Resenha de caixa de CDsTítulo: Salve, Jorge!Artista: Jorge Ben JorGravadora: Universal MusicCotação: * * * * *Uma das pedras fundamentais da MPB, a obra de Jorge Ben Jor nunca teve precedentes - assim como o cancioneiro de Dorival Caymmi (1914 - 2008), para citar outro exemplo de compositor que abriu um escaninho na música brasileira. Por isso mesmo, a recém-lançada caixa Salve, Jorge! - que embala os 13 álbuns gravados por Ben para a Philips do Brasil entre 1963 e 1976 e compila 28 fonogramas raros e/ou inéditos em CD duplo adicional - é item de valor inestimável, ainda que a qualidade dos discos em si possa oscilar. Mesmo porque boa parte destes 13 títulos tinha sido lançada somente uma vez em CD - em 1993, na econômica Série Colecionador - e já estava fora de catálogo no Brasil há mais de dez anos. Mesmo os que volta e meia estiveram nas prateleiras ganham reedições cuidadosas, com remasterização de alto nível (feita por Luigi Hoffer) e a devida restauração da arte gráfica do LP original. É o caso do seminal Samba Esquema Novo (* * * * *), gravado por Ben em 1963 com o Copa 5, o conjunto que o acompanhava nos shows feitos pelo cantor no Beco das Garrafas. Nesta álbum hoje histórico, o cantor apresentou 12 composições com seu violão percussivo que sintetizava a levada do samba com uma batida diferente que tinha algo do rock, algo de maracatu e - claro - algo da bossa então nova. Duas foram clássicos imediatos: Mas que Nada (trampolim em 1966 para o estouro de Sérgio Mendes nos Estados Unidos) e Por Causa de Você, Menina. Outras ganharam status com o tempo, casos de Balança Pema (regravada por Marisa Monte em 1994) e de Rosa, Menina Rosa (revivida por Céu neste ano de 2009). O êxito de Samba Esquema Novo foi tamanho que os dois álbuns lançados pelo compositor em 1964, Sacudin Ben Samba (* * * 1/2) e Ben É Samba Bom (* * * 1/2), não reeditaram o sucesso inicial do cantor, embora estejam calcados no mesmo violão inovador que sustentou o esquema novo apresentado em 1963. Sem hits, Sacudin Ben Samba lançou temas como Anjo Azul e Capoeira. Já Ben É Samba Bom destacou Bicho do Mato e Descalço no Parque - músicas apresentadas também no CD duplo de raridades em registros ao vivo extraídos do LP É Tempo de Música Popular Brasileira (1964) - além de releitura de Oba-Lá-Lá, tema do repertório de João Gilberto e exemplo de como o som de Ben também estava (bem) impregnado de bossa naqueles anos marcados pelo gênero.
A recepção morna obtida pelos dois discos de 1964 levou o compositor a abrir brechas para o intérprete no álbum de 1965, Big Ben (* * *), título menos inspirado da caixa. Nessa altura, Ben já transitava pela Jovem Guarda em flerte que culminou com Silêncio no Brooklin, incompreendido álbum de 1967 que não figura na caixa por ter sido gravado fora da Philips. A volta de Ben à gravadora e ao sucesso nacional aconteceria somente com Jorge Ben (* * * * *), álbum de 1969 que se tornou um clássico instântaneo da discografia do artista por conter músicas como Cadê Teresa?, País Tropical, Que Pena, Charles Anjo 45 e Bebete Vãobora. Ben começava a aproveitar as liberdades estéticas propostas pela Tropicália. Não por acaso, o maestro Rogério Duprat (1932 - 2006) assinou os arranjos de Barbarella e Descobri que Eu Sou um Anjo. Não por acaso também, o disco marca o encontro de Ben com o Trio Mocotó, ampliado em Força Bruta (* * * *), o álbum de 1970 que, mesmo sem reeditar o êxito estrondoso de seu antecessor, deu forma ao balanço de Ben naquela década que se iniciava. Suingue que incluiria algo do soul na mistura brasileira do orgulhoso Negro É Lindo (* * * *), álbum de 1971, ano em que Elis Regina (1945 - 1982) incorporou uma diva da soul music para sentenciar que Black Is Beautiful. Marchando na direção da corrente que mistura a MPB com o soul, Negro É Lindo foi o último dos três álbuns gravados por Ben com o percussivo Trio Mocotó, mas a ênfase recaiu novamente sobre o violão do compositor alquimista, cuja obra atingiria outro pico de criatividade em Ben (* * * * *), o efervescente álbum de 1972 que projetou Fio Maravilha e Taj Mahal. Na sequência, em 1973, 10 Anos Depois (* * *) - único título da caixa editado sem a capa original por questões jurídicas - deu uma pausa para a revisão da obra suingante, compactada em sete medleys que totalarizam 21 músicas. A obra voltaria a andar para a frente somente em 1974, com o lançamento de A Tábua de Esmeralda (* * * * 1/2), álbum impregnado dos conhecimentos de filosofia e alquimia que Jorge vinha adquirindo. O hit imediato foi a faixa Os Alquimistas Estão Chegando os Alquimistas. Alquimia que fundiu a obra de Ben com a de Gilberto Gil em Gil & Jorge Ogum Xangô (* * * *), o disco de 1975, espécie de jam registrada em estúdio. Ainda em 1975, Solta o Pavão (* * * 1/2) ratificou - com dose menor de inspiração - o interesse de Ben pela alquimia, pela filosofia e pela teologia. Jorge de Capadócia foi o destaque do repertório - a rigor, inferior ao som do disco. Por fim, África Brasil (* * * * 1/2) rendeu hits como Xica da Silva e marcou o início da eletrificação da banda do Zé Pretinho, que continuaria a animar a festa na Som Livre, a gravadora na qual Jorge Ben gravou uma série de discos de pegada mais pop. Alguns até bem interessantes, mas muitos sem a pegada dos discos da fase áurea reunidos nessa caixa essencial. Salve Jorge e sua alquimia!!!!