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Resenha de ShowTítulo: Brasil Afora
Artista: Paralamas do Sucesso (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Canecão (RJ)
Data: 27 de junho de 2009
Cotação: * * * * 1/2
Calibrada com (ligeira) citação de Every Breath You Take, clássico do grupo inglês The Police, Vital e sua Moto é a música que encerra sintomaticamente o bis do novo show dos Paralamas do Sucesso, Brasil Afora. Sair de cena ao som de seu sucesso juvenil talvez tenha sido uma forma sutil de o trio carioca enfatizar para o público que o sol definitivamente voltou a brilhar para a banda. Brasil Afora, o CD lançado em fevereiro de 2009, apresentou repertório irregular, mas teve o mérito de trazer a banda de volta para sua rota pop, da qual ela se desviara em discos como o melancólico Longo Caminho (2002) por conta de questões extra-musicais. Brasil Afora, o show, é solar e acerta ao diluir o repertório do álbum que lhe inspirou (são apenas cinco músicas entre 27 números) no roteiro pontuado por hits de todas as fases dos Paralamas. Como a banda continua afiada (entrosamento já atestado em espetáculos anteriores), o resultado é show festivo, esplendidamente iluminado por Marcos Olívio com luz calorosa que valoriza e explora bem o pano costurado pelo cenógrafo Zé Carratu com figuras e símbolos que evocam e desenvolvem a arte gráfica do CD Brasil Afora. A combinação de luz e cenário é bela.
Dividem a cena com o trio o tecladista João Fera (já praticamente um quarto paralama), o saxofonista Monteiro Jr. e o trombonista Bidu Cordeiro. Os metais duplos garantem a pulsação explosiva de números como Dos Margaritas, O Beco e Bora Bora. Já os teclados de Fera enfeitam bem Ela Disse Adeus e Lanterna dos Afogados, entre outras músicas presentes na memória afetiva do público do trio. Mas o fato é que Herbert Vianna (voz e guitarra), João Barone (bateria) e Bi Ribeiro (baixo, tão discreto quando infalível) se bastam no palco. Essa salutar auto-suficiência fica clara quando os músicos convidados saem de cena para deixar o trio, sozinho, tocar O Calibre e Meu Erro. A propósito, o coro do público nessa balada da juventude exemplifica a comunhão que há entre Paralamas e seus fãs. Reafirmada no incendiário bloco final em que a banda dispara petardos do calibre de Lourinha Bombril, Alagados (momento catártico que culmina com Herbert puxando o refrão de Sociedade Alternativa, o hit-hino de Raul Seixas) e Uma Brasileira. Sem falar no bis que emenda Sonífera Ilha - efeito da turnê (ainda em trânsito) feita pelo trio com os Titãs - com Ska.
No palco, Brasil Afora desce azeitado do começo ao fim. Com direito a baladas (Romance Ideal, Cuide Bem de seu Amor, Caleidoscópio) e a um set acústico em que Mormaço (bom tema do disco novo) deságua no Rio Severino a bordo da corrente nordestina que irmana as músicas em cena. Entre a boa surpresa de ouvir Barone cantar O Vencedor (com interpretação que roça o registro feito pelo autor Marcelo Camelo em disco da banda Los Hermanos) e a constatação de que Quanto ao Tempo brilha mais como balada (tal como a música de Carlinhos Brown e Michael Sullivan foi gravada por Ivete Sangalo) do que na levada de reggae lhe imposta pelos Paralamas, Brasil Afora transita por estrada ensolarada que sinaliza que, no palco, o trio carioca sabe chegar logo ao seu destino sem tropeços na caminhada. Show impactante!