2 de novembro de 2008

Opereta encena o mundo do samba com graça

Resenha de Musical
Título: Opereta Carioca
Autor: Gustavo Gasparani
Direção: João Fonseca
Elenco: Gustavo Gasparani e Soraya Ravenle
Local: Centro Cultural Veneza (RJ)
Cotação: * * * *
Foto: Marco Antônio Gamboa
Em cartaz de sexta-feira a domingo.
Até 30 de novembro de 2008.

Gênero revitalizado nos palcos cariocas a partir dos anos 90, o teatro musical tem uma categoria pouco explorada no Brasil desde a morte de Arthur Azevedo (1855 - 1908): a opereta, estilo francês derivado da Ópera-Bufa que alterna música, dança e algumas cenas faladas. Ator que também vem ganhando projeção na cena nacional como dramaturgo, tendo concebido o espetáculo Otelo da Mangueira (2005), em que trazia a obra de Shakespeare (1564 - 1616) para o universo do Rio de Janeiro, Gustavo Gasparani investe com muita propriedade no gênero em Opereta Carioca, espetáculo que reestreou no Centro Cultural Veneza (RJ), na seqüência de uma vitoriosa temporada no Teatro Maison de France (RJ), onde estreou em 25 de setembro de 2008.

Dividindo a cena com Soraya Ravenle, talentosa atriz que vem se destacando em musicais desde que encarnou Dolores Duran (1930 - 1959) na peça Dolores, Gasparani se vale dos recursos da opereta para encenar com graça o cotidiano de um casal no mundo do samba. Ele é o Malandro. Ravenle é a Cabrocha. Entre tapas e beijos, o casal entoa um roteiro que costura quase 50 sambas de épocas e autores díspares, num leque que vai de Candeia (1935 - 1978) a Arlindo Cruz, passando por Ataulfo Alves (1909 - 1969) e por Martinho da Vila - entre outros compositores.

A boa idéia foi muito bem executada, gerando um espetáculo de atmosfera encantadora. Há breves diálogos, mas as idas e vindas do casal nos caminhos do coração são contadas através das letras dos sambas. Se Malandro Sou Eu (Arlindo Cruz, Franco e Sombrinha) serve para apresentar o Malandro, Samba Rasgado (Portello Junior e W. Falcão) ajuda a perfilar a Cabrocha. E assim, entre um samba e outro, o novelo amoroso se desenrola cativante com direito a um hilário número de platéia feito pelos atores com os sambas Sem Compromisso (Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro) e Me Respeite, Ouviu? (Walfrido Silva) - a jóia mais rara do roteiro.

Solo de Ravenle, Amor Perfeito (Ivor Lancellotti e Paulo César Pinheiro) exemplifica a emissão límpida da voz da atriz. Com mais ginga, Gasparani ascende nos breques de Na Subida do Morro (Moreira da Silva) e evoca o estilo empostado de Nelson Gonçalves em Baiana da Lapa (Nilo Vianna). Em dueto, os atores exercem toda sua teatralidade em Incompatibilidade de Gênios, o samba em que João Bosco e Aldir Blanc retratam o cotidiano de um casal que vive às turras. Como o Malandro e a Cabrocha, os arquétipos retratados por Gasparani nesta carioquíssima opereta.

3 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Gênero revitalizado nos palcos cariocas a partir dos anos 90, o teatro musical tem uma categoria pouco explorada no Brasil desde a morte de Arthur Azevedo (1855 - 1908): a opereta, estilo francês derivado da Ópera-Bufa que alterna música, dança e algumas cenas faladas. Ator que também vem ganhando projeção na cena nacional como dramaturgo, tendo concebido o espetáculo Otelo da Mangueira (2005), em que trazia a obra de Shakespeare (1564 - 1616) para o universo do Rio de Janeiro, Gustavo Gasparani investe com muita propriedade no gênero em Opereta Carioca, espetáculo que reestreou no Centro Cultural Veneza (RJ), na seqüência de uma vitoriosa temporada no Teatro Maison de France (RJ), onde estreou em 25 de setembro de 2008.

Dividindo a cena com Soraya Ravenle, talentosa atriz que vem se destacando em musicais desde que encarnou Dolores Duran (1930 - 1959) na peça Dolores, Gasparani se vale dos recursos da opereta para encenar com graça o cotidiano de um casal no mundo do samba. Ele é o Malandro. Ravenle é a Cabrocha. Entre tapas e beijos, o casal entoa um roteiro que costura quase 50 sambas de épocas e autores díspares, num leque que vai de Candeia (1935 - 1978) a Arlindo Cruz, passando por Ataulfo Alves (1909 - 1969) e por Martinho da Vila - entre outros compositores.

A boa idéia foi muito bem executada, gerando um espetáculo de atmosfera encantadora. Há breves diálogos, mas as idas e vindas do casal nos caminhos do coração são contadas através das letras dos sambas. Se Malandro Sou Eu (Arlindo Cruz, Franco e Sombrinha) serve para apresentar o Malandro, Samba Rasgado (Portello Junior e W. Falcão) ajuda a perfilar a Cabrocha. E assim, entre um samba e outro, o novelo amoroso se desenrola cativante com direito a um hilário número de platéia feito pelos atores com os sambas Sem Compromisso (Geraldo Pereira e Nelson Trigueiro) e Me Respeite, Ouviu? (Walfrido Silva) - a jóia mais rara do roteiro.

Solo de Ravenle, Amor Perfeito (Ivor Lancellotti e Paulo César Pinheiro) exemplifica a emissão límpida da voz da atriz. Com mais ginga, Gasparani ascende nos breques de Na Subida do Morro (Moreira da Silva) e evoca o estilo empostado de Nelson Gonçalves em Baiana da Lapa (Nilo Vianna). Em dueto, os atores exercem toda sua teatralidade em Incompatibilidade de Gênios, o samba em que João Bosco e Aldir Blanc retratam o cotidiano de um casal que vive às turras. Como o Malandro e a Cabrocha, os arquétipos retratados por Gasparani nesta carioquíssima opereta.

2 de novembro de 2008 às 16:30  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, a revitalização do teatro musical brasileiro começa ainda nos anos 80, pelas mãos, entre outros, do saudoso Luis Antônio Martinez Corrêa. Dirigiu a 'Ópera do Malandro'(1978) e fez aquela pesquisa histórica que resultou nas duas edições do "Theatro Musical Brasileiro" (1860-1914; 1914-1945). Foram peças de sucesso, muito premiadas em 1985 e 1987.

Não dá para ter memória curta no caso de Luis Antônio.

2 de novembro de 2008 às 17:24  
Anonymous Anônimo said...

Deve ser muito bom, vou dar uma conferida.

2 de novembro de 2008 às 18:28  

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