26 de janeiro de 2009

Bruce volta mais esperançoso do que inspirado

Resenha de CD
Título: Working
on a Dream
Artista: Bruce
Springsteen
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * *

Em seu estupendo álbum anterior, Magic, gravado com a fiel E-Street Band em 2007, Bruce Springsteen exalou desesperança que traduzia também sua desilução com a gestão dos Estados Unidos por George W. Bush. Dedicado cabo eleitoral de Barack Obama, Springsteen sonha o mesmo sonho do novo presidente dos EUA com a autoridade de quem sempre deu voz em sua música aos que historicamente vem sendo banidos desse sonho norte-americano. A fé em Obama justifica o tom esperançoso de Working on a Dream, 23º título da discografia do Boss. Curiosamente, o 15º álbum de estúdio do cantor - lançado mundialmente nesta terça-feira, 27 de janeiro de 2009 - é de seus trabalhos mais apolíticos. Se Springsteen marca posição, é pela esperança que brota ao longo das 13 músicas do álbum, em especial na faixa-título. Ao fim, como bônus, o disco apresenta The Wrestler, bela canção feita para o filme homônimo que rendeu a Sprinsgteen um Globo de Ouro na premiação de cinema realizada em 11 de janeiro de 2009 nos Estados Unidos (a música, aliás, foi injustamente esquecida nas indicações ao Oscar).

Por seu clima íntimo, urdido somente com a voz e o violão do Chefe, a gravação de The Wrestler transita na contramão do grandioso tom épico da faixa que abre Working on a Dream com pompa e circunstância. Turbiano com cordas, Outlaw Pete é um folk rock que evoca a atmosfera dos filme de faroeste. Em oito minutos, Springsteen narra saga de um bandido do oeste norte-americano. Outlaw Pete dá a falsa impressão de que Working on a Dream vai reeditar toda a grandeza de Magic. Contudo, à medida que o disco avança, fica claro que a inspiração do compositor foi parcialmente embora com a desilusão que pontuou álbuns anteriores. Springsteen está feliz e pop, como sinalizam a boa balada Queen of the Supermaket e o rock My Lucky Day, formatado com a sonoridade típica da E-Street Band. Só que essa capacidade bissexta de detectar beleza na vida não o inspirou a fazer músicas tão bonitas. Difícil reconhecer o compositor imponente de Magic em faixas como Life Itself, What Love Can Do e a pop Surprise, Surprise. Mesmo porque, em sua maioria, as letras estão rasas, muito abaixo do padrão de Springsteen. Nesse quesito, merecem menção os versos filosóficos de Kingdom of Days, nos quais o artista contrapõe o amor verdadeiro ao tempo e à mortalidade. A faixa tem a pungência que reaparece em The Last Carnival, balada adornada com vocais típicos da música gospel - adequados, aliás, pois a faixa é um tributo do cantor a Danny Federici, organista da E-Street Band, morto em abril de 2007. Entre a eletricidade do blues Good Eye, a delicadeza de Tomorrow Never Knows e os vocais harmoniosos de This Life, paira um estado de felicidade que não disfarça a paradoxal sensação de que, política à parte, Working on a Dream não é dos álbuns mais felizes de Bruce Springsteen do ponto de vista musical e poético...

1 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Em seu estupendo álbum anterior, Magic, gravado com a fiel E-Street Band em 2007, Bruce Springsteen exalou desesperança que traduzia também sua desilução com a gestão dos Estados Unidos por George W. Bush. Dedicado cabo eleitoral de Barack Obama, Springsteen sonha o mesmo sonho do novo presidente dos EUA com a autoridade de quem sempre deu voz em sua música aos que historicamente vem sendo banidos desse sonho norte-americano. A fé em Obama justifica o tom esperançoso de Working on a Dream, 23º título da discografia do Boss. Curiosamente, o 15º álbum de estúdio do cantor - lançado mundialmente nesta terça-feira, 27 de janeiro de 2009 - é de seus trabalhos mais apolíticos. Se Springsteen marca posição, é pela esperança que brota ao longo das 13 músicas do CD, em especial na faixa-título. Ao fim, como bônus, o disco apresenta The Wrestler, bela canção feita para o filme homônimo que rendeu a Sprinsgteen um Globo de Ouro na premiação de cinema realizada em 11 de janeiro de 2009 nos Estados Unidos (a música, aliás, foi injustamente ignorada nas indicações ao Oscar).

Por seu clima íntimo, urdido somente com a voz e o violão do Chefe, a gravação de The Wrestler transita na contramão do grandioso tom épico da faixa que abre Working on a Dream com pompa e circunstância. Turbiano com cordas, Outlaw Pete é um folk rock que evoca a atmosfera dos filme de faroeste. Em oito minutos, Springsteen narra saga de um bandido do oeste norte-americano. Outlaw Pete dá a falsa impressão de que Working on a Dream vai reeditar a grandeza de Magic. Contudo, à medida que o disco avança, fica claro que a inspiração do compositor foi parcialmente embora com a desilusão que pontuou álbuns anteriores. Springsteen está feliz e pop, como sinalizam a boa balada Queen of the Supermaket e o rock My Lucky Day, formatado com a sonoridade típica da E-Street Band. Só que essa capacidade bissexta de detectar beleza na vida não o inspirou a fazer músicas tão bonitas. Difícil reconhecer o compositor imponente de Magic em faixas como Life Itself, What Love Can Do e a pop Surprise, Surprise. Mesmo porque, em sua maioria, as letras estão rasas, muito abaixo do padrão de Springsteen. Nesse quesito, merecem menção os versos filosóficos de Kingdom of Days, nos quais o artista contrapõe o amor verdadeiro ao tempo e à mortalidade. A faixa tem a pungência que reaparece em The Last Carnival, balada adornada com vocais típicos da música gospel - adequados, aliás, pois a faixa é um tributo do cantor a Danny Federici, organista da E-Street Band, morto em abril de 2007. Entre a eletricidade do blues Good Eye, a delicadeza de Tomorrow Never Knows e os vocais harmoniosos de This Life, paira um estado de felicidade que não disfarça a paradoxal sensação de que, política à parte, Working on a Dream não é dos álbuns mais felizes de Bruce Springsteen do ponto de vista musical e poético...

26 de janeiro de 2009 às 10:49  

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