28 de junho de 2009

Paralamas seguem a rota certa em 'Brasil Afora'



Resenha de Show
Título: Brasil Afora
Artista: Paralamas do Sucesso (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Canecão (RJ)
Data: 27 de junho de 2009
Cotação: * * * * 1/2
Calibrada com (ligeira) citação de Every Breath You Take, clássico do grupo inglês The Police, Vital e sua Moto é a música que encerra sintomaticamente o bis do novo show dos Paralamas do Sucesso, Brasil Afora. Sair de cena ao som de seu sucesso juvenil talvez tenha sido uma forma sutil de o trio carioca enfatizar para o público que o sol definitivamente voltou a brilhar para a banda. Brasil Afora, o CD lançado em fevereiro de 2009, apresentou repertório irregular, mas teve o mérito de trazer a banda de volta para sua rota pop, da qual ela se desviara em discos como o melancólico Longo Caminho (2002) por conta de questões extra-musicais. Brasil Afora, o show, é solar e acerta ao diluir o repertório do álbum que lhe inspirou (são apenas cinco músicas entre 27 números) no roteiro pontuado por hits de todas as fases dos Paralamas. Como a banda continua afiada (entrosamento já atestado em espetáculos anteriores), o resultado é show festivo, esplendidamente iluminado por Marcos Olívio com luz calorosa que valoriza e explora bem o pano costurado pelo cenógrafo Zé Carratu com figuras e símbolos que evocam e desenvolvem a arte gráfica do CD Brasil Afora. A combinação de luz e cenário é bela.
Dividem a cena com o trio o tecladista João Fera (já praticamente um quarto paralama), o saxofonista Monteiro Jr. e o trombonista Bidu Cordeiro. Os metais duplos garantem a pulsação explosiva de números como Dos Margaritas, O Beco e Bora Bora. Já os teclados de Fera enfeitam bem Ela Disse Adeus e Lanterna dos Afogados, entre outras músicas presentes na memória afetiva do público do trio. Mas o fato é que Herbert Vianna (voz e guitarra), João Barone (bateria) e Bi Ribeiro (baixo, tão discreto quando infalível) se bastam no palco. Essa salutar auto-suficiência fica clara quando os músicos convidados saem de cena para deixar o trio, sozinho, tocar O Calibre e Meu Erro. A propósito, o coro do público nessa balada da juventude exemplifica a comunhão que há entre Paralamas e seus fãs. Reafirmada no incendiário bloco final em que a banda dispara petardos do calibre de Lourinha Bombril, Alagados (momento catártico que culmina com Herbert puxando o refrão de Sociedade Alternativa, o hit-hino de Raul Seixas) e Uma Brasileira. Sem falar no bis que emenda Sonífera Ilha - efeito da turnê (ainda em trânsito) feita pelo trio com os Titãs - com Ska.
No palco, Brasil Afora desce azeitado do começo ao fim. Com direito a baladas (Romance Ideal, Cuide Bem de seu Amor, Caleidoscópio) e a um set acústico em que Mormaço (bom tema do disco novo) deságua no Rio Severino a bordo da corrente nordestina que irmana as músicas em cena. Entre a boa surpresa de ouvir Barone cantar O Vencedor (com interpretação que roça o registro feito pelo autor Marcelo Camelo em disco da banda Los Hermanos) e a constatação de que Quanto ao Tempo brilha mais como balada (tal como a música de Carlinhos Brown e Michael Sullivan foi gravada por Ivete Sangalo) do que na levada de reggae lhe imposta pelos Paralamas, Brasil Afora transita por estrada ensolarada que sinaliza que, no palco, o trio carioca sabe chegar logo ao seu destino sem tropeços na caminhada. Show impactante!

10 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Resenha de Show
Título: Brasil Afora
Artista: Paralamas do Sucesso (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Canecão (RJ)
Data: 27 de junho de 2009
Cotação: * * * * 1/2
Calibrada com (ligeira) citação de Every Breath You Take, clássico do grupo inglês The Police, Vital e sua Moto é a música que encerra sintomaticamente o bis do novo show dos Paralamas do Sucesso, Brasil Afora. Sair de cena ao som de seu sucesso juvenil talvez tenha sido uma forma sutil de o trio carioca enfatizar para o público que o sol definitivamente voltou a brilhar para a banda. Brasil Afora, o CD lançado em fevereiro de 2009, apresentou repertório irregular, mas teve o mérito de trazer a banda de volta para sua rota pop, da qual ela se desviara em discos como o melancólico Longo Caminho (2002) por conta de questões extra-musicais. Brasil Afora, o show, é solar e acerta ao diluir o repertório do álbum que lhe inspirou (são apenas cinco músicas entre 27 números) no roteiro pontuado por hits de todas as fases dos Paralamas. Como a banda continua afiada (entrosamento já atestado em shows anteriores), o resultado é um show festivo, esplendidamente iluminado por Marcos Olívio com luz calorosa que valoriza e explora bem o pano costurado pelo cenógrafo Zé Carratu com figuras e símbolos que evocam e desenvolvem a arte gráfica do CD Brasil Afora. A combinação de luz e cenário é bela.
Dividem a cena com o trio o tecladista João Fera (já praticamente um quarto paralama), o saxofonista Monteiro Jr. e o trombonista Bidu Cordeiro. Os metais duplos garantem a pulsação explosiva de números como Dos Margaritas, O Beco e Bora Bora. Já os teclados de Fera enfeitam bem Ela Disse Adeus e Lanterna dos Afogados, entre outras músicas presentes na memória afetiva do público do trio. Mas o fato é que Herbert Vianna (voz e guitarra), João Barone (bateria) e Bi Ribeiro (baixo, tão discreto quando infalível) se bastam no palco. Essa salutar auto-suficiência fica clara quando os músicos convidados saem de cena para deixar o trio, sozinho, tocar O Calibre e Meu Erro. A propósito, o coro do público nessa balada da juventude exemplifica a comunhão que há entre Paralamas e seus fãs. Reafirmada no incendiário bloco final em que a banda dispara petardos do calibre de Lourinha Bombril, Alagados (momento catártico que culmina com Herbert puxando o refrão de Sociedade Alternativa, o hit-hino de Raul Seixas) e Uma Brasileira. Sem falar no bis que emenda Sonífera Ilha - efeito da turnê (ainda em trânsito) feita pelo trio com os Titãs - com Ska.
No palco, Brasil Afora desce azeitado do começo ao fim. Com direito a baladas (Romance Ideal, Cuide Bem de seu Amor, Caleidoscópio) e a um set acústico em que Mormaço (bom tema do disco novo) deságua no Rio Severino a bordo da corrente nordestina que irmana as músicas em cena. Entre a boa surpresa de ouvir Barone cantar O Vencedor (com interpretação que roça o registro feito pelo autor Marcelo Camelo em disco da banda Los Hermanos) e a constatação de que Quanto ao Tempo brilha mais como balada (tal como a música de Carlinhos Brown e Michael Sullivan foi gravada por Ivete Sangalo) do que na levada de reggae lhe imposta pelos Paralamas, Brasil Afora transita por estrada ensolarada que sinaliza que, no palco, o trio carioca sabe chegar logo ao seu destino sem tropeços na caminhada. Show impactante!

28 de junho de 2009 às 16:51  
Blogger Universo Tranquilo said...

Olá amigo, gostei muito do seu blog. Opiniões interessantes. Gostaria que ouvisse o disco que estou lançando. Uma crítica de alguém que entende tanto de música e tem um repertório tão diversificado seria muito interessante.

Procurei um email mas não achei. Vou enviar o link por aqui:

www.palcomp3.com.br/zuzazapata

28 de junho de 2009 às 17:17  
Anonymous Anônimo said...

Vi os dois de São Paulo. Bom para chuchu.

Finalmente, conseguiram chegar a uma fórmula de manter o peso dos shows de "Longo Caminho" e "Hoje", mas num ambiente mais alegre - que é como o público se acostumou a ver a banda.

Tive poucas reservas ao show. Não gostei muito do arranjo acústico para "O Rio Severino" e "Uns Dias". Mas isso sai na urina diante do que esses caras são.

Felipe dos Santos Souza

PS: Barone cantando ficou bo-ni-ti-nho.

28 de junho de 2009 às 18:23  
Anonymous Anônimo said...

A voz do Barone é muito parecida com a do Marcelo Camelo!

O show foi mesmo uma delícia, do início ao fim.

Dá-lhe Paralamas. É um privilégio ter este show em cartaz na minha cidade.

Abraço.

29 de junho de 2009 às 10:24  
Blogger Márcio said...

É bom saber que Barone está cantando neste show. O acidente não afetou a técnica de Herbert na guitarra, mas a voz dele, que já tinha limitações naturais, nunca mais foi a mesma. Quem sabe agora, dividindo os vocais com o baterista, tudo não se reequilibra?

29 de junho de 2009 às 14:23  
Anonymous Anônimo said...

Mesmo antes do lamentável acidente Herbert não era bom cantor, aliás, da geração POP/ROCK não temos nenhum bom cantor ou cantora.
Mas sua "marca" basta. Alguém consegue imaginar "Vital e sua Moto"; "Meu erro" ou "Alagados" sem a "marca" ?
E a geração citada aí muito pouco ou quase nada usaram de coro vocal.
Na nova ainda se acha um Rogério Flausino do J.Q. por exemplo mas é raro e não é o principal.

29 de junho de 2009 às 18:55  
Anonymous Anônimo said...

Para mim nunca faltou equilíbrio aos Paralamas - muito pelo contrário. Coerentes e eficientes.
E lá se vão quase 30 anos...

29 de junho de 2009 às 19:13  
Anonymous Anônimo said...

PARALAMAS, BARÃO, TITÃS, KID ABELHA, LULU SANTOS, BLITZ, ULTRAJE... cresci nessa abençoada geração.
Mas Os Paralamas tem um diferencial como você citou nas entrelinhas aí, Mauro. Sabem misturar qualquer gênero de nossa rica MPB com o POP/ROCK tradicional. E ACERTAM!

29 de junho de 2009 às 20:51  
Anonymous Anônimo said...

Caro Mauro Ferreira,

Como você está sempre no nosso terreiro, venho aqui no seu para comentar alguns pontos de vista sobre nosso trabalho. Acho interessante seu mote de "falar racionalmente sobre a mais emocional das artes". Só acho que as vezes, alguma coisa pode se perder nesse processo, pois a sensibilidade escapa ao racional. Talvez seja isso que dá um certo tom absolutoe cartesiano em suas crônicas sobre álbuns e shows. No caso do nosso novo show, achei que sintetizou muito bem tudo o que viu. Ao mesmo tempo, acho que ficou contraditória sua crítica ao nosso novo trabalho, Brasil afora, em relação ao show da turnê que se inicia. Deixamos de lado o epertório do novo álbum? Caramba! incluir cinco temas novos num show é coisa que nunca fizemos antes em nossos 27 anos de estrada... O show é bom e "solar" (adjetivo que nosso novo álbum recebeu com unanimidade) porque deixamos de lado o repertório novo? Bem, se assim acha... Fica aqui a contradição que percebi. Mas a vida é asim, cheia de contradições. Falando nisso, nossa música expressa a nossa vivência, nossas experiências de vida, por isso em alumas horas parecemos soturnos, como em Longo caminho, primeiro álbum depois que o Herbert se recuperava de "causas extramusicais"... outras horas, parecemos mais com nós mesmos, como estão falando tanto agora. Ah, vocÊ pode preferir a versão de Quanto ao tempo da Ivete, mas nós gravamos a nossa primeiro e não acho o caso de ser melhor ou pior, mas ser diferente. E viva a diferença! Mauro, canceriano que é, espero ver mais sensibilidade que racionalidade expressa em suas críricas, pois música é feeling, e isso é um fato definitivo. Se existe uma arte longe do cartesianismo, esta é a música.

Um abraço!

João Barone

30 de junho de 2009 às 14:36  
Anonymous Anônimo said...

Caro Barone,

A música de vocês é eterna e não tem "gênero". Muita gente estranhou e torceu o nariz quando os "três mosqueteiros" começaram a "inventar", principalmente a partir de "Os Grãos".
É claro que também estranhei mas não torci nada, a não ser a favor.
Diversidade não é necessário, como muitos aqui afirmam, mas é prova de competência quando o artista opta por ela e sempre acerta. Do POP descompromissado à "música sem gênero" cheia de misturas e "mensagens" mais sérias: parabéns para a beleza, o talento, a coragem, a união e a fidelidade de vocês. SOU FÃ, MAS NÃO SOU CEGO E NEM APAREÇO AQUI PARA PUXAR O SACO OU PUXAR O TAPETE DE NINGUÉM.
Sou justo e a minha justiça e admiração vocês têm.

30 de junho de 2009 às 19:42  

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