31 de janeiro de 2009

A baiana Sandra Simões faz samba fora da roda

Resenha de Show
Título: Comigo Ninguém Pode
Artista: Sandra Simões (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Sesc-Senac Pelourinho (Salvador, BA)
Data: 30 de janeiro de 2009
Cotação: * * 1/2
Em cartaz às sextas-feiras, às 20h, até 13 de fevereiro de 2009

Sandra Simões é cantora baiana que transita na cena alternativa de Salvador (BA). Após abordar o repertório de Caetano Veloso em alguns shows, a intérprete resolveu "pegar emprestado um ar de bamba" - como ela mesma diz em cena, caracterizada com o chapéu de malandro que ajuda a dar credibilidade à nova persona artística - e a investir no samba. Comigo Ninguém Pode é seu primeiro show dedicado ao gênero. O samba que dá título ao show é da lavra própria de Simões e se sustenta num refrão vivaz, mas, a julgar pela safra autoral da artista, é melhor que ela se dedique ao ofício de intérprete. Mesmo sem ter uma assinatura pessoal no canto ou uma voz especialmente marcante, Simões dá conta do recado auxiliada pela atmosfera agradável da arena - situada ao ar livre - do Teatro Sesc-Senac Pelourinho, no Centro Histórico de Salvador. Na companhia de um septeto, a cantora desfia clássicos do samba fora da roda baiana - ainda que Ilha de Maré, um dos números finais, tenha a cadência manemolente do samba do Recôncavo. Na geografia popular, o samba cantado por Sandra Simões tende a ter um tom carioca. E a inclusão de instrumentos como tan-tan e repique de mão no arsenal percussivo da banda somente reforça o clima de pagode que toma conta da arena quando a intérprete entoa sambas como Argumento, ...E o Mundo Não se Acabou e Aquarela Brasileira. Como também é atriz, a artista volta e meia exibe um gestual teatral em sambas como Saudosa Maloca. Surpreendentemente, um dos números em tese mais difíceis - O Bebâdo e a Equilibrista - está entre os que surtem maior efeito na platéia. Esforçada na tarefa de animar seu público, Simões esboça um tom vibrante em Disritmia e explora bem as possibilidades de Alô, Fevereiro! - o samba de Sidney Miller que Roberta Sá recolocou na roda. No todo, o show é simpático. Com bons sambas, intérpretes razoáveis podem fazer bons espetáculos.

Samba, choro e reggae na 'Canibália' de Daniela

Choro de Zequinha de Abreu (1880 - 1935), lançado em disco em 1931 e popularizado por Carmen Miranda (1909 - 1955) nos Estados Unidos nos anos 40, Tico-Tico no Fubá ganha releitura eletrônica de Daniela Mercury (em foto de Michel Rey) no álbum que a cantora baiana prepara para lançar em 2009 e que, por ora, é intitulado Canibália. Celebrando o centenário de nascimento da Pequena Notável, Daniela vai regravar um outro sucesso de Carmen, o samba O que É que a Baiana Tem? - da lavra de Dorival Caymmi (1914 - 2008). A idéia de Daniela é convidar o guitarrista Sérgio Dias Baptista, do grupo Os Mutantes, para tocar na faixa, repetindo no disco o dueto feito na festa do Grammy Latino, em São Paulo (SP), em setembro de 2008. Entre as músicas inéditas e autorais, Canibália vai trazer o reggae Sol do Sul - composto por Daniela em Londres, em parceria com seu filho, Gabriel Póvoas - e o tema afro-pop Oyá por Nós, feito com a conterrânea Margareth Menezes e já gravado por Daniela na temporada pré-carnavalesca.

'Best of' de Ribeiro não dá crédito a Clementina

Gravadora que herdou a parte mais expressiva da discografia de Roberto Ribeiro (1940 - 1996), a EMI Music está lançando mais uma coletânea do artista. Meu Drama é compilação dupla cujo repertório - selecionado por Ricardo Moreira sob a coordenação de Luiz Garcia - oferece bom painel da arte deste cantor que priorizou o samba em sua obra fonográfica. Infelizmente, uma omissão nos créditos do repertório depõe contra o lançamento. Entre os 28 fonogramas da coletânea, Moreira incluiu Cocorocó, samba gravado por Ribeiro em dueto com Clementina de Jesus (1901 - 1987) para o LP Clementina e Convidados, editado em 1979 pela extinta Odeon (incorporada pela EMI). Só que a faixa não dá crédito à voz de Clementina. Não há qualquer referência ao nome de Clementina na contrapaca e no encarte do disco. É grave!

Favorito global, Lenine segue caminho da Índias

Lenine - à direita num clique de Nana Moraes - emplacou duas faixas de seu álbum Labiata em duas consecutivas novelas das oito da Rede Globo de Televisão. Depois de ter tido a balada É o que me Interessa muito veiculada na fase inicial de A Favorita, é a vez de Martelo Bigorna ser propagada em diversas cenas da nova trama global, Caminho das Índias. Nas lojas em fevereiro de 2009, o CD com a trilha sonora nacional da história de Glória Perez inclui gravações de Nando Reis (Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás, sucesso de Raul Seixas), Pitty (Memórias), Emílio Santiago (Lembra de mim), Nana Caymmi (Não se Esqueça de mim, em dueto com Erasmo Carlos), Skank (Pára-Raio), Gonzaguinha (Feliz, o carro-chefe do álbum lançado pelo saudoso cantor em 1983), Zélia Duncan (Alma, na gravação original de 2001), Gilberto Gil (Vamos Fugir, no registro original de 1984), Paula Toller (Nada por mim), Marcelo D2 (Ela Disse), Zé Ramalho (O Vento Vai Responder, versão de Blowin' in the Wind, de Bob Dylan) e Zeca Pagodinho (Uma Prova de Amor), entre outros nomes. Haverá trilha somente com músicas indianas.

Paralamas celebram João Pessoa com Ramalho

No álbum de inéditas que lança em fevereiro de 2009, Brasil Afora, o trio carioca Os Paralamas do Sucesso celebra a cidade de João Pessoa - capital do Estado da Paraíba - na música Mormaço. A faixa conta com a participação especial de Zé Ramalho, que, no começo da carreira, chegou a se chamar Zé Ramalho da Paraíba em alusão ao seu Estado natal. A homenagem faz sentido porque, embora radicado no Rio de Janeiro (RJ), o vocalista, guitarrista e líder do grupo - Herbert Vianna - veio ao mundo em João Pessoa.

30 de janeiro de 2009

Ivete atribui à crise adiamento de DVD nos EUA

Ivete Sangalo adiou para 2010 a gravação de seu DVD no Madison Square Garden, em Nova York (EUA) - prevista inicialmente para o segundo semestre de 2009. A informação foi dada pela própria cantora em entrevista concedida aos jornalistas que cobrem o Festival de Verão 2009, em cartaz em Salvador (BA) até sábado, 31 de janeiro (a propósito, na foto de Eduardo Freire, a cantora é flagrada em momento teatral de sua apresentação no festival). Apesar de o argumento usado para justificar o adiamento ter sido a crise, a provável causa da mudança no cronograma é o fato de Ivete já ter aprontado um CD e DVD gravados em seu estúdio caseiro, na Bahia, com a participação de diversos convidados. Intitulado Pode Entrar, este projeto tem lançamento previsto pela gravadora Universal Music já para o primeiro semestre de 2009. Gravar outro DVD ainda este ano iria atrapalhar a agenda promocional de Pode Entrar. Mas a gravação em NY está de pé.

Danilo reúne Menescal, Nucci e Renato em DVD

Cabe à gravadora Rob Digital lançar, em abril de 2009, o primeiro DVD solo de Danilo Caymmi. Gravado em estúdio, com apoio do Canal Brasil, o DVD registra os encontros do cantor com Roberto Menescal (em Nada a Perder), Fafá de Belém (no fado Mãos Antigas) e os dois principais vocalistas originais do quarteto carioca Boca Livre, Cláudio Nucci e Zé Renato, que participam das faixas Nossa Dança e A Vizinha do Lado. Danilo também recebe sua filha, Alice Caymmi, que começa a dar os primeiros passos como cantora. O irmão de Danilo, Dori, também marca presença afetiva.

Iluminado, Ney seduz com show 'Beijo Bandido'

Resenha de Show
Título: Beijo Bandido
Artista: Ney Matogrosso (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Tom Jobim (RJ)
Data: 29 de janeiro de 2009
Cotação: * * * * *
Ney Matogrosso já provou que, com ou sem fantasia, ele canta em qualquer canto. Ainda assim, a feliz platéia que assistiu à única apresentação carioca do novo show do cantor - Beijo Bandido, idealizado para abrir o projeto Shows de Verão do Teatro Tom Jobim, situado no Jardim Botânico (RJ) - se surpreendeu ao deparar com um cantor em total estado de graça que parece não sentir no corpo e tampouco na voz o peso de seus 67 anos. A voz está em inteira. Assim como a atitude, perceptível logo quando o cantor entra em cena, de terno e cara limpa, para reviver o Tango pra Teresa, sucesso nos anos 70 da cantora Ângela Maria, cujo repertório Ney - aliás - já abordou no CD Estava Escrito (1994).
Beijo Bandido evoca show antológico da carreira do intérprete, Pescador de Pérolas, pela ambiência camerística, moldada para teatros. Em cena, sob a firme direção musical do pianista Leandro Braga, Ney desfia um rosário de pérolas adornadas ora pelo violoncelo de Lui Coimbra, ora pelo violino de Ricardo Amado, ora pela percussão de Felipe Rosseno. O saboroso repertório é inclassificável como o intérprete, que incursiona pela música brasileira mais quadrada - em números como os sambas-canções Segredo (1947) e De Cigarro em Cigarro (1953) - com o mesmo rigor estilístico com que se conecta a compositores da cena alternativa. Caso de Vitor Ramil, de quem Ney canta Invento, cuja letra originou o título Beijo Bandido, nome que, por sua vez, remete aos títulos (Pecado, Bandido, Feitiço) dos provocantes discos-shows feitos pelo cantor na década de 70. Jogo de sedução.
A atmosfera de sedução está presente na linguagem corporal do cantor. Mas impressiona menos do que a forma vocal estupenda. Não é tarefa fácil arrebatar uma platéia cantando Fascinação, música indissociável da voz imortal de Elis Regina (1945 - 1982) na memória popular. Mas Ney arrebata da mesma forma que extasia o público ao interpretar o choro-canção Doce de Coco com os versos postos por Hermínio Bello de Carvalho na melodia de Jacob do Bandolim (1918 - 1969). No seu canto, uma balada da lavra mais romântica de Roberto Carlos (A Distância, 1972) adquire a mesma nobreza de uma parceria de Chico Buarque com Edu Lobo (A Bela e a Fera, 1983, da trilha do balé O Grande Circo Místico). É que Ney parece saborear cada verso que canta.
O roteiro se desenrola numa espiral de surpresas. Vinicius de Moraes (1913 - 1980) é lembrado com Medo de Amar e, no bis, com Poema dos Olhos da Amada. Ney revisita também Veleiros (Heitor Villa-Lobos e Dora Vasconcellos) e Tema de Amor de Gabriela (Tom Jobim), duas músicas de O Cair da Tarde (1997), o belo álbum em que o cantor entrelaçou os cancioneiros de Villa-Lobos (1887 - 1959) e Tom Jobim (1927 - 1994) sem obter a merecida repercussão. No fim, Bicho de Sete Cabeças e As Ilhas - parceria de Astor Piazolla com Geraldo Carneiro, gravada por Ney no início de sua carreira solo, em 1975 - arrematam o roteiro com a mesma forte atitude inicial. Em As Ilhas, em especial, a banda consegue sugerir no arranjo o tom sombrio da letra de Carneiro. No bis, um registro vigoroso de Mulher sem Razão - a parceria de Dé Palmeira, Cazuza (1958 - 1990) e Bebel Gilberto que Adriana Calcanhotto fez emergir em seu álbum Maré (2008) - encerra Beijo Bandido e deixa na platéia a certeza de ter presenciado um show magistral e arrebatador. Que certamente vai voltar à cena...

29 de janeiro de 2009

Ney pesca pérolas em show que deve virar DVD

Paralelamente à turnê do show Inclassificáveis, que ainda vai continuar rodando o Brasil ao longo de 2009, Ney Matogrosso estreou espetáculo inédito, Beijo Bandido, na abertura do projeto Shows de Verão do Teatro Tom Jobim, na noite desta quinta-feira, 29 de janeiro de 2009. De cara limpa, em magistral forma vocal, o cantor (em foto de Mauro Ferreira) apresentou recital irretocável que, pela atmosfera camerística, lembrou os shows Pescador de Pérolas (1987) e À Flor da Pele (1990). O título Beijo Bandido foi inspirado na letra de Invento, música do compositor gaúcho Vitor Ramil, uma das pérolas do repertório. Diante da extraordinária receptividade obtida pelo show, já há articulações nos bastidores da indústria fonográfica para que o espetáculo seja registrado em CD e DVD. Eis o (impecável) roteiro:
1. Tango pra Teresa (Jair Amorim e Evaldo Gouveia)
2. Segredo (Herivelto Martins e Marino Pinto)
3. Fascinação (F. D. Marchetti e M. de Feraudy
- Versão de Armando Louzada)
4. Invento (Vitor Ramil)
5. De Cigarro em Cigarro (Luiz Bonfá)
6. A Bela e a Fera (Chico Buarque e Edu Lobo)
7. A Distância (Roberto Carlos e Erasmo Carlos)
8. Tema de Amor de Gabriela (Tom Jobim)
9. Veleiros (Heitor Villa-Lobos e Dora Vasconcellos)
10. Doce de Coco (Jacob do Bandolim e Hermínio Bello
de Carvalho)
11. Medo de Amar (Vinicius de Moraes)
12. Bicho de Sete Cabeças (Geraldo Azevedo)
13. As Ilhas (Astor Piazzolla e Geraldo Carneiro)
Bis:
14. Poema dos Olhos da Amada (Vinicius de Moraes)
15 Mulher sem Razão (Cazuza, Dé e Bebel Gilberto)

'Antes de Você' é single inicial do CD dos Titãs

Antes de Você é a música eleita para dar o pontapé inicial na promoção do álbum de inéditas que o grupo Titãs vai lançar no primeiro semestre de 2009. Em fase final de produção, o disco foi pilotado por Rick Bonadio (visto de camisa branca na foto tirada durante o brinde que festejou a ida do quinteto para a gravadora Arsenal Music). A faixa já está garantida na trilha sonora nacional da próxima novela das 19h da Rede Globo, Caras & Bocas. O CD é o primeiro trabalho de inéditas dos Titãs desde 2003. A conferir.

Peyroux interpreta onze temas em 'Bare Bones'

Quarto álbum de Madeleine Peyroux, Bare Bones (capa acima) tem lançamento confirmado para 10 de março de 2009. O CD foi produzido por Larry Klein, assim como Careless Love (2004) e Half the Perfect World (2006) - os dois álbuns que deram projeção mundial à cantora norte-americana. Eis, na ordem, as onze faixas de Bare Bones, algumas da lavra da própria Peyroux:
1. Instead
2. Bare Bones
3. Damn the Circumstances
4. River of Tears
5. You Can't Do Me
6. Love and Treachery
7. Our Lady of Pigalle
8. Homeless Happiness
9. To Love You All Over Again
10. I Must Be Saved
11. Somethin' Grand

Daniela grava clipe com 'Maga' em show inédito

Daniela Mercury aproveitou a participação de Margareth Menezes em seu inédito show Afro-Eletrônico - uma das atrações da noite de abertura do Festival de Verão de Salvador, em 28 de janeiro de 2009 - para gravar o clipe de Oyá por Nós, a música que compôs com Maga e que já gravou para a temporada pré-carnavalesca. Além da nova Oyá por Nós, Daniela e Margareth cantaram juntas Maimbê Dandá e Faraó Divindade do Egito. A foto que flagra o duo das artistas no show Afro-Eletrônico é de Eduardo Freire. O festival vai até sábado, 31 de janeiro de 2009, dia em que se apresenta em Salvador a cantora Alanis Morissette.

28 de janeiro de 2009

Martinho faz duo com Ana para trilha de filme

Samba recente lançado por Martinho da Vila em 2008 no CD e DVD O Pequeno Burguês, Filosofia de Vida ganhou regravação de Ana Carolina com aval do compositor. O registro foi feito no estúdio da gravadora MZA Music para a trilha do documentário batizado com o nome do samba. O filme, que vai ser lançado ainda em 2009, conta a vida do compositor com a direção musical de Marco Mazzola - produtor dos últimos álbuns de Martinho da Vila.

Dead Fish libera duas faixas do novo CD na rede

Antes de lançar seu sexto álbum (de inéditas), Contra Todos, no MySpace a partir de 9 de fevereiro de 2009, o grupo capixaba Dead Fish está liberando duas músicas - Autonomia e Venceremos - para audição na internet em ação promocional viabilizada no site da gravadora Deckdisc. Produzido por Rafael Ramos, Contra Todos é o primeiro álbum do Dead Fish feito sem o guitarrista Hóspede - que deixou a banda após o lançamento do CD anterior, Um Homem Só (2006) - e o último que conta com o baterista Nô, que se desligou da banda após a gravação do novo álbum. O repertório de Contra Todos traz 14 músicas inéditas. Entre elas, Armadilhas Verbais, Asfalto, Descartáveis, O Melhor Exemplo do que Não Seguir, Shark Attack - cantada em inglês - e a faixa-título.

No palco, Maciel sustenta canções com leveza

Resenha de Show
Título: Dez Canções
Artista: Adriana Maciel (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Centro Cultural Carioca (RJ)
Data: 27 de janeiro de 2009
Cotação: * * *

Lançado discretamente em novembro de 2008, o quarto CD de Adriana Maciel, Dez Canções, se impôs pela delicada moldura com que a cantora, em tom íntimo, adornou as dez canções que formaram repertório fiel ao universo musical da intérprete. No show calcado no disco, apresentado no Centro Cultural Carioca na noite de terça-feira, 27 de janeiro de 2009, Maciel obviamente combina a dezena de canções do título - na qual se destaca Perto do Coração Selvagem, lindo tema de Vitor Ramil, compositor recorrente na discografia da artista - com músicas de seus três álbuns anteriores. Do último, Poeira Leve (2004), a cantora pescou um samba-canção de Dorival Caymmi (1914 - 2008), Nem Eu, emendado com tema sinuoso de Björk, It's Oh so Quiet, em ousado link de roteiro aberto e fechado com canções de Ramil, Cão (Like a Dog) e Grama Verde, respectivamente. E Ramil é dez!!
Em cena, Adriana Maciel se vale da presença de músicos tarimbados como o percussionista Marcos Suzano e de jovens talentos, como o guitarrista Bernardo Bosisio (produtor do CD Dez Canções ao lado de Chico Neves), para reproduzir no palco a leveza que sustenta suas interpretações. Instrumentos pouco usuais, como o alaúde, ajudam a moldar o tempo da delicadeza. Não é tarefa fácil. Em alguns números, como Sertão (Caetano Veloso e Moreno Veloso), a cantora roça a beleza do registro fonográfico. Em outros, como Fórmica Blue (de Vitor Ramil com Luciano Melo), a emissão da intérprete embaça a letra deste tema pautado pela estranheza (ciente de que não foi bem, Maciel repete a música no bis com maior clareza). Mais para o fim, a intérprete experimenta registros menos íntimos em músicas como Menos de Doer, Mais de Doar - parceria de Chico César com Carlos Careqa, gravada em seu segundo CD, Sozinha Minha (2000). O recurso faz aumentar a temperatura cênica - ainda que a beleza do show resida justamente na suavidade e na sua atmosfera cool. No todo, a apresentação resulta interessante e confirma o talento de artista que vem construindo discografia coesa que ainda há de merecer mais atenção do público. Adriana Maciel tem seu tempo próprio...

Vendas de 'Rei' e Caetano dão a medida da crise

Embora respeitáveis diante do quadro de crise que somente vem se agravando ao longo dos últimos anos, as vendas do CD e DVD Roberto Carlos e Caetano Veloso e a Música de Tom Jobim - 155.446 e 116.016, respectivamente - dão a medida atual do mercado fonográfico brasileiro. Afinal, trata-se de um projeto que reuniu a força de dois grandes artistas - ambos com vendas garantidas entre seus públicos fiéis - e que contou com intensa campanha publicitária na mídia impressa, na televisão e na rua (com anúncios em pontos de ônibus). É, realmente, grave a crise...

27 de janeiro de 2009

Killers vai de Rod a Genesis em disco de 'covers'

Nem bem lançou seu terceiro álbum (Day & Age, nas lojas desde 25 de novembro de 2008), o grupo norte-americano The Killers já anunciou que seu próximo disco vai ser de covers. O CD vai ser gravado na estrada, ao longo da turnê mundial feita pela banda para promover Day & Age. A seleção de covers inclui músicas de Rod Stewart, Tom Waits e do grupo Genesis - entre outros artistas.

Coleção de 10 CDs celebra 50 anos da Motown

À venda por ora somente nas seções de importados, a caixa The Complete Motown # 1s celebra os 50 anos da gravadora Motown - completados em 2009 - com a embalagem de 191 fonogramas originais da companhia que atingiram o topo das paradas. Como bônus, há dez faixas-bônus com covers desses hits que também chegaram ao primeiro lugar nas paradas. Fundada por Berry Gordy Jr. em 14 de dezembro de 1959, na cidade de Detroit (Michigan, EUA), a Motown foi o berço do soul e do r & b dos anos 60. Seus discos tinham uma batida característica, logo identificada como o som da motown. A gravadora lançou nomes como The Temptations, Marvin Gaye (1939 - 1984), Diana Ross (como integrante do trio The Supremes), Stevie Wonder, Lionel Richie, The Jackson Five (conjunto no qual despontou Michael Jackson) e Gladys Knight & The Pips - entre muitas outras estrelas.

Álbum duplo compila raridades de Buddy Holly

A gravadora Geffen lançou nos Estados Unidos nesta terça-feira, 27 de janeiro de 2009, álbum duplo com raridades de Buddy Holly (1936 - 1959). Editado em formato digipack, Down the Line - Rarities (veja capa à direita) reúne 59 gravações deste cantor e hábil guitarrista que, a despeito do visual nerd, soube dar já nos anos 50 tempero pop ao então nascente rock'n'roll. O repertório se repete ao longo dos dois CDs, que enfileiram takes alternativos de músicas como Think It Over, That'll Be the Day, Gone, Fool's Paradise, Have Your Ever Been Lonely? e Peggy Sue, entre outros fonogramas deste pioneiro cantor de aura lendária, morto em 3 de fevereiro de 1959, aos 22 anos, num acidente de avião. Por ora, não há plano para edição de Down the Line - Rarities no Brasil.

Nem clima de luau justifica acústico da Cheiro

Resenha de CD / DVD
Título: Cheiro de
Amor Acústico
Artista: Cheiro de Amor
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * 1/2

Ritmo calcado no baticum afro-baiano, a axé music é acústica por natureza. O tom acústico deste novo registro de show da banda Cheiro de Amor é dado mais pelo clima intimista da gravação, que evoca um luau à beira da orla baiana, do que pela sonoridade propriamente dita. Em palco armado no Forte São Marcelo em 2 e 13 de julho de 2008, tendo a Baía de Todos os Santos como cenário natural, a vocalista Alinne Rosa requenta hits da primeira fase da banda (com Márcia Freire nos vocais) como Doce Obsessão, Canto ao Pescador e Auê. Não contente em remoer os sucessos da fase áurea em que rivalizava com a Banda Eva, a Cheiro de Amor une axé e pop em mistura aguada. É nesse contexto que entram convidados como Daniela Mercury, Jorge Vercillo e o grupo Biquini Cavadão. Daniela e Alinne fazem jogo de sedução enquanto revivem Uma Noite e 1/2, hit radiofônico de Marina Lima em 1987. O mais ousado lance desse jogo erótico é um beijo na boca entre as cantoras, noticiado com alarde por jornais e revistas populares na época da gravação. Nem tão à vontade, mas também descontraído, Jorge Vercillo faz o que pode em Fácil de Entender, mas não impede seu reggae de morrer na praia. Já a Janaína do Biquini Cavadão soa totalmente deslocada naquele cenário paradisíaco em meio a roteiro que abre espaço para a participação nada especial do onipresente Durval Lelys, convidado de Poeira Cristalina. Enfim, apesar da tentativa válida de renovar o tom dos registros de shows de axé, o Acústico da Cheiro de Amor não faz jus ao histórico de uma banda que marcou época na cena pop baiana dos anos 90. É hora de voltar às origens.

26 de janeiro de 2009

Michael avaliza recriação de Thriller para teatro

Com aval de Michael Jackson, vai virar um musical de teatro a história de terror contada nos 14 minutos no clipe de Thriller, a faixa-título do histórico álbum lançado pelo artista em 1982. De estética pioneira, o vídeo foi filmado em 1983 com direção do cineasta John Landis. A idéia é que a trama desenvolvida no musical a partir da narrativa do vídeo seja contada ao som de composições dos álbuns Off The Wall (1979) e Thriller (1982).

Quarto álbum do Strokes começa a ser gestado

Embora o baterista Fabrizio Moretti esteja às voltas com longa turnê que promove o primeiro álbum do trio Little Joy, do qual participa ao lado de hermano Rodrigo Amarante, os demais integrantes do grupo The Strokes - em especial, o vocalista Julian Casablancas e o guitarrista Nick Valensi - começaram a compor o repertório do quarto álbum da banda. A previsão é que o quinteto norte-americano entre em estúdio em fevereiro de 2009 para começar a formatar o sucessor de First Impressions of Earth (2006). O novo álbum do Strokes vai ser editado ao longo do ano.

Rapper Lil Wayne finaliza disco de tom roqueiro

Artista que lidera a lista de indicados ao 51º Grammy Awards por conta de seu álbum Tha Carter III, com oito nomeações (a maioria em categorias dedicadas ao universo do hip hop), o rapper norte-americano Lil Wayne finaliza álbum de tom mais roqueiro. Intitulado Rebirth, o disco tem seu lançamento agendado para abril de 2009 pela Universal Music. Contudo, o primeiro single do álbum, Prom Queen, já vai ser disponibilizado para audição a partir de terça-feira, 27 de janeiro, na página de Wayne no MySpace. A conferir...

Bruce volta mais esperançoso do que inspirado

Resenha de CD
Título: Working
on a Dream
Artista: Bruce
Springsteen
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * *

Em seu estupendo álbum anterior, Magic, gravado com a fiel E-Street Band em 2007, Bruce Springsteen exalou desesperança que traduzia também sua desilução com a gestão dos Estados Unidos por George W. Bush. Dedicado cabo eleitoral de Barack Obama, Springsteen sonha o mesmo sonho do novo presidente dos EUA com a autoridade de quem sempre deu voz em sua música aos que historicamente vem sendo banidos desse sonho norte-americano. A fé em Obama justifica o tom esperançoso de Working on a Dream, 23º título da discografia do Boss. Curiosamente, o 15º álbum de estúdio do cantor - lançado mundialmente nesta terça-feira, 27 de janeiro de 2009 - é de seus trabalhos mais apolíticos. Se Springsteen marca posição, é pela esperança que brota ao longo das 13 músicas do álbum, em especial na faixa-título. Ao fim, como bônus, o disco apresenta The Wrestler, bela canção feita para o filme homônimo que rendeu a Sprinsgteen um Globo de Ouro na premiação de cinema realizada em 11 de janeiro de 2009 nos Estados Unidos (a música, aliás, foi injustamente esquecida nas indicações ao Oscar).

Por seu clima íntimo, urdido somente com a voz e o violão do Chefe, a gravação de The Wrestler transita na contramão do grandioso tom épico da faixa que abre Working on a Dream com pompa e circunstância. Turbiano com cordas, Outlaw Pete é um folk rock que evoca a atmosfera dos filme de faroeste. Em oito minutos, Springsteen narra saga de um bandido do oeste norte-americano. Outlaw Pete dá a falsa impressão de que Working on a Dream vai reeditar toda a grandeza de Magic. Contudo, à medida que o disco avança, fica claro que a inspiração do compositor foi parcialmente embora com a desilusão que pontuou álbuns anteriores. Springsteen está feliz e pop, como sinalizam a boa balada Queen of the Supermaket e o rock My Lucky Day, formatado com a sonoridade típica da E-Street Band. Só que essa capacidade bissexta de detectar beleza na vida não o inspirou a fazer músicas tão bonitas. Difícil reconhecer o compositor imponente de Magic em faixas como Life Itself, What Love Can Do e a pop Surprise, Surprise. Mesmo porque, em sua maioria, as letras estão rasas, muito abaixo do padrão de Springsteen. Nesse quesito, merecem menção os versos filosóficos de Kingdom of Days, nos quais o artista contrapõe o amor verdadeiro ao tempo e à mortalidade. A faixa tem a pungência que reaparece em The Last Carnival, balada adornada com vocais típicos da música gospel - adequados, aliás, pois a faixa é um tributo do cantor a Danny Federici, organista da E-Street Band, morto em abril de 2007. Entre a eletricidade do blues Good Eye, a delicadeza de Tomorrow Never Knows e os vocais harmoniosos de This Life, paira um estado de felicidade que não disfarça a paradoxal sensação de que, política à parte, Working on a Dream não é dos álbuns mais felizes de Bruce Springsteen do ponto de vista musical e poético...

Coleção de jazz embala 45 álbuns em nove boxes

Formada por 106 títulos relançados no mercado brasileiro pela gravadora Sony BMG na virada de 2008 para 2009, a Jazz Collection merece atenção de colecionadores de discos do gênero. Não tanto pelos 61 CDs editados de forma avulsa, mas, sobretudo, pelos nove boxes que embalam, cada um, cinco álbuns do músico enfocado com capas que reproduzem em miniatura a arte dos LPs originais. O box dedicado ao grupo Wheather Report (capa acima à esquerda) é um dos mais valiosos do pacote e reúne os então raros álbuns I Sing the Body Eletric (1971), Sweetnighter (1973), Mysterious Traveller (1974), Black Market (1976) e Night Passage (1980). Já o do pianista Thelonious Monk (1917 - 1982) - capa acima à direita - embala os álbuns Monk's Dream (1962), Criss Cross (1962), Solo Monk (1964), Straight, no Chaser (1966) e Underground (1967). Ainda em atividade, o saxofonista Sonny Rollins ganha caixa (abaixo à esquerda) com os álbuns The Bridge (1962), What's New? (1962), Our Man in Jazz (1962), Sonny Meets Hawk! (1963) e The Standard Sonny Rollins (1964). Já o box do trompetista Miles Davis (1926 - 1991) - capa abaixo à direita - agrega os belos álbuns 'Round About Midnight (1955), Miles Ahead (1957), Milestones (1958), Porgy and Bess (1958) e '58 Sessions (Stella by Starlight) (1958). Há também boxes dedicados a Duke Ellington (1899 - 1974), a George Benson, a John McLaughlin, a Mahavishnu Orchestra e a Stanley Clarke. É luxo só!

Livro-CD reúne as canções do exílio de Caetano

Em 27 de dezembro de 1968, quatro dias depois de apresentar na televisão irônica leitura de Boas Festas (Assis Valente), Caetano Veloso foi levado à força por militares de seu apartamento em São Paulo (SP) para um quartel situado no Rio de Janeiro (RJ). Começou naquele dia a via-crúcis do compositor rumo a um forçado exílio em Londres, na Inglaterra. Entristecido pela distância do Brasil e dos amigos, Caetano gravou no exílio dois álbuns, Caetano Veloso (1971) - retrato melancólico de sua expressão na época - e Transa (1972), de vibe roqueira. É este repertório composto por Caetano na forçada parada londrina que Sylvio de Oliveira aborda no livro-CD LETRA, lançado pela editora 2AB em dezembro de 2008, quarenta anos depois da prisão do artista baiano. Acompanha o livro - no qual breves textos escritos por nomes como Sérgio Barcellos e Jorge Caê Rodrigues contextualizam as canções do exílio na obra de Caetano Veloso - um disco em que Sylvio de Oliveira revive com arranjos inventivos 14 músicas dessa fase sombria do autor de London, London e Shoot me Dead. CD e livro somente são vendidos juntos.

25 de janeiro de 2009

Pastora da Portela, Tia Doca sai de cena aos 76

Jilçária Cruz Costa - conhecida no meio do samba carioca como Tia Doca - saiu de cena na tarde deste domingo, 25 de janeiro de 2009, aos 76 anos, vítima de complicações decorrentes de um derrame sofrido em 17 de janeiro. Incensada pastora da Portela, tradicional escola de samba situada no bairro de Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro (RJ), Tia Doca (à esquerda em foto de Nilton Silva) comandava um das rodas de samba mais cultuadas nos subúrbios cariocas. Integrante da Velha Guarda da Portela desde 1970, ano em que o grupo se uniu sob o incentivo de Paulinho da Viola, Doca teve o repertório de seu pagode registrado em disco e foi focalizada no documentário O Mistério do Samba - criado por Marisa Monte.

Kuarup foi um biscoito fino em tempos fartos...

Gravadora fundada em 1977, no Rio de Janeiro (RJ), a Kuarup Discos comunicou dias atrás o encerramento de suas atividades - atribuído, na nota oficial postada no site da companhia, à irreversível e contínua queda nas vendas de discos. A rigor, a saída de cena da Kuarup não altera o quadro atual do mercado fonográfico brasileiro pelo fato de que a gravadora já esteve quase inativa nos últimos anos. E, sobretudo, porque o nicho de mercado visado pela Kuarup (a música instrumental e a MPB produzida fora dos rígidos padrões industriais das gravadoras ditas grandes) hoje é abastecido com regularidade pela Biscoito Fino. A propósito, a Kuarup foi um dos biscoitos mais finos do mercado fonográfico nos tempos de fartura. Mário de Aratanha - bravo mentor e diretor da companhia - abriu espaço para artistas que somente encontravam portas fechadas nas gravadoras multinacionais. Pela Kuarup, para citar somente um gênero musical, saíram muitos discos de música verdadeiramente sertaneja. A gravadora construiu catálogo rico e coerente em seus 31 anos de vida. Nos anos 80, os discos da série Cantoria - que juntavam Elomar, Geraldo Azevedo, Vital Farias e Xangai - venderam bem e provaram a viabilidade comercial de uma gravadora pautada por ambições puramente artísticas. Hoje, a indústria fonográfica amarga tempos de escassez provocada pela pirataria física e virtual de CDs. Tempos que dificultam muito a sobrevivência de uma gravadora como a idealizada por Aratanha. A Kuarup sai de cena. É a vida... Mas fica seu acervo. Que merece paradeiro condizente com a finura dos biscoitos ali armazenados!!

Convidados iluminam bela safra autoral de Luz

Resenha de CD
Título: Batucando
Artista: Moacyr Luz
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

Em 1989, um ano depois de lançar seu primeiro bom CD, Moacyr Luz teve a sua obra autoral projetada em escala nacional nas vozes de Beth Carvalho (Saudades da Guanabara) e de Fafá de Belém (Coração do Agreste). Nesses 20 anos, Luz se firmou no meio do samba carioca como compositor sem passar para a linha de frente como cantor - a exemplo do que fizeram em épocas diferentes compositores como Martinho da Vila e Zeca Pagodinho. Martinho e Pagodinho, a propósito, são dois dos nove convidados que iluminam a ótima safra de inéditas apresentada por Luz em Batucando, nono título de discografia irregular e primeiro CD gravado pela Biscoito Fino. Martinho dá o ar da graça no amaxixado Samba dos Passarinhos, composto por ele com Luz. Já Zeca divide com o anfitrião os vocais do belo samba Vida da Minha Vida, uma das três parcerias de Moacyr Luz com Sereno nas quais o primeiro, habituado a fazer música, troca de lado e se revela um letrista inspirado. Das três com Sereno, vale destacar também o samba-enredo A Natureza Chora, de versos poéticos, entoados somente pelo autor. A terceira, Beleza em Diamante, apesar da participação de Mart'nália, se revela mais trivial, tanto pelos versos criados por Luz para exaltar a partida cidade do Rio de Janeiro como pela melodia pouco sedutora do (bamba) Sereno.
Em que pese uma ou outra faixa de menor beleza, Batucando é grande disco. Dono de voz opaca, Luz acerta ao recorrer aos colegas para ajudá-lo a cantar seus sambas. Quando se É Popular, composto e cantado com Wilson das Neves, já nasce clássico. Parceria de Luz com Paulo César Pinheiro, Divina Mangueira é valorizado pelo canto de Beth Carvalho, autoridade no assunto. Além da escola verde-e-rosa, quem também ganha tributo em Batucando é Geraldo Pereira (1918 - 1955), reverenciado no Samba pro Geraldo, feito bem ao seu estilo sincopado. Tantinho da Mangueira é o oportuno convidado da faixa. Também da Estação Primeira, Alcione defende Meu Nego, mas o samba não é dos mais inspirados do disco - inclusive pelos versos de Hermínio Bello de Carvalho, que tenta seguir linha mais popular na letra que evoca Meu Ébano, sucesso recente de Alcione, de tom mais autêntico. No samba-canção Daquela Mulher, entoado somente por Luz, Hermínio parece perseguir o estilo amargurado de Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974), sobretudo pela forma cruel com que a mulher é retratada na letra. Hermínio se sai melhor em Banguelas, samba em moto-contínuo cuja letra (urdida com versos que rimam palavras terminadas em 'ente') até remete às construções minuciosas de Chico Buarque. Luiz Melodia dá brilho todo especial ao tema mais inventivo do CD. Que ainda tem samba em clima de chorinho (Clareou, composto e cantado com Ivan Lins) e de gafieira (Delírio da Baixa Gastronomia, composto e cantado solitariamente por Moacyr Luz). Enfim, Batucando mostra que Moacyr Luz permanece compondo com a inspiração do início da carreira fonográfica. Que vozes iluminem seu samba...

Brilho cafona não ofusca maestria pop de Elton

Resenha de DVD
Título: The Red Piano
Artista: Elton John
Gravadora: Universal
Music
Cotação: * * *

Nem o brilho cafona típico de Las Vegas (EUA) - traduzido no cenário cheio de neon criado pelo diretor David LaChapelle - ofusca a maestria pop de Elton John neste show captado na temporada que o astro inglês faz desde 2004 no Caesars Palace em Las Vegas (EUA). Perpetuado no DVD duplo The Red Piano, editado no mercado nacional neste mês de janeiro de 2009, na carona da vinda do cantor ao Brasil, o show está calcado nos mesmos hits que Elton apresentou no Rio de Janeiro (RJ) e em São Paulo (SP). Aliás, o título The Red Piano alude ao piano vermelho posicionado ao centro do palco para Elton tocar jóias como Daniel e Rocket Man - também tiradas do vasto baú de sucessos do cantor para formatar os roteiros de suas recentes apresentações brasileiras. O brilho over de Las Vegas está em sintonia com o visual habitualmente extravagante do artista. O que tira um pouco o brilho do DVD (de exemplar áudio 5.1) é a curtíssima duração do roteiro. O DVD 1 reproduz somente 14 números do show, deixando de fora sucessos como Goodbye Yellow Brick Road e I Guess That's Why They Call It The Blues, presentes no roteiro original. Já o DVD 2 exibe longo documentário sobre a temporada do artista em Las Vegas e dá ao espectador a oportunidade de ver somente os vídeos criados por David LaChapelle para serem projetados em alguns números. Enfim, tanto o cantor como o público parecem se sentir em casa. Contudo, o brilho maior ainda é de Elton John. Inclusive pela iniciativa de salpicar no roteiro uma ou outra música de sua excelente safra recente. É o caso de Answer in the Sky, música de Peachtree Road, álbum de 2004 que sinalizou que o cantor não perdeu a inspiração inicial. Falta é coragem para mudar o disco...

Thalma volta a fazer disco com Berna & Kassin

Produtores do (bom) EP lançado por Thalma de Freitas em 2004, pelo selo Cardume, Berna Ceppas & Kassin trabalham de novo com a cantora. A dupla pilota o álbum que Thalma prepara para lançar em 2009 pela Biscoito Fino. Vai ser o segundo álbum da artista, que estreou em 1994 no mercado fonográfico com um (obscuro) CD intitulado Thalma de Freitas.

Ao vivo, Peixe se afoga no mar do axé mais raso

Resenha de CD e DVD
Título: Peixe ao Vivo
em Salvador
Artista: Alexandre Peixe
Gravadora: Deckdisc
Cotação: *

Compositor recorrente nos repertórios de grupos baianos como Asa de Água e Chiclete com Banana, Alexandre Peixe já tem abastecido também os discos de estrelas populistas do axé como Ivete Sangalo (com Tá Tudo Bem, hit recente da cantora) e Cláudia Leitte (Me Chama de Amor). Em seu primeiro registro de show, Peixe ao Vivo em Salvador, editado em CD e em DVD pela gravadora carioca Deckdisc, o compositor se vale de sua estampa de galã para tentar lugar ao sol baiano como cantor. O show captado em 23 de julho de 2008 no Alto do Andu, em Salvador (BA), mostra que na terra do axé há público disposto a se esbaldar ao som das músicas do compositor. Contudo, Peixe se afoga no mar da axé music mais rasa. Difícil identificar entre as 25 músicas do DVD - distribuídas em 20 faixas - algo que faça jus ao histórico de um gênero que já rendeu ao Brasil compositores realmente inspirados como Pierre Onassis e Jauperi. Nem mesmo a habitual vivacidade rítmica da axé music disfarça o caráter primário do cancioneiro de Peixe. Nem a adesão de convidados como Durval Lelys (em Me Liga, hit do Asa de Águia) e Larisa Luz (em Sem Essa!) dão algum tempero especial à gravação, cujo caráter populista é reforçado com a intervenção de Jorge & Mateus - dupla que milita no circuito pobre do sertanejo universitário - em Querendo te Amar, música de Jorge. Falta axé!!