21 de março de 2009

Belo show joga luz sobre angústia do Radiohead

Resenha de Show
Título: Just a Fest - Radiohead
Artista: Radiohead (em fotos de Marcos Hermes)
Local: Praça da Apoteose (RJ)
Data: 20 de março de 2009
Cotação: * * * * 1/2
Em cartaz na Chácara do Jockey - SP - em 22 de março
"I lost myself", repetiu Thom Yorke, em vocais lancinantes, ao fim da balada Karma Police. A música do álbum mais celebrado do Radiohead, Ok Computer (1997), foi um dos grandes números do primeiro show feito pelo grupo britânico em solo brasileiro. O espetáculo fechou a programação carioca do festival Just a Fest na Praça da Apoteose (RJ), na noite de sexta-feira, 20 de março de 2009, fazendo jus à alta expectativa depositada por se tratar da estréia nacional de uma das bandas mais cultuadas dos anos 90. Guitarras distorcidas, letras angustiadas (valorizadas pelo canto visceral de Yorke) e ruídos eletrônicos se irmanaram em cena sob belíssimos efeitos de iluminação projetados nas faixas metálicas (bem) posicionadas em todo o palco. Números como The National Anthem e The Gloaming foram embelezados por tais efeitos de luz.
A banda entrou em cena às 22h35m. Elétrico, Yorke - que se desdobra nas funções de vocalista, guitarrista e pianista - apresentou a enérgica 15 Step, extraída do repertório do último álbum do Radiohead, In Rainbows, lançado em outubro de 2007. "Boa noite! Nós somos o Radiohead!", apresentaram-se em seguida ao público estimado em 24 mil pessoas. Como se fosse preciso. Descontado o séquito do quarteto carioca Los Hermanos, atração que também levou público próprio para a Apoteose, a maior parte da platéia estava ali para ver pela primeira vez no Brasil um show do grupo que dilui as altas doses de melancolia de seu repertório em energia roqueira. Houve peso em números como There, There - no qual os guitarristas Ed O'Brien e Jonny Greenwood se posicionam à frente do palco para tocar tambores. Com movimentos frenéticos, Yorke elevou a temperatura de músicas como Idioteque, destaque do roteiro. Mas houve também números mais contemplativos: All I Need, Nude (em que saltam aos ouvidos os vocais sofridos de Yorke, hábil ao expressar as tristezas e angústias das letras que escreve), No Surprises e Faust Arp (de clima acústico, bisado em How to Disappear Completely).
O som do Radiohead não é exatamente moldado para as massas que preferem um pop rock mais digestivo. O grupo vem trilhando caminhos experimentais em álbuns recentes como Kid A (2000) e Amnesiac (2001). Por essa trilha também seguiram várias músicas de In Rainbows, como House of Cards e Weird Fishes / Arpeggi, responsáveis pela estranheza que eventualmente toma conta dos shows da banda. Não foi diferente na apresentação carioca. Músicas mais enérgicas, caso de Bodysnatchers, e antigas - vindas de álbuns mais puramente roqueiros como The Bends (1995) - foram recebidas de forma bem mais calorosa pela platéia. Contudo, o show transcorreu uniforme, com pegada, do início ao fim. Uma festa para os olhos e ouvidos! No primeiro bis, a balada Videotape (com Yorke ao piano), Everything in Its Right Place (com Yorke, sofrido, também ao piano) e Paranoid Android (numa alternância de climas proporcionada pelo grande arranjo) ratificaram o êxito do show, cujo segundo bis incluiu You and Whose Army? (apresentada com intensidade crescente), Reckoner (número que evidenciou o alcance dos falsetes de Yorke) e Creep, um dos grandes hits de uma banda que soube cumprir toda a alta expectativa depositada em seu primeiro show no Brasil. Histórico!

Radiohead põe Creep no roteiro de show carioca

Música lançada como single em 1992, Creep chamou a atenção da imprensa britânica para o grupo Radiohead - que dava então seus primeiros passos fonográficos na Inglaterra natal - e se tornou ao longo dos anos um dos maiores hits do grupo em escala mundial. Ausente de boa parte dos roteiros dos shows da turnê que trouxe a banda de Thom Yorke pela primeira vez ao Brasil, neste mês de março de 2009, Creep foi incluída no repertório do primeiro show brasileiro do Radiohead (em foto de Marcos Hermes). Às 0h43m da madrugada deste sábado, 21 de março de 2009, Creep foi o fecho da arrebatadora apresentação carioca do grupo britânico no festival Just a Fest. Eis as 25 músicas do roteiro do histórico show:
1. 15 Step
2. Airbag
3. There, There
4. All I Need
5. Karma Police
6. Nude
7. Weird Fishes / Arpeggi
8. The National Anthem
9. The Gloaming
10. Faust Arp
11. No Surprises
12. Jigsaw Falling Into Place
13. Idioteque
14. I Might Be Wrong
15. Street Spirit (Fade Out)
16. Bodysnatchers
17. How to Disappear Completely
Bis I
18. Videotape
19. Paranoid Android
20. House of Cards
21. Just
22. Everything in Its Right Place
Bis II
23. You and Whose Army?
24. Reckoner
25. Creep

Máquina humana do Kraftwerk ainda funciona

Resenha de Show
Título: Just a Fest - Kraftwerk
Artista: Kraftwerk (em foto de Marcos Hermes)
Local: Praça da Apoteose (RJ)
Data: 20 de março de 2009
Cotação: * * * * 1/2
Em cartaz na Chácara do Jockey (SP) em 22 de março

Programado no meio das duas principais atrações do Just a Fest (a banda carioca Los Hermanos e o grupo britânico Radiohead), o quarteto alemão Kraftwerk se impôs na noite carioca do festival com show envolvente que mostrou que a máquina humana criada por Ralf Hütter e Florian Schneider (fora do grupo desde janeiro de 2009) na virada dos anos 60 para os 70 permanece atual e funciona bem. Pioneiríssimo na extração de sons eletrônicos de sintetizadores e computadores pré-históricos, o Kraftwerk ainda continua moderno quase 40 anos depois de seu aparecimento. Já virou até clichê enfatizar a influência determinante dos músicos alemães na cena eletrônica que irromperia com força nos anos 90.
Após Intro que adiantou o tom mecânico do show, os músicos entraram em cena - portando-se no palco como robôs - e tocaram The Man Machine, tema que batizou o álbum lançado pelo Kraftwerk em 1978. E o que se viu dali em diante foi um show que impressionou pela perfeita conexão dos sons sintetizados do quarteto com as imagens projetadas nos telões. A voz humana se fez ouvir de forma mais nítida pela primeira vez em Computer World, música-título de álbum de 1981. E é justamente nessa interação entre a máquina e o Homem que reside o charme do som do Kraftwerk. O som do quarteto é robótico, mas tem atitude. Radioactivity (1975), por exemplo, é pioneiro protesto com a devastação do meio ambiente. Coeso, o show durou pouco mais de uma hora e teve seu grande momento em The Robots (1978), número em que os músicos são substituídos em cena por robôs que imitam suas posturas no palco. É fato que uma ou outra música mais recente, como Aerodynamik (2004), surtiu menor efeito no roteiro. Contudo, ao sair de cena com Musique Non Stop, o Kraftwerk deixou o público todo embevecido com o poder de sedução de sua máquina de sons precursores de toda a era dance.

Eis o roteiro do show do grupo Kraftwerk no festival Just a Fest:
Intro
1. The Man-Machine
2. Planet of Visions
3. Numbers
4. Computer World
5. TDF 03 - L'Etape 2 / Tour de France
6. Autobahn
7. The Model / Computer Love
8. Les Mannequins
9. Radioactivity
10. Tee
11. The Robots
12. Aerodynamik
13. Musique Nom Stop

Amarante e Camelo retornam menos 'hermanos'

Resenha de Show
Título: Just a Fest - Los Hermanos
Artista: Los Hermanos (em foto de Marcos Hermes)
Local: Praça da Apoteose (RJ)
Data: 20 de março de 2009
Cotação: * * 1/2
Em cartaz na Chácara do Jockey (SP) em 22 de março

Às 19h em ponto da noite de sexta-feira, 20 de março de 2009, as luzes da Praça da Apoteose se apagaram e, segundos depois, os músicos do quarteto Los Hermanos entraram no palco para dar início à noite carioca do festival Just a Fest. Quando Marcelo Camelo começou a cantar (mal) os primeiros versos de Todo Carnaval Tem seu Fim, após dar boa noite à platéia, foi como se a banda nunca tivesse anunciado (em abril de 2007) seu recesso por tempo indeterminado. Nada parecia ter acontecido, mas, ao mesmo tempo, tudo parecia ter mudado. A vibe já era outra. Até o público, que misturava o séquito do quarteto com os fãs do Radiohead, era outro. E o fato é que o show transcorreu morno, com altos e baixos. Em cena, Camelo e Rodrigo Amarante - que não perderam a oportunidade de afagar os egos de seus seguidores com frases-clichês como "Muito obrigado por esse carinho de sempre" - parecem cada vez menos hermanos. O roteiro alterna músicas cantadas por um e por outro como se ali estivessem duas bandas. Já era assim, mas, na comparação com as apresentações do quarteto antes do recesso, o show da volta resultou mediano, sem a habitual química. Algo pareceu estar fora da ordem... Pena!

Desde os números iniciais, como O Vencedor, um trio de metais pontuou os arranjos. Camelo, que tinha entrado mal, logo achou o tom. Amarante não estava na melhor das formas vocais - como evidenciaram as interpretações de músicas como Retrato pra Iaiá e Último Romance. Por mais que a temperatura tenha subido em temas como Além do que se Vê e Casa Pré-Fabricada, ambos turbinados com as palmas e o coro dos fãs, a sensação foi de desapontamento. O grupo até surpreendeu ao incluir no roteiro a habitualmente ignorada Cher Antoine, música com versos em francês de Bloco do Eu Sozinho (2001), o álbum gerador do culto aos Hermanos. Assim Será se diferenciou pelo tempero de salsa posto pelo trio de metais. Condicional (de 4, o disco mais contemplativo de 2005) se impôs pelo peso das guitarras. E o arranjo de Sentimental rendeu o melhor momento do show - com uma interação entre os músicos que soaria artificial, momentos depois, quando Amarante e Camelo uniram vozes no número final, A Flor. É melhor que o Los Hermanos determine um tempo mais prolongado para o recesso. Pelo menos enquanto seus dois (bons) cantores e compositores permanecerem em freqüências distintas.

Eis o roteiro do show dos Los Hermanos no festival Just a Fest:
1. Todo Carnaval Tem seu Fim - com Marcelo Camelo
2. O Vencedor - com Marcelo Camelo
3. Retrato pra Iaiá - com Rodrigo Amarante
4. Último Romance - com Rodrigo Amarante
5. Morena - com Marcelo Camelo
6. Além do que se Vê - com Marcelo Camelo
7. O Vento - com Rodrigo Amarante
8. Cher Antoine - com Rodrigo Amarante
9. A Outra - com Marcelo Camelo
10. Primeiro Andar - com Rodrigo Amarante
11. Casa Pré-Fabricada - com Marcelo Camelo
12. Deixa o Verão - com Rodrigo Amarante
13. Cara Estranho - com Marcelo Camelo
14. Assim Será - com Marcelo Camelo
15. Condicional - com Rodrigo Amarante
16. Sentimental - com Rodrigo Amarante
17. Cadê Teu Suin? - com Marcelo Camelo
18. A Flor - com Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante

20 de março de 2009

Camelo vai gravar DVD solo na Bahia em abril

Enquanto se preparava para retornar aos palcos como um integrante do grupo Los Hermanos (reativado somente para fazer dois bissextos shows no festival Just a Fest), Marcelo Camelo tratou de agendar a primeira gravação ao vivo de sua curta carreira solo. O registro da turnê do CD Sou vai ser realizado na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador (BA), em show marcado para 3 de abril de 2009. Mallu Magalhães vai participar da gravação, reeditando com Camelo o duo feito no disco na música Janta. O grupo Hurtmold também vai estar em cena com o cantor.

CD de padres irlandeses testa fé dos brasileiros

Ciente de que os padres Fábio e Marcelo Rossi foram os dois líderes de vendas de CDs em 2008 (com 542 mil cópias do CD Vida e 460 mil dos dois volumes do projeto ao vivo Paz Sim, Violência Não - respectivamente), a gravadora Sony Music testa a fé católica dos consumidores brasileiros com o lançamento do CD The Priests. Lançado em 2008, com boa repercussão comercial em países europeus como Noruega e Suécia, o álbum traz standards religiosos - como Ave Maria e Panis Angelicus - e várias músicas tradicionais irlandesas nas vozes de três padres (Eugene O'Hagan, Martin O'Hagan e David Delargy) que professam a fé católica numa igreja da Irlanda do Norte. Gravado entre a terra natal dos párocos e Roma (na Capela de Coro da Basílica de São Pedro, no Vaticano), o álbum The Priests ganha edição nacional porque o Brasil é o país que agrega o maior número de católicos no mundo.

Segundo DVD de Mika é animado e redundante

Resenha de DVD
Título: Live Parc
des Princes Paris
Artista: Mika
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * * 1/2

Por mais que o primeiro álbum de Mika (Life in Cartoon Motion, 2007) seja genial, a turnê montada para promover o disco não tinha novidades suficientes para render dois DVDs. Live Parc des Princes Paris, o DVD que a Universal Music acaba de lançar no mercado brasileiro, soa inevitavelmente redundante para quem já comprou o (ótimo) primeiro DVD originado do show, Live in Cartoon Motion. Se este registra show captado no Olympia de Paris em 30 de junho de 2007, Live Parc des Princes Paris perpetua a primeira apresentação de real grande porte do cantor inglês (de origem libanesa). Mika reuniu 55 mil espectadores num estádio da capital francesa em 4 de julho de 2008. Em um ano, cresceu o público de Mika. E aumentou também a desenvoltura do artista no palco. O show do estádio Parc des Princes é grandioso. Um aparato hi-tech de clima circense foi montado para dar ao espetáculo um visual pop e em sintonia com a estética dos cartoons. Nos extras, há vídeos em animação (de Lollipop) e documentário que detalha a armação do circo parisiense. Contudo, descontada a parafernália cenográfica, o show eternizado nas imagens de Live Parc des Princes Paris é o mesmo exibido pelo DVD Live in Cartoon Motion. A inédita balada Rain - um número mais intimista, calcado no piano - e o fraco cover de Just Can't Get Enough (do repertório do grupo Depeche Mode) não são suficientes para diluir a sensação de redundância. Por mais que a captação de imagens e a mixagem do áudio em DTS 5.1 sejam de alto nível, é DVD para fã.

Daniel cruza (bem) a porteira da música caipira

Resenha de CD
Título: O Menino
da Porteira
- As Músicas do Filme
Artista: Daniel
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * *

O remake do filme O Menino da Porteira não conseguiu o esperado estouro da boiada nas bilheterias dos cinemas. Contudo, o CD com a trilha sonora do filme representa upgrade na discografia de Daniel. O cantor cruza bem a porteira da real música sertaneja. Por mais que já tenha esboçado aproximação das raízes caipiras na série de CDs Meu Reino Encantado, é em O Menino da Porteira que Daniel se mostra realmente inspirado. Por mais que nada acrescente nada à música que inspirou o roteiro e deu título ao filme, o intérprete toma contato com repertório e músicos atípicos em sua obra fonográfica de tom habitualmente sentimental. O pianista Nelson Ayres, por exemplo, atua como arranjador na trilha e é o autor de Vida Estradeira, bela toada melancólica que cai bem na voz do cantor. Daniel também acerta o tom agalopado de Disparada, parceria de Théo de Barros e Geraldo Vandré que Jair Rodrigues propagou num festival de 1966. Já sua interpretação de Tocando em Frente (Almir Sater e Renato Teixeira) presumivelmente não alcança as sutilezas do registro definitivo de Maria Bethânia, feito em 1990. Entre duas inéditas da lavra de Rick com o próprio Daniel (Arribada e o bom aboio Boiada) e regravações corretas de clássicos ruralistas (Cabecinha no Ombro e Índia), a trilha sonora surpreende ao apresentar inusitado dueto de Daniel com Carlos Careqa em Meu Querido Santo Antônio. Somente por viabilizar o harmonioso encontro do cantor com um artista da cena indie como Careqa, a trilha sonora do filme O Menino da Porteira já merece atenção por fugir (eventualmente!) dos clichês sertanejos.

19 de março de 2009

Caixa embala o canto áureo da 'cigarra' Simone

Resenha de Caixa de CDs
Título: O Canto da Cigarra nos Anos 70
Artista: Simone
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * * 1/2

Por conta de erros na condução de sua trajetória fonográfica na década de 80, Simone perdeu prestígio e ganhou público (na época). A partir dos anos 90, a cantora vem tentando em vão recuperar o status de seu início de carreira, ainda que - justiça seja feita! - ela tenha gravado alguns bons discos como Seda Pura (2000), Baiana da Gema (2004 - álbum dedicado inteiramente ao cancioneiro recente de Ivan Lins) e Amigo É Casa (2008 - registro ao vivo do show dividido com Zélia Duncan). Enquanto prepara CD com inéditas e regravações para a gravadora Biscoito Fino, Simone tem reeditados 11 discos de sua fase áurea na caixa O Canto da Cigarra nos Anos 70, produzida pelo jornalista Rodrigo Faour nos mesmos criteriosos moldes das coleções que reeditaram as obra fonográficas de Maria Bethânia (2006) e Ney Matogrosso (2008). Os discos foram lançados entre 1973 e 1980.

Com exceção de Festa Brasil, disco gravado por Simone em 1974 para os Estados Unidos que ainda permanecia inédito no mercado nacional, todos os títulos da caixa já tinham sido reeditados em CD. Alguns já estavam fora de catálogo há anos - caso do então raro Simone (1980), relançado uma única vez em CD em 1993 na série 2 em 1 da gravadora EMI. Outros vinham sendo constantemente repostos em catálogo - caso de Pedaços, obra-prima de 1979 - entre reedições ora desleixadas, ora cuidadosas - como a feita para a série Portfolio em 1997 (com reprodução em miniatura das capas dos LPs). Contudo, a cuidadosa remasterização feita por Carlos Savalla e Luigi Hoffer valoriza as atuais reedições. O som dos discos está alto e límpido. E, para colecionadores, há a informação de que cada título recupera o material gráfico do LP original e vem com texto escrito por Faour com declarações atuais de Simone sobre cada disco. Sem falar que cinco faixas-bônus foram distribuídas entre os álbuns. Pena que a capa artesanal de Face a Face (1977) - cheia de dobras e encaixes - não tenha sido confeccionada como na época do lançamento. Pena também que o disco ao vivo de 1980 não apresente a gravação na íntegra. Fora esses detalhes, a caixa é primorosa e reafirma a importância da obra Simone nos anos 70. A voz volumosa tinha um longo alcance. E o rigor estilístico na seleção do repertório era grande. Eis uma análise de cada disco reeditado na excelente caixa O Canto da Cigarra nos Anos 70:

Simone (1973) * *
Gravado em outubro de 1972, o fraco primeiro álbum de Simone chegou às lojas em março de 1973. Colhido entre amigos da cantora, o repertório é irregular e sua voz ainda era um diamante a ser lapidado. O destaque é a releitura meio jazzy de Tudo que Você Podia Ser (Lô Borges e Márcio Borges), canção lançada em 1972 por Milton Nascimento no álbum duplo Clube da Esquina.

À Bruxelles - Brasil Export 73 (1973) * *
Registro do show que percorreu algumas cidades européias em 1973. Idealizado por Hermínio Bello de Carvalho para ser apresentado numa feira de Bruxelas, o espetáculo foi dividido por Simone com Roberto Ribeiro (1940 - 1996), com o auxílio luxuoso do violão de João de Aquino. Ribeiro acabara de ser lançado pela gravadora Odeon em álbum gravado com Elza Soares, cantora inicialmente escalada para o show. Com a impossibilidade de Elza partir para o exterior, a iniciante Simone foi convocada. Sua voz, ainda dura, não exibe a manemolência necessária para cantar os três sambas de roda do (titubeante) repertório feito para gringos.

Expo-Som '73 - Ao Vivo (1973) * * 1/2
Em setembro de 1973, a Odeon reuniu parte de seu elenco em show realizado no Clube Pinheiros. O terceiro disco de Simone é o registro ao vivo da apresentação dividida com Ari Vilela, Leny Andrade e Márcia. Em sua mediana parte solo, Simone prioriza no repertório temas de Dorival Caymmi (1914 - 2008), indo das canções praieiras Coqueiro de Itapoã e João Valentão (reunidas em medley) ao samba-canção Nem Eu. Leny, calejada, se destaca.

Festa Brasil (1974) * *
Título mais raro da caixa, pois nunca editado no mercado nacional nem mesmo em vinil, Festa Brasil registra outro show idealizado por Hermínio Bello de Carvalho para o exterior no rastro do sucesso de Brasil Export 73. Desta vez, o alvo foi o mercado norte-americano. Sem Roberto Ribeiro, Simone dividiu o disco apenas com o violão de João de Aquino. O destaque do repertório moldado para ouvidos estrangeiros é um vigoroso registro de Oração de Mãe Menininha, lançada por Dorival Caymmi em 1972.

Quatro Paredes (1974) * * *
O segundo álbum solo de Simone já sinaliza evolução em relação ao primeiro. Embora ainda engessada pelos critérios artísticos de Hermínio Bello de Carvalho, a artista já dava pistas de que se transformaria numa grande intérprete. Os arranjos do pianista e maestro Luiz Eça (1936 - 1992) valorizam o repertório ainda irregular. Os destaques são as três músicas da então iniciante dupla João Bosco e Aldir Blanc: De Frente pro Crime (com o MPB-4 no coro), Fantasia e Bodas de Prata. A reedição inclui duas faixas-bônus: Fora de Hora e Salamargo, gravadas em 1974 para o LP Sei Lá, lançado por Hermínio. A segunda aparece em dose dupla no disco, já que também tinha sido incluída por Simone em Quatro Paredes, álbum de repercussão comercial bem pequena.

Gotas D'Água (1975) * * * *
Primeiro grande disco de Simone. A cantora ainda vivia sob as rédeas de Hermínio Bello de Carvalho, mas o envolvimento de Milton Nascimento na produção já leva o disco por outros caminhos. Parceiro de Fernando Brant nas faixas Idolatrada e Outubro, Milton participa da gravação de Gota DÁgua, a canção dramática que Chico Buarque lançava naquele ano na peça homônima. Os arranjos são de Luiz Eça e Wagner Tiso. Em Latin Lover (João Bosco e Aldir Blanc), Simone já dá sinais da sensualidade que iria explodir em álbuns posteriores. Com o canto em evolução, a intérprete grava pela primeira vez Gonzaguinha (Eu Nem Ligo). Sua voz já mostra algum crescimento. A reedição de Gotas D'Água inclui duas preciosas faixas-bônus: O Ronco da Cuíca - samba de João Bosco e Aldir Blanc, gravado por Simone para um compacto - e O Que Será (À Flor da Terra), fonograma de 1976, feito para a trilha sonora do filme Dona Flor e seus Dois Maridos e lançado no Brasil em compacto que tocou nas rádios.

Face a Face (1977) * * * * 1/2
Primeiro antológico disco de Simone. Já desvencilhada do amigo Hermínio Bello de Carvalho, a cantora passou a ser produzida por Renato Corrêa. Lançado em julho de 1977, Face a Face marcou o início do envolvimento duradouro da intérprete com a obra de Sueli Costa, autora da faixa-título (em parceria com Cacaso) e de Jura Secreta (com Abel Silva). As duas músicas foram os maiores sucessos do disco que consolidou a carreira de Simone em termos artísticos e comerciais. Milton Nascimento e a turma do Clube da Esquina dominaram o denso repertório. A voz já alçou altos voos.

Cigarra (1978) * * * *
Simone já era um fenômeno de popularidade quando lançou em 1978 Cigarra, disco de menor impacto na comparação com o anterior Face a Face. Ainda assim, é um belo álbum. Presente de Milton Nascimento e Fernando Brant, a faixa-título foi logo incorporada informalmente ao nome e ao repertório da cantora. Doses de sensualidade (Medo de Amar nº 2, outro hit do disco) e política (A Sede do Peixe, de Milton com Márcio Borges) anteciparam receita que seria aprimorada no posterior Pedaços.

Pedaços (1979) * * * * *
É o melhor disco de Simone - não por acaso lançado no ano da explosão feminina na MPB. O repertório irretocável aproveitava os ventos da abertura política para anunciar a volta dos exilados (Tô Voltando) e reafirmava a independência feminina em Começar de Novo, tema de Ivan Lins e Vítor Martins, autor também de Saindo de mim. Entre pérolas de Chico Buarque (a dilacerante Pedaço de mim e a abolerada Sob Medida) e Fátima Guedes (Condenados, faixa de alto teor erótico), Simone lançou mais duas obras-primas de Sueli Costa: Cordilheira (com Paulo César Pinheiro) e Vento Nordeste (com Abel Silva). A segunda - tão bela quanto desconhecida - seria retomada por Simone em 2007 no show dividido com Zélia Duncan. Enfim, um LP clássico.

Simone ao Vivo (1980) * * * * 1/2
Bem no auge da carreira, Simone estreou no Canecão (RJ), em dezembro de 1979, um show dirigido por Flávio Rangel (1934 - 1988). O álbum registra a gravação feita em 30 de dezembro. O roteiro incluía samba de Ivan Lins e Vítor Martins, Desesperar Jamais, que faria sucesso nacional ao ser cantado por Simone na trilha sonora nacional da novela Água Viva. Contudo, o grande destaque do show foi a versão de voz-e-violão em que Simone cantava Pra Não Dizer que Não Falei de Flores (Caminhando), o hino de Geraldo Vandré que convidava à ação política. Na atual reedição, cada música ou vinheta corresponde a uma faixa do CD - fato importante porque nem sempre há pausas entre elas, o que facilitará a escolha do ouvinte. A reedição anterior era desleixada.

Simone (1980) * * * * 1/2
É o derradeiro disco de Simone para a gravadora EMI-Odeon (ora reeditado com faixa-bônus, Eu, gravada por Simone para o segundo disco de Fátima Guedes). Repete quase com o mesmo êxito a receita de política e sensualidade feminina do álbum anterior de estúdio, Pedaços. Inéditas de Chico Buarque (Mar e Lua - ode ao amor lésbico composta por Chico para a peça Geni) e Sueli Costa (Música, Música - ode à própria música feita numa letra poética de Abel Silva) puxavam belo repertório pontuado também por boas músicas novas de Gonzaguinha (Do meu Jeito, Sangrando - numa intensa interpretação - e Mulher e Daí?) e de Ivan Lins com Vítor Martins (Atrevida e Novo Tempo). Gilson Peranzzetta, Luiz Avellar e Eduardo Souto Neto assinavam os primorosos arranjos deste grande disco que marcou o fim de um ciclo na carreira de Simone. Ao migrar para a CBS (atual Sony Music) e passar a ser produzida por Mazzola, a cantora foi progressivamente padronizando, diluindo e banalizando sua obra fonográfica. O canto da Cigarra nunca soou tão forte e livre como nos CDs embalados nesta caixa que merece o investimento dos fãs.

Banda vencedora de 'reality' lança CD em maio

Banda baiana que venceu uma espécie de reality show musical criado por marca de refrigerantes e exibido na TV aberta, Vivendo do Ócio recebeu como parte do prêmio o direito de gravar um CD na Deckdisc. Produzido por Rafael Ramos, o disco foi feito em três semanas no estúdio Tambor, da gravadora carioca. Jajá (voz e guitarra), Lucas (baixo e voz), David (guitarra) e Dieguito (bateria) registraram 14 músicas novas para o álbum que tem lançamento previsto para maio de 2009 com influência do pop rock britânico.

Madonna pode gravar músicas para compilação

Nova coletânea de Madonna - a quarta da discografia da artista - vai ser lançada no segundo semestre de 2009, provavelmente em setembro. A novidade é que a compilação deverá trazer uma ou duas gravações inéditas da cantora - além dos hits, que serão supostamente selecionados a partir das sugestões feitas pelos fãs no perfil da cantora no Twitter. A edição da coletânea já estava prevista em contrato para encerrar o vínculo de Madonna com a gravadora Warner Music. A partir de 2010, os discos da artista serão distribuídos pelo braço fonográfico da empresa Live Nation.

Neschling conduz a Osesp pelos choros de Villa

Após forte controvérsia, John Neschling acabou demitido do cargo de maestro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo em janeiro de 2009. Contudo, a Osesp ainda pode ser ouvida sob a condução de Neschling na série de CDs Villa-Lobos - Choros, que vem sendo editada pelo selo Biscoito Clássico, o bom braço erudito da gravadora Biscoito Fino. O terceiro volume acaba de chegar às lojas com os choros de números 2, 3, 10 e 12 - além da Introdução aos Choros, composta em 1929 por Heitor Villa-Lobos (1887 - 1959) para violão e orquestra. A propósito, foi na década de 20 que o compositor se dedicou à composição de choros, sendo que os mais célebres são os reunidos na peça Choros Nº 10 - Rasga o Coração, composta em 1926. O CD traz no encarte um esclarecedor texto de Jorge Coli sobre essa parcela magistral (e bem menos conhecida) da obra de Heitor Villa-Lobos.

DVD compila (mais) 15 performances de Elvis

Em 2007, já no embalo das lembranças pelo 30º aniversário de morte de Elvis Presley (1935 - 1977), a gravadora Sony Music reuniu 15 gravações do pioneiro cantor no DVD Elv1s # 1 Hit Performances. O sucesso de vendas gerou um segundo volume, lançado no Brasil neste mês de março de 2009. O DVD Elv1s # Hit Performances & More Vol 2 compila mais 15 curiosas gravações do artista que abrangem um período que vai de 1956 - caso do take do teste feito por Elvis no Paramount Studios em que canta a seminal Blue Suede Shoes para o produtor Hal Wallis - até 1973 (An American Trilogy, número captado do especial de TV Elvis: Aloha from Hawaii). As 15 performances foram extraídas de aparições de Elvis na televisão e de filmes estrelados pelo astro. De King Creole (1958), por exemplo, o DVD exibe Trouble. Já Bossa Nova Baby é de Fun in Acapulco (1963). A rigor, nem todas as gravações atingiram o topo das paradas, mas a coletânea do DVD tem lá seu interesse por mostrar a evolução (?!) de Elvis Presley ao longo de sua trajetória.

18 de março de 2009

'Tigra' une guitarras de Tostoi à voz de Pestano

Resenha de CD
Título: Tigra
Artista: Luciana Pestano
Gravadora: RM2
Entretenimento
Cotação: * * * 1/2

Tigra é o apelido de Luciana Pestano. Por algum tempo, foi também o nome artístico da cantora e compositora gaúcha. Até encontrar melhor destino como título do segundo álbum desta legítima roqueira. Tigra, concluído em 2008 após anos de produção cuidadosa, é trabalho superior ao antecessor Luciana Pestano, produzido por Bebeto Alves, lançado em 1997 pelo selo Antídoto e reeditado em 98 pela gravadora atualmente intitulada Universal Music em vã tentativa de deixar Pestano menos longe das capitais. A projeção nacional não se concretizou, de fato, mas Tigra é bom disco que mostra atitude - artigo raro no rock pré-fabricado de hoje em dia. Com sua voz rouca e cortante, que lembra eventualmente o timbre e o vigor de Marina Lima em tempos idos, Pestano valoriza repertório formado por dez inéditas autorais que vão direto ao ponto. Muito do valor do álbum vem também das guitarras de Jr. Tostoi, produtor da faixa Arpoador. A propósito, Tigra tem produção dividida por timaço que inclui, além de Tostoi, os antenados Marcos Cunha, Rodrigo Campello, Herbert Vianna, Mu Chebabi e a própria Pestano. A interação das guitarras de Tostoi com as programações e efeitos eletrônicos geraram arranjos pulsantes. Vale destacar o de Tigragem, mas o CD é todo bem timbrado. Admirador de primeira hora da artista, Herbert Vianna é o produtor e convidado da balada Entre Você e Eu, bissexto lampejo sentimental de repertório afiado que destaca Trovão, A Lôca (parceria de Pestano com Antonio Villeroy), Dia Zen e Maciez. Há uma ou outra música de menor vigor, caso de Hora de Ir, mas, no geral, Tigra representa upgrade na trajetória fonográfica de Luciana Pestano. Ela fala alto e tem que ser ouvida.

Rei do funk dos 70, King Combo chega ao DVD

Um dos reis do funk e do soul cariocas projetados no movimento Black Rio da década de 70, Gerson King Combo chega ao DVD. O artista vai lançar em 2009 o DVD que gravou no fim de 2008 em show-baile feito com a banda Supergroove em Madureira, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro (RJ). No registro ao vivo, Combo e o grupo recebem convidados como a cantora Andréa Dutra, o guitarrista Da Gama (ex-Cidade Negra) e o cantor Carlos Dafé, também revelado na onda black dos anos 70. O roteiro equilibra os clássicos de Combo - entre eles, os obrigatórios Funk Brother Soul e Mandamentos Black - com músicas mais recentes como Comunidade Positiva e Estou Voltando. A edição é independente.

Tetê conduz boa viagem pela música pantaneira


Resenha de Show
Título: Música Pantaneira - Da Tradição à Renovação
Artista: Tetê Espíndola (em fotos de Mauro Ferreira)
Convidados: Alzira E, Jerry Espíndola e Lucina
Local: Caixa Cultural - Teatro Nelson Rodrigues (RJ)
Data: 17 de março de 2009
Cotação: * * * 1/2
Em cartaz até quarta-feira, 18 de março, às 19h30m
A viagem era pelos ritmos do Centro-Oeste do Brasil, em especial pela música pantaneira, mas, ao fim do bis do show que a trouxe de volta ao Rio de Janeiro (RJ), Tetê Espíndola teve que fazer escala urbana no pop romântico para cantar Escrito nas Estrelas (1985). Foi pedido do público que foi ao Teatro Nelson Rodrigues na noite de terça-feira, 17 de março de 2009, para embarcar nessa viagem pelos sons ruralistas que se ouve em Estados como Mato Grosso e Goiás. Tetê conduziu o barco pelas águas pantaneiras com a segurança de que tem intimidade com a música da região. A tripulação - Alzira E, Lucina, Jerry Espíndola e Iara Rennó (participação especial nas duas apresentações agendadas no Rio de Janeiro) - atravessou até as fronteiras nacionais, encerrando o show com a versão original - cantada num castelhano misturado com Tupi Guarani - de Galopeira, tema paraguaio que ainda ecoa no Centro-Oeste brasileiro. A turma tropeçou na letra caudalosa...
A intenção do show é entrelaçar clássicos sertanejos da região - como o número de abertura, A Matogrossense (Carlito ,Lourival dos Santos e Tião Carreiro) - com temas mais contemporâneos para enfatizar a continuidade da produção musical inspirada nesse universo regional. No primeiro bloco, na craviola, Tetê conduz a viagem com clássicos como Chalana (Arlindo Pinto e Mário Zan) e Meu Primeiro Amor (a consagrada versão de José Fortuna e Pinheirinho Junior para Lejania, de Hermíno Gimenez). De início, já se percebe a harmonia das vozes e a interação dos cantores. Aos poucos, entram as músicas mais recentes, da lavra de Tetê e de seus amigos. Com Iará Rennó na guitarra, Tetê sola Águas Irreais, parceria sua com Arnaldo Black, cuja letra é um flash panorâmico do cenário do Pantanal. Com sons mais urbanos, Jerry Espíndola enfatiza nos versos de Beijo Prata as belezas naturais dessa região.
Parte da produção autoral da turma foi gerada em 2006 numa viagem da barco pelas águas pantaneiras. Em 20 dias, foram compostas cerca de 15 músicas. Novos ou antigos, alguns temas se impõem no roteiro pela maior inspiração. Quyquyho (Geraldo Espíndola) - apresentado num dueto de Lucina com Jerry - é um deles. Também conhecida como Kikiô, a música já foi gravada tanto por Tetê quanto por Almir Sater. Sozinha, Lucina reafirma seu talento de intérprete ao reviver com sua voz grave Bandolero, sucesso na voz de Ney Matogrosso (presença ilustre na platéia). Na seqüência, o show segue curso mais pop quando Alzira E assume o leme para cantar músicas como Chega Disso (lançada por Zélia Duncan) e Ramagens (parceria de Alzira com a poeta Carol Ribeiro, outra tripulante da viagem de barco feita em 2006).
Ao voltar ao palco, de exótico óculos vermelho, Tetê faz seu belo número performático ao cantar Adeus Pantanal, pioneiro alerta ecológico de Itamar Assumpção (1949 - 2003) sobre a crescente devastação da região. O número, de tom histriônico, é veículo para Tetê elevar seus agudos. Na sequência, mais plácida, a artista saúda em dueto com Lucina a Água dos Matos, parceria das duas. Em seguida, Lucina faz outro dueto - desta vez, com Alzira E - em Povo de Beira de Rio. Já com Tetê de volta à cena, vem então momento já tradicional nos shows da artista: é quando ela imita o canto de pássaros e convida a platéia a repetir os sons. Dá para perceber que todos os pássaros ainda habitam a garganta de Tetê.
Já no fim, a seqüência que emenda Trem do Pantanal (Geraldo Roca e Paulo Simões), Siriema (Nhô Pai e Mário Zan) e Pra Corumbá (Lucina e Jerry Espíndola) soa especialmente cativante e repõe nos trilhos o show, encerrado com Tan Tan Pantanal (Jerry Espíndola, Lucina e Alzira E). É fato que nem sempre a produção pantaneira mais recente faz frente à antiga, mas, no todo, o show cumpre bem sua intenção de levar o espectador para regiões musicais ainda pouco exploradas - a rigor, até ignoradas - nos grandes centros urbanos do Brazil que não conhece o Brasil...

Claudia dueta com Emílio em música de seu pai

No CD que acaba de gravar para a Lua Music, Claudia Telles faz dueto com Emílio Santiago - com a cantora na foto de Madeo Bocatios - na faixa Biquininho Azul. Trata-se de parceria de Ronaldo Bôscoli (1928 - 1994) com o violonista Candinho, pai da artista. Intitulado Quem Sabe Você, nome da inédita parceria de Roberto Menescal e Abel Silva incluída no repertório, o álbum inclui no repertório um tema recente de Johnny Alf, Ai, Saudade. Produzido por Thiago Marques Luiz, o disco flerta com o lado B da Bossa Nova. Sem Você pra Que? é parceria da mãe da cantora, Sylvia Telles (1935 - 1966), com Chico Anysio, tendo sido gravada somente por Sylvinha num disco de 78 rotações por minuto. Já Felicidade Vem Depois é da lavra inicial de Gilberto Gil. O CD inclui ainda Tamanco no Samba (um hit de Orlandivo) e Tema de Não Quero Ver Você Triste - tal como ele foi gravado por sua mãe.

New York Dolls lança CD com produtor de 1973

Grupo de glam rock dos anos 70 que foi reativado em 2004, New York Dolls vai lançar em 4 de maio de 2009 um álbum, 'Cause I Sez So, pilotado pelo mesmo produtor de seu álbum de estréia (New York Dolls, 1973), Todd Rundgren. Gravado no Havaí, o repertório inclui 11 músicas inéditas e a regravação de Trash, um dos maiores sucessos da banda de Nova York (EUA). Eis as faixas:

1. 'Cause I Sez So
2. Muddy Bones
3. Better Than
4. Lonely so Long
5. My World
6. Ridiculous
7. Temptation to Exist
8. Making Rain
9. Drowning
10. Nobody Got No Bizness
11. Trash
12. Exorcism of Despair

17 de março de 2009

Roberta Sá grava primeiro DVD no Rio em abril

Roberta Sá grava seu primeiro DVD em abril, no Rio de Janeiro (RJ). O primeiro registro ao vivo da cantora vai ser feito na casa Vivo Rio, em show agendado para 3 de abril de 2009. Sai este ano.

Caixa 3 da coleção de Caetano vai sair em maio

Após quase dois anos de atraso, a gravadora Universal Music trabalha - enfim - na edição da terceira das quatro caixas da coleção Quarenta Anos Caetanos (a série foi lançada em dezembro de 2006 e tinha sido idealizada inicialmente para ser concluída ao longo de 2007). O lançamento está previsto para maio de 2009. As fotos e a parte gráfica já tiveram a aprovação de Caetano Veloso. Como as duas anteriores, 67/74 e 75/82, a caixa 83 / 94 vai trazer um CD-bônus com raras gravações avulsas do artista, compiladas pelo pesquisador Rodrigo Faour. Em tempo: por falar em Caetano, seu álbum de inéditas Zii e Zie, inicialmente programado para março, chegará às lojas em abril com músicas já testadas em show.

Sem poupar coração, Nana grava Alice Caymmi

Neta de Dorival Caymmi (1914 - 2008) e filha de Danilo, Alice Caymmi esboça carreira de cantora e compositora que já conta com o aval de sua tia famosa. Em sintonia com o título de seu primeiro álbum de inéditas desde 2001, Sem Poupar Coração, Nana Caymmi incluiu música de Alice, Diamante Rubi, no repertório. Nas lojas em abril, pela Som Livre, o disco tem sua faixa-título assinada por Dori Caymmi com Paulo César Pinheiro. Aliás, Pinheiro é nome recorrente na ficha técnica: Nana canta outras duas letras do poeta, a de Senhorinha (parceria com Guinga) e a de Violão (esta com música de Sueli Costa). Dori - que participa do álbum como arranjador e violonista - também está presente no repertório com Fora de Hora, parceria bissexta com Chico Buarque. Já Danilo Caymmi, que participa do CD como músico, assina Visão, parceria com Malu Lafer. Outras faixas são Pra Quem Ama Demais (de Fátima Guedes), Caju em Flor (de João Donato e Ronaldo Bastos), Esmeraldas (Rosa Passos e Fernando Oliveira) e Contradições (de Cristóvão Bastos com Aldir Blanc). Produzido por José Milton, Sem Poupar Coração já tem faixa propagada na trilha sonora da novela Caminho das Índias: Não se Esqueça de mim (Roberto e Erasmo Carlos), reedição do dueto feito com Erasmo em 1998, no disco Resposta ao Tempo.

Sony põe fé no volume 2 do DVD de padre Rossi

A Sony Music põe nas lojas neste mês de março de 2009 o segundo volume do DVD Paz Sim, Violência Não, que registra a outra parte do show feito por padre Marcelo Rossi em 21 de abril de 2008 com a presença de convidados como Agnaldo Rayol, Alcione, Cláudia Leitte e Sérgio Reis. Música inédita da lavra da dupla Bruno & Marrone, Em Troca de Paz, foi a única novidade de repertório pontuado por hits religiosos como Jesus Cristo e Nossa Senhora. A gravadora alardeia que o primeiro volume do DVD, editado em 2008, mereceu a fé de 230 mil fiéis compradores. Os dois CDs teriam vendido 460 mil cópias.

Por ora, Twiggy tem mais voz do que identidade

Resenha de CD
Título: Twiggy
Artista: Twiggy
Gravadora: Discobertas
Cotação: * * 1/2

Twiggy é uma cantora de 17 anos que hoje desponta como roqueira neste seu primeiro disco, produzido pelo baixista Andria Busic para o selo Discobertas. A julgar pelo CD de estréia, Twiggy, ela tem mais voz do que atitude. Os covers de Ovelha Negra e Pense e Dance - com arranjos chupados dos registros originais feitos por Rita Lee e Barão Vermelho em 1975 e 1988, respectivamente - sinalizam que Twiggy ainda precisa encontrar sua identidade. O álbum não é ruim, porém carece de um traço original, algo que personalize o som de Twiggy na cena roqueira. Desde a primeira faixa, Olho do Furacão, rock composto por Erasmo Carlos com músicos do desativado grupo LS Jack, paira a sensação de que se trata de mais uma produção feita em escala industrial. As inéditas compostas por Liah, Rodrigo Leal e Dr. Sin não desfazem tal impressão - ainda que Adeus, balada pop de Leal, tenha vocação radiofônica. Entre um cover de Leoni (o rock Diga Não) e outro rock de Erasmo (Escorregadia, parceria com Rick Ferreira), Twiggy não diz de fato a que veio. E, como a artista atualmente aprimora seu bons recursos vocais com o estudo de canto lírico na Alemanha, pode ser que no segundo álbum ela ache seu caminho. Na longa estrada do rock ou em outra trilha musical.

16 de março de 2009

Lúdica Música se diverte ao vivo em DVD e CD

Dupla mineira formada por Isabella Ladeira e Rosana Brito, atuante no circuito das Geraes, Lúdica Música está lançando seu primeiro DVD, Diversões Lúdicas ao Vivo... e a Cores!, no qual registra show gravado no Teatro Sesiminas, em Belo Horizonte (MG), em novembro de 2007. Ivan Lins - que expressa sua admiração pela dupla em depoimento exibido nos extras do DVD - é autor presente no roteiro com Abre Alas e Bandeira do Divino. Entre músicas autorais como Fogaréu, Isabella e Rosana recebem Vander Lee (em Seção 32, tema da lavra do compositor mineiro) e cantam músicas de compositores como Chico Buarque (Cotidiano), Zeca Baleiro (Telegrama) e Luiz Tatit (Essa É pra Acabar). O DVD está sendo editado em kit que inclui CD com 14 das 18 músicas da gravação ao vivo. A boa edição é independente.

Dylan anuncia título do disco que lança em abril

Together through Life. Taí o título do álbum de inéditas que Bob Dylan vai lançar em 27 de abril de 2009. O CD foi produzido pelo próprio Dylan sob o recorrente pseudônimo de Jack Frost. A criação do sucessor do belo Modern Times (2006) foi motivada - de acordo com o próprio artista - pela composição da música Life Is Hard para a trilha sonora de um filme (ainda inédito) dirigido pelo francês Oliver Daham. Together through Life trará dez temas autorais. Além de Life Is Hard, outras seis prováveis faixas do álbum são Forgetful Heart, It's All Good, I Feel a Changin' Coming on, My Wife's Hometown, Beyond Here Lies Nothin'e Shake Shake Mama.

Gui Boratto põe novas cores no painel eletrônico

Resenha de CD
Título: Take my
Breath Away
Artista: Gui Boratto
Gravadora: ST2
Cotação: * * * *

Os fãs de música eletrônica nacional logo celebraram Gui Boratto em 2007 quando, ao lançar seu primeiro álbum, Chromophobia, o DJ e produtor adicionou cores vivas ao repetitivo painel do gênero. Criatividade confirmada no segundo álbum de Boratto, Take my Breath Away. Sem a preocupação de fazer música para pista, o DJ cria texturas e beats elaborados que não desvalorizam as melodias em favor do ritmo. Colors, um dos destaques do repertório autoral, é calma e melódica. A faixa-título mira as pistas, mas sem a habitual trivial pulsação frenética observada em muitos discos do estilo. Contudo, o baixo ouvido na maioria das onze faixas de Take my Breath Away é pulsante. Entre a house, o minimal e o deep techno (tipo de som mais viajante), Boratto explora bem o uso de sintetizadores neste CD basicamente instrumental. A única faixa com vocais - no caso, feitos Luciana Villanova, mulher do DJ - é No Turning Back, que desponta como um provável hit do disco, seguindo a trilha aberta por A Beautiful Lie em Chromophobia.

Primeiro solo de Doherty é comportado e limpo

Resenha de CD
Título: Grace / Wastelands
Artista: Pete Doherty
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * * 1/2

Difícil reconhecer no som bem comportado do primeiro disco solo de Pete Doherty - lançado nesta segunda-feira, 16 de março de 2009 - o artista de vida atribulada que ganhou projeção na extinta dupla The Libertines. Sem desativar sua atual banda, Babyshambles, Doherty engata promissora discografia individual com Grace/Wastelands, álbum de som limpo cujo repertório é pontuado por baladas como Arcadie e I Am the Rain. Até sua voz soa menos suja e com emissão mais convencional. O que chega a ser uma qualidade que valoriza a interpretação de músicas como Salome e Last of the English Roses. Graham Coxon (do Blur) toca guitarra em várias faixas sem que sua onipresença altere o clima do CD. Em repertório de beats desacelerados, 1939 Returning se impõe por seu tom politizado. A faixa versa sobre soldados que voltam da guerra e é introduzida pelo som cheio de chiados de alguma transmissão da era inicial do rádio. Também em sintonia com o passado, Sweet by and by se conecta ao clima de um cabaré dos anos 30. Enfim, Doherty surpreende ao esboçar em disco uma maturidade musical e uma calma impensáveis diante de seu perfil.

Bloc Party vai lançar disco de remixes em maio

Terceiro álbum do grupo britânico Bloc Party, Intimacy (2008) vai gerar CD de remixes, Intimacy Remixed, cujo lançamento está agendado para 11 de maio de 2009. O primeiro single vai ser lançado em 27 de abril. Trata-se do remix da faixa Signs pelo DJ e produtor (norte-americano) Armand Van Helden. Eis as faixas do CD e respectivos responsáveis pelas novas versões do repertório:

1. Ares (Villains)
2. Mercury (Hervé Is in Disarray)
3. Halo (We Have Band Dub)
4. Biko (Mogwai)
5. Trojan Horse (John B)
6. Signs (Armand Van Helden)
7. One Month Off (Filthy Dukes)
8. Zephyrus (Phase One)
9. Talons (Phones RIP)
10. Better than Heaven (No Age)
11. Ion Square (Banjo or Freakout)
12. Letter to my Son (Gold Panda)
13. Your Visits Are Getting Shorter (Double D)

Kate Nash grava 'demos' para o segundo álbum

Uma das revelações da cena musical britânica de 2007 por conta do CD Made of Bricks, Kate Nash já burila o repertório autoral de seu segundo álbum. A cantora já gravou demos de cerca de 15 músicas inéditas. Froggy e I Hate Seagulls são dois títulos da nova safra autoral da artista, que retorna ao estúdio em abril para dar continuidade ao preparo do disco, que vai sair até o final de 2009.

15 de março de 2009

Vallen arma 'circo de emoções' ao gravar DVD

Resenha de Show - Gravação de DVD
Título: Ricky Vallen
Artista: Ricky Vallen (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Canecão (RJ)
Data: 14 de março de 2009
Cotação: * *

Na música Palavra e Som, escolhida por Ricky Vallen para abrir o show que apresentou no Canecão (RJ) na noite de sábado, 14 de março de 2009, o ofício de cantor é celebrado com versos que comparam o palco a um picadeiro e falam em "circo de emoções". Em sintonia com a letra, Vallen armou seu circo de emoções em espetáculo hi-tech idealizado para ser gravado ao vivo e gerar CD e DVD (o primeiro do artista) a serem lançados ainda no primeiro semestre de 2009 pela gravadora Sony Music. Ao fim do show, ele já estava no meio do público, em cima de uma das mesas do Canecão, cantando os versos iniciais de Maria Maria (Milton Nascimento e Fernando Brant) logo após ter circulado esfuziante pela platéia ao reviver o samba-reggae Ilê Pérola Negra, sucesso de Daniela Mercury que Vallen costurou com Milagres do Povo (Caetano Veloso) em link afro-baiano. Detalhe: a rigor, tal momento nem seria usado na gravação. Por conta de problemas técnicos com os telões de última geração instalados ao centro e nas laterais do palco, o show começou com mais de uma hora de atraso e seria todo repetido (ao fim) - para ser gravado sem erros.

Intérprete over por natureza, mas dotado de grandes recursos vocais, Ricky Vallen reiterou seu estilo de interpretação exacerbado ao desfiar roteiro de ecletismo excessivo como seu gestual dramático. Já no segundo número, Disparada, em que o cantor ralentou de início o ritmo do sucesso de Jair Rodrigues, Vallen já estava com lágrimas nos olhos. O palco do Canecão - estendido com uma passarela - era o seu picadeiro. E lá o ex-calouro do programa do apresentador de TV Raul Gil reinou, triufante e sempre exagerado, ao reviver sucessos como Espumas ao Vento, Avesso (o caudaloso tema de Jorge Vercilo que teve sua conotação gay realçada por Vallen) e Linda Demais (uma música homônima do hit do Roupa Nova, aliás ponto fraco do repertório).

"Pode aplaudir que eu gosto", pediu o astro após enfatizar em discurso que tinha chegado até ali - à gravação de seu DVD no palco do Canecão - sem "cooperar com a canalhice de ninguém". O público, dado a emoções baratas, aplaudiu mesmo. Seguiram-se dueto com a cantora Shirley Carvalho em Miss Celie's Blues - com direito a notas alongadas nos improvisos finais - e abordagem de Tango pra Tereza cheio de pausas dramáticas que alterou a divisão e diluiu a pulsação do sucesso de Ângela Maria nos anos 70. Inclusive pelo timbre heavy da guitarra que pontuou o arranjo. Bem ao estilo de Vallen, o número foi encerrado com passos de dança ao lado de bailarina que já evoluía sozinha ao fundo do palco desde o começo da música. Fãs entraram na dança.

Linear em seus exageros vocais e gestuais, Vallen levou seu show circense adiante com Essa Dona, versão de Cláudio Rabello para o hit italiano Senza Donna. Mas eis que, no número seguinte, Esperando Aviões (Vander Lee), o circo hi-tech desarmou. Os dois telões laterais não funcionaram desde o começo, mas o maior - posicionado ao centro, ao fundo do palco - falhou e deixou de exibir as imagens. Vallen também desarmou. " me sentindo vazio. dificultando meu show", diria ele, irritado, instantes depois, ao reclamar que não ouvia seu público. Dali em diante, o telão central funcionou e voltou a falhar minutos depois - cena que se repetiu ao longo da noite. Foi quando Vallen anunciou que daria continuidade ao show mesmo com as falhas e, em seguida, repetiria o espetáculo para fazer valer a confusa gravação ao vivo.

Após cantar Pra ser Amor, o artista - então menos tenso com sua decisão - cantou a capella, de improviso, baladas gravadas por cantoras como Mariah Carey (Hero) e Whitney Houston (One Moment in Time) antes de gastar seu italiano com uma música que ouvia quando era "bem pequenininho". A música era Io Che Amo Solo a Te, alvo de momento supostamente mais intimista. O sucesso do cantor Sérgio Endrigo ganhou registro pontuado por acordeom e violino, com Vallen sentado em banco posicionado à frente da passarela. Foi de fato um número mais íntimo se comparado com o registro exibicionista de Unforgettable, em que Vallen alternou tons masculinos e femininos para simular o dueto virtual feito por Natalie Cole em 1991 com seu pai, Nat King Cole (1919 - 1965). Seguiram-se um número em espanhol (Mi Corazón te Reclama), a inédita Se Você Escutar (típica do cancioneiro brega) e tema de Simone Saback (Vida), autora de hit de Fábio Jr.

Vallen poderia se tornar excelente cantor se podasse excessos. Contudo, ele parece querer exibir a todo instante seu arsenal vocal. E o resultado é que até uma canção calma como Paciência (Lenine) passa muito do ponto na sua interpretação. Por conta dessa dramaticidade over, Vallen acaba soando mais à vontade em músicas como Vidro Fumê, seu hit brega turbinado com trio de metais, requebros sensuais e o coro forte do público. É pena, pois, no caso de Ricky Vallen, menos poderia significar bem mais.

Repertório e arranjos valorizam canto de Lúcia

Resenha de CD
Título: Pintando
e Bordando
Artista: Lúcia Menezes
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * *

Lúcia Menezes é cantora do Ceará que não prima por um brilho especial na voz aguda. No entanto, em seu segundo belo CD, Pintando e Bordando, o canto da intérprete cresce e aparece por conta do repertório de excelente nível e dos arranjos de Cristóvão Bastos e João Lyra, orquestrados pela produção de José Milton. Já pela capa é perceptível o maior cuidado deste disco em relação ao anterior, Lúcia Menezes (Kuarup, 2007). Aberto com inédito tema de João Lyra e Paulo César Pinheiro, Presente de Yemanjá, de ritmo indígena, o álbum mantém o pique ao longo de suas 14 faixas. Inclusive pelo apuro das regravações, quase todas nada óbvias. Entre bom samba do esquecido Mário Travassos (Palavra Doce, pontuado pelo clarinete de Dirceu Leite), frevo-canção (No Cordão da Saideira, de Edu Lobo) e baião de tom forrozeiro (Menino de Roça), Lúcia Menezes explora suas possibilidades como cantora de samba-choro (Chazinho com Biscoito, de Vander Lee), tira do baú jóia rara de Noel Rosa (1910 - 1937) - Estátua da Liberdade, fox feito com Jerônimo Cabral e recriado em clima jazzy de cabaré - e revive toada ruralista de Rosinha de Valença (1941 - 2004), Os Grilos São Astros, do recém-lançado álbum Cheiro de Mato (1976). Embora reverencie o reinado de Luiz Gonzaga (1913 - 1989) na afiada regravação do xote Mangaratiba e celebre seu Ceará em Terral (pérola do conterrâneo Ednardo em releitura de grande força), Lúcia Menezes atravessa as fronteiras nordestinas em Pintando e Bordando - seja regravando sem um toque especial o Samba do Grande Amor (Chico Buarque), se embranhando no sertão mais caipira evocado por Viola Cantadora (Marcelo Tupinambá) ou revivendo com destreza um samba buliçoso (Uva de Caminhão) lançado por Carmen Miranda (1909 - 1955) nos anos 30. Quando o álbum termina (bem), com Os Profissionais (tema do conterrâneo Belchior turbinado com a gaita de acento country-rock tocada por Milton Guedes), deixa a certeza de que a voz de Lúcia Menezes nunca foi tão bem tratada como neste surpreendente ótimo disco.

Paula vai tentar alçar vôo com 'Pássaro de Fogo'

Cantora mineira cuja voz já ganhou projeção nacional através de gravações incluídas nas trilhas sonoras de novelas exibidas pela Rede Globo (caso de Dust in the Wind, propagada em 2006 em Páginas da Vida), Paula Fernandes tenta alçar vôo mais alto no mercado fonográfico com o lançamento de seu quinto álbum, Pássaro de Fogo. Produzido por Marcus Viana, o CD tem 15 faixas e chega às lojas esta semana pela gravadora Universal Music no embalo da estréia da novela Paraíso, que vai difundir a partir de segunda-feira, 16 de março de 2009, a toada Jeito de Mato, na qual Almir Sater toca viola e faz vocais. A cantora (em foto de Guto Costa) dá sua versão para Meu Eu em Você, tema autoral que forneceu para a dupla Victor & Leo, e entoa similares músicas sentimentais como Quero Sim e Vai. Já faixas como Debaixo do Cacho e Espaço Sideral - gravada com a dupla César Menotti & Fabiano - miram os bailões sertanejos e arrasta-pés que animam o vasto interior do Brasil. Paula Fernandes tem 25 anos e - além de cantora e compositora - toca violão (presente neste quinto disco).

Tudo de Tavito exala a nostalgia de tempos idos

Resenha de CD
Título: Tudo
Artista: Tavito
Gravadora: Tratore
Cotação: * * 1/2

Parceiro de Zé Rodrix em Casa de Campo, a canção de 1971 que expressou na bela letra a ideologia de paz & amor da geração hippie, Luís Otávio de Melo Carvalho - o Tavito, integrante do grupo Som Imaginário - foi um garoto que amou os Beatles nas esquinas mineiras de Belo Horizonte (MG), cidade onde nasceu e morou até migrar para o Rio de Janeiro (RJ) em 1968. Essa descoberta do pop e da juventude marcou para sempre sua obra. Sua obra-prima Rua Ramalhete, lançada em seu primeiro LP (Tavito, 1979), já exalava a nostalgia de sua modernidade. Não por acaso, a música fecha o quinto álbum do artista, Tudo, numa versão reloaded que está em sintonia com o espírito saudosista dos tempos idos. As duas melhores músicas do irregular repertório - 1969 (O Beijo do Tempo) e O Dia em que Nasceu Nosso Amor - abrem o CD nesse tom nostálgico que pontua o trabalho. Entre saudação às Geraes (Minas de Encanto, com intervenção vocal da cantora Clarisse Grova) e regravação de Hoje Ainda É Dia de Rock (tema de Zé Rodrix lançado pelo trio Sá, Rodrix & Guarabyra), Tudo reergue a ponte pop que sempre ligou Liverpool a Belo Horizonte. Contudo, Uma Banda em Sampa celebra São Paulo com sonoridade que remete à pueril Jovem Guarda. Há algum lampejo de inspiração melódica em canções como Aquele Beijo e, embora nem tudo soe à altura da produção áurea do artista, o CD é bem-vindo por quebrar o silêncio de Tavito, que se desviou do trilho principal do mercado fonográfico em 1984, muito desiludido com o descaso da gravadora então intitulada CBS com a promoção do compacto que lançara naquele ano. Dessa fase, Tavito não tem a menor nostalgia.

Flanders põe 'Máscara' no disco solo de Santos

Vocalista do Vanguart, grupo que lança neste mês de março de 2009 CD e DVD na série Multishow - Registro, Hélio Flanders (à esquerda na foto) gravou participação no segundo disco solo de Rodrigo Santos. Flanders faz dueto com o baixista do Barão Vermelho na faixa O Homem da Máscara de Ferro. Intitulado O Diário do Homem Invisível, o cantor do Vanguart se junta a um time de convidados que inclui Ney Matogrosso (voz em Você Não Entende o que É o Amor) e os grupos Autoramas (na faixa-título), Canastra (Bom Dia, a vinheta de abertura do CD), Cidade Negra (Não Vá), Filhos da Judith (Longe, Perto de Vc) e João Penca e seus Miquinhos Amestrados (na citada vinheta Bom Dia). Já finalizado, o novo disco solo de Santos sai em meados de 2009.