25 de janeiro de 2009

Convidados iluminam bela safra autoral de Luz

Resenha de CD
Título: Batucando
Artista: Moacyr Luz
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

Em 1989, um ano depois de lançar seu primeiro bom CD, Moacyr Luz teve a sua obra autoral projetada em escala nacional nas vozes de Beth Carvalho (Saudades da Guanabara) e de Fafá de Belém (Coração do Agreste). Nesses 20 anos, Luz se firmou no meio do samba carioca como compositor sem passar para a linha de frente como cantor - a exemplo do que fizeram em épocas diferentes compositores como Martinho da Vila e Zeca Pagodinho. Martinho e Pagodinho, a propósito, são dois dos nove convidados que iluminam a ótima safra de inéditas apresentada por Luz em Batucando, nono título de discografia irregular e primeiro CD gravado pela Biscoito Fino. Martinho dá o ar da graça no amaxixado Samba dos Passarinhos, composto por ele com Luz. Já Zeca divide com o anfitrião os vocais do belo samba Vida da Minha Vida, uma das três parcerias de Moacyr Luz com Sereno nas quais o primeiro, habituado a fazer música, troca de lado e se revela um letrista inspirado. Das três com Sereno, vale destacar também o samba-enredo A Natureza Chora, de versos poéticos, entoados somente pelo autor. A terceira, Beleza em Diamante, apesar da participação de Mart'nália, se revela mais trivial, tanto pelos versos criados por Luz para exaltar a partida cidade do Rio de Janeiro como pela melodia pouco sedutora do (bamba) Sereno.
Em que pese uma ou outra faixa de menor beleza, Batucando é grande disco. Dono de voz opaca, Luz acerta ao recorrer aos colegas para ajudá-lo a cantar seus sambas. Quando se É Popular, composto e cantado com Wilson das Neves, já nasce clássico. Parceria de Luz com Paulo César Pinheiro, Divina Mangueira é valorizado pelo canto de Beth Carvalho, autoridade no assunto. Além da escola verde-e-rosa, quem também ganha tributo em Batucando é Geraldo Pereira (1918 - 1955), reverenciado no Samba pro Geraldo, feito bem ao seu estilo sincopado. Tantinho da Mangueira é o oportuno convidado da faixa. Também da Estação Primeira, Alcione defende Meu Nego, mas o samba não é dos mais inspirados do disco - inclusive pelos versos de Hermínio Bello de Carvalho, que tenta seguir linha mais popular na letra que evoca Meu Ébano, sucesso recente de Alcione, de tom mais autêntico. No samba-canção Daquela Mulher, entoado somente por Luz, Hermínio parece perseguir o estilo amargurado de Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974), sobretudo pela forma cruel com que a mulher é retratada na letra. Hermínio se sai melhor em Banguelas, samba em moto-contínuo cuja letra (urdida com versos que rimam palavras terminadas em 'ente') até remete às construções minuciosas de Chico Buarque. Luiz Melodia dá brilho todo especial ao tema mais inventivo do CD. Que ainda tem samba em clima de chorinho (Clareou, composto e cantado com Ivan Lins) e de gafieira (Delírio da Baixa Gastronomia, composto e cantado solitariamente por Moacyr Luz). Enfim, Batucando mostra que Moacyr Luz permanece compondo com a inspiração do início da carreira fonográfica. Que vozes iluminem seu samba...

8 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Em 1989, um ano depois de lançar seu primeiro bom CD, Moacyr Luz teve a sua obra autoral projetada em escala nacional nas vozes de Beth Carvalho (Saudades da Guanabara) e de Fafá de Belém (Coração do Agreste). Nesses 20 anos, Luz se firmou no meio do samba carioca como compositor sem passar para a linha de frente como cantor - a exemplo do que fizeram em épocas diferentes compositores como Martinho da Vila e Zeca Pagodinho. Martinho e Pagodinho, a propósito, são dois dos nove convidados que iluminam a ótima safra de inéditas apresentada por Luz em Batucando, nono título de discografia irregular e primeiro CD gravado pela Biscoito Fino. Martinho dá o ar da graça no amaxixado Samba dos Passarinhos, composto por ele com Luz. Já Zeca divide com o anfitrião os vocais do belo samba Vida da Minha Vida, uma das três parcerias de Moacyr Luz com Sereno nas quais o primeiro, habituado a fazer música, troca de lado e se revela um letrista inspirado. Das três com Sereno, vale destacar também o samba-enredo A Natureza Chora, de versos poéticos, entoados somente pelo autor. A terceira, Beleza em Diamante, apesar da participação de Mart'nália, se revela mais trivial, tanto pelos versos criados por Luz para exaltar a partida cidade do Rio de Janeiro como pela melodia pouco sedutora do (bamba) Sereno.
Em que pese uma ou outra faixa de menor beleza, Batucando é grande disco. Dono de voz opaca, Luz acerta ao recorrer aos colegas para ajudá-lo a cantar seus sambas. Quando se É Popular, composto e cantado com Wilson das Neves, já nasce clássico. Parceria de Luz com Paulo César Pinheiro, Divina Mangueira é valorizado pelo canto de Beth Carvalho, autoridade no assunto. Além da escola verde-e-rosa, quem também ganha tributo em Batucando é Geraldo Pereira (1918 - 1955), reverenciado no Samba pro Geraldo, feito bem ao seu estilo sincopado. Tantinho da Mangueira é o oportuno convidado da faixa. Também da Estação Primeira, Alcione defende Meu Nego, mas o samba não é dos mais inspirados do disco - inclusive pelos versos de Hermínio Bello de Carvalho, que tenta seguir linha mais popular na letra que evoca Meu Ébano, sucesso recente de Alcione, de tom mais autêntico. No samba-canção Daquela Mulher, entoado somente por Luz, Hermínio parece perseguir o estilo amargurado de Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974), sobretudo pela forma cruel com que a mulher é retratada na letra. Hermínio se sai melhor em Banguelas, samba em moto-contínuo cuja letra (urdida com versos que rimam palavras terminadas em 'ente') até remete às construções minuciosas de Chico Buarque. Luiz Melodia dá brilho todo especial ao tema mais inventivo do CD. Que ainda tem samba em clima de chorinho (Clareou, composto e cantado com Ivan Lins) e de gafieira (Delírio da Baixa Gastronomia, composto e cantado solitariamente por Moacyr Luz). Enfim, Batucando mostra que Moacyr Luz permanece compondo com a inspiração do início da carreira fonográfica. Que vozes iluminem seu samba...

25 de janeiro de 2009 às 21:06  
Anonymous Anônimo said...

Eu vi o cd e ainda não o comprei! Estou em fase de economias para o carnaval! rsrsrs
Mas, Divina Mangueira não poderia ter sido entregue para outra pessoa senão, a MAIOR VOZ FEMININA DO SAMBA E DA MANGUEIRA NESSE PAÍS! Abraços e rumo ao Rio de Janeiro (minha terra),

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

25 de janeiro de 2009 às 21:42  
Anonymous Anônimo said...

Esqueci de mencionar que o Samba perdeu hoje uma das grandes matriarcas do bom pagode, Tia Doca da Portela.
Dona de um gogó de ouro junto com D. Eunice, ficou notabilizada nos coros dos grandes discos da Beth e de outros cantores tais como: Zeca, Marisa, Cristina, Paulinho etc). Abraços e descanse em paz!

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

25 de janeiro de 2009 às 21:54  
Anonymous Anônimo said...

Que bom que temos sambas de Moacyr Luz... que bom que ainda tem mais por vir...
Ouvi Batucando já, e realmente é ótimo.
E que bom que podemos saber que sambistas, mesmo abstêmios, e mesmo indo à academia fazer exercício e se cuidar (pois sou moradora de Santa Teresa como ele, e de vez em quando o vejo na esteira da única academia do bairro)são ainda sambistas da mesma forma. Inspirados, que compõem canções lindas!
Ou seja, se Moa continuar assim, sabemos que o teremos (e suas belas músicas tb) ainda por muito tempo. Esse sim é verdadeiro malandro.

Para Marcelo,
é... esse ano começou difícil. Primeiro Xangô da Mangueira, agora Tia Doca (eu a conhecia desde criança) e eu ainda nem me recuperei da perda do Luiz Carlos da Vila...

Um beijo,
Nina RJ

26 de janeiro de 2009 às 14:20  
Anonymous Anônimo said...

Pois é, Nina! Sem contar ainda duas perdas irreparáveis de dois grandes intérpretes do carnaval carioca: Jamelão e Aroldo Melodia. Eu também tive o privilégio de poder conhecer o tão comentado pagode na João Vicente e a já saudosa Tia Doca, simplesmente maravilhosa!
Um beijo,

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

26 de janeiro de 2009 às 18:45  
Anonymous Anônimo said...

Taí, Marcelo, como eu já havia te avisado.
Já ouvi e aprovei.
Belo e digno sambista, mesmo não sendo "de raiz" (já que seu 1º disco está mais para MPB).
Mas o que importa é que descobriu que o samba corria em suas veias e vem fazendo uma bela carreira no gênero.
De resto, a resenha de Mauro já disse tudo: nota 10 (para o CD e a resenha).

Abraços a ambos.

26 de janeiro de 2009 às 20:32  
Anonymous Anônimo said...

Sim, Oliveira! Muito obrigado pela dica mas eu estou num momento de economias carnavalescas, sambísticas, praianas etc! rsrsrsrs
Férias merecidas! Abraços,

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

26 de janeiro de 2009 às 20:56  
Anonymous Anônimo said...

moa consegui o mais dificil : ser ele mesmo. não o parceiro do aldir, que ficou com ele ao lado de guinga, quando bosco foi navegar em outras águas....
moa é moa, gente do méier, fã de ivan lins na adolescencia e parceiro adulto.
o cara é o cara, e é um ser normal.
moa é dez.
e, só por ser um dos compositores de saudades da guanabara, já estava inscrito, para sempre, na historia da mpb. os outros dois parceiro, aldir e paulo pinheiro, já estvam.

carioca da piedade

26 de janeiro de 2009 às 22:41  

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