28 de abril de 2007

Avril volta a forjar rebeldia teen no terceiro CD

Resenha de CD
Título: The Best
Damn Thing
Artista: Avril Lavigne
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * *

Não, não é por acaso que Avril Lavigne volta a forjar rebeldia adolescente em seu terceiro CD, The Best Damn Thing. A tentativa de esboçar maturidade e introspecção em seu anterior álbum, Under my Skin (2004), conquistou a crítica, mas não foi tão bem-sucedida do ponto de vista comercial. Foram apenas três milhões de cópias vendidas contra os 16 milhões do fraco disco de estréia, Let Go (2002), em que Avril fez a cabeça das garotas com ensaiada atitude punk teen e hits como Complicated e Sk8ter Boy. Como o single Girlfriend já sinalizara, Avril deu um passo atrás. Embora haja bons rocks (I Can Do Better e Runaway, sobretudo), The Best Damn Thing não convence, em que pese o vasto time de produtores (Rob Cavallo, Deryck Whibley, Butch Walker e Dr. Luke, entre outros). Para piorar, há três baladas xaroposas (When You're Gone, Innocence e Keep Holding on) com o teor de glicose tão alto que até as adolescentes de 15 anos devem achar enjoadas. Sem falar no - inevitável - flerte com o rap em I Don't Have to Try. Vai ser difícil para Avril recuperar a credibilidade após este disco.

Stephen se destaca na irregular prole de Marley

Resenha de CD
Título: Mind Control
Artista: Stephen Marley
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * * *

Talvez motivado pelo sucesso em 2006 do grande álbum do irmão Damian Jr Gong Marley, Wellcome to Jamrock, um dos melhores do ano passado, Stephen Marley decidiu - enfim - se lançar em carreira solo. Quarto dos dez filhos oficiais de Bob, o ex-integrante do grupo Melody Makers se impõe com Mind Control em prole irregular que já rendeu astros efêmeros como os manos Julian e Ziggy Marley. O disco é ótimo. Há alto teor de politização em músicas como Chase Dem, que nem destoaria do repertório de um CD de reggae mais tradicional – assim como Iron Bars. Só que Stephen, dono de um timbre similar ao do pai genial, não é um fiel seguidor da cartilha roots. Entre intervenções de Ben Harper (em Juna Di Red) e Mos Def (em Hey Baby, flerte com o r & b), o disco empolga mesmo em The Traffic Jam, um dancehall capaz de fazer qualquer mente perder o controle. A faixa tem adesão de Damian Marley, sinalizando a união entre os sucessores do rei do reggae...

'Discoteca MTV' revive caos moderno da Nação

Resenha de programa de TV
Título: Discoteca MTV
- Da Lama ao Caos (Nação Zumbi, 1994)
Exibição: MTV
Data: 27 de abril (com reprise em 28 de abril, às 15h30m)
Cotação: * * *

Com sua antena parabólica fincada na lama do mangue recifense, a Nação Zumbi captou informações cosmopolitas que, mixadas com os ritmos e tambores de sua terra, geraram em 1994 um disco que ajudou a definir o som da década de 90. Da Lama ao Caos foi o CD enfocado no segundo dos doze episódios da série Discoteca MTV. “Nem a gente entendia o que estava fazendo ali”, confessou o baixista da Nação, Dengue, sinalizando que o grupo liderado por Chico Science não tinha real idéia da aura revolucionária que teria o álbum. “Foi o primeiro toque de bola do jogo”, definiu, bem mais metafórico, e com razão, Lúcio Maia, guitarrista da Nação Zumbi.

Morto prematuramente em 1997, Chico Science foi representado no especial por números de show de 1993 e por sua entrevista ao programa MTV no Ar, em 1995. Contudo, são os depoimentos de pessoas de fora do Mangue Beat – colhidos pela produção da série - que dimensionam a real importância do álbum. “Foi uma tapa na cara”, contextualizou Marcelo D2. “O disco mudou o meu modo de pensar em relação ao que se fazia e ao que poderia ser feito”, disse, sério, o geralmente inquieto Chorão. Nada estranho naquele ninho pernambucano, no qual integrava o grupo Mundo Livre S/A, Otto é bem direto: “Da Lama ao Caos é o grande disco da década!!!”.

Costurado pelos depoimentos dos músicos da Nação Zumbi, como o atual vocalista Jorge Du Peixe (foto), o programa revelou que a faixa Salustiano Song foi toda composta no estúdio e – bem mais importante – que houve descompasso inicial entre os músicos da Nação e o produtor Liminha, escalado pela gravadora Sony BMG para pilotar o clássico disco. “Eles entraram de um jeito e saíram de outro”, recordou Liminha. Mas, na saída, houve certa decepção com o som ouvido no álbum. É como se a força dos tambores não tivesse sido captada em sua plenitude. Decepção dissipada com a chegada do CD ao mercado e o progressivo reconhecimento de ali estar a semente que daria o tom (miscigenado...) da década de 90.

Fernanda finaliza CD com obras de Tom e Chico

Terminada a produção do álbum de sua tia Sueli Costa, Fernanda Cunha pôde, enfim, gravar com o violonista Zé Carlos o disco em que reúne 10 das 11 músicas de Tom Jobim com Chico Buarque. Zíngaro - Parcerias de Tom e Chico já está pronto e deverá ser editado já em maio. Neste projeto, a cantora e o músico são sócios de Zeca Winicki - o dono do estúdio carioca Manga Rosa, onde o CD foi gravado. Detalhe: Fernanda optou por não gravar Estamos Aí - a parceria de Tom e Chico com Vinicius e Aloli, de 1977 - mas incluiu Olha Maria, canção em que Vinicius também se juntou à dupla de compositores. Eis o repertório de Zíngaro, o tema que - letrado - viria a se chamar Retrato em Branco e Preto:

1 - Piano na Mangueira (1992)
2 - Anos Dourados (1986)
3 - Pois É (1968)
4 - Eu te Amo (1980)
5 - Olha Maria (1971)
6 - Imagina (1983)
7 - A Violeira (1983)
8 - Meninos, Eu Vi (1983)
9 - Retrato em Branco e Preto (1968)
10 - Sabiá (1968)

27 de abril de 2007

Zizi pretende gravar árias ao vivo com sinfônica

Planejado desde o ano passado, o disco clássico de Zizi Possi (em foto de Mila Maluhy) vai ser gravado ao vivo com a Orquestra Sinfônica de Heliópolis (SP), formada por músicos assistidos por um projeto social. No repertório, há as árias La Seguidilla, Lascia Ch'Io Pianga e Mon Coeur S'Ouvre a ta Voix, hits das óperas Carmen, Rinaldo e Sansão e Dalila, respectivamente. Outro peça do roteiro será Song to the Moon, tema de Antonin Dvorak, intitulado Rusalka no original tcheco. A edição do projeto erudito de Zizi Possi está programada para o segundo semestre. Já tem a aprovação da Lei Rouanet, só que, para sair efetivamente do papel, depende - ainda - de captação de recursos que o viabilizem.

Com Trombonada, Elba vai gravar DVD em SP

Em vez de gravar seu segundo DVD em Trancoso (BA), como previsto inicialmente, Elba Ramalho vai filmar o vídeo na minitemporada de shows que fará em São Paulo (SP), de 18 a 20 de maio. Entre os convidados, a cantora incluiu o grupo Trombonada, de Recife (PE). O roteiro engloba músicas de seu 29º CD, Qual o Assunto que Mais lhe Interessa?, parte do projeto Raízes e Antenas. O álbum já entrou em processo de produção de capa.

Teresa Cristina bisa a parceria com Zé Renato

Teresa Cristina já prepara seu quarto CD. Gravado com o Grupo Semente, o álbum vai trazer a segunda parceria da compositora com Zé Renato. O samba se chama Delicada. A primeira parceria de Teresa e Zé, Pra Cobrir a Solidão, foi lançada pela sambista em seu último projeto, o DVD e CD ao vivo O Mundo É meu Lugar. O novo álbum tem lançamento previsto para julho, pela Deckdisc.

Gal revive 'Poetinha' na estréia do 'Som Brasil'

Gal Costa canta as músicas A Felicidade, Se Todos Fossem Iguais a Você, Insensatez e Amor em Paz na estréia do novo musical Som Brasil, que será exibido mensalmente pela Rede Globo. Vinicius de Moraes é o homenageado do primeiro programa, que vai ao ar na madrugada de sábado, 28 de abril, com a apresentação da atriz Patrícia Pillar. O grupo BossaCucaNova - que vai receber Ed Motta e Cris Dellano - também participou do tributo ao Poetinha. Estão previstas gravações de nove especiais (o compositor enfocado no segundo programa será Caetano Veloso). É bem provável que, no futuro, a emissora edite o Som Brasil em DVD, como, aliás, vem fazendo com seus programas da linha de show. Na foto de Renato Rocha Miranda, da divulgação da TV Globo, Gal Costa aparece na gravação, feita em 19 e 20 de abril nos estúdios da Central Globo de Produção, no Rio de Janeiro. Vai ao ar após o Programa do Jô.

26 de abril de 2007

Pau Brasil sustenta tributo de Salmaso a Chico

Resenha de CD
Título: Noites de Gala,
Samba na Rua
Artista: Mônica Salmaso
(com grupo Pau Brasil)
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

Compositor presente já nos primeiros trabalhos solos de Mônica Salmaso, Trampolim (1998) e Voadeira (1999), Chico Buarque ganha songbook na voz da cantora - uma das melhores projetadas na última década. Motivado por show feito pela artista em 2004 com músicas do compositor e por posterior convite do homenageado para dueto na valsa Imagina, faixa do CD Carioca (2006), o projeto preserva a coesão da discografia de Salmaso. O rigor estilístico da intérprete é sustentado pelos arranjos do grupo Pau Brasil, onipresente nas 14 faixas do álbum, do qual é co-autor.

A participação especialíssima do Pau Brasil diferencia Noites de Gala, Samba na Rua de tantos discos dedicados ao cancioneiro de Chico. Com arranjos pautados por elegante economia, Salmaso transita tanto pelos sambas - como A Volta do Malandro (1985) e Quem te Viu, Quem te Vê (1966), cuja letra inspirou o (belo) título do disco - quanto por canções como Basta um Dia (1975). Nestas, Salmaso evita arroubos dramáticos e conta com a inventividade do Pau Brasil. Olha Maria (1971), por exemplo, começa formal e fica jazzística ao fim. Cabe também ao luxuoso quinteto enobrecer Suburbano Coração (1984), valorizar com arranjo estupendo o razoável samba Bom Tempo (1968), preservar a atmosfera lúdica da Ciranda da Bailarina (1982) e dialogar no registro dissonante de Construção (1971) com o célebre arranjo original do maestro Rogério Duprat. E, por isso, merece o crédito destacado na capa...

Quanto à seleção dos temas, há (fino) equilíbrio entre standards - Partido Alto (1972) e Beatriz (1982), este em exuberante registro ao vivo de voz-e-piano (no caso, o de Nelson Ayres) - e as músicas bem menos conhecidas. São os casos dos sambas Logo Eu? (1967), pontuado pelo sax barítono de Teco Cardoso, e O Velho Francisco (1987), dos mais belos do autor. E o fato que a intérprete gravou disco à altura do compositor. Sua voz tem o tom melancólico que cabe bem em músicas tristonhas como Morena dos Olhos d'Água (1966). Enfim, um CD perfeito para uma noite de gala. Com samba.

Milton, Tom e Ramil no CD 'Espacial' de Katia B

Clássico da parceria de Milton Nascimento com Ronaldo Bastos, Cais ganha releitura de Katia B. A regravação está no terceiro CD da cantora, Espacial (capa acima), nas lojas em maio, via MCD, em lançamento simultâneo no Brasil e no Japão. Outra releitura é Amor em Paz, da dupla Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Entre as oito inéditas do repertório, há duas composições de Vítor Ramil - Viajei e Destiny (Be my Friend) - e parceria de Katia com Fausto Fawcett (Dança do Ventre da Guerra). A faixa-título, Espacial, é outra parceria da artista, desta vez com Lucas Santtana. O álbum tem produção dividida entre Chico Neves, Marcos Cunha, Plinio Profeta, Ministereo - de Jr. Tostoi e Rodrigo Campello - e Katia B.

Dominguinhos e Yamandú em CD e em parceria

Dominguinhos e Yamandú Costa (já) são parceiros. Eles compuseram juntos pela primeira vez. A música, Bonitinho, foi feita para celebrar o encontro em disco do violonista com o acordeonista. O CD foi gravado, em janeiro, no estúdio Cia. dos Técnicos, em Copacabana (RJ), com produção de José Milton. Yamandu + Dominguinhos vai ser lançado em maio pela gravadora Biscoito Fino. No repertório, que reúne 17 músicas em 15 faixas, há temas de Yamandú (Bagualito) e Dominguinhos (Domingando, Xote Miudinho e Te Cuida, Rapaz), além de Chorando Baixinho (Abel Ferreira), Estrada do Sol (Tom Jobim e Dolores Duran), Velho Realejo (Custódio Mesquita e Sadi Cabral) e Wave (Tom Jobim). No medley final que une Asa Branca e Prenda Minha, os dois virtuoses festejam as respectivas origens nordestina e gaúcha. Sivuca é lembrado com Feira de Mangaio e João e Maria. Já Molambo foi sugestão do produtor José Milton...

Mingus integra novo pacote de jazz da Universal

Álbum gravado em 1963 por Charles Mingus (1922 - 1979), influente baixista e pianista do jazz contemporâneo, Mingus Mingus Mingus Mingus Mingus é clássico que ganha reedição no mercado nacional em novo irretocável pacote de (re)lançamentos da Universal Music. A série Classics repõe em catálogo títulos realmente emblemáticos dos ricos arquivos do selo Impulse! e da gravadora Verve. Eis os outros oito CDs reeditados no novo lote da coleção:

* Ballads - John Coltrane Quartet - 1961 / 1962
* The Blues and the Abstract Truth - Oliver Nelson - 1961
* Charlie Parker with Strings: The Master Takes - Charlie Parker

- Coletânea de gravações de várias épocas
* Conversations with Myself - Bill Evans - 1963
* Ella and Louis Again - Ella Fitzgerald & Louis Armstrong - 1957
* Jazz Samba - Stan Getz & Charlie Byrd - 1962
* Night Train - The Oscar Peterson Trio - 1962
* Songs for Distingué Lovers - Billie Holiday - 1957

25 de abril de 2007

Ira! se debate entre a integridade e as paradas

Resenha de CD
Título: Invisível DJ
Artista: Ira!
Gravadora: Arsenal
/ Universal Music
Cotação: * * 1/2

Seria justo exigir do Ira! que - na gravação de Invisível DJ - ficasse indiferente ao sucesso comercial conquistado por seu Acústico MTV, editado em 2004 com produção de Rick Bonadio? Sim, seria. Afinal, trata-se de uma das bandas de histórico mais respeitável do rock brasileiro, ainda que sua discografia seja bem irregular - com tropeço sério como a guinada radical rumo à eletrônica em trabalhos como Você Não Sabe Quem Eu Sou (1998). Décimo-terceiro álbum do Ira! em 25 anos de carreira (o grupo foi formado em fins de 1981, em SP), Invisível DJ expõe a banda se debatendo entre a manutenção de sua integridade artística e a adesão ao som padronizado produzido por Bonadio para bandas como CPM 22. A julgar pelo single ruim Eu Vou Tentar, balada moldada para FMs, composta por Rodrigo Koala, hitmaker do selo Arsenal, a batalha estaria perdida. Mas há, sim, alguma salvação entre as faixas deste disco que oscila entre a liberdade criativa e o som manipulado no laboratório de Bonadio.

Há ecos do velho e bom Ira! no álbum. E eles não se resumem aos precisos acordes da guitarra de Edgard Scandurra. A despeito de sua faixa-título ser rock bem pop e redondo, Invisível DJ cresce nos rocks mais pesados. Não Basta o Perdão e, sobretudo, A Saga estão à altura dos áureos momentos do grupo. Em A Saga, a letra cinematográfica de Arnaldo Antunes (o parceiro de Scandurra na faixa) é especialmente inspirada. Outro destaque na seara hard é No Universo dos seus Olhos, cujos versos de Scandurra até soam como poesia e resistem bem sem música. Faça o teste e comprove!

Em CD pautado por letras de bom nível, a releitura de Feito Gente - rock de Walter Franco que abriu o disco Revolver, editado pelo artista em 1975 - cai bem e até soa integrada ao repertório. O que destoa, mas conta ponto, é o tom levemente rural do fluente rock Mariana Foi pro Mar. Que poderia estar em LP do trio Sá, Rodrix & Guarabyra, ícone do gênero nos anos 70. É a surpresa do disco.

Referências e tons à parte, a questão é que Invisível DJ parece construído cerebralmente em sala de marketing. Com receita que inclui faixa de cárater político, O Candidato, e canção composta e cantada em espanhol, La Luna Llena, providencial para o (forte) mercado de língua hispânica. Ao menos, o vocalista Nasi não soa desafinado - efeito provável dos recursos de estúdio - e há faixas legais ao longo do CD. Mas que Invisível DJ sinaliza mudança de comportamento de um grupo que viveu e não aprendeu com os erros, lá isso sinaliza. Tomara que, ao menos, o disco venda bem...

Skank ganha primeiro Celular de Ouro do Brasil

Uma vez que as vendas de CDs continuam em queda livre, a indústria fonográfica começa a premiar a venda de música digital em outras mídias. E coube ao quarteto Skank receber o primeiro Celular de Ouro pelas vendas de 53 mil aparelhos de celular W 300. Este modelo foi lançado em setembro de 2006 pela Sony BMG - numa parceria com a Sony Ericcson - com o repertório integral (em formato MP3) do CD Carrossel - o último do grupo (em foto de Weber Pádua). Tal qual o Disco de Ouro, o prêmio Celular de Ouro já é auferido e reconhecido pela Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD) - entidade que agrega todas as gravadoras multinacionais.

O pequeno mundo psicodélico de Ronnie em CD

Resenha de CDs
Títulos: Ronnie Von, Ronnie Von e A Máquina Voadora
Artista: Ronnie Von
Gravadora: Universal Music
Cotação: * * *

Ronnie Von passou para a história do pop nativo como o príncipe idealizado para (tentar) destronar Roberto Carlos do posto de Rei da Jovem Guarda. A bem da verdade, ele foi mesmo moldado para ser o rival do líder das velhas tardes dominicais. Tentou o reinado como ídolo da juventude em programas de TV como O Pequeno Mundo de Ronnie Von. Só que, em 1968, com o fim da Jovem Guarda, Ronnie Von parecia acabado enquanto seu rival Roberto Carlos mergulhava no soul e gravava seus melhores discos. O que ninguém supôs é que o príncipe fosse fugir do castelo para fazer a viagem psicodélica da época. Ronnie Von (capa à esquerda), o disco de 1969, flagra o cantor em plena onda lisérgica. É a grande curiosidade da coleção editada este mês pela Universal Music, que ainda traz para o CD os títulos Ronnie Von (1966, capa à direita) e A Máquina Voadora (1970, capa ao centro), até então raros.

A trilogia seria perfeita se a gravadora tivesse trocado o Ronnie Von de 1966 – álbum ruim dominado por versões açucaradas do repertório dos Beatles – pelo esquecido A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre contra o Império de Nuncamais, disco de 1969. Ainda assim, as reedições são muito bem-vindas. A Máquina Voadora decola pela faixa-título e por alguns toques de rock progressivo. Mas é o Ronnie Von de 1969 – o que trouxe Silvia: 20 Horas, Domingo, música hoje cultuada pela cena indie – o título mais homogêneo e legal do pacote. "Do que eu canto hoje / Você não quer saber / Pensa que o que eu digo / Não tem razão de ser / Mas em muito breve / Você vai se lembrar / Do que eu cantei hoje / E então vai concordar", previu Ronnie em versos da música Meu Novo Cantar, a faixa que abria este ousado disco do príncipe.

A viagem seria curta. Em 1973, Ronnie já estava na onda afro que lhe rendeu o hit Cavaleiro de Aruanda (hoje rebobinado por Rita Ribeiro no show Tecnomacumba). Em 1977, já de volta à seara sentimental, ele até emplacava a canção Tranquei a Vida nas AMs mais populares. Só que, em que pesem o repertório e a produção irregulares, estes discos ora reeditados forçam reavaliação de sua discografia. O príncipe teve seus dias de rei na pós-Jovem Guarda.

Voz da era do rádio, Carmen Costa sai de cena

E sai de cena mais uma cantora projetada na era de ouro do rádio brasileiro. Aos 87 anos, comemorados em janeiro, Carmen Costa morreu na manhã desta quarta-feira, 25 de abril, vítima de parada cardíaca e insuficiência renal. No último CD, Tantos Caminhos, gravado em 1996 com produção de José Milton, a cantora reviveu alguns dos sucessos que marcaram o auge de sua carreira nos anos 40 e 50. Entre eles, Quase (Mirabeau e Jorge Gonçalves) de 1954.

Carmen começou a cantar nos anos 30. Adotou o nome de Carmen Costa em 1937. Há 70 anos, portanto. O primeiro grande sucesso, já de 1942, foi Está Chegando a Hora, versão da mexicana Cielito Lindo. Outro êxito na seara carnavalesca foi Cachaça (1953). Nos anos 50, Carmen - como grandes cantoras de sua geração - aderiu ao samba-canção. No gênero, fez sucesso com Eu Sou a Outra, de Ricardo Galeno. Obsessão (Mirabeau e Milton de Oliveira), música de 1953, é outro hit seu na década marcada pelo apogeu do rádio.

Bem antes, em 1944, Carmen Costa foi historicamente pioneira ao gravar Luiz Gonzaga. Xamego, parceria do velho Lua com Miguel Lima, deu projeção nacional ao futuro Rei do Baião na voz da boa e afinada cantora carioca. Que, nos anos 90, lutou muito contra a burocracia estatal para ter o direito de receber sua aposentadoria. Injustiças do Brasil que esqueceu as vozes de ouro da era do rádio.

24 de abril de 2007

CD ao vivo de Ivete entra na parada portuguesa

Editado em Portugal logo na seqüência do lançamento no mercado nacional, o CD Ivete no Maracanã - Multishow ao Vivo, de Ivete Sangalo, já entrou esta semana na parada lusitana. O disco ocupa o 16º lugar do Top 30 da Associação Fonográfica Portuguesa, mais conhecida como A.F.P. pelos músicos da Terrinha. No Brasil, onde aparece bem nas paradas, o CD chegou às lojas com suntuosa tiragem inicial de 100 mil cópias.

Hermanos em recesso por tempo indeterminado

O grupo Los Hermanos anunciou em site oficial nesta terça-feira, 24 de abril, a inesperada decisão de entrar em recesso por tempo indeterminado. No comunicado (leia abaixo), o quarteto carioca afirma que não houve briga entre seus integrantes e avisa que não há previsão para o lançamento do sucessor do disco 4, editado em 2005. Eis o comunicado do grupo (na ilustração acima, no traço curioso de Rodrigo Amarante, cantor e compositor do quarteto):

"A banda Los Hermanos comunica a decisão de entrar em recesso por tempo indeterminado. Por conta disso, não há previsão de lançamento de um novo disco. A pausa atende a necessidade dos integrantes de se dedicarem a outras atividades que vieram se acumulando ao longo desses dez anos de trabalho ininterrupto em conjunto. Não houve desentendimento ou discordância que tenha afetado nossa amizade. Tanto que continuamos jogando truco toda quinta-feira. Por conta dessa decisão, mesmo após o término da turnê do 4, resolvemos fazer duas únicas apresentações no Rio de Janeiro (RJ), na Fundição Progresso, nos dias 8 e 9 de junho. Até lá!".

Jair regrava Bororó em CD feito para Inglaterra

Jair Rodrigues (foto) regravou Da Cor do Pecado, clássico de Bororó lançado por Sílvio Caldas em 1939, para um CD pilotado pelo maestro Rildo Hora para a Inglaterra - com cantores como Elza Soares. A filha de Jair, Luciana Mello, pôs voz em Carinhoso, a linda música feita por Pixinguinha com Braguinha, lançada por Orlando Silva em 1937. As faixas, arranjadas por Rildo, contaram com o violino de Bernardo Bessler. O álbum foi encomendado a Rildo para inaugurar selo na Inglaterra.

Moses propaga reggae social no solo de Da Lua

Nome forte da cena jamaicana desde 1975, por conta do alto teor de politização contido em seu reggae roots, Pablo Moses participa do segundo CD solo de Marcelinho da Lua, Social. Moses canta a música Stop the Crime - composta pelo próprio Pablo Moses em parceria com o DJ (à esquerda no desenho) e Marlon Sette. O álbum vai chegar às lojas puxado por música do repertório de Tim Maia, Ela Partiu, regravada com intervenção do grupo gaúcho Ultramen. Martinho da Vila também figura no disco.

23 de abril de 2007

Paulinho da Viola vai gravar acústico pela MTV

Paulinho da Viola vai gravar CD e DVD na série Acústico MTV. A gravação vai ser feita e editada no segundo semestre de 2007. No repertório, inéditas - algumas já apresentadas pelo compositor no show que fez em São Paulo em 2006 - e sucessos coletados em 42 anos de carreira (Paulinho foi revelado em 1965 no musical Rosa de Ouro). O artista pretende abrir selo para, no futuro, viabilizar a edição de seus discos - como já está virando praxe no mercado...

Chico Neves abre janela para o reggae carioca

Com produção de Chico Neves, o segundo álbum do grupo Ponto de Equilíbrio, Abre a Janela, chegará às lojas no início de maio, precedendo a turnê que vai levar a banda carioca (de reggae) por 17 cidades brasileiras. No repertório, majoritariamente autoral e inédito, há apenas duas regravações: Soul Rebel (da lavra fértil de Bob Marley) e Janela da Favela (samba de Gracia do Salgueiro). O primeiro CD do octecto, Reggae a Vida com Amor, fez sucesso no circuito indie e chegou a se reeditado pela gravadora Deckdisc. P.S.: na foto acima, o Ponto de Equilíbrio é clicado por Guto Costa.

Jorges lançam inéditas em show que vira DVD

Ainda que a reunião dos quatro Jorges (Aragão, Ben Jor, Mautner e Vercilo) no palco já seja por si só grande novidade, o quarteto de cantores e compositores vai lançar duas músicas inéditas no show Coisa de Jorge, que será apresentado nesta segunda-feira, 23 de abril, dia de São Jorge, na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro (RJ). São Jorges leva a assinatura de Aragão e de Vercilo. Já Líder dos Templários tem melodia de Vercilo e letra dos quatro Jorges. Por conta própria, o quarteto vai filmar o show para posterior negociação com gravadoras de sua edição em DVD (e CD ao vivo).

Sony vai mostrar ao Brasil o 'Momento' de Bebel

Como não chegou a um acordo com a Universal Music sobre a edição nacional de seu recém-lançado terceiro CD feito para o exterior, Momento, Bebel Gilberto encontrou abrigo na Sony BMG. A edição brasileira do álbum vai chegar às lojas ainda neste semestre. A partir de julho, o CD será lançado em países como Japão e Austrália. Gravado entre Rio, Estados Unidos e Inglaterra, Momento foi editado na Europa e nos EUA no início de abril. É o primeiro CD da artista desde Bebel Gilberto (2004).

22 de abril de 2007

Belo recital reforça laço afro de Naná e Virgínia

Resenha de show
Título: Grandes Encontros
- Naná Vasconcelos e Virgínia Rodrigues
Artista: Naná Vasconcelos e Virgínia Rodrigues
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 21 de abril de 2007
Cotação: * * * * *

Foi grandioso o encontro da voz operística de Virgínia Rodrigues com a percussão mágica de Naná Vasconcelos. Em divino recital pautado por músicas que saúdam os orixás, a dupla mostrou rara interação e foi ovacionada por platéia que, no sábado, 21 de abril, contou com a presença de Maria Bethânia, figura bissexta na noite carioca (Virgínia vai lançar seu quarto CD pela gravadora Biscoito Fino). O show arrebatou o público do primeiro ao último número.

Exibida no projeto Grandes Encontros, promovido pelo Teatro Rival BR, a reunião de Virgínia e Naná foi aberta e encerrada com Negrume da Noite, o sublime samba-reggae de Paulinho do Reco e Cuiuba que a cantora gravou em seu primeiro álbum, Sol Negro, editado em 1997. O tema sintetiza a celebração da negritude feita no roteiro, estruturado com os repertórios dos três CDs da artista.

Projetada em 1994 no Bando de Teatro Olodum, na peça Bai Bai Pelô, a voz de mezzo-soprano de Virgínia Rodrigues mergulha em mares profundos da ancestralidade africana. Unido ao arsenal do genial Naná, o canto da intérprete resulta ainda mais poderoso. E mexe com o divino - sobretudo em roteiro pontuado pelo reforço dos laços afros que envolvem os dois artistas e que amarram afro-sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes (Bocochê, Tristeza e Solidão, Consolação e Canto de Xangô), afoxé (Oju Obá, de Edil Pacheco e Paulo César Pinheiro) e clássico de Nelson Cavaquinho (Juízo Final). Com auxílio luxuoso do violoncelo de Lui Coimbra.

Em síntese, o enxuto repertório reverencia divindades africanas através de temas como Deus do Fogo e da Justiça. "É o Brasil que, de alguma forma, o Brasil não conhece", como resumiu Naná após ser ovacionado por um solo matador de berimbau. Enfim, foi um encontro grande em todos os sentidos. Que deverá voltar ao palco do Teatro Rival, em junho, para ser gravado em DVD e CD ao vivo.

'Discoteca MTV' começa bem com LP de Lobão

Resenha de programa de TV
Título: Discoteca MTV - Ronaldo Foi pra Guerra
(Lobão e os Ronaldos, 1984)
Exibição: MTV

Data: 20 de abril
Cotação: * * *

Inspirada na bela série Classic Albums, produzida pela rede de TV BBC, a MTV criou série de programas que pretendem esmiuçar a gênese de álbuns emblemáticos do pop rock brasileiro. A estréia da Discoteca MTV aconteceu na sexta-feira, 20 de abril, com o foco em Ronaldo Foi pra Guerra, arejado LP lançado em 1984 por Lobão com o efêmero grupo Os Ronaldos. Foi o LP que trouxe os registros originais dos hits Corações Psicodélicos e Me Chama.

A julgar pelo primeiro dos dozes episódios, a série parece bacana e bem produzida, com equilíbrio entre a exibição de ralo material de arquivo e dos vários depoimentos colhidos especialmente para o programa. Através de entrevistas com Lobão, Miguel Plopschi (diretor artístico da gravadora BMG quando o disco foi lançado) e o guitarrista Guto, entre outros nomes ligados ao LP, o programa contextualizou o momento que gerou Ronaldo Foi pra Guerra.

"A estética brasileira da new wave estava ali", resume Bacalhau, o baterista do grupo Autoramas. "O disco representou o meu último extertor romântico de pertencer a uma banda", lembra Lobão, que logo partiu em carreira solo com a dissolução dos Ronaldos. Entre outras curiosidades, o cantor revela sua intimidade com a cocaína na época e ressalta que Me Chama, a grande música do álbum (ao lado de Corações Psicodélicos), foi composta acima do (seu) tom.

Funcionou bem a idéia de inserir os testemunhos de gente famosa que era anônima quando Ronaldo Foi pra Guerra emplacava hits nas FMs. "Esse disco foi a trilha sonora das baladas da minha adolescência", recorda o DJ Camilo Rocha. Já Pitty lembra que, ao ir tirar sua carteria de música na OMB, cantou Me Chama no teste.

Se a época da gravação do álbum foi bem contextualizada, faltou detalhar mais a concepção de cada faixa. Os comentários sobre as músicas foram muito superficiais. E faltou também informação até básica como o ano de lançamento (1984) do disco. Ainda assim, a Discoteca MTV foi aberta com sucesso. A série é boa e tem tudo para se tornar cult entre os roqueiros de todas as gerações. Assim como sua simpática musa inspiradora, Classic Albums, da BBC.


Eis os discos que ainda serão abordados na série da MTV:
Os Mutantes (1968) - Os Mutantes
As Aventuras da Blitz (1982) - Blitz
Tempos Modernos (1982) - Lulu Santos
Revoluções por Minuto (1985) - RPM
Nós Vamos Invadir sua Praia (1985) - Ultraje a Rigor
Cabeça Dinossauro (1986) - Titãs
Dois (1986) - Legião Urbana

Selvagem? (1986) - Paralamas do Sucesso
Vivendo e Não Aprendendo (1986) - Ira!
Da Lama ao Caos (1994) - Nação Zumbi
Usuário (1995) - Planet Hemp

Vânia Abreu grava inéditas de Baleiro e Careqa

Vânia Abreu - que vem seguindo trajetória indie com estilo cool que transita na contramão do som efusivo de sua irmã Daniela Mercury - está gravando seu sexto CD. O sucessor de Pierrot & Colombina (2006) trará inéditas de compositores recorrentes na discografia chique da cantora, como Carlos Careqa, Marcelo Quintanilha, Péri e Zeca Baleiro. Estão previstas regravações de temas de Milton Nascimento - O Que Foi Feito De Vera - e Djavan.

Bandas indies recriam hits bregas dos anos 70

Dois anos depois de procurar reposicionar a figura de Odair José com o tributo Vou Tirar Você desse Lugar (2005), o selo Allegro Discos, de Goiânia (GO), faz segunda investida no repertório populista dos anos 70. No recém-lançado CD Eu Não Sou Cachorro, Mesmo (capa à esquerda), 13 bandas da cena indie recriam sucessos de cantores como José Augusto (De que Vale Ter Tudo na Vida?, com Rádio de Outono), Lindomar Castilho (Você É Doida Demais, na visão de Los Diãnos), Benito di Paula (Retalhos de Cetim, com The Darma Lovers) e Reginaldo Rossi (Mon Amour, Meu Bem, Ma Femme, com Laranja Freak), entre outros nomes. Coube ao grupo português Clã regravar Tortura de Amor, o grande hit de Waldick Soriano - cuja foto estampa a capa do álbum. Há covers de Diana, Evaldo Braga, Fernando Mendes, Márcio Greick e de Dom & Ravel.