Belo show joga luz sobre angústia do Radiohead
Título: Just a Fest - Radiohead
Artista: Radiohead (em fotos de Marcos Hermes)
Local: Praça da Apoteose (RJ)
Data: 20 de março de 2009
Cotação: * * * * 1/2
Em cartaz na Chácara do Jockey - SP - em 22 de março
"I lost myself", repetiu Thom Yorke, em vocais lancinantes, ao fim da balada Karma Police. A música do álbum mais celebrado do Radiohead, Ok Computer (1997), foi um dos grandes números do primeiro show feito pelo grupo britânico em solo brasileiro. O espetáculo fechou a programação carioca do festival Just a Fest na Praça da Apoteose (RJ), na noite de sexta-feira, 20 de março de 2009, fazendo jus à alta expectativa depositada por se tratar da estréia nacional de uma das bandas mais cultuadas dos anos 90. Guitarras distorcidas, letras angustiadas (valorizadas pelo canto visceral de Yorke) e ruídos eletrônicos se irmanaram em cena sob belíssimos efeitos de iluminação projetados nas faixas metálicas (bem) posicionadas em todo o palco. Números como The National Anthem e The Gloaming foram embelezados por tais efeitos de luz.
A banda entrou em cena às 22h35m. Elétrico, Yorke - que se desdobra nas funções de vocalista, guitarrista e pianista - apresentou a enérgica 15 Step, extraída do repertório do último álbum do Radiohead, In Rainbows, lançado em outubro de 2007. "Boa noite! Nós somos o Radiohead!", apresentaram-se em seguida ao público estimado em 24 mil pessoas. Como se fosse preciso. Descontado o séquito do quarteto carioca Los Hermanos, atração que também levou público próprio para a Apoteose, a maior parte da platéia estava ali para ver pela primeira vez no Brasil um show do grupo que dilui as altas doses de melancolia de seu repertório em energia roqueira. Houve peso em números como There, There - no qual os guitarristas Ed O'Brien e Jonny Greenwood se posicionam à frente do palco para tocar tambores. Com movimentos frenéticos, Yorke elevou a temperatura de músicas como Idioteque, destaque do roteiro. Mas houve também números mais contemplativos: All I Need, Nude (em que saltam aos ouvidos os vocais sofridos de Yorke, hábil ao expressar as tristezas e angústias das letras que escreve), No Surprises e Faust Arp (de clima acústico, bisado em How to Disappear Completely).
O som do Radiohead não é exatamente moldado para as massas que preferem um pop rock mais digestivo. O grupo vem trilhando caminhos experimentais em álbuns recentes como Kid A (2000) e Amnesiac (2001). Por essa trilha também seguiram várias músicas de In Rainbows, como House of Cards e Weird Fishes / Arpeggi, responsáveis pela estranheza que eventualmente toma conta dos shows da banda. Não foi diferente na apresentação carioca. Músicas mais enérgicas, caso de Bodysnatchers, e antigas - vindas de álbuns mais puramente roqueiros como The Bends (1995) - foram recebidas de forma bem mais calorosa pela platéia. Contudo, o show transcorreu uniforme, com pegada, do início ao fim. Uma festa para os olhos e ouvidos! No primeiro bis, a balada Videotape (com Yorke ao piano), Everything in Its Right Place (com Yorke, sofrido, também ao piano) e Paranoid Android (numa alternância de climas proporcionada pelo grande arranjo) ratificaram o êxito do show, cujo segundo bis incluiu You and Whose Army? (apresentada com intensidade crescente), Reckoner (número que evidenciou o alcance dos falsetes de Yorke) e Creep, um dos grandes hits de uma banda que soube cumprir toda a alta expectativa depositada em seu primeiro show no Brasil. Histórico!
4 Comments:
Mauro, estive na Apoteose e, se este show não merece cinco estrelas, fico me perguntando qual mereceria. O Radiohead tocou sua carreira inteira, sem privilegiar épocas - exceto a atenção óbvia ao disco mais recente. Gosto das coisas mais experimentais deles, mas o nível musical de tudo é tão alto que até as canções palatáveis soam superelaboradas. A propósito, 'Bodysnatchers' é do 'In rainbows', e não do 'The bends'. Abs
Obrigado, Gustavo, pela observação atenta. Já reconstruí a frase da maneira como imaginara, mas não escrevi. Quanto à falta da meia estrela, é por conta de alguns poucos números como House of Cards que jogaram o show para baixo. Fato que você, como admirador da banda, talvez não tenha percebido. Mas acho que o texto é suficientemente elogioso para traduzir tudo de bom que vimos na Apoteose. Abraços, grato pela correção.
Gustavo, concordo com o Mauro. Pelo seu comentário, você é fã que ficou no gargarejo, babando durante o show. Nada contra, eu nem vi o show para dizer se merece ou não merece as 5 estrelas, só acho que você tá querendo que o Mauro cote o show pelo seu ponto de vista de fã.
Não acho que o Mauro Ferreira tem a obrigação de dar 5 estrelas para o show do Radiohead... mas eu, como fã preguiçosa que parei de ouvir radiohead no Hail to the thief, embora um pouco perdida em meio a tantas canções do In Rainbows, e sedenta por um repertório do The Bends e Ok Computer, dou 5 estrelas para o show. Não tenho muita experiência em shows internacionais, visto que morei a minha vida inteira no sul do país, onde não é tão comum a presença de grandes concertos. Mas este show, este show.. eu nunca estive em um show com tamanha perfeição na execução. Então, para mim, o show foi muito mais que 5 estrelas.
Abraços!
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