21 de fevereiro de 2009

CD revive Carnavais de Carmen e suas herdeiras

Resenha de CD
Título: Carmen Miranda 100 Anos - Duetos e Outras Carmens
Artista: Carmen Miranda e outros
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * * * 1/2

Solitária homenagem da indústria fonográfica ao centenário de nascimento de Carmen Miranda (1909 - 1955), a coletânea dupla Carmen Miranda 100 Anos - Duetos e Outras Carmens revive os Carnavais da Pequena Notável e de suas herdeiras. O CD 1 reúne 14 duetos gravados pela cantora entre 1931 e 1934 com nomes como Francisco Alves (1898 - 1952), Lamartine Babo (1904 - 1963), Mário Reis (1907 - 1981) e Silvio Caldas (1908 - 1998). São gravações muito raras, nem todas produzidas para o Carnaval, mas, no caso de Carmen - foliã pela própria natureza inicialmente alegre - a verve de seu canto prenunciou uma folia tropicalista à qual aderiram as cantoras herdeiras da malícia da notável intérprete. Para comprovar a pioneira vivacidade da cantora, basta ouvir o dueto que abre o CD 1, Alô Alô, marcha da lavra de André Filho (1906 - 1974) que Carmen lançou com Mário Reis em 1933 e que uma de suas mais legítimas herdeiras, Maria Alcina, tirou do baú 40 anos depois quando gravou seu primeiro LP, editado em 1973 puxado pelo tema de André Filho. Elas, as herdeiras, estão no CD 2, Outras Carmens, em que Alcina figura em duas das 14 regravações do repertório de La Miranda, muitas já raras, pois feitas para trilhas de novelas ou discos que já saíram de catálogo. Em dueto como Daltony, gravado em 1983, Alcina dá o exato tom de malícia exigido por Cozinheira Grã-Fina, jocoso samba-choro de Sá Roris (1887 - 1975) que Carmen lançou em dueto com Almirante (1908 - 1980) em gravação de 1939. Sob base eletrônica urdida pelo DJ Zé Pedro, Alcina ainda costura Diz que Tem, Mamãe Eu Quero e Tico-Tico no Fubá em medley modernoso. Trata-se, aliás, de uma das duas gravações inéditas produzidas especialmente para a coletânea. A outra é Camisa Listrada (Assis Valente), revisitado por Elza Soares sem a ginga e a verve que pontuam as regravações de Uva de Caminhão (com Olivia Byington, no auge vocal, na companhia do piano atento de João Carlos Assis Brasil), O que É que a Baiana Tem? (com Rita Lee, em gravação pouco conhecida feita para tributo aos 80 anos de Dorival Caymmi), Eu Dei (com Marília Barbosa, em registro feito para a trilha sonora da novela Nina, em 1977), ...E o Mundo Não se Acabou (com a fina ironia de Adriana Calcanhotto, em fonograma produzido em 1995 para a trilha da minissérie O Fim do Mundo) e Cachorro Vira-Lata (com Baby Consuelo, em gravação rara, feita em 1996 com sua habitual vivacidade para a trilha sonora da novela Vira-Lata). Também rara e igualmente sedutora é a leitura de Evinha para Na Baixa do Sapateiro, feita para disco de 1973 com uma pulsação que honra essa obra-prima de Ary Barroso (1903 - 1964). Enfim, Carmen Miranda teve importância tão seminal na música brasileira que gerou outras Carmens. Realçar a infinda influência da obra notável da Brazilian Bombshell em outras gerações e intérpretes é o maior mérito da coletânea dupla criada por Thiago Marques Luiz. Carmen foi 100!!

Netinho planeja folia em maio para gravar DVD

Há 20 anos uma das atrações fiéis da folia de Salvador (BA), o cantor Netinho planeja um Carnaval particular fora de época, em maio de 2009, para gravar um CD/DVD. O local previsto para o registro ao vivo - Aracaju (SE) - está bem distante da rota habitual de gravações, mas a escolha da cidade tem razão afetiva para o artista: foi na capital de Sergipe que, em 1996, Netinho gravou um CD ao vivo que beirou os dois milhões de cópias - gerando uma profusão de registros de shows de axé music - e emplacou o maior sucesso de sua carreira solo, Milla. O cantor pretende convidar nomes como Bell Marques, Daniela Mercury, Ivete Sangalo e Saulo Fernandes para participar do DVD. Até o sertanejo Daniel é cotado para um dueto.

Irmã de Russo grava álbum com o grupo Tantra

Lançada no mercado fonográfico em 2008 pelo produtor Marcelo Fróes, que a escalou para regravar Rocky Raccoon para o tributo Álbum Branco, a irmã de Renato Russo (1960 - 1996), Carmen Manfredini encara aos 46 anos a prova de um disco inteiro, dividido com o quarteto carioca Tantra, formado por músicos - Carlos Trilha (teclados), Fred Nascimento (voz e guitarra), Gian Fabra (baixo) - que tocaram com a Legião Urbana ou, no caso de Trilha, estiveram envolvidos na produção da discografia solo de Russo. Intitulado O Fim da Infância, o primeiro CD do projeto Carmen & Tantra apresenta dez músicas inéditas e vai ser lançado ainda em 2009. Na foto de Patrícia Gouveia, a cantora posa com o bom grupo, integrado também pelo baterista Lourenço Monteiro.

Biscoito reedita grande trilha do 'Circo Místico'

Das já diversas trilhas sonoras compostas por Edu Lobo com Chico Buarque para balés e para musicais, a de O Grande Circo Místico - criada para espetáculo do Ballet Guaíra e gravada no Rio de Janeiro de agosto a dezembro de 1982 para edição em LP lançado originalmente em 1983 - é a obra-prima da dupla no estilo teatral. Para quem nunca teve o disco, a Biscoito Fino está pondo nas lojas a terceira reedição em CD de O Grande Circo Místico. A atual reedição segue os moldes da anterior - lançada em 2002 pelas gravadora Dubas - e adiciona cinco faixas ao repertório do álbum original. Entre elas, uma versão de Beatriz com Tom Jobim (1927 - 1994) ao piano e solo de violino de João Daltro. As outras faixas adicionais são os temas instrumentais Dança de Lily Braun, A Levitação, A Dança dos Banqueiros e O Anjo Azul. Este último tema - ouvido na gravação do trompetista Márcio Montarroyos, morto em 2007 - foi composto para a remontagem do balé em 2002. Entre os (hoje) clássicos que já faziam parte da trilha original, há a primeira versão de Beatriz (com Milton Nascimento em momento sublime), Sobre Todas as Coisas (Gilberto Gil), A História de Lily Braun (com Gal Costa em ótima forma vocal), Ciranda da Bailarina (no registro lúdico de um coro infantil) e Na Carreira (em dueto dos compositores Chico Buarque e Edu Lobo).

20 de fevereiro de 2009

Roberto propaga vitória de ação contra editora

Através de sua assessoria, Roberto Carlos divulgou nesta sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009, a vitória da ação judicial movida por ele e Erasmo Carlos contra a EMISongs do Brasil Edições Musicais Ltda - editora que opera dissociada da gravadora EMI Music - por conta do recolhimento de seu DVD Pra Sempre ao Vivo no Pacaembu em virtude de discordâncias sobre direitos autorais em relação às músicas Amor Perfeito, Como É Grande o meu Amor por Você, Despedida, Detalhes, É Proibido Fumar e Eu te Amo, te Amo, te Amo - todas incluídas no DVD editado em 2004 pelo Rei (visto acima à esquerda em foto de Luiz Garrido). Roberto e Erasmo ganharam na Justiça o direito de rescindir o contrato com a referida editora musical - fato que gera a imediata liberação de todas as músicas envolvidas na pendenga. Ainda cabe recurso - pois a vitória ocorreu em primeira instância.

Peyroux se excede como autora em 'Bare Bones'

Resenha de CD
Título: Bare Bones
Artista: Madeleine
Peyroux
Gravadora: Rounder
/ Universal Music
Cotação: * * * 1/2

Em seu álbum anterior, Half the Perfect World (2006), a bela cantora norte-americana Madeleine Peyroux já se insinuou como compositora em quatro faixas. Em seu quarto CD, Bare Bones, a cantora se assume de vez como autora, assinando as onze faixas, sozinha ou com parceiros como Larry Klein, produtor do disco. E é justamente por esse excesso de confiança de Peyroux em seu taco autoral que Bare Bones - jogado na internet esta semana, quase um mês antes de seu lançamento oficial, agendado para 10 de março de 2009 - não atinge o pico de sedução de álbuns anteriores da cantora. Peyroux permanece fiel à sua mistura soft de jazz, folk e blues. Contudo, sua safra autoral tem qualidade oscilante. Há grandes momentos como o blues Instead e o folk que dá título a Bare Bones - não por acaso, ambos estão estrategicamente posicionados no início do álbum. Em outro blues, To Love You All Over Again, o canto de Peyroux continua evocando com grande elegância a voz e o estilo da intérprete que parece ser sua maior influência: Billie Holiday (1915 - 1959). Mesmo que o repertório perca muito na comparação com a seleção de álbuns anteriores, Bare Bones mantém um bom nível. Peyroux chora a morte do pai em River of Tears (tema jazzy de ritmo lento), celebra com euforia a chegada de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos (em Somethin' Grand), quase se aproxima do pop em I Must Be Saved (única faixa assinada somente por ela) e esboça um ritmo mais vivaz em You Can't Do me. No todo, conturo, o álbum tem natureza introspectiva, sobretudo quando aposta em climas acústicos como na canção Homeless Happiness. Em inglês, Bares Bones significa Ossos Nus. É um título apropriado para um disco em que Peyroux se desnuda para (tentar) se impor totalmente como compositora. E somente o tempo e a repercussão de Bare Bones vão dizer se a autora vai ser tão festejada quanto a cantora ou se a artista vai ter que recorrer novamente ao porto seguro das produções de compositores como Leonard Cohen em futuros CDs.

Aquilo Del Nisso faz festa jazzística para Sampa

Resenha de CD
Título: Piratininga
Artista: Aquilo del Nisso
Gravadora: Tratore
Cotação: * * *

Em 1989, o grupo Aquilo del Nisso deu o pontapé inicial na carreira profissional com um show no Free Jazz Festival, em cuja concorrida programação o grupo conseguiu vaga por meio de eleição que contava com cerca de 300 candidatos. De lá para cá, o quarteto conseguiu excelente reputação no meio da música instrumental por conta dos álbuns Aquilo del Nisso (1990), Tocando Tudo (1992), Chico Buarque Instrumental (1994), Festa Brasileira (1997) e 5 (2003). Piratininga é o sexto título dessa coesa discografia. Ao completar 20 anos de carreira, o Aquilo del Nisso celebra sua cidade natal, São Paulo, sem abrir mão de seu DNA jazzístico e sem lançar mão de clichês como um samba à moda de Adoniran Barbosa (1910 - 1982). Piratininga - para quem não sabe - é o nome da aldeia que deu origem à cidade de São Paulo. Cidade sem marcante identidade musical que o grupo festeja em temas instrumentais como Forrobodó, O Rio e A Lagarta, quase todos de autoria do saxofonista Celso Marques e do pianista Beba Zanettini, criador, aliás, da única letra do CD, escrita em tom cinematográfico para Praça da Sé, um dos postais populares de Sampa. Como de hábito na discografia do grupo paulista, a parte instrumental é impecável. As músicas é que nem sempre estão à altura do virtuosismo dos músicos do Aquilo del Nisso. Deu jazz...

Monheit dilui jazz em excessivo ecletismo pop

Resenha de CD
Título: The Lovers,
the Dreamers and me
Artista: Jane Monheit
Gravadora: Concord
Music
Cotação: * * 1/2

Já lançado no exterior, mas ainda sem previsão de edição no Brasil, o nono álbum de Jane Monheit dilui o pop jazz da boa cantora em repertório pautado por excessivo ecletismo. Defeito perceptível já na primeira faixa, Like a Star. Nem mesmo o fraseado elegante de Monheit consegue dar brilho à ralentada releitura da música de Corinne Bailey Rae, uma das últimas sensações da cena britânica. E a primeira impressão é a que fica ao longo do álbum, ainda que The Lovers, the Dreamers and me tenha uns momentos sedutores como Get out of Town (Cole Porter), faixa de apurado senso rítmico, garantido pela banda entrosada que toca no disco sob a batuta do produtor Matt Pierson e que inclui o guitarrista brasileiro Romero Lubambo. Monheit adocica balada de Paul Simon (I Do It for your Love), pouco faz por tema de Fiona Apple (Slow Like Honey) e, quando incursiona pelo repertório de Burt Bacharach e Hal David em This Girl's in Love with You (tema que já teve registros de cantoras como Dionne Warwick e Aretha Franklin), Monheit deixa a sensação de ambicionar o sucesso de Diana Krall. Entre investidas nos repertórios de Anita O'Day (Ballad of the Sad Young Man) e June Christy (Something Cool), Monheit reforça seus laços com a música brasileira em duas faixas. No Tomorrow é a versão jazzificada de Acaso, parceria de Ivan Lins com Abel Silva, lançada por Ivan em 2001 no CD Jobiniano (a cantora tem especial predileção pela obra de Ivan, com quem já dividiu palco no Brasil). Já A Primeira Vez é o samba de Bide e Marçal que Monheit canta num português carregado, seguindo a cartilha bossa-novista de João Gilberto, que depurou o samba em 1961. Enfim, como cantora, Jane Monheit tem méritos maiores do que os que exibe neste irregular CD The Lovers, the Dreamers and me. Basta vasculhar sua bela discografia inicial...

Fãs do Skank elegem novo single de 'Estandarte'

A partir desta sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009, o Skank promove enquete entre seus fãs - através do site oficial do grupo ou via torpedos de celulares - para a eleição do segundo single do álbum Estandarte, cuja promoção foi iniciada em setembro de 2008 com a canção Ainda Gosto Dela, um dos grandes sucessos radiofônicos do ano passado. São três as faixas que podem virar o segundo single do álbum: Noites de um Verão Qualquer, Pára-Raio e Sutilmente. Clicando no card acima à esquerda, o leitor conhece o modo de votar pelo celular (de qualquer operadora). A votação se estende até 12 de março e reforça a interação da banda com o seu público.

19 de fevereiro de 2009

RoRo, Nana e Elis trilham 'Caminho das Índias'

Nas lojas no começo de março de 2009, o disco com a trilha sonora da novela Caminho das Índias - aberto com o tema de abertura da trama, Beedi, na frenética gravação de Sukhwinder Singh e Sunidhi Chauhan - revive entre suas ecléticas 20 faixas gravações antigas de nomes como Ângela RoRo (o hit inicial Amor, meu Grande Amor), Elis Regina (Dois pra Lá, Dois pra Cá) e Nara Leão (Até Quem Sabe). Contudo, há alguns fonogramas ainda inéditos - como o registro de Sob Medida (música de Chico Buarque gravada quase simultaneamente por Fafá de Belém e Simone em 1979) por Isabella Taviani. Eis as 20 faixas do disco Caminho das Índias:

1. Beedi - Sukhwinder Singh e Sunidhi Chauhan
2. Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás - Nando Reis
3. Para-Raio - Skank
4. Uma Prova de Amor - Zeca Pagodinho
5. Vamos Fugir (Give Me Your Love) - Gilberto Gil
6. Ela Disse - Marcelo D2 (com Thalma de Freitas)
7. Memórias - Pitty
8. Martelo Bigorna - Lenine
9. Nada por Mim -Paula Toller
10. Alma - Zélia Duncan
11. Sob Medida - Isabella Taviani
12. Lembra de Mim - Emílio Santiago
13. Amor, Meu Grande Amor - Ângela RoRo
14. Não se Esqueça de Mim - Nana Caymmi e Erasmo Carlos
15. Feliz - Gonzaguinha
16. O Vento Vai Responder - Zé Ramalho
17. Dois pra Lá, Dois pra Cá - Elis Regina
18. Até Quem Sabe - Nara Leão
19. Sufoco da Vida - Harmonia Enlouquece
20. Você Não Vale Nada - Banda Calcinha Preta

Livro perfila Ivone em pioneira abertura de alas

Resenha de Livro
Título: Nasci para Sonhar e Cantar
Dona Ivone Lara: a Mulher no Samba
Autoria: Mila Burns
Editora: Record
Cotação: * * * 1/2

Mais do que uma biografia de Ivone Lara, Nasci para Sonhar e Cantar esboça sedutor perfil de cunho sociológico desta pioneira artista que abriu alas no samba para as mulheres compositoras do gênero. Adaptado de uma tese acadêmica defendida em 2006 pela autora Mila Burns (jornalista com Mestrado em Antropologia Social), o livro reconstitui os passos de Ivone Lara à luz dos (pre)conceitos machistas que guiavam a sociedade na época em que a compositora iniciante teve que recorrer a um primo influente nos redutos do samba e da Serrinha - Antonio dos Santos, o futuro Mestre Fuleiro (1911 - 1997) - para que suas músicas fossem ouvidas. Fuleiro mostrava os sambas dela como sendo de autoria dele, com aval de Ivone, que se contentava em ver sua criação ser bem recebida pelos bambas. Burns mostra em texto fluente como Ivone - orfã de mãe aos 12 anos, idade em que compôs seu primeiro partido alto, Tiê - soube traçar seus caminhos e se impor como compositora de assinatura original. Em 1947, ano emblemático na vida da artista, ela casa, se forma em assistência social (profissão que lhe garantiu o sustento até a aposentadoria, em 1977) e passa a integrar oficialmente a ala de compositores da recém-criada escola de samba Império Serrano, auxiliada pelo prestígio de ser nora de um dos fundadores da agremiação carioca, criada a partir de dissidência na seminal Prazer da Serrinha. Em 1965, ajudada pelo acaso e por inspiração que considera intuitiva, Ivone abriria mais alas no samba e se tornaria a primeira mulher a assinar um samba-enredo oficial, Os Cinco Bailes da História do Rio, concluído por ela no momento em que percebeu, ao visitar os autores Silas de Oliveira e Bacalhau, que ambos - já bêbados... - não conseguiam completar o tema que se transformaria em obra-prima do gênero.

Distante da linguagem acadêmica que a originou, a narrativa de Mila Burns não chega a ter cunho biográfico porque a reconstituição da vida de Ivone é feita de forma superficial - sobretudo depois que a artista, já aposentada como assistente social e reconhecida como compositora, entrar para valer no mundo artístico, gravando discos e fazendo shows. Uma vida inimaginável para a moça que, desafiando as regras de sua sociedade, primeiro tratou de se formar para garantir um emprego e depois, então, começou a pensar em casamento - o que aconteceria quando Ivone já contava 26 anos, idade tardia para os tempos em que as moças de família estavam destinadas ao lar. O livro mostra também como Ivone recebeu educação musical formal no internato em que estudou após a morte dos pais. O confinamento integral na escola abriu os olhos de Ivone para as muitas possibilidades que o mundo poderia lhe oferecer. E, sem pressa, mas, dona de seu nariz, ciente de que o caminho era mesmo dela, Ivone Lara foi se aproximando cada vez mais do samba - sem nunca abandonar o emprego que lhe garantia renda fixa ao fim do mês - e pavimentou estrada luminosa num reduto em que às mulheres até então eram destinados somente os papéis de ouvinte ou intérprete. Ivona Lara se impôs como criadora de samba numa época refratária às atitudes femininas e feministas, abrindo alas para sucessoras como Teresa Cristina. É esse matiz que dá o tom sociológico deste (bem-vindo...) livro de Mila Burns.

Aos 87 anos, Ivone é a dona do samba no palco

Resenha de Show
Título: Dona Ivone Lara
Artista: Dona Ivone Lara (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 18 de fevereiro de 2009
Cotação: * * * *

Fiel ao título-lema de seu último álbum de inéditas, Sempre a Cantar (2004), Ivone Lara subiu na noite de quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009, ao palco do Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), para apresentação única de show em que enfileirou sucessos e reviveu sambas que fazem parte da história do Império Serrano, a escola da qual faz parte desde a fundação, em 1947. A propósito, os dois sambas da lavra imperial - Aquarela Brasileira (Silas de Oliveira) e O Samba Não Pode Parar (Dilce Coutinho, Fabrício do Império e Paulo George) - foram grandes momentos de um show majestoso pela própria natureza da obra de Ivone Lara, mestra do partido alto e do samba de linhagem (mais) nobre, de raiz africana.

Aos 87 anos, devidamente perfilada pela jornalista Mila Burns no recém-lançado livro Nasci para Sonhar e Cantar - Dona Ivona Lara: a Mulher no Samba, a pioneira compositora mostrou no palco que ainda é dona de seu samba. Nem os limites impostos pela idade avançada impediram Ivone de levantar da cadeira estrategicamente posicionada no palco para ensaiar vivazes passos de samba enquanto revivia Se o Caminho É Meu, parceria de Paulinho Mocidade e Jurandir Berinjela, escolhida pela sambista para abrir seu disco Ivone Lara (Som Livre, 1985), talvez pelo fato de a letra do samba expressar um olhar poético e otimista sobre a vida, em sintonia com as letras das composições da lavra própria de Ivone, criadas com parceiros fiéis como Délcio Carvalho, co-autor dos sambas mais populares da pioneira artista.

Acompanhada por uma banda que incluiu seu neto, André Lara, no banjo, Ivone abriu o show de pé com seqüência irresistível de quatro sambas - Alguém me Avisou, Tendência, Enredo do meu Samba e Mas Quem Disse que Eu te Esqueço? - que já têm lugar cativo no imaginário popular. Em seguida, já sentada, ela tirou do baú uma jóia, Sorriso de Criança, que deu título ao seu segundo LP e que Beth Carvalho regravou em Saudades da Guanabara (1989) em dueto com ninguém menos do que Elizeth Cardoso (1920 - 1990) - divina cantora refratária a participações em discos alheios. Depois, já em dueto com um de seus parceiros recentes, Bruno Castro, Ivone apresentou Na Própria Palma, o partido de alto quilate que lançou no CD Sempre a Cantar, até então o último título de discografia iniciada tardiamente em 1978 com o álbum Samba Minha Verdade, Samba Minha Raiz (Odeon).

Sim, o samba soa verdadeiro na voz de Ivone. Mesmo já desgastada pelo tempo, sua voz passa uma verdade que faz com o que o show perca parte de seu encanto quando os convidados assumem a cena. Bruno Castro canta Universidade do Samba - com letra que relaciona vários mestres do gênero, inclusive a própria Ivone - e a cantora Renata Jambeiro dá seqüência a esta espécia de intervalo com Canto de Rainha, samba feito por Arlindo Cruz e Sombrinha em tributo à majestosa sambista. Com excessiva movimentação, procurando forçar um tom caloroso, Jambeiro entoou também Lenda das Sereias - o samba-enredo de 1976 que o Império Serrano revive no Carnaval de 2009 - e Isto Aqui o que É? (Ary Barroso). A nova cantora pecou pelo excesso.

Ivone, a rigor, nunca sai do palco, mas o show somente retoma seu trilho quando ela reassume o microfone e emenda, de uma tacada, Se o Caminho É Meu, Nos Combates desta Vida e Sereia Guiomar. Mais tarde, ao puxar um ponto afro na introdução de Essência de um Grande Amor, Ivone mostra de onde descende sua nobreza. E vem então mais sucessos: Acreditar (reforçado desde o primeiro verso com o coro do público que lotou o Teatro Rival), Sonho Meu e Candeeiro da Vovó. Após uma apoteótica Aquarela Brasileira, cantada por Ivone com tamanha empolgação que parecia estar defendendo o Império Serrano na avenida no Carnaval de 1964, o grand finale foi com versão a capella de Sorriso Negro, com Ivone e os músicos de mãos dadas, na beira do palco. Ivone Lara nasceu para cantar e fazer sua platéia sonhar.

BritAwards consagra Duffy e ignora o Coldplay

Por conta de seu primeiro álbum, Rockferry, Duffy foi a grande vencedora do BritAwards 2009, cuja premiação aconteceu em Londres na noite de quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009. A cantora inglesa - em foto extraída do site oficial do BritAwards - voltou para casa com três dos quatro troféus a que concorria. Duffy venceu nas categorias Melhor Cantora Britânica, Melhor Álbum Britânico e Revelação Britânica. Já o grupo Coldplay - que liderava com Duffy a lista de indicações, cada um com quatro nomeações - foi solenemente ignorado e voltou para casa sem um troféu sequer. Eis os principais vencedores do BritAwards 2009:

* Melhor Cantora Britânica - Duffy
* Melhor Cantor Britânico - Paul Weller
* Melhor Álbum Britânico - Rockferry (Duffy)
* Revelação Britânica - Duffy
* Melhor Grupo Britânico - Elbow
* Melhor Single Britânico - Girls Aloud (The Promisse)
* Melhor Grupo Internacional - Kings of Leon
* Melhor Álbum Internacional - Only by the Night (Kings of Leon)
* Melhor Cantor Internacional - Kanye West
* Melhor Cantora Internacional - Katy Perry
* Melhor Show - Iron Maiden

18 de fevereiro de 2009

Vander Lee grava com Lokua em CD de inéditas

Em seu sexto disco, produzido por Marcelo Sussekind, Vander Lee faz inédito dueto com o cantor africano Lokua Kanza na faixa intitulada Do Bão. Outra participação é a da cantora Regina Souza, convidada da faixa Baile dos Anjos, uma das dez inéditas autorais gravadas por Lee no CD. Já o rapper Renegado faz intervenções em Ninguém Vai Tirar Você de mim, parceria de Edson Ribeiro e Hélio Justo, lançada por Roberto Carlos em 1968 no álbum O Inimitável. Outras músicas do álbum - inicialmente previsto ser lançado em março, porém agora já reprogramado para abril pela gravadora Deckdisc - são Desejo de Flor e Eu e Ela. O repertório autoral gira por ritmos como baião, reggae, samba, folk e baladas.

Deckdisc lança coletânea digital para 'Karnaval'

Fonogramas recentes de Asa de Águia (Hoje É Dia de Asa), Netinho (Muito Bom) e banda A Zorra (Eu Amo Salvador) são alguns candidatos a hits do Carnaval baiano em 2009 que foram reunidos pela Deckdisc numa compilação, Karnaval, editada somente em formato digital. Já à venda em todas as operadoras de celular, o disco virtual vai estar disponível para streaming gratuito nos portais Terra e IG durante o Carnaval. Trata-se da segunda compilação editada pela Deckdisc no formato digital e, aliás, a seleção inclui entre as dez faixas o candidato a webhit da hora, Cadê Xoxó? - de Marcelo Quintanilha - tido como campeão de acessos no YouTube.

Brown celebra 30 anos de folia com CD de rock

Em 1979, então com 17 anos, Carlinhos Brown subiu pela primeira vez num trio elétrico para tocar percussão com o grupo de rock Mar Revolto. Trinta anos depois, o compositor e agitador cultural reencontra os músicos da banda para celebrar suas três décadas de folia com a gravação de um CD de atmosfera roqueira. O álbum tem 11 faixas e vai ser lançado após o Carnaval. Como de praxe, Brown toca vários instrumentos no disco, mas dá ênfase à guitarra e ao rock ao lado do Mar Revolto. Outros músicos tocam no disco.

Grupo Gloria grava primeiro álbum via Arsenal

Mais um grupo paulistano de rock vira munição de Rick Bonadio e finaliza seu primeiro álbum pela gravadora Arsenal Music no estúdio Midas, em São Paulo (SP), com a óbvia produção de Bonadio. Já com sete anos de militância na cena indie, a banda foi contratada por Bonadio em meados de 2008 após abrir um show do Fresno - grupo do elenco da Arsenal, companhia dirigida pelo produtor - e fazer a platéia cantar músicas como Anemia e Asas Fracas. O Gloria é integrado por Mi (voz), Fil (bateria), Elliot (guitarra e voz), Peres (guitarra) e João (baixo). A foto de Luringa expõe um flagrante do Gloria na gravação do CD no estúdio Midas.

17 de fevereiro de 2009

Coldplay é líder de vendas, seguido por AC/DC

Vice-campeão de vendas de CDs em 2008 nos Estados Unidos, o Coldplay (em foto de Stephan Craneanscki) obteve a liderança na lista dos 50 álbuns mais vendidos em todo o mundo no ano passado por conta dos 6,8 milhões de cópias de Viva la Vida or Death and All his Friends. A surpresa é a vice-liderança de um dinossauro do metal, AC/DC, grupo que voltou à tona com Black Ice. Sem falar que outro ícone metaleiro, o Metallica, ocupa um honroso quinto lugar com Death Magnetic. Já o campeão de vendas do mercado norte-americano - o rapper Lil Wayne, por Tha Carter III - cai para a nona posição no ranking mundial. A relação dos 50 campeões de 2008 - na qual Amy Winehouse figura em sétimo lugar com seu segundo álbum, lançado no início de 2007 - foi elaborada e divulgada esta semana pela Federação Internacional da Indústria Fonográfica (a IFPI, na sigla em inglês). Eis os dez álbuns mais vendidos ao redor do mundo durante 2008:

1. Viva la Vida or Death and All his Friends - Coldplay
2. Black Ice - AC/DC
3. Mamma Mia - Trilha sonora do filme
4. Rockferry - Duffy
5. Death Magnetic - Metallica
6. Spirit - Leona Lewis
7. Back to Black - Amy Winehouse
8. High School Musical 3 - Trilha sonora do filme
9. Tha Carter III - Lil Wayne
10. Good Girl Gone Bad - Rihanna

The E.N.D., do Black Eyed Peas, chega em junho

Primeiro álbum do grupo Black Eyed Peas desde o CD Monkey Business, de 2005, The E.N.D. tem lançamento confirmado pela Interscope Records para 9 de junho de 2009. O primeiro single, Boom Boom Pow, vai ser enviado em breve às rádios, sites e clubes. Em princípio, o álbum vai reunir 12 inéditas do quarteto.

'O Som do Pasquim' ainda reverbera com força

Resenha de Livro
Título: O Som
do Pasquim
Organização: Tárik
de Souza
Editora: Desiderata
Cotação: * * * 1/2

Editado originalmente em 1976, o livro O Som do Pasquim ganha reedição para festejar os 40 anos que o semanário - extinto em 1991 - completaria em 2009. Trata-se de compilação de 10 entrevistas concedidas por nomes da música nativa ao lendário jornal. A seleção é bem interessante porque mistura os artistas normalmente escolhidos neste gênero de coletâneas - Caetano Veloso, Chico Buarque e Tom Jobim (1927 - 1994) - com nomes aos quais quase nunca a imprensa, alternativa ou oficial, dá voz. São os casos dos cantores Agnaldo Timóteo e Waldick Soriano (1933 - 2008), identificados com a música dita cafona. A entrevista de Timóteo é das mais interessantes por ser pontuada pela mágoa exposta pelo cantor por conta da rejeição da crítica e da elite - no caso, representada até pela banca de entrevistadores do jornal (Timóteo chegou ao cúmulo de levar um dicionário para a entrevista para poder compreender o vocabulário usado pelos jornalistas). Com a língua afiada, disparou ataques às obras de Tom Jobim, Milton Nascimento e Caetano Veloso. Contudo, ao ser consultado para a inclusão de sua entrevista na reedição do livro, fez corajoso mea culpa (publicado ao fim da entrevista) em que afirma que seus atacados colegas estão acima do que hoje Timóteo considera "uma análise ignorante e preconceituosa de décadas atrás". Já Waldick não teve tempo de rever suas posições, mas provavelmente repetiria máximas machistas como "Sou casado em casa. Saio na rua e ninguém tem nada com minha vida" ou "Mulher deve ser sempre subalterna ao homem". Outra figura bissexta em publicações do gênero, o compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914 - 1974) fez no Pasquim - um ano de sua morte - um inventário de suas dores de amores (inspiradoras de músicas como Vingança) enquanto afirmava a paixão suprema pela boemia. Bem mais curiosa sob a perspectiva do tempo, a entrevista de Martinho da Vila - concedida ao fim de 1969, ano do estouro de seu primeiro LP - é pontuada pela certeza do sambista de que sua permanência na vida artística seria passageira. Felizmente, o compositor se enganou, mas é por essas e outras que O Som do Pasquim (R$ 39, 90. 277 páginas) reverbera interessante e contundente mais de 30 anos após a edição original de um livro que expõe a ideologia de dez criadores (ou diluidores, no caso de Timóteo) da música brasileira ouvida na década de 70.

O 'Bondinho' que pegou Gal, Bethânia, Gil e Cia.

Resenha de Livro
Título: Entrevistas Bondinho
Organizadores: Miguel Jost
e Sérgio Cohn
Editora: Azougue
Cotação: * * * *

Houve um bonde chamado censura que cerceou a liberdade de imprensa a partir de 1968. Mas houve também veículos que conseguiram pegar os atalhos e transitar nas curvas da acidentada trilha da época. O Bondinho - originalmente um guia de informações sobre São Paulo lançado em 1970 que seguiu caminho próprio e se transformou numa revista que simbolizou o poder resistente da imprensa dita alternativa da época - é bem menos lembrado pela história oficial do que O Pasquim. Mas pelo Bondinho trafegaram os maiores artistas da época. O livro Entrevistas Bondinho (R$ 79, 90. 352 páginas) reúne 36 entrevistas publicadas nos 13 números da revista entre janeiro e maio de 1972, ano áureo do veículo. São fortes relatos confessionais de nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gal Costa, Gilberto Gil, Jards Macalé, Lanny Gordin, Luiz Gonzaga (1913 - 1989), Maria Bethânia, Milton Nascimento, Os Mutantes, Rogério Duprat e Tom Zé, entre outros astros ligados à música e, na maioria dos casos, ao Tropicalismo. O livro ostenta impressionante valor histórico porque as entrevistas expõem, de fato, o pensamento e a personalidade dos artistas, com densidade incomum mesmo na imprensa da década de 70 e impensável no jornalismo atual, pautado por entrevistas protocolares feitas por entrevistadores burocratizados com celebridades cerceadas pela autocensura e pelo marketing tosco das assessorias e gravadoras.

Escritas fora dos padrões jornalísticos, quase todas as entrevistas - embora datadas - resistem ao tempo pela profundidade com que os artistas abordam as questões propostas ou se revelam para o entrevistador. Arnaldo Dias Baptista, por exemplo, conta que foram os Mutantes que ensinaram a Gilberto Gil e a Caetano Veloso o caminho do rock ("Eles eram músicos de Bossa Nova (...) E eles queriam fazer música pop"). Já Chico Buarque detalha seus problemas cotidianos com a censura que podava sua obra por questões que se tornaram mais pessoais do que propriamente ideológicas. Por sua vez, a entrevista - depoimento seria um termo mais adequado - de Maria Bethânia é, de todas, a mais reveladora e a mais confessional. Em março de 1972, já começando a ser entronizada no altar da MPB por conta do teatral show Rosa dos Ventos, a cantora faz um balanço do ano anterior e admite ter pintado (aprontado) muito. "Fiz horrores... Mas também fizeram comigo. Eu sou a pessoa mais ciumenta que tem na face da terra. Eu faço escândalo de porrada, tapa, tudo. Choro, esmago, eu tenho ciúmes de tudo. Caetano se dana porque eu sou assim", confessa Bethânia. Menos intenso, Mano Décio da Viola (1909 - 1984) deixava entrever os códigos e as rivalidades entre Império Serrano e Portela, duas escolas de samba do mesmo bairro, Madureira, que, na época, integravam com Mangueira e Salgueira o seleto grupo das quatro grandes do Carnaval carioca: "Quem é de Madureira tá sabendo: Portela pode tirar até o 9º lugar que Natal, homem de poder, não liga, não, doutor. Desde que o Império Serrano tire o 10º". O papo com o bamba imperial é aula de samba.

Em alguns casos, como na entrevista de Gal Costa, a excessiva informalidade ou intimidade do bate-papo acaba dispensando a necessária checagem de dados. Quando a cantora avalia seu segundo álbum solo (Gal Costa, 1969) - "Eu gosto dele, mas eu acho ele um pouco confuso, inclusive pelo clima geral que havia entre as pessoas..." - e o compara ao primeiro, a revista põe entre parêntesis que o álbum de estréia de Gal seria Domingo (1967), quando, na verdade, a artista se referia ao seu primeiro LP solo, também intitulado Gal Costa e também lançado em 1969. No entanto, são detalhes pequenos que não diminuem o valor destas entrevistas. Com paradoxal delicadeza, o Bondinho passou como um trator pela cabeça de seus entrevistados e extraiu confissões que a imprensa dita grande jamais iria arrancar deles. Embarque...

16 de fevereiro de 2009

Paralamas retomam a rota pop em 'Brasil Afora'

Resenha de CD
Título: Brasil Afora
Artista: Os Paralamas
do Sucesso
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * *

Sim, Os Paralamas do Sucesso pegam leve no 18º título de sua discografia, Brasil Afora, 12º álbum de inéditas de carreira fonográfica iniciada em 1983. Após discos de tons melancólicos (Longo Caminho, 2002) e cinzentos (Hoje, 2005), responsáveis por acentuadas quedas de popularidade e vendas, o trio retoma a rota pop e solar que caracterizava sua discografia nos anos 80 e - depois do boom inicial - em álbuns ocasionais como 9 Luas (1996). Contudo, a estrada atual é mais espinhosa. Nas lojas após o Carnaval, mas já à venda no portal UOl Megastore com faixa adicional (O Palhaço), Brasil Afora não se impõe entre os melhores discos dos Paralamas porque a safra de inéditas de Herbert Vianna está abaixo do padrão de um dos grandes compositores da geração 80. Não foi por acaso que, pela primeira vez na história do trio, um disco dos Paralamas tem seus trabalhos promocionais iniciados por música alheia, A lhe Esperar, ska pop que já invadiu a praia carioca. É parceria de Arnaldo Antunes com Liminha, hábil produtor deste CD que abre em grande estilo com Meu Sonho, tema de Herbert iluminado por metais em brasa e uma guitarra que já anuncia o clima tropical do disco, gravado, aliás, em Salvador, na Bahia, no estúdio Ilha dos Sapos, disponibilizado por Carlinhos Brown, que já colaborara com o grupo carioca em Uma Brasileira, o megahit do eufórico duplo Vamo Batê Lata (1995). Brown fornece dois reggaes para o repertório, Sem Mais Adeus e Quanto Tempo, parcerias com Alain Tavares e Michael Sullivan, respectivamente. No primeiro, Brown canta, toca violão e insere sua percussão tribal(ista). Mas ambos deixam no ar a impressão de que este novo verão do reggae esboçado pelos Paralamas pode ser mais curto. Nessa estrada ensolarada, Mormaço - tributo a João Pessoa (PB), cidade natal de Herbert, prestado com a adesão de Zé Ramalho, legítimo paraibano - parece ser um pit stop mais interessante. Descendo para o Sul, o disco esboça reflexões de tom zen em Taubaté ou Santos, tema da lavra do grupo que não chega a empolgar. Brasil Afora caminha de forma menos acidental quando o trio se assume power e pega pesado em Tão Bela e na faixa-título, um baioque arretado. Entre o peso e a leveza de faixas como Tempero Zen (balada em que Herbert expressa pensamento de natureza mais filosófica) e El Amor (versão em português de El Amor Después del Amor, poética canção do roqueiro argentino Fito Paez, fiel hermano dos Paralamas nas rotas internacionais), Brasil Afora chega ao seu destino sem efetivamente desviar o trio da compreensível crise criativa pós-acidente de 2001. Parece ser (bem) longo o caminho para a completa recuperação artística.

Sai no Brasil DVD já defasado do Stereophonics

A carioca Coqueiro Verde Records está pondo nas lojas brasileiras neste mês de fevereiro de 2009 um defasado DVD do Stereophonics que vai soar velho até para fãs mais desatentos do trio galês. Language.Sex.Violence.Other? foi editado no exterior em 2006 com base no material audiovisual colhido na turnê do homônimo álbum, de 2005. A defasagem é tanta que a banda até já lançou um outro álbum, Pull the Pin (2007). Para fãs que não se importam em apertar a tecla rewind, o prato principal do DVD é um bom documentário - devidamente legendado em português - sobre o processo de gravação do CD de 2005. O filme de 50 minutos é costurado com entrevistas, cenas de bastidores e takes de estúdio, abordando temas como a entrada do baterista Javier Weyler, que substituiu Stuart Cable. Para quem prefere ir direto ao ponto, há 10 números ao vivo captados na turnê de 2005 - entre eles, Deadhead, Madame Helga, Doorman e Just Looking - e os clipes de Dakota, Superman, Devil e... Rewind.

Willie reverencia o blues com Marsalis em DVD

Nos dias 12 e 13 de janeiro de 2007, Willie Nelson - um dos ícones da música country - subiu ao palco do Jazz Lincoln Center, em Nova York (EUA), ao lado do jazzista fera Wynton Marsalis, às do trompete. Na pauta, predominava o blues. Os dois shows foram gravados e renderam o CD ao vivo Two Men with the Blues, lançado em julho de 2008. Logo na seqüência, o mesmo belo registro ao vivo da inédita reunião dos dois artistas rendeu um DVD, Live from New York City, recém-editado no Brasil pela gravadora ST2. No roteiro, clássicos como Rainy Day Blues, Georgia on my Mind e Stardust. O DVD exibe entrevistas em que Willie e Marsalis conceituam o (fino) repertório escolhido.

Quinteto preserva integridade em safra autoral

Resenha de CD
Título: Quinto Elemento
Artista: Quinteto Violado
Gravadora: Sem
indicação
Cotação: * * * 1/2

"Vida que renasce no ar", sentencia o vocalista Marcelo Melo no tema que dá título ao 32º título da discografia do Quinteto Violado, Quinto Elemento, gravado ao vivo em agosto de 2008 em três shows do grupo no Teatro Fecap, em São Paulo (SP). De certa forma, o álbum representa uma espécie de renascimento do Quinteto após a morte de seu baixista e fundador, Toinho Alves, em 29 de maio de 2008, menos de três meses antes do registro deste primeiro CD do grupo urdido com repertório inteiramente autoral. Cancioneiro que jamais viola a ideologia e a integridade preservadas pelo Quinteto em quase 40 anos de carreira (o grupo foi fundado em 1971 em Pernambuco). Como de praxe, os arranjos valorizam as músicas, compostas a partir das matrizes de ritmos nordestinos como xote, frevo, baião e maracatu. Toda a exuberância instrumental dos músicos aparece nos arranjos de músicas como Espelho Mágico. Da safra autoral, vale destacar Mata Branca - com letra que cita ícones do Nordeste como o lendário cangaceiro Lampião (1897 - 1938) e Luiz Gonzaga (1913 - 1989), a cujo repertório seminal o Quinteto dedicou disco recente (Retirantes) - e Contos de Zelação, tema que evoca o batuque do maracatu e exibe versos inspirados na literatura de cordel (no caso, no cordel A Eleição do Diabo e a Posse de Lampião no Inferno, de Severino G. de Oliveira). A curiosidade é a incursão do grupo por um samba, Respeito É Bom e Eu Gosto, ode à valorização da mulher. Em tom mais forrozeiro, o Quinteto recebe a adesão do acordeonista Toninho Ferragutti no xote Do Lado de Lá e no baião Morena do Patuá. Já Guinga põe seu violão classudo em Chorando de Manhã, tema instrumental que vai do choro ao frevo. Enfim, o Quinteto Violado continua fiel a si mesmo neste disco dedicado à memória do líder Toinho Alves.

15 de fevereiro de 2009

Bio de texto ágil conta as poucas piadas da Blitz

Resenha de Livro
Título: As Aventuras
da Blitz
Autor: Rodrigo Rodrigues
Editora: Ediouro
Cotação: * * * 1/2

Ok, venceu quem sempre defendeu a idéia de que a Blitz merecia ter sua trajetória de aura lendária reconstituída em biografia - como já tiveram bandas da mesma geração como Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso e Titãs. Afinal, foi a Blitz que, no verão de 1982, abriu as portas da indústria fonográfica para a turma, ou seja, para o pop rock brasileiro produzido naqueles iniciantes anos 80 sem a herança progressiva dos 70. A biografia, As Aventuras da Blitz (R$ 54,90, 304 Páginas), já está nas livrarias com narrativa ágil, estruturada em dez capítulos que mais parecem tópicos de um almanaque. E, justiça seja feita, o formato próximo de almanaque - tão ao gosto da Ediouro - se adequa perfeitamente à estética da banda que foi pioneira também no Brasil ao adotar um visual inspirado nos quadrinhos e na pop art - sobretudo nas capas de seus discos e no material gráfico que promovia suas apresentações teatrais. O autor do livro - Rodrigo Rodrigues, jornalista que tem livre acesso ao backstage atual da resistente banda - consegue conciliar no texto a necessária objetividade jornalística com uma informalidade que está em fina sintonia com o som da banda. Rodrigues conta no livro as poucas piadas da Blitz, banda que explodiu e implodiu num espaço de quatro anos (1982 - 1986) por conta de egotrips e de um desgaste musical perceptível a partir do terceiro álbum do grupo, Blitz 3, concebido e gravado em meio ao exaustivo cotidiano das turnês. Por mais que deixe escapar nas entrelinhas, e mesmo fora delas, a admiração pela banda, o autor não perde a linha (objetiva da narrativa). Parte da história já foi contada em livros como Dias de Luta - o essencial inventário do jornalista Ricardo Alexandre sobre a populosa geração 80 do rock brasileiro - e nas zilhões de reportagens que documentaram em jornais e revistas o auge e a agonia do grupo liderado por Evandro Mesquita. Contudo, tal fato não minimiza o valor de As Aventuras da Blitz. A biografia é especialmente importante por detalhar a pré-história da banda - antes do meteórico estouro de Você Não Soube me Amar - e por acompanhar (com generosidade) as idas e vindas da Blitz após o primeiro retorno, em 1994. Só que, antes do início e do fim, houve o meio - e o livro também reconstitui os passos da Blitz no auge do sucesso entre espetáculos sempre vivazes e LPs de graça e vendas descendentes. Depoimentos de quase todos os músicos conferem credibilidade à narrativa. Por mais que hoje a piada contada pela Blitz em seus revivals soe velha, ela - a piada - teve muita graça e, sim, é parte honrosa da História do rock brasileiro. Até porque essa História poderia ter sido outra se Evandro Mesquita e Cia. não tivessem insistido em pedir um chope e algumas batatas fritas.

Bethânia grava parceria de Chico César e Moska

Iniciada em 2008 em Portugal com a música Unhas, a parceria de Chico César com Moska está tendo continuidade. Maria Bethânia (à esquerda numa foto de Leonardo Aversa) incluiu em seu próximo disco de inéditas, que vai chegar às lojas neste semestre via Biscoito Fino, uma outra música de Chico César com Moska, Saudade. Uma outra faixa do disco, O Que Eu Não Conheço, também referenda uma parceria estreante: a de Jorge Vercillo com J. Velloso, um dos sobrinhos da cantora. Em tempo: Adriana Calcanhotto e Vanessa da Mata também mandaram músicas inéditas para o álbum de Bethânia. E ambas as contribuições foram aproveitadas no sigiloso repertório.

Show de Frejat expõe intimidade de fã com hits

Resenha de Show
Título: Intimidade entre Estranhos
Artista: Frejat (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Morro da Urca (RJ)
Data: 15 de fevereiro de 2009
Cotação: * * * 1/2

Quase no fim da apresentação de seu show Intimidade entre Estranhos no projeto Verão do Morro, Frejat avisou ao público que ia tocar uma música inédita que havia composto de tarde. Era uma pegadinha. A tal música era Por Você, balada que se tornou um dos maiores sucessos do Barão Vermelho na década de 90 e cujos versos foram todos acompanhados em coro pelo público que esperara até 1h30m da madrugada de domingo, 15 de dezembro de 2009, para ver Frejat subir ao palco do Morro da Urca (RJ) e reapresentar o show que estreou no Canecão (RJ) em setembro de 2008, passou pelo Circo Voador (RJ) e retornou ao Rio de Janeiro no projeto de verão que junta cinema e música no Morro (antes do show, houve exibição do magistral documentário Loki, sobre Arnaldo Dias Baptista). Na imediata seqüência de Por Você, Frejat fez outro gracejo com a disposta platéia. Disse que ia apresentar uma música que gostava muito de cantar, mas que às vezes esquecia a letra. Era Malandragem - parceria dele com Cazuza (1958 - 1990) que foi sucesso na voz de Cássia Eller (1962 - 2201) - e o público também não se fez de rogado: ajudou Frejat a cantar o tema, se responsabilizando pelo verso "Quem sabe ainda sou uma garotinha?". Houve cumplicidade entre artista e platéia...

A intimidade exposta no novo show de Frejat é a do público com os velhos hits do Barão Vermelho e da carreira solo de seu líder e vocalista - como a balada Amor pra Recomeçar, também inserida no roteiro na calorosa seqüência final do azeitado espetáculo. Mas Frejat - justiça seja feita - não oferece mais do mesmo ao seu público. A primeira parte do show é pontuada por músicas do CD Intimidade entre Estranhos, o mais irregular da carreira solo de Frejat. Tanto que o começo do show - com Controle Remoto, Dois Lados e Eu Não Quero Brigar Mais Não - nunca chega verdadeiramente a empolgar. Não por culpa de Frejat, que, além de soltar a voz com desenvoltura típica de já calejado frontman, se reveza com habilidade no violão e na guitarra (Billy Brandão pilota a outra guitarra na banda que destaca também o tecladista Maurício Barros, ex-Barão Vermelho, íntimo do artista e do repertório). Talvez pelo fato de o repertório estar mesmo aquém do histórico do cantor. E é pena que uma das músicas mais bonitas do álbum - Nada Além, balada composta com Zeca Baleiro - tenha sua beleza e delicadeza diluídas num show que cresce mais em números de atmosfera roqueira como Eu Preciso te Tirar do Sério (nessa ambiência, Homem Não Chora foi um dos pontos altos do roteiro com o hendrixiano solo de guitarra de Frejat). Já o funk Tudo de Bom se impõe pelo clima festivo - explícito já na letra - e pela presença de Rafael Pellegatti, o filho de Frejat, que já mostra, aos 12 anos, precoce intimidade no toque da guitarra. Tem futuro.

Entre alguns hits do Barão Vermelho (Bete Balanço é evocada para garantir momento de animação) e músicas de seus três álbuns individuais, Frejat tira da cartola alguns covers de efeitos distintos. Amor, meu Grande Amor - a canção de Ângela RoRo que o Barão já regravou em álbum de covers - ainda surte efeito. Mas a balada Vambora se ressente do clima mais introspectivo e delicado de sua autora, Adriana Calcanhotto. Já Mais uma Vez - parceria de Renato Russo (1960 - 1996) com Flávio Venturini - cai bem num show que oscila entre os rocks e as baladas. Saldo é bom.

Yeah Yeah Yeahs lança 'It's Blitz' em 13 de abril

Terceiro álbum do grupo norte-americano Yeah Yeah Yeahs, It's Blitz (capa acima) vai ser lançado em 13 de abril de 2009. Uma semana antes, em 6 de abril, o primeiro single do disco, Zero, vai ser editado. Dave Sitek - guitarrista da banda nova-iorquina TV on the Radio - colabora novamente com o Yeah Yeah Yeahs e assina a produção como Nick Launay. Eis as 10 músicas do CD It's Blitz:
Zero
Heads Will Roll
Soft Shock
Skeletons
Dull Life
Shame and Fortune
Runaway
Dragon Queen
Hysteric
Little Shadow

Mário Sérgio grava solo com seis faixas autorais

Já entra em fase de gravação o primeiro CD de Mário Sérgio, cantor que saiu do grupo Fundo de Quintal em outubro de 2008 para seguir carreira solo. Parceria do artista com Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008), Fada é um das seis músicas da lavra de Mário Sérgio (à direita em foto de Cris Costa) que figuram entre as 14 faixas do disco. A seleção autoral inclui também colaborações do compositor com sambistas como Arlindo Cruz (Na Flor da Primavera), Luizinho to Blow (Maria do Samba), Fred Camacho (Nasci para Cantar e Sambar, com Marcelinho Moreira também na autoria), Ronaldinho (Amor dos Deuses) e Capri (Sol da Manhã, com Robson Guimarães). O lançamento do CD solo de Mário Sérgio está agendado para abril, pela gravadora LGK Music.