18 de abril de 2010

Dori olha para dentro de denso mundo autoral

Resenha de CD
Título: Mundo de Dentro
Artista: Dori Caymmi
Gravadora: Music Taste
Cotação: * * * * 1/2

Mundo de Dentro - o disco que Dori Caymmi está lançando no Brasil neste mês de abril de 2010 - já tem importância natural por ser o primeiro álbum autoral solo do compositor desde If Ever... (1994). Dori vem de um disco dividido com Joyce (Rio-Bahia, 2006) e, antes, exercitou seu talento de intérprete nos belos CDs Influências (2001) e Contemporâneos (2002) - além de ter regravado o cancioneiro marítimo de Dorival Caymmi (1914 - 2008) em Tome Conta de meu Filho que Eu Também Já Fui do Mar... (1997) com a autoridade de ter tanto intimidade com a obra quanto uma voz profunda que evoca o canto de seu pai . Há algo de Dorival - a quem Mundo de Dentro é dedicado - na obra e no canto de Dori. Influência primordial que salta aos ouvidos logo na sublime Quebra-Mar, primeira das 13 faixas deste CD que alterna músicas inéditas com temas gravados por outros intérpretes neste hiato de 16 anos em que Dori não lançou disco inteiramente dedicado à sua obra autoral. Gravada em dueto com Renato Braz, grande cantor de timbre profundo com o o de Dori, Quebra-Mar mergulha no universo praieiro de mestre Dorival através dos versos poéticos de Paulo César Pinheiro, letrista de 12 dos 13 temas cantados por Dori neste Mundo de Dentro (a faixa-título tem a adesão de Danilo Caymmi na autoria). A exceção é Fora de Hora, o tema feito para o filme Lara (2003) que tem versos escritos por Chico Buarque sob a ótica feminina hoje mais escassa no cancioneiro do criador de Olhos nos Olhos e Terezinha.

Dentro da memória das águas, Mundo de Dentro - disco de tom denso e interiorizado como sugere seu título - traz a regravação de Rio Amazonas num correto registro (com letra) que não atinge as profundezas da beleza da gravação feita por Wanda Sá e Célia Vaz com vocalises para o CD Brasileiras (1996). Em contrapartida, o frevo Chutando Lata - tema que batizou (na versão em inglês) o álbum Kicking Cans, lançado por Dori em 1992 - ressurge em gravação mais sedutora. Inclusive pelo fato de trazer Edu Lobo - compositor carioca que sempre teve intimidade com o ritmo mais popular de Pernambuco - como convidado da faixa. Em dueto com Dori, Lobo se mostra obviamente à vontade nas divisões do frevo. Ainda dentro da seara nordestina, Dori rebobina Flauta, Sanfona e Violão - tema que já gravou em If Ever... (1994), mas sem os apropriados versos em português de Paulo César Pinheiro.

Em que pesem as faixas de maior vivacidade rítmica, Mundo de Dentro soa denso porque boa parte do repertório tangencia o universo do samba-canção para falar de amor. Às vezes com júbilo pela própria chegada do sentimento (como em É o Amor Outra Vez, o tema lançado por Maria Bethânia em 2009 no CD Tua), às vezes com dor (como em Armadilhas de um Romance), às vezes com saudade do êxtase fugaz da paixão (como em Saudade de Amar, música lançada por Nana Caymmi em 2001 no disco Desejo), mas quase sempre com a certeza de que vale a pena amar (como em Sem Poupar Coração, linda faixa-título do álbum lançado pela mesma Nana em 2009). No terreno amoroso, Dori tem se revelado inspirado compositor sem nunca patinar na lama sentimental em que se afundam a maior parte das canções do gênero. E seus registros autorais desses temas - feitos com doses altas de interiorização - valorizam este vasto Mundo de Dentro.

5 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Mundo de Dentro - o disco que Dori Caymmi está lançando no Brasil neste mês de abril de 2010 - já tem importância natural por ser o primeiro álbum autoral solo do compositor desde If Ever... (1994). Dori vem de um disco dividido com Joyce (Rio-Bahia, 2006) e, antes, exercitou seu talento de intérprete nos belos CDs Influências (2001) e Contemporâneos (2002) - além de ter regravado o cancioneiro marítimo de Dorival Caymmi (1914 - 2008) em Tome Conta de meu Filho que Eu Também Já Fui do Mar... (1997) com a autoridade de ter tanto intimidade com a obra quanto uma voz profunda que evoca o canto de seu pai . Há algo de Dorival - a quem Mundo de Dentro é dedicado - na obra e no canto de Dori. Influência primordial que salta aos ouvidos logo na sublime Quebra-Mar, primeira das 13 faixas deste CD que alterna músicas inéditas com temas gravados por outros intérpretes neste hiato de 16 anos em que Dori não lançou disco inteiramente dedicado à sua obra autoral. Gravada em dueto com Renato Braz, grande cantor de timbre profundo com o o de Dori, Quebra-Mar mergulha no universo praieiro de mestre Dorival através dos versos poéticos de Paulo César Pinheiro, letrista de 12 dos 13 temas cantados por Dori neste Mundo de Dentro (a faixa-título tem a adesão de Danilo Caymmi na autoria). A exceção é Fora de Hora, o tema feito para o filme Lara (2003) que tem versos escritos por Chico Buarque sob a ótica feminina hoje mais escassa no cancioneiro do criador de Olhos nos Olhos e Terezinha.

Dentro da memória das águas, Mundo de Dentro - disco de tom denso e interiorizado como sugere seu título - traz a regravação de Rio Amazonas num correto registro (com letra) que não atinge as profundezas da beleza da gravação feita por Wanda Sá e Célia Vaz com vocalises para o CD Brasileiras (1996). Em contrapartida, o frevo Chutando Lata - tema que batizou (na versão em inglês) o álbum Kicking Cans, lançado por Dori em 1992 - ressurge em gravação mais sedutora. Inclusive pelo fato de trazer Edu Lobo - compositor carioca que sempre teve intimidade com o ritmo mais popular de Pernambuco - como convidado da faixa. Em dueto com Dori, Lobo se mostra obviamente à vontade nas divisões do frevo. Ainda dentro da seara nordestina, Dori rebobina Flauta, Sanfona e Violão - tema que já gravou em If Ever... (1994), mas sem os apropriados versos em português de Paulo César Pinheiro.

Em que pesem as faixas de maior vivacidade rítmica, Mundo de Dentro soa denso porque boa parte do repertório tangencia o universo do samba-canção para falar de amor. Às vezes com júbilo pela própria chegada do sentimento (como em É o Amor Outra Vez, o tema lançado por Maria Bethânia em 2009 no CD Tua), às vezes com dor (como em Armadilhas de um Romance), às vezes com saudade do êxtase fugaz da paixão (como em Saudade de Amar, música lançada por Nana Caymmi em 2001 no disco Desejo), mas quase sempre com a certeza de que vale a pena amar (como em Sem Poupar Coração, a faixa-título do álbum lançado pela mesma Nana em 2009). No terreno amoroso, Dori tem se revelado inspirado compositor sem nunca patinar na lama sentimental em que se afundam a maior parte das canções do gênero. E seus registros autorais desses temas - feitos com doses altas de interiorização - valorizam este vasto Mundo de Dentro.

18 de abril de 2010 às 11:21  
Blogger Mauro Ferreira said...

Mundo de Dentro - o disco que Dori Caymmi está lançando no Brasil neste mês de abril de 2010 - já tem importância natural por ser o primeiro álbum autoral solo do compositor desde If Ever... (1994). Dori vem de um disco dividido com Joyce (Rio-Bahia, 2006) e, antes, exercitou seu talento de intérprete nos belos CDs Influências (2001) e Contemporâneos (2002) - além de ter regravado o cancioneiro marítimo de Dorival Caymmi (1914 - 2008) em Tome Conta de meu Filho que Eu Também Já Fui do Mar... (1997) com a autoridade de ter tanto intimidade com a obra quanto uma voz profunda que evoca o canto de seu pai . Há algo de Dorival - a quem Mundo de Dentro é dedicado - na obra e no canto de Dori. Influência primordial que salta aos ouvidos logo na sublime Quebra-Mar, primeira das 13 faixas deste CD que alterna músicas inéditas com temas gravados por outros intérpretes neste hiato de 16 anos em que Dori não lançou disco inteiramente dedicado à sua obra autoral. Gravada em dueto com Renato Braz, grande cantor de timbre profundo com o o de Dori, Quebra-Mar mergulha no universo praieiro de mestre Dorival através dos versos poéticos de Paulo César Pinheiro, letrista de 12 dos 13 temas cantados por Dori neste Mundo de Dentro (a faixa-título tem a adesão de Danilo Caymmi na autoria). A exceção é Fora de Hora, o tema feito para o filme Lara (2003) que tem versos escritos por Chico Buarque sob a ótica feminina hoje mais escassa no cancioneiro do criador de Olhos nos Olhos e Terezinha.

Dentro da memória das águas, Mundo de Dentro - disco de tom denso e interiorizado como sugere seu título - traz a regravação de Rio Amazonas num correto registro (com letra) que não atinge as profundezas da beleza da gravação feita por Wanda Sá e Célia Vaz com vocalises para o CD Brasileiras (1996). Em contrapartida, o frevo Chutando Lata - tema que batizou (na versão em inglês) o álbum Kicking Cans, lançado por Dori em 1992 - ressurge em gravação mais sedutora. Inclusive pelo fato de trazer Edu Lobo - compositor carioca que sempre teve intimidade com o ritmo mais popular de Pernambuco - como convidado da faixa. Em dueto com Dori, Lobo se mostra obviamente à vontade nas divisões do frevo. Ainda dentro da seara nordestina, Dori rebobina Flauta, Sanfona e Violão - tema que já gravou em If Ever... (1994), mas sem os apropriados versos em português de Paulo César Pinheiro.

Em que pesem as faixas de maior vivacidade rítmica, Mundo de Dentro soa denso porque boa parte do repertório tangencia o universo do samba-canção para falar de amor. Às vezes com júbilo pela própria chegada do sentimento (como em É o Amor Outra Vez, o tema lançado por Maria Bethânia em 2009 no CD Tua), às vezes com dor (como em Armadilhas de um Romance), às vezes com saudade do êxtase fugaz da paixão (como em Saudade de Amar, música lançada por Nana Caymmi em 2001 no disco Desejo), mas quase sempre com a certeza de que vale a pena amar (como em Sem Poupar Coração, linda faixa-título do álbum lançado pela mesma Nana em 2009). No terreno amoroso, Dori tem se revelado inspirado compositor sem nunca patinar na lama sentimental em que se afundam a maior parte das canções do gênero. E seus registros autorais desses temas - feitos com doses altas de interiorização - valorizam este vasto Mundo de Dentro.

18 de abril de 2010 às 11:27  
Anonymous Anônimo said...

Esse é fera, e que voz!Pena que não tem o devido valor aqui no Brasil.

18 de abril de 2010 às 18:14  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, salvo engano, a expressão "em que pese" é invariável e não vai para o plural.

Abraço. Flávio

19 de abril de 2010 às 20:37  
Blogger rafael said...

Estou ansioso pelo cd, fiquei sabendo pelo blog da novidade, obrigado Mauro!

24 de abril de 2010 às 23:07  

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