7 de novembro de 2009

Na pressão, Nação revolve 'Lama' após 15 anos

Resenha de Show
Título: Da Lama ao Caos - 15 Anos
Artista: Nação Zumbi (em fotos de Mauro Ferreira)
Participações especiais: Fred 04, Pitty e Seu Jorge
Local: Circo Voador (RJ)
Data: 7 de novembro de 2009
Cotação: * * * * *
"Nação!!! Puta que pariu!!! É a maior banda do Brasil!!!", rimou sem a menor cerimônia o público do Circo Voador enquanto a Nação Zumbi tocava o tema instrumental Salustiano Song, uma das músicas do emblemático primeiro álbum do grupo, Da Lama ao Caos (1994), pedra fundamental do movimento que veio a ser rotulado na mídia como Mangue Beat. Tinha razão de ser o elogio entusiástico do público que se esbaldou e se abrigou sob a lona mais pop do Rio de Janeiro (RJ) na madrugada deste sábado, 7 de novembro de 2009, para ver e ouvir a Nação tocar todas as 13 músicas do disco na ordem em que elas foram dispostas no CD produzido por Liminha e editado pelo selo Chaos, da Sony Music. Incendiário, o show foi idealizado para festejar os 15 anos de lançamento do álbum e - de certa forma - os 12 anos em que a Nação Zumbi provou que poderia sobreviver sem seu mentor Chico Science (1966 - 1997), morto precocemente, num acidente.
O show foi perfeito. A Nação Zumbi revolveu a lama inicial do Mangue Beat na pressão com uma pegada explosiva que não foi captada de todo na gravação do álbum de 1994, apesar de todo o apuro técnico da produção de Liminha. A mistura azeitada de maracatu, psicodelia, rock e eletrônica atingiu o exato ponto de fervura no palco do Circo Voador. Algo perceptível logo na abertura do show, quando se ouviu o Monólogo ao Pé do Ouvido. Na sequência copiada do disco, vieram Banditismo por uma Questão de Classe e Rios, Pontes e Overdrives - este o primeiro número a provocar um efeito catártico na platéia, reeditado em A Cidade e em A Praieira, música em que o convidado Fred 04 - mentor do outro grupo marcante da fase seminal do Mangue Beat, Mundo Livre S/A - entrou em cena para tocar cavaquinho. Fred voltaria ao palco várias outras vezes, contribuindo para a força de números como Da Lama ao Caos, corrosiva faixa-título do álbum.
Ao vivo, o embate dos tambores com a guitarra de Lúcio Maia resultou inebriante. Jorge Du Peixe - embora com emissão vocal nem sempre apurada - também mostrou evolução como cantor enquanto Pupillo se confirmou como um dos melhores bateristas da geração pop brasileira. A interação dos músicos elevou a temperatura - já quente como se o Rio estivesse em pleno verão - e eletrizou o público, que gastou a energia numa dança que evocou as rodas de pogo típicas dos shows de punk. Mesmo nos números menos incendiários, casos do Maracatu de Tiro Certeiro e de Antene-se, o som esteve azeitado. Ao fim, Computadores Fazem Arte - música de Fred 04 que o Mundo Livre veio a gravar depois que a Nação Zumbi a lançou em Da Lama aos Caos - preparou o clima suingante da jam do final, antes de a Nação Zumbi abrir o leque do repertório, tocando músicas de discos posteriores (O Cidadão do Mundo e, já no bis, Fome de Tudo) e fazendo incursão pelo repertório de Siba e a Fuloresta antes de receber, no bis, Pitty e Seu Jorge para participações tímidas em Quando a Maré Encher e em Manguetown, respectivamente. Na madrugada deste sábado quente, fervendo no palco pop do Circo Voador, Nação Zumbi era, sim, a maior banda do Brasil. Histórico!

Revelação invade praia do axé no segundo DVD

Em seu segundo DVD, Ao Vivo no Morro, o grupo Revelação invade a praia poluída da axé music. Ao fim do show, captado no Morro da Urca (RJ) em 29 de agosto de 2009, o grupo toca medley com sucessos de Ivete Sangalo (Levada Louca), Daniela Mercury (Maimbê Dandá) e de Margareth Menezes (Dandalunda). Antes da incursão baiana, o roteiro reapresenta sucessos do grupo entre um cover de Djavan (Sina) e os sambas inéditos Coração Blindado (Ronaldo Barcellos e Leandro FAB) e Trilha do Amor (André Renato, Xande de Pilares e Gilson Bernini). Bira Hawaí produziu a gravação ao vivo - também editada em CD, pela gravadora Deckdisc, neste mês de novembro. Sairá em breve.

Filme lento sobre Vanzolini é editado em DVD

Lançado em junho de 2009 nos cinemas, o filme Um Homem de Moral - em que o diretor Ricardo Dias foca em ritmo lento a vida, a obra e a ideologia destemida do compositor Paulo Vanzolini - já pode ser visto em DVD editado pela gravadora Biscoito Fino. Até hoje atrelada ao cotidiano da cidade de São Paulo (SP), a música de Vanzolini é reapresentada na tela através de takes filmados na gravação do tributo triplo Acerto de Contas, álbum feito em estúdio e lançado em 2002. Por conta da captação de takes do disco, a narrativa é costurada com números musicais de Chico Buarque (Quando Eu For, Eu Vou sem Pena), Paulinho da Viola (Bandeira de Guerra), Miúcha (Raiz), Elton Medeiros (Dançando na Chuva), Martinho da Vila (Juízo Final) e Márcia (Boca da Noite e, claro, o hit Ronda), entre outros artistas.

Grooveria vai de Noel a Prince no primeiro DVD

Banda de São Paulo (SP) cujo nome já anuncia o suingue que pauta seu som azeitado, Grooveria está lançando seu primeiro DVD, Avenida Brasil, dirigido por Roberto de Oliveira e batizado com o título da música que abre o registro ao vivo captado em fevereiro de 2008 em shows no Na Mata Café, um point de Sampa. Foi nas jams sessions comandadas pela Grooveria às terças-feiras no Na Mata que o esperto octeto chamou a atenção dos paulistas e agregou nomes como Max de Castro e Seu Jorge. Não por acaso, ambos são convidados do DVD. Max figura em Ela Disse Assim, tema de sua autoria. Já Jorge - de quem o Grooveria rebobina Carolina - aparece nos extras, em Running Away, sucesso emplacado em 1976 pelo músico norte-americano Roy Ayers, hábil no trânsito entre o jazz, o funk e o soul. Gêneros que - ao lado do samba - são abordados com suingue pela Grooveria em roteiro que alinha músicas de Djavan (Esfinge), Marku Ribas (Zamba Ben), Noel Rosa (Com que Roupa?), Prince (When Doves Cry), Edu Lobo (Ponteio e Lero-Lero, parcerias com Capinam e Cacaso - respectivamente) e até Gonzaguinha (Recado).

Agenda do Músico de 2010 compila 111 frases

"Eu sou como o dólar - Sempre tenho prestígio". A frase nada modesta de Elza Soares é uma das 111 compiladas na Agenda do Músico 2010, lançada neste mês de novembro pela editora Ideia Pop. Como de praxe, a agenda está chegando às livrarias com quatro (novos) modelos de capa que evocam gêneros e imagens de jazz (veja foto à direita), MPB, pop rock e de música clássica. Mas o conteúdo é o mesmo em qualquer uma das quatro opções. Ao fim da agenda, há noções básicas de teoria musical e lista com telefones e endereços virtuais das principais gravadoras e editoras musicais. É para os músicos...

6 de novembro de 2009

'As Máscaras' anuncia estreia de Leitte na Sony

Com lançamento previsto para o primeiro semestre de 2010, o primeiro CD de Claudia Leitte na Sony Music - o segundo de sua carreira solo - já está em fase de produção. Aliás, o ingresso da cantora na gravadora foi anunciado oficialmente nesta sexta-feira, 6 de novembro de 2009. A nova música de trabalho da artista, As Máscaras, vai ser enviada às rádios ainda neste mês de novembro.

Grammy já oficializa empate de Titãs e NX Zero

O anúncio dos muitos vencedores do 10º Grammy Latino - feito em cerimônia realizada na noite de quinta-feira, 5 de novembro de 2009, no Mandalay Bay Events Center, em Las Vegas (EUA) - rendeu breve impasse em categoria exclusivamente dedicada à produção fonográfica brasileira. Somente no início da noite desta sexta-feira, 6 de novembro, a Lara (Latin Recording Academy) reconheceu na lista de ganhadores publicada em seu site oficial - clique aqui para ver a relação - o empate entre os grupos Titãs (foto) e NX Zero na categoria Melhor Álbum de Rock Brasileiro. Como deixou claro o anúncio feito na cerimônia televisionada pela rede Univision, houve empate entre os álbuns Agora (do NX Zero) e Sacos Plásticos (dos Titãs). Contudo, no site do Grammy Latino, a vitória foi de início creditada somente ao grupo NX Zero.

Almanaque conta histórias de canções de Chico

Resenha de livro
Título: Chico Buarque
- Histórias de Canções
Autor: Wagner Homem
Editora: Leya
Cotação: * * *

É provável que admiradores extremados da obra de Chico Buarque saibam que a (rala) contribuição do cantor à letra de Gente Humilde é de apenas quatro versos, tendo Chico entrado para a parceria que o uniu postumamente a Garoto (1915 - 1955) em 1969 somente porque o autor da letra, Vinicius de Moraes (1913 - 1980), estava com ciúme das colaborações de Chico com Tom Jobim (1927 - 1994) e praticamente intimou o autor de A Banda a mexer em versos que já estavam prontos. Tais fãs devem saber também que, em contrapartida, o Poetinha virou parceiro de Chico no samba Desalento (1970) por conta de três míseros versos, suficientes para que o autor de Fado Tropical retribuísse a gentileza feita por Vinicius no ano anterior durante a criação da letra de Gente Humilde. Essas duas curiosidades estão entre as muitas contadas por Wagner Homem no livro Chico Buarque - Histórias de Canções. Fã do compositor desde que ouviu Pedro Pedreiro em 1965, Homem compilou tais histórias com a autoridade de quem - com o aval do próprio Chico - sempre alimentou o site oficial do artista com informações curiosas sobre a obra do compositor. A rigor, tais histórias de canções nem são inéditas - sobretudo as que envolvem as tentativas de driblar a censura que mutilou impiedosamente o cancioneiro de Chico na primeira metade dos anos 70. Contudo, a compilação torna o livro interessante para quem admira a obra do compositor sem ser exatamente um aficcionado por ela. Todas as 133 músicas mencionadas têm as letras reproduzidas antes da história que envolve a sua criação. No todo, Chico Buarque - Histórias de Canções é como um almanaque que compila curiosidades com leveza e as dispõe para que sejam apreciadas de maneira aleatória.

'Causos' de Erasmo não justificam fama de mau

Resenha de livro
Título: Minha Fama
de Mau
Autor: Erasmo Carlos
Editora: Objetiva
Cotação: * * * 1/2

A rigor, Minha Fama de Mau não é uma biografia de Erasmo Carlos, embora conte fatos importantes da vida e da carreira ímpares do Tremendão. O livro é, antes, um compêndio de causos que o artista relata sem justificar o título. De mau, Erasmo tem somente a fama. Mas isso não impede que seu relato seja lido com prazer. Sexo, aliás, é um dos motes da narrativa ao lado da paixão pelo rock'n'roll. As aventuras juvenis da lendária Turma da Tijuca - integrada nos anos 50 por nomes como Erasmo, Roberto Carlos e um certo Sebastião Rodrigues Maia (1942 - 1998), vulgo Tim - rendem deliciosas histórias. Assim como as aventuras sexuais do elenco da Jovem Guarda. Sem revelar os nomes das companheiras de orgias, as suas e as dos colegas, Erasmo explicita no livro que os bastidores da Jovem Guarda eram bem menos inocentes do que faziam supor os versos românticos das canções que embalavam o público naquelas jovens tardes de domingo. Já as aventuras da fase adulta - menos interessantes - envolvem sobretudo a mulher-musa de Erasmo, Narinha, cujo suicídio, no fim de 1995, é mencionado de forma breve nas memórias. É que, na contramão de biografias que buscam tom sensacionalista, Minha Fama de Mau é livro escrito com ternura por um Erasmo nostálgico de seus momentos felizes. Por mais que siga uma ordem quase cronológica (os capítulos dedicados a Roberto Carlos e a Tim embaralham um pouco essa cronologia), a narrativa é formada por uma série de causos que não necessariamente se encadeiam e que podem, inclusive, ser lidos de forma aleatória. A leitura é leve, mas Minha Fama de Mau fica devendo. É preciso que seja editado no futuro um outro livro, de caráter mais explicitamente biográfico, que reconstitua todos os passos musicais de Erasmo Carlos, artista ainda não incensado na medida de sua importância tremenda para a construção da identidade do pop rock brasileiro.

Baleiro solta 'Bomba' em DVD 'ao vivo mesmo'

Ao Vivo Mesmo é o mordaz subtítulo do sexto DVD de Zeca Baleiro, lançado neste mês de novembro de 2009 pela gravadora MZA Music com distribuição da empresa Microservice. O DVD O Coração do Homem-Bomba Ao Vivo - Ao Vivo Mesmo (foto) exibe nove takes captados em estúdio numa atmosfera mais intimista, mas o prato principal é o registro do show captado em 27 de junho em apresentação no Music Hall, em Belo Horizonte (MG). Em roteiro essencialmente autoral, Baleiro inseriu o fox Uma Loura - da lavra de Hervé Cordovil (1914 - 1979) - e o Coco do Trava-Língua, da dupla de emboladores Cachimbinho e Geraldo Mousinho. São 12 números ao vivo - além do material de estúdio e de entrevista com o artista.

Caetano ganha 10º Grammy Latino por Zii e Zie

Caetano Veloso - visto à direita em foto de Fernanda Young - faturou um dos principais prêmios do 10º Grammy Latino, cuja festiva cerimônia de entrega aconteceu na noite de quinta-feira, 5 de novembro de 2009, em Las Vegas (EUA). O artista brasileiro levou o troféu de Melhor Álbum de Cantor Compositor por conta de Zii e Zie (2009). Caetano - que não foi à cerimônia no Mandalay Bay Resort & Casino - foi premiado também com o Grammy Latino de Melhor Vídeo Musical Edição Longa pelo DVD Roberto Carlos e Caetano Veloso e a Música de Tom Jobim (2008). O 10º Grammy Latino foi dominado pela dupla portorriquenha Calle 13, que faturou os cincos prêmios que disputava, inclusive o de Álbum do Ano (Los de Atrás Vienen Conmigo) - categoria em que concorria Ivan Lins pelo CD ao vivo gravado com a big-band holandesa The Metropole Orchestra - e o de Gravação do Ano (No Hay Nadie Como Tú, feita com o grupo Cafe Tacvba). Já nas categorias dedicadas exclusivamente a artistas brasileiros os vencedores foram NX Zero (Álbum de Rock, por Agora), Roupa Nova (Álbum Pop Contemporâneo, por Em Londres), Martinho da Vila (Álbum de Samba / Pagode, por O Pequeno Burguês), Ivan Lins (Álbum de MPB, pelo CD gravado com a The Metropole Orchestra), Lenine (Canção Brasileira, por Martelo Bigorna) e Elba Ramalho (Álbum de Raízes Brasileiras - Regional e Tropical, por Balaio de Amor), entre outros artistas.

5 de novembro de 2009

Jornada invernal de Sting exige disposição do fã

Resenha de CD
Título: If on a Winter's
Night...
Artista: Sting
Gravadora: Deutsche
Grammophon
/ Universal Music
Cotação: * * 1/2

Álbum em que Sting se deixou inspirar pelo clima e pelos sentimentos quentes do inverno, If on a Winter's Night... propõe jornada emocional pelas tradições da canção britânica, englobando até a era medieval, representada por músicas como Gabriel's Message. Em tom instrospectivo, o artista entoa baladas, cânticos e canções de ninar. Há indícios de extroversão em uma ou outra faixa - caso de Soul Cake, canção inglesa incrementada com os vocais das Webb Sisters - mas, no todo, o tom é mesmo interiorizado. A viagem deixa entrever alguns instantes de beleza em You Only Cross my Mind in the Winter - um tema do compositor erudito alemão Johann Sebastian Bach (1685 - 1750) que foi letrado por Sting - e em Lo' How a Rose E'er Blooming, mas deixa sinais de cansaço ao longo do caminho. Ainda que a sonoridade - urdida com instrumentos como rabeca, harpa e violino - seja um convite à jornada. If on a Winter's Night... não é disco de Natal, mas, como na Europa o aniversário de Jesus Cristo é celebrado no inverno, o repertório resvala para o cancioneiro natalino tradiconal em Christmas at Sea, poema de Robert Louis Stevenson (1850 - 1894) musicado por Sting. Entre acalantos como Lullaby for an Anxious Child, parceria do artista com o guitarrista Dominic Miller, o álbum tangencia o universo musical erudito em The Hurdy-Gurdy Man, versão em inglês de Der Leiermann, tema do compositor austríaco Franz Schubert (1797 - 1828). Enfim, a jornada emocional de Sting rumo aos sons tradicionais do inverno é árdua e longa (inclusive porque o canto do vocalista do trio Police adquire apropriado tom interiorizado no álbum). Mas a viagem pode vir a recompensar fãs extremados que se deixem levar pelo linear espírito invernal do CD e cheguem até o fim. If on a Winter's Night... exige disposição desses fãs...

Lenine é o destaque da bela noite 'Rita Leestica'

Resenha de Show
Evento: Accenture Performances 2009
Título: Rita Lee Como Você Nunca Ouviu
Artistas: Ed Motta, Herbert Vianna, Lenine, Marina de
la Riva, Paula Toller e Silvia Machete
Local: Vivo Rio (RJ)
Data: 4 de novembro de 2009
Fotos: Divulgação / Ricardo Nunes
Cotação: * * * *
De fato, ninguém nunca ouviu a (bela) música de Rita Lee da forma orquestral como ela foi abordada no show idealizado por Nelson Motta para a edição 2009 do projeto Accenture Performances. Não foi à toa que a toda hora os seis cantores solistas fizeram reverências em cena à big-band conduzida por Felipe Pinaud. Estreado em São Paulo (SP) em 28 de outubro, o show Rita Lee Como Você Nunca Ouviu destacou Lenine na apresentação carioca, realizada na casa Vivo Rio na noite de 4 de novembro. Já no primeiro de seus quatro fortes números, Ando Meio Desligado (1970), o cantor brilhou ao esboçar clima meio aéreo sem perda da pressão que norteou seu set, completado com Mutante (1981), Ovelha Negra (1975) - em que Davi Moraes reproduziu o solo de guitarra da emblemática gravação original da balada - e o rock Agora Só Falta Você (1975). Na sequência, no encerramento do tributo, Lenine atuou como espécie de líder dos dois números coletivos do final, Lança Perfume e Chega Mais, hábeis ao evocar o clima carnavalesco do rock de Rita. Empolgado, ele foi o maior destaque da noite Rita Leestica, como se referiu ao vibrante show.
Nada faria supor um show tão vibrante - como foi a apresentação carioca do tributo Rita Lee Como Você Nunca Ouviu - no momento em que Nelson Motta apareceu no palco da casa Vivo Rio para dizer um punhado de frases-feitas sobre a importância da artista na cena pop brasileira. Na sequência, Motta chamou ao palco a primeira solista, Silvia Machete, cuja veia circense não aflorou como poderia em números como Banho de Espuma (1981) e Nem Luxo Nem Lixo (1980). Machete atuou com a correção de uma crooner, tendo alcançado seu melhor momento logo no seu número inicial, Sucesso, Aqui Vou Eu (Build Up) - rara primeira música do primeiro disco solo de Rita, editado em 1970 - quando já ficou claro que a roupagem orquestral da big-band encorpou a música de Rita sem engessá-la ou atenuar sua leveza (Pinaud a recriou sem diluir a pegada dos arranjos originais). Em seguida, Marina de la Riva usou a descendência cubana para realçar a latinidade de Bandido Corazón (1976) - o tema que Rita cedeu para o segundo disco solo de Ney Matogrosso - e se confirmou boa cantora ao reviver tanto uma balada (Menino Bonito, de 1974) como um rock, Luz del Fuego (1975), extraído do álbum Fruto Proibido, obra-prima da fase mais roqueira da discografia de Rita. Além da boa técnica vocal, Riva tem bela presença em cena...
Depois de Riva, Paula Toller - uma das legítimas sucessoras de Rita na dinastia feminina do pop nacional - entrou em cena e ressaltou que a obra da Ovelha Negra iluminou sua vida desde quando, adolescente, juntou trocados com uma amiga para comprar Atrás do Porto Tem uma Cidade (1974), o primeiro álbum gravado por Rita com o grupo Tutti Frutti. Toller cantou Mania de Você (1979) sem realçar o clima sensual da balada, sustentou a pulsação do blues Cartão Postal (1975), caiu comunicativa no suingue latino de Baila Comigo (1980) e cresceu ao reviver Esse Tal de Rock'n'Roll (1975). Na sequência, Ed Motta se revelou o intéprete mais preguiçoso do elenco por ter cantado três músicas - Fora da Lei (1997), Caso Sério (1980) e Colombina (2000) - que já fazem parte de seu repertório. Empolgado com a big-band, Ed explorou nuances das músicas e induziu a plateia a entrar no clima carnavalesco de Colombina sem atenuar a sensação de que seu bloco foi o único momento déjà-vu do tributo. Faltou ao bom set de Ed o ineditismo que sobrou no bloco pauleira de Herbert Vianna que, munido de sua guitarra feroz, deu peso aos rocks Jardins da Babilônia (1978) e Papai me Empresta o Carro (1979), entremeados por balada, Desculpe o Auê (1983), que evidenciou a afinação irregular da voz do cantor. Mas isso foi detalhe num show vibrante que alcançaria seu ápice com a iluminada participação de Lenine, compositor que já se mostra intérprete grandioso como os arranjos que reembalaram o pop de Rita como você nunca ouviu!!

'Big-band' orquestra (grande) tributo a Rita Lee

Seis solistas e uma big-band realmente grandiosa - que incluía o baixista Dadi e os guitarristas Davi Moraes e Pedro Sá - deram tratamento inusitado à obra de Rita Lee, justificando o título do show Rita Lee Como Você Nunca Ouviu, idealizado dentro da série Accenture Performances. Após a estreia em São Paulo, o tributo chegou ao Rio de Janeiro (RJ) na noite de 4 de novembro de 2009, em apresentação única na casa Vivo Rio (RJ). Silvia Machete, Marina de la Riva, Paula Toller, Ed Motta, Herbert Vianna e Lenine saudaram Rita e cantaram seus hits no tributo orquestrado por Nelson Motta. Eis o roteiro do bom show carioca:
1. Sucesso, Aqui Vou Eu (1970) - Silvia Machete
2. Nem Luxo Nem Lixo (1980) - Silvia Machete
3. Banho de Espuma (1981) - Silvia Machete
4. Bandido Corazón (1976) - Marina de la Riva
5. Menino Bonito (1974) - Marina de la Riva
6. Luz del Fuego (1975) - Marina de la Riva
7. Mania de Você (1979) - Paula Toller
8. Cartão Postal (1975) - Paula Toller
9. Baila Comigo (1980) - Paula Toller
10. Esse Tal de Rock'n'Roll (1975) - Paula Toller
11. Fora da Lei (1997) - Ed Motta
12. Caso Sério (1980) - Ed Motta
13. Colombina (2000) - Ed Motta
14. Jardins da Babilônia (1978) - Herbert Vianna
15. Desculpe o Auê (1983) - Herbert Vianna
16. Papai me Empresta o Carro (1979) - Herbert Vianna
17. Ando Meio Desligado (1970) - Lenine
18. Mutante (1981) - Lenine
19. Ovelha Negra (1975) - Lenine
20. Agora Só Falta Você (1975) - Lenine
21. Lança Perfume (1980) - Todos
22. Chega Mais (1980) - Todos

Suingue da Voz valoriza registro inédito de 1986

Resenha de CD
Título: Live at the
Meadowlands
Artista: Frank Sinatra
Gravadora: Reprise
/ Universal Music
Cotação: * * * 1/2

A Universal Music dá a partida na reedição do vasto catálogo de Frank Sinatra (1915 - 1998) na gravadora Reprise - até então vinculado a Warner Music - com a reeedição comemorativa dos 40 anos do álbum My Way (1969) e com o lançamento de um disco inédito do artista, Live at the Meadowlands, captado ao vivo em 14 de março de 1986 no show que trouxe o cantor de volta à sua cidade natal, New Jersey (EUA). A rigor o primeiro dos 38 títulos da Reprise a ganharem o selo da Universal Music, Live at the Meadowlands chega às lojas com texto escrito por Hank Cattaneo, manager e confidente de Sinatra. A Voz já não estava no auge, mas compensa a (relativa) perda de brilho com o fenomenal suingue com que aborda o repertório majoritariamente formado por standards como Where or When, I've Got You under my Skin e Someone to Watch over me. Salta aos ouvidos a intimidade de Sinatra com o repertório e com os músicos de sua banda liderada pelo pianista Bill Miller. Envolvida em eventual ambiência jazzy, a Voz dá show entre baladas como My Heart Stood Still e temas suingantes como Mack the Knife. Mesmo quando não estava na melhor das formas, Sinatra muitas vezes conseguia ser o melhor...

4 de novembro de 2009

Cantor do Bloc Party, Okereke grava disco solo

Vocalista e líder do quarteto britânico Bloc Party, Kele Okereke prepara seu primeiro disco solo. O CD está sendo pilotado na Inglaterra pelo produtor Hudson Mohawke. A gravação desse álbum solo não significa - por ora... - ruptura do cantor com sua banda, que entra em recesso após o fim da turnê de seu terceiro álbum, Intimacy (2008). Contudo, é fato que o Bloc Party jamais reeditou o sucesso de seu primeiro álbum, Silent Alarm, disparado em 2005. A carreira solo de Okereke já poderia ser sinal de desgaste interno do grupo...

Beyoncé lança DVD (e música com Lady Gaga)

Muito em alta no mercado fonográfico norte-americano por conta do sucesso de seu terceiro álbum solo, I Am... Sasha Fierce (2008), Beyoncé lança DVD e nova gravação da música Video Phone - feita com a participação de Lady Gaga - neste mês de novembro de 2009. Intitulado I Am...Yours: An Intimate Performance at Wynn Las Vegas, o DVD foi gravado em 2 de agosto durante temporada de Beyoncé no Wynn Resort Encore Theater, em Las Vegas (EUA), e tem lançamento agendado para 23 de novembro. O vídeo entrelaça números do show - cujo registro ao vivo vai ser editado também em CD - com histórias e cenas de bastidores. Já o extended mix de Video Phone - no qual figura Lady Gaga - vai ser ofertado como faixa-bônus na Deluxe Edition de I Am...Sasha Fierce. A nova versão da música ganhou clipe.

Belchior reaparece no CD e DVD de Montenegro

Oswaldo Montenegro lança neste mês de novembro de 2009 o CD e DVD Quebra-Cabeça Elétrico, com registro ao vivo de show feito no Citibank Hall, em São Paulo (SP), em 3 e 4 de abril. No roteiro do DVD, que tem direção de Roberto de Oliveira, o menestrel apresenta sua visão de temas de compositores como Belchior (A Palo Seco e Na Hora do Almoço), Chico Buarque (Deus lhe Pague e Geni e o Zepelin), Alceu Valença (Agalopado e Na Primeira Manhã), Caetano Veloso (Muito Romântico), Ednardo (Pavão Mysteriozo) e Paulinho da Viola (Sinal Fechado), entre outros. Hits de Montenegro completam o roteiro. Quebra-Cabeça Elétrico é editado com distribuição da Universal Music.

Bublé arrisca pouco na fórmula de 'Crazy Love'

Resenha de CD
Título: Crazy Love
Artista: Michael Bublé
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * 1/2

Michael Bublé não é louco. Ótimo cantor, o crooner sabe que fez fama e fortuna ao se apegar aos standards em série de álbuns que projetaram sua voz e sua imagem de galã. Sucessor do bem-sucedido Call me Irresponsible (2007), Crazy Love não põe em risco a carreira de Bublé, embora o inusitado arranjo orquestral que dá outra pulsação ao clássico Cry me a River faça supor o contrário na abertura do disco. Contudo, já na segunda comportada faixa, All of me, Crazy Love oferece o que público espera de um crooner como Bublé: tratamento respeitoso aos standards. Escorado na grandiosidade orquestral das produções de David Foster, o cantor está plenamente à vontade ao revisitar temas como All I Do Is Dream of You. E, justiça seja feita, sua interpretação irretocável de Georgia on my Mind prova que ele é um dos melhores do gênero que abraçou. Já as duas inéditas autorais inseridas entre os standards - Haven't Met You Yet (com pegada pop) e Hold on (uma baladona convencional) - são boas sem chegar, de fato, a impressionar. E o fato é que, embora com competência, Bublé vai oferecendo apenas mais do mesmo ao longo de Crazy Love. Entre faixas de pompa orquestral (Heartache Tonight) e de tom mais íntimo (You're Noboby Till Somebody), o intérprete volta a surpreender somente ao fim do CD com o registro desnudado de Stardust, dividido com o grupo vocal Naturally 7. No todo, Crazy Love é bom disco. Mas seria salutar que Bublé começasse a correr mais riscos em vez de se apegar a uma fórmula que começa a tornar repetitiva sua discografia. Até suas fãs poderão se cansar...

Venturini grava tema ecológico para CD global

Flávio Venturini entrou em estúdio da Barra da Tijuca (RJ) para gravar Eco Peace, faixa de um CD que integra o Musical Nation Project. Idealizado pelo percussionista norte-americano Frank Colón (à esquerda) com o produtor brasileiro Daniel Figueiredo (à direita), o projeto agrega artistas de nacionalidades e de estilos diversos. Foram captadas imagens da gravação de Venturini para a produção de um clipe - a ser finalizado pelo diretor Edu Mansur.

Novo ao vivo de McCartney é 'best of' do artista

Good Evening New York City, o novo disco ao vivo de Paul McCartney, vai ser lançado em 17 de novembro de 2009 - exatos cinco meses após a estreia da temporada de três dias realizada pelo artista no Citi Field Stadium, em Nova York (EUA). Em 17, 18 e 21 de julho, o ex-Beatle rebobinou os principais hits da carreira em roteiro que tem jeito de best of e que está perpetuado em CD duplo que enfileira 35 músicas. A tripla edição especial de Good Evening New York City agrega um DVD com o mesmo registro integral do espetáculo eternizado nos dois CDs. Eis os 34 números:

1. Intro
2. Drive my Car
3. Jet
4. Only Mama Knows
5. Flaming Pie
6. Got to Get You into my Life
7. Let me Roll It
8. Highway
9. The Long and Winding Road
10. My Love
11. Blackbird
12. Here Today
13. Dance Tonight
14. Calico Skies
15. Mrs Vandebilt
16. Eleanor Rigby
17. Sing the Changes
18. Band on the Run
19. Back in the USSR
20. I'm Down
21. Something
22. I've Got a Feeling
23. Paperback Writer
24. A Day in the Life / Give Peace a Chance
25. Let It Be
26. Live and Let Die
27. Hey Jude
28. Day Tripper
29. Lady Madonna
30. I Saw Her Standing There
31. Yesterday
32. Helter Skelter
33. Get Back
34. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band / The End

3 de novembro de 2009

Daniela celebra o samba da terra em 'Canibália'

Resenha de CD
Título: Canibália
Artista: Daniela Mercury
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * 1/2

Canibália, o 13º álbum de Daniela Mercury, é coerente com seu título de inspiração antropofágica. Cosmopolita, a baiana põe no tabuleiro doses concentradas de eletrônica, um tantinho de r & b - em This Life Is Beautiful, parceria com o rapper norte-americano Wyclef Jean, convidado do tema que celebra a vida e a Bahia - e um bocadinho de rap, evocado nos compassos iniciais de Trio em Transe. Contudo, por mais que carregue outros balangandãs neste álbum que remete ao iluminado disco Sol da Liberdade (2000) pela maior ousadia estética e pelas bases eletrônicas de algumas faixas (mas também ao desconexo Sou de Qualquer Lugar, de 2001, quando procura se distanciar do universo do axé), a baiana oferece como quitute principal o samba de sua terra. Celebrado tanto na faixa intitulada Benção do Samba - festivo medley que agrega Na Baixa do Sapateiro (Ary Barroso), Samba da Minha Terra (Dorival Caymmi) e Samba da Benção (Baden Powell e Vinicius de Moraes) - como na batucada que encerra a turbinada releitura eletrônica de Tico-Tico no Fubá, o choro de 1931 que deu projeção internacional ao compositor Zequinha de Abreu (1880 - 1935) na voz de Carmen Miranda (1909 - 1955). Tempero natural da azeitada salada tropicalista de Canibália, a Brazilian Bombshell é citada em verso de Trio em Transe - tema que relaciona na letra personagens e filmes do cinema brasileiro - e tem sua voz sampleada por Daniela no charmoso dueto virtual de O Que É Que a Baiana Tem?, o samba-emblema do recorrente Dorival Caymmi (1914 - 2008). A baiana tem visão internacional...

Por mais que atravesse fronteiras ao perseguir um tom e um som cosmopolita, numa busca refletida nos versos poliglotas de One Love (faixa que soterra a percussão baiana sob beats eletrônicos), Canibália cresce justamente quando gira em torno do samba da terra. Oyá por Nós - parceria de Daniela com Margareth Menezes - é aquecida pelo calor da voz de Maga e do baticum afro-baiano. O medley Preta - que junta Eu Sou Preto (J. Velloso e Mariene de Castro) com Sorriso Negro (Adilson Barbado, Jair Carvalho e Jorge Portela) - celebra a negritude num tom mestiço que remete ao último álbum de estúdio da cantora, Balé Mulato (2006). Convidado da faixa, Seu Jorge defende com propriedade o samba popularizado por Ivone Lara em 1981, com direito a discurso por mais cidadania e trabalho ao fim do tema. É bom momento de Canibália, assim como Sol do Sul, reggae que - a despeito de ter sido feito por Daniela com seu filho Gabriel Póvoas na invernal Londres - ilumina a ideia política da integração da América do Sul.

Feito sob a luz clara da alegria, traço recorrente na ensolarada discografia de Daniela e mote da faixa A Vida É um Carnaval, Canibália celebra também os direitos indígenas em Dona Desse Lugar, exalta o amor (e a liberdade de amar) na balada Castelo Imaginário e agrega familiares da artista nos vocais afetuosos de Cinco Meninos, a música mais pungente do CD. Nesse mosaico antropofágico, há ainda espaço para a releitura moderninha de O Que Será? (À Flor da Terra), tema lançado por Chico Buarque em 1976. No todo, Canibália não chega a figurar entre os melhores discos de Daniela, porque nem sempre as músicas inéditas estão à altura das ideias defendidas nas letras, mas a baiana reafirma a habitual inquietude ao se enfeitar com novos balangandãs e ao recusar a mesmice imperante no ritmo rotulado como axé music.

Caetano apresenta segundo CD solo de Miranda

Por intermédio de seu filho Moreno Veloso, amigo de Pedro Miranda (visto acima em foto de Bruno Veiga), Caetano Veloso ouviu Pimenteira, o segundo CD solo do cantor projetado no Grupo Semente. Caetano gostou tanto do sucessor de Coisa com Coisa (2006) que escreveu o entusiasmado texto que apresenta o álbum aos formadores de opinião. Com a palavra, Caetano Veloso:

"Uma Coleção de Obras-Primas"
Caetano Veloso

"Há muito tempo não ouço um disco inteiro com tanto entusiasmo no coração quanto esse Pimenteira. Acho que ouvi Pedro Miranda pela primeira vez numa faixa do CD de Teresa Cristina – e fiquei maravilhado com a musicalidade, a cultura entranhada, a naturalidade, o frescor. Comuniquei meu entusiasmo a Moreno e ele me disse que conhecia Pedro: logo eu estava com o primeiro CD de Pedro nas mãos. O CD confirmava a muito boa impressão causada pela faixa no disco de Teresa. De modo que, agora, quando ele me entregou uma cópia do seu novo disco, eu já me pus em alta expectativa. Mas não imaginava que estivesse diante de um trabalho de tamanho fôlego. Considero este um disco de grande artista. É um disco fácil de ouvir, maneiro, agradável, porém tem força histórica intensa e convida a reflexões complexas e tão profundas que nem a deliciosa paródia de texto acadêmico que vem no encarte (a respeito da alegoria deliberadamente ingênua de Edu Krieger, Coluna Social) poderia satirizar. Para começar, o estilo despojado do cantor, sem afetação, sem tiques nenhuns, dá conta de toda a possível cultura crítica atual relativa ao canto popular brasileiro. Voz maleável, incrivelmente confortável nas regiões agudas, ele mostra destreza e agilidade sem que se perceba esforço de sua parte. E o fraseado revela reverência e familiaridade com a história do samba. Mas é a escolha do repertório que ilumina as virtudes do seu estilo. Esse repertório (para cuja feitura ele agradece a colaboração de Cristina Buarque e Paulão 7 Cordas) diz tudo sobre o que deve ser dito a respeito do que vem acontecendo com o samba, desde que este se tornou emblema da musicalidade brasileira (“O mito é o nada que é tudo”), passando pelo furacão camuflado que foi a bossa nova e pela sua recolocação no ambiente que o forjou: a boemia que transita entre certos morros e certas áreas do asfalto carioca. Essa recolocação teve como marco inicial a virada que significou, no meio dos anos 1960, coincidirem as insatisfações de Nara Leão com o surgimento do Zicartola, o início das atividades de compositor de Chico Buarque em São Paulo e o estrelato conjunto de Paulinho da Viola e Clementina de Jesus no Rosa de Ouro. Todos os desdobramentos – de Beth Carvalho ao Art Popular, de Zeca Pagodinho ao Psirico, de Arlindo Cruz a Roberta Sá – estão homenageados nesse álbum coeso, sincero e de grande visão. O arco de compositores vai de Nelson Cavaquinho a Rubinho Jacobina – e, no entanto, a unidade de visão faz de Pimenteira uma obra autoral de Pedro Miranda. As melodias, em geral com sabor de choro a caminho da gafieira (mas sem deixar de fora nem a chula baiana nem o coco nordestino), sustentam um virtuosismo poético que, por força da perspectiva da escolha do material (e da ordem em que ele vem), sugere um gosto pessoal, a um tempo apurado, exigente e espontâneo, que atravessa todo o disco. Dos versos elegantes de Paulo César Pinheiro para a música rica de Mauricio Carrilho (com ecos de Bororó) ao fascinante jogo embaralhado de imagens atuais no samba de Moyseis Marques, passando pela Imagem, de Trambique e Wilson das Neves, e pelo show de bola de Elton Medeiros e Afonso Machado, tudo em Pimenteira transpira grande talento guiado por grande inteligência. O disco fala de tudo o que fala como Nei Lopes fala (na única nota de encarte que não foi escrita por Pedro e Luís Filipe) da série de mulatos que compõem a figura de Compadre Bento: com admiração e intimidade. Terminei citando muitos dos sambas do disco, mas não é por os achar menos interessantes que não citei alguns: todos são de alta extração, todos fazem o CD soar como uma coleção de obras-primas. O que faz com que esse disco ao mesmo tempo pareça o lançamento de um novo autor e uma antologia de clássicos. Na verdade, é o disco que já nasce antológico. A colaboração de Luís Filipe de Lima é decisiva na definição dos arranjos e da sonoridade. Sobre ele (e os demais colaboradores musicais e técnicos), Pedro fala melhor do que eu poderia, nas palavras de agradecimento que escreveu. Quanto a mim, sou mais levado a considerar que a oportunidade foi uma dádiva que Pedro lhes fez. Eu sempre sou citado como elogiador fácil de moças jovens bonitas que cantam samba. Nunca as elogiei sem que achasse justo fazê-lo. Dizer aqui que o CD de um marmanjo, que nem tipo gatinho é, é algo muito mais importante do que o que essas ninfas têm, em conjunto, alcançado deve dar ideia do quanto considero Pimenteira um evento especial em nossa música. E, de quebra, pode dar mais credibilidade aos elogios que faço às moças". Caetano Veloso

Sony põe 150 mil CDs de Victor & Leo nas lojas

Chega às lojas nesta terça-feira, 3 de novembro de 2009, o CD Ao Vivo e em Cores em São Paulo, sétimo título da discografia de Victor & Leo - a dupla sertaneja mais popular do momento. A gravadora Sony Music alardeia que nada menos do que 150 mil cópias já foram previamente vendidas. Na sequência, a companhia vai lançar o DVD homônimo, com o integral registro ao vivo do show captado em setembro, em duas apresentações da dupla no Ginásio Ibirapuera, em São Paulo (SP). Trata-se do terceiro CD ao vivo da dupla formada pelos irmãos naturais de Ponte Nova (MG).

Arantes propaga tema do bem criado para ONG

Guilherme Arantes está badalando a música que compôs para uma ONG de São Paulo (SP), a Turma do Bem, formada por dentistas atuantes na capital paulista. Composto pelo compositor a pedido da instituição, o tema Eu Vou Fazer (Vem Ver o Sol Nascer) já está sendo disponibilizado na web para download gratuito e legalizado. A inédita de Arantes é o tema de um documentário, Boca a Boca, produzido pela ONG e em fase de pré-estreia.

2 de novembro de 2009

Sony vai confirmar em breve vínculo com Leitte

Já noticiada (de forma extra-oficial) em julho de 2009, a ida de Claudia Leitte para a Sony Music em breve vai ser confirmada oficialmente pela gravadora. O segundo título da discografia solo da cantora já vai ser editado por sua nova companhia. Com o ingresso de Claudia Leitte no elenco da Sony Music, a estrela se desvincula da Universal Music, gravadora na qual sua suposta rival Ivete Sangalo tem tido prioridade no segmento da axé music.

DVD na reedição de 30 anos de 'London Calling'

Em 2004, as bodas de prata da obra-prima da discografia do grupo punk inglês The Clash, London Calling (de 1979), foram festejadas com a 25th Anniversary Legacy Edition do álbum. Cinco anos depois, os músicos da extinta banda anunciam o lançamento, para 14 de dezembro de 2009, da 30th Anniversary Legacy Edition do explosivo disco, marco da era punk. Sabe-se apenas, por ora, que a nova reedição vai incluir um DVD. Enquanto realimentam o culto a London Calling, o guitarrista Mick Jones e o baterista alternativo Topper Headon se reuniram em estúdio, pela primeira vez em 27 anos, para fazer gravação beneficente de Jail Guitar Doors, música composta por eles em 1979. A conferir!!

Trilha de This Is It é mera coletânea de Michael

Resenha de CD
Título: This Is It
Artista: Michael Jackson
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * *

O documentário This Is It merece ser visto por reconstituir e revelar na medida do possível o show que Michael Jackson (1958 - 2009) ensaiava para estrear em 13 de julho de 2009, em Londres - com direito a imagens grandiosas como a multiplicação virtual dos onze bailarinos em They Don't Care about us. Já o CD duplo This Is It, anunciado como a trilha sonora do filme de Kenny Ortega, mais parece uma coletânea do Rei do Pop, a despeito de seu encarte repleto de fotos dos ensaios da turnê que não estreou. O material inédito não justifica a compra do disco exceto para fãs radicais do astro. De novidade, além da inédita faixa-título, há o poema Planet Earth - recitado por Michael - e as demos de She's out of my Life (uma versão desossada do maravilhoso registro original), Wanna Be Startin' Somethin' (com pressão e pegada que fica latina ao fim) e Beat It (em que salta aos ouvidos a harmonia dos vocais). Quanto à música tida como inédita que batiza o filme e o disco, This Is It, o universo pop já sabe que se trata de balada composta por Michael em 1983 em parceria com Paul Anka - cuja co-autoria vai ser creditada nas próximas tiragens do disco - e gravada em 1991 pela obscura cantora porto-riquenha Safire com o título de I Never Heard. This Is It, a música, foi encontrada no acervo de Michael em registro de voz-e-piano, ao qual foram acrescentados orquestra e os vocais dos irmãos do cantor, The Jacksons. É, a rigor, balada apenas mediana que parece não ter força para impulsionar as vendas dessa trilha-coletânea. A menos que a emoção provocada por This Is It, o filme, intensifique o culto a Michael Jackson ao redor do mundo a ponto de fazer com que súditos comprem todo e qualquer produto criado para faturar com a saudade deixada pela precoce saída de cena do Rei do Pop.

Pedro Sá azeita rock-samba de Ronei e Ladrões

Resenha de CD
Título: Frascos
Comprimidos Compressas
Artista: Ronei Jorge e os
Ladrões de Bicicleta
Gravadora: Gira
Independente
Cotação: * * *

Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta é um grupo da Bahia que cruza samba com rock sem fazer exatamente samba-rock. O fato de Pedro Sá - o guitarrista que é a alma da BandaCê recrutada por Caetano Veloso para os discos (2006) e Zii e Zie (2009) - ser o produtor do segundo álbum da banda já informa muito a respeito de Frascos Comprimidos Compressas. Pedro Sá não toca no disco, porém azeita o rock-samba de Ronei Jorge. A guitarra roqueira que conduz o ritmo do samba Você Sabe Dessas Coisas (Nega) evoca a guitarra tocada por Pedro em Zii e Zie, cuja ambiência também está refletida de alguma maneira no instrumental da balada A Respeito do Sono. Contudo, a despeito de o CD ter certa similaridade com o tom dos últimos dois álbuns de Caetano, o repertório irregular de Ronei e dos Ladrões tem identidade própria, reforçada pela produção de Pedro Sá. A ponto de um dos 14 temas do disco, Está na Cara, ter aura meio progressiva e nem por isso destoar de Tão Sabida que Eu Nem Sei, samba embebido em alta dose de brasilidade. Enfim, o CD Frascos Comprimidos Compressas tem lá seus encantos próprios - apesar de o repertório nem sempre ser inspirado - e vai contentar os fãs da sonoridade indie de Ronei Jorge e dos Ladrões.

Peyroux volta ao hino de Piaf no primeiro DVD

Em seu primeiro bom DVD, Somethin' Grand, recém-lançado no Brasil pela Universal Music, Madeleine Peyroux volta a cantar um clássico do repertório da cantora francesa Edith Piaf (1915 - 1963), La Vie en Rose, que já havia revivido em seu primeiro bom álbum, Dreamland (1996). Gravado ao vivo em janeiro de 2009, em show intimista realizado em Los Angeles (EUA), o DVD apresenta um documentário - também intitulado Somethin' Grand, nome de uma das músicas do quarto álbum da artista, Bare Bones (2009) - e um set adicional com cinco gravações acústicas. Do show captado em Los Angeles, há 17 números - River of Tears, La Javanaise, Instead e I Must Be Saved, entre outros - que enfatizam a devoção de Peyroux ao blues e ao folk, gêneros envolvidos por ela em ambiência jazzy. George Scott assina a direção do DVD da cantora norte-americana.

1 de novembro de 2009

'Celebration' resume bem a era pop de Madonna

Resenha de CD / DVD
Título: Celebration
Artista: Madonna
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * * * (CD) e * * * * * (DVD)

Celebration - a mais completa coletânea de Madonna, idealizada para encerrar os vínculos contratuais da artista com a gravadora Warner Music - festeja e resume (bem) a era pop de uma diva que é uma das mais perfeitas traduções da música e dos costumes ocidentais do final do século 20. O DVD Celebration - The Video Collection é especialmente fundamental por alinhar, em ordem cronológica, 47 clipes que fizeram história. Madonna surgiu numa década - a de 80 - em que a música passou a ser um produto audiovisual. E ela entendeu isso como poucos. Talvez sua música não tivesse alcançado a dimensão que tomou ao longo dos últimos 25 anos se não tivessem existido clipes polêmicos como Like a Virgin (1984) e Like a Prayer (1989), que puseram lenha na fogueira sempre ardente do erotismo e da religiosidade. A seleção do DVD Celebration acompanha a evolução de Madonna e é retrato nítido de sua capacidade de (se re)inventar. Inclusive moda. Nem mesmo a ausência do clipe de Fever (1993) - um dos marcos da fase mais erótica da estrela - minimiza a importância do DVD. A edição de Celebration - The Video Collection torna instantaneamente obsoleta a primeira compilação de clipes de Madonna, The Imaculate Collection (1990), de cuja seleção apenas o vídeo de Oh Father (1989) não é rebobinado no atual DVD. Já Video Collection 93:99 (1999) ainda resiste pelo fato de agregar os vídeos de Fever (1993), Drowned World (1998) e Nothing Really Matters (1999). Mesmo que a qualidade técnica e a estética de alguns clipes, sobretudo os dos anos 80, já soem amadoras face aos recursos atuais, o que se vê em Celebration - The Video Collection é um desfile de música pop do mais alto quilate. Obra que foi resumida no CD duplo em 36 fonogramas, infelizmente dispostos fora de ordem cronológica. Entre duas inéditas, Celebration e Revolver (faixa gravada com o rapper Lil' Wayne), a coletânea salpica todos os grandes hits de Madonna, sendo que dois deles, Holiday e Everybody, são ausência sentidas no DVD. Celebration - a compilação, mas também a música de tom festivo, petardo certeiro nas pistas - encerra um ciclo. Do pop dançante dos anos 80, década que lhe rendeu hits ainda hoje irresistíveis como Borderline e Into the Groove, Madonna partiu para outros sons. Vogue (1990) marcou o início da virada que, após fase de farto erotismo, levou a estrela por dimensões mais espirituais no cultuado Ray of Light, álbum de 1998. Mas eis que, já nos anos 2000, a diva fez o caminho de volta com série de hits dançantes e mais desencanados - como Music, faixa-título do álbum de 2000 - que culminaram no consagrador Confessions on a Dance Floor, álbum de 2005 em que Madonna, gata então quase cinquentona, escaldada pelo fracasso de American Life (2003), voltou a ser inteiramente Madonna ao cruzar referências de disco music com a batida do eurodance. Tudo isso está no CD e DVD Celebration, resumo histórico da Pop Art de Madonna. Dez!

Rock do Manacá cresce quando é mais regional

Resenha de CD
Título: Manacá
Artista: Manacá
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * *

Quarteto surgido na cena indie do Rio de Janeiro (RJ), incensado a partir de 2007 por um jornal carioca, o Manacá é mais um grupo que funde a batida do rock com elementos e sons do folclore e da cultura regional brasileira - em especial, a nordestina. Manacá, o disco recém-lançado pela EMI Music, foi produzido por Mario Caldato com o grupo em 2008, mas, engavetado, chega tardio às lojas, um ano e meio depois da gravação. E mostra que, embora já batida, a receita pop regionalista adquire sabor ligeiramente original no toque da boa banda. Diabo é a faixa promocional que enfatiza a pegada roqueira do Manacá. Contudo, o rock do Manacá cresce justamente quando as doses de regionalismo são mais concentradas - como em Flor de Manacá (maior destaque de um repertório autoral que, a rigor, soa irregular) e na versão acústica de O Galo Cantou, tema sucedido no álbum por harmonioso cover de Canto de Ossanha (Baden Powell e Vinicius de Moraes). As referências regionalistas aparecem não somente no som - que acrescenta rabeca e acordeom aos instrumentos típicos do rock - mas também nas letras escritas pela vocalista e percussionista Leticia Persiles, projetada nacionalmente como atriz ao encarnar a personagem-título da minissérie Capitu, exibida em 2008 pela Rede Globo. Enfim, o Manacá não reinventa a roda - na qual giram desde os anos 90 grupos como o extinto Mestre Ambrósio e, um pouco depois, o Cordel do Fogo Encantado - mas, se burilar seu repertório, pode vir a crescer na cena pop brasileira. Tem talento.

Wado cruza o oceano afro em 'Atlântico Negro'

Resenha de CD
Título: Atlântico Negro
Artista: Wado
Gravadora: Nenhuma
Cotação: * * * 1/2

Cantor e compositor da cena indie, radicado em Alagoas, o catarinense Wado cruza feliz o Oceano de sons que liga África e Brasil em Atlântico Negro, quinto álbum do artista, recém-lançado no formato de SMD e já disponibilizado para download gratuito no site oficial de Wado. Afoxé que abre o trabalho, Estrada incorpora versos recitados por Helder Monteiro, nativo de Guiné Bissau, e já dá a pista do cruzamento de sons e sotaques do disco, que teve seis de suas onze faixas mixadas por Kassin em seu estúdio Monoaural, no Rio de Janeiro (RJ). Entre baladas (Frágil e Pavão Macaco), samba de tom afro (Martelo de Ogum, faixa que traz Rômulo Fróes entre os vocalistas) e pop que remete ao afoxé originário da mesma matriz africana (Cordão de Isolamento), Atlântico Negro navega até pelas águas do funk carioca no Rap Guerra no Iraque - da lavra de MC Gil do Andaraí - e apresenta a parceria de Wado com o escritor moçambicano Mia Couto em Hercílio Luz e na citada Estrada. O título do disco revive termo usado pelo antropólogo inglês Paul Gilroy para se referir à cultura mestiça nascida da ligação seminal da mãe África com as Américas. Explorando esse tráfico contínuo de sons e influências, Wado fez um disco miscigenado que traduz a inquietude que molda sua indie obra fonográfica. É com liberdade estética que ele sustenta com base dance tema do cancioneiro tradicional alagoano - Boa Tarde, Povo (Baianas de Santa Luzia do Norte/Maria do Carmo) - e que mixa sua música Jejum com Cavaleiro de Aruanda, o tema de Tony Osanah que Ronnie Von lançou em 1971 e que Rita Ribeiro reviveu em 2003 no show Tecnomacumba, despertando a atenção de Ney Matogrosso. Com produção antenada de Pedro Ivo Euzébio, Atlântico Negro desliza coeso nas águas calmas da voz do sempre inventivo Wado.

Kléber constrói disco com romantismo popular

Resenha de CD
Título: Só o Amor Constrói
Artista: Kléber
Albuquerque &
Miniorkestra
de Polkapunk
Gravadora: Sete Sóis
/ Tratore
Cotação: * * *

A faixa-título do quinto CD do cantor e compositor Kléber Albuquerque, Só o Amor Constrói, é canção abolerada que explora o romantismo popular que dá o tom da música brega. O artista caminha seguro por esse terreno popular, mas o disco evoca outros sons e universos musicais no toque da Miniorkestra de Polapunk, formada pelo baixista André Bedurê, o guitarrista Estevan Sinkovitz, o baterista Gustavo Souza e Paulo Souza, que toca serrote na maioria das 15 faixas. Entre samba (Seis Horas), rock (Sete Faces, composto com o eclético Chico César) e inapropriada releitura de Esquadros (Adriana Calcanhotto) no ritmo veloz do ska, Kléber abre espaço para que a voz de Renato Braz brilhe soberana e solitária em Cala Frio - densa canção de tom soturno, adornada pelo bandolim de Sinkovitz e composta por Kléber a partir dos versos do poeta Isac Ruiz. Ao permitir o brilhante solo vocal do colega, o anfitrião explicita o principal problema do álbum: a fragilidade de seu próprio canto. O sambossa Futebol para Principiantes, por exemplo, entra em campo sem a forma exibida no registro feito pela cantora Márcia Castro no CD Pecadinho (2007). Descontada a deficiência do artista, Só o Amor Constrói se revela um disco de interessante sonoridade indie - ainda que o repertório seja, no todo, irregular...

Coletivo traz o fado de Amália para dias de hoje

Resenha de CD
Título: Amália Hoje
Artista: Hoje
Gravadora: Sony Music
Cotação: * * * * 1/2

Dez anos após sua morte, Amália Rodrigues (1920 - 1999) voltou a liderar as paradas de Portugal. Não por conta de alguma coletânea de sucessos ou do filme de tom novelesco - Amália - lançado com pompa nos cinemas lusitanos. O responsável por reviver a aura da maior fadista foi um coletivo moderníssimo, Hoje, que agrega os cantores do duo The Gift (Nuno Gonçalves e Sónia Tavares), Paulo Praça (egresso da banda Plaza) e Fernando Ribeiro (Moonspell). O coletivo deu lufada de ar fresco no repertório tristonho da cantora e compositora em Amália Hoje, CD ainda inédito no Brasil que galgou rapidamente as paradas da Terrinha desde que foi lançado, em fins abril de 2009. O sucesso é justíssimo. O quarteto aborda o repertório associado a Amália de forma contemporânea. Músicas como Medo e Gaivota ganharam grandiosos arranjos orquestrais que os envolve em atmosfera épica sem prejuízo das melodias. Não há guitarras portuguesas. Não há devoção às tradições do fado, embora haja reverência a esse belo repertório embebido em melancolia. O grupo eventualmente até soa modernoso, como na releitura eletrônica de Formiga Bossa Nova - a pérola que Adriana Calcanhotto pescou ao juntar repertório para o primeiro álbum de seu heterônimo infantil Adriana Partimpim. Mas, no geral, quase tudo funciona em Amália Hoje, beirando o sublime no Fado Português, na supra-citada Gaivota e em Foi Deus. Este clássico de Alberto Janes é entoado num registro inicialmente sussurrante - feito sem o melodrama habitualmente conferido ao tema - que vai ganhando intensidade na medida em que a faixa avança. E é assim, situado entre a grandiosidade e a delicadeza (perceptível na ornamentação meio lúdica de L'Important C'est la Rose), que Hoje acerta ao trazer Amália para os dias de hoje. Ouça!

'Notas Musicais' faz três anos de (intensa) vida

Com este post, já o de número 4.784, Notas Musicais completa três anos de atividades e entra no seu quarto ano de vida. Vida intensa como o tráfego de milhares de leitores do Brasil e de Portugal que entram diariamente neste blog em busca de informações e opiniões sobre CDs, DVDs e shows. Intensidade tamanha que parece aos olhos do dono que Notas Musicais já existe há decadas quando, a rigor, foi há exatos três anos, em 1º de novembro de 2006, que ele entrou na rede como mais um entre tantos endereços da blogsfera. Nesses três anos, o blog vem se solidificando como referência para consumidores de discos e para quem lida, de uma forma ou de outra, com o mercado fonográfico. Para um blog que (por questões ideológicas) não fornece links para downloads ilegais de CDs e tampouco exibe vídeos com clipes ou números de shows, Notas Musicais atingiu dimensão rara no meio musical e digital por estar calcado unicamente em textos. Textos de maior ou menor teor opinativo, mas sempre temperados com altas doses de informação - objetivo primordial do blog. É hora de agradecer, portanto, aos leitores que dão vida ao blog com seus comentários - filtrados com rigor crescente em nome da ética e da educação - e aos artistas, produtores, empresários, executivos e assessores do bravo ramo fonográfico que, sim, também frequentam Notas Musicais com assiduidade. É hora também de esclarecer que, na impossibilidade de se comunicar com todos seus leitores por falta de tempo, o blogueiro tomou a decisão de se dirigir somente aos leitores que apontam erros - e eles, os erros, são quase diários, frutos do fluxo intenso de informações publicadas diariamente no site. Por isso mesmo, é hora também de manifestar gratidão especial aos que se prontificam a apontar tais erros de digitação e/ou informação, contribuindo para a credibilidade e apuro da redação dos textos. Enfim, lá se foram três anos de vida feliz e intensa. Notas Musicais é pautado pelo princípio do prazer de ouvir música e escrever sobre ela. E é ela, a deusa música, que une todos, leitores e blogueiro, em torno destas notas redigidas com amor, de domingo a domingo, desde aquele já longínquo 1º de novembro de 2006. E que venha o quarto ano com belos CDs, DVDs e shows!!