15 de novembro de 2008

Alcina, Perla e Rita botam o bloco GLS na rua

Resenha de Show
Título: Mix Music
Artista: Maria Alcina, Márvio, Perla, Rita Ribeiro e Tatá Aeroplano
Local: Sesc Pompéia (SP)
Data: 14 de novembro de 2008
Fotos: Mauro Ferreira
Cotação: * * * *

O inusitado encontro de Maria Alcina, Perla e Rita Ribeiro - ao som das carnavalescas Eu Quero É Botar meu Bloco na Rua (Sérgio Sampaio, 1972) e Bandeira Branca (Max Nunes e Laércio Alves, 1970) - encerrou em clima festivo, no palco da choperia do Sesc Pompéia, a oitava edição do Mix Music, o braço musical do festival de cinema Mix Brasil. Além do encontro inédito das três cantoras e do brilho de suas performances individuais (leia abaixo os três posts sobre as apresentações de cada intérprete), o evento cumpriu sua função de promover a diversidade musical, fiel ao conceito de um festival que procura alargar a visão da sociedade sobre a sexualidade humana. Mix vem de mistura, de pluralidade, de diversidade - como ressaltou em cena Rita Ribeiro, cantora que conta atualmente com expressiva platéia GLS em seus shows. E, se Maria Alcina parece encarnar o próprio espírito gay, Perla já está entronizada na memória afetiva desse público GLS, sobretudo do que já está na faixa dos 40 anos e vivenciou sua fase de maior popularidade. Para Alcina e Perla, ambas já em fase crepuscular, o Mix Music lhes proporcionou a oportunidade de serem afagadas por suas platéias, compostas de minorias fiéis. Que, por sua vez, tiveram a oportunidade de conhecer Márvio, cantor de postura glam que, além de ter se revezado na função de mestre de cerimônias do evento, soltou a voz em registros intencionalmente exacerbados de músicas como Bastidores (Chico Buarque, 1980). Por seu caráter pautado pela diversidade, o Mix Music também deu chance e voz a Tatá Aeroplano, figura da cena indie paulista, fundador dos grupos Cérebro Eletrônico e Jumbo Elektro. Todos acompanhados por banda improvisada que agregou o baterista Clayton Martin (do grupo Cidadão Instigado), a baixista Geórgia Branco (cria da lendária banda punk As Mercenárias), o tecladista Astronauta Pinguim e o guitarrista Alexandre Kanashiro. Nunca alguém deve ter imaginado Perla travando um suingante duelo de voz-e-baixo com baixista egressa d'As Mercenárias. Pois tal cena aconteceu em passagem de Estrada do Sol. Mais mix, impossível!!!

Alcina irmana Camelo e Chico numa folia sexual

"Se eu estivesse mais magra, eu ficava pelada", confidenciou Maria Alcina ao público que aplaudia seus trejeitos sensuais em sua aguardada apresentação na oitava edição do Mix Music, o evento musical realizado na noite de sexta-feira, 14 de novembro de 2008, dentro da programação paralela do 16º Mix Brasil - Festival de Cinema da Diversidade Sexual. O figurino carnavalesco revelou que Alcina estava bem acima do peso dos tempos áureos, mas a voz e a postura continuam em sua forma mais provocante. Aliás, a julgar por sua performance extrovertida no Mix Music, dá para imaginar o impacto provocado pela cantora mineira ao aparecer na amordaçada cena dos anos 70. Tanto que o regime militar da época logo tratou de impor um fim ao Carnaval de Alcina ao processá-la por comportamento subversivo. Tempos idos. Sem censura, a intérprete irmanou Marcelo Camelo (Todo Carnaval Tem seu Fim) e Chico Buarque (Não Existe Pecado ao Sul do Equador) na folia sexualizada comandada por ela no palco da choperia do Sesc Pompéia. Alcina fez caras, bocas e poses para apresentar roteiro aberto pelo Maracatu Atômico, de Jorge Mautner e Nelson Jacobina. Couberam ainda, dentro do espírito malicioso de seu show, músicas como Bacurinha, É Mais Embaixo e Prenda o Tadeu - as três de um álbum de 1985 (Prenda o Tadeu, Copacabana) em que a cantora investiu na malícia nordestina dos temas compostos com versos de duplo sentido. Em que pese alguns gestos exacerbados que roçaram a fronteira da vulgaridade, Alcina já estava com o jogo ganho quando recordou Fio Maravilha, o gol de placa de Jorge Ben Jor que a projetou nacionalmente em 1972 ao ser defendida por ela na sétima e última edição do FIC, o Festival Internacional da Canção exibido pela TV Globo. Foi o fim do Carnaval feito por Alcina em seu bloco solo. Contudo, dessa vez, o fim foi feliz. A folia tinha sido animada.

Rita Ribeiro mixa suingue de Zu, Hyldon e Ben

"Que difícil é cantar depois da Perla!", observou Rita Ribeiro, a atração escalada para suceder a artista paraguaia no roteiro da oitava edição do Mix Music, o evento paralelo do 16º Mix Brasil, o festival de cinema GLS que movimenta o circuito de São Paulo (SP) até 23 de novembro. De fato, quando Rita entrou em cena na noite de sexta-feira, 14 de novembro de 2008, o público ainda estava eletrizado na pista da choperia do Sesc Pompéia (SP) com o set de Perla, mas a intérprete maranhense logo soube seduzir a receptiva platéia ao revelar que morria de inveja dos cabelos da colega paraguaia e, sobretudo, ao apresentar repertório não associado à sua voz. Fiel ao conceito de diversidade que move o festival, Rita mixou os suingues negros de Lady Zu, Hyldon e Jorge Ben Jor. Do repertório de Zu, reviveu A Noite Vai Chegar, hit nas discotecas brasileiras em 1977, com arranjo semelhante ao da gravação original. De Hyldon, a cantora escolheu As Dores do Mundo ("Uma balada que eu adoro"), petardo certeiro no coração do público, que, regido por Rita, fez coro na música. Na seqüência, lembrou o nome de Baby Consuelo, a dona da gravação mais conhecida de Curumim Chama Cunhatã Que Eu Vou Contar (Todo Dia Era Dia De Índio), a música de Jorge Ben Jor revivida por Rita. Naquela altura, a platéia já estava nas mãos da intérprete maranhense, que saiu de cena sob protestos inúteis do público. Até que foi fácil para Rita Ribeiro - com seu carisma e sua voz - cantar depois de Perla...

Perla faz seu 'mix' de Brasil, Paraguai e Suécia

"É Perla com um L. Não sou a Perlla do funk, não. Sou a Perla paraguaia", ressaltou Perla em meio à sua apresentação na oitava edição do Mix Music - como se fosse preciso explicar a diferença para o público GLS que ocupou, frenético, a pista da choperia do Sesc Pompéia (SP) na noite de sexta-feira, 14 de novembro de 2008, para (re)ver Perla, uma das atrações do evento musical realizado dentro da programação paralela da 16ª edição do Mix Brasil - o Festival de Cinema da Diversidade Sexual, em cartaz em São Paulo até 23 de novembro. Para a platéia do Mix Music, Perla é uma diva e, como tal, ela foi reverenciada enquanto apresentou seu show, alternando palavras em português e em espanhol para cantar um repertório que uniu Brasil, Paraguai e Suécia. Sim, para quem não sabe, Perla ocupou as paradas populares dos anos 70 com versões de sucessos do quarteto sueco ABBA. E foi justamente com uma delas, Pequenina (Chiquitita), que a cantora abriu seu set, fazendo discurso em favor da adoção de crianças e mostrando que a voz continua quase a mesma, assim como os cabelos longos. Na seqüência, veio Fernando, número em que Perla, já empolgada pela recepção calorosa do público, fez graça ao pegar o celular de um espectador para fingir que estava falando com o personagem-título da canção do ABBA. "Alô, Fernando, está dormindo com alguém?", perguntou, marota. Em seguida, evocando as origens paraguaias, a cantora pegou seu violão, botou um chapéu e atacou com uma versão bilingüe de Índia, a guarânia paraguaia que fazia sucesso no Brasil na voz de Gal Costa, em 1973, um ano antes de Perla despontar nas paradas nacionais com Estrada do Sol, música que lançou em compacto e que, claro, reviveu no Mix Music (com direito a coreografias que fez a platéia repetir) depois de cantar Galopeira e de entoar a capella alguns trechos agudos de Cucurucucu Paloma para exibir a extensão de sua voz. Perla veio do Paraguai, mas sua música kitsch nunca foi produto falsificado como o cancioneiro populista de hoje em dia...

14 de novembro de 2008

Lauper ainda é garota divertida no palco, aos 55

Resenha de Show
Título: Bring ya to the Brink World Tour 2008
Artista: Cyndi Lauper
Local: Via Funchal (SP)
Data: 13 de Novembro de 2008
Foto: Stephan Solan (Divulgação / Via Funchal)
Cotação: * * * *
Em cartaz em São Paulo (sexta, 14 de novembro, na Via Funchal), Belo Horizonte (sábado, 15, Freegells Music), Curitiba (segunda-feira, 17, Teatro Positivo) e Porto Alegre (quarta-feira, 19, Teatro do Bourbon Country). Os preços variam de cidade para cidade.

O tempo se encarregou de provar que Cyndi Lauper não era páreo para Madonna, como se chegou a pensar em meados dos anos 80. Enquanto na década de 90 a material girl começou a se reinventar em busca da maturidade artística, a intérprete de Girls Just Want to Have Fun iniciou escalada descendente. Contudo, aos 55 anos, Lauper ainda é capaz de eletrizar uma platéia, como provou diante do público entusiamado que lotou a pista da casa paulista Via Funchal na noite de quinta-feira, 13 de novembro de 2008, para ver a primeira das cinco apresentações brasileiras da Bring ya to the Brink World Tour. O pretexto da turnê é divulgar o bom álbum atual de Lauper - Bring ya to the Brink (2008), em que a artista buscou volta às pistas ao cruzar a new wave oitentista com o eurodance - mas as músicas novas (Set your Heart, Echo, Into the Nightlife, Grab a Hold) nem de longe surtiram o efeito catártico provocado pelos hits dos álbuns antológicos de Lauper, True Colors (1986) e, sobretudo, She's So Unusual (de 1984).

O show foi tão curto quanto memorável. Em 1h2om, Lauper cantou 15 músicas, terminando a apresentação sozinha no palco. Foi no segundo bis, quando, munida de sua lap steel guitar, a artista entoou a canção True Colors, num belo anticlímax para um show que já começou arrasador, com Lauper elétrica, correndo de uma extremidade do palco à outra, enquanto revivia Change of Heart, do álbum True Colors. Mesmo nos números mais calmos, caso de When You Were Mine (cover do repertório de Prince em que a cantora se acompanhou ao violão), a energia era a de uma garota que queria apenas diversão. E Lauper divertiu seu público, folheando dicionário em cena para arriscar em português frases-clichês como "Amo Vocês" e "Como vai?". Clichê também foi abrir a Bandeira do Brasil dada por fã que se apertava na fila do gargarejo.

À medida que sentiu a temperatura quente na calorosa platéia, Lauper foi ficando cada vez mais simpática, a ponto de improvisar no primeiro bis The Goonies 'R' Good Enough, o hit de 1985 (gravado para a trilha sonora do filme The Goonies) que não estava previsto no roteiro oficial da turnê e que a artista começou a cantar a capella, segura de seu vigor vocal. Naquela altura, ela já estava com o ego devidamente afagado pelo público animado que proporcionou momentos catárticos quando a cantora reviveu sucessos como She Bop (de She's so Unusual), All Through the Night (outra gema do álbum de 1984) e I Drove All Night (único hit do terceiro álbum de Lauper, A Night to Remember, editado em 1989 sem a mesma repercussão comercial de seus dois antecessores). Foram momentos arrebatadores de uma noite que vai mesmo ficar na memória. Contudo, o melhor ainda estava por vir. Ao sair de cena após cantar Money Changes Everything (mais um tema de seu álbum de estréia, apresentado por Lauper num saboroso embate vocal com sua backing), a artista já sabia que iria voltar para cantar o que todo mundo esperava ouvir: Time After Time (número em que ela pilota sua lap guitar), True Colors e, claro, Girls Just Want to Have Fun, o megahit que levou a platéia ao delírio. Havia uma ou outra levada mais contemporânea nos arranjos tocados pela enxuta banda, mas, no todo, os sons remetiam mesmo aos anos 80. Sim, Lauper vive das glórias de seu passado. Contudo, ela mostrou que ainda tem força, voz e energia para hipnotizar uma platéia. E, justiça seja feita, sem recorrer aos aparatos cênicos (o palco estava nu) usados por sua outrora rival para comandar a massa. Parece que Cyndi Lauper ainda é, aos 55 anos, uma garota que quer apenas (se) divertir. E ela até consegue.

9º Grammy Latino consagra pop rock de Juanes

O cantor e compositor Juanes (à direita em foto de Michael Caulfield, da WireImage.com) foi o grande vencedor da nona edição do Grammy Latino. A cerimônia de premiação foi realizada em Houston (EUA) na noite de quinta-feira, 13 de novembro de 2008. Juanes faturou cinco troféus - entre eles, os de Gravação do Ano (Me Enamora), Álbum do Ano (La Vida...Es un Ratico), Canção do Ano (Me Enamora) e Melhor Álbum Vocal Pop Masculino (La Vida... Es un Ratico). Como previsível, Roberta Sá e Diogo Nogueira perderam o Grammy de Revelação do Ano para Kany Garcia, roqueira de Porto Rico. Em contrapartida, o engenheiro Moogie Canazio levou a estatueta de Melhor Álbum em Engenharia de Gravação por Dentro do Mar Tem Rio - Ao Vivo, editado por Maria Bethânia em 2007. Já o violonista Sérgio Assad (do brasileiro Duo Assad) faturou o troféu de Melhor Composição Clássica Contemporânea por Tahhiyya Li Ossoulina. No Brasil, show coletivo no Auditório Ibirapuera (SP) - em que o grupo de Sepultura arriscou bossa nova, Garota de Ipanema, e Paula Toller fez dueto com Sandy em E o Mundo Não se Acabou - festejou a premiação nas categorias exclusivamente brasileiras e culminou com homenagem a Carmen Miranda (1909 - 1955) no qual Daniela Mercury se juntou ao grupo paulista Os Mutantes para recordar O Que É que a Baiana Tem?, o samba de Dorival Caymmi (1914 - 2008) eternamente associado à Pequena Notável.

No quinto solo, D2 põe afropunk de Valle no rap

Esta é a capa do quinto álbum solo de Marcelo D2, A Arte do Barulho, nas lojas a partir de 20 de novembro pela EMI Music, a nova gravadora do rapper carioca. Afropunk no Valle do Rap cita já no título a presença do convidado Marcos Valle. Outras inéditas do CD - produzido por Mário Caldato Jr. - são Ela Disse, Fala Sério, Oquêcêqué?, Meu Tambor e Vem Comigo que Eu te Levo pro Céu.
E por falar em Marcelo D2, talvez por pressões internas, o rapper e Pitty decidiram não apresentar sua primeira parceria - Feriado, composta e gravada em dueto para A Arte do Barulho, mas excluída do álbum porque a gravadora de Pitty, a Deckdisc, vetou a presença da roqueira no disco de D2 - no show que fizeram no evento C&A Pop Music, no Rio de Janeiro (RJ), na noite de quarta-feira, 12 de novembro de 2006. A dupla uniu vozes em Umbrella, o sucesso de Rihanna, em vez de cantar a música proibida. Qual é?

'Obra em Progresso' de Caetano fica para 2009

Por conta da edição em CD e DVD da gravação ao vivo do show inédito feito por Caetano Veloso (em foto de Ricardo Nunes) com Roberto Carlos, nas lojas no começo de dezembro de 2008, o lançamento do próximo álbum de estúdio do compositor baiano - definitivamente intitulado Zii e Zie - teve seu lançamento adiado para 2009 pela gravadora Universal Music. Assim como o DVD que registra o show Obra em Progresso, idealizado para testar o repertório inédito do CD e filmado em agosto no Teatro Oi Casa Grande (a intenção inicial, aliás, era também inserir no DVD takes captados na primeira temporada, a feita na casa carioca Vivo Rio).

13 de novembro de 2008

Antenada, Elba documenta raízes e bonito show

Resenha de DVD
Título: Raízes e
Antenas

Artista: Elba Ramalho
Gravadora: Atração
Fonográfica
Cotação: * * * * 1/2

A bem da verdade, Elba Ramalho poucas vezes se dissociou de suas raízes nordestinas. No entanto, a (grande) intérprete nem sempre esteve antenada como no álbum Qual o Assunto que Mais lhe Interessa? (2007), dos mais belos e vigorosos títulos de sua discografia, de repercussão comercial injustamente reduzida. A produção do clã dos Queiroga (Lula, Yuri e Tostão) deu tom contemporâneo a um dos melhores repertórios reunidos pela cantora em disco. O álbum gerou show igualmente interessante, captado logo no início da turnê, em 19 e 20 de maio de 2007, em apresentações feitas no Auditório Ibirapuera (SP) com a adesão de convidados realmente especiais. O registro está no DVD Raízes e Antenas, lançado com um ano de atraso em relação ao cronograma inicial idealizado pela artista.

Trata-se do melhor DVD de Elba. Com as antenas ligadas nas suas raízes firmes, a artista agrega ao registro do show - exibido separadamente no menu principal - um filme de 44 minutos em que documenta suas origens e reabre a cortina do passado ao voltar à cidade de Conceição do Piancó, encravada no alto sertão da Paraíba. Na terra natal, Elba reencontra o pai - e se emociona quando seu João fala da mãe já falecida - e acompanha-se ao violão em Chão de Giz. Em outro cenário, na paradisíaca cidade de Trancoso (BA), o assunto versa sobre a espiritualidade da artista. Num terceiro pólo geográfico, a casa mantida pela cantora no Joá (RJ), entram em cena generosos depoimentos do filho Luã e dos convidados do espetáculo (Margareth Menezes, Geraldo Azevedo, Lenine e Gabriel O Pensador, entre outros). Os takes ternos de harmonia familiar com as filhas adotivas e o marido Gaetano Lopes perderam atualidade porque, entre a captação das imagens e a edição propriamente dita do DVD, Elba se separou de Gaetano. Contudo, o filme - a rigor, um misto de documentário com cenas típicas de making of de show - enriquece um DVD que já seria interessante se tivesse se limitado a registrar o show Raízes e Antenas - Qual o Assunto que Mais lhe Interessa? - um dos mais bem-cuidados do vasto currículo de Elba nos palcos nativos.

Aberto pelo canto a capella de Toda Dor Passa, parceria de Tadeu Mathias com Bráulio Tavares, o roteiro agrega convidados na maioria dos 17 números (outros dois, Amplidão e o mix com Folia de Príncipe e Boi Cavalo de Tróia, são exibidos como bônus nos extras do DVD). A Trombonada, banda de sopros de Pernambuco, encorpa o instrumental de músicas como Ave Anjos Angeli e Estrela Miúda, o tema de João do Vale e Luiz Vieira que conta também com a intervenção vocal de Lenine, que, na seqüência, revive com Elba Miragem do Porto, a música de sua autoria gravada pela cantora numa época em que - como lembra o próprio Lenine - a discografia de Elba era uma das poucas janelas abertas (em alguns momentos, foi a única) para os compositores nordestinos que tentavam reconhecimento no eixo Rio-São Paulo.

Em encontro mais inusitado, Elba recebe o violonista Yamandu Costa para entoar Um Índio, sem que a união dê novo colorido à música de Caetano Veloso. Já com Margareth Menezes o dueto vivaz é feito no tom forrozeiro de Na Base da Chinela, número bastante arretado em que solam também o acordeonista Toninho Ferragutti e o maestro Spok, cujos metais em brasa de sua orquestra aumentam a temperatura já naturalmente quente dos frevos Banho de Cheiro e Frevo Mulher. Se acerta ao enfatizar sua espiritualidade em Conceição dos Coqueiros (Lula Queiroga), Elba erra ao dar andamento de xote a Gostoso Demais, diluindo a beleza da toada de Dominguinhos e Nando Cordel, entoada pela cantora em número dedicado a Marinês (1935 - 2007), pioneira voz feminina da música nordestina. Enfim, Raízes e Antenas é show à altura da história de Elba Ramalho. Pode não ter a exuberância de espetáculos mais teatrais da festiva intérprete, como Popular Brasileira (1990), mas representa injeção de ânimo e vigor numa carreira que andava prejudicada por conta de discos anêmicos, sem vida. Nada como uma volta (antenada!) às raízes...

Aquarela dá (outra) volta pelas ruas do mundo

Resenha de CD
Título: Mundo da Rua
Artista: Aquarela Carioca
Gravadora: Sambatown
Cotação: * * * 1/2

O sexto álbum do quinteto Aquarela Carioca bem poderia se chamar Volta ao Mundo como o CD anterior do grupo, editado em 2002. Porque, sempre fiéis à fina mistura sonora que caracteriza o grupo desde sua formação em 1988, no Rio de Janeiro, Lui Coimbra (violoncelo, rabeca, voz), Marcos Suzano (percussão, bateria e programações), Mário Sève (saxes, flautas e pífanos), Paulo Brandão (baixo e programações) e Paulo Muylaert (guitarras, violões, viola e acordeom), dão outra volta pelas ruas musicais do mundo, aglutinando com rara interação sons que podem vir tanto do Nordeste (como no medley que agrega Calo da Lua e O Sete) quanto da Mãe África (Maria Três Filhos, tema da obra inicial de Milton Nascimento com Fernando Brant). Em Mundo da Rua, a Aquarela Carioca ganha tons mais eletrônicos sem abafar a camada orgânica que sempre pautou os registros do quinteto. E, por mais que o repertório autoral nem sempre esteja à altura do virtuosismo dos músicos, a mistura soa tão inusitada quanto interessante. Seja pela ousadia estilística do quinteto de dar um ar dance a um tema do compositor russo Nicolai Rimsky-Korsavok (1844 - 1908), Sheherazade, adaptado por Lui Coimbra e Marcos Suzano. Seja pela convocação de um grupo infantil do sertão nordestino, Os Cabinha, para dar tom e vocais agrestes a um instântaneo standard francês, Belleville Rendez-Vouz, tema do filme homônimo. Ou ainda por fazer o Saci, de Guinga, pular bem esperto entre os tons criativos pintados pela Aquarela Carioca nesta bem-vinda volta ao mundo e ao mercado fonográfico nativo.

Ondas cariocas desaguam no CD 'Mar Ipanema'

Resenha de CD
Título: Mar Ipanema
Artista: Vários
Gravadora: Zing
Cotação: * * * 1/2

Tal como o recente Doces Cariocas, Mar Ipanema é disco coletivo que gravita em torno das levadas e sons que compõem a variada trilha do Rio de Janeiro. Foi idealizado por Zé Ricardo sob encomenda do Hotel Mar Ipanema. A entrada de Plínio Profeta na produção - dividida com o próprio Zé Ricardo - e deu lufada de ar fresco aos dez registros por conta das batidas e programações de Profeta - como fica evidente logo na primeira faixa, Às Vezes, samba em que a cantora Ana Costa traça o mapa da boemia carioca com intervenções do rapper DuGhettu. E o resultado é um coletivo bem simpático, em que pese a queda de qualidade do repertório (inteiramente inédito) na segunda metade do CD. Várias ondas musicais cariocas desaguam simultâneas no Mar Ipanema. Edu Krieger parece ter visitado a quadra do Cacique de Ramos para compor o samba Coluna Social, com versos espirituosos à moda da turma de Zeca Pagodinho, mas o rap inserido por De Leve na faixa dá ao samba um tempero inusitado. Em contrapartida, Samba pra Vadiar - composto e cantado por Zé Ricardo em dueto com Rodrigo Maranhão - dá a impressão de ter a vivacidade dos hits mais animados de Zeca, mas, na cadência suave do samba, a dupla mostra que sua praia é outra. E, entre tantas ondas, Canção Popular monta painel da diversificação musical carioca nas vozes igualmente suaves de Anna Luisa e Pedro Hollanda. Painel que inclui o rock, representado por Vulgue Tostoi, intérprete de Será Preciso, tema em que sobressai a guitarra de Jr Tostoi. Em latitude mais distante do Rio, Fulano, Beltrano e Cicrano - a composição mais original, assinada por Gabriel Moura e Maurício Baia - ostenta atmosfera cigana nos toques dos violões tocados por Moura, Baia, Rogê e Luiz Carlinhos, o quarteto que assina a gravação da faixa sob o codinome 4 Cabeça. E, como o mar nem sempre está pra peixe, Serjão Loroza evoca o elo afro-carioca para ressaltar em Chibata - defendida com o reforço percussivo da Parede - que a segregação racial por vezes ainda ecoa nas praias e nos morros cariocas, poluídos pela violência e pela injustiça social. Enfim, Mar Ipanema tem méritos. Inclusive o de mostrar que a bossa do Rio de Janeiro jamais morre na Praia de Ipanema...

Cancioneiro de Roberto não é para qualquer um

Resenha de CD
Título: Como Vai Você?
Artista: Vários
Gravadora: Som Livre
Cotação: * *

Entre as várias compilações despejadas nas lojas pela Som Livre, com regularidade e sem a menor preocupação com a reunião de informações sobre as gravações apresentadas no disco, Como Vai Você? chama atenção por agregar 14 registros de músicas associadas à voz de Roberto Carlos (mas não compostas por ele) nas vozes de vários cantores. Entoar o repertório romântico do Rei parece fácil, mas não é. É preciso achar o tom exato da emoção para não cair na vala comum do brega, como aconteceu com Tânia Mara ao gravar Sonho Lindo para a abertura da novela Desejo Proibido (2007). Em contrapartida, qualquer tentativa de diluir a carga emotiva das letras pode gerar registro pálido, sem vida, como aconteceu com Gal Costa ao regravar Outra Vez feita em 2001, com suntuoso arranjo orquestral, para um de seus piores álbuns, Gal de Tantos Amores. As duas faixas estão na seleção de Como Vai Você? - coletânea de altos e baixos que vai da abordagem populista de Babado Novo (Amor Perfeito) e Ivete Sangalo (Não Vou Ficar, em dueto desajustado com Samuel Rosa) às leituras classudas de Caetano Veloso (Como 2 e 2, em recente registro ao vivo), Gal Costa (em bom momento na leitura de voz-e-violão de Força Estranha) e Maria Bethânia (no auge da dramaticidade em Um Jeito Estúpido de te Amar). Sem comprometer, mas também sem dar colorido ou toque especial às canções, Daniela Mercury e Vanessa da Mata revisitam Como Vai Você? e Nossa Canção, respectivamente, em gravações feitas em 2000 e em 2003 sob encomenda para trilhas sonoras de novelas da Rede Globo. Como curiosidade, há Vivendo por Viver, música menos conhecida do repertório do Rei, na voz do autor, Márcio Greyck, e em arranjo que persegue o estilo orquestral de Eduardo Lages, maestro de Roberto desde os anos 70. Contudo, apesar de algumas exceções nas vozes de Caetano e Bethânia, geralmente é melhor ouvir este cancioneiro romântico na voz afinada do próprio Roberto Carlos!!

Ary Dias toca seu som colorido no primeiro solo

Gravado desde os anos 90, na Flórida (EUA), com produção de Jim Gaines, o primeiro bom álbum solo do percussionista Ary Dias, Tocar, ostenta o colorido do som deste músico baiano, projetado em escala nacional ao integrar o grupo A Cor do Som. Ary Dias toca 11 músicas autorais - compostas somente por ele ou então com parceiros como Carlinhos Brown, Fred Góes e Ricardo Barreto. Na seleção, Terreiro de Jesus, Circular, A Goma e Energia. O tempero baiano é apimentado com os beats latinos do naipe de sopros da Miami Sound Machine. Detalhe: a cantora Mariana Baltar faz parte do coro ao lado de duas vozes cubanas que já trabalharam com a cantora Gloria Estefan. O disco Tocar ganha edição independente.

12 de novembro de 2008

Radiohead confirma a primeira vinda ao Brasil

Fãs brasileiros do Radiohead terão a oportunidade de ver no país, em 2009, a turnê mundial que promove o álbum In Rainbows. O quinteto inglês confirmou em seu site oficial nesta quarta-feira, 12 de novembro de 2008, que o Brasil está incluído na rota da turnê pela América Latina. Vai ser a primeira vez que o Radiohead toca em palcos nacionais. A apresentação deverá acontecer entre o fim de março e o início de abril de 2009, possivelmente em São Paulo e/ou no Rio de Janeiro. In Rainbows saiu em outubro de 2007.

Livro expõe afinidades entre Bethânia e Omara

Resenha de Livro
Título: Cuba & Bahia
Omara & Bethânia
Autor: Vários
Editora: Nova
Fronteira
Cotação: * * *

Simultaneamente com a chegada às lojas do DVD que eterniza o encontro nos palcos de Maria Bethânia com Omara Portuondo, o mercado literário foi abastecido com bilingüe livro de arte que expõe em fotos e textos as afinidades que ligam Bahia e Cuba. Através de textos escritos em português e reproduzidos também em espanhol, a exposição da irmandade entre os dois ricos pólos musicais é feita a partir do encontro da intérprete baiana com a cantora cubana para a gravação de um álbum de estúdio que gerou show e um conseqüente registro ao vivo em DVD. Os textos são assinados por nomes como Arnaldo Antunes, Lya Luft, Nélida Piñon e pelas próprias cantoras. Contudo, quase todos patinam em trivial superficialidade. O ensaio que faz valer o livro é Cuba e Brasil: tão longe, tão perto..., escrito por Frank Padrón. Crítico de arte e escritor, Padrón investiga de fato o parentesco entre as culturas dos dois países a partir de seu contato com a obra de Bethânia. Quanto às fotos, não há imagens das cantoras, mas retratos da gente comum que povoa Cuba e Brasil. E, nesse caso, as imagens tornam perceptível tal irmandade, valendo por mil palavras rasas.

Pop (quase) perfeito de Leoni garante noite boa

Resenha de Show
Título: A Noite Perfeita
Artista: Leoni (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Canecão (RJ)
Data: 11 de Novembro de 2008
Cotação: * * * 1/2

Exceto por breve momento de pretensão no comando do grupo Heróis da Resistência, em especial na concepção do segundo álbum da banda, Religio (1988), Leoni sempre buscou a perfeição pop. Às vezes, conseguiu - sobretudo na época em que compunha para a banda Kid Abelha. E foi justamente a quase perfeição de seu cancioneiro mais pop que garantiu bons momentos para quem foi conferir seu novo show, A Noite Perfeita, apresentado na noite de terça-feira, 11 de novembro de 2008, no Canecão (RJ). Não havia o pretexto de um disco novo, como ressaltou o artista em cena, mas a banda era nova (com destaque para o baixista André Espada e o guitarrista Gustavo Corsi) e o repertório também foi renovado com a inclusão de inéditas como É Proibido Sofrer - tema de peso mais roqueiro que aborda na letra direta a ditatorial imposição da alegria (mesmo artificial) na sociedade atual - e Dá pra Rir e Dá pra Chorar, ambas já disponibilizadas no site oficial do artista para download gratuito e legalizado (a idéia de Leoni é ir lançando no site o repertório de um próximo disco de inéditas).

Ao perseguir o pop perfeito, Leoni sabe o peso que tem um bom refrão tem na receita. E um refrão pegajoso é o que não falta para músicas como As Cartas que Eu Não Mando, trunfo do bloco inicial do roteiro. Embora sem procurar dar caráter retrospectivo ao show, apesar de Fotografia espocar belo flash nostálgico dos tempos idos, o compositor passa em revista boa parte de sua obra, indo do Kid Abelha (Os Outros, em inusitada conotação gay por ter letra escritas sob ótica feminina) à produção mais recente - exemplificada por músicas como Temporada das Flores, em que o autor experimenta abordagem ligeiramente mais delicada do que o registro ensolarado feito por Daniela Mercury em 2002 em CD e DVD da série MTV ao Vivo. É uma de suas obras mais inspiradas.

Das inéditas, o maior destaque é Do Teu Lado - Essa Canção, parceria de Leoni com o emergente Rodrigo Maranhão. Foi tocada pelo cantor ao violão, em número definido como "o momento Frank Sinatra". Bem, ninguém espera que Leoni reedite o padrão ímpar de afinação de Sinatra (1915 - 1998), mas o fato é que, nas notas mais altas da balada, ele desafinou. Na seqüência, com a voz mais em forma, o compositor entoou Lado Z e sacou do baú uma música dos Heróis da Resistência, Um Herói que Mata, cuja letra premonitória ele relacionou com o ideal de homem defendido no livro Crepúsculo, de Stephenie Meyer. Pena que a música não seja tão interessante como a tal letra, de fato bem contemporânea.

Um dos hits mais deliciosos do Kid Abelha, Educação Sentimental foi encadeado num link esperto com A Fórmula do Amor, número em que Leo Jaime entrou em cena para um dueto desajustado. Os cantores e parceiros se harmonizaram com mais propriedade em Por Que Não Eu?. Em seguida, já sozinho, Leoni desceu do palco para apresentar a canção Intimidade entre Estranhos, parceria com Frejat que deu título ao terceiro CD solo do Barão. Contudo, apesar do charme de cantar no meio do público, Leoni não conseguiu passar toda a sensação de desconforto expressada nos versos - como conseguiu Frejat em seu introspectivo registro de estúdio. Ainda na platéia, o cantor reviveu (com direito a citação de Como Eu Quero) um dos maiores hits da fase pós-Kid Abelha, Só pro meu Prazer, naturalmente logo entoado em coro pelos fãs.

Na seqüência final, Pepeu Gomes entrou em cena e fez sua guitarra gemer em Exagerado e em A Noite Perfeita, sendo que, na música-título do show, George Israel aderiu ao grupo. No bis, uma versão caótica de Brasil sinalizou que o novo show de Leoni - dirigido por Luciana Fregolente e bem-cuidado no que diz respeito à luz e ao cenário - não precisa de números improvisados com convidados para prender a atenção do público. Com sua banda afiada e seu pop (quase) perfeito, Leoni garante, por si só, uma noite animada.

Amado reembala cancioneiro na forma acústica

Em seu primeiro DVD, É o Show!, lançado em 2004, Amado Batista rebobinou 22 temas de seu popular repertório com prioridade para os hits como Chance, Princesa e Seresteiro das Noites. Após quatro anos, o artista se vale da batida embalagem acústica para editar outro registro de show em DVD. Lançado pela gravadora Sony BMG nos formatos de CD e DVD, Acústico exibe gravação feita ao vivo por Amado Batista em 20 de agosto de 2008 nos Studios Mosh, em São Paulo (SP). No roteiro, bem diferente do perpetuado em É o Show!, Batista recebe os colegas Sérgio Reis (em Desisto - Obrigado a Desistir), Leonardo (Carta sobre a Mesa), Rosemary (Separação), Fagner (Romance no Deserto, a versão de Romance in Durango que deu título ao álbum lançado pelo cantor cearense em 1987) e Eduardo Costa (Amigo José). A tiragem inicial do vídeo é de (respeitáveis) 50 mil cópias.

11 de novembro de 2008

Fina ironia pauta estudo de Tom Zé sobre bossa

Resenha de CD
Título: Estudando a Bossa
- Nordeste Plaza
Artista: Tom Zé
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

"Mas tu já viste a bossa nova, a nova onda musical? Que nhenhenhém boçal, hein?!!", perguntam sob base de samba, em tom quase falado, as vozes que fazem o coro de O Céu Desabou, um dos 14 temas de Estudando a Bossa - Nordeste Plaza, álbum com que o tropicalista Tom Zé, em sintonia com a estética antropofágica do movimento que o projetou em 1968, deglute os elementos que sintetizam a estética da Bossa Nova num disco-manifesto pautado pela fina ironia. No ano em que a elite brasileira e a imprensa celebram com excessiva reverência o cinqüentenário da bossa, o velho baiano tira o manto sagrado que cobre o som do banquinho e do violão neste que é seu disco mais inventivo desde que foi (re)descoberto nos anos 90 por David Byrne - aliás, convidado de Outra Insensatez, Poe, faixa em que Zé persegue o estilo melódico dos temas românticos de Tom Jobim (1927 - 1994), principal compositor da bossa sempre nova.

O título do CD remete obviamente ao antológico Estudando o Samba (1976) e ao caótico Estudando o Pagode (2006). Estudando a Bossa não é uma obra-prima como o primeiro, mas tampouco é ruim como o segundo. O álbum não atenta contra a Bossa Nova, mesmo porque Tom Zé sempre explicitou o impacto causado em Irará, sua baiana e interiorana cidade natal, pela revolução estética implantada com o lançamento, em agosto de 1958, da emblemática gravação de Chega de Saudade por João Gilberto. Contudo, ao se apropriar com ironia dos cânones da bossa, cercado de vozes femininas, Tom Zé não deixa de fazer sua crítica ao movimento. Em Brazil, Capital Buenos Aires, deliciosa faixa gravada com Fernanda Takai em que simula a leveza da bossa, o alvo é a valorização do Brasil na cena internacional por conta da bossa. Em Bolero de Platão, cantado com Marina de la Riva, Zé debocha do sentimento de superioridade que os letristas bossa-novistas sentem em relação aos compositores de boleros de versos dilacerados. Em O Amor do Rio, o barquinho de Zé desliza no ritmo suave da bossa em letra que aborda a separação entre Rio de Janeiro e Niterói - e, aí, a ironia maior é ter como vocalista do sambinha Zélia Duncan, boa cantora nascida em... Niterói (RJ).

Estudando a Bossa conta com a feliz adesão de Arnaldo Antunes como letrista dos temas Mulher de Música (gravado por Zé com Fabiana Cozza), Filho do Pato (com a voz de Márcia Castro), Rio Arrepio (Badá-Badi) - sambossa que tem a presença de Mariana Aydar e evoca já no título os vocais à moda de grupos como Os Cariocas - e Barquinho-Herói (com Mônica Salmaso). Repleto de sutis referências ao repertório de João Gilberto, como no delicioso Roquenrol Bim-Bom, tema cantado por Tom Zé com Jussara Silveira, o estudo do inquieto tropicalisra esboça o olhar crítico que faltou entre tantas homenagens aos 50 anos da bossa. Estudando a Bossa vai ser objeto de estudo daqui a... 50 anos.

Solo ao vivo de Paula vai sair (também) em CD

Idealizada para gerar o primeiro DVD da carreira solo de Paula Toller, a gravação ao vivo realizada em 12 de agosto de 2008, no Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro (RJ), vai ser editada também no formato de CD. A foto da bela capa do CD Nosso flagra o momento em que a cantora desceu do palco para fazer alguns números em meio ao público. Entre eles, o mix que entrelaça o refrão de Só Love (Claudinho & Buchecha) com Saúde, a música-título do álbum lançado por Rita Lee em 1981. Sairá em dezembro.

Brasileiros gravam 'inéditas' de Paul e Harrison

Duas músicas quase inéditas dos beatles Paul McCartney (foto) e George Harrison (1943 - 2001) ganham gravações simultâneas de artistas brasileiros. De McCartney, a raridade é Suicide, tema até então registrado em meros oito segundos no primeiro álbum solo do cantor e que ganha, enfim, seu primeiro registro integral na voz da cantora paulista Twiggy. A gravação foi realizada para o CD dedicado a McCartney na série de coletâneas Letra & Música, produzida por Marcelo Fróes para seu selo Discobertas. De Harrison, a inédita é Dehra Dun, música composta na Índia em 1968 e apresentada oficialmente pelo autor somente em trecho do documentário Anthology. O primeiro registro oficial em disco de Dehra Dun foi feito por Zé Ramalho para o álbum As Outras Cores do Álbum Branco, na loja ainda neste mês de novembro.

Dream Theater movimenta 'caos' em DVD duplo

Dono de um público fiel, até mesmo no Brasil, o grupo de heavy metal progressivo Dream Theater tem lançado no mercado nacional o DVD duplo Chaos in Motion 2007 - 2008, gravado ao longo da turnê mundial iniciada na Itália em 3 de junho de 2007 e finalizada em Porto Rico em 4 de junho de 2008 depois de ter passado pelo Brasil em março. Ao todo, a Chaos in Motion World Tour - idealizada para promover o último álbum de inéditas da banda norte-americana, Systematic Chaos (2007) - gerou 115 shows realizados em 35 países. O disco 1 apresenta 14 números captados nas cidades de Bangoc, Boston, Buenos Aires, Rotterdan, Toronto e Vancouver. Já o disco 2 exibe o documentário Behind the Chaos on the Road, com 90 minutos de cenas de bastidores, e clipes de músicas como Forsaken e The Dark Eternal Light. No exterior, foi lançada simultaneamente uma edição mais luxuosa do DVD que agrega três CDs com o áudio da (bem-sucedida) turnê.

10 de novembro de 2008

Bocelli canta a Itália de sua infância em Incanto

Resenha de CD
Título: Incanto
Artista: Andrea Bocelli
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * *

Aos 50 anos, Andrea Bocelli decidiu voltar à sua infância. Em Incanto, o cantor italiano põe seu vozeirão em temas de Nápoles e da Sicília que, garoto, ele ouvia nas vozes de tenores conterrâneos que o antecederam - casos de Enrico Caruso (1873 - 1921) e Franco Corelli (1921 - 2003). Em repertório pautado por sua memória afetiva, Bocelli incluiu temas como Un Amore Così Grande, Mamma e Santa Lucia. A única música de caráter mais contemporâneo é Pulcinella, a tarantella que fecha este disco em que o tenor segue o estilo exacerbado dos cantores de estilo operístico. A produção luxuosa inclui gravações realizadas com a Orchestra Sinfonica di Milano Giuseppe Verdi, sob a regência do maestro Steven Mercurio. Bem, a um tenor não se deve cobrar intimismo, mas o fato é que a grandiloqüência do canto do artista acaba encobrindo boa parte do sentimento que há neste bonito cancioneiro. Contudo, Incanto vai contentar fãs fiéis de Bocelli...

Coração cala a voz ativista de Miriam Makeba

Mais conhecida, no Brasil, por conta de seu sucesso mundial Pata Pata, hit em 1967, Miriam Makeba foi uma das vozes que se fizeram ouvir mais alto na luta contra o Apartheid e contra todas as formas de opressão e discriminação. E é bem emblemático que a cantora africana tenha saído de cena no fim da noite de domingo, 9 de novembro de 2008, logo depois de concluir a sua participação coerente em espetáculo organizado em Castel Volturno, no Sul da Itália, pelo escritor italiano Roberto Saviano, perseguido por conta de seu livro Gomorra. Um ataque cardíaco calou a voz ativista da artista, aos 76 anos. Nascida em Johannesburgo, em 1932, Miriam Zenzi Makeka iniciou sua carreira no anos 50 como integrante do grupo The Manhattan Brothers. Logo ela formou seu próprio grupo, The Skylarks, e construiu obra que priorizou temas da África do Sul. Malaika foi um de seus sucessos mais conhecidos ao lado de Pata Pata. Por levantar a voz contra a segregação racial imposta pelo Apartheid, Makeba foi banida de seu país natal, ao qual ela somente pôde retornar em 1990. Iniciada em 1960, a discografia da cantora termina em 2006 com a gravação do álbum Makeba Forever. A artista deixa saudades tanto pela música quanto por sua ideologia.

Legend começa a banalizar seu som em 'Evolver'

Resenha de CD
Título: Evolver
Artista: John Legend
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * *

Ao despontar em 2004 com o belo álbum Get Lifted, John Legend se revelou fino estilista das tradições do soul e r & b. Ótima impressão confirmada em seu segundo trabalho, Once Again (2006). Já o terceiro CD de estúdio do cantor, compositor e pianista, Evolver, representa retrocesso em sua discografia. Legend não chega a banalizar por completo seu som, pois canções como This Time e, sobretudo, Everybody Knows poderiam figurar em seus álbuns anteriores. Mas a intensificação de seu flerte com o universo do hip hop soa prejudicial, ainda que Green Light - tema no qual figura Andre 3000, do duo Outkast - ostente batida envolvente e seja um dos pontos altos do disco. Já It's Over cativa bem menos, apesar de trazer o antenado rapper Kanye West. No todo, Evolver é bom disco que destaca também o arranjo vocal de Cross the Line e o dueto de Legend com Estelle em No Other Love, ótima faixa que tangencia a pulsação do reggae. Contudo, o álbum põe o cantor sob suspeita. Ele é um grande artista - e seu recente registro de show Live from Philadelphia confirmou seu talento acima da média - só que Legend precisa tomar cuidado para não cair nas armadilhas do mercado fonográfico e não vulgarizar sua música em nome de uma maior exposição comercial (de caráter efêmero).

Produção valoriza soul mais nacional de Hyldon

Resenha de CD
Título: Soul Brasileiro
Artista: Hyldon
Gravadora: DPA
Cotação: * *

Já no título de seu primeiro CD com repertório (inteiramente) inédito desde 1989, Soul Brasileiro, Hyldon explicita a intenção de dar sotaque mais nacional à sua obra, projetada em 1975 com o sucesso do LP que rendeu alguns clássicos para a black music made in Brazil como Na Rua, na Chuva, na Fazenda (Casinha de Sapê). Repleto de convidados realmente especiais, o disco se escora na produção. A começar pelo fato de ostentar a presença sempre luxuosa de Chico Buarque, que toca kalimba em Medo da Solidão, faixa que abre o CD. Contudo, como no caso de Medo da Solidão, tema de levada pop, nem sempre as músicas estão à altura dos convidados. Com maior ou menor inspiração, Hyldon transita por chorinho (O Choro de Brown), baião (Forró da Boca Pequena, com a sanfona de Zé Américo) e canção ruralista, A Moça e o Vagabundo, parceria inaugural com Zeca Baleiro, adornada pela viola caipira de Zé Menezes. Nada é especialmente ruim e tampouco realmente cativante. Aos 57 anos, o cantor já não está em sua melhor forma vocal. Contudo, Soul Brasileiro é CD bem-vindo por renovar o repertório de Hyldon, ainda associado aos louros conquistados na década de 70. A propósito, duas músicas compostas em seus anos áureos ganham registros no disco. Três Éguas, um Jumento e uma Vaca é um samba-rock composto em 1972 para Emilio Santiago, que não o gravou porque Roberto Menescal, produtor de Emilio na época, implicou com o jumento do título e o compositor se recusou a alterar a letra - como conta Hyldon à jornalista carioca Christina Fuscaldo, autora do objetivo texto que apresenta Soul Brasileiro aos jornalistas. A outra música tirada do baú é Rapaz de São Paulo, soul feito há 35 anos que ganha vida com a guitarra de Frejat. Entre tantos convidados, a ficha técnica ainda inclui o nome de Carlinhos Brown, produtor e multi-instrumentista da faixa Bahia do H. Sem falar no inusitado quarteto - Carlos Dafé, Jorge Vercillo, Tunai e Carlinhos Vergueiro - recrutado para fazer vocalises e cantar o refrão de O Vento que Vem do Mar. No todo, Soul Brasileiro deixa a sensação de que houve mais convidado na boa produção do que inspiração na composição do repertório.

Filmagem empalidece estréia de Jerry em DVD

Resenha de CD / DVD
Título: Acústico ao Vivo
Artista: Jerry Adriani
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * 1/2

Quando aparece no palco, já entoando quase a capella os versos de Torna a Surriento, tradicional tema italiano, Jerry Adriani mostra surpreendente forma vocal para seus 61 anos. A voz, empostada de forma meio operística, está lá. O charme, o carisma e a simpatia - atributos extra-musicais que fizeram do cantor um dos ídolos da Jovem Guarda - também permanecem firmes. Por isso mesmo, é imperdoável que a estréia do artista em DVD - com o registro do show Acústico ao Vivo, gravado em 25 de outubro de 2007, no Canecão (RJ) - tenha sido empalidecida por filmagem precária. Faltou brilho na captação das imagens. Literalmente. Com luz mal-cuidada, o show resulta esmaecido em vídeo. Os arranjos também soam pálidos. Jerry acaba se valendo de sua simpatia para desfiar um roteiro de tom saudosista e retrospectivo. Que passa por hits italianos para lembrar os primeiros passos fonográficos do cantor, revive seu primeiro grande sucesso em português (Um Grande Amor, de 1965) e deságua em tributos a Elvis Presley (1935 - 1977), a Raul Seixas (1945 - 1989) - este com direito a uma inédita autoral, O Cavaleiro das Estrelas, que acentua o ar mítico do Maluco Beleza - e a Renato Russo (1960 - 1996), cujo timbre vocal era muito semelhante ao de Jerry. A homenagem a Russo é a que soa mais sedutora. Violinos adornam o registro de Monte Castelo.

A presença de Fernanda Takai entre os convidados é a surpresa. Mas a infelicidade da escolha da música - Pelo Interfone, sucesso de Ritchie inadequado para um dueto - impede que Jerry aproveite ao máximo esse trunfo. Com Ivo Pessoa, cantor no qual Jerry enxerga um discípulo por conta do grandiloqüente estilo vocal do colega, a interação é maior em Tudo me Lembra Você (versão de Mi Dios y mi Cruz, tema da dupla Donato y Stephano). Mas as exageradas trocas de confetes entre os intérpretes na entrada de Ivo em cena poderiam ter sido suprimidas na edição final do DVD. Há ainda Tavito, que faz dueto com Jerry em Rua Ramalhete, sua obra-prima de tom nostálgico, condizente com o espírito de um show que, claro, culmina no cancioneiro simplório da Jovem Guarda, o movimento do qual Jerry Adriani, a rigor, nunca se dissociou apesar de alguns hits eventuais na década de 70. Enfim, Jerry tem história para merecer um DVD - e ele a conta nos bons extras do vídeo. Contudo, nada justifica o descuido na captação e tratamento das imagens. Prefira ouvir o CD homônimo.

Sétimo disco do Tequila chega ao formato físico

Lançado em formato digital em 1º de outubro de 2008, o quinto álbum de estúdio do grupo gaúcho Tequila Baby, Lobos Não Usam Coleira, vai ganhar edição convencional em CD neste mês de novembro para os fãs que não abrem mão de capa e encarte. Sétimo título da discografia do quarteto, se contabilizados seus dois álbuns gravados ao vivo, o atual trabalho foi produzido de maneira independente pela própria banda - em parceria com Beat Barea - e pode ser baixado de graça no portal TramaVirtual. Além de Aleluia, faixa escolhida para ser o primeiro single e que já tem clipe em rotação no YouTube desde 17 de setembro, Lobos Não Usam Coleira apresenta outras 12 inéditas. Entre elas, Hey Girl (Preciso da tua Ajuda Esta Noite), Três Motivos, Balão na Boca, Foi Capricho Meu, Se Você Quer Gritar e Bienvenido à Roda Punk.

9 de novembro de 2008

Paula reedita no palco bossa de seu melhor CD

Resenha de Show
Título: Telecoteco
Artista: Paula Morenlenbaum (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Mistura Fina (RJ)
Data: 8 de novembro de 2008 - Sessão das 20h
Cotação: * * * *

Ajudada por banda antenada, que destacou o baterista Rick de la Torre e o arranjador Marcos Cunha (revezando-se no baixo, no violão e nas espertíssimas programações eletrônicas), Paula Morelenbaum conseguiu reproduzir no pequeno palco da casa carioca Mistura Fina - onde fez três apresentações de seu show Telecoteco entre 7 e 8 de novembro de 2008 - toda a bossa do disco homônimo, o melhor da boa cantora. Paula aborda com modernidade um repertório composto antes do surgimento oficial da Bossa Nova, alinhando músicas (sambas, em sua maioria) que já traziam um balanço todo particular que, em maior ou menor grau, influenciaram os compositores que estariam à frente da revolução estética implantada em 1958. Exemplo perfeito é Um Cantinho e Você, bela canção composta por José Maria de Abreu e Jair Amorim com atmosfera que antecipava dez anos antes, em 1948, todo o intimismo coloquial da bossa hoje já cinqüentenária.

Tendo à sua frente a praia de Ipanema, musa inspiradora de muitos clássicos compostos na linha "sal, céu, sol, Sul", Paula Morenlenbaum abriu o show com Teleco-Teco, samba de Murilo Caldas e Marino Pinto, de 1942, que deu título ao disco. Já neste primeiro número ficou claro que a cantora tem ótima presença de palco e sabe usar bem o corpo para realçar as intenções de suas interpretações. Seu gestual eloqüente contribui para que sambas como O Que Vier Eu Traço (Alvaiade e Zé Maria, 1945) e Sei Lá se Tá (Alcyr Pires Vermelho e Walfrido Silva, 1940) ganhem vivacidade no palco. O Samba e o Tango (Amado Régis, 1937), por exemplo, é turbinado com trejeitos que evocam o estilo de Carmen Miranda (1909 - 1955), intérprete original do tema, que marca a entrada em cena do violoncelista Jaques Morelenbaum, que engrossa a banda em números como Você Não Sabe Amar (Dorival Caymmi, Carlos Guinle e Hugo Lima, 1950) e Insensatez (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1961). Jaques é fera!

Mesmo quando aborda temas já muito explorados, caso de Ilusão à Toa (Johnny Alf, 1961), Paula Morelenbaum faz com que as músicas ganhem frescor por conta das programações e efeitos eletrônicos que respondem por boa parte do charme do show e do disco. Contudo, é justo ressaltar que, em cena, a cantora se revela sedutora, interpretando com rara desenvoltura composições que nunca soam banais em sua voz afinada. O show está tão redondo que músicas do álbum anterior da artista, Berimbau (2004), se integram bem ao roteiro calcado no CD atual. Talvez porque Berimbau já antecipasse a modernidade de Telecoteco - Um Sambinha Cheio de Bosssa... (2008). A ponto de o samba O Nosso Amor (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1959) e o afro-samba Canto de Ossanha (Baden Powell e Vinicius de Moraes, 1966) se ajustarem com perfeição à bossa contemporânea de Telecoteco, o show, fechado com Luar e Batucada, o obscuro samba que Tom Jobim e Newton Mendonça fizeram para Marlene em 1957. Nem a tímida presença no bis de Dora Morelenbaum, convidada a subir ao palco para fazer duetos afetivos com a mãe em Ela É Carioca e em Telecoteco, ameniza a sensação de que Paula Morelenbaum fez um showzinho cheio de bossa. Muito bom!

Geraldo grava seu primeiro DVD solo sob a lona

Geraldo Azevedo vai se abrigar sob a lona mais pop do Rio de Janeiro (RJ) para gravar seu primeiro DVD solo. O registro vai ser feito no Circo Voador em show agendado para a próxima sexta-feira, 14 de novembro de 2008. No roteiro de tom retrospectivo, músicas do último CD do compositor, O Brasil Existe em mim (2007), vão se misturar com sucessos como Caravana, Bicho de Sete Cabeças, Moça Bonita, Táxi Lunar, Canção da Despedida e Dia Branco. Trata-se do primeiro DVD solo de Geraldo porque o registro do espetáculo O Grande Encontro 3 - feito por ele em 2000 com Elba Ramalho e Zé Ramalho - já foi editado em vídeo digital pela Sony BMG. O lançamento está programado para 2009.

Raiz sertaneja faz brotar forte disco de Roberta

Resenha de CD
Título: Senhora Raiz
Artista: Roberta Miranda
Gravadora: Sky Blue
Music
Cotação: * * * 1/2

Projetada na década de 80, com um jeito todo próprio de compor e de cantar, Roberta Miranda logo se transformou numa das maiores vendedoras do mercado sertanejo. Entre altos e baixos, a autora de A Majestade, o Sabiá gravou nove álbuns pela extinta gravadora Continental até se transferir para a companhia hoje denominada Universal Music. Começou ali sua trajetória errante na indústria fonográfica. No CD Vida (1997), a gravadora tentou fazer de Roberta uma versão tupiniquim da cantora country norte-americana Shania Twain, então em grande evidência. No posterior Paixão (1998), foi forjada imagem de sensualidade - com direito a uma capa à moda dos álbuns de Simone nos anos 80. Resultado: Roberta foi perdendo sua identidade no mercado, passou a vender menos discos, acabou dispensada pela gravadora e nunca mais voltou a ocupar a posição de destaque que tinha no universo sertanejo. Trabalhos cada vez mais equivocados, como um de fados (!), contribuíram para que a artista atualmente tivesse seu espaço ainda mais reduzido e ingressasse no vasto mercado independente, por onde lançou neste ano de 2008 - pela Sky Blue Music, gravadora paulista de pequena expressão na cena indie - um belo álbum que sinaliza salutar volta às origens. Produzido por Luiz Carlos Maluly, Senhora Raiz acerta na combinação de instrumentos caipiras com um sutil quarteto de cordas. A textura dos arranjos é mais delicada e passa longe da pasteurização que empanou o brilho de álbuns anteriores da artista. Como Roberta está cantando de forma ligeiramente menos empostada, o resultado são registros bacanas de clássicos ruralistas como Chalana (a obra-prima de Arlindo Pinto e Mário Zan propagada na voz de Almir Sater na trilha da novela Pantanal), Tristeza do Jeca e Meu Primeiro Amor (faixa incluída na trilha sertaneja da novela A Favorita). Assinada por Taguay, a seleção de repertório é feliz porque não se resume aos clássicos sertanejos mais batidos. Dentro de seu estilo romântico, Roberta revisita músicas esquecidas como Telefone Mudo e Você É Tudo que Eu Pedi a Deus (Magia). O melhor achado nessa seara mais sentimental é Nova Flor (O Homem Não Deve Chorar). Nesta linda parceria de Mário Zan e Palmeira, a artista canta as tradicionais dores de amores escorada numa bela melodia - artigo bem raro no cancioneiro sertanejo atual. Entre regravação de A Majestade, o Sabiá (em arranjo econômico que realça o cello tocado por Patrícia Ribeiro) e dispensável afago no ego dos caminhoneiros (Viajante Solitário), Senhora Raiz faz brotar um forte momento de Roberta Miranda. Coroado pela participação luxuosa de Maria Bethânia em Guacira, canção de Hekel Tavares e Joracy Camargo, lançada em 1933 e regravada em tom íntimo e cúmplice pelas amigas cantoras, de almas sertanejas.

Universal reforça série MusicPac com 54 títulos

O DVD gravado por Nando Reis e o grupo Os Infernais em 2007, dentro da série Luau MTV, é um dos 54 novos títulos que reforçam o já vasto catálogo da série MusicPac, introduzida pela Universal Music em junho de 2007 como alternativa para reduzir o preço final de CDs e de DVDs para os consumidores. Na fornada nacional, a nova leva da MusicPac inclui títulos de Isabella Taviani, CPM 22, Babado Novo, Engenheiros do Hawaii, Roupa Nova, Fresno, Jorge & Mateus e Leonardo. Na seara internacional, as lojas recebem edições econômicas de álbuns de Amy Winehouse, Andrea Bocelli, Rihanna, Diana Krall, ABBA, Madeleine Peyroux, Nelly Furtado, Snoop Dog e de Colbie Caillat, entre outros artistas.

Mais bem-sucedida do que o CD-Zero lançado pela concorrente Sony BMG um mês antes, em maio de 2007, a MusicPac possibilitou, por exemplo, que Roberta Sá chegasse ao Disco de Ouro por conta das 50 mil cópias vendidas de seu CD Que Belo Estranho Dia para se Ter Alegria (2007), comercializado tanto em formato convencional como na edição mais econômica.

CD internacional de 'A Favorita' inclui Coldplay

Música que dá título ao último disco do grupo Coldplay, Viva la Vida é o tema que abre o CD A Favorita Internacional, que chega às lojas entre o fim de novembro e o início de dezembro de 2008 pela Som Livre. A boa seleção musical estrangeira da novela da Rede Globo é das mais antenadas e contemporâneas dos últimos anos. Sem regravações, a trilha reúne fonogramas recentes de Tokyo Hotel, Estelle, Jason Mraz, The Verve, Kate Nash, Dave Guetta e Regina Spektor, entre outros nomes em evidência na cena pop atual. O brasileiro-inglês Tiago Iorc - cujo primeiro álbum foi lançado pela Som Livre - figura com Blame. Eis as 14 faixas do CD:

1. Viva la Vida - Coldplay
2. No Substitute Love - Estelle
3. Baby When the Light - David Guetta
4. Pumpkin Soup - Kate Nash
5. Young Folks - Peter, Bjorn and John
6. Monsoon - Tokyo Hotel
7. Bottle It up - Sara Bareilles
8. I'm Yours - Jason Mraz
9. Carry You Home - James Blunt
10. Love Is Noise - The Verve
11. That's Not my Name - The Ting Tings
12. Blame - Tiago Iorc
13. Fidelity - Regina Spektor
14. Sweet About me - Gabriella Cilmi