Resenha de CD
Título: A Gente Ainda Não SonhouArtista: Carlinhos Brown
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * *
Carlinhos Brown criou seu bom quinto CD solo no tempo da delicadeza tribalista. A Gente Ainda Não Sonhou está chegando ao Brasil neste início de outubro, via Som Livre, com outra capa e onze músicas em vez das 14 do álbum original, gravado para a Espanha e já editado no exterior desde abril. No anterior Carlinhos Brown És Carlito Marrón (2003), também feito para o mercado hispânico, Brown ergueu ponte rítmica entre Bahia, Espanha e América Latina - com alta dose de música flamenca. Em A Gente Ainda Não Sonhou, o tom é despudoramente romântico. Brown suavizou seu canto e sua percussão (turbinada com beats eletrônicos), mostrando toda a (benéfica) influência da reunião com Arnaldo Antunes e Marisa Monte no projeto Tribalistas. Há, a propósito, dois temas da lavra do trio tribalista: a suplicante canção Mande um E-mail pra mim, exemplo da ternura que permeia todo o disco, e Everybodygente (com a adesão de Seu Jorge na co-autoria). Na edição estrangeira, há uma terceira música do trio, Página Futuro, funk suprimido do disco nacional, assim como Dia de Você e a faixa-título. Por que?!
Gravado na Bahia entre março de 2005 e setembro de 2006, com produção do próprio Brown, o álbum é o mais singelo do artista. Trata-se (quase) de um disco de baladas amorosas. Em suave tom eletroacústico, meio artesanal, o compositor apresenta músicas como Goodbye Hello (faixa cantada em inglês), Guaraná Café (em parceria com Ivete Sangalo), Garoa (reggae escolhido para puxar o disco no Brasil, com direito a clipe) e Marina dos Mares. Neste tributo a Dorival Caymmi, Brown mostra letra em que insere no universo praieiro a personagem-título do samba-canção de 1947.
O álbum é especialmente brilhante nas faixas Pedindo pra Voltar e O Aroma da Vida. Em Pedindo pra Voltar, a música lançada pelo grupo Timbalada no CD Alegria Original (de 2006) e já incluída com grande sucesso por Marisa Monte em recentes apresentações da turnê Universo Particular, Brown explora - com pitadas de flamenco - os clichês da música sentimental latina. Aroma da Vida se impõe no repertório autoral pelo arranjo inventivo que busca a incomum interação de guitarra (tocada pelo próprio Brown) com as cordas orquestradas pelo violoncelista Jaques Morelenbaum.
No todo, A Gente Ainda Não Sonhou está longe de ser obra-prima como Omelete Man (1998), ainda o melhor trabalho solo do artista. Mas tem o mérito de mostrar um Brown mais simples, sem os excessos de informação do efusivo Alfagamabetizado (1996) e do pretensioso Bahia do Mundo - Mito e Verdade (2001). E, sim, sem a forçada internacionalização de Carlinhos Brown És Carlito Marrón (2003). É, em síntese, um sonho de amor e de paz à moda tribalista que (re)afirma o talento de Brown.