19 de fevereiro de 2009

Aos 87 anos, Ivone é a dona do samba no palco

Resenha de Show
Título: Dona Ivone Lara
Artista: Dona Ivone Lara (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 18 de fevereiro de 2009
Cotação: * * * *

Fiel ao título-lema de seu último álbum de inéditas, Sempre a Cantar (2004), Ivone Lara subiu na noite de quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009, ao palco do Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), para apresentação única de show em que enfileirou sucessos e reviveu sambas que fazem parte da história do Império Serrano, a escola da qual faz parte desde a fundação, em 1947. A propósito, os dois sambas da lavra imperial - Aquarela Brasileira (Silas de Oliveira) e O Samba Não Pode Parar (Dilce Coutinho, Fabrício do Império e Paulo George) - foram grandes momentos de um show majestoso pela própria natureza da obra de Ivone Lara, mestra do partido alto e do samba de linhagem (mais) nobre, de raiz africana.

Aos 87 anos, devidamente perfilada pela jornalista Mila Burns no recém-lançado livro Nasci para Sonhar e Cantar - Dona Ivona Lara: a Mulher no Samba, a pioneira compositora mostrou no palco que ainda é dona de seu samba. Nem os limites impostos pela idade avançada impediram Ivone de levantar da cadeira estrategicamente posicionada no palco para ensaiar vivazes passos de samba enquanto revivia Se o Caminho É Meu, parceria de Paulinho Mocidade e Jurandir Berinjela, escolhida pela sambista para abrir seu disco Ivone Lara (Som Livre, 1985), talvez pelo fato de a letra do samba expressar um olhar poético e otimista sobre a vida, em sintonia com as letras das composições da lavra própria de Ivone, criadas com parceiros fiéis como Délcio Carvalho, co-autor dos sambas mais populares da pioneira artista.

Acompanhada por uma banda que incluiu seu neto, André Lara, no banjo, Ivone abriu o show de pé com seqüência irresistível de quatro sambas - Alguém me Avisou, Tendência, Enredo do meu Samba e Mas Quem Disse que Eu te Esqueço? - que já têm lugar cativo no imaginário popular. Em seguida, já sentada, ela tirou do baú uma jóia, Sorriso de Criança, que deu título ao seu segundo LP e que Beth Carvalho regravou em Saudades da Guanabara (1989) em dueto com ninguém menos do que Elizeth Cardoso (1920 - 1990) - divina cantora refratária a participações em discos alheios. Depois, já em dueto com um de seus parceiros recentes, Bruno Castro, Ivone apresentou Na Própria Palma, o partido de alto quilate que lançou no CD Sempre a Cantar, até então o último título de discografia iniciada tardiamente em 1978 com o álbum Samba Minha Verdade, Samba Minha Raiz (Odeon).

Sim, o samba soa verdadeiro na voz de Ivone. Mesmo já desgastada pelo tempo, sua voz passa uma verdade que faz com o que o show perca parte de seu encanto quando os convidados assumem a cena. Bruno Castro canta Universidade do Samba - com letra que relaciona vários mestres do gênero, inclusive a própria Ivone - e a cantora Renata Jambeiro dá seqüência a esta espécia de intervalo com Canto de Rainha, samba feito por Arlindo Cruz e Sombrinha em tributo à majestosa sambista. Com excessiva movimentação, procurando forçar um tom caloroso, Jambeiro entoou também Lenda das Sereias - o samba-enredo de 1976 que o Império Serrano revive no Carnaval de 2009 - e Isto Aqui o que É? (Ary Barroso). A nova cantora pecou pelo excesso.

Ivone, a rigor, nunca sai do palco, mas o show somente retoma seu trilho quando ela reassume o microfone e emenda, de uma tacada, Se o Caminho É Meu, Nos Combates desta Vida e Sereia Guiomar. Mais tarde, ao puxar um ponto afro na introdução de Essência de um Grande Amor, Ivone mostra de onde descende sua nobreza. E vem então mais sucessos: Acreditar (reforçado desde o primeiro verso com o coro do público que lotou o Teatro Rival), Sonho Meu e Candeeiro da Vovó. Após uma apoteótica Aquarela Brasileira, cantada por Ivone com tamanha empolgação que parecia estar defendendo o Império Serrano na avenida no Carnaval de 1964, o grand finale foi com versão a capella de Sorriso Negro, com Ivone e os músicos de mãos dadas, na beira do palco. Ivone Lara nasceu para cantar e fazer sua platéia sonhar.

14 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Fiel ao título-lema de seu último álbum de inéditas, Sempre a Cantar (2004), Ivone Lara subiu na noite de quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009, ao palco do Teatro Rival, no Rio de Janeiro (RJ), para apresentação única de show em que enfileirou sucessos e reviveu sambas que fazem parte da história do Império Serrano, a escola da qual faz parte desde a fundação, em 1947. A propósito, os dois sambas da lavra imperial - Aquarela Brasileira (Silas de Oliveira) e O Samba Não Pode Parar (Dilce Coutinho, Fabrício do Império e Paulo George) - foram grandes momentos de um show majestoso pela própria natureza da obra de Ivone Lara, mestra do partido alto e do samba de linhagem (mais) nobre, de raiz africana.

Aos 87 anos, devidamente perfilada pela jornalista Mila Burns no recém-lançado livro Nasci para Sonhar e Cantar - Dona Ivona Lara: a Mulher no Samba, a pioneira compositora mostrou no palco que ainda é dona de seu samba. Nem os limites impostos pela idade avançada impediram Ivone de levantar da cadeira estrategicamente posicionada no palco para ensaiar vivazes passos de samba enquanto revivia Se o Caminho É Meu, uma de suas muitas composições urdidas com um olhar poético e otimista sobre a vida, expressado em sintonia com as letras dos colaboradores mais constantes como o inspirado Délcio Carvalho.

Acompanhada por uma banda que incluiu seu neto, André Lara, no banjo, Ivone abriu o show de pé com seqüência irresistível de quatro sambas - Alguém me Avisou, Tendência, Enredo do meu Samba e Mas Quem Disse que Eu te Esqueço? - que já têm lugar cativo no imaginário popular. Em seguida, já sentada, ela tirou do baú uma jóia, Sorriso de Criança, que deu título ao seu segundo LP e que Beth Carvalho regravou em Saudades da Guanabara (1989) em dueto com ninguém menos do que Elizeth Cardoso (1920 - 1990) - divina cantora refratária a participações em discos alheios. Depois, já em dueto com um de seus parceiros recentes, Bruno Castro, Ivone apresentou Na Própria Palma, o partido de alto quilate que lançou no CD Sempre a Cantar, até então o último título de discografia iniciada tardiamente em 1978 com o álbum Samba Minha Verdade, Samba Minha Raiz (Odeon).

Sim, o samba soa verdadeiro na voz de Ivone. Mesmo já desgastada pelo tempo, sua voz passa uma verdade que faz com o que o show perca parte de seu encanto quando os convidados assumem a cena. Bruno Castro canta Universidade do Samba - com letra que relaciona vários mestres do gênero, inclusive a própria Ivone - e a cantora Renata Jambeiro dá seqüência a esta espécia de intervalo com Canto de Rainha, samba feito por Arlindo Cruz e Sombrinha em tributo à majestosa sambista. Com excessiva movimentação, procurando forçar um tom caloroso, Jambeiro entoou também Lenda das Sereias - o samba-enredo de 1976 que o Império Serrano revive no Carnaval de 2009 - e Isto Aqui o que É? (Ary Barroso). A nova cantora pecou pelo excesso.

Ivone, a rigor, nunca sai do palco, mas o show somente retoma seu trilho quando ela reassume o microfone e emenda, de uma tacada, Se o Caminho É Meu, Nos Combates desta Vida e Sereia Guiomar. Mais tarde, ao puxar um ponto afro na introdução de Essência de um Grande Amor, Ivone mostra de onde descende sua nobreza. E vem então mais sucessos: Acreditar (reforçado desde o primeiro verso com o coro do público que lotou o Teatro Rival), Sonho Meu e Candeeiro da Vovó. Após uma apoteótica Aquarela Brasileira, cantada por Ivone com tamanha empolgação que parecia estar defendendo o Império Serrano na avenida no Carnaval de 1964, o grand finale é com versão a capella de Sorriso Negro, com Ivone e os músicos de mãos dadas, na beira do palco. Ivone Lara nasceu para cantar e fazer sua platéia sonhar.

19 de fevereiro de 2009 às 11:14  
Blogger Carlos Cardoso said...

Tomara que ela venha em Salvador pois gosto de sua obra. Descobri esta pérola tardiamente mas ainda há tempo de eu descobri-la mais e mais.

19 de fevereiro de 2009 às 12:57  
Anonymous Anônimo said...

lotou ?

19 de fevereiro de 2009 às 15:06  
Anonymous Anônimo said...

Ao contrário do que você diz no texto,"Se o Caminho É Meu" não é de autoria de Dona Ivone Lara. O samba, eternizado pela dama imperiana, é de autoria de Paulinho Mocidade e Berinjela.

19 de fevereiro de 2009 às 15:22  
Anonymous Anônimo said...

O "la laia" de Dona Ivone Lara é inigualável.
Além de ter assinatura vocal própria, é ótima compositora.
É uma bamba de verdade.

Jose Henrique

19 de fevereiro de 2009 às 16:12  
Blogger Mauro Ferreira said...

Obrigado pela atenta correção, anônimo das 15h22m.

19 de fevereiro de 2009 às 18:07  
Anonymous Anônimo said...

Dona Ivone é ternura, talento, beleza...
Uma coisa que vai além, que transcende, sabe?
"Nasci pra sonhar e cantar" é uma das canções mais lindas que existe!
"O que trago dentro de mim preciso revelar..."
Sempre revele, Dona Ivone, tudo.
Tem gente que nasce pra isso mesmo. Cantar e fazer os outros sonharem.
Um beijo a todos.
Nina -RJ

19 de fevereiro de 2009 às 18:41  
Anonymous Anônimo said...

D.Ivone é Dona do Samba em qualquer lugar. Bendita sua juventude, força e fé.
Bendita sua música. Bendito seu canto. Bendita sua simplicidade.
Viva Sua Majestade - até Beth Carvalho tem de fazer reverência.

19 de fevereiro de 2009 às 19:37  
Anonymous Anônimo said...

Meu Deus! Como pude perder essa? Deixo registrado a minha indignação pela falta do dvd dessa EXTRAORDINÁRIA Dama do Samba! Dona Ivone sim, é a verdadeira Madrinha do Samba! Beth é Rainha do Samba e Madrinha do Pagode!
Mauro cada vez mais gosto das suas informações que sempre tendem a sinalizar para os discos de outros cantores, sobretudo os da Beth! Só assim para o povo conhecer a discografia alheia! E Beth foi a cantora que mais gravou as músicas de Dona Ivone Lara (Amor sem Esperança, do lp de 75, Pandeiro e Viola é linda demais! Como eu gostaria de vê-las revisitando). Sem contar as outras: Nos combates dessa vida (Suor no rosto de 83) e tantas outras. O Canto de Rainha foi gravado no lp Coração Feliz de 84.
Grande abraço e pena que não tenho acessado ao blog nesse período de férias! Mais uma vez lamento porque perdi!
Em compensação vai uma dica aos leitores,fui ao show do cantor Rhichas no Carioca da Gema, todas as segundas-feiras na Lapa.Imperdível!

Marcelo Barbosa - Rio de Janeiro (RJ)

PS: Minha terra! rs
PS2: Terei a honra de defender a nação imperiana no desfile de domingo! Grande escola de samba! com muitos fundamentos e ídolos (D. Ivone, Roberto Ribeiro,Mano Décio, Silas de Oliveira, Aniceto,...) Salve a Serrinha!
PS3: Na segunda-feira defendendo a minha escola, pois sou natural de Ramos e em perseguição à minha Rainha que virá no último carro! Só ela! EStá pra nascer outra!
Desejo a todos um Feliz Carnaval!

19 de fevereiro de 2009 às 22:27  
Anonymous Anônimo said...

Dona Ivone Lara é RAINHA!

Majestade, Vida Longa!

Obrigado, Mauro, pela bela resenha!

20 de fevereiro de 2009 às 07:48  
Anonymous Anônimo said...

Salve A DAMA MAIOR DO SAMBA. Foi com muita emoção e alegria que assisti esse lindo show. Que poder tem essa MULHER, como fez verdadeiros clássicos de nossa música- UMA MESTRA.! Mesmo debilitada pela idade D> Ivone ainda esbanja uma vitalidade invejável e quando ainda dá seus passinhos de samba simplesmente ARRASA. ELA È REALMENTE DONA DA BANCA!!!!!!!

20 de fevereiro de 2009 às 08:53  
Blogger Unknown said...

HOJE RECONHEÇO QUE SOU AGRACIADA DE BENÇÃOS!!!! SE DEUS QUISER DIA 13/05/2009 , DIA IMPORTANTÍSSIMO EM NOSSO CALENDÁRIO, ESTAREI FAZENDO COM ESSA GRANDE MULHER , COMPOSITORA, CANTORA E SAMBISTA UM SHOW NO TEATRO CARLOS GOMES EM VITÓRIA(ES)!!!!JÁ TIVE O PRIVILÉGIO DE COMPARTILHAR O PALCO COM ELA TEMPOS ATRÁS , COM UM GRUPO DE SAMBA ( SAIA NO SAMBA) EM VILA VELHA (ES) E FOI EMOCIONANTE! AGORA SERÁ AINDA MAIS IMPORTANTE POIS ESTAREI TENDOO PRAZER REDOBRADO!!!! VIVA DONA IVONE LARA!!!! VIVA NOSSA RAINHA!! E ....VIDA LONGA A ELA!!!!!!!!!!!!!!!!!VERA DA MATTA

20 de fevereiro de 2009 às 14:47  
Anonymous Anônimo said...

Tem todas essas qualidades e ainda é uma grande melodista.

20 de fevereiro de 2009 às 17:32  
Blogger Rafael said...

Em tempos modernos é...

Dona Ivone... MARA!!!

20 de fevereiro de 2009 às 21:46  

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