25 de outubro de 2008

Tim: Ao fim do show, a redenção do duo MGMT

Resenha de Show / Tim Festival 2008
Título: Oracular Spetacular
Artista: MGMT
Foto: Domingos Guimarães / Site Tim Festival 2008
Local: Marina da Glória (RJ)
Data: 25 de outubro de 2008
Cotação: * * * 1/2

Quem chegasse ao fim do show do duo MGMT na edição carioca do Tim Festival 2008 e presenciasse os apoteóticos registros ao vivo das músicas Time to Pretend e Kids, clássicos instântaneos do álbum Oracular Spectacular, poderia supor com toda razão que a apresentação da dupla foi tão arrasadora quanto seu disco - o melhor CD estrangeiro do ano (até o momento...). Contudo, tal suposição estaria errada. Apesar de seu redentor bloco final, a apresentação de Andrew VanWyngarden e Ben Goldwasser - os dois universitários que fundaram em 2002 o The Management (MGMT, na grafia simplificada proposta pelo próprio duo) - não cumpriu toda a alta expectativa. Sobretudo por conta dos graves problemas de som que derrubaram o espetáculo no início. Nos primeiros números, quase não se podia ouvir direito o saboroso coquetel de indie rock temperado com doses de eletrônica e psicodelia. Foi difícil viajar no clima psicodélico criado em torno de números como 4th Dimension Transition e Pieces of What. Contudo, aos poucos, contornados os problemas de som, a dupla foi azeitando o show, apresentando novidades como Metanoia e conquistando a platéia com sua música hedonista cheia de energia juvenil. The Youth, a propósito, não soou no palco tão irresistível como no disco, mas foi destaque no roteiro curto de um show que deixou a sensação de que poderia ser melhor, pois o CD é glorioso.

Tim: West manda clichês do rap para o espaço

Resenha de Show - Tim Festival 2008
Título: Glow in the Dark
Artista: Kanye West
Foto: Domingos Guimarães / Site Tim Festival 2008
Local: Marina da Glória (RJ)
Data: 24 de outubro de 2008
Cotação: * * * *

Coerente com as ousadias estilísticas de seus três álbuns, The College Dropout (2004), Late Registration (2005) e The Graduation (2007), Kayne West manda todos os clichês do hip hop para o espaço em seu pirotécnico espetáculo Glow in the Dark, uma das atrações mais esperadas da edição de 2008 do Tim Festival. Em show conceitual, o rapper traça em cena o roteiro de uma viagem intergaláctica que, longe de soar distante, logo faz o público embarcar ao som de hits como Good Morning, destaque da parte inicial do show. Entre o começo (com West deitado num palco cheio de declives, como se estivesse perdido em planeta distante) e o fim (com bis em que músicas como Touch the Sky e, sobretudo, American Boy fazem o público jovem sair do chão), a jornada da estrela do hip hop, que esconde a banda atrás do palco para dar a impressão de estar sozinho em cena, se revela sedutora e desafia as leis do rap. Ainda que sua pirotecnica não seja tão especial assim para quem já viu, somente para citar um exemplo, um show dos Rolling Stones. Ou de Madonna... Ou do Pink Floyd...

O conceito de Glow in the Dark desenvolve as idéias do álbum The Graduation, cuja arte gráfica é calcada em desenhos que destacam uma nave espacial. É, de certa forma, uma ópera-rap de apelo pop. Entre diálogos robóticos e temas como Heard' Em Say e Diamonds from Sierra Leone, ambos do CD anterior Late Registration, o clímax da odisséia no espaço é quando um monstro - de contornos indefinidos que tanto podem ser de um dinossauro como de um dragão... - entra em cena para (literalmente) engolir West que, ao ser cuspido de volta ao planeta, arremessa hits como Can't Tell me Nothing e Jesus Walks. O ápice, musical, vem com Stronger, um petardo certeiro em qualquer pista por incorporar sons da dupla eletrônica Daft Punk.

Goste-se ou não de Kanye West, o rapper tem a seu favor a feliz disposição de subverter a fórmula batida do rap. Na contramão dos colegas que deitam falação com versos que vulgarizam a mulher e exaltam a criminalidade, West procura seguir caminhos mais positivos que o levaram a essa tecnológica viagem ao espaço.

Bonadio inclui Titãs em seu arsenal de pop rock

O grupo Titãs é a mais nova munição de Rick Bonadio. O produtor - responsável pelo lançamento de bandas de sucesso comercial na atual cena pop brasileira, caso do NX Zero - anunciou esta semana a contratação dos Titãs por sua gravadora Arsenal Music. Bonadio vai pilotar o álbum de inéditas que o quinteto vai lançar em março de 2009. Na foto, o grupo paulista brinda a assinatura do contrato com o produtor (de camisa branca), que sempre quis fazer um CD dos Titãs. O primeiro single do disco já vai ser editado em janeiro.

Edu Lobo gira no cordão da cantora Anna Luisa

A foto acima registra o encontro de Edu Lobo com Anna Luisa no estúdio em que a cantora gravou seu terceiro CD, Girando, nas lojas este mês com distribuição da major Universal Music. Lobo participa da releitura de seu frevo No Cordão da Saideira (1968), escolhido por Anna para fechar o álbum. Entre parcerias inéditas com Edu Krieger (Seu Moço) e Emerson Mardhine (Folguedo), a cantora dá um giro pelos repertórios de Erasmo Carlos (Cachaça Mecânica), Novos Baianos (Os Pingo da Chuva) e Gilberto Gil (Parabolicamará). Rodrigo Vidal é o produtor do disco Girando.

24 de outubro de 2008

Disco de Ouro de Sá é sinal de vida no mercado

Anunciado oficialmente esta semana, o Disco de Ouro conquistado por Roberta Sá (em foto de Paulo Vainer) pelas 50 mil cópias vendidas de seu segundo álbum - Que Belo Estranho Dia para se Ter Alegria, lançado em agosto de 2007 - representa sinal de vida e inteligência no mercado fonográfico. Se o CD chegou a essa marca rara em tempos de vendas decadentes, é porque (ainda) há consumidores dispostos a comprar um disco idealizado em total desacordo com as batidas fórmulas da indústria e com as receitas radiofônicas. Roberta Sá está ficando cada vez mais popular, mas sua música, embora acessível, não acena para as massas. É fato que a distribuição eficiente da gravadora Universal Music - parceira do selo MP,B na edição do disco - contribuiu para o êxito comercial do CD da cantora. É fato também que os elogios fartos, entusiasmados e unânimes da crítica ajudaram a despertar a atenção de muita gente para seu trabalho e souberam posicionar corretamente a artista no mercado fonográfico. Contudo, o grande mérito é mesmo de Roberta, que arregaçou as mangas e montou um show bem produzido que tem percorrido o Brasil e ajudando a popularizar a figura e a música da cantora fora do eixo Rio-São Paulo. Até porque, se elogio de crítico influísse decisivamente nas vendas de CDs, Guinga seria um campeão do mercado. Roberta Sá ganhou um Disco de Ouro porque seu segundo álbum é estupendo, mas também porque a cantora jamais ficou dormindo sobre os louros dos incensos da crítica e foi à luta sem pedir licença neste mercado segmentado. Ela confiou na força de seu repertório e de seu CD. O Disco de Ouro conferido pela Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) a Roberta Sá é a prova de, contra todos os prognósticos pessimistas, o mercado ainda está vivo e até eventualmente receptivo para quem ousa desafiar as suas leis.

Segundo de Lily Allen sai em fevereiro de 2009

O segundo trabalho de Lily Allen - It's Not me, It's You - já está em fase de masterização e tem lançamento agendado pela EMI Music para fevereiro de 2009. O primeiro single - The Fear - vai ser editado no fim de janeiro. De acordo com o anúncio oficial da gravadora, as letras das novas músicas da compositora inglesa vão seguir o estilo adotado pela artista no seu álbum de estréia, Alright, Still, editado em 2006. It's Not me, It's You foi formatado por Allen em parceria com o produtor Greg Kurstin. Recentemente, a cantora andou liberando algumas músicas na internet - entre elas, I Could Say e GWB (Fuck You Very Much), tema em que ataca de forma explícita o atual presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. As duas estão entre as 12 faixas do CD. Eis as músicas de It's Not me, It's You:
1. Everyone's at It
2. The Fear
3. Not Fair
4. 22
5. I Could Say
6. Back to the Start
7. Never Gonna Happen
8. Fuck You
9. Who'd Have Known
10. Chinese
11. Him
12. He Wasn't There

CD infantil de Ivete prejudica educação musical

Resenha de CD
Título: A Casa Amarela
Artista: Veveta e Saulinho
(Ivete Sangalo e Saulo Fernandes)
Gravadora: Caco Discos / Universal Music
Cotação: *

De carisma comprovado junto ao público, inclusive o infantil, Ivete Sangalo resolveu seguir os passos de Adriana Calcanhotto, abriu um universo paralelo em sua carreira fonográfica e gravou um disco para os baixinhos, dividido com o péssimo cantor Saulo Fernandes. Já nas lojas, o CD A Casa Amarela - assinado pelos artistas com seus apelidos entre os amigos, Veveta e Saulinho - é um atentado contra a educação musical infantil. Sob o pretexto de evocar a inocência das crianças, Veveta e Saulinho compuseram músicas sofríveis pautadas por melodias primárias e letras sem qualquer traço de poesia. Os artistas deveriam ter feito a lição de casa e escutado Adriana Partimpim - o projeto infantil lançado por Calcanhotto em 2004 - para aprender como se idealiza disco para crianças com inteligência, criatividade e com discernimento.

A Casa Amarela apresenta 11 músicas inéditas em 31 minutos. Nada se salva na primeira parte do álbum - ainda que os arranjos valorizem os temas. Seja por conta do pulsantes metais que tentam injetar ânimo em Bicho, seja pelo clima onírico que envolve a gravação de Fantasia. Na segunda parte do disco, o resultado é (um pouco) menos constrangedor. Com muito boa vontade, dá para embarcar na levada de reggae de É Bom Viajar e exaltar a delicadeza do acalanto Sono, entoado pela amiga Xuxa. Contudo, a única faixa que ainda consegue ter alguma graça é o Funk do Xixi. O arranjo simula a base de um bailinho da pesada sobre a qual Ivete discorre sobre a arte de urinar na cama. Contudo, é recomendável que os pais impeçam seus filhos de entrar na Casa Amarela, uma vez que são grandes as chances de as crianças saírem de lá com a educação musical comprometida...

Xuxa dá 'lição' para baixinhos em idade escolar

Lançado sem o alarde feito em torno da edição do CD infantil de Ivete Sangalo, A Casa Amarela, o oitavo volume da série Xuxa Só para Baixinhos - projeto bem-sucedido do ponto de vista comercial - muda seu foco. Em vez de mirar as crianças (bem) pequenas com músicas que remetiam às brincadeiras do tempo dos avós, a apresentadora direciona sua série para o universo escolar infantil. Neste XSPB 8 (produto lançado pela Som Livre nos formatos de CD, DVD e kit de CD + DVD), a apresentadora dá lições através de temas como ABC do Txutxucão, Brincando de Soletrar, Tabuada dos Nove e Um Bom Livro. O rapper Gabriel O Pensador e seu irmão - Tiago Mocotó, voltado para o samba - fazem intervenções em Professor de Música, tema de autoria dos manos. Nos extras, há jogos, galeria de fotos e vinhetas criadas pelo produtor musical de XSPB 8, Ary Sperling. Xuxa dirige o projeto.

23 de outubro de 2008

Como os sonhos, a música de Lô não envelhece

Resenha de CD / DVD
Título: Intimidade
Artista: Lô Borges
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * *

Como bom mineiro, Lô Borges é quieto. A ponto de ele nunca ter tirado partido do fato de, ainda iniciante, ter dividido com Milton Nascimento os créditos do Clube da Esquina, o emblemático álbum duplo de 1972 que deu forma e visibilidade ao movimento mineiro de BH batizado com o mesmo nome do LP. Lô lançou alguns bons discos nos anos 70 - sempre recolhido à sua grande significância - até que sua carreira fonográfica foi se tornando espaçada. Intimidade é seu primeiro DVD e foi gravado na série da Som Livre que já rendeu títulos de Guilherme Arantes e Oswaldo Montenegro. Não se limita a registrar um show íntimo em que Lô revisa sua obra diante de pequena platéia de amigos no Estúdio Acústico, em Belo Horizonte (BH). Através de depoimentos, costurados com os 19 números musicais, o DVD revela (um pouco) da alma do artista e de seu cotidiano guiado pela música, como ressalta Seu Salomão - o patriarca dos Borges, de quem Lô herdou o nome - em frase lapidar ("A vida dele tem um só capítulo: música"). Além de funcionar como (ótima) coletânea de sua obra.

Editado também em CD, o registro intimista do show conta um convidado especial na sua admiração pelos sons da esquina mineira: Samuel Rosa, com quem Lô dividiu o palco numa série de espetáculos feitos no embalo de suas parcerias. O grande sucesso dessa coerente conexão é Dois Rios, refinada canção gravada pelo Skank no álbum Cosmotron (2003) e rebobinada por Samuel em Intimidade ao lado de Lô. O vocalista do Skank canta também Clube da Esquina 2, um dos marcos do cancioneiro pop mineiro dos anos 70. "Lô e a turma dele são os Beatles brasileiros", depõe Samuel com exagero permitido por sua sincera devoção ao Clube da Esquina. São dois rios, mas somente um afluente - os Fab Four - a conectar o Skank à turma capitaneada por Milton e Lô em 1972.

Antes dos Beatles, houve a bossa hoje cinqüentenária e - antes de cantar Sem Não, a bossa que compôs com Caetano Veloso e que gravou num de seus melhores discos, Meu Filme (1996) - Lô enfatiza que a batida diferente de João Gilberto também ecoou nas esquinas de Minas, mexendo com a cabeça e os sons de garotos que, na época, ainda nem sonhavam mudar o mundo. E, como os sonhos, a música de Lô Borges nunca envelhece, emoldurada numa aparente simplicidade que esconde ousadias harmônicas. Basta ver e ouvir no DVD, em seqüência ou de forma aleatória, músicas como O Trem Azul, Feira Moderna, Nuvem Cigana, Um Girassol da Cor do seu Cabelo, Paisagem na Janela e Para Lennon & McCartney, entre outras, para entender a importância do artista na arquitetura do pop brasileiro. Contudo, no caso, é preciso apreciá-las com ouvidos generosos, pois, no quesito afinação, Lô nunca foi um dos sócios mais ilustres do Clube - deficiência que salta aos ouvidos num registro pautado pela informalidade. O que conta em Intimidade é o clima de balanço. É ter a oportunidade de saber - através de depoimento de Márcio Borges, parceiro e irmão mais velho de Lô - que Tudo que Você Podia Ser teve inspiração no calor dos movimentos estudantis que agitaram os anos 60. Ou ainda de ver que, mesmo estruturado no violão, como enfatizado em Equatorial, o cancioneiro de Lô também pode ser eventualmente formatado ao piano - como em Universo Paralelo.

Com antigos ou novos parceiros, casos de Chico Amaral (Segundas Mornas Intenções e Um Dia e Meio) e César Maurício (Tudo em Cores pra Você), a música de Lô Borges continua jovem e, se propagada pela mídia, como aconteceu com a envolvente canção Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor, gravada por Milton Nascimento no álbum Pietá (2002), ainda é capaz de cativar admiradores em qualquer esquina de Minas, do Brasil e do mundo.

Siri dá belo show de percussão e efeitos visuais

Resenha de DVD
Título: Concerto para
Conserto - Siri ao Vivo
Artista: Siri
Gravadora: Sem
indicação
Cotação: * * *

Siri é o nome artístico de Ricardo Mattos, virtuoso percussionista carioca que já tocou com nomes como Sivuca (1930 - 2006) e Roberto Menescal, que já chegou a compará-lo ao bruxo Hermeto Pascoal. A (generosa) associação de Menescal vem do fato de Siri extrair sons de inusitado arsenal percussivo que inclui garrafas, frigideira, bule e até água. Em seu primeiro DVD, Concerto para Conserto, gravado ao vivo em julho de 2005 em shows no Espaço Cultural Sérgio Porto (RJ), o motor e a lataria da carcaça de um fusca de 1969 - disposto ao centro do palco como cenário - ajudam Siri a construir a moldura rítmica de temas como No Tranco e Trombada. Com projeções de vídeos e belos efeitos de luz, o show de Siri de lançamento do primeiro CD solo do percussionista merecia mesmo um registro audiovisual, bem dirigido por Bernardo Palmeiro. Siri não chega a ser um Hermeto, mas é músico criativo cujos sons e ritmos fazem sentido - mesmo quando despidos de seu caráter exótico. É show!!

Kings of Leon limpa som em CD menos roqueiro

Resenha de CD
Título: Only by the Night
Artista: Kings of Leon
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * *

Em 2003, o quarteto Kings of Leon - formado nos EUA por três irmãos e um primo, filhos e sobrinho de um pastor, Leon Followill, cujo nome inspirou o batismo do grupo - causou furor com seu primeiro álbum, Youth and Young Manhood. Mesmo sem bisar o estrondo da estréia, a trajetória fonográfica prosseguiu em forma com Aha Shake Heartbreak (2004) e Because of the Times (2007). Mas nada fazia supor que o quarteto, já comparado até ao The Strokes, adotasse um som mais limpo e mais pop em seu quarto álbum, Only by the Night, lançado em setembro e recém-editado no Brasil pela Sony BMG. O clima ligeiramente sombrio da faixa de abertura, Closer, dá pista falsa sobre o tom do disco. Até porque o Kings of Leon está flertando descaradamente com o pop rock de arena em músicas como Be Somebody e 17. Com direito a hormônios em fúria em Sex on Fire, um dos trunfos deste polido quarto álbum do grupo que nem sempre mantém seu pique inicial.

Zélia colore o segundo tributo ao Álbum Branco

Música composta por Paul McCartney em 1967 para série de TV estrelada pela cantora britânica Cilla Black, Step Inside Love ganha registro de Zélia Duncan no CD duplo As Outras Cores do Álbum Branco, segundo volume da trilogia produzida por Marcelo Fróes (com Zélia na foto tirada em estúdio) em tributo ao disco The Beatles (1968) por conta do 40º aniversário daquele que ficou conhecido como o Álbum Branco. O segundo volume reúne regravações de músicas compostas pelos Beatles no mesmo período, mas que não necessariamente entraram no disco. Step Inside Love, por exemplo, chegou a ser gravada e creditada como sendo de Lennon & McCartney, mas não ficou entre as 30 músicas selecionadas para o Álbum Branco, tendo sido lançada somente em 1996 no projeto Anthology, que coletou raridades do grupo.

Além de Zélia Duncan, As Outras Cores do Álbum Branco reúne nomes como Lobão (Revolution), Paulo Ricardo (Sour Milk Sea), Isabella Taviani (The Inner Light), Branco Mello (What's The New Mary Jane) e Fagner (Across the Universe), entre outros nomes. O CD chega às lojas em novembro pelo selo Discobertas, idealizado por Fróes e distribuído pela gravadora Coqueiro Verde.

22 de outubro de 2008

Na sua, Marina continua 'sissi', estilosa e ótima

Resenha de show
Título: Marina Lima e Trio em Concerto - Som às 7
Artista: Marina Lima
Local: Teatro Sesc Ginástico (RJ)
Data: 21 de outubro de 2008
Cotação: * * * *
Em cartaz até quarta-feira, 22 de outubro de 2008

"Vamos ser um pouco íntimos esta noite...", propôs Marina Lima depois de interromper logo no início a execução de Ainda É Cedo - o rock que a Legião Urbana gravou em 1985 e que a cantora tomou para si já em 1986 - porque sua guitarra estava alta demais. A cena aconteceu na primeira das duas apresentações de um show de transição apresentado por Marina no projeto Som às 7, do Sesc Ginástico. Falante, mas sempre na sua, a intérprete de Charme do Mundo mostrou que, mesmo cinqüentona, continua sissi, estilosa, ótima. Numa palavra, moderna - como gritou uma espectadora enquanto Marina divagava sobre o rótulo de roqueira com o qual foi carimbada na sua explosão, na década de 80. "Tenho atitude de rock, mas adoro música pop, o pop de alta qualidade", relativizou a artista no palco esfumaçado no qual se apresentou com um trio estiloso como ela - formado pelo guitarrista Fernando Vidal, o tecladista Dudu Trentin e o baterista Cristiano Galvão. "Sou roqueira", conceituou momentos depois, ao cantar Difícil com um arranjo pesado que não dava margem à dúvida sobre a afirmação.

Aberto com Três, o pseudo-tango que já mereceu regravações simultâneas de Adriana Calcanhotto e Ana Carolina, o espetáculo Marina Lima e Trio em Concerto não chega a ser um show exatamente novo, mas diverge do anterior Topo Todas por incluir no roteiro músicas inéditas na meia-voz da cantora e pelos arranjos que renovam os velhos sucessos. Nosso Estranho Amor, por exemplo, reaparece com outra divisão e algumas bossas nos teclados de Trentin que dão um suingue todo inusitado ao tema de Caetano Veloso. A propósito, com seu humor irônico, quase mordaz, Marina apresenta Dois Durões - música do álbum Setembro (2001) nunca cantada por ela em shows - como sua "pequena contribuição aos 50 anos da Bossa Nova". Marina não é exatamente uma garota de Ipanema, mas, sim, tem lá sua bossa toda particular e a música cai muito bem no show feito com o trio.

O roteiro, aliás, é salpicado de pequenas bossas. Uma delas é a citação de Família (dos Titãs) inserida em Beija-Flor - axé do grupo baiano Timbalada - para remeter ao fato de Marina ter nascido numa família de nordestinos. Outra é a inclusão da boate carioca Help na estrofe inicial da letra de Vestidinho Vermelho, número cheio de teatralidade herdada do show Primórdios, registrado em DVD ainda inédito. E é com sua bossa bastante personalíssima que a intérprete incursiona por praias alheias. Do extinto grupo carioca Picassos Falsos, ela revive Carne e Osso, música que gravou em 1995 e que canta para valer neste show, sem o artíficio de quase recitar trechos da letra, como faz em À Francesa. Mas seu salto mais perigoso, dado sem rede, é quando apresenta tema do repertório de Billie Holiday (1915 - 1959). "Vou tentar traduzir um pouco do sentimento dela", anunciou Marina antes de cantar You're my Thrill. Não traduziu, mas o número - apresentado num arranjo eletroacústico, em atmosfera bluesy - dá charme a um show que - independentemente de ser novo ou não - reafirma a jovialidade ímpar da música e da figura de Marina Lima.

Roteiro de Marina Lima e Trio em Concerto:
1. Três
2. Nosso Estranho Amor
3. Beija-Flor - com citação de Família
4. Ainda É Cedo
5. Dois Durões
6. Virgem
7. Difícil
8. Carne e Osso
9. You're my Thrill
10. O Chamado
11. Meus Irmãos
12. Vestidinho Vermelho
13. Pierrot
14. À Francesa
15. Fullgás
Bis:
16. Maresia
17. Uma Noite e 1/2

Editora relança biografia 'atualizada' de Cartola

No embalo do centenário de nascimento de Cartola (1908 - 1980), a única biografia do compositor - Cartola, os Tempos Idos - está sendo relançada pela editora Gryphus. O maior trunfo do livro de Marília Trindade Barboza e Arthur de Oliveira Filho reside na pesquisa bem fundamentada que reconstitui não somente os passos de Cartola como também a cíclica evolução do samba entre o morro e o asfalto. Infelizmente, a nova edição - propagada como atualizada já na capa - estaciona em 1998 no que diz respeito à lista que relaciona gravações da obra do compositor, perdendo a chance de registrar, por exemplo, as edições dos discos dedicados ao cancioneiro de Cartola por Ney Matogrosso (em 2002) e Cida Moreira (em 2008), somente para citar dois exemplos. O prefácio é de Ricardo Cravo Albin. A biografia volta ao mercado por R$ 51.

Targino leva forró para o lado de Luiz Gonzaga

Discípulo de Luiz Gonzaga (1913 - 1989), Targino Gondim chega ao DVD com Forró pra Todo Lado, que perpetua show gravado em maio de 2005 no Teatro do Irdeb, em Salvador (BA). O registro ao vivo já foi editado em CD em 2006. O DVD foi lançado juntamente com o CD As Mais Pedidas, em que o sanfoneiro - que também é compositor e é natural de Pernambuco - apresenta (três) músicas inéditas em sua voz, Mais uma Chance, Lágrimas do Vinho e A Noite me Chamou - traz nos extras os clipes de Jeito Maroto e Tá Fingindo que Não Tá. No roteiro do show, há vários sucessos de Luiz Gonzaga (Olha pro Céu, O Xote das Meninas, Numa Sala de Reboco). Aliás, Xangai participa do pot-pourri que une Ovo de Codorna e Capim Novo. No fim, Godim revive seu único grande sucesso fora do eixo nordestino, Esperando na Janela, propagado em escala nacional por Gilberto Gil, em 2000, na trilha sonora do filme Eu, Tu, Eles.

DVD revive Modugno, primeiro popstar italiano

Antes de Pepino di Capri, a Itália exportou um cantor que, em 1958, em pleno reinado do rock'n'roll, fez muito sucesso nos Estados Unidos e em boa parte do mundo por conta de sua música Nel Blu Dipinto Di Blu, (bem) mais conhecida como Volare. Este cantor foi Domenico Modugno (1928 - 1994), que pode ser visto e ouvido em DVD da série Live @ RTSI, que vem sendo (re)editada no Brasil pela Coqueiro Verde Records. O DVD rebobina especial gravado em 7 de janeiro de 1981, para a rede Televisione Svizzera. No programa, Modugno canta 21 músicas. Entre elas, Piove (Ciao Ciao Bambina), Come Hai Fatto, Vecchio Frack e, claro, Volare. Nos extras, há entrevista com o pioneiro popstar mundial da Itália. Lá fora, o especial foi editado em DVD em 2001.

21 de outubro de 2008

O mestre Cartola e seus (irregulares) intérpretes

Resenha de CD
Título: Cartola 100 Anos
O Autor e seus Intérpretes
Artista: Vários
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * *

Com alguns dias de atraso, a Sony BMG está pondo nas lojas coletânea dupla que celebra Cartola (1908 - 1980) por conta de seu centenário de nascimento, festejado em 11 de outubro de 2008. Cartola 100 Anos - O Autor e seus Intérpretes reúne 28 gravações do cancioneiro do mestre. Duas - a que abre o CD 1 (O Inverno do meu Tempo) e a que fecha o CD 2 (Silêncio de um Cipreste) - são ouvidas na voz rústica do próprio compositor, cujo canto carregava expressiva carga de ancestralidade. Cinco fonogramas são inéditos, tendo sido produzidos especialmente para o projeto. O melhor deles é o de Acontece, em que a voz límpida de Rita Ribeiro valoriza o tema, emoldurada pelo violão de Rovilson Pascoal. Márcia Castro realça todas as tensões de Catedral do Inferno - parceria pouco conhecida de Cartola com Hermínio Bello de Carvalho, até então gravada somente por Marlene no disco Te Pego pela Palavra (1974) - em luta contra um arranjo insosso. A propósito, a inadequada atmosfera que aproxima Não Quero Mais Amar a Ninguém do universo esfumaçado do samba-canção também prejudica o dueto de Alaíde Costa com Zé Luiz Mazziotti. Já Eu Sei - uma das últimas músicas de Cartola - se ressente do desajuste entre o (apropriado) tom sóbrio de Célia e o canto entusiasmado de Jair Rodrigues. Por fim, Basta de Clamares Inocência ganha a voz de Fabiana Cozza em interpretação firme, ofuscada pelos excessivos sons de teclado. As cantoras são boas. Já os arranjos...

Dentre os fonogramas antigos, selecionados pelo produtor Thiago Marques Luiz, há muito mais altos do que baixos. Resistem especialmente bem ao tempo os registros de Ney Matogrosso (O Mundo É um Moinho), Gal Costa (Cordas de Aço), Beth Carvalho (Camarim), Clara Nunes (Alvorada no Morro), Chico Buarque (Divina Dama), Elizeth Cardoso (Vem), Clementina de Jesus (Garças Pardas, em gravação de 1966, a mais antiga da seleção) e Paulinho da Viola (Tempos Idos, feito com Toquinho). Em contrapartida, Autonomia perde força na gravação automatizada de Fagner enquanto Labaredas quase se apaga no vocal frio de Joanna. Já As Rosas Não Falam, para muitos a obra-prima entre as obras-primas de Cartola, poderia ter sido ouvida num registro mais interessante do que o feito por Alcione em 1992 num dueto tecnológico com Altemar Dutra (1940 - 1983). Enfim, o autor é um mestre. Mas nem todos os intérpretes e arranjos estão à sua altura nesta, apesar dos pesares, bem-vinda coletânea. Cartola é 10 x 10.

Aos 83 anos, King ainda reina no trono do blues

Resenha de CD
Título: One Kind Favor
Artista: BB King
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * * * 1/2

Aos 83 anos, BB King ainda reina soberano no trono do blues a julgar por este CD One Kind Favor, cujo título foi extraído de verso de See That My Grave Is Kept Clean, tema composto e gravado por Blind Lemon Jefferson (1893 - 1929). A regravação de King abre o disco e sinaliza de cara a leveza do toque da bateria de Jim Keltner, destaque da entrosada banda que agrega também o pianista Dr. John e o baixista Nathan East. Além de cantar, com uma voz ainda em forma para sua idade, King obviamente se junta ao expecional time de músicos com sua fiel guitarra Lucille. A produção de T Bone Burnett buscou climas que evoquem as gravações de blues feitas nos anos 50. Mas o fato é que o blues de King já soa atemporal. Ao revisitar temas como Blues Before Sunrise, de John Lee Hooker (1917 – 2001), o artista mostra vitalidade num álbum que poderia até soar trivial, mas, ao contrário, soa especial dentro da (vasta) discografia do bluesman.

Um bom momento de Lisa Stansfield com Horn

Resenha de CD
Título: The Moment
Artista: Lisa Stansfield
Gravadora: ZTT Records
/ Lab 344 / Som Livre
Cotação: * * * 1/2

Ainda é difícil dissociar Lisa Stansfield de All Around the World, petardo que incendiou as pistas da cena pop dance na virada dos anos 80 para os 90. Mas este The Moment - álbum de 2004 que chega ao Brasil com quatro anos de atraso graças à negociação do selo LAB 344 com a gravadora inglesa ZTT Records - insere bem a cantora na cena contemporânea com azeitado mix de pop, r & b e soul. O responsável pelo bom momento da artista britânica é Trevor Horn, produtor que já pilotou discos de Seal, Macy Gray e Pet Shop Boys. Entre baladas como Easier (bela faixa de abertura) e Say It to me Now (com um arranjo de pulsação crescente), Stansfield revisita com muita propriedade um tema da banda inglesa Prefab Sprout, When Loves Breaks Down (renovada na voz envolvente da intérprete) e mira as pistas de acento mais pop com Treat me Like a Woman, destaque de um repertório que adquire tintas autorais na faixa-título e em He Touches me. Já If I Hadn't Got You tem espírito soul que valoriza a melodia quase banal. Enfim, Lisa Stansfield não gira ao redor do mundo de seu sucesso mais memorável. Em 2004, seu momento era muito bom.

Diogo se sagra tricampeão no samba da Portela

Diogo Nogueira é co-autor - pelo terceiro ano consecutivo - do samba-enredo eleito pela Portela para seu desfile no Carnaval de 2009. O filho de João Nogueira (1941 - 2000) é parceiro de Ciraninho, Jr. Scafura, Luiz Carlos Máximo e Wanderley Monteiro na composição do samba E Por Falar em Amor, Onde Anda Você? - escolhido pela escola azul-e-branco em recente disputa interna para ser o tema apresentado pela agremiação na Avenida Sapucaí.

20 de outubro de 2008

Sai de cena Luiz Carlos da Vila, orgulho da raça

Como a de Candeia (1935 - 1978), a chama de Luiz Carlos da Vila não se apaga nesta segunda-feira, 20 de outubro de 2008, dia de luto no samba por conta da morte de um dos mais inspirados compositores do gênero. Luiz Carlos saiu de cena aos 59 anos, vítima de complicações decorrentes de um câncer no intestino. Mas fica seu nome, que incorporou o da Vila por morar em Vila da Penha, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro (RJ). Embora a Vila pudesse muito bem ser outra, a Vila Isabel. Até porque foi para a escola Unidos de Vila Isabel que, ao lado dos parceiros Jonas e Rodolfo, Luiz Carlos compôs o samba-enredo Kizomba, a Festa da Raça, obra-prima do gênero com o qual a agremiação faturou em 1988 o primeiro de seus dois históricos títulos no Carnaval do Rio.

Luiz Carlos da Vila fez - como poucos compositores fizeram, dentro ou fora do universo do samba - a festa da raça negra. Com justificado orgulho, ele exaltou em muitas músicas a negritude e a mistura de raças que tinge o Brasil com as cores da miscigenação. O samba-enredo Nas Veias do Brasil - gravado por Beth Carvalho em 1986 no álbum Beth - é exemplo dessa pulsante vertente da obra de Luiz Carlos, nascido em Ramos, subúrbio do Rio, em 21 de julho de 1949. Outro bamba da Vila, o Martinho, seria o produtor responsável pela estréia do colega no mercado fonográfico brasileiro, em 1983, com o disco intitulado Luiz Carlos da Vila.

Em seu último disco solo, Um Cantar à Vontade, produzido por Milton Manhães e lançado em 2005 pela Musart Music, Luiz Carlos da Vila deu uma geral na sua obra num registro ao vivo que atesta a alta qualidade poética e melódica de seus sambas. É possível que o grande público nem ligue o nome à obra, mas levam a assinatura de Luiz Carlos da Vila jóias do quilate de Além da Razão (samba composto com Sombra e Sombrinha, lançado por Beth Carvalho, em 1988), Doce Refúgio (composto em tributo ao Cacique de Ramos, o bloco que tanto abrigou Luiz Carlos entre suas tamarindeiras), Por um Dia de Graça (samba-enredo humanista lançado por Simone em 1984) e O Sonho Não Acabou, feito para Candeia com versos que, a partir de hoje, também já podem ser aplicados à Arte de Luiz Carlos da Vila: "O tempo que o samba viver / O sonho não vai acabar / E ninguém irá esquecer... Luiz Carlos Vila, luz de eterno fulgor, hoje em doce eterno refúgio.

Disco de raridades festeja os 80 anos de Ângela

Aos 80 anos, completados em 13 de maio de 2008, Ângela Maria (em foto de Régis Schwertz - Tchê) tem gravações raras reunidas em compilação dupla produzida por Thiago Marques Luiz para a gravadora EMI Music para festejar a data. Além dos 80 anos de vida, a artista - uma das últimas remanescentes da era dourada do rádio brasileiro - festeja também 60 anos de carreira iniciada em 1948, quando conseguiu vaga de crooner no Dancing Avenida, no Rio de Janeiro (RJ). O último álbum da cantora, cuja discografia começa nos anos 50, se chamou Disco de Ouro e foi editado em 2003 pela Lua Music - com produção e arranjos de Keco Brandão. Entre as raridades da coletânea, há gravações de Saveiros (Dori Caymmi e Nelson Motta, 1966) e Atrás da Porta (Francis Hime e Chico Buarque, 1972) feitas pela Sapoti para compactos editados pela gravadora Copacabana em 1967 e em 1973, respectivamente.

Obra de Dominguinhos na voz brejeira de Flávia

A obra de Dominguinhos (em foto de Greg Salibian) ganha abordagem de Flávia Bittencourt. Dona de voz classificada como brejeira, em ascensão no populoso país das cantoras, a intérprete maranhense dedica seu segundo CD ao cancioneiro do autor de Abri a Porta - a propósito, uma das músicas selecionadas para o álbum. Intitulado Todo Domingos, e já em fase de gravação, o disco mescla no repertório vários clássicos do compositor - como Lamento Sertanejo e o xote Eu Só Quero um Xodó - com músicas menos conhecidas, caso de Arrebol e São João Bonito. A boa idéia de gravar um songbook com os temas do sanfoneiro - que vai participar do disco - é coerente com a curta trajetória fonográfica de Flávia Bittencourt. Em seu primeiro CD, Sentidos (Som Livre, 2005), a cantora já contou com a participação de Dominguinhos na faixa Canto de Luz. Todo Domingos vai ser editado em 2009.

Roupa Nova lança quatro inéditas em CD-single

Já caminhando para os 30 anos de carreira, com a popularidade em alta, o grupo Roupa Nova (em foto de André Wanderley) lança quatro músicas inéditas em single graciosamente intitulado 4U, abreviação da expressão em inglês For You. Com preço sugerido de R$ 7,90, o CD vai chegar às lojas ainda neste mês de outubro. Já em rotação em algumas rádios populares, a balada Toma Conta de Mim - parceria do baixista Nando Silva com o tecladista Ricardo Feghali, solada pelo vocalista e baterista Serginho Herval - é a faixa eleita para dar o pontapé inicial na promoção do single. Também de Feghali, Cantar Faz Feliz o Coração traz o tecladista à frente dos vocais e vai ser disponibilizada para download no site oficial do grupo. Já Chamado de Amor - canção de Nando com o tecladista Cleberson Horsth -rebobina o romantismo popular que caracteriza o som do sexteto na voz de Paulinho dos Santos. Por fim, Quero Você - tema do guitarrista Kiko com Feghali - completa o repertório de 4U, que, apesar do pequeno número de músicas, vem a ser o primeiro CD de inéditas do grupo desde 6/1, de 1996.

19 de outubro de 2008

Trilha de 'Querido Amigos' perde força em disco

Resenha de CD
Título: Queridos Amigos
Artista: Vários
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * 1/2

Ao pilotar a adaptação para a TV Globo do livro Aos meus Amigos, da escritora Maria Adelaide Amaral, os diretores Denise Saraceni e Carlos Araújo usaram a música - em especial, a MPB dos anos 70 - para criar a atmosfera emocional adequada ao retrato da geração que tentara mudar o mundo e naquele momento - 1989, ano em que se passava a trama - fazia seu inventário existencial em clima de ressaca emocional. Ao longo dos 29 capítulos da memorável série escrita por Adelaide Amaral, os telespectadores ouviram muitas gravações de Elis Regina (1945 -1982) e de Milton Nascimento, entre outras vozes que, nos anos 60, formataram a MPB dominante na década de 70. Se tivesse preservado no disco as intenções e emoções perceptíveis na TV, a trilha sonora de Queridos Amigos seria item de colecionador. Contudo, o CD editado pela gravadora Som Livre neste mês de outubro de 2008 - com oito meses de atraso! - dilui a força da trilha da série e soa como mera coletânea selecionada pelo diretor musical da Rede Globo, Mariozinho Rocha. A ponto de nem incluir o tema de abertura da série (Nada Será Como Antes, em regravação de Milton Nascimento) na seleção aleatória de 14 músicas. Assim um fonograma tropicalista de Gilberto Gil (Domingo no Parque) se mistura com um hit da Blitz (Você Não Soube me Amar) da mesma forma que um registro da Gal Costa menos engajada dos anos 80 (Meu Bem, Meu Mal) é ouvido ao lado de gravação pop de Rita Lee (Mania de Você), de samba seminal de Djavan (Flor de Lis) e de momento juvenil dos Paralamas do Sucesso (Vital e sua Moto). Sim, há Elis (com O Bêbado e a Equilibrista), Milton (Canção de América, no imbatível registro de 1979 feito com o grupo vocal Boca Livre), Ivan Lins (Somos Todos Iguais Esta Noite). Somente não há o sentido que dava à música papel fundamental na história. Prefira o DVD que condensa a série em quatro discos. Em CD, fora do contexto original, a trilha amiga soa menos querida, ainda que, isoladamente, a maioria das 14 gravações seja emblemática. Pena!

Takai, Elba e Ivan são estrelas do Natal da MZA

Fernanda Takai (em foto de Fabiana Figueiredo) canta O Velhinho na coletânea Estrelas do Natal, (re)posta nas lojas pela MZA Music neste mês de outubro de 2008 com um nome diferente da edição original, É Natal, lançada em 2007. Integrante do cast da gravadora dirigida pelo produtor Marco Mazzola, Zeca Baleiro está no elenco da compilação na faixa Boas Festas. O CD inclui também gravações de Margareth Menezes (Depende de Nós), Elba Ramalho (Ave Maria de Gounod), Alcione (Noite Feliz), Jorge Vercillo (Natal Branco, uma versão de White Christmas, clássico natalino de Irvin Berlin), Ivan Lins (Um Feliz Natal) e Martinho da Vila (Feliz Natal Papai Noel), entre outros nomes - de menor peso.

Nas lojas, a terceira edição do DVD de Sandra...

Cinco anos depois de fazer o primeiro e único registro de show de Sandra de Sá, em outubro de 2003, a Universal Music põe nas lojas o DVD com a versão integral do espetáculo. O DVD Sandra de Sá ao Vivo - Música Preta Brasileira tem histórico conturbado. Na época do registro, um (já superado) desentendimento entre as gravadoras e a editora de músicas EMI Publishing, sobre direitos autorais de fonogramas incluídos em DVD, inviabilizou a edição integral do show em vídeo pelo fato de o repertório trazer muitas músicas de Michael Sullivan e Carlos Colla, compositores ligados à editora da EMI. A saída foi picotar o show para edição, em 2004, na caixa intitulada Soul Brazuca. Mais tarde, quando a pendenga entre gravadoras e a editora da EMI foi resolvida, a Universal Music lançou o DVD nas bancas em parceria com um jornal carioca. Nessa segunda edição, lançada com tiragem inicial de 50 mil cópias, o DVD apresentava 19 dos 20 números do show, tendo excluído somente a música Vale Tudo (Tim Maia). Havia também um making of, suprimido na terceira e atual edição, ora nas lojas com tiragem inicial de duas mil cópias e sem qualquer referência ao canal de TV Multishow, parceiro da Universal Music na gravação do show, feita no Rio de Janeiro (RJ).
A propósito, o primeiro registro ao vivo de Sandra de Sá foi atribulado antes mesmo do problema dos direitos autorais. A idéia comprada pelo canal Multishow foi o projeto Música Preta Brasileira, em que a cantora faria um passeio histórico pelo cancioneiro black nacional. Entretanto, a Universal Music logo desvirtuou tal conceito ao pedir a Sandra que inserisse no roteiro os sucessos mais populares da artista, como Solidão e Retratos e Canções, incondizentes com a idéia inicial, mas justificados pelo fato de se tratar do primeiro disco ao vivo de Sandra de Sá. Contudo, a indefinição do caráter conceitual do projeto fez com que sua repercussão fosse reduzida tanto entre o público black como entre os fãs que curtiam Sandra de Sá por conta de baladas como Bye Bye Tristeza, gravadas quando a artista estava na BMG.
Com todas as atribulações e com toda a irregularidade do repertório, Sandra de Sá ao Vivo - Música Preta Brasileira é um dos grandes momentos da discografia da cantora pelas interpretações arrasadoras de músicas como As Dores do Mundo (Hyldon). A produção de Paul Ralphes embalou hits como Sozinha com arranjos elegantes. E somente o trio formado por Sandra de Sá com Alcione e Luciana Mello para exaltar a negritude em Black Is Beautiful (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle) já vale uma ida à loja para adquirir a terceira edição do espetáculo em DVD. É show!

Antenada, Alcina repõe seu bloco na rua virtual

Com injusto silêncio da mídia automatizada, Maria Alcina repôs seu bloco na rua neste ano de 2008. Em maio, a cantora mineira apresentou seu sexto álbum solo somente em formato digital. Disponibilizado no portal UOL Megastore para download pago, o CD Maria Alcina, Confete e Serpentina foi batizado com o nome da efusiva música feita para a intérprete pelo compositor Adalberto Rabelo Filho. Com repertório que inclui marchinha de Moisés Santana, Espaço Sideral, o disco é permeado pela alegria carnavalesca que fez a fama de Alcina na primeira metade dos anos 70. E que não teve continuidade no mercado fonográfico porque o governo militar que comandava o Brasil à força naquela época - assustado com a postura transgressora e libertária da artista - processou Alcina por comportamento subversivo, acabando com sua alegria e pondo fim ao Carnaval feito pela cantora em dois esfuziantes álbuns, ambos intitulados Maria Alcina e lançados pela extinta gravadora Continental em 1973 e 1974, tendo sido reeditados em 2002 na série Arquivos Warner. De natureza kafkiana, o processo ceifou a carreira de Alcina no auge. Quando ela retornou ao disco, em 1979, lançando o LP Plenitude pela Copacabana, o Brasil já começava a respirar os ares da abertura política, mas a folia de Alcina foi recebida com menos animação por público e mídia, num quase silêncio que em nada lembrava o barulho feito por Alcina em 1972 ao defender Fio Maravilha no VII Festival Internacional da Canção, num lance certeiro que pôs o tema de Jorge Ben na cara do gol no último FIC.
Maria Alcina, Confete e Serpentina é disco coerente com a trajetória da intérprete de voz grave, ainda em forma. Contudo, Alcina evita que seu bloco desfile em marcha à ré. Antenada, a cantora convidou Maurício Bussab - integrante do Bojo, o grupo eletrônico com quem gravou o CD Agora em 2003 - para produzir o álbum e inserir grooves atuais. Já o repertório concilia músicas de compositores da cena contemporânea, como Wado (autor de Não Pára) e Alzira E (Colapso, parceria com Arruda), com sucessos de outros Carnavais. É o caso de Cachorro Vira-Lata, samba de Alberto Ribeiro (1902 - 1971), gravado por Carmen Miranda (1909 - 1955) em 1937. Herdeira das liberdades tropicalistas, Alcina, a propósito, sempre foi associada à Pequena Notável tanto pelo visual espalhafatoso como pelo repertório, salpicado de marchas e sambas propagados por Carmen. A marchinha Alô, Alô - de André Filho (1906 - 1974) - é um bom exemplo, tendo impulsionado o sucesso do primeiro LP de Alcina, em 1973, em releitura esfuziante, cheia de confetes e serpentinas.
Enfim, Maria Alcina quer botar seu bloco na rua - como avisa no refrão (turbinado com grooves eletrônicos) da marcha de Sérgio Sampaio (1947 - 1994) Eu Quero É Botar meu Bloco na Rua, sucesso de 1972 que a cantora regrava com muita propriedade em um CD corajoso, em que avisa que nem todo Carnaval tem seu fim.