7 de abril de 2007

Ainda na cola do pai, Max retorna com mais cor

Resenha de CD
Titulo:
Com Mais Cor
Artista:
Max Viana
Gravadora:
JT Records
Cotação: *
* 1/2

Logo na audição de Colo pra Você, a primeira faixa deste segundo álbum solo de Max Viana, paira a sensação de que o cantor ainda está na cola de seu pai, Djavan. Impressão que não se dilui muito ao longo das 13 músicas do álbum. O universo musical do compositor alagoano é forte e ecoa especialmente em inéditas como a canção Mais Um. Paradoxalmente, é ao cruzar o som de Djavan com o rap - na faixa Vilarejo, composta e interpretada por Max em trio formado com Rappin' Hood e com o próprio Djavan - que o CD Com Mais Cor indica que há caminho próprio a ser seguido pelo jovem artista. O colorido anunciado no título também aparece no samba Você Não Entendeu - gravado com a percussão de músicos de pagode como Fred Camacho (cavaquinho e banjo), Pretinho (cuíca) e Miudinho (pandeiro e tamborim) - e no refrão contagiante de Disque Sim, a parceria de Max com Guilherme Arantes, autor da letra. Sussurro - composta com Jair Oliveira - também parece vocacionada para o sucesso. Entre balada soul (Acabar Bem, criada com Zé Ricardo) e versão funkeada de um hit de Lenine (Hoje Eu Quero Sair Só), Max Viana sinaliza que discos melhores (e mais pessoais) ainda virão...

Clara acerta ao entortar samba em CD acústico

Resenha de CD
Titulo: Meu Samba Torto
Artista: Clara Moreno

(com Celso Fonseca)
Gravadora:
Atração
Cotação:
* * *

Filha de Joyce, Clara Moreno vem de disco, Morena Bossa Nova (2004), em que seguiu a receita da eletrobossa que deu aura hype a Bebel Gilberto no exterior. No seu quinto álbum, Meu Samba Torto, a cantora desvia acertadamente dessa rota já bem desgastada e pega o caminho de volta rumo à sonoridade acústica. Dividido com Celso Fonseca, hábil ao tocar violão e ao cantar em faixas como Litorânea e Moça Flor, o CD Meu Samba Torto foi gravado para o exterior em 2006 - exatos dez anos depois da fraca estréia fonográfica da artista com disco (Clara Moreno, de 1996) em que experimentou linguagem contemporânea para repertório que ia de Roberto e Erasmo Carlos (Detalhes) a Cartola com Elton Medeiros (O Sol Nascerá) - e chega ao Brasil neste início de 2007 licenciado pela gravadora Atração após sair na Europa e no Japão.

A propósito, o mesmo Elton é co-autor de um dos achados do fino repertório de Meu Samba Torto, produzido por Kazuo Yoshida e Rodolfo Stroeter. Trata-se de Rosa de Ouro, belo samba que deu título ao histórico musical criado por Hermínio Bello de Carvalho nos anos 60. Sim, o samba é o ritmo predominante em seleção que irmana o balanço esquema novo de Jorge Ben Jor (Vem Morena Vem, jóia do primeiro álbum de Ben, de 1963), samba-canção de Braguinha e Alberto Ribeiro (Copacabana, em registro de caráter minimalista que expõe os limites da voz pequena da cantora) e um sucesso de Edith Piaf (Mon Manege a Moi, delicioso com o maroto tom bossa-novista da interpretação de Clara). Tudo soa uniforme.

Sim, a miudeza da voz de Clara a impede de alçar vôos mais altos na área do canto. Mas o que conta mais no disco é a envolvente musicalidade. Não é à toa que - somente com o violão de Celso - Clara dá conta de reapresentar Bahia com H, samba que fez parte do repertório áureo de João Gilberto. Outro destaque é o balanço torto que redivide Se Acaso Você Chegasse, o samba de Lupicínio Rodrigues que deu fama a Cyro Monteiro (em 1938) e a Elza Soares (em 1959). No todo, a bossa acústica de Clara Moreno desce bem e - pelo acerto do repertório e da produção antenada - soa bem mais interessante do que o atual cancioneiro de tonalidade sentimental adotado por Bebel Gilberto em seu recém-lançado CD Momento.

Good Charlotte corteja as paradas e o BritPop

Resenha de CD
Título: Good Morning

Revival
Artista:
Good Charlotte
Gravadora:
Sony BMG
Cotação:
* * * *

Em seu quarto álbum, o grupo americano corteja as paradas com um rock tão plastificado quanto o que vinha criticando em seus três discos anteriores. O visual de linha "punk de butique" adotado pelos músicos na capa do disco já dá a pista. Mas isso não significa que Good Morning Revival seja ruim. Ao contrário. Músicas como Keep your Hands off my Girl (faixa que persegue a pegada de BritPop marcada por bandas como Blur) e Dance Floor Anthem (com ecos de disco music) exibem levadas contagiantes. Misery e The River são ainda melhores e sustentam um álbum que soa muito bacana mesmo quando o Good Charlotte tenta dar uma de Coldplay (em Where Would We Be Now, canção embasada por piano). O acerto veio - talvez - da escolha de Don Gilmore (leia-se Linkin Park) para pilotar este disco que revive algo da estética dos anos 80 e que vem seduzindo o planeta teen (a julgar pelo sucesso do clipe de Keep your Hands off my Girl no YouTube). E que, sim, é muito bom - ainda que contradiga os princípios defendidos pelo grupo nos anteriores e bem mais coerentes The Young and the Hopeless (2002) e The Chronicles of Life and Death (2004).

Aos 40, 'Sgt. Pepper's' é recriado na Inglaterra

Grupos e cantores ingleses vão regravar Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band - um dos álbuns mais importantes da história da música pop. A idéia é celebrar, em 1º de junho, os 40 anos do lançamento do disco editado pelos Beatles em 1967. A recriação do disco vai ser supervisionada por Geoff Emerick, o engenheiro de som que gravou o LP original. Vão participar da empreitada o cantor James Morrison e bandas como Oasis, Kaiser Chiefs, The Killers e Travis. Especial com cenas dos artistas em estúdio será exibido pela rede de TV BBC. Há rumores de que Paul McCartney poderia aderir ao projeto... Assim como o quarteto irlandês U2...

6 de abril de 2007

Gavin pode lançar shows inéditos de Caetano

Mal finalizou a segunda das quatro caixas da coleção Quarenta Anos Caetanos, intitulada 75-82, o pesquisador Charles Gavin já garimpa o material inédito que vai lançar no terceiro box. Gavin sabe da existência de gravações inéditas de dois shows feitos por Caetano Veloso (em foto de Fernanda Negrini) na década de 80 e tenta viabilizar a inclusão desse precioso material na próxima caixa. Será que sai??

Gil grava para trilha e aceita dueto com Alcione

Feito informalmente, o convite foi aceito de imediato. Se não houver nenhum impedimento na agenda, Gilberto Gil vai participar do disco de inéditas que Alcione começará a gravar entre abril ou maio. É que a cantora decidiu regravar Entre a Sola e o Salto - música dada por Gil a Marrom para o álbum Alerta Geral, de 1978 - e quis chamar o Ministro da Cultura para fazer duo com ela na faixa. O álbum vai chegar às lojas no segundo semestre.

Em tempo: Gil gravou duas músicas, Não Grude, Não! (da própria lavra) e Tem Mulher, Tô Lá (tema de Zé Catraca e J. Luna que deu título a álbum lançado por Jackson do Pandeiro em 1973) para a trilha sonora do filme O Homem que Desafiou o Diabo, que vai entrar em cartaz ainda este ano, com direção de Moacyr Góes.

Rei grava em Miami primeiro DVD em espanhol

Roberto Carlos vai gravar seu primeiro DVD em espanhol em 24 e 25 de maio. Inicialmente previsto para ter sido feito em Madrid em outubro de 2006, o registro já tinha sido adiado para janeiro. Mas vai ser feito - de fato - em Miami, em dois shows do cantor no Ziff Opera House, do Carnival Center for the Performing Arts. A gravação ao vivo vai ser editada no Brasil.

Sueli conclui CD com participação de Bethânia

Já em fase de masterização, o CD de inéditas de Sueli Costa fechou a fase de gravação com a participação de Maria Bethânia (à direita em foto de Leonardo Aversa). A intérprete foi ao estúdio pôr voz em Sim, Sei Bem - poema de Fernando Pessoa que foi musicado por Sueli. Agendado para maio, o disco conta também com as adesões de Nana Caymmi e Simone.

5 de abril de 2007

Acústico redentor de Lobão chega com 21 faixas

Lobão lança na próxima semana o Acústico MTV que marca sua redenção aos projetos e esquemas mercadológicos das gravadoras multinacionais que tanto alfinetou nos últimos anos. Puxado pela música Vou te Levar, o CD chega às lojas até dia 17, com 18 faixas. O DVD apresenta três números exclusivos (Revanche, Chorando no Campo e Que Língua Eu Falo) e sai entre fim de abril e início de maio. O grupo gaúcho Cachorro Grande participa de A Gente Vai se Amar. A maior curiosidade de um repertório que rebobina hits (Canos Silenciosos, Noite e Dia, Rádio Blá, Corações Psicodélicos, Me Chama, Décadence avec Elégance, A Queda e Essa Noite, Não) é O Mistério - música feita por Lobão com Ritchie e Lulu Santos na época em que eles formavam o grupo Vímana. Sai pela Sony BMG.

Loroza investe em 'Música Brasileira de Pista'

Um dos grandes destaques da coletânea de inéditas Samba Novo, em que interpreta bem o samba-jongo Reza Forte (de Rodrigo Maranhão com Mauro Reza), Serjão Loroza apresenta ainda neste mês de abril o seu primeiro CD, MBP - Música Brasileira de Pista (capa à esquerda). Popularizado como ator de televisão e de cinema, Loroza solta o vozeirão em repertório que combina samba e black music. Entre as onze músicas, Rap das Divindades, Hasta la Pista, Baby, Brother, Madureira... É Assim que É! e O meu Ponto Fraco É Mulher. Produzido por Carlos Pontual, o CD conta com adesões de Edu Krieger e de Rodrigo Maranhão. Quem lança é o selo Zambo.

Salmaso lança 'Noites de Gala, Samba na Rua'

Com título inspirado em verso de Quem te Viu, Quem te Vê ("Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua"), o CD dedicado por Mônica Salmaso à obra de Chico Buarque vai ser lançado em abril pela Biscoito Fino. Noites de Gala, Samba na Rua abrange no repertório 14 músicas de Chico assinadas somente pelo compositor (A Volta do Malandro, O Velho Francisco, Construção, Logo Eu, Basta um Dia, Partido Alto, Suburbano Coração, Bom Tempo, Morena dos Olhos d'Água) e em parceria com Edu Lobo (Ciranda da Bailarina, Beatriz), Guinga (Você, Você) e a dupla Tom Jobim & Vinicius de Moraes (Olha Maria). Quem te Viu, Quem te Vê está no CD, claro...

Acerto de Zizi redime erro de Edu em concerto

Resenha de show
Título: Concerto MPB & Jazz 2007
Artista: Edu Lobo, Zizi Possi, Wagner Tiso

e Orquestra Petrobrás Sinfônica
Local: Canecão Petrobrás (RJ)
Data: 4 de abril de 2007
Cotação: * * * *


Muito inseguro com as letras de suas próprias músicas, Edu Lobo tropeçou nos versos do Frevo Diabo e ainda não entrou no tempo previsto pelo arranjo da orquestra sinfônica. Mais tarde, admitiu não saber de cor a letra de Na Carreira. Os pequenos erros de Edu não tiraram o brilho do concerto apresentado na noite de quarta-feira, 4 de abril, para oficializar a (boa) parceria do Canecão com a Petrobrás. Mesmo porque houve o grande acerto de convidar Zizi Possi para reforçar o time do recital em que a música de Edu Lobo ganhou roupagem sinfônica, sob o comando dos maestros Wagner Tiso e Carlos Prazeres. "As pilastras básicas do meu trabalho têm a ver com ele", derramou-se a cantora no palco da tradicional casa.

Com seu fraseado cool, de afinação absoluta, Zizi Possi valorizou a música do homenageado ao cantar sozinha jóias do alto quilate de Lábia, Sobre Todas as Coisas, O Circo Místico e Valsa Brasileira. Em dueto com o compositor, a cantora reafirmou a categoria em A Mulher de Cada Porto, Canção do Amanhecer, Upa Neguinho e Ponteio (harmonioso dueto já feito por eles em trilha de novela).

Zizi à parte, a abordagem sinfônica do cancioneiro de Edu Lobo foi primoroso. Regida ora por Wagner Tiso ora por Carlos Prazeres, a Orquestra da Petrobrás recriou a atmosfera lúdica da Ciranda da Bailarina e sublinhou com as cordas o lirismo de Pra Dizer Adeus e Beatriz - números entusiasticamente aplaudidos pela platéia de convidados. Mesmo tropeçando nas letras, Edu Lobo é luxo só!!!!!!

4 de abril de 2007

Dixie Chicks em seu CD mais íntimo e pessoal

Resenha de CD
Título: Taking the

Long Way
Artista: Dixie Chicks
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * * *

É bem difícil para um ouvinte brasileiro escutar este álbum do grupo texano de country e entender toda a importância que ele adquiriu nos Estados Unidos. A ponto de ter se sagrado o grande vencedor do Grammy 2007, faturando disputados troféus como Álbum do Ano, Gravação do Ano e Música do Ano. Editado no Brasil com um ano de atraso, via Sony BMG, Taking the Long Way representa ato de resistência das moças. Elas enfrentaram a tirania de George W. Bush e sofreram boicote de fãs (?) por criticar publicamente o presidente dos EUA. Mas, quando poderia ir para o ralo, o trio ressurgiu das cinzas com álbum produzido por Rick Rubin, que já assinou CDs de bandas como Red Hot Chili Peppers. Taking the Long Way oferece country com atitude roqueira. Em seu trabalho mais denso, íntimo e pessoal, as três meninas se mantém firmes em suas opiniões, trocam figurinhas com nomes como Sheryl Crow (co-autora de Favorite Year) e politizam o seu country. Ainda que não se afastem do gênero que lhes deu fama e fortuna. Há forte atmosfera emocional nas letras de músicas como The Long Way Around, Easy Silence e Not Ready to Make Nice. Para quem acompanha a discografia do Dixie Chicks, Taking the Long Way é belo salto rumo ao futuro. Espera-se que sem Bush...

Duetos revivem o samba guerreiro de Jovelina

Resenha de CD
Título:
Jovelina Duetos

- É Isso que Eu Mereço
Artista:
Jovelina Pérola

Negra e convidados
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * *

Jovelina Farias Belford (1944 - 1998), a Pérola Negra, sempre foi muito habilidosa na arte de improvisar rimas em rodas de samba. Projetada em 1985, no pau-de-sebo Raça Brasileira, esta partideira de alto quilate cantava com a voz em estado bruto. Versada na escola da vida, trabalhou como empregada doméstica até conseguir (sobre)viver de música. Deixou discografia digna composta por sete álbuns gravados entre 1986 e 1996. Em que pese alguma irregularidade evidenciada já na metade final de sua obra fonográfica, Jovelina já virou referência para sambistas de várias gerações. Daí a importância deste CD de duetos produzido por Marcos Salles, que apresentou a artista ao mercado naquele histórico disco Raça Brasileira feito em 1985.

Duetos - É Isso que Eu Mereço revive o supra-sumo da obra de Jovelina. Por conta dos avanços da tecnologia, tem-se a nítida impressão de que os encontros realmente aconteceram. E alguns soam perfeitamente naturais - como o trio formado por Jovelina, Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz no medley que une Luz do Repente (1987), Feirinha da Pavuna (1985) e Bagaço da Laranja (1985). Fiel à sua mistura de samba e rap, Marcelo D2 improvisa versos em Catatau (1991), lado B de Sangue Bom, álbum de onde vem também Liberdade Plena (1991), um samba mediano recriado em dueto com Alcione - cuja voz soa frágil e sem brilho. Igualmente aquém do esperado, a interpretação de Beth Carvalho em Sonho Juvenil (Garota Zona Sul), samba de 1987, não se harmoniza bem com a de Jovelina. Quem não causa surpresa é Cassiana, pois sua escalação em É Isso que Eu Mereço (1986) se justifica apenas pelo laço afetivo (ela é filha de Jovelina). Melhor ouvir Zélia Duncan - à vontade em Laços e Pedaços (1986), um dos mais belos sambas do tributo - e Leci Brandão, em excelente forma em No Mesmo Manto (1991), outra pérola extraída do belo álbum Sangue Bom. É dez!

Se o Grupo Revelação reaparece descontraído em Amor Indeciso (1993), o Fundo de Quintal se garante no Banho de Felicidade (de 1987). Da mesma forma, Jorge Aragão valoriza O Dia se Zangou (1986) e Seu Jorge encara com suingue Filosofia de Bar (1987). Já Almir Guineto reafirma a sintonia vocal com Jovelina em Menina, Você Bebeu (1986), samba do álbum Pérola Negra, o primeiro e melhor trabalho de Jovelina. Fora de sintonia ficou a faixa Sorriso Aberto. Não há a voz de Jovelina no samba que deu título ao seu disco de 1988. Quem defende o clássico do saudoso Guará é trio formado por Ana Costa (a melhor), Juliana Diniz e Márcia Viegas.

Entre erros e acertos, comuns a projetos do gênero, o tributo faz brotar boa saudade da voz guerreira de Jovelina - a Pérola Negra!!

Livro disseca a criação de obra-prima de Miles

Ainda um dos músicos mais influentes da história do jazz, o trompetista Miles Davis (1926 - 1991) deixou várias obras-primas em vasta discografia de caráter sempre revolucionário. Birth of the Cool (1957) e Bitches Brew (1970) dividiram águas na corrente jazzística e implataram - respectivamente - o cool jazz e a polêmica fusion. Os dois álbuns formam santíssima trindade com título de 1959 que ajudou a sedimentar o jazz modal e ainda hoje é referência para músicos e jazzófilos. Trata-se de Kind of Blue, disco que tem sua gênese dissecada em livro de 2000 que chega, neste início de abril, ao mercado brasileiro pela editora Barracuda. Escrito pelo jornalista Ashley Kahn, Kind of Blue - A História da Obra-Prima de Miles Davis (foto) refaz a trajetória de Davis até o registro do álbum, esmiuçado em cada take. O autor teve acesso às fitas originais do disco gravado pelo trompetista em Nova York (EUA) com célebre sexteto que incluía músicos do quilate de John Coltrane, Bill Evans e Paul Chambers.

'Zero KM' põe na estrada cinco bandas 'novatas'

Usando no título o nome do programa exibido pelo canal Multishow às terças-feiras, o DVD Zero KM (foto) junta na estrada audiovisual cinco (irregulares) bandas emergentes na cena de pop rock nacional. Dibob, Emo, Luxúria, Ramirez e Seu Cuca reuniram seus principais hits em gravação realizada em setembro de 2006, em show no Canecão (RJ). O DVD tem 20 faixas e o CD, 14. Números como Dancing with Myself (Luxúria), Nosso Sonho (Dibob), Apenas Mais Uma de Amor (Emo), Rolé (Seu Cuca) e Alguém Melhor (Ramirez) são exclusivos do DVD. Detalhe: todas as cinco bandas já têm algum tempo de estrada, pois foram criadas entre 2001 e 2002. Só que nenhuma tinha lançado ainda um DVD.

3 de abril de 2007

Ivete entra em campo para diluir sua axé music

Resenha de CD
Título:
Ivete no Maracanã

Multishow ao Vivo
Artista: Ivete Sangalo

Gravadora:
Universal

Music
Cotação:
* *

Em 1997, então no posto de vocalista da Banda Eva, Ivete Sangalo lançou CD ao vivo que teria vendido cerca de dois milhões de cópias. Dez anos depois, a cantora se mantém bastante em alta no mercado fonográfico com carisma e uma progressiva diluição de sua música - cada vez mais populista. Basta ouvir sua terceira gravação ao vivo, captada em mega-show no Maracanã em 16 de dezembro. O alto custo da produção (cerca de R$ 3,5 milhões) não impede a estética cafona do espetáculo. Aliás, o que são os ruídos de trovões antes da balada Quando a Chuva Passar, cujo refrão é repetido em coro pelo público? Se há dinheiro, falta bom gosto...

Sim, Ivete tem pique no palco e entretém bem o público. Os seus shows são calorosos, e não é diferente com a gravação ouvida em CD que reúne convidados como Buchecha (num medley funkeiro com Nosso Sonho, Conquista e Poder), Alejandro Sanz (Corazón Partío), Durval Lelys (Bota pra Ferver, um galope da banda Asa de Águia) e Samuel Rosa. Só que, se o MTV ao Vivo de 2004 já era inferior ao disco ao vivo da Banda Eva, este Ivete no Maracanã não consegue se nivelar com o (irregular) registro feito pela MTV. Inclusive pelo caráter insosso das inéditas. Pode até ser que o pop reggae Ilumina conquiste admiradores da cantora, que obedecem a comandos repetitivos como "tira o pé do chão" ou "sai do chão", mas Não Precisa Mudar (em dueto com Saulo, atual vocalista da Eva), Dengo de Amor e Completo (a música gravada em estúdio e incluída como faixa-bônus do CD por ter sido tema de comercial de banco) são fracas até para o público menos exigente de Ivete. Tanto que a gravadora Universal preferiu mandar para as rádios a balada Deixo, já gravada por Márcia Freire e pela Cheiro de Amor.

Nos últimos anos, Ivete tem tentado extrapolar o universo da axé music com um repertório de sotaque mais pop e referências a soul music. No roteiro do show no Maracanã, ela investe nas searas de Tim Maia (Não Vou Ficar, em dueto desencontrado com Samuel Rosa, e Não Quero Dinheiro - Só Quero Amar), Jorge Ben Jor (País Tropical e Taj Mahal em inapropriado medley com seu hit Arerê) e Wilson Simonal (Sá Marina, número exclusivo do DVD). Só que dilui o suingue personalíssimo do repertório destes cantores com os arranjos pobres e padronizados de sua mediana Banda do Bem.

No saldo final, o projeto Ivete no Maracanã parece boa jogada da cantora no momento em que a rival Cláudia Leitte ascende na mídia e no mercado de axé music. Há alguns números calorosos, como o medley com as lambadas Chorando se Foi (hit do efêmero Kaoma) e Preta (do sumido Beto Barbosa). Ivete Sangalo não quis jogar para perder com esta gravação, mas o que pode ganhar em vendas é perdido com o aumento da distância artística entre ela e suas conterrâneas Daniela Mercury e Margareth Menezes - bem mais felizes (e modernas) no trato com a música afro-pop-baiana.

Zé Ketti revive em DVD e tributo do prêmio Tim

É coincidência, mas no ano em que foi eleito o homenageado da 5ª edição do Prêmio Tim de Música - em cerimônia agendada para 16 de maio no Theatro Municipal do Rio de Janeiro - Zé Ketti (1921 - 1999) chega ao DVD através da Biscoito Fino. A gravadora lança em vídeo digital o (raro) registro do programa Ensaio dedicado ao autor de Diz que Fui por Aí em 1991. No especial, Zé Ketti canta 22 sambas - Máscara Negra, A Voz do Morro, Portela Feliz, Nega Dina, Mascarada, Leviana e Opinião, entre outros - enquanto reconta histórias de sua carreira.

Em tempo: a Biscoito Fino - que vem intensificando seu ritmo de lançamentos - reforça o seu catálogo em 2007 com as edições em DVD do documentário Vento Bravo (sobre Edu Lobo) e do show que Eumir Deodato faz nesta terça e quarta-feira, 3 e 4 de abril, na Sala Cecília Meirelles (RJ). No caso de Deodato, a gravação ao vivo será lançada também em CD. Chega às lojas no segundo semestre.

Ivo Pessoa apela para teletemas em CD e DVD

Projetado em 2004 pela terceira edição do programa Fama, o cantor (de ótima voz) Ivo Pessoa tenta engrossar seu ralo sucesso populista com a gravação de 20 temas de novelas da Rede Globo. Depois de registrar músicas para as trilhas das novelas Alma Gêmea (Uma Vez Mais, de 2006) e O Profeta (Além do Olhar, de 2007), o intérprete volta com o CD e o DVD História das Novelas, via Som Livre. Na gravação, Pessoa canta apenas músicas propagadas por tramas globais em quase 40 anos. Urdido cronologicamente, o roteiro enfileira hits óbvios como Teletema (Véu de Noiva, a novela exibida entre 1969 e 1970), Rock and Roll Lullaby (Selva de Pedra, 1972), Meu Mundo e Nada Mais (Anjo Mau, 1976), Se Eu Não te Amasse Tanto Assim (Uga Uga, 2000) e Encontros e Despedidas (Senhora do Destino, 2005). Em Oceano (Top Model, 1990), Ivo forma trio com a dupla Cídia e Dan, também revelada no programa Fama. Já em Não Dá Mais pra Segurar (Explode Coração, 1996) a convidada é Shirle de Moraes - uma outra cria do programa de calouros da Rede Globo.

DVD historia legado luminoso da Sun Records

Resenha de DVD
Título: Good Rockin' Tonight

- The Legacy of Sun Records
Artista: Vários
Gravadora:
Coqueiro Verde

Records
Cotação:
* * * *

Pequena gravadora que entrou para a história do rock por ter feito brilhar a luz de Elvis Presley, a Sun Records tem a sua heróica trajetória (re)contada pelo fundador Sam Philips em documentário apresentado em DVD editado no Brasil - com texto escrito por Erasmo Carlos na contracapa. Devidamente legendado em português pela Coqueiro Verde Records, o vídeo deverá tocar o coração dos velhos roqueiros com narrativa embebida em forte nostalgia dos tempos da brilhantina e, sim, "da fábrica de sonhos que deu melodia, ritmo e voz aos eternos jovens do mundo", como define o Tremendão no emotivo texto feito para promover o DVD.

Em 3 de janeiro de 1950, com o slogan "Gravamos qualquer coisa em qualquer lugar em qualquer hora", a Sun Records abriu suas portas em Memphis (EUA). Na época, artistas negros não tinham oportunidade de gravar disco. E foi gravando feras como B.B. King e Howlin' Wolf que a Sun sobreviveu até 1954 - o ano em que estes artistas, já com cacife no mercado, passaram a migrar para outras companhias. Até que, em 5 de junho de 1954, entrou na gravadora um branco que cantava como negro. Era Elvis Aaron Presley, cujo primeiro sucesso na Sun, That's All Right Mama, é revivido para o filme em gravação de Paul McCartney, para mostrar que o elenco da Sun Records também iluminou o caminho inicial dos Beatles.

No rastro de Elvis Presley, alvo da histeria feminina como atestam imagens incluídas no documentário, apareceram roqueiros como Carl Perkins - mostrado no filme em raro take de apresentação na TV. "Queimavam os discos de Elvis em praça pública. Era música do diabo", recorda D.J. Fontana, o baterista que tocava com Elvis. Em reunião com músicos da época, o bluesman Rufus Thomas é taxativo: "Sam Philips nada inovou. O rock'n'roll não nasceu em Memphis. Foi o blues que construiu Memphis...", puxa a sardinha.

Logo depois da chegada de Johnny Cash na Sun ("Vá para casa e cometa alguns pecados", teria dito Sam ao conhecer Cash), a RCA ofereceu 35 mil dólares pelo passe de Presley. "Foi a decisão mais difícil da minha vida", relembra Sam Philips. Só que os problemas financeiros enfrentados pela Sun na época ajudaram seu fundador a se decidir logo pela venda do passe de Elvis, que - revela o filme - poderia ter ido para o cast da então nascente Atlantic Records se esta tivesse dinheiro suficiente em caixa (sua perda é lamentada).

Sem Elvis Presley, a Sun foi sobrevivendo com nomes como Roy Orbinson, Billy Lee Riley e Jerry Lee Lewis, contratado em 1957 para mostrar ao mundo que se podia tocar rock no piano. "Elvis me disse que, se tocasse piano como Jerry Lewis, ela desistiria de cantar", revela Sam Philips. Mais tarde, em 1960, com o rock já produzido em escala industrial, a pequena Sun começou a sumir no horizonte. Mas ainda brilha em qualquer livro ou filme que se disponha a recontar a história do rock'n'roll, a "fábrica de sonhos".

2 de abril de 2007

Música de Cartola sustenta olhar lírico de Lírio

Resenha de filme
Título:
Cartola

- Música para os Olhos
Direção: Lírio Ferreira

e Hilton Lacerda
Em cartaz
a partir de 6 de abril nos

cinemas de Rio de Janeiro (RJ), São
Paulo (SP) e Recife (PE)
Cotação:
* * *

Ao som de Divina Dama, samba lançado por Francisco Alves em janeiro de 1933, o filme inicia sua viagem histórica pela trajetória de Cartola a partir do fim. São as imagens do enterro do artista, em novembro de 1980, que abrem e fecham este documentário que, a rigor, oscila entre contar a vida dura do compositor e falar sobre a evolução do samba e do Rio de tempos idos. Acaba ficando na superfície de todos os assuntos, só que se sustenta na beleza atemporal da música de Cartola e em passagens bacanas como que a mostra Chico Buarque, Donga e uma turma de sambistas da antiga a entoar nos anos 60 o primeiro samba oficial, Pelo Telefone, em programa de TV comandado por Hebe Camargo.

Assinado pelos diretores Lírio Ferreira (de O Baile Perfumado) e Hilton Lacerda, o roteiro insere passagens ficcionais (nas quais o menino Marcos Paulo Simião vive Cartola na infância) e trechos de filmes que ajudam a contextualizar a época em que floresceu a fina obra do autor de As Rosas Não Falam. Seria recurso interessante se o documentário não tirasse várias vezes o foco do personagem principal, esmaecendo o olhar lírico de Lírio sobre o compositor.

Nem os (numerosos) depoimentos colhidos para o filme ajudam a solidificar a narrativa. Mas há a música. E ela carrega bem o filme. Ouvir Peito Vazio na voz rústica de Cartola é bálsamo para olhos, ouvidos e alma. Entre algumas poucas histórias saborosas (como a do dono de gravadora que confundiu o som da cuíca de Armando Marçal com o latido de um cachorro na gravação do primeiro LP de Cartola, de 1974) e seqüências como a que o artista caminha pelo Rio ao som de Autonomia, o filme segue tão poético quanto linear. Mas é filme sobre Cartola. E a figura de Cartola na tela é o bastante para encher os olhos até de espectadores mais exigentes.

Castello Branco preside EMI sem os Paralamas

Marcelo Castello Branco assume esta semana a presidência da filial brasileira da EMI Music sem contar com os Paralamas do Sucesso no elenco da major. O contrato do trio carioca acabou e ainda não foi renovado. O grupo prepara álbum de inéditas para 2008 e está livre para negociar o lançamento do CD com qualquer gravadora - inclusive com a EMI, cujo novo diretor artístico, Paulo Junqueiro, valoriza especialmente o pop nacional. Detalhe: toda a discografia da banda (em foto de Maurício Valladares) tem sido editada pela EMI desde 1983, o ano em que o trio lançou o LP Cinema Mudo.

Single do Linkin Park chega às rádios e às lojas

Chega às rádios dos Estados Unidos nesta segunda-feira, 2 de abril, o primeiro single de Minutes to Midnight, o novo CD do grupo Linkin Park. Trata-se What I've Done. O álbum foi produzido pelo cultuado Rick Rubin - que costuma assinar discos de bandas como Red Hot Chili Peppers - em parceria com Mike Shinoda, vocalista da banda. O lançamento mundial está agendado para 14 de maio. Mas o single de What I've Done já está à venda nas lojas digitais de todo o mundo. O download sai a R$ 1,89 (o preço é promocional).

Korn dilui agressividade no banquinho da MTV

Resenha de CD
Título: Korn

Unplugged MTV
Artista: Korn
Gravadora: EMI Music
Cotação:
* * *

Expoente do nu metal, o Korn acomodou seu rock agressivo no banquinho da MTV. Pode ser que a gravação acústica descontente fãs radicais, mas músicas como Blind (com leve toque flamenco) e Hollow Life ganharam frescor. Outras - como Coming Undone e Twisted Transistor - parecem muito mais apropriadas para o peso característico do grupo. No todo, o saldo é positivo. Inclusive pelo cover do Radiohead (Creep, em releitura digna) e pela escolha dos convidados. Vocalista da banda Evanescence, Amy Lee une sua voz à de Jonathan Davis em Freak on a Leash, faixa (estrategicamente) eleita o primeiro single do acústico. Já o grupo The Cure encontra o Korn no medley que agrupa Make me Bad e In Between Days. Funciona. Ainda que o canto de Jonathan Davis tenha suas deficiências expostas em registro que valoriza as letras e melodias, diluindo a raiva contida no som pesado do Korn.

1 de abril de 2007

Jobim, Ary, Caymmi e Chico na voz de Teresa

Ary Barroso, Dorival Caymmi, Chico Buarque, Tom Jobim e Vinicius de Moraes são cinco compositores recorrentes na seleção do primeiro disco solo da cantora portuguesa Teresa Salgueiro, Você e Eu (foto) - inteiramente dedicado à antiga música brasileira. A vocalista do grupo Madredeus entoa 23 clássicos de lavra nacional em 22 faixas. Já editado em Portugal, o CD reúne no repertório temas como A Banda, Triste, Modinha, Saudade da Bahia (num medley com O Samba da Minha Terra), Meditação, Valsinha, Chovendo na Roseira, Maracangalha, Na Baixa do Sapateiro, Estrada do Sol e A Felicidade, entre outras músicas. Produzida por Pedro Ayres Magalhães, Teresa canta na companhia do Septeto de João Cristal, que assina Você e Eu com a cantora - como mostra a capa do CD.

Erasmo convida Chico, Hermanos, Simone etc.

Já está no forno da gravadora Indie Records o CD Erasmo Carlos Convida Volume 2 - seqüência do álbum de 1980 que fez o Tremendão voltar a ser um bom vendedor de disco (o que não acontecia desde a época da Jovem Guarda, ainda que o cantor tenha gravado grandes álbuns ao longo da década de 70). O anfitrião recebe convidados como Los Hermanos (Sábado Morto, 1972), Simone (Vou Ficar Nu para Chamar sua Atenção, 1970), Marisa Monte (Não Quero Ver Você Triste, de 1965), Lulu Santos (Coqueiro Verde, 1970), Skank (A Banda dos Contentes, de 1976) e Chico Buarque (com Erasmo em estúdio na foto de André Batista). Com Chico, o Tremendão recorda Olha (1975), em dueto já ouvido na trilha sonora nacional da novela Paraíso Tropical.

Nas lojas em meados de abril, o álbum Erasmo Carlos Convida Volume 2 alterna no bom repertório pérolas da obra roqueira do Tremendão com músicas feitas pelo compositor com o seu amigo de fé e irmão camarada Roberto Carlos - mas que são associadas ao Rei. São os casos dos hits Emoções (1982, em dueto com Milton Nascimento) e Cama e Mesa (1981, duo com Zeca Pagodinho). Já a lista de convidados oscila entre medalhões da MPB que ficaram de fora do ótimo primeiro volume (Milton, Chico, Simone) e nomes do universo pop que sempre reverenciaram Erasmo (Kid Abelha, Adriana Calcanhotto) e chegaram até a compor com ele (Marisa Monte, Marcelo Camelo). O anfitrião recebe 12 convidados no CD.

Sérgio grava no Rio com músicos da Mangueira

Sérgio Mendes (foto) vai seguir em seu próximo álbum a fórmula do anterior Timeless, CD que marcou sua volta às paradas com a reunião da batida do hip hop com o suingue da música brasileira. Radicado nos EUA, o artista veio ao Rio gravar parte do disco. A música Manhã Carioca foi registrada na cidade com a participação de ritmistas da Mangueira, comandados por Ivo Meirelles. Esteve prevista também gravação com Guinga, já presente como compositor em Timeless. Em tempo: o rapper will.i.am - o do grupo Black Eyed Peas - viajou ao Rio com Mendes.

Em casa nova, Anna Luisa (re)começa do zero

Resenha de show
Título: Do Zero
Artista: Anna Luisa
Local: Cinemathèque JamClub (RJ)
Data: 31 de março de 2007
Cotação: * * *

Do Zero é o nome da arretada parceria de Pedro Luís e Seu Jorge que integra o repertório do CD de Anna Luisa, lançado em meados de 2006. É também - não por acaso - o título do segundo disco da cantora carioca que, ao batizar o atual trabalho, simbolicamente descartou sua estréia fonográfica, um esquecível disco de covers, Novelas Acústico. Do Zero - álbum que vai ser distribuído pela Universal Music a partir deste mês de abril - parece ser, de fato e de direito, o pontapé inicial da carreira da artista, que canta bem (sem ter timbre especialmente único) e compõe na média. É dela boa parte das 11 músicas do disco que Anna vem promovendo em shows como o feito na noite de sábado na nova (boa) casa carioca, Cinemathèque, aberta recentemente em Botafogo com atmosfera hype que tem tudo para ocupar lugar deixado vago pelo Ballroom.

No palco, Anna exibe pique. Mas é preciso trabalhar a emissão da voz para que letras como as de Vale Quanto Pesa (de Pedro Luís) possam ser mais bem compreendidas em cena. Como no bom CD, produzido por Rodrigo Vidal, a cantora transitou por MPB pop de textura regionalista, sobretudo nordestina. Dá para sentir bem a pegada do baião em temas como Cabra-Cega, inspirada parceria sua com Emerson Mardhine que foi cantada em dueto com Ana Costa e mereceu voltar no bis. Na mesma seara, O Osso (Rodrigo Maranhão) é xote turbinado com beats eletrônicos que responde pelo (primeiro) grande momento do show, feito com banda afiada.

O mesmo Rodrigo Maranhão assina Pra Tocar na Rádio, samba de ritmo ralentado. Entre pop reggae (Pedacinho da Vida, com todo jeito de hit e cantado espontaneamente pela platéia) e maracatus (como Serena, apresentado com adesão do grupo Rio Maracatu), Anna Luisa mostra estar antenada com a nova MPB - a ponto de equilibrar no roteiro música do grupo Los Hermanos (Um Par, de Rodrigo Amarante) e sucesso de Clara Nunes (Ijexá, que teve seu toque afro anunciado por solo de percussão de Siri). Se recordou graciosamente o hit de Clara, Anna pouco acrescentou a Paula e Bebeto, o clássico de Milton Nascimento e Caetano Veloso. Mas, no todo, o show sinaliza que Anna fez bem em zerar sua carreira...