3 de novembro de 2009

Caetano apresenta segundo CD solo de Miranda

Por intermédio de seu filho Moreno Veloso, amigo de Pedro Miranda (visto acima em foto de Bruno Veiga), Caetano Veloso ouviu Pimenteira, o segundo CD solo do cantor projetado no Grupo Semente. Caetano gostou tanto do sucessor de Coisa com Coisa (2006) que escreveu o entusiasmado texto que apresenta o álbum aos formadores de opinião. Com a palavra, Caetano Veloso:

"Uma Coleção de Obras-Primas"
Caetano Veloso

"Há muito tempo não ouço um disco inteiro com tanto entusiasmo no coração quanto esse Pimenteira. Acho que ouvi Pedro Miranda pela primeira vez numa faixa do CD de Teresa Cristina – e fiquei maravilhado com a musicalidade, a cultura entranhada, a naturalidade, o frescor. Comuniquei meu entusiasmo a Moreno e ele me disse que conhecia Pedro: logo eu estava com o primeiro CD de Pedro nas mãos. O CD confirmava a muito boa impressão causada pela faixa no disco de Teresa. De modo que, agora, quando ele me entregou uma cópia do seu novo disco, eu já me pus em alta expectativa. Mas não imaginava que estivesse diante de um trabalho de tamanho fôlego. Considero este um disco de grande artista. É um disco fácil de ouvir, maneiro, agradável, porém tem força histórica intensa e convida a reflexões complexas e tão profundas que nem a deliciosa paródia de texto acadêmico que vem no encarte (a respeito da alegoria deliberadamente ingênua de Edu Krieger, Coluna Social) poderia satirizar. Para começar, o estilo despojado do cantor, sem afetação, sem tiques nenhuns, dá conta de toda a possível cultura crítica atual relativa ao canto popular brasileiro. Voz maleável, incrivelmente confortável nas regiões agudas, ele mostra destreza e agilidade sem que se perceba esforço de sua parte. E o fraseado revela reverência e familiaridade com a história do samba. Mas é a escolha do repertório que ilumina as virtudes do seu estilo. Esse repertório (para cuja feitura ele agradece a colaboração de Cristina Buarque e Paulão 7 Cordas) diz tudo sobre o que deve ser dito a respeito do que vem acontecendo com o samba, desde que este se tornou emblema da musicalidade brasileira (“O mito é o nada que é tudo”), passando pelo furacão camuflado que foi a bossa nova e pela sua recolocação no ambiente que o forjou: a boemia que transita entre certos morros e certas áreas do asfalto carioca. Essa recolocação teve como marco inicial a virada que significou, no meio dos anos 1960, coincidirem as insatisfações de Nara Leão com o surgimento do Zicartola, o início das atividades de compositor de Chico Buarque em São Paulo e o estrelato conjunto de Paulinho da Viola e Clementina de Jesus no Rosa de Ouro. Todos os desdobramentos – de Beth Carvalho ao Art Popular, de Zeca Pagodinho ao Psirico, de Arlindo Cruz a Roberta Sá – estão homenageados nesse álbum coeso, sincero e de grande visão. O arco de compositores vai de Nelson Cavaquinho a Rubinho Jacobina – e, no entanto, a unidade de visão faz de Pimenteira uma obra autoral de Pedro Miranda. As melodias, em geral com sabor de choro a caminho da gafieira (mas sem deixar de fora nem a chula baiana nem o coco nordestino), sustentam um virtuosismo poético que, por força da perspectiva da escolha do material (e da ordem em que ele vem), sugere um gosto pessoal, a um tempo apurado, exigente e espontâneo, que atravessa todo o disco. Dos versos elegantes de Paulo César Pinheiro para a música rica de Mauricio Carrilho (com ecos de Bororó) ao fascinante jogo embaralhado de imagens atuais no samba de Moyseis Marques, passando pela Imagem, de Trambique e Wilson das Neves, e pelo show de bola de Elton Medeiros e Afonso Machado, tudo em Pimenteira transpira grande talento guiado por grande inteligência. O disco fala de tudo o que fala como Nei Lopes fala (na única nota de encarte que não foi escrita por Pedro e Luís Filipe) da série de mulatos que compõem a figura de Compadre Bento: com admiração e intimidade. Terminei citando muitos dos sambas do disco, mas não é por os achar menos interessantes que não citei alguns: todos são de alta extração, todos fazem o CD soar como uma coleção de obras-primas. O que faz com que esse disco ao mesmo tempo pareça o lançamento de um novo autor e uma antologia de clássicos. Na verdade, é o disco que já nasce antológico. A colaboração de Luís Filipe de Lima é decisiva na definição dos arranjos e da sonoridade. Sobre ele (e os demais colaboradores musicais e técnicos), Pedro fala melhor do que eu poderia, nas palavras de agradecimento que escreveu. Quanto a mim, sou mais levado a considerar que a oportunidade foi uma dádiva que Pedro lhes fez. Eu sempre sou citado como elogiador fácil de moças jovens bonitas que cantam samba. Nunca as elogiei sem que achasse justo fazê-lo. Dizer aqui que o CD de um marmanjo, que nem tipo gatinho é, é algo muito mais importante do que o que essas ninfas têm, em conjunto, alcançado deve dar ideia do quanto considero Pimenteira um evento especial em nossa música. E, de quebra, pode dar mais credibilidade aos elogios que faço às moças". Caetano Veloso

30 Comments:

Anonymous Vinicius said...

acredito sinceramente que o disco seja merecedor de elogios, mas o que me espanta ainda hoje é ver como a imprensa se guia por tudo que Caetano fala. não entendo isso.

3 de novembro de 2009 às 11:22  
Blogger Amigos das Bibliotecas said...

E não é que dessa vez o Caetano tem razão.

Pimenteira é uma delícia de ouvir.

Salve Pedro Miranda!

3 de novembro de 2009 às 11:48  
Blogger Ju Oliveira said...

Ainda não ouvi mas é um dos CDs que aguardo mais ansiosamente este ano.

Coisa com Coisa (2006) é muito bom!

3 de novembro de 2009 às 12:04  
Anonymous Anônimo said...

Caetano referendando Pedro 'Semente' Miranda/

Não, obrigado. Prefiro morrer de outras doenças...

3 de novembro de 2009 às 14:58  
Anonymous Anônimo said...

Acho de longe o melhor cantor surgido nessa geração Lapa.
E Caetano, pelo amor de Deus!!!!! Psirico? Art Popular? SAI DESSA! JOGA FORA NO LIXO!!!! Uma resenha tão bonita que se perde nesse tipo de comparações.
Abs,

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

3 de novembro de 2009 às 15:12  
Anonymous Anônimo said...

Caetano de novo apresentando pessoas. Acho que foram duzentas apresentações nos últimos 2 anos! Se eu fosse o Pedro Miranda dispensava. Está muito repetitivo. Ridículo! Ele fez esta mesma apresentação da Mariana Aydar. Escreveu e tudo... É demais!
Não conheço o Pedro Miranda, ele pode ser bom, mas só porque o Caetano apresentou eu já não gosto. É um absurdo as pessoas se guiarem por famosos. E os que são maravilhosos e não possuem apresentação? Depois o Caetano tem dado tanto tiro no pé. É Virgínia Rodrigues, Mariana Aydar, Tiê e o mundo. Eu não preciso do aval do Caetano para gostar de um artista. Sei que os críticos sérios também. Os grandes analistas de música já sabem da banalização que é uma carta de recomendação ca Caê. Se fosse do Gilberto Gil, João Gilberto e João Bosco a gente poderia prestar atenção, pois essa gente não sai atestando o mundo.

3 de novembro de 2009 às 18:38  
Anonymous Anônimo said...

Caetano vc de novo?
Vc não é Deus... Que chatice.

3 de novembro de 2009 às 18:41  
Anonymous Anônimo said...

Pô, não é do tipo gatinho! Eu levava tranquilo para miar no meu telhado...

3 de novembro de 2009 às 20:46  
Anonymous Anônimo said...

Caetano é tudo !!!
Pedro é apenas reverente com o samba, protocolar !!!


Pedro

3 de novembro de 2009 às 21:30  
Anonymous Anônimo said...

Tá acontecendo de novo... O centro do papo é o Caetano e não o Pedro!!!! Como é que ele sempre consegue isso?? Eu mesmo tô fazendo isso agora...

3 de novembro de 2009 às 22:44  
Anonymous Anônimo said...

O Caetano vulgarizou seus elogios.
Se eu fosse o Pedro, teria pedido para o Paulinho da Viola(que só elogia quem de fato gosta) e não para o Caetano.
Pedro é muito bom!

4 de novembro de 2009 às 00:05  
Anonymous Anônimo said...

Caetano é Caetano, gênio versátil e puro poeta, vou ouvir o disco e ver se tenho a mesma opinião. Quem não quiser ouvir simplesmente não ouça, "é só um jeito de corpo, não precisa ninguém acompanhar" o poeta.

4 de novembro de 2009 às 01:53  
Anonymous Gabriel said...

Os tais "formadores de opinião" deveriam fugir das dicas de Caetano. Faz séculos que ele não dá uma dentro. Só ele não se tocou ainda (!!!) de que a sua opinião não influencia absolutamente nada e ninguém, e que se tornou um mero exercício de ego que não chega a lugar nenhum. E que pobreza de texto... O músico baiano fala, fala, faz as obrigatórias comparações tolas de sempre... e não diz nada. Típico dele.

4 de novembro de 2009 às 03:15  
Blogger Carlos Lopes said...

Não percebo o ódio que se sente em relação ao MESTRE Caetano! Não percebo e nem preciso de explicação, porque penso pela minha cabeça! Sou fã de Caetano desde os meus 13 anos e tenho 42 agora. Viva Caetano!

4 de novembro de 2009 às 07:04  
Blogger Blog Blogspot said...

Percebi que Pedro Miranda não pediu nada a Caetano. Este escreveu porque lhe deu na telha.
Conhecendo o excelente atual bom trabalho de Leandro Lehart, arrisco dizer que o real valor do Art Popular tenha se diluído em meio a tantos grupelhos de pagode.
Já citar Psirico, aí deporia contra Pedro.
Caetano tem direito a escrever suas opiniões. O leitor é que tem que ter discernimento.

4 de novembro de 2009 às 08:33  
Anonymous Anônimo said...

Janio,

Me desculpe mas é questão de discernimento mesmo. Pagode da Amarelinha NUNCA foi e NUNCA será considerado samba ou pagode, ao menos na minha ótica. Abração,

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

PS: Depõe contra citar quaisquer desses grupos de pagode surgidos nos anos 90, que de pagode não tinham nada. Raça Negra, Grupo Raça, Soweto, Art Popular, SPC, Só Preto sem preconceito, Os Morenos, Molejo, Kiloucura, Sorriso Maroto, Katinguelê..... TUDO LIXO! Graças a Deus a geração da Lapa deu uma oxigenada no samba.

4 de novembro de 2009 às 10:41  
Anonymous Anônimo said...

caetano escreve sobre tanta gente que não tem mais credibilidade. pena para o pedro Miranda, pois isso tira o foco do bom cantor que ele é. não tem timbre bonito, especial, mas canta muito bem. conheci o pedro no show dos 100 anos da carmem miranda. gostei. só não vou comprar o disco porque o caetano está na parada. é boicote mesmo. é só isso que posso fazer contra o caetano ficar fazendo textos sobre um monte de coisas e artistas. a mariana aydar virou diva porque ele deu a bênção? está mais parada que poste!

4 de novembro de 2009 às 11:34  
Anonymous Anônimo said...

O genial Caetano incomoda mesmo algumas pessoas, rs, muito bom, isso significa que ele mexe em algo que elas têm internamente e elas continuam achando ( ou querendo achar) que o "problema" está com o Caetano, e não com elas, rs, solução mais fácil.E alguns opinam sem ter a menor ideia do que é Tropicalismo e das reais intenções do gênio baiano. É como diz esse mestre da música e da poesia: "ah, bruta flor do querer".

4 de novembro de 2009 às 12:16  
Anonymous Anônimo said...

ESSE PEDRO TEM O GRUPO SEMENTE,TEM O SAMBA DE FATO E AINDA UMA CARREIRA SOLO?É ISSO ?

4 de novembro de 2009 às 16:48  
Anonymous Anônimo said...

Tb acho que o Pedro Miranda é uma gracinha. Talvez um pouquinho acima do peso, mas nada de tão grave (se bem que o callado, do mesmo Grupo Semente, é um verdadeiro galã. Gatinho até dizer chega).

Caetano Veloso é referência sim, não dá pra negar. Refer~encia de qualidade, inteligência e rigor, mesmo quand o que ele aprova é musicalmente ruim. Caetano nunca teceu elogio ilegítimo a quem quer que fosse, e se às vezes ele elogia artistas que algumas pessoas acham que não merecem (eu muitas vezes discordo totalmente dele), ele o faz dentro da mais absoluta verdade com as próprias crenças. A muitos anos Caetano dá seu aval para a arte mais popularesca, e quando gravou Vicente Celestino em 1968 era para endossar isso. De lá para cá cantou com Odair José, gravou Peninha e outros quitutes bregas, e nunca escondeu gostar de música de carnaval da Bahia, do qual o grupo Psirico é parte.

A grande questão é que Caetano NUNCA deixou de dar o devido crédito e posto aos verdadeiramente grandes. Diferente de um Agnaldo Timóteo que abre a boca pra dizer que João Gilberto não canta nada, Caetano SABE não só da qualidade deste, mas de sua importãncia.

Caetano, não apenas um ótimo cantor e um dos 5 compositores mais importantes da MPB de todos os tempos, é um grande conhecedor da história de nossa música. Duvidar de que seu endosso é, SIM, muito relevante, é, realmente, de uma falta de importância total.

4 de novembro de 2009 às 19:08  
Anonymous Anônimo said...

Anônimo das 19:08, não entendi. O que está em pauta é a qualidade musical do Pedro Miranda, não o peso dele. Muito menos a beleza. Que futilidade! Com esta visão só poderia estar do lado do Caetano mesmo. Triste!!!!! Mauro parece piada. O anônimo está avaliando a parte estética do Pedro. Querido, o Pedro Miranda é CAN - TOR. OK? Só rindo.... Rrsrsrsrsrsrsr

4 de novembro de 2009 às 22:36  
Anonymous Anônimo said...

Nunca tinha ouvido nem falar em Psirico!

4 de novembro de 2009 às 23:45  
Blogger Blog Blogspot said...

Caro Marcelo,
Eu não sei uma música sequer desses pseudos-pagodeiros.
Comprei por 3 reais o 1° disco-solo (2002) do Leandro Lehart (EMI, com capa esverdeada) e fiquei espantado pela altíssima qualidade do samba-rock, com arranjos do multi-instrumentista LL. Escute e comprove, se vc gosta do samba-rock lenhada.
Foi por isto que ressalvei o Art Popular, que foi liderado pelo LL.
Abs,
Janio - Fortaleza/CE

5 de novembro de 2009 às 00:27  
Anonymous Anônimo said...

Ok, Janio. Mas sabe aquela máxima: "o teu passado te condena"? De qualquer forma tentarei escutar sem preconceitos. Espero que ele tenha se redimido. Muito obrigado pela dica! Abração,

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

5 de novembro de 2009 às 08:16  
Anonymous Vagner - Lapa said...

Caetano gostou? Paciência... Eu não gosto. Nem no pandeiro esse rapaz manda bem. Ainda bem que não é gato, pois senão teria um grande público apenas por este motivo.

5 de novembro de 2009 às 13:36  
Anonymous João da Baiana said...

Eu acho o Pedro um dos maiores pandeiristas do samba. Esse Vagner tá por fora: ou nunca ouviu direito, ou não sabe o que é pandeiro, ou deve ter ciúmes do Caetano.

6 de novembro de 2009 às 05:55  
Anonymous Vagner - Lapa said...

Colocar o Pedro Miranda como um dos maiores pandeiristas do samba é desrespeitar toda a história dos grandes pandeiristas brasileiros. Basta frequentar as rodas de samba do Rio de Janeiro para saber que ele não está entre grandes. João da Baiana provavelmente nunca ouviu falar em Wilson Pombo da paz, nunca foi a um show do fundo de quintal e ignora a existência de Marcos Suzano e não frequenta a Lapa. João, respeito o fato de você ser fã do Pedro Miranda, mas sem exageros, porque senão vira uma defesa vazia, como a do Caetano.

6 de novembro de 2009 às 13:07  
Anonymous Anônimo said...

Vagner - Lapa, que coisa inteligente vc escreveu. Este blog é frequentado pela nata da MPB. E público culto e atento! Parabéns pelas colocações.

6 de novembro de 2009 às 19:05  
Anonymous João da Baiana said...

Ô, Vagner, sei bem quem foi o saudoso Pombo da Paz, conheci os pandeiros que ele fazia, acompanho a trajetória do o Suzano desde quando ele tocava choro com os irmãos Hulk, ainda antes do Nó em Pingo D'Água, perdi a conta de quantos shows do FdQ assisti e, tenha certeza, fui muito mais à Lapa do que você pode supor. Não sou simplesmente fã do Pedro Miranda, nem sou seu amigo, sequer. Sou alguém que conhece o samba e sua história, por fora e por dentro. E reconheço em Pedro um grande talento como pandeirista, um talento que passa ao largo de malabarismos fáceis e virtuosismos hormonais. Pedro maneja o pandeiro com rara eloquência, com técnica elaborada, agógica precisa e - qualidade rara - joga sempre para o conjunto. Talvez não apareça tanto justamente por isso, mas, se você prestar atenção, ele está tocando sempre ligado nos desenhos do cavaco e dos demais instrumentos de percussão, dialogando com o conjunto, como faz quando está com o grupo Semente ou qualquer outra formação. Pra mim, não fica nada a dever aos grandes de hoje, como Jorginho, Celsinho, Beto Cazes, Márcio Gomes, Bolão, Damilton Viana que há anos mora na França, ou aos falecidos Luna, Gilberto e Risadinha, entre tantos outros mestres. Basta ouvir. Refine seus ouvidos, que pandeiro não é só virtuosismo ou porradaria. Abraços!

7 de novembro de 2009 às 21:26  
Anonymous indyara said...

caetano parabens e que teu sucesso continue,,mechendo com a cabeça daqueles que nao sabe curtir uma boa musica,,,indyara fsa ba

16 de novembro de 2009 às 18:57  

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