24 de abril de 2010

Werther mistura blues e jazz em 'Turning Point'

Vocalista da banda carioca de blues Big Allanbik, com a qual gravou quatro discos, Ricardo Werther lança pelo selo Delira Blues o CD solo The Turning Point. Na companhia de um quinteto que agrega músicos dos grupos Blues Etílicos e Big Allanbik, o cantor entrelaça sonoridades de jazz e blues ao interpretar repertório que transita pelas obras de Albert King (I've Got my Finger on your Trigger), Buddy Guy (Got to Use Your Head), Johnny Cash (Folsom Prison Blues) e Neil Young (Down by the River), entre outros nomes. Werther também revisita o standard My Funny Valentine (Richard Rodgers e Lorenz Hart). O gaitista Flávio Guimarães toca harmônica em Find 'Em, Fool 'Em and Forget 'Em. Lucinha Turnbull faz vocais em Going in the Hole.

Duas novelas da Globo fazem ecoar a voz de Gal

Enquanto Gal Costa - vista à esquerda em foto de Daniel Klajmic - prepara um novo show (a intenção é gravá-lo ao vivo para edição em CD e em DVD) e espera sinal de Caetano Veloso para viabilizar a ideia de fazer um álbum de inéditas com músicas e produção do compositor, a voz da cantora ecoa nas trilhas sonoras de duas novelas exibidas atualmente pela Rede Globo de Televisão. Se Mar e Sol (Lokua Kanza e Carlos Rennó, 2005) é ouvida na novela Viver a Vida, em especial nas cenas que expõem as belezas litorâneas da cidade de Búzios (RJ), Eternamente (Tunai e Sérgio Natureza, 1983) ilustra cenas da trama espiritualista Escrito nas Estrelas, recém-estreada às 18h. A gravação ouvida é a feita para o álbum Baby Gal, de 1983.

Calypso vai do gospel ao frevo no DVD '10 Anos'

Formada em 1999 no Pará, sob a liderança do casal Joelma e Chimbinha, a Banda Calypso resumiu sua primeira década de vida em show realizado em novembro de 2009 na área externa da casa Chevrolet Hall, no Recife (PE). A gravação ao vivo está sendo editada pela gravadora Som Livre neste mês de abril de 2010 em DVD e em dois CDs, vendidos de forma avulsa. No roteiro de 26 números, a Calypso - que viveu seu auge comercial em meados dos anos 2000 - faz a habitual mistura de ritmos caribenhos e nordestinos enquanto recebe nomes como Fagner (na música Sem Direção), o grupo coral evangélico Voz da Verdade (em Um Novo Ser), a dupla sertaneja Bruno & Marrone (na faixa Nem Sim, Nem Não) e o maestro Spok (no Frevo Mulher).

Som Livre compila 28 mulheres (inter)nacionais

Volta e meia, a Som Livre põe nas lojas coletâneas com gravações de cantoras do Brasil e do exterior. Nas lojas neste mês de abril de 2010, as compilações Mulher 2010 Nacional e Mulher 2010 Internacional trazem, cada uma, 14 registros (mais ou menos) recentes de intérpretes femininas. Curiosidade: a seleção nacional inclui fonogramas de duas bandas, Chimarruts e Moinho, que têm mulher no posto de vocalista. Eis as 28 faixas dos CDs - já à venda:

Mulher Nacional 2010
1. Tá Perdoado - Maria Rita
2. Mar e Sol - Gal Costa
3. Linda Rosa - Maria Gadú
4. Amado - Vanessa da Mata
5. Agora Eu Já Sei - Ivete Sangalo
6. Pássaros - Claudia Leitte
7. Versos Simples - Chimarruts
8. Esnoba - Moinho
9. Tudo sobre Você - Zélia Duncan
10. Malemolência - Céu
11. Com Essa Cor - Monique Kessous
12. Palavras ao Vento - Cássia Eller
13. Diz que Fui por Aí - Fernanda Takai
14. Você - Marina Elali
Mulher Internacional 2010
1. Thinking of You - Katy Perry
2. Big Girls Don't Cry - Fergie
3. Bubbly - Colbie Caillat
4. No One - Alicia Keys
5. Tell me What We're Gonna do Now - Joss Stone
6. Say It Right - Nelly Furtado
7. No Substitute Love - Estelle
8. LDN - Lily Allen
9. Until the End - Norah Jones
10. Bleeding Love - Leona Lewis
11. Underneath your Clothes - Shakira
12. The Voice Whitin - Christina Aguilera
13. Chasing Pavements - Adele
14. So Small - Carrie Underwood

23 de abril de 2010

ABBA e Cardigans influenciam álbum de Perry

Katy Perry se inspirou na música pop do quarteto sueco ABBA e no hit Love Fool (do também sueco The Cardigans) ao compor com o produtor Dr. Luke as músicas de seu segundo álbum de estúdio (ou terceiro, se levado em conta o CD de gospel gravado pela cantora em 2001). Perry já declarou que o sucessor de One of the Boys (2008) - o álbum que a projetou no embalo do estouro do single I Kissed a Girl - tem mais groove e é mais dançante. Ainda sem título, o disco sai em meados de 2010 e vai ter ao menos seis faixas compostas por Perry com Dr. Luke. Que também assinam juntos a produção, feita nos Estados Unidos.

Badu suaviza som (e discurso) em 'Amerykah 2'

Resenha de CD
Título: New Amerykah Part Two - Return of the Ankh
Artista: Erykah Badu
Gravadora: Motown / Universal Music
Cotação: * * *

Sexto álbum de Erykah Badu, a segunda parte do projeto New Amerykah - intitulada Return of the Ankh - deixa no ouvinte certa decepção, embora seja injusto classificar como ruim este quinto disco de estúdio da cantora habituada a fazer classuda mistura de neosoul e r & b. É que, na comparação com a primeira explosiva parte, Return of the Ankh soa sem pegada, quase linear. Badu suavizou o discurso e o som, atualmente quase todo orgânico, sem a dose alta de eletrônica que saltou aos ouvidos em New Amerykah Part One - 4th World War (2008), álbum de alto teor político, timbrado na cadência incendiária do rap mais engajado. Nessa atual sequência, produzida com a sofisticação recorrente na discografia da artista, Badu desloca o discurso da esfera política para a afetiva. Mais leve e mais convencional, o som de músicas como 20 Feet Tall e Love está em sintonia com tal mudança de rota, que desvia o discurso da artista do público para o privado. Ainda que a controvertida decisão de Badu de filmar o clipe da (boa) faixa Window Seat inteiramente nua, na rua, tenha provocado sido, em última análise, uma decisão política que testa os limites e a moral da Nova América. Artista sempre inquieta e interessante, Badu deixa que o piano assuma o primeiro plano em boa parte dos arranjos de Return of the Ankh. Há até grooves funkeados em uma ou outra faixa, como Turn me Away (Get MuNNY), mas a vibe do álbum é calma. O que, em si, não é um defeito. O maior problema do disco é, a rigor, a irregularidade da (autoral) safra de inéditas que a artista apresenta nessa sequência.

Pelé e Zezé entram em campo no solo de Edson

Dissolvida a dupla sertaneja Edson & Hudson a partir de 1º de janeiro de 2010, Huelinton Cadorini Silva - o Edson - parte para a carreira solo com o CD Edson e Você, editado neste mês de abril pela EMI Music. Rei do futebol brasileiro, Pelé entra em campo para badalar o álbum de Edson em ano de Copa do Mundo. O ex-jogador canta Sou Brasileiro, parceria dele com Edson e Flavinho. O clipe da música pode ser visto na faixa interativa inserida como bônus no CD. Outra participação especial - talvez até com maior cacife no mercado sertanejo para alavancar as vendas de Edson e Você - é a de Zezé Di Camargo, convidado da faixa Quem Canta Não Para). Já Beijinho - pai dos irmãos Edson e Hudson - aparece na toada Viola, Minha Viola, uma parceria do próprio Beijinho com Falcão.

Mundo musical do ídolo 'teen' Bieber é limitado

Resenha de CD
Título: My Worlds
Artista: Justin Bieber
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * *

Fenômeno teen da vez, Justin Bieber é um jovem cantor e compositor canadense de 16 anos, cuja música saltou do universo virtual - onde seus vídeos motivam milhões de acessos no YouTube - para o mundo real. Entretanto, na realidade, seu mundo musical é bem limitado e nada original - como atesta My Worlds, o disco que a Universal Music acaba de lançar no Brasil, onde Bieber também já vem alcançando picos de popularidade (a gravadora alardeia que o CD vendeu mais de 20 mil cópias em menos de duas semanas nas lojas). Apadrinhado por Usher, que promoveu sua contratação pela Island Records (além de gravar participação na faixa First Dance), Bieber se limita a fazer pop fabricado em escala industrial, com a habitual mistura de r & b e eventuais flertes com o universo do hip hop (o rapper Ludacris faz discurso na pop Baby, um dos quatro singles de sucesso do garoto). Mesmo sem ser minimamente original, Bieber - que é co-autor de boa parte de seu repertório - já despertou a admiração de nomes como Justin Timberlake e Rihanna. Vocacionado para as paradas, como evidenciaram os estouros de One Time e One Less Lonely Girl, o jovem astro concentra atenções no Twitter e no YouTube escorado em sua baby face. A julgar por My Worlds, disco que condensa as 18 faixas do EP My World (2009) e do posterior My World 2.0 (2010), a música em si de Bieber não justifica tanta baladação em torno de seu nome. Só que ele deverá se manter sob os holofotes até a aparição do próximo ídolo teen...

22 de abril de 2010

Michael gera filme de Lee e espetáculo do Soleil

A música e a figura de Michael Jackson (1958 - 2009) continuam inspirando produtos culturais em diversas mídias. Na semana em que o Cirque Du Soleil anunciou que vai encenar um espetáculo inspirado na obra do cantor, em 2011, foi noticiado - de forma extra-oficial - que o diretor de cinema Spike Lee prepara filme de ficção sobre o Rei do Pop. Supostamente intitulado Brooklyn Loves Michael Jackson, o filme já tem roteiro e versa sobre fãs que querem prestar tributo ao astro, em show no Brooklyn (EUA).

100 anos de Custódio Mesquita mereciam festa

Custódio Mesquita (1910 - 1945) completaria 100 anos no próximo domingo, 25 de abril de 2010. Ofuscados pelos centenários de Noel Rosa (1910 - 1937) e Adoniran Barbosa (1910 - 1982), os 100 anos do parceiro de Sadi Cabral (1906 - 1986) no fox Mulher não mereceram, por ora, a atenção devida do meio musical e da própria mídia. Pianista e regente, o autor do fox Nada Além - feito em parceria com Mário Lago (1911 - 2002) - foi um compositor sofisticado. O refinado acabamento harmônico de suas músicas já levou jornalistas e pesquisadores de música popular a recorrer ao clichê de que Custódio Mesquita foi o "Tom Jobim dos anos 30 e 40". Mas o fato é que a maioria de sua obra caiu em progressivo esquecimento. Os foxes Mulher (gravado por Silvio Caldas em março de 1940) e Nada Além (lançado por Orlando Silva em julho de 1938) foram suas únicas músicas que realmente passaram de geração em geração através de sucessivas gravações. Há outras igualmente bonitas - como o samba-canção Saia do Caminho (lançada por Aracy de Almeida em 1946, um ano depois da morte do parceiro de Evaldo Rui no tema), Velho Realejo (valsa gravada por Silvio Caldas em março de 1940 no mesmo disco que apresentou Mulher) e Como os Rios que Correm pro Mar (lançada pelo mesmo Silvio Caldas em 1944) - que volta e meia ainda são ouvidas. Contudo, a maior parte jaz em completo esquecimento. Injustiça como o compositor projetado em 1933 com a gravação da marchinha Se a Lua Contasse por Aurora Miranda (1915 - 2005)! Seria bacana que, efemérides à parte, os intérpretes brasileiros redescobrissem o repertório de Custódio Mesquita, propagado em disco por vozes potentes como as de Carlos Galhardo (1913 - 1985), Orlando Silva (1915 - 1978) e o recorrente Silvio Caldas (1908-1998) - mas hoje quase inteiramente ignorado.

Jung produz os discos de Gavassi, Etna e Ritz

Com o fim do Ira!, o baterista do grupo, André Jung, tem se dedicado à produção de discos de novos artistas, a maioria da cena indie. Jung - que começou a sua carreira de produtor nos anos 80 ao pilotar o histórico primeiro álbum de hip hop brasileiro, Pergunte a Quem Conhece (1988), da dupla Thaíde & DJ Rum - assina com Marcelo Ferraz a produção do primeiro CD da banda teen Etna, Sorte Grande, lançado neste mês de abril de 2010 pela Universal Music. No momento, o músico finaliza o primeiro álbum da banda Ritz (ex-Altitude Zero), que vai ser puxado pela música Pra Não Lembrar. Paralelamente, Jung cuida também do primeiro disco da cantora e compositora Manoela Gavassi, aposta do mercado adolescente (Gavassi tem o apoio da revista Capricho, voltada para a cena teen). Masterizada por Chris Gehringer, a faixa Eu e Você é provável single do álbum.

Combo reúne aparições de Moore em Montreux

Guitarrista de blues que transita pelo rock e pelo jazz, o virtuose irlandês Gary Moore é um nome recorrente no elenco do Montreux Jazz Festival. Recém-editado no Brasil pela gravadora ST2, na série Live at Montreux, o (bom) combo tripo The Definitive Montreux Collection compila, em dois DVDs e um CD, 44 números de cinco shows feitos por Moore nesse festival suíço em 1990, 1995, 1997, 1999 e em 2001. Detalhe: os registros ao vivo destes cinco shows já tinham sido lançados numa caixa de cinco CDs - intitulada Essential Montreux - que a mesma ST2 editou no mercado brasileiro em 2009. O que torna redundante o CD desta atual edição tripla que rebobina 11 dos 44 números exibidos nos dois (oportunos) DVDs.

Álbum de Danger e Linkous ganha edição oficial

Vazado na internet em 2009, o ano em que teria chegado às lojas se um problema jurídico com a gravadora EMI Music não tivesse inviabilizado seu lançamento em escala mundial, o álbum Dark Night of the Soul vai ganhar, em julho de 2010, edição oficial. Gravado por Danger Mouse com Mark Linkous (1962 - 2010), o líder do grupo Sparklehorse que se suicidou em 6 de março, o álbum agrega nomes como The Flaming Lips (em Revenge), Julian Casablancas (Little Girl), Iggy Pop (Pain), Gruff Rhys (do Super Furry Animals - em Just War), Black Francis (Angel's Harp) e Suzanne Vega (The Man Who Played God), entre outros. As 13 músicas foram compostas por Linkous. O cineasta David Lynch, que participa de Star Eyes (I Can't Catch It) e da faixa-título, assina as fotografias inspiradas nas músicas. Tais imagens foram lançadas em livro de arte numa edição artesanal do álbum - produzida pelo próprio Danger Mouse com tiragem limitada de cinco mil cópias - que circulou de forma restrista em 2009. Dark Night of the Soul vai estar nas lojas, enfim, a partir de 12 de julho de 2010. Não há, por ora, previsão de uma edição brasileira.

21 de abril de 2010

McCartney relança obra solo via Concord Music

Paul McCartney vai reeditar toda sua discografia individual pelo Concord Music Group. O primeiro título a voltar ao catálogo com faixas adicionais - em reedição remasterizada prevista para agosto de 2010 - é Band on the Run, álbum de 1973. Os relançamentos são efeito do acordo firmado em fevereiro deste ano de 2010 pelo ex-Beatle com a EMI Music, a gravadora pela qual o artista editou sua obra solo de 1970 a 2006. Pelo acordo, o cantor adquiriu os direitos sobre todos seus álbuns individuais gravados no período.

Gaga grava faixas de terceiro álbum na estrada

Fato: Lady Gaga já está compondo e gravando na estrada, nos intervalos dos shows da The Monster Ball Tour, músicas para seu terceiro álbum - o sucessor de The Fame (2008) e de The Fame Monster (2009). É que a estrela montou miniestúdio de gravação no ônibus com o qual transita em turnê. De acordo com recente declaração do rapper Akon, que vai colaborar no álbum, as faixas já gravadas são "loucas". "Ela está ficando maior e melhor", avalizou Akon. Antes de o novo disco vir à tona, Gaga lança em 10 de maio de 2010 o CD The Remix, que reúne 17 versões para as pistas de sucessos de seus dois primeiros álbuns.

Vivo na cena, Nasi revive Voluntários e Picassos

Pouco antes de se tornar vocalista do Ira!, grupo do qual saiu em 2007, Nasi integrou no início da década de 80 a banda Voluntários da Pátria. Mais cultuada do que propriamente ouvida, tal banda nunca saiu da cena indie, apesar da explosão comercial do pop rock brasileiro na época, mas conseguiu gravar e lançar em 1984 seu primeiro e único álbum, produzido por Luiz Calanca para a gravadora Baratos Afins. Uma das músicas do LP, Verdades e Mentiras, ganha regravação em Vivo na Cena, primeiro trabalho solo de Nasi após a saída turbulenta do Ira!. Verdades e Mentiras integra o roteiro do show gravado ao vivo, em 29 e 30 de setembro de 2009, no estúdio Na Cena, em São Paulo (SP). Outra música vinda do rock brasileiro dos anos 80 é Carne e Osso, hit underground do Picassos Falsos, grupo que, embora tenha até lançado dois incensados álbuns pelo selo Plug (da BMG-Ariola), também não decolou e sumiu na poeira da estrada. Vivo na Cena chega às lojas neste mês de abril de 2010 pela Coqueiro Verde Records, nos formatos de CD e de DVD.

Livro recorda poder político do canto de Brown

Recém-lançado no Brasil pela editora Zahar, o livro O Dia em que James Brown Salvou a Pátria não é biografia de James Brown (1933 - 2006), mas traça perfil do artista com ênfase na politização do canto do pioneiro do funk. Escrita pelo jornalista James Sullivan, a narrativa está centrada no histórico show feito por Brown em 5 de abril de 1968 no Boston Garden, situado em Boston (Massachusetts, EUA) - um dia após o assassinato de Martin Luther King (1929 - 1968), ativista e líder dos negros na defesa da igualdade racial. Naquela ocasião, Brown já era - ele próprio - um líder no campo musical. Três anos antes, em 1965, sua histórica gravação de Papa's Got a Brand New Bag começou a remodelar a música negra norte-americana, em especial o soul, desaguando no som que seria rotulado de funk nos anos 70. Pois foi com a autoridade de sua música engajada e explosiva que o pai do funk acalmou os ânimos da população e impediu que a revolta com o assassinato de King incendiasse - literalmente - a cidade de Boston. Centrado nessa apresentação ainda emblemática, o livro ressalta o envolvimento de Brown com as causas políticas. Eis o excelente prefácio assinado por Chuck D, do grupo Public Enemy:

"Lembro do impacto inicial que o Poderoso Chefão do Soul teve sobre mim. Ainda consigo me ver, com meus colegas do ensino médio, escorregando e patinando nos trechos congelados da rua no inverno do Queens, em Nova York. O que nos dava equilíbrio era o ritmo de James Brown, a dança que Mister JB dizia ter criado para finalizar sua apresentação de There Was a Time. A energia da música de Mister JB correspondia ao vigor compacto de crianças da escola primária que correm livremente. Basta enfileirá-las no corredor do pátio e abrir a porta. Elas não têm a menor ideia de aonde vão - simplesmente correm. Para mim, isso descreve a força de James Brown. É, James Brown era um homem adulto, mas possuía a centelha ilimitada de uma criança.

Meus pais tinham muitos discos guardados. Era um casal de negros descolados de vinte e poucos anos, soltos numa época turbulenta. Os álbuns, encomendados de clubes de discos, chegavam aos pacotes pelo correio. Havia vários LPs de jazz e soul. Os de James Brown eram multicoloridos, cortesia do departamento de arte da King Records. Eles praticamente pulavam para cima da gente, mas não chegavam tão perto quanto o grito de JB e aquele trecho só de percussão no meio do álbum. James Brown se destacava do conjunto - pelo visual e pelo som.

Minha avó assinava as revistas Look e Life. Ela e meu avô costumavam amontoar revistas, não discos. Foi a Look que fez a pergunta a respeito de Mister JB: seria ele "o negro mais importante dos Estados Unidos"? A capa era azulada. Isso foi precisamente na metade da Guerra do Vietnã, logo depois dos assassinatos de Martin Luther King e de Robert Kennedy. Ainda havia uma lúgubre reverberação dos assassinatos do presidente John F. Kennedy e de Malcolm X poucos anos antes. O país precisava desenvolver uma linguagem comum sobre a loucura vigente - por que ela não poderia vir de ícones culturais que todos ouviam? Mas, no encalço das revoltas de Newark e Detroit, creio que a dança nas ruas não poderia ser oferecida ao povo pela Motown, pela Stax ou pela Atlantic, tampouco por qualquer outro artista, a não ser JB.

Depois de lançar Say it Loud - I'm Black and I'm Proud, o governo - especialmente o de J. Edgar Hoover - começou a entender a importância de JB por várias razões, boas e más. O fato de prefeitos, políticos, militares, presidentes e vice-presidentes procurarem JB, enquanto as estações de rádio e o meio musical hegemônico o excluíam, foi de uma ironia inacreditável. Aquela canção sozinha conferiu a Mr. JB sete afortunados anos de amor por parte da comunidade negra, o que não é fácil de conseguir.

Em minha humilde opinião, imediatamente após o assassinato de Martin Luther King, James Brown se tornou o negro mais importante dos Estados Unidos. Os negros estavam em busca de muitas respostas em seguida ao festival de confusões de 1968. Todos os americanos, perplexos, procuravam respostas, mas a disposição dos negros estava em sintonia com Nat Turner.

Eu soube do show no Boston Garden muito depois de ele ter ocorrido. Com sete anos e vivendo em Nova York, as notícias que chegavam para mim diziam mais respeito aos assuntos da cidade e ao seu próprio potencial explosivo. Não fui muito à escola naquela semana. As novidades de Boston chegavam muito mais tarde, ainda mais numa época em que a ênfase estava nas notícias locais, havendo apenas um espaço rápido a cada noite para notícias do país e do mundo. Nos esportes, o Celtics voltou atrás na contratação de Wilt, do Philadelphia 76ers, mas quando Bill Russell, primeiro técnico de basquete negro, pôs a culpa no racismo, aumentou a especulação de que haveria agitações locais, pois os negros estavam cansados das "branquelices" da Nova Inglaterra.

Hoje vivemos tempos bem diferentes, e não digo isso do ponto de vista racial. Refiro-me à tecnologia. Televisão a cabo, documentários, DVDs, discos e vídeos piratas, YouTube e internet têm permitido que milhares de pessoas vejam a energia do show daquela noite no Boston Garden. Até hoje penso que aquilo foi uma transmissão ao vivo destinada a manter as pessoas fora das ruas de Beantown (Boston). A paranoia ia imperar até que se encontrasse uma resposta - pelo menos era o que eu achava.

Para mim, o show de James Brown representou e ainda representa o incrível poder da música e da força de vontade para cessar tudo em nome da alegria de se divertir. As imagens reproduzem a tensão de um furacão Katrina dos anos 1960. Hipnótico. Paralisante. Provocador. E ainda assim ele parou e conquistou a todos com Think - como ainda haveria de acontecer com muitos outros sucessos de James Brown.

Não há dúvida de que o Poderoso Chefão do Soul fazia as vezes do Príncipe da Paz numa época de caos. De fato, ainda nos curvamos diante dessa extraordinária apresentação cujo significado aumenta a cada década". CHUCK D, Public Enemy

Big Boi cria álbum do Outkast e edita disco solo

Enquanto trabalha com o colega Andre 3000 no sétimo álbum da dupla Outkast, o primeiro desde Idlewild (2006), o rapper norte-americano Big Boi se prepara para lançar CD solo, Sir Lucious Left Foot: The Son of Chico Dusty, nas lojas a partir de 6 de julho de 2010 pela gravadora Def Jam. O solo de Big Boi conta com colaborações de Jamie Foxx, Lil Jon, T.I. e do próprio Andre 3000. O disco apresenta músicas inéditas como Shutterbug, Turn me on, Tangerine, Hustle Blood e Ringtone.

20 de abril de 2010

Kylie lança seu 11º álbum, 'Aphrodite', em julho

Kylie Minogue agendou o lançamento de seu 11º disco de estúdio, Aphrodite, para 5 de julho de 2010. Uma semana antes, em 28 de junho, a cantora e compositora australiana lança o primeiro single do álbum, All the Lovers. O sucessor de X (2007) agrega no time de produtores e compositores nomes como Stuart Price, Tim Rice-Oxley (do grupo Keane), Pascal Gabriel, Lucas Secon, Calvin Harris e Jake Shears. Stuart Price é o produtor executivo do CD.

'Que Assim Seja' não adensa o reggae do Cidade

Resenha de CD
Título: Que Assim Seja
Artista: Cidade Negra
Gravadora: Kamikaze Records / Microservice
Cotação: * * 1/2

Ao incorporar o carismático vocalista Toni Garrido, após dois álbuns feitos com o canto politizado do dissidente Rás Bernardo, o grupo Cidade Negra partiu para rota mais pop - perceptível no tom menos denso de seu terceiro CD, Sobre Todas as Forças (1994), que, não por acaso, elevou as vendas da banda formada na Baixada Fluminense (RJ) em 1986 por conta de hits radiofônicos como Onde Você Mora? (Marisa Monte e Nando Reis). Em 2008, após longo período de turbulências internas, Garrido deixou a banda, sendo substituído por Alexandre Massau. Na sequência, o guitarrista Da Gama - um dos fundadores da Cidade - também saiu do grupo. Que resistiu e começou a preparar ainda em 2008 um disco de inéditas, Que Assim Seja, enfim lançado neste mês de abril de 2010. Produzido por Nilo Romero, que deu acabamento às demos gravadas pelo hoje trio, o álbum é o oitavo de estúdio do grupo e o primeiro de inéditas desde Perto de Deus (2005). Desta vez, a mudança de vocalista não gerou nova mudança de rota. Sem uma oportuna renovação e sem um brilho especial, o Cidade Negra não adensa seu reggae, permanecendo na mesma rota pop seguida na fase com Garrido. É justo reconhecer que ao menos duas das 12 inéditas da mediana safra autoral - Vem Morar Comigo e Sol de Verão - têm cacife para as paradas por conta do excelente acabamento pop das melodias. Mas é pena que, nesta nova fase, a banda não tenha ido à cata de bons letristas para adensar o discurso, ralo na crítica política de Porta da Favela e cheio de clichês na abordagem espiritualista de Verdadeiro Poder, cujos versos parecem tirados de um livro de auto-ajuda. Entre alguns dubs e as guitarras que pontuam a música-título Que Assim Seja, erroneamente eleita para promover o CD, sobressaem o rap feito pelo ator André Ramiro em Quem Diz que Homem Não Chora? e os vocais do DJ e toaster jamaicano Ranking Joe em Espere Amor, música que agrega trechos de Na Onda do Jornal, parceria do sambista Agepê (1942 - 1995) com Canário. Contudo, Que Assim Seja deixa a triste sensação de que o Cidade Negra - hoje reduzido a um trio formado pelo bom vocalista Alexandre Massau com os remanescentes Bino Farias (baixo) e e Lazão (bateria) - não aproveitou o fato de estar livre das pressões e cobranças da indústria fonográfica para fazer CD condizente com seu histórico. Se é assim, que assim seja! Só que poderia ser mais...

Arlindo prepara CD de inéditas com 'Oferendas'

Um ano após lançar CD e DVD gravados na série MTV ao Vivo, Arlindo Cruz prepara álbum de inéditas - feito em estúdio - para este ano de 2010. O sucessor de Sambista Perfeito (Deckdisc, 2007) traz no repertório Oferendas, parceria do compositor com Teresa Cristina, com quem Cruz compôs o samba Morada Divina, já gravado pela cantora em seus novos CD e DVD, Melhor Assim.

Vercillo escreve 'Memória do Prazer' com Gabi

Nas lojas na primeira quinzena de maio pela Sony Music, o oitavo álbum de estúdio de Jorge Vercillo, D.N.A., traz no repertório a primeira parceria do compositor com sua mulher, Gabi Vercillo, co-autora dos versos da faixa Memória do Prazer, gravada com cordas regidas por Jaques Morelenbaum e as intervenções vocais da cantora Ninah Jo. O CD D.N.A. foi produzido por Vercillo - visto com Gabi na foto de Camilla Maia - e Paulo Calazans. A gravação de músicas como Cor de Mar (Vercillo e Dudu Falcão) foi feita no estúdio Poeta Paulo Emílio, construído pelo artista na sua casa, no Rio de Janeiro (RJ), e batizado com o nome de seu sogro, letrista parceiro de compositores como João Bosco e Sueli Costa.

Filme (re)conta história de Leandro & Leonardo

A história folhetinesca da dupla sertaneja Leandro & Leonardo vai ser (re)contada no cinema em filme de ficção previsto para entrar em circuito em 2012. Os produtores Angelo Salvetti e Diogo Boni, da empresa DB Filmes, já tratam de viabilizar o longa-metragem por enquanto intitulado Não Aprendi a Dizer Adeus. Desfeita forçosamente em 1998 por conta da morte de Leandro (1961 - 1998), a dupla debutou em disco em 1986 e alcançou seu primeiro grande sucesso em 1989, ano em que a música Entre Tapas e Beijos tocou bem no Brasil. Em 1991, o estouro de Pense em mim consolidou a carreira dos irmãos pobres nascidos em Goianápolis (GO). Até que, em 1998, câncer raro e agressivo matou Leandro - somente dois meses após o diagnóstico - e comoveu todo o Brasil.

19 de abril de 2010

Em maio, CD duplo revive 'Emoções Sertanejas'

O abalo de Roberto Carlos com o falecimento de sua mãe - Laura Moreira Braga (1914 - 2010), a Lady Laura, morta no sábado, 17 de abril de 2010 - não vai alterar o cronograma de lançamento do disco com o registro ao vivo do show Emoções Sertanejas, gravado em São Paulo (SP), em 17 de março, na apresentação em que artistas sertanejos cantaram sucessos do Rei. O CD duplo vai chegar às lojas no início de maio, a tempo de pegar o aquecimento do mercado fonográfico por conta do Dia das Mães - época em que Roberto, em especial, costuma vender muito disco. Na sequência, a gravadora Sony Music vai lançar o DVD com o registro do show.

DVD compila aparições do ABBA na TV alemã

Os fãs do ABBA certamente já conhecem o (bom) DVD The Definitive Collection, editado em 2004 pela Universal Music com a reunião de 30 vídeos oficiais do quarteto sueco. Lançamento oficioso, o DVD que a gravadora Coqueiro Verde Records está pondo nas lojas do Brasil neste mês de abril de 2010, Thank You for the Music, pega carona no culto ao grupo formado no início dos anos 70 por Ann-Frid Lÿngstad, Björn Ulvaeus, Benny Andersson e Agnetha Faltskög. Trata-se da reunião de 28 números gravados pelo ABBA para programas da TV alemã, entre 1974 e 1982. Embora oficiosa, a seleção inclui todos os hits do quarteto, dublados para os programas alemãs com o áudio das gravações originais. Há desde a primeira música do ABBA - People Need Love (1972) - até os dois últimos temas gravados pelo grupo em 1982, Under Attack e The Day Before You Came. Para fãs radicais!

Stevie e Martha no tributo de Collins a Motown

Stevie Wonder é o nome mais recorrente na ficha técnica de Going Back, o álbum que Phil Collins vai lançar neste ano de 2010 em tributo ao som da gravadora Motown. Collins revive várias músicas propagadas na voz de Wonder - casos de Blame it on the Sun, da tristonha Never Dreamed You’d Leave in Summer e de Uptight (Everything’s Alright). Já Loving You Is Sweeter Than Ever foi apenas composta por Wonder com Ivy Jo Hunter, tendo sido lançada em 1966 pelo grupo The Four Tops, de cujo (bom) repertório Phil Collins pescou também Something About You e Standing in the Shadows of Love. Por sua vez, (Love Is Like a) Heat Wave, In my Lonely Room e Jimmi Mack fizeram sucesso - em 1963, 1964 e 1967, respectivamente - em gravações de Martha and The Vandellas (o grupo liderado pela cantora Martha Reeves).

'Dance' do LCD inebria em 'This Is Happening'

Resenha de CD
Título: This Is Happening
Artista: LCD Soundsystem
Gravadora: DFA Records
/ Virgin / EMI Music
Cotação: * * * *

Vazado na internet, um mês antes do lançamento oficial agendado para 17 de maio de 2010, o terceiro álbum do LCD Soundsystem já circula na rede apesar dos apelos inúteis feitos por James Murphy - mentor e líder da banda de Nova York (EUA) - para que fãs do grupo (os potenciais compradores do CD) não compartilhassem This Is Happening. Delírios à parte, o LCD Soundsystem repõe seu dance-punk na pista com criatividade, mesmo sem a rigor reinventar sua roda - como já sinalizara o single Drunk Girls. E o fato é que o álbum inebria ao longo de suas longas nove faixas. Pow Pow, You Wanted a Hit e Home -para citar somente três destaques da coesa safra de inéditas - envolvem o ouvinte com seus grooves quase hipnóticos, urdidos com sintetizadores e baixo. This Is Happening tem dose menor de rock do que Sound of Silver (2007), apesar das guitarras que distorcem All I Want, mas não chega a ser diferente do aclamado álbum anterior da banda. Com letras acima do padrão dance, Murphy concebeu um disco que soa contemporâneo ao mesmo tempo que faz ecoar o som de David Bowie e Cia. sem pretensão de criar sucessos para as pistas. Aliás, You Wanted a Hit discursa justamente sobre a pressão para se fabricar hits. E a ironia é que, nesse coquetel eletrônico temperado com acidez e melancolia, há em This Is Happening temas que poderão se transformar, não em sucessos efêmeros, mas em clássicos atemporais. Belo álbum!!!

'Tapa na Cara', de Zezé & Luciano, bate no rádio

Com jeito de hit, Tapa na Cara - primeiro single do 17º álbum de Zezé Di Camargo & Luciano - bate hoje, 19 de abril de 2010, em todas as rádios que tocam música sertaneja. A curiosidade é que a parceria do compositor Carlos Randall com Zel Moreira e Villa não é inédita. Zezé Di Camargo & Luciano - vistos acima em foto de Juliana Thomé extraída do site oficial da dupla - regravam música já lançada por Marcus Vitta & Daniel, dupla sertaneja que ainda não alcançou visibilidade nacional. Mesmo sem ser nova, Tapa na Cara puxa CD atípico na carreira da dupla - a ser editado no estilo Double Face (de um lado, músicas mais atuais; do outro, clássicos do cancioneiro sertanejo - e tem tudo para fazer sucesso.

18 de abril de 2010

'BandaTrês' de Gil cresce e se exterioriza no Rio

Resenha de Show
Título: BandaDois
Artista: Gilberto Gil (em fotos de Mauro Ferreira)
Participações especiais: Bem Gil e Jaques Morelenbaum
Local: Vivo Rio (RJ)
Data: 17 de abril de 2010
Cotação: * * * * 1/2
Em cartaz em Brasília (DF) - Centro de Convenções, 24 de abril
Ao ser levado à cena em setembro de 2009 por Gilberto Gil, para ser gravado ao vivo e gerar CD e DVD editados em dezembro desse mesmo ano, BandaDois era recital interiorizado, carregado de alguma melancolia no roteiro desfiado por Gil somente com seu violão e o de Bem Gil (a cargo também da percussão ouvida na parte final). Só que BandaDois cresceu e virou BandaTrês com a incorporação do violoncelista Jaques Morelenbaum ao Concerto de Cordas (inclusive as vocais) - como o show foi definido por Gil no palco da casa Vivo Rio (RJ), onde o recital aportou na noite de sábado, 17 de abril de 2010. Pela bela apresentação do trio, deu para perceber o quanto BandaDois cresceu - e não somente pela entrada de Morelenbaum. O concerto está bem mais exteriorizado e comunicativo. Mas sem prejuízo da carga reflexiva embutida no roteiro. Que, a propósito, sofreu alterações benéficas em relação ao repertório da estreia. Gil agregou a roteiro músicas palatáveis como Viramundo (1967), Panis et Circensis (1968), Tenho Sede (1975), Estrela (1981) e Seu Olhar (1985) - bela e hoje esquecida balada que chegou a tocar muito no rádio como faixa promocional do álbum Dia Dorim Noite Neon. A entrada dessas músicas facilitou a empatia do concerto com o público que lotou a casa e saiu do show embevecido com a musicalidade extraordinária de Gil. Perceptível sobretudo quando o artista ficou sozinho em cena para cantar Não Tenho Medo da Morte (2008), outra boa nova do roteiro. Ao usar o violão como instrumento de percussão e ao explorar os tons cavernosos de sua voz, o compositor conseguiu fazer crescer o significado da canção existencial que lançou no álbum Banda Larga Cordel. O número solo foi destaque de um concerto que evidenciou o total entrosamento de Gil e Bem com Morelenbaum, cujo violoncelo pulsou ora frenético (como em Banda Um), ora lírico (como em Quatro Coisas, o tema feito por Gil para sua mulher, Flora). A propósito, o grande momento de Morelenbaum foi em Lamento Sertanejo, quando o violoncelista evocou através de seu instrumento o universo musical mouro absorvido pela nação nordestina. Enfim, BandaDois - ou agora BandaTrês - já nasceu grandioso, mas vem crescendo na estrada...

'Andante' traça curvas e retas de Sylvia Patrícia

Resenha de CD
Título: Andante
Artista: Sylvia Patrícia

Gravadora: Lua Music
Cotação: * * *

Cantora e compositora baiana que transita pelo universo pop, longe do baticum da axé music, Sylvia Patrícia quase chegou lá. A artista estreou no mercado fonográfico com álbum (Sylvia Patrícia) editado em 1989 via Sony Music. Em 1992, Sylvia foi alvo do investimento da Warner Music, que apostou em seu segundo CD, Curvas e Retas, mas infelizmente promoveu faixa insossa, Glória, em detrimento de outra mais vocacionada para as paradas, Mil Pedaços e... Crac, delícia pop que chegou a ser hit espontâneo em algumas cidades do Sul do Brasil. Daí em diante, Sylvia migrou para a cena indie. Bom sucessor de Tente Viver sem mim (1998), Purpurina 37 (2003) e No Rádio da Minha Cabeça (2006), Andante - sexto álbum da artista - é o resultado das experiências da cantora por Espanha, Portugal, Estados Unidos e Tailândia ao longo de 2009. A safra de inéditas foi composta nessas andanças. Urdidas com a arquitetura que caracteriza a obra pop da compositora, músicas autorais como Haja Yoga, As Contas, Vibe do Bem (esta assinada em parceria com Cecelo Frony) e Vida Boa fazem o CD transcorrer retilíneo sem sobressaltos. As boas surpresas estão nas curvas, quando Andante sai dos trilhos habituais e é direcionado para o tango pop (Depois das Seis), para o samba (Samba da Janela, faixa que conta com o bandolim de Armandinho Macedo) e para o pop reggae (como na envolvente regravação de Resistiré, tema do filme Ata-me, de Pedro Almodóvar). A rota global de Andante também passa pela Itália - Água e Sal, versão de Acqua e Sale, hit de Mina e Adriano Celentano) - e pelo Brasil de 1990, pois Meus Olhos (parceria de Sylvia com Kal Venturi) é a música gravada por Zélia Duncan em seu equivocado primeiro álbum, Outra Luz. Entre curvas e retas, Andante é um simpático diário de bordo das viagens de Sylvia Patrícia pelo, nem sempre justo, mundo pop.

Dori olha para dentro de denso mundo autoral

Resenha de CD
Título: Mundo de Dentro
Artista: Dori Caymmi
Gravadora: Music Taste
Cotação: * * * * 1/2

Mundo de Dentro - o disco que Dori Caymmi está lançando no Brasil neste mês de abril de 2010 - já tem importância natural por ser o primeiro álbum autoral solo do compositor desde If Ever... (1994). Dori vem de um disco dividido com Joyce (Rio-Bahia, 2006) e, antes, exercitou seu talento de intérprete nos belos CDs Influências (2001) e Contemporâneos (2002) - além de ter regravado o cancioneiro marítimo de Dorival Caymmi (1914 - 2008) em Tome Conta de meu Filho que Eu Também Já Fui do Mar... (1997) com a autoridade de ter tanto intimidade com a obra quanto uma voz profunda que evoca o canto de seu pai . Há algo de Dorival - a quem Mundo de Dentro é dedicado - na obra e no canto de Dori. Influência primordial que salta aos ouvidos logo na sublime Quebra-Mar, primeira das 13 faixas deste CD que alterna músicas inéditas com temas gravados por outros intérpretes neste hiato de 16 anos em que Dori não lançou disco inteiramente dedicado à sua obra autoral. Gravada em dueto com Renato Braz, grande cantor de timbre profundo com o o de Dori, Quebra-Mar mergulha no universo praieiro de mestre Dorival através dos versos poéticos de Paulo César Pinheiro, letrista de 12 dos 13 temas cantados por Dori neste Mundo de Dentro (a faixa-título tem a adesão de Danilo Caymmi na autoria). A exceção é Fora de Hora, o tema feito para o filme Lara (2003) que tem versos escritos por Chico Buarque sob a ótica feminina hoje mais escassa no cancioneiro do criador de Olhos nos Olhos e Terezinha.

Dentro da memória das águas, Mundo de Dentro - disco de tom denso e interiorizado como sugere seu título - traz a regravação de Rio Amazonas num correto registro (com letra) que não atinge as profundezas da beleza da gravação feita por Wanda Sá e Célia Vaz com vocalises para o CD Brasileiras (1996). Em contrapartida, o frevo Chutando Lata - tema que batizou (na versão em inglês) o álbum Kicking Cans, lançado por Dori em 1992 - ressurge em gravação mais sedutora. Inclusive pelo fato de trazer Edu Lobo - compositor carioca que sempre teve intimidade com o ritmo mais popular de Pernambuco - como convidado da faixa. Em dueto com Dori, Lobo se mostra obviamente à vontade nas divisões do frevo. Ainda dentro da seara nordestina, Dori rebobina Flauta, Sanfona e Violão - tema que já gravou em If Ever... (1994), mas sem os apropriados versos em português de Paulo César Pinheiro.

Em que pesem as faixas de maior vivacidade rítmica, Mundo de Dentro soa denso porque boa parte do repertório tangencia o universo do samba-canção para falar de amor. Às vezes com júbilo pela própria chegada do sentimento (como em É o Amor Outra Vez, o tema lançado por Maria Bethânia em 2009 no CD Tua), às vezes com dor (como em Armadilhas de um Romance), às vezes com saudade do êxtase fugaz da paixão (como em Saudade de Amar, música lançada por Nana Caymmi em 2001 no disco Desejo), mas quase sempre com a certeza de que vale a pena amar (como em Sem Poupar Coração, linda faixa-título do álbum lançado pela mesma Nana em 2009). No terreno amoroso, Dori tem se revelado inspirado compositor sem nunca patinar na lama sentimental em que se afundam a maior parte das canções do gênero. E seus registros autorais desses temas - feitos com doses altas de interiorização - valorizam este vasto Mundo de Dentro.

'Ídolo' Roston se apega ao romantismo populista

Cantor paulista que venceu em 2009 a segunda temporada do programa de TV Ídolos, Saulo Roston se apega - cômodo - ao romantismo de tom populista no seu primeiro disco. O CD Saulo Roston foi gravado pelo artista na Warner Music como prêmio pela vitória na competição exibida pela TV Record (a gravadora tem um contrato com a emissora que já prevê a edição dos discos dos vencedores). O repertório inclui regravações de Aguenta Coração - hit de José Augusto em 1990 - e de Beija Eu, sucesso do segundo álbum de Marisa Monte (Mais, 1991), revivido por Roston em dueto com Janaynna. Mas a faixa que está em rotação nas rádios populistas é Nova Paixão (Eu Tava Tão Mal), música de Juninho Araújo com a qual o cantor venceu o programa da Record. Outros possíveis hits radiofônicos são Passos pela Rua (Marcello Mira) e Quando o Sol Chegar (Beto Paciello e Edu Luke). CD já está na loja.