de 2009, pela gravadora Biscoito Fino. No repertório inédito recolhido por Bethânia, figuram músicas de Chico César, Roque Ferreira, Paulo César Pinheiro e Vanessa da Mata, entre outros compositores recorrentes na discografia recente da intérprete. E por falar em J. Velloso, Bethânia resolveu produzir um CD do sobrinho compositor para editar por seu selo, Quitanda.

Disco em que Zé canta Dylan sai em dezembro

Está agendada para dezembro, pela EMI Music, a chegada às lojas do esperado álbum Zé Ramalho Canta Bob Dylan - Tá Tudo Mudando. Em fase final de produção, formatada sob a batuta de Robertinho de Recife, o CD insere o cancioneiro de Dylan no universo da música nordestina através de versões em português que, em sua maioria, são fiéis às letras originais - a exemplo da faixa-título, Tá Tudo Mudando, versão de Gabriel Moura para Things Have Changed, tema da trilha sonora do filme Garotos Incríveis que rendeu um Oscar a Dylan em 2000. O repertório prioriza os clássicos do compositor americano, incluindo versões de Like a Rolling Stone (Como uma Pedra a Rolar), Blowin' in the Wind (O Vento Vai Responder) e Tombstone Blues (que virou Rock Feellingood). Entre versões assinadas por Geraldo Azevedo e Bráulio Tavares, além do próprio Zé, há Negro Amor, a letra escrita por Caetano Veloso a partir da melodia de It's All over Now, Baby Blue (Negro Amor foi gravada por Gal Costa em 1977 num de seus discos mais roqueiros, Caras e Bocas). Além de compor uma inédita em tributo ao bardo, Para Dylan, Ramalho optou por rebobinar If Not for You com a letra original, em inglês.

Danilo grava DVD que traz voz de Fafá em fado

Danilo Caymmi convocou Fafá de Belém para participação especial no DVD que ele está gravando numa casa de Santa Teresa, no Centro do Rio de Janeiro (RJ). A cantora entoa o fado Mãos Antigas. Inédito na voz de Fafá, o fado é uma parceria de Danilo com Helena Jobim. O primeiro DVD solo do filho caçula de Dorival Caymmi (1914 - 2008) já tem lançamento programado para 2009.

6 de novembro de 2008

'Chinese Democracy' chega ao Brasil via Arsenal

Agora não tem mais volta nem erro: Chinese Democracy vai sair. E caberá à gravadora Arsenal Music, numa parceria com a Universal Music, lançar no Brasil o primeiro álbum de inéditas do Guns N' Roses desde 1991. O disco vai chegar oficialmente ao mundo em 24 de novembro de 2008 no formato de CD e em edição digital. A faixa-título foi eleita o primeiro single do sucessor de Use Your Illusion I e Use Your Illusion II, anunciado há anos. Produzido por Axl Rose e Caram Costanzo, o álbum reúne 14 músicas. Além de Chinese Democracy, já editada em single, dois temas foram lançados recentemente. Shackler's Revenge veio ao mundo em 14 de setembro no jogo de videogame Rock Band 2. Já If the World fez parte da trilha sonora do filme Body of Lies, em cartaz desde 11 de outubro. Eis as 14 faixas de um álbum que a Universal Music vai tentar vender no Brasil como "o mais aguardado de todos os tempos" - como apregoa o adesivo da capa:

1. Chinese Democracy
2. Shackler's Revenge
3. Better
4. Street of Dreams
5. If the World
6. There Was a Time
7. Catcher in the Rye
8. Scraped
9. Riad N' the Bedouins
10. Sorry
11. I.R.S.
12. Madagascar
13. This Is Love
14. Prostitute

Maria Gadú é a aposta da Som Livre para 2009

Cantora paulista, ainda bem pouco conhecida pelo dito grande público, até mesmo em São Paulo, Maria Gadú é uma das apostas mais altas da gravadora Som Livre para 2009. Gadú - que faz participação na minissérie Maysa, ainda em fase de produção pela TV Globo - vai lançar o seu primeiro álbum por selo (Som Livre Apresenta) da companhia de discos associada à emissora carioca. A idéia é aproveitar a exposição que Gadú vai ter na série escrita por Manoel Carlos sobre a vida agitada de Maysa (1936 - 1977) para badalar músicas de seu disco em trilhas sonoras de novelas da TV Globo. Gadú ganhou a chance de exposição nacional porque sua voz despertou a atenção de Jayme Monjardim, diretor da minissérie. Na ficção, ela vai encarnar uma cantora que trabalha numa boate.

Artistas fazem uma social no clube do samba...

Resenha de CD / DVD
Título: Samba Social Clube
Artista: Vários
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * *

Dois shows coletivos realizados em 28 e 29 de julho de 2008, na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro (RJ), reuniram grandes nomes do samba carioca para a gravação de dois CDs e DVDs inspirados no programa de rádio Samba Social Clube. Foram tantas as atrações das duas noites que os produtores do evento - a rádio MPB Brasil e a gravadora EMI Music - optaram por editar o registro em dois volumes (justificados no caso do CD, mas desnecessários no que diz respeito ao DVD, pois os dois shows caberiam num único vídeo). O primeiro volume já está nas lojas - em CD e DVD vendidos separadamente - enquanto o segundo chega ao mercado no primeiro semestre de 2009. É fato que a reunião de bambas é expressiva. Contudo, é fato também que, por ter importante rádio carioca envolvida na produção, os artistas acabam participando mais para fazer uma social com a emissora do que pelo projeto em si. Tanto que, dos 20 números reunidos no primeiro DVD, poucas gravações realmente vem somar no currículo do artista. Uma das exceções é a leitura de Beth Carvalho para O Bêbado e a Equilibrista. A cantora conseguiu dar seu tom ao samba de João Bosco e Aldir Blanc, imortalizado por Elis Regina (1945 - 1982) em emblemática gravação de 1979. Há que se ressaltar a nobreza de Dona Ivone Lara (Mas Quem Disse que Eu te Esqueço), a vivacidade de Leci Brandão (Sorriso Aberto, em tributo a Jovelina Pérola Negra) e a inspiração de Arlindo Cruz e Marcelinho Moreira na composição do partido alto Samba Social Clube, defendidos pelos autores na companhia do grupo Casuarina. Nada é essencialmente ruim. No geral, no entanto, paira a sensação de que os artistas estavam ali batendo ponto. Intérpretes habitualmente cativantes em cena - casos de Lenine (Esperanças Perdidas), Luiz Melodia (Tristeza) e Roberta Sá (Pressentimento) - não rendem tudo o que podem. A social parece ser mais importante do que o samba em si. É o estatuto do clube...

Charlie Brown segue ritual do mercado em DVD

Mesmo com a triste debandada de quase todos seus integrantes originais, o grupo Charlie Brown Jr. resiste bem na cena pop paulista - sempre com o líder Chorão à frente - e segue o ritual da indústria fonográfica ao editar DVD que registra o show de lançamento de seu último bom álbum, Ritmo, Ritual e Responsa (2007). Gravado em apresentação da banda na casa Expresso Brasil, em São Paulo (SP), o DVD Ritmo, Ritual e Responsa ao Vivo mistura no roteiro músicas do CD que o gerou com hits da fase inicial do grupo. Entre eles, Confisco e Zoio de Lula. Nos extras, há o clipe de Pontes Indestrutíveis e algumas músicas da trilha do filme O Magnata, captadas com as adesões do rapper MV Bill (Sem Medo da Escuridão) e do grupo ForFun (O Universo a Nosso Favor). O DVD já está nas lojas, pela EMI Music.

5 de novembro de 2008

Yma Sumac, estrela do canto lírico, sai de cena

Divulgada esta semana, mas acontecida no último sábado, 1º de novembro de 2008, a morte de Yma Sumac (1922 - 2008) tira definitivamente de cena uma das estrelas mais originais do canto lírico mundial. Vítima de um câncer de cólon, aos 86 anos, a peruana Zoila Augusta Emperatriz Chavarri del Castillo morreu em Los Angeles, nos Estados Unidos, país onde estava radicada já há 60 anos e no qual se destacou tanto pelo visual extravagante quanto pela voz de contralto, de grande e rara extensão. Por querer valorizar suas raízes andinas, como costumava dizer, Yma Sumac priorizou temas folclóricos do Peru em exótico repertório.

'La Plata' faz subir cotação do Jota na bolsa pop

Resenha de CD
Título: La Plata
Artista: Jota Quest
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * * *

A aposta da gravadora Sony BMG é alta: 50 mil cópias, tiragem inicial de respeito em tempos de vendas em queda vertiginosa. Contudo, apesar das oscilações do mercado do disco, La Plata faz subir a cotação do Jota Quest na bolsa pop. No nono título de obra já irregular, o sexto de inéditas, o grupo mineiro investe pesado em grooves antenados. Como de hábito, o autoral repertório transita por um mix de pop, soul (diluído), rock e funk. Contudo, soa coeso como em nenhum outro disco do Jota. E a diferença está na produção, dividida por Liminha com a própria banda. Talvez até porque uma questão de honra, já que foi esnobado por Mario Caldato Jr. e Kassin (a dupla de produtores, inicialmente recrutada para pilotar La Plata, pulou fora do barco dias antes da partida), o quinteto apresenta seu disco mais bem produzido. Com direito a uma grande música: Ladeira, primeira parceria da banda com Nelson Motta, de levada pulsante e sinuosa. Até mesmo nas baladas, como a melodiosa Vem Andar Comigo, o resultado soa acima da média do Jota Quest. No todo, os grooves são tão azeitados que fazem passar despercebidos os questionamentos existenciais feitos em O Grito - faixa de maior ambiência roqueira - e a menor inspiração de uma ou outra faixa, caso da funkeada Tudo me Faz Lembrar Você. Há que se fazer justiça e destacar também a evolução das letras. Neste quesito, Paralelepídedo é destaque com seu jogo lúdico de palavras. Em disco turbinado com muitos efeitos eletrônicos, a exemplo da faixa So Special (reapresentada também como bônus numa versão mixada pelo trompetista Ashley Slater, convidado de três faixas), o Jota Quest consegue fazer pop de bom nível. Seis e Trinta, por exemplo, está entre as melhores composições do grupo. Somente o preconceito dos críticos mais resistentes a nomes populares pode impedir o reconhecimento de que La Plata sinaliza upgrade conceitual no som do grupo. Tomara seus fãs banquem a aposta...

Legrand reafirma grandeza de sua obra eclética

Resenha de Show
Título: Le Grand
Artista: Michel Legrand (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Canecão (RJ)
Data: 4 de novembro de 2008
Cotação: * * * *

Aos 76 anos, Michel Legrand ainda parece ter o fôlego de iniciante ao entrar em cena para (re)apresentar um painel de sua obra tão grandiosa quanto eclética. Na única e bela apresentação feita pelo compositor, pianista e maestro francês no Rio de Janeiro, na noite de 4 de novembro de 2008, Legrand se mostrou simpático e falante. Foi com justificado orgulho que ele foi explicando cada número de um repertório que - fiel ao amplo leque estético de sua obra - abrangeu o jazz, o clássico e a canção popular. A voz, que nunca foi pautada por rigores técnicos, dá vez por outra sinal de cansaço e até desafina, mas o vigor de Legrand no palco é juvenil.

Nos números instrumentais, o pianista se mostrou em total interação com o baterista Kiko Freitas e o baixista Sérgio Barroso - os dois músicos brasileiros que o acompanham nesta turnê nacional. Os temas jazzísticos fluiram bem, mas é inegável que o show adquire atmosfera de maior sedução quando Legrand revive suas melodias imortalizadas pela Sétima Arte. De sua vasta obra cinematográfica, o compositor reviveu temas como What Are You Doing the Rest of Life? - um de seus maiores standards, lançado em 1969 na trilha sonora do filme The Happy Ending, bem menos conhecido do que a música, como brincou Legrand em cena. Também menos conhecido pelo público, o tema Brian's Song entrou no roteiro como exemplo da maestria de Legrand ao também compor trilha sonora para a televisão, sem preconceitos.

Em roteiro de caráter naturalmente retrospectivo, Legrand destacou, orgulhoso, a oportunidade de ter trabalhado com Miles Davis (1926 - 1991) e tocou temas de Dingo, a trilha sonora de um filme composta parceria com o trompetista que rendeu álbum editado em 1990. Na seleção, Dingo Walk. Na seqüência, veio o grande momento do show, merecidamente aplaudido de pé: uma suíte de temas do filme Yentl - cuja trilha rendeu um Oscar a Legrand em 1993 - tocada pelo pianista em dueto com a fabulosa harpista Katrine Michelle, que tirou inclusive sons inusitados do instrumento. E coube também a Katrine tocar na harpa a melodia de Summer of 42, obra-prima do marido, que a acompanhou ao piano. No fim, outra participação especial - a da cantora Patty Ascher, que fez duetos desenvoltos com o compositor em dois números, sendo um deles How Do You Keep the Music Playing? - reafirmou a natureza eclética da obra (grande) de Michel Legrand.

'Ulysses' puxa terceiro disco de Franz Ferdinand

Ulysses. Este é o single inicial do terceiro álbum do grupo escocês Franz Ferdinand. O lançamento vai ser em 19 de janeiro de 2009. Com o título de Tonight: Franz Ferdinand, o CD chega às lojas uma semana depois do single, em 26 de janeiro. Produzido por Dan Carey, o disco reúne 12 músicas no repertório todo autoral. Uma, Lucid Dreams, já foi lançada em agosto de 2008 no iTunes e incluída num video game. Eis as faixas do sucessor do CD You Could Have It so Much Better (2005):

1. Ulysses
2. Turn It on
3. Kiss me
4. Twilight Omens
5. Send Him Away
6. Live Alone
7. Bite Hard
8. What She Came for
9. Can't Stop Feeling
10. Lucid Dreams
11. Dream Again
12. Katherine Kiss me

Amy já tem repertório para seu terceiro álbum

Apesar de sua saúde estar cada vez mais frágil, por conta do uso abusivo de drogas, Amy Winehouse - contra todos os prognósticos mais pessimistas - parece já ter conseguido compor o repertório de seu terceiro álbum. Em entrevista à rádio britânica BBB6 Music, um dos diretores da Universal Music, Lucian Grange, revelou que Amy já tocou algumas músicas para ele ao violão, além de ter mostrado algumas demos com composições inéditas que vão estar no sucessor de Back to Black (2007). A intenção da gravadora é que o CD seja editado em 2009. A expectativa, obviamente, é alta.

4 de novembro de 2008

Bio festeja ginga do canto de Germano Mathias

Resenha de Livro
Título: SambExplícito
As Vidas Desvairadas
de Germano Mathias
Autor: Caio Silveira
Ramos
Editora: A Girafa
Cotação: * * * 1/2

A história oficial da música brasileira não destina lugar de honra para Germano Mathias, sambista paulista que ganhou projeção nos anos 50 e 60 com seu canto sincopado e malandro. Daí a importância da edição de sua biografia, assinada por Caio Silveira Ramos. SambExplícito é trabalho de fôlego que joga luz sobre um artista esquecido por públicos e gravadoras. Com embasado trabalho de pesquisa, Ramos - compositor e advogado, não necessariamente nessa ordem - reconstitui os passos de Mathias com texto cheio de ginga e gírias que subverte o formato tradicional das biografias. Fiel ao estilo do samba sincopado, o autor criou narrativa cheio de quebras no ritmo não linear. Às vezes, essas síncopes são absolutamente necessárias - como no capítulo que historia a vida de Caco Velho (1919 - 1991), compositor gaúcho cuja biografia musical se entrelaça com a de Mathias e ajuda a entender o universo deste intérprete singular, parceiro de Sereno (compositor também merecedor de uma síncope necessária) no sucesso Guarde a Sandália Dela, lançado nos anos 50. Em outras vezes, os apartes acabam atrasando o ritmo da história. Seja como for, a contribuição de SambExplícito para a bibliografia musical brasileira é inestimável, pois, no que diz respeito às informações objetivas, o livro parece totalmente confiável. Sem falar que o biógrafo historia a discografia de Mathias com senso crítico. Da mesma forma que exalta LPs como Em Continência ao Samba (RGE, 1958) - plataforma perfeita para o artista exibir seu canto sincopado - o autor espezinha álbuns equivocados da fase crespuscular de Mathias, caso de O Catedrático do Samba (CID, 1973), disco no qual a gravadora CID tentou inserir o intérprete no estilo do sambão-jóia que começava a dar sinais de vida no mercado fonográfico por conta da aparição de Benito Di Paula. Contudo, equívoco por equívoco, o autor mostra que nada foi pior do que a Antologia do Samba-Choro, o LP que Gilberto Gil dividiu com Mathias em 1978 no encerramento de seu contrato com a gravadora Philips. No caso, o equívoco começa já no título, pois Mathias nunca cantou samba-choro. Sem falar que, a rigor, apenas Gil gravou para o LP. A parte de Mathias foi montada com fonogramas de um disco de 10 polegadas lançado em 1957 com o título de Germano Mathias, o Sambista Diferente. Enfim, entre síncopes necessárias e desnecessárias, Caio Silveira Ramos cumpre com louvor o objetivo de iluminar a obra de cantor que merece receber as flores em (desvairada) vida.

Volta 'Curare', o CD dos passos iniciais de Rosa

A despeito de ter lançado (hoje raríssimo) LP em fins da década de 70, Recriação, a carreira fonográfica de Rosa Passos somente ganharia visibilidade e regularidade a partir de 1991, ano em que gravou Curare. Segundo título da discografia da artista baiana, o belo CD foi a semente da empresa Deckdisc, que passaria a funcionar como uma gravadora propriamente dita a partir de 1998. E é dentro da celebração dos dez anos da companhia que seu diretor, João Augusto, relança Curare no embalo da recente apresentação da cantora e violonista no Tim Festival 2008. Rosa atualmente vive momento de consagração internacional. Contudo, a reedição de Curare atesta que, em seus iniciais passos fonográficos, ela já era a grande cantora hoje aplaudida no mundo (mais no mundo do que no Brasil). No disco, emoldurada por cordas orquestradas pelo maestro Waltel Blanco, a voz macia de Rosa Passos desliza suave pelos contornos melódicos de temas de compositores como Ary Barroso (Folha Morta), Tom Jobim (Fotografia, Dindi, A Felicidade, O Nosso Amor e Só Danço Samba), Djavan (Sim ou Não) e Johnny Alf (Ilusão à Toa). Dezessete anos após seu lançamento original, Curare ganha ares de disco clássico. Por isso mesmo, a Deckdisc deveria ter optado por estampar na capa da reedição uma versão restaurada da capa original (foto acima à direita), e não uma foto envelhecida e amarelada dessa mesma capa - o que, para os colecionadores, diminui o valor da reedição.

Inah põe intuição a serviço de sambas de Gudin

Resenha de CD
Título: Olha Quem Chega
Artista: Dona Inah
Gravadora: Dabliú Discos
Cotação: * * * 1/2

Em sucinto texto escrito para o encarte desde CD que Dona Inah dedica ao repertório de sambas do ótimo compositor paulista Eduardo Gudin, Paulo César Pinheiro - inspirado parceiro de Gudin em oito dos 18 temas selecionados por Inah para o disco - sabiamente caracteriza como intuitivo o canto desta veterana sambista de Araras (SP), que chega ao segundo álbum aos 73 anos depois de ter sido projetada em 2004 com seu primeiro CD, Divino Samba Meu. De fato, como cantora, Inah não prima pela técnica e afinação exemplares. Basta comparar seu registro de Verde com a gravação de Leila Pinheiro, que despontou nacionalmente em 1985 ao defender este samba ecológico de Gudin e J.C. Costa Netto no Festival dos Festivais, produzido e exibido pela Rede Globo de Televisão (Leila, a propósito, está prestes a lançar disco centrado na obra de Gudin). Mas há toda uma carga de ancestralidade e sentimento popular no canto de Inah que a dignifica como intérprete. E, acima de rigores técnicos, há a feliz idéia de projetar o samba de Gudin em disco gravado por Inah na boa companhia de músicos dos grupos paulistas Quinteto em Branco e Preto e Samba Novo. O Brasil precisa ouvir mais a obra deste compositor, autor de jóias como Boa Maré, Chorei, Mente (cujo registro original foi feito por Clara Nunes em 1978 no álbum Guerreira), Veneno e Velho Ateu. É samba da melhor qualidade que transcende a geografia paulista - Quem Chega Atrasado tem delicioso acento baiano - e merece (forte) exposição nacional em vozes técnicas ou intuitivas.

Anna gira e evolui em volta de regionalismo pop

Resenha de CD
Título: Girando
Artista: Anna Luisa
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * * *

Terceiro álbum de Anna Luisa, Girando sinaliza salto grande qualitativo na obra fonográfica da boa cantora e compositora carioca. Todo um zelo especial é perceptível já no design da capa e do encarte deste disco em que Anna, com frescor, gira em volta de um regionalismo pop. Ainda é difícil dissociar Anna totalmente de Roberta Sá, cantora de leveza similar que vem consolidando sua carreira com abordagem semelhante da música brasileira. Sintomaticamente, Sá integra o coro de faixas como Bailarina do Mar, tema que atesta a evolução de Anna como compositora - impressão confirmada pelo xote Pedido ao Tempo, parceria da artista com Rodrigo Vidal, o produtor de Girando. Produção e arranjos, aliás, contribuem para o bom acabamento de repertório que destaca ciranda de Edu Krieger, Seu Moço, parceria do sempre inspirado Krieger com Anna. Vidal responde pela programação eletrônica do samba-rock Cachaça Mecânica (Roberto e Erasmo Carlos, 1974), que desce muito bem na releitura de Anna Luisa - com o mesmo frescor que revigora Parabolicamará, a música de Gilberto Gil que deu título ao álbum lançado pelo compositor em 1992. Em contrapartida, nem a luxuosa presença de Edu Lobo no frevo-canção No Cordão da Saideira, lançado por Lobo em 1968, consegue dar um toque novo ao tema. Detalhe. Entre Baião Digital de Rodrigo Maranhão e canção entoada em inglês com adorno de um acordeom (Cold Kiss, de Antonio Dionisio), a cantora aborda música do grupo Novos Baianos, Os 'Pingo' da Chuva (1973), sem toque de inventividade. No todo, Girando se revela um álbum redondo, com muito mais altos (Tonta, de Eugenio Dale, é uma delícia) do que baixos (Folguedo, tema de Anna com Emerson Mardhine, não chega a empolgar...). Anna Luisa tem futuro no país das cantoras!!

AC/DC retorna igualmente bom após oito anos

Resenha de CD
Título: Black Ice
Artista: AC/DC
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * * *

Dinossauro do rock pesado, o AC/DC não é do tipo de banda que busca inovações a cada álbum. Ao contrário, o grupo reitera a cada disco os cânones de seu som. O que diferencia um trabalho do outro é a qualidade do repertório. E a safra de inéditas de Black Ice é das melhores - talvez por se tratar do primeiro álbum de estúdio da banda após longo hiato de oito anos (o último álbum, Stiff Upper Lip, foi editado em 2000 via Warner Music). No coeso repertório de Black Ice, cuja capa estampa o nome do grupo australiano em quatro opções de cores (vermelho, amarelo, azul e branco), o AC/DC exibe riffs típicos e poderosos - como os de Rock'n'Roll Train (uma das músicas mais inspiradas da banda) e de Decibel - sem deixar de expor seu apego ao blues, explicitado na atmosfera de Stormy May Day. É fato que uma faixa ou outra, em especial Anything Goes, soa excessivamente pop para um dinossauro que se sustenta pelo peso de seu rock. Contudo, nada tira o brilho de Black Ice. Sem a pretensão de soar moderno, o quinteto capitaneado pelos irmãos guitarristas Angus e Malcolm Young vai se revelando eterno. Peso-pesado no panteão do rock...

DVD remonta a turnê feita pelo AC/DC em 1996

Simultaneamente à ótima edição do primeiro CD de estúdio do AC/DC em oito anos, Black Ice, a gravadora Sony BMG põe nas lojas do Brasil o DVD No Bull, que registra um show da Ballbreaker Tour, feita pelo grupo em meados dos anos 90. O show captado em vídeo por David Mallet - o diretor que cuidou desta reedição perpetuada em DVD - foi feito em 1996 na Plaza de Toros de las Ventas, em Madrid, na Espanha. Mallet supervisionou a remasterização do áudio e inseriu nos extras do DVD números da turnê filmados nos Estados Unidos e na Suécia. A embalagem do DVD No Bull é em digipack.

3 de novembro de 2008

Tetê lança clipe com tema pantaneiro de Itamar

Enquanto divulga o CD E Va Por Ar e o DVD Água dos Matos, que retrata sua interação com os povos ribeirinhos da região do Pantanal matogrossense, Tetê Espíndola (à esquerda numa imagem de Roberto Okamura) está lançando no YouTube o clipe de um tema bem raro de Itamar Assumpção (1949 - 2003), intitulado Adeus Pantanal e composto em fina sintonia com a consciência ecológica que norteia o trabalho da cantora. O vídeo foi gravado em show realizado em maio de 2008 no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília (DF), dentro do evento Petrobrás e Recantos do Brasil apresenta Mato Grosso do Sul. Já o DVD Água dos Matos tem distribuição dirigida a escolas e aos centros de estudos sobre o meio-ambiente.

Deckdisc veta a presença de Pitty no CD de D2

Sintomaticamente intitulado A Arte do Barulho, o quinto disco solo de Marcelo D2 gerou ruído na fase final de produção. Nas lojas a partir de 20 de novembro, o CD teve que ser enviado para fabricação pela gravadora EMI Music sem a música até então provisioriamente intitulada Feriado, composta e gravada por D2 com Pitty. É que a gravadora carioca Deckdisc - que lançou Pitty em carreira solo no mercado fonográfico - vetou a participação da roqueira baiana no disco do rapper carioca. O clima é de muita indignação nos bastidores. Inclusive pelo fato de D2 e Pitty serem amigos - além de terem as suas carreiras gerenciadas pelo mesmo empresário, Marcello Lobato. Produzido por Mario Caldato Jr., o CD A Arte do Barulho marca a estréia de D2 na gravadora EMI.
P.S.: Proibido no disco, o dueto de Pitty com Marcelo D2 em Feriado vai ser apresentado ao vivo em show realizado dentro da segunda edição do evento C & A Pop Music e agendado para 12 de novembro na casa Vivo Rio (RJ). D2 e Pitty vão fazer show juntos.

Elba recorda o Natal brasileiro de Luiz Gonzaga

Desconhecida toada composta por Luiz Gonzaga (1913 - 1989) com Zé Dantas (1921 - 1962), gravada por Gonzagão em disco de 78 rotações editado em 1954, Cartão de Natal ganha nova chance na voz de Elba Ramalho. O registro da cantora (em foto de Helena de Castro) foi feito para o CD Natal Bem Brasileiro, produzido por Thiago Marques Luiz para a Biscoito Fino com 13 gravações inéditas do cancioneiro natalino de lavra nacional. Outra surpresa do repertório é Meu Menino Jesus, canção de Roberto e Erasmo Carlos, revivida na voz de Célia. A gravação original foi feita pelo Rei - sem repercussão - em seu álbum de 1998. O único fonograma já pré-existente do disco é Poema de Natal, ouvido na voz do autor Vinicius de Moraes (1913 - 1980), com Toquinho ao violão. E por falar no Poetinha, Francis Hime musicou Natal - texto de Vinicius - e gravou o tema em dueto com Leila Pinheiro. Eis a lista de músicas, compositores e intérpretes da coletânea Natal Bem Brasileiro, nas lojas na segunda quinzena de novembro de 2008:

1. Boas Festas (Assis Valente) - Maria Bethânia
2. Cartão de Natal (Luiz Gonzaga e Zé Dantas) - Elba Ramalho
3. Ô de Casa (Simone Guimarães e Sérgio Natureza)
- Flávio Venturini
4. Natal das Crianças (Blecaute) - Jane Duboc
5. Feliz Natal, Papai Noel (Martinho da Vila) - Zezé Motta
6. Véspera de Natal (Adoniran Barbosa) - Marcos Sacramento
7. E Nasceu Jesus (Orlandivo e Roberto Jorge) - Maria Alcina
8. O Velhinho (Otávio Filho) - Dominguinhos
9. Recadinho de Papai Noel (Assis Valente) - Wanderléa
10. Meu Menino Jesus (Roberto e Erasmo Carlos) - Célia
11. Feliz Natal (Armando Cavalcanti e Klécius Caldas) - Miúcha
12. Natal (Francis Hime e Vinicius de Moraes)
- Leila Pinheiro e Francis Hime
13. Velho Amigo (Baden Powell e Vinicius de Moraes)
- Olivia Hime
14. Poema de Natal (Vinicius de Moraes) - Vinicius de Moraes,
com Toquinho ao violão

Filme Menino da Porteira rende CD com Daniel

Programado para estrear nos cinemas brasileiros em 6 de março de 2009, o remake do filme O Menino da Porteira - longa-metragem de 1977 que consolidou a entrada de Sérgio Reis no mercado de música sertaneja - vai ter sua trilha sonora editada em CD. Com arranjos de Mário Campanha e Nelson Ayres, o disco já começou a ser gravado em São Paulo (SP) por Daniel (foto), o cantor que encarna o boiadeiro Diogo, papel que foi de Reis na versão original do filme. O repertório do álbum é basicamente formado por clássicos da música sertaneja e por sucessos da MPB de tom mais ruralista. A seleção inclui Disparada (a parceria de Geraldo Vandré e Theo de Barros que foi consagrada na voz de Jair Rodrigues em 1966), Índia (guarânia lançada pela dupla Cascatinha & Inhana em 1952 e popularizada novamente por Gal Costa nos anos 70), Cabecinha no Ombro e, claro, a música-tema do filme, O Menino da Porteira, um grande sucesso de Sérgio Reis.

Lasciva Lula joga sobras e inéditas na internet

Ao se dissolver em novembro de 2007, o quarteto fluminense Lasciva Lula ficou de disponibilizar na internet sobras das sessões de gravação de seu elogiado único CD, Sublime Mundo Crânio (2007), e as músicas inéditas que tinham sido compostas pelos integrantes do grupo depois do registro do disco. Um ano depois, a Lasciva Lula cumpre o prometido e joga em sua página no MySpace cinco gravações. Uma, Família Feliz, é sobra do álbum. As demais - Vontade de Beijar Caetano, Entre Gêmeos e Leão, O Mistério da Moça e Carta ao Cals - são quatro inéditas gravadas especialmente para a rede. É o canto de cisne da Lula para os fãs...

2 de novembro de 2008

Nina reconstrói 'Build Up', primeiro solo de Rita

Resenha de Show
Título: Build Up
Artista: Nina Becker (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Cinemathèque Jam Club (RJ)
Data: 1º de novembro de 2008
Cotação: * * *

Marco inaugural da carreira solo de Rita Lee, o álbum Build Up foi gravado no início de 1970 durante breve recesso do grupo Os Mutantes, que, na época, já começava a sentir os primeiros sintomas da tensão entre seus integrantes que iria levar à (ainda hoje controversa) saída de Rita da banda no começo de 1973 e à subseqüente deserção de Arnaldo Baptista no ano seguinte. Embora bem produzido pelo tropicalista Manuel Barenbein, com direção musical do próprio Arnaldo, Build Up é disco muito irregular com repertório de qualidade oscilante. Contudo, naquele LP, já havia sinais da verve pop que iria dar fama e fortuna a Rita Lee a partir de fins dos anos 70. Por isso mesmo, resultou interessante a idéia de Nina Becker - boa cantora projetada como vocalista da Orquestra Imperial - de reconstruir Build Up em show apresentado na noite de sábado, 1º de novembro de 2008, no Cinemathéque Jam Club, reduto da tribo da cena indie carioca.
Gripada, Nina não estava no melhor de sua forma vocal. Ainda assim, ao reapresentar o repertório de Build Up na ordem do disco, a cantora conseguiu bons momentos. Em Hulla-Hulla, parceria de Rita com Élcio Decário, Nina conseguiu realçar toda a graça deste tema que brinca com os clichês dos paraísos tropicais da América Latina - com direito à coreografias de contorno havaiano. Seu registro superou o de Rita. Nina também lançou mão de alguma graciosa teatralidade para entoar Sucesso, Aqui Vou Eu (Build Up), a jóia de Rita e Arnaldo Baptista que ajudou a dar algum brilho a um disco jocoso que também debochou do sentimentalismo dramático da música latina em Prisioneira do Amor, música em que Nina não conseguiu reproduzir a verve da gravação de Rita. Até porque o arranjo orquestral feito pelo maestro Rogério Duprat (1932 - 2006) para o disco não tinha como ser reproduzido ao vivo pela boa banda recrutada por Nina.
A propósito, por Nina ter reconstruído Build Up com a banda Do Amor, na qual tocam o baixista Ricardo Dias Gomes e o baterista Marcelo Calado, músicos requisitados por Caetano Veloso para o disco (2006), a textura dos arranjos volta e meia evocava a sonoridade indie que norteia o trabalho atual do baiano. Bem apropriada, diga-se, para emoldurar temas como Calma (Arnaldo Baptista), Viagem ao Fundo de mim (Rita Lee) e Macarrão com Linguiça e Pimentão (outra parceria de Rita Lee com Arnaldo Baptista). Embora muito debilitada pela gripe, Nina mostrou o bom alcance de sua voz na terna balada And I Love Her (Lennon & McCartney) - entoada com o gênero invertido, sob ótica feminina, tal como feito por Rita no disco - e deitou confortável sobre a cama melodiosa de José, a versão de Joseph (Georges Moustaki) assinada por ninguém menos do que Nara Leão (1942 - 1989). José, aliás, foi o único real sucesso popular de Build Up, pedra titubeante na construção da monumental obra solo de Rita. Valeu!

West grava no Rio e registra percussão em SP

Kanye West aproveitou sua vinda ao Brasil para dois shows no Tim Festival e fez algumas gravações no Rio de Janeiro (no estúdio Cia. dos Técnicos) e em São Paulo (no estúdio NaCena, onde posou com o rapper brasileiro Cabal - à esquerda na foto). Na sessão de gravação paulista, o rapper norte-americano registrou sons de percussão. Em tese, estes sons seriam utilizados por West em seu quarto álbum, 808's & Heartbreak, mas o fato é que o disco já tem lançamento mundial agendado pela Universal Music para 25 de novembro de 2008 (no Brasil, o CD vai chegar às lojas em dezembro). O primeiro single do álbum é Love Lockdown, música já incluída por West nas suas duas apresentações no Tim Festival.

A aquarela de Ary ganha tons pastéis no teatro

Resenha de Musical
Título: Aquarelas do Ary
Realização: Núcleo Informal de Teatro
Autor: Marcos França
Direção: Joana Lebreiro
Local: Sala Baden Powell (RJ)
Cotação: * * 1/2
Em cartaz aos sábados e domingos, às 19h.
Até 30 de novembro de 2008.

Depois de levar à cena as vidas e as obras de Antonio Maria (A Noite É uma Criança) e Mário Lago (Ai, que Saudade do Lago), o grupo carioca Núcleo Informal de Teatro abre em Aquarelas de Ary a cortina do passado para desvendar parte do cancioneiro de mais um multifacetado compositor da música brasileira. O foco repousa em Ary Barroso (1903 - 1964), mineiro de Ubá, a cidade que o ilustre habitante retratou em flashes generosos numa das 22 músicas que moldam o roteiro do musical em cartaz durante o mês de novembro de 2008 na Sala Baden Powell, no Rio de Janeiro (RJ). Multicolorida pela própria natureza voraz do artista, compositor profícuo que se desdobrou nas funções de locutor esportivo e apresentador de programas de calouros, a aquarela ganha tons pastéis neste espetáculo de teatro.

A biografia agitada de Ary Barroso é recontada em cena através de texto de caráter essencialmente narrativo. Rala, a dramaturgia se fragmenta em algumas cenas que reproduzem diálogos e histórias que ajudam a esboçar pálido retrato da personalidade hilária e contraditória do compositor. Aliás, as reproduções de quadros do programa Calouros em Desfile soam especialmente graciosas, ainda que se tornem repetitivas ao longo das duas horas de espetáculo. Do trio de intérpretes formado por Alexandre Dantas, Claudia Ventura e Marcos França, a atriz tem a voz de maiores possibilidades, bem exploradas no tom histriônico de Eu Dei e na abordagem mais emocional de Ocultei, samba-canção da linhagem nobre de Folha Morta e Pra Machucar meu Coração. Era luxo só!

Mestre na criação de sambas-canções que nunca foram pintados com as tintas fortes que por vezes borra o gênero, Ary Barroso foi compositor que transitou com rara inspiração por ritmos como marcha (Dá Nela, composta em 1929 e lançada com sucesso no Carnaval de 1930), samba (Faceira), marcha-rancho (Rancho das Namoradas, número feito pelos atores no meio da platéia) e, sobretudo, o samba-exaltação. Com incansável disposição para enaltecer o povo e as belezas naturais de um Brasil que ajudou a propagar no exterior, Ary criou obras-primas como Na Baixa do Sapateiro, Isto Aqui o que É e, claro, Aquarela do Brasil, o clássico de 1939 que ganharia o mundo. Todas estas músicas são revividas em tons pastéis no espetáculo. Ao criar um universo cênico particular em Aquarelas de Ary, o Núcleo Informal de Teatro seduz o principal público-alvo da produção - as senhoras da chamada terceira idade, saudosas de seu tempo e de sua música - e lembra que Ary Barroso pintou as cores de um Brasil moreno. Não por acaso, Brasil Moreno é o título do desconhecido samba que encerra o musical, fechando feliz a cortina do passado.

Opereta encena o mundo do samba com graça

Resenha de Musical
Título: Opereta Carioca
Autor: Gustavo Gasparani
Direção: João Fonseca
Elenco: Gustavo Gasparani e Soraya Ravenle
Local: Centro Cultural Veneza (RJ)
Cotação: * * * *
Foto: Marco Antônio Gamboa
Em cartaz de sexta-feira a domingo.
Até 30 de novembro de 2008.

Gênero revitalizado nos palcos cariocas a partir dos anos 90, o teatro musical tem uma categoria pouco explorada no Brasil desde a morte de Arthur Azevedo (1855 - 1908): a opereta, estilo francês derivado da Ópera-Bufa que alterna música, dança e algumas cenas faladas. Ator que também vem ganhando projeção na cena nacional como dramaturgo, tendo concebido o espetáculo Otelo da Mangueira (2005), em que trazia a obra de Shakespeare (1564 - 1616) para o universo do Rio de Janeiro, Gustavo Gasparani investe com muita propriedade no gênero em Opereta Carioca, espetáculo que reestreou no Centro Cultural Veneza (RJ), na seqüência de uma vitoriosa temporada no Teatro Maison de France (RJ), onde estreou em 25 de setembro de 2008.

Dividindo a cena com Soraya Ravenle, talentosa atriz que vem se destacando em musicais desde que encarnou Dolores Duran (1930 - 1959) na peça Dolores, Gasparani se vale dos recursos da opereta para encenar com graça o cotidiano de um casal no mundo do samba. Ele é o Malandro. Ravenle é a Cabrocha. Entre tapas e beijos, o casal entoa um roteiro que costura quase 50 sambas de épocas e autores díspares, num leque que vai de Candeia (1935 - 1978) a Arlindo Cruz, passando por Ataulfo Alves (1909 - 1969) e por Martinho da Vila - entre outros compositores.

A boa idéia foi muito bem executada, gerando um espetáculo de atmosfera encantadora. Há breves diálogos, mas as idas e vindas do casal nos caminhos do coração são contadas através das letras dos sambas. Se Malandro Sou Eu (Arlindo Cruz, Franco e Sombrinha) serve para apresentar o Malandro, Samba Rasgado (Portello Junior e W. Falcão) ajuda a perfilar a Cabrocha. E assim, entre um samba e outro, o novelo amoroso se desenrola cativante com direito a um hilário número de platéia feito pelos atores com os sambas Sem Compromisso (Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro) e Me Respeite, Ouviu? (Walfrido Silva) - a jóia mais rara do roteiro.

Solo de Ravenle, Amor Perfeito (Ivor Lancellotti e Paulo César Pinheiro) exemplifica a emissão límpida da voz da atriz. Com mais ginga, Gasparani ascende nos breques de Na Subida do Morro (Moreira da Silva) e evoca o estilo empostado de Nelson Gonçalves em Baiana da Lapa (Nilo Vianna). Em dueto, os atores exercem toda sua teatralidade em Incompatibilidade de Gênios, o samba em que João Bosco e Aldir Blanc retratam o cotidiano de um casal que vive às turras. Como o Malandro e a Cabrocha, os arquétipos retratados por Gasparani nesta carioquíssima opereta.