Talvez (quase) ninguém se dê conta, ou faça as contas, mas Marina Lima está completando 30 anos em atividade na cena pop nativa. Foi em 1977 que Gal Costa gravou no LP Caras e Bocas a música Meu Doce Amor, parceria de Marina com Duda Machado. A rigor, a primazia de registrar uma música de Marina (então sem o Lima) seria de Maria Bethânia, só que o blues Alma Caiada (da lavra de Marina com seu irmão Antonio Cícero) foi proibido pela censura do regime militar de entrar no álbum Pássaro Proibido, lançado em 1976. Então quis a história que fosse de Gal o primeiro registro oficial de música de Marina, que - nessas três décadas - se firmou entre altos e baixos como uma das figuras mais emblemáticas da cultura pop brasileira por seu som e pela postura quase histórica. Quando Marina gravou seu primeiro LP, Simples como Fogo, já em 1978, ela ainda transitava entre a MPB e o que se podia chamar de pop na época. Mas já era uma pioneira. Rita Lee à parte, não era comum ver uma mulher empunhar uma guitarra e cantar músicas com letras de tom confessional que exalavam frescor e soavam mais coloquiais com sua poesia menos tradicionalista. Depois de um segundo álbum ainda no meio do caminho, Olhos Felizes (de 1980), Marina começa a firmar sua assinatura pessoal em Certos Acordes, o LP de 1981 que trouxe músicas como Gata Todo Dia.
A explosão de Fullgás em 1984 inseriu Marina na turma pop que invadiu o Brasil nos anos 80, sedimentando uma cultura pop que, até então, era muito frágil e dependente de movimentos como a Jovem Guarda e de carreiras isoladas como as de Rita Lee e Raul Seixas. Bem à vontade entre tantas bandas de rock que falavam a mesma linguagem que ela, Marina viveu seu período áureo entre 1984 e 1991. Era que culminou com o lançamento de seu melhor álbum, Marina Lima (1991), o primeiro na EMI depois de uma década feliz e produtiva na PolyGram (a atual Universal Music).
Um problema na voz ainda hoje controverso - a artista o credita a questões emocionais - deixou esmaecido o brilho de Marina Lima a partir da segunda metade dos anos 90, em que pesem álbuns até interessantes como Pierrot do Brasil (1998). Mas, aos 30 anos de carreira, já cinqüentona, Marina Lima está ótima. Sua recente turnê, a Topo Todas Tour, a flagra em momento de rara beleza. É uma artista que sabe de sua força e de seu lugar na história da música pop. E que, ainda gata todo dia, continua na (sua) estrada.