21 de outubro de 2008

O mestre Cartola e seus (irregulares) intérpretes

Resenha de CD
Título: Cartola 100 Anos
O Autor e seus Intérpretes
Artista: Vários
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * *

Com alguns dias de atraso, a Sony BMG está pondo nas lojas coletânea dupla que celebra Cartola (1908 - 1980) por conta de seu centenário de nascimento, festejado em 11 de outubro de 2008. Cartola 100 Anos - O Autor e seus Intérpretes reúne 28 gravações do cancioneiro do mestre. Duas - a que abre o CD 1 (O Inverno do meu Tempo) e a que fecha o CD 2 (Silêncio de um Cipreste) - são ouvidas na voz rústica do próprio compositor, cujo canto carregava expressiva carga de ancestralidade. Cinco fonogramas são inéditos, tendo sido produzidos especialmente para o projeto. O melhor deles é o de Acontece, em que a voz límpida de Rita Ribeiro valoriza o tema, emoldurada pelo violão de Rovilson Pascoal. Márcia Castro realça todas as tensões de Catedral do Inferno - parceria pouco conhecida de Cartola com Hermínio Bello de Carvalho, até então gravada somente por Marlene no disco Te Pego pela Palavra (1974) - em luta contra um arranjo insosso. A propósito, a inadequada atmosfera que aproxima Não Quero Mais Amar a Ninguém do universo esfumaçado do samba-canção também prejudica o dueto de Alaíde Costa com Zé Luiz Mazziotti. Já Eu Sei - uma das últimas músicas de Cartola - se ressente do desajuste entre o (apropriado) tom sóbrio de Célia e o canto entusiasmado de Jair Rodrigues. Por fim, Basta de Clamares Inocência ganha a voz de Fabiana Cozza em interpretação firme, ofuscada pelos excessivos sons de teclado. As cantoras são boas. Já os arranjos...

Dentre os fonogramas antigos, selecionados pelo produtor Thiago Marques Luiz, há muito mais altos do que baixos. Resistem especialmente bem ao tempo os registros de Ney Matogrosso (O Mundo É um Moinho), Gal Costa (Cordas de Aço), Beth Carvalho (Camarim), Clara Nunes (Alvorada no Morro), Chico Buarque (Divina Dama), Elizeth Cardoso (Vem), Clementina de Jesus (Garças Pardas, em gravação de 1966, a mais antiga da seleção) e Paulinho da Viola (Tempos Idos, feito com Toquinho). Em contrapartida, Autonomia perde força na gravação automatizada de Fagner enquanto Labaredas quase se apaga no vocal frio de Joanna. Já As Rosas Não Falam, para muitos a obra-prima entre as obras-primas de Cartola, poderia ter sido ouvida num registro mais interessante do que o feito por Alcione em 1992 num dueto tecnológico com Altemar Dutra (1940 - 1983). Enfim, o autor é um mestre. Mas nem todos os intérpretes e arranjos estão à sua altura nesta, apesar dos pesares, bem-vinda coletânea. Cartola é 10 x 10.

24 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Com alguns dias de atraso, a Sony BMG está pondo nas lojas coletânea dupla que celebra Cartola (1908 - 1980) por conta de seu centenário de nascimento, festejado em 11 de outubro de 2008. Cartola 100 Anos - O Autor e seus Intérpretes reúne 28 gravações do cancioneiro do mestre. Duas - a que abre o CD 1 (O Inverno do meu Tempo) e a que fecha o CD 2 (Silêncio de um Cipreste) - são ouvidas na voz rústica do próprio compositor, cujo canto carregava expressiva carga de ancestralidade. Cinco fonogramas são inéditos, tendo sido produzidos especialmente para o projeto. O melhor deles é o de Acontece, em que a voz límpida de Rita Ribeiro valoriza o tema, emoldurada pelo violão de Rovilson Pascoal. Márcia Castro realça todas as nuances de Catedral do Inferno - parceria pouco conhecida de Cartola com Hermínio Bello de Carvalho, até então gravada somente por Marlene no disco Te Pego pela Palavra (1974) - em luta contra um arranjo insosso. A propósito, a inadequada atmosfera que aproxima Não Quero Mais Amar a Ninguém do universo esfumaçado do samba-canção também prejudica o dueto de Alaíde Costa com Zé Luiz Mazziotti. Já Eu Sei - uma das últimas músicas de Cartola - se ressente do desajuste entre o (apropriado) tom sóbrio de Célia e o canto entusiasmado de Jair Rodrigues. Por fim, Basta de Clamares Inocência ganha a voz de Fabiana Cozza em interpretação firme, ofuscada pelos excessivos sons de teclado. As cantoras são boas. Já os arranjos...

Dentre os fonogramas antigos, selecionados pelo produtor Thiago Marques Luiz, há muito mais altos do que baixos. Resistem especialmente bem ao tempo os registros de Ney Matogrosso (O Mundo É um Moinho), Gal Costa (Cordas de Aço), Beth Carvalho (Camarim), Clara Nunes (Alvorada no Morro), Chico Buarque (Divina Dama), Elizeth Cardoso (Vem), Clementina de Jesus (Garças Pardas, em gravação de 1966, a mais antiga da seleção) e Paulinho da Viola (Tempos Idos, feito com Toquinho). Em contrapartida, Autonomia perde força na gravação automatizada de Fagner enquanto Labaredas quase se apaga no vocal frio de Joanna. Já As Rosas Não Falam, para muitos a obra-prima entre as obras-primas de Cartola, poderia ter sido ouvida num registro mais interessante do que o feito por Alcione em 1992 num dueto tecnológico com Altemar Dutra (1940 - 1983). Enfim, o autor é um mestre. Mas nem todos os intérpretes e arranjos estão à sua altura nesta, apesar dos pesares, bem-vinda coletânea. Cartola é 10 x 10.

21 de outubro de 2008 às 10:18  
Anonymous Anônimo said...

Eu ouvi o CD e gostei bastante e peço, Mauro, para que você ouça novamente a faixa da Fabiana Cozza, pois não tem nada de teclado; é piano e voz.

21 de outubro de 2008 às 10:22  
Anonymous Anônimo said...

Ouvi o CD, e considerei-o o mais bem elaborado conceitualmente nos últimos tempos.
As faixas recentes e inéditas são adequadas, conduzidas por arranjos simples. Fabiana Cozza não canta com teclados, mas sim acompanhada por um piano (conheço o estúdio em que fora gravada a faixa, em São Paulo). E Catedral do inferno, que eu só conhecia com Marlene, ganhou uma tensão necessária, expondo uma das várias faces do mestre Cartola.

É muito arriscado falar sobre arranjos, pois se prestarmos atenção na antiga gravação de Clara Nunes para Alvorada, o que prevalece lá é a interpretação da cantora, que vai de encontro a um arranjo um tanto insólito.

Para se criticar um trabalho de compilação, deve-se, antes de mais nada, levar em consideração o roteiro ao qual o produtor se preocupa em realizar, como é o caso de Thiago Marques Luiz, que não faz "coletânea", mas sim uma espécie de embornal em que se permite visualizar um panorama da obra de um compositor e de seus intérpretes (dentro das possibilidades de fonogramas que a gravadora oferece - daí, creio, o mote de As rosas não falam vir com Altemar e Alcione, e não com Elizeth, por exemplo, cujo fonograma pertence a outra gravadora). Existe toda uma logística por trás que pode distorcer um trabalho como este; mas o produtor consegue driblar estes percalços priorizando a poesia que é o fio-condutor do álbum.
Está é a minha singela opinião.
Heron Coelho

21 de outubro de 2008 às 10:45  
Anonymous Anônimo said...

Fiquei curiosa agora para ouvir esse CD !

21 de outubro de 2008 às 11:10  
Anonymous Anônimo said...

Acho chato esses projetos do Thiago Marques. Ele é competente mas sempre se restringe a uma mesma panela. Não sei se ele não tem contato com os artistas de primeira grandeza ou se são os próprios que não dão abertura. Alaíde e Célia são ótimas, mas cadê Zizi, Gal, Fafá, Ro Ro, Nana ou Leny???

21 de outubro de 2008 às 11:16  
Anonymous Anônimo said...

Concordo com o Heron, é chato reconhecer, mas quando se produz uma coletânea não se dispõe dos direito de todas as gravações realizadas. Camarim deveria ter ficado com a Alcione, As Rosas não falam com Beth Carvalho e Nana Caymi e por aí vai...

21 de outubro de 2008 às 11:26  
Anonymous Anônimo said...

CAMARIM COM A ALCIONE É LINDO, MAS A VERSÃO DE AS ROSAS NÃO FALAM QUE FOI SELECIONADA, É SIMPLESMENTE DIFERENTE DE TODAS AS VERSÕES QUE JÁ FORAM FEITAS DESSA MÚSICA, ALÉM DE SER EMOCIONANTE. BETH IMORTALIZOU AS ROSAS NÃO FALAM, MAS EU GOSTEI MAIS COM ALTEMAR E ALCIONE.

21 de outubro de 2008 às 11:33  
Anonymous Anônimo said...

Tudo vindo da Beth para esse pessoal é menor. A gravação ao vivo no A Madrinha do Samba, de As Rosas não falam e O Mundo é um Moinho são definitivas! Me desculpem MAS, não tem para ninguém.

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

Vagner Lapa, eu até gosto da gravação da Nana com a Beth porém, a Beth estava com a voz prejudicada devido ao problema que sofrera na garganta.

21 de outubro de 2008 às 13:10  
Anonymous Anônimo said...

Chato é fazer coletânea sem novidades, como tem aos montes por aí... Não parece o caso desta.

21 de outubro de 2008 às 14:42  
Anonymous Anônimo said...

Não acho essas coletâneas bem vindas, prefiro mil vezes os discos originais, de qualquer artista.

Jose Henrique

21 de outubro de 2008 às 15:33  
Anonymous Anônimo said...

Labaredas é uma gravação linda da Joanna. Na medida certa de emoção. Na certa Mauro queria uma catarze na interpretação a La Bethânia!!

21 de outubro de 2008 às 16:46  
Anonymous Anônimo said...

Tb achei a gravação da Joanna inexpressiva, e concordo que, embora Beth tenha lançado essa maravilha, As Rosas... já recebeu gravações bem melhores, e esta da Alcione é bastante razoável.
Beth tem um canto monocórdio. Fagner, por ex, fez uma gravação cachapante desta canção.
E Cordas de Aço com a Gal continua insuperável, embora haja uma bela gravação de Luis Melodia (e Rita Ribeiro tenha cantado lindamente em seu último show solo).
Gostei de ouvir Cartola na voz de Rita. Mandou bem.

No geral, achei o CD um tantinho acima da média.

21 de outubro de 2008 às 18:33  
Anonymous Anônimo said...

Celia, Alaide, Fabiana...sempre as mesmas... só faltou Claudette!

21 de outubro de 2008 às 21:04  
Anonymous Anônimo said...

Tantinho? :>)
Pô, esse sim um discaço de samba!

Jose Henrique

22 de outubro de 2008 às 01:18  
Anonymous Anônimo said...

Comprei o disco e devo dizer que é simplesmente o máximo !

Alaíde Costa canta lindo o NAO QUERO MAIS AMAR A NINGUÉM.

22 de outubro de 2008 às 09:52  
Blogger Flávia C. said...

"Não acho essas coletâneas bem vindas, prefiro mil vezes os discos originais, de qualquer artista."

Concordo com você, Zé!

Marcelo, nunca tinha encontrado alguém que gostasse tanto da Beth Carvalho como você! Hehehe, nada contra, também gosto dela, só acho curioso isso. :-)

22 de outubro de 2008 às 11:38  
Anonymous Anônimo said...

Não é o caso de lançar discos de carreira ou uma simples coletânea, o caso é que esse disco é uma homenagem ao Cartola.

22 de outubro de 2008 às 13:13  
Anonymous Anônimo said...

Flávia,

Ela só me dá prejuízo! Foi a cantora que me foi apresentada com três anos de idade! Os discos dela sempre foram os meus presentes de Natal, dados pelo meu tio! Meu pai, fãzaço de Clara Nunes, inclusive ele me contava que tive o prazer de ter sido carregado nos braços por ela no Galeão numa viagem à serviço que faria. Mal sabiam eles que o bebê se tornaria fã da maior rival da Sabiá! rsrs Mas, eu GOSTO MUITO de Samba! Sempre ouvimos MUITO! Um beijão pra você e confesso que já virei xiita dela aqui,

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

22 de outubro de 2008 às 21:08  
Blogger Unknown said...

Marcelo Barbosa....

eu quase nunca comento aqui, somente leito os comentários. Mas como a flávia disse que vc era o maior fã da Beth, quero deixar registrado também a minha grande admiração e paixão pela cantora. Tenho todos os cds dela, todos os dvds e por morar no Rio, ainda tenho o prazer de ter a companhia e amizade dela.

Abração do também Marcelo, porém Marcelo Machado.

23 de outubro de 2008 às 01:31  
Anonymous Anônimo said...

Oi Marcelo, tudo bem? Você tem bom gosto, deve ser mal de Marcelos! rsrsrs
Eu também sou carioca mas, resido em Brasília. Felizmente tive o prazer de conhecê-la!
A vocês eu peço desculpas pelos excessos cometidos aqui no blog do Mr. Ferreira. Até porque determinadas pessoas tem sempre o mesmo discurso em relação à Beth. Para esses cidadãos eu só tenho a lamentar e escrever que eles não sabem o que perdem. Vai ser boa assim no Joá, Leblon e São Conrado! Ela grava de Noel a Ismael, de Martinho a Paulinho, do samba-enredo ao partido alto, todas as variações do ritmo. É só pegar um disco dela e constatar que dali inicia-se mais um importante capítulo do Samba e da MPB. Ela consegue ser refinada e ao mesmo tempo popular. Sem contar, que não tem pra ninguém! Até acho que esse título de Madrinha já era! Beth foi, é e sempre será Rainha do Samba.
Forte abraço Xará e transmita o meu carinho por ela!

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

PS: Adoro e compro qualquer trabalho porém, já que você tem contato, por favor, transmita o apelo de nós fãs (Mauro também já pediu) para que entre em estúdio e grave um repertório de inéditas. Ela tem de dar continuidade, aproveitar a alta do samba fazendo seu papel de descobridora de novos compositores/talentos e garimpeira de repertórios (uma das melhores, senão a melhor que faz isso).
PS2: Abençoado samba da Bahia que a colocou novamente na rota dos grandes vendedores. O disco não foi muito divulgado na mídia mas, Beth mais uma vez soube vender seu peixe não apelando para o samba ruim. Venceu a qualidade e o bom gosto! Que venha o Grammy!
PS3: E em fevereiro estarei à “caça” dela no desfile da minha escola! Felizmente Beth estará na Imperatriz, como uma das grandes homenageadas do enredo (enredo que conta a história do bairro de Ramos, seus bambas, Cacique e Imperatriz) e ela soube como ninguém divulgá-lo nacionalmente através do bloco e dos quintais da Rua Uranos.

23 de outubro de 2008 às 09:04  
Anonymous Anônimo said...

Cartola é sempre Cartola e este projeto tem algo de diferente, por ter estas 5 faixas inéditas e mostrar Marcia Castro, que é boa demais. Thiago Marques fez os cd´s Tributo de Dolores e Maysa, não é? Eu o vi na Leda Nagle. Sensível e atento, mas acho que só gosta de cantoras e boas , o que é ótima, mas precisa apostar nos que chegaram pra ficar, como fez em "Dolores", com Carlos Navas e Toni Platão, que deram show. Vale lembrar do lindo disco recém lançado por Cida Moreira e já resenhado pelo MF. Viva Cartola.
Andre Rezende/ Curitiba

23 de outubro de 2008 às 20:52  
Anonymous Anônimo said...

Nada disso.Melhor continuar com as cantoras...

24 de outubro de 2008 às 09:09  
Anonymous Anônimo said...

Cartola é e sempre será Cartola. Por isto, a homenagem é justa. Mas o que encanta neste trabalho é o que ele traz de novo: Rita Ribeiro, Márcia Castro, Fabiana Cozza... Conquanto todas estejam no mesmo nível, a interpretação de Márcia Castro em Catedral do Inferno, mesmo em luta contra o arranjo - que poderia ser tão poderoso quanto a interpretação desta cantora - se sobressai pela força que ela consegue transmitir aos poucos cinco versos da letra. Não conhecia esta música e fiquei extasiado com a interpretação. JOSEVAL, Salavdor, BA

26 de outubro de 2008 às 17:44  
Anonymous Anônimo said...

Recomendo a bela versão das Rosas não falam com a Virgínia Rosa no disco Samba a dois de 2006. Sai daquela coisa batida da regravação sem novidades.

8 de fevereiro de 2009 às 10:47  

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