Resenha de showTítulo: Fito PaezArtista: Fito Paez (com Ana Cañas, Herbert Vianna,Milton Nascimento e Vanessa da Mata)Local: Canecão (RJ)Data: 11 de setembro de 2008Cotação: * * * * Ao lado das obras de Charly García e do grupo Soda Stereo, o cancioneiro de Fito Paez é uma das mais perfeitas traduções do pop rock da Argentina. Projetado no início dos anos 80, Fito volta e meia atravessou a fronteira que separa a música argentina da MPB. Na noite de quinta-feira, 11 de setembro de 2008, o artista reergueu a ponte que liga os dois países em show no Canecão (RJ) que contou com intervenções de Ana Cañas, Herbert Vianna, Milton Nascimento e Vanessa da Mata. A sós com seu piano, Fito desfiou durante duas horas canções e rocks que expuseram sua veia poética - ora ácida, ora lírica. Saiu de cena ovacionado e tendo seu nome gritado pela platéia que conhecia bem os versos de composições como
Un Vestido y un Amor e, claro,
Mariposa Tecknicolor, um de seus maiores hits - pedido aos berros pelos fãs.
Logo no começo, uma versão bilingüe de
Vaca Profana (Caetano Veloso, 1984) mostrou a razoável intimidade do cantor com o português. Mas o publico estava ali para ouvir o cancioneiro do próprio Fito. E ele não decepcionou seus fãs, apresentando roteiro turbinado com sucessos antigos, muitos da década de 80, caso de
11 y 6, carro-chefe de seu álbum
Giros (1985). Ainda que um dos grandes momentos da noite tenha sido a balada
El Cuarto de al Lado, extraída de seu álbum mais recente,
Rodolfo (2007). A letra sensível da canção foi exposta no telão, em belo efeito visual.
Após cantar
Cable a Tierra, Fito chamou ao palco do Canecão o primeiro convidado da noite, Herbert Vianna, com o qual já dialoga musicalmente desde os anos 90 através do grupo Paralamas do Sucesso. Com Herbert munido de sua guitarra, Fito engatou dueto bilingüe em
Trac Trac (faixa do álbum
Os Grãos, de 1991) e, com mais peso, uma parceria de ambos,
El Vampiro Bajo el Sol, do disco
Severino (1994). Mas peso mesmo teve no registro
heavy de
Ciudad de Pobres Corazones, quando Herbert voltou ao palco e Fito saiu do piano para tocar guitarra, já no fim do show, então já impregnado de uma atmosfera roqueira por conta de números afiados como
A Rodar mi Vida, trunfo do autor.
Depois de Fito apresentar
Ambar Violeta,
Un Vestido y un Amor (com coro espontâneo da platéia) e o estilizado tango
Tumbas de la Gloria, foi a vez de Vanessa da Mata entrar em cena. Dividindo o banco do piano com o embevecido anfitrião, ela cantou a balada
Amado (com Fito ao piano e, no final, arriscando uns vocais) e mostrou evolução como intérprete ao entoar
Tres Agujas (número que terminou de pé, vocalizando com suingue latino) e
Desde que o Samba É Samba, o hit (deslocado) de Caetano Veloso.
Na seqüência,
Al Lado del Camino,
Detrás del Muro de los Lamentos e a roqueira
La rueda Mágica esquentaram o público e o prepararam para a entrada de Ana Cañas, que, na contramão da intensidade imprimida por Fito ao roteiro desde o início do show, arriscou seu registro
cool de
Coração Vagabundo, a música do recorrente Caetano que gravou em seu primeiro CD. Cañas errou a mão no figurino, na maquiagem e no estilo norte-americano de canto que deslocou do eixo latino seus dois próximos números,
Fue Amor e
A Rodar mi Vida, outro tema de tom roqueiro. No bis, uma entrada majestosa de Milton Nascimento, em
Yo Vengo a Ofrecer mi Corazón, preparou o
gran finale (com
Brillante sobre el Mic e
Mariposa Tecknicolor) de uma noite memorável que teve imagens captadas por Fito para inclusão em DVD a ser editado até o final de 2008. O pop rock argentino e a MPB reestreitaram laços.