Resenha de Show - Gravação de DVD
Título: Samba Social Clube
Artistas: Almir Guineto, Arlindo Cruz, Bebeto, Beth
Carvalho, Casuarina, Caetano Veloso, Claudya, Diogo
Nogueira, Dudu Nobre, Emilio Santiago, Jongo da
Serrinha, Jorge Vercillo, Luana Carvalho, Marcelo D2,
Mário Sérgio, Moinho, Monarco, Moraes Moreira,
Moyseis Marques e Velha Guarda da Mangueira
Local: Vivo Rio (RJ)
Data: 28 de julho de 2009
Cotação: * * * *
Fotos: Washington Possato
Com dose exata de melancolia, e à sós com o seu violão como já de praxe em gravações de discos coletivos, um já enrugado Caetano Veloso destilou com refinada introspecção toda a mágoa contida em Rugas, samba de Nelson Cavaquinho, Ari Monteiro e Augusto Garcez. O número foi um dos destaques da segunda noite da gravação do terceiro e quarto volumes do projeto Samba Social Clube, desenvolvido pela EMI Music em parceria com a rádio carioca MPB FM. A segunda noite superou a primeira, tanto pelo acerto na escolha dos sambas (adequados aos intérpretes) como pelo desempenho do elenco convidado. Muitos brilharam - casos de Arlindo Cruz, Beth Carvalho (a homenageada desta edição), Caetano Veloso, Claudya, Casuarina, Dudu Nobre, Emilio Santiago, Marcelo D2 e Moinho. Outros foram meramente eficientes - casos de Bebeto e Jorge Vercillo - sem comprometer o ótimo saldo final.
A gravação agregou vários sócios legítimos do Samba Social Clube. Escorados no entrosado time de músicos recrutados por Paulão Sete Cordas, diretor musical da gravação, Monarco e Moyseis Marques - para citar dois exemplos de nomes adequados ao projeto - defenderam com vitalidade O Quitandeiro, parceria de Monarco com Paulo da Portela (1901 - 1949). Na sequência, apesar da tensão que norteou seus dois números, Beth Carvalho fez aquele que pode ser considerado desde já o melhor registro de Cabô, meu Pai (Moacyr Luz, Luiz Carlos da Vila e Aldir Blanc) e reviveu um dos mais belos sambas de Luiz Carlos da Vila, Por um Dia de Graça, lançado por Simone em 1984. Já Dudu Nobre mostrou as habituais segurança e espontaneidade ao cantar Pagode da Saideira (tema de Gracia do Salgueiro popularizado por Martinho da Vila) e A Batucada dos Nossos Tantãs, este um fruto colhido no repertório do Fundo de Quintal. Sobrou em Dudu a segurança que ainda falta a Diogo Nogueira, que jogou charme para seu público feminino, mas não aproveitou todas as poucas possibilidades de Deixa Eu te Amar, sucesso de Agepê (1942 - 1995), ajustado à linha de malandragem sensual impressa em parte do repertório de Diogo. Que pareceu mais à vontade em seu segundo bom número, Todo Menino É um Rei, samba de cadência baiana revivido com reverência ao registro original de Roberto Ribeiro (1940 - 1996). Talvez por saber mais a letra desse samba...
Se Emilio Santiago reafirmou a afinação e emissão impecáveis ao cantar Alvorecer (pérola de Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho), o Casuarina mostrou jovialidade em registros bem vivazes de Na Cadência do Samba (Que Bonito É) e Tempo de Don Don. A união das cinco vozes masculinas do grupo valorizou os dois sambas em contagiante apresentação, um dos pontos altos da noite. Outro grupo de pegada boa, Moinho deixou ótima impressão ao cantar Maior É Deus, erguendo até São Paulo a habitual ponte Rio-Bahia. Emanuelle Araújo deu tom caloroso ao samba feito pelo paulista Eduardo Gudin com Paulo César Pinheiro. E a guitarra de Toni Costa e a percussão de Lan Lan fizeram toda a diferença, dando molho todo especial à gravação do trio, outro ponto alto da noite.
Minas Gerais também se fez presente no clube do samba social. Em dueto com Arlindo Cruz, a carioca-mineira Aline Calixto reviveu Dor de Amor, partido alto de Arlindo, Acyr Marques e Zeca Pagodinho, lançado por Beth Carvalho em 1986. Aline evoluiu com graça pelo palco e mostrou leveza sem, de fato, impressionar pela voz (a rigor, comum). Já a apresentação de Jorge Vercillo se escorou na melodia irresistível do samba Mel na Boca, sucesso de Almir Guineto (que voltou à cena para refazer a gravação de No Mesmo Manto, que ficara insatisfatória na noite anterior). Vercillo é bom intérprete, mas pareceu até deslocado no clube do samba. É preciso dosar suas participações em projetos coletivos justamente no momento em que aprimora sua obra autoral. Por sua vez, Mário Sérgio - que engata carreira solo após anos como vocalista do Fundo de Quintal - também não brilhou de fato na regravação de Negra Ângela, samba do repertório de Neguinho da Beija-Flor. Faltou a personalidade que sobrou em Bebeto, que cantou Nega de Obaluaê (samba de Wando, dos anos 70) com seu suingue todo próprio. Bebeto foi correto em noite de mais altos do que baixos...