Resenha de gravação de CD / DVD
Título: Samba Social ClubeArtista: Ana Costa, Anna Luisa, Beth Carvalho (em fotode Washington Possato), Casuarina, Fundo de Quintal,
Jorge Aragão, Leci Brandão, Lenine, Mauro Diniz, Moacyr Luz, Nelson Sargento, Nilze Carvalho, Sandra de Sá, Grupo Semente, Serjão Loroza, Sururu na Roda,Teresa Cristina e Zeca Pagodinho Local: Fundição Progresso (RJ)
Data: 28 de julho de 2008
Cotação: * * *Vieram da ala feminina os melhores momentos da primeira noite de gravação do CD e DVD
Samba Social Clube, inspirados no homônimo programa de rádio que aglutina os principais nomes do samba carioca. Já passava da 1h da madrugada quando o Fundo de Quintal deixou o palco da Fundição Progresso - acalorada por conta da lotação do público entusiasmado que lotou a pista e as arquibancadas - depois de cantar
Mel e Mamão com Açúcar e
Tragédia no Fundo do Mar. Anunciada para as 21h, mas iniciada efetivamente às 21h45 da noite de 28 de julho de 2008, a gravação transcorreu com agilidade e poderia ter sido até mais rápida não fossem os tropeços de alguns intérpretes escalados para a primeira rodada (a segunda acontece nesta terça-feira, 29 de julho de 2008, com a incorporação de Gilberto Gil ao elenco já anunciado que inclui Arlindo Cruz, Elza Soares e Fernanda Abreu).
Beth Carvalho, Leci Brandão e Teresa Cristina brilharam em noite marcada pela supremacia feminina. Ovacionada ao ter seu nome anunciado pelo apresentador do evento, Beth surpreendeu com registro bonito de
O Bêbado e a Equilibrista que teve direito à citação de
Smile no fim do arranjo, moldado para uma roda de samba. Já em
Amor de Verdade - sucesso de Roberto Ribeiro (1940 - 1996) - a cantora não entusiasmou tanto, talvez pelo fato de boa parte do público predominantemente jovem desconhecer o inspirado samba de Flávio Moreira e Liette de Souza. Já Teresa Cristina, sempre fiel ao Grupo Semente, pôs suingue baiano em
Na Beira do Mar, saudou Zé Ketti (1921 - 1999) com menor desenvoltura em
A Voz do Morro e experimentou tons mais altos em
Tristeza Pé no Chão, sucesso de Clara Nunes (1942 - 1983). Menos tímida em cena, Teresa tem evoluído a cada apresentação com uma segurança que sobra em Leci Brandão, cativante em
Sorriso Aberto e menos efusiva em
Do Jeito que o Rei Mandou. Ao fim de sua apresentação, Leci foi muito aplaudida ao fazer um apelo pela retomada de sua carreira no Rio de Janeiro (o mercado que tem sustentado a sambista nos últimos anos é o paulista). "Quero ser recuperada na minha cidade", pediu Leci, no discurso mais inusitado da noite. Pela boa reação, a
recuperação começou.
Com menos entusiasmo do que Leci, Zeca Pagodinho abriu a noite com
É Preciso Muito Amor, o maior sucesso de Noca da Portela como compositor. A platéia vibrou com a presença de Zeca e se empolgou no refrão. Na seqüência, Nelson Sargento e Mauro Diniz celebraram em desencontrado dueto a irmandade das escolas de samba Mangueira e Portela. Mas o samba
Velhas Companheiras não rendeu o que poderia. Sargento estava muito inseguro com a letra e não entrava na hora certa. Já Diniz - recrutado na banda arregimentada pelo diretor musical Paulão Sete Cordas para substituir Monarco, impossibilitado de gravar por problemas de saúde - foi prejudicado pelo som sempre oscilante da Fundição Progresso. Em seguida, o grupo Sururu na Roda entrou em cena e reestabeleceu o ritmo com
Da Melhor Qualidade. Mas tudo voltou ao tom inseguro de antes quando Lenine foi chamado para cantar
Esperanças Perdidas. Lenine errou a letra no primeiro
take e interrompeu o segundo logo no começo. Talvez pelo desconforto de cantar versos mais adequados para um devoto do samba do para um compositor celebrado pelo tom miscigenado e universal de sua música. Deslocado, Lenine pareceu um
penetra no clube...
Cria da Lapa, o boêmio bairro carioca que ajudou a revitalizar o samba e no qual se situa a Fundição Progresso, o grupo Casuarina estava em casa, mas, por alguma razão, não rendeu como de costume ao cantar
O Show Tem que Continuar,
Não Deixe o Samba Morrer (cujo refrão foi acompanhado pelo forte coro popular) e
Retalhos de Cetim. Na seqüência, Sandra de Sá - escalada para cantar a marcha
Água na Boca - perseguiu um tom esfuziante, típico de um baile de Carnaval, mas a platéia reagiu mais com suas observações e provocações sobre futebol. Bem fez Serjão Loroza que entrou em cena e, com seu vozeirão, mandou direto
Eu Bebo Sim, com suingue e um leve tom teatral na interpretação. Nem foi preciso repetir. Mas a noite era mesmo das mulheres e o trio formado por Ana Costa, Anna Luisa e Nilze Carvalho (de volta ao palco, pois integra o Sururu na Roda, que já havia se apresentado) valorizou
Saudades da Guanabara, iniciada pelo autor Moacyr Luz. Quando tudo fazia supor um desastre, pelo canto esmaecido do compositor, as cantoras foram entrando em cena, uma instantes após a outra, e deram um colorido especial ao samba, que deu título ao LP gravado por Beth Carvalho em 1989.
Por fim, Jorge Aragão entrou em cena para empolgar mais com
Vai Passar - e o samba-enredo de Chico Buarque e Francis Hime incendiou de imediato a platéia - do que com
O Mar Serenou. Entre altos e baixos, a gravação do CD e do DVD que a EMI Music põe nas lojas até o fim do ano sinalizou que há bem mais sócios legítimos do que
penetras neste clube social do samba sustentado mais pela força do repertório e pelo prestígio dos freqüentadores. Os arranjos e as interpretações foram, em si, bastante previsíveis.