12 de maio de 2007

Babado quer filmar novo DVD em praia do Rio

Nem bem lançou a edição do CD Ver-te Mar que traz como bônus o DVD filmado em show na Bahia, o Babado Novo já pretende fazer outro registro de espetáculo. Desta vez, no Rio de Janeiro. A idéia de Cláudia Leitte - acima em foto de Washington Possato - é fazer uma grande apresentação em praia carioca, que poderá vir a ser a de Copacabana ou a da Barra da Tijuca. Fazer o DVD no Maracanã é hipótese já descartada para não evocar o show de Ivete Sangalo.

Delicada, Marisa segue a trilha de Santaolalla

Resenha de show
Título: Música em Cena
Artista: Gustavo Santaollala (com Marisa Monte)
Local: Canecão (RJ)
Data: 11 de maio de 2007
Cotação: * * * *

Fina estilista da canção, Marisa Monte se embrenhou nas trilhas sofisticadas de Gustavo Santaollala, o ompositor argentino em ascensão em Hollywood por conta dos sons criados para filmes como Babel e Diários de Motocicleta. A interação de Marisa com Santaollala foi o ponto alto do concerto do autor no projeto Música em Cena - 1º Encontro Internacional de Música de Cinema, em cartaz na Cidade Maravilhosa de 5 a 13 de maio.

Sem perder a delicadeza e a assinatura vocal, hoje cada vez mais pautada pela delicadeza, Marisa Monte surpreendeu ao entoar a antiga canção abolerada mexicana, Te Quiero Dijiste (Muñequita Linda), de autoria de María Grever (1884 - 1951), compositora de numerosas trilhas para filmes da Paramount. Seriam apenas três músicas, mas o set de Marisa e Santoallala - aberto com Infinito Particular e a bela A Primeira Pedra, esta em registro bem menos etéreo do que o ouvido no álbum Infinito Particular - acabou tendo quarto número, Pedindo pra Voltar, música do repertório romântico da Timbalada. Não deixou de ser uma ótima sacação, já que o tema de Carlinhos Brown e Alain Tavares - gravado pelo grupo baiano no CD Alegria Original - brinca com os clichês da canção sentimental latina. A interpretação de Marisa é poderosa.

Alternando-se no violão e no ukelele, a cantora apresentou duetos harmoniosos com o anfitrião, cujos vocais exibiram leveza típica de uma segunda voz. Foi um encontro urdido no tempo chique da delicadeza. A boa música entrou em cena. Para ficar na memória...

Black Rio ergue a ponte entre Jackson e o funk

Coco de Rosil Cavalcanti - que foi lançado por Jackson do Pandeiro em 1953 no disco de 78 rotações que trouxe ainda Forró em Limoeiro no lado A - Sebastiana vai ganhar curiosa regravação da Banda Black Rio (foto) em seu segundo CD desde a volta (o primeiro, Movimento, é de 2001). Reativada em 1999 por William Magalhães, o filho do falecido fundador Oberdan Magalhães, a Black Rio tem sido muito cultuada no exterior. Tanto que o CD Movimento foi editado em 2002 na Europa com o título de Rebirth. A idéia é regravar o hit de Jackson para erguer a ponte entre o Nordeste e o funk carioca.

14 Bis sobrevoa obra em DVD que traz Flausino

Grupo que alçou vôo em fins dos anos 70, em rota que cruzava o pop com o rock progressivo, o 14 Bis chega enfim ao DVD. Gravado em show no Palácio das Artes, em Belo Horizonte (MG), 14 Bis ao Vivo agrega no retrospectivo roteiro ilustres conterrâneos como Beto Guedes (em Caçador de mim), Rogério Flausino (Planeta Sonho, faixa em que também aparece o ex-integrante Flávio Venturini). Marcus Viana toca em 14 Bis Instrumental II e Mesmo de Brincadeira. O DVD sai via Sony BMG.

11 de maio de 2007

Descontraída, Marina se abriga sob lona de hits

Resenha de show
Título: Topo Todas
Artista: Marina Lima (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Circo Voador (RJ)
Data: 10 de maio de 2007
Cotação: * * *

"A Lapa é sempre assim?", perguntou Marina, fazendo charme, ao voltar para o bis do show Topo Todas, que chegou ontem ao Rio de Janeiro (depois de passar discreto por Niterói) em concorrida apresentação no Circo Voador, armado no boêmio bairro da Lapa. Diante da esfuziante resposta afirmativa do animado público, ela emendou: "Quero recuperar o tempo perdido". Sim, por incrível que possa parecer, Marina nunca tinha pisado no palco do Circo, referência obrigatória quando se fala em nomes que comandaram o estouro do pop rock no mercado nacional dos anos 80. Marina, embora projetada na década anterior, se integrou rapidamente à turma. Mas nunca cantara no Circo. E foi na casa da Lapa que ela se abrigou sob a lona de hits colecionados em 29 anos de estrada.

A propósito, Topo Todas é show estradeiro, moldado para matar a saudade dos fãs que querem ouvi-la cantar sucessos como Uma Noite e 1/2 e À Francesa. Não é exatamente um novo show, posto que reedita números e truques cênicos do anterior Primórdios, porém adiciona ao roteiro músicas que fizeram a fama de Marina.

Embora sem o viço dos áureos tempos, a voz soou com mais vida do que em apresentações recentes (sobretudo na primeira parte). Descontraída, e gata todo dia aos 50 anos, Marina fez a sua festa. Esbanjou simpatia e reviveu músicas alheias que tornou suas por conta de sua nítida assinatura estilística. Ainda É Cedo, Beija-Flor ("É um axé meu, mas é um axé"), Me Chama, Nada por mim (com direito a agradecimentos para os autores Paula Toller e Herbert Vianna)... O público se esbaldou. Sem tanto teatro (mas mantendo o desmaio encenado após desossar Nervos de Aço), Marina Lima ofereceu o que a platéia queria. E ela correspondeu com euforia e o forte coro espontâneo de músicas como Nosso Estranho Amor e Virgem. A voz pode já não ser a mesma, mas o fino cancioneiro da artista continua atual e infalível. Foi uma delícia revê-la em turnê mais descompromissada, menos cabeça. Se houve compromisso, foi com satisfação do público. E ele se esbaldou sob a lona de hits.

Pitty adia registro ao vivo para julho em Sampa

Prevista inicialmente para ter sido feita em abril, no Circo Voador (RJ), a gravação do DVD e CD ao vivo de Pitty foi transferida para julho. Em vez do Rio, o primeiro registro de show da roqueira (em foto de Carol Bittencourt) vai ser realizado em São Paulo (SP). O lançamento do projeto está programado para o segundo semestre, pela Deckdisc. O último álbum de Pitty, Anacrônico, é de 2005.

'Rei' reúne 16 êxitos em coletânea em espanhol

No embalo da gravação, em Miami, do primeiro DVD em espanhol, agendada para 24 e 25 de maio, Roberto Carlos lança coletânea direcionada aos países de língua hispânica - um mercado que o Rei deixou meio de lado nos últimos dez anos. Grandes Exitos (capa à direita) reúne 16 sucessos do cantor nas versões em castelhano com que foram lançadas no exterior. Eis o repertório da nova compilação, que não será editada no Brasil, mas está à venda em lojas virtuais:

1. Emociones
2. Mi Cacharrito
3. Un Gato en la Oscuridad
4. Que Será de ti?
5. La Distancia
6. Amada Amante
7. Detalles
8. Mujer Pequeña
9. Lady Laura
10. Amigo
11. Propuesta
12. Côncavo y Convexo
13. Si el Amor se Va
14. Desahogo
15. Cama y Mesa
16. Yo Solo Quiero

Beth planeja gravar músicas latinas politizadas

Ao que parece, Beth Carvalho tão cedo não vai entrar em estúdio para gravar CD com músicas inéditas. A cantora nem lançou seu CD e DVD Beth Carvalho Canta o Samba da Bahia - gravados no ano passado em shows no Teatro Castro Alves (BA) - e já planeja outro projeto temático no gênero. Beth pretende interpretar músicas - com letras politizadas - de cantores e compositores da América Latina. A intenção da artista é registrar duetos com nomes como Mercedes Sosa e Pablo Milanés no CD e no DVD Beth Carvalho Canta as Músicas Revolucionárias Latino-Americanas. Beth já gravou com Mercedes Sosa em LP de 1986.

10 de maio de 2007

Melodia revive samba de Geraldo na sua estação

Composto por Geraldo Pereira em parceria com José Batista e lançado por Blecaute em 1948, o samba Chegou a Bonitona ganhará regravação de Luiz Melodia. Fã de Geraldo Pereira, Melodia incluiu a música no CD de sambas que já prepara para ser lançado no segundo semestre pela Biscoito Fino. O título é Estação Melodia. Melodia já pensou em dedicar CD à obra de Geraldo Pereira (1918 - 1955), mas seu próximo álbum vai incluir também sambas de vários outros compositores ligados ao gênero.

Brown une funk, Dorival e reggae no quinto solo

Carlito Marrón volta à cena estrangeira. Já editado no exterior, A Gente Ainda Não Sonhou (capa acima) é o segundo trabalho gravado por Carlinhos Brown para a Espanha. Em seu quinto disco solo, que vai sair no Brasil pela Som Livre em data ainda incerta, o tribalista apresenta novas parcerias com Marisa Monte e Arnaldo Antunes (o funk Página Futuro e Everybodygente - a segunda com a adesão de Seu Jorge) e homenageia Dorival Caymmi em Marina dos Mares, destaque de repertório que traz faixa de tom flamenco (Pedindo pra Voltar) e reggae (Garoa). Já Guaraná Café é parceria de Brown com Ivete Sangalo. Eis - na ordem - as 14 músicas do CD:

1. O Aroma Da Vida
2. Mande um E-mail pra Mim
3. Everybodygente
4. Aos teus Olhos
5. Loved You Right Away
6. Goodbye Hello
7. Marina dos Mares
8. Pedindo Pra Voltar
9. A Gente Ainda Não Sonhou
10. Garoa
11. Guaraná Café
12. Dia de Você
13. Página Futuro
14. Te Amo Família

Pioneiro da eletrônica, New Order chega ao fim

Grupo originado do Joy Division, encerrado com o suicídio de Ian Curtis em 1980, o New Order chegou mesmo ao fim. Em sua página no portal MySpace, o baixista Peter Hook reiterou o fim da banda - já anunciado por ele no último fim de semana em entrevista para uma rádio britânica. "Estou realmente aliviado. Odiei carregar um segredo terrível, fingindo que tudo estava normal", escreveu Hook no site, dias depois de revelar que já não trabalhava mais com seu parceiro Bernard Sumner, o vocalista e guitarrista do New Order.

Um dos pioneiros no uso da eletrônica para fazer música para as pistas, o New Order emplacou sucessos históricos ao longo dos anos 80. Entre eles, Blue Monday. O último CD do quarteto inglês, Waiting for the Siren's Call, saiu em 2005. É um bom álbum, mas não se mostrou à altura dos melhores trabalhos da banda na sua áurea década de 80. O que deve ter acelerado o fim do grupo...

'Samba Novo' é painel da efervescência carioca

Resenha de CD
Título: Samba Novo
Artista: Vários
Gravadora: Som Livre
Cotação: * * * *

Nem tudo é samba e tampouco é novo nesta coletânea de gravações inéditas produzidas por Rodrigo Maranhão. Só que Samba Novo exibe o peso de um manifesto. Em 15 faixas, o disco monta belo painel da efervescência carioca, remetendo a um movimento imaginário (uma vez que jamais organizado e batizado oficialmente) em que artistas ainda em ascensão valorizam ritmos nacionais, gravitando em torno do samba. O elo do gênero com o Brasil - e não apenas com o Rio ou a Bahia - já transparece na faixa Manifesto, samba-duro em cuja marcação a ótima banda carioca Bangalafumenga incorpora elementos de coco. O toque nordestino aparece também na sanfona que adorna (com um violino) A Mais Bonita de Copacabana, melódica canção que afirma o talento de Edu Krieger. Ainda no Nordeste, mas dentro da fronteira baiana, há O Canto da Raça - belo ijexá que projeta seu autor e intérprete, Hamilton de Souza, cantor de grandes recursos vocais que vem a ser um sobrinho-neto de Silas de Oliveira – e Afefé, jóia de Roque Ferreira em que Roberta Sá une sua voz cheia de frescor às cordas do Trio Madeira Brasil e à percussão de Zero. É luxo só! Ela é dez! Com a mesma jovialidade, Flávia Bittencourt defende Parangolé, calango amaxixado em tom rural similar ao do samba Se a Alegria Existe, interpretado por Teresa Cristina com o grupo Semente. Já é fato que, devagar, Teresa vem construindo obra autoral de peso.

Presença certeira na folia carioca, o Monobloco surpreende com um congo, Cantiga, que traz poema de Manuel Bandeira musicado por Pedro Luís. Em registro mais cool, Thalma de Freitas reafirma a contínua evolução como intérprete na ensolarada Minha Noite É de Manhã, lindo samba assinada por Pedro de Holanda. Samba Novo joga luz sobre compositores ainda desconhecidos. Mais do que na guitarra distorcida ouvida ao fim do samba Fubá, clássico instantâneo de Raphael Gemal, o teor de novidade desta coletânea está nestes valores que ainda estão escondidos em quintais e casas da Lapa e arredores. Ora misturado com jongo (Reza Forte, tema contagiante defendido por Serjão Loroza), ora fundido com funk (Bela, em gravação do Eletrosamba), o samba soa renovado neste disco que precisa ser ouvido pelas vozes envelhecidas do gênero.

9 de maio de 2007

Caio sopra (mais) sucessos de Jobim e Ben Jor

Vice-campeão de venda de CD no Brasil em 2006, por conta das 269 mil cópias do álbum que marcou a sua estréia no mercado fonográfico, Jovem Brazilidade, Caio Mesquita lança ainda neste mês de maio o segundo volume do projeto. No repertório, o inédito tema Jovem Rio e músicas de Tom Jobim (Corcovado, Só Tinha de Ser com Você e Samba do Avião), Jorge Ben Jor (Taj Mahal, Zazueira, Chove Chuva), Cazuza (Codinome Beija-Flor) e Rita Lee (Mania de Você), além do último hit de Ivete Sangalo, Quando a Chuva Passar. Jovem Brazilidade II já é, a rigor, o quarto CD do saxofonista teen. Entre o primeiro e o segundo volume, houve o álbum Natal e o registro de show editado em DVD e CD ao vivo.

Tangerina no CD instrumental dos Beastie Boys

A gravadora EMI anunciou o lançamento, em 26 de junho, do sétimo trabalho de estúdio dos Beastie Boys. The Mix-Up (capa à esquerda) vem a ser o primeiro álbum inteiramente instrumental do trio de Nova York. Não há letras, samples e scratches nas 12 faixas do CD. Entre elas, Suco de Tangerina, The Rat Cage, B for my Name, The Cousin of Death, The Melee e Of the Grid. O álbum anterior de Mike Mike D Diamond, Adam MCA Yauch e Adam Adrock Horovitz, 5 to the Boroughs, é de 2004.

Pato Fu passa no 'raio-x' de novo DVD de clipes

O grupo Pato Fu está lançando um DVD, Toda Cura Para Todo Mal, que reúne os clipes da 13 músicas do (primoroso) CD homônimo, editado há dois anos. A banda intercalou diretores famosos no mundo do vídeo com outros novatos. Foram utilizadas diversas técnicas de filmagem. A mais moderna é a do clipe de Anormal, em que a imagem do Pato Fu é vista como se o grupo estivesse sob uma máquina de raio x. Nos numerosos extras, há o making of deste vídeo, cenas de bastidores, takes da turnê de lançamento do disco, álbum de fotos e o clipe de Noite Enluarada - realizado para o documentário A Pessoa É para o que Nasce. É o segundo DVD apenas de clipes da banda mineira.

Big-band alemã expande obra elástica de Bosco

Resenha de show
Título: NDR BigBand / João Bosco
Artista: NDR BigBand, João Bosco e Nils Landgren
Local: Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Data: 8 de maio de 2007
Cotação: * * * *

João Bosco já traz embutida uma orquestra de percussão na voz e no toque de seu violão. Seu arsenal percussivo interagiu bem com o fabuloso naipe de metais da NDR BigBand - a orquestra alemã de jazz formada na década de 70 e sediada em Hamburgo - no ótimo primeiro dos oito shows da turnê nacional que levará o numeroso grupo para mais cinco cidades além do Rio (São Paulo, Salvador, Blumenau, Santos e Ribeirão Preto) até 21 de maio. Se no primeiro set do concerto, a big-band recebeu o exímio trombonista sueco Nils Landgren para tocar músicas dos irmãos Nat e Julian Edwin Cannonball Adderley, na segunda Bosco entrou em cena para que fosse apresentada a abordagem jazzística de sua elástica obra. Na bateria, Kiko Freitas, o músico da banda do compositor brasileiro.

Da beleza plácida do arranjo de Caça à Raposa (1975) à vibrante pulsação rítmica de O Ronco da Cuíca (1976), o que se viu e ouviu foi uma expansão da obra de Bosco sem enfraquecimento de seus alicerces. Os arranjos dos sambas - como Linha de Passe (1979) - abriram espaços para solos metaleiros dos músicos da big-band, tocados com a liberdade de improviso e expressão garantida pela linguagem jazzística. Quando não havia um espaço para os solos improvisados, como em Papel Machê (1984), havia uma perfeita sintonia entre o violão de Bosco e o naipe de metais da orquestra. O suingue do samba Escadas da Penha (1975) contrapôs o ritmo ralentado de Desenho de Giz (1986), bolero que teve seu arranjo pautado pela economia. E momentos sublimes – como o instante em que Bosco recitou o texto (profético) de Tiro de Misericórdia (1977) enquanto os metais suingavam – confirmaram o acerto da reunião do compositor com músicos que, acima de tudo, falam a mesma língua da inventividade que pauta a obra de João Bosco.

Turnê NDR BigBand e João Bosco:

Dia 8 de maio de 2007 – 20h30 – Theatro Municipal do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro)
Dia 10 de maio de 2007 – 20h30 – Teatro Carlos Gomes (Blumenau)
Dia 11 de maio de 2007 – 21h – Teatro SESC (Santos)
Dia 13 de maio de 2007 – 11h00 – Parque Ibirapuera (São Paulo) - Concerto ao ar livre
Dias 14 e 15 de maio de 2007 – 21h00 – Sala São Paulo (São Paulo)
Dia 16 de maio de 2007 – 21h00 – Theatro Pedro II (Ribeirão Preto)
Dia 21 de maio de 2007 – 21h – Teatro Castro Alves (Salvador)

8 de maio de 2007

Carrilho faz música ímpar em 30 anos de choro

Resenha de CD
Título: Choro Ímpar
Artista: Maurício Carrilho
Gravadora: Acari Records
Cotação: * * * *

Músico participante da turma que revitalizou o choro em fim dos anos 70, a bordo do grupo Os Carioquinhas, formado em 1977, Maurício Carrilho teve a sua carreira de violonista sempre ligada ao universo de um gênero que - mais do que um ritmo - expressa a forma específica de tocar. Arranjador talentoso, cujo nome consta nos créditos de discos de craques como Paulinho da Viola, Carrilho chega renovado aos 30 anos de carreira. Choro Ímpar sinaliza já a partir do conceito a disposição do músico de buscar um caminho de inventividade. A proeza de Carrilho no CD é compor e tocar o choro em compasso ímpar em vez do tradicional 2/4. Na teoria, pode até parecer que o disco soa cerebral como um trabalho de Arrigo Barnabé. Só que não, não soa. Na trilogia Seu Cristóvão, Dino e Meira - tributos do autor a Cristóvão Bastos, a Dino Sete Cordas e a seu mestre Meira, respectivamente - fica claro que a ousadia estilística não implicou a perda da vivacidade rítmica do gênero. Transitando sobretudo nos compassos 3/4 e 5/4, entre outras combinações, Carrilho põe seu violão sete cordas a serviço de polcas (Maluquinha, Cachaça) e de valsa, Saudosa, parte da suíte Cenas Cariocas, dedicada aos violonistas Sérgio e Odair Assad. O trocadilho é tão óbvio quanto irresistível: o belo choro de Maurício Carrilho é realmente ímpar!!

Na cola de Caio, Guedes exercita lado Kenny G

Resenha de CD
Título: Certas Coisas
Artista: Milton Guedes
Gravadora: Som Livre
Cotação: * *

Bom saxofonista propagado em shows de Lulu Santos, Milton Guedes tentou carreira de cantor escorado na pose de galã, nos anos 90, mas a voz inexpressiva o trouxe de volta à seara instrumental. Com sua faixa-título extraída do repertório de Lulu, Certas Coisas é CD produzido por Luiz Carlos Meu Bom na óbvia cola do sucesso comercial de Caio Mesquita, o saxofonista juvenil projetado no programa de Raul Gil que vendeu 269 mil cópias de seu CD Jovem Brazilidade. Na ilusão de que o êxito de Caio tem raiz em suposto interesse do público pela música instrumental, a Som Livre deu sinal verde para que Guedes exerça seu lado Kenny G em disco pautado por recriações easy listening de hits de Billy Joel (Just the Way You Are), Sade (Smooth Operator) e de Norah Jones (Don't Know Why). Guedes se reveza entre os saxes e a gaita (requisitada em Isn't She Lovely? e em Eu me Rendo). Mas não há um arranjo mais criativo ou refinado - ainda que a intervenção do bandolim de Hamilton de Holanda valorize Diamante Cor de Rosa e que o grupo Soul Funk faça a Maria Fumaça correr pelos trilhos da Black Rio (mas sem clonar o genial suingue original). Em suma, Certas Coisas embala hits para um público que prefere a música mastigada para consumo fácil. Mas há quem goste e compre discos como este, não? Falta apenas pôr Guedes no programa do Raul Gil.

Dub não faz pueril receita roots passar do ponto

Resenha de CD
Título: Abre a Janela
Artista: Ponto
de Equilíbrio
Gravadora: Kilimanjaro
Records
Cotação: * * *

Grupo de reggae formado no bairro carioca de Vila Isabel, terra do samba de Noel Rosa, o Ponto de Equilíbrio segue a cartilha roots sem abrir a sua janela para o pop que entra forte pelas frestas das obras de Cidade Negra e Armandinho, por exemplo. Como reggae é religião, a boa banda é cultuada com fervor por sua tribo. Que certamente vai assimilar bem este segundo CD. A azeitada produção de Chico Neves tornou o som do Ponto menos pueril e inseriu alguns toques de dub sem fazer desandar a receita enraizada nas tradições de Bob Marley e Cia. Sim, músicas como Só Quero o Que É Meu e Poder da Palavra aludem nas letras a conceitos do rastafarismo que vão restringir o interesse do trabalho aos seguidores de Jah. Ainda que O Inimigo incorpore até a batida do rap de V100T na sua pregação contra os políticos e a discriminação racial. No discurso em favor do amor e da justiça social, a banda lança mão de clichês, samba de Gracia do Salgueiro (Janela da Favela, grande sacada) e de standard de Bob Marley (Soul Rebel, com direito a refrão em português no final da faixa). Enfim, é disco para uma tribo... E esta saberá relevar o tom monocórdio dos vocais de Hélio Bentes. Inclusive porque o Ponto de Equilíbrio soa honesto e acerta ao fechar sua janela para o pop praieiro que vem banalizando e diluindo o reggae made in Brazil.

Lulu, Skank, Jota e Aydar na 'Malhação 2007'

A audiência da atual temporada de Malhação pode até estar bem abaixo dos recordes registrados em anos recentes, mas a trilha do seriado juvenil exibido pela Rede Globo no fim da tarde ainda tem tido boa saída nas lojas. Daí que o CD Malhação Nacional 2007 (capa acima) é uma das apostas da Som Livre neste semestre. Nas lojas neste mês de maio, a trilha reúne gravações recentes de Lulu Santos (Ninguém Merece), Seu Cuca (Indecisão), Negra Li (Mundo Jovem), Marjorie Estiano (a nova Tatuagem), Skank (Mil Acasos), Mariana Aydar (Deixa o Verão), Luxúria (Lama) e Jota Quest (Já Foi), entre outros nomes recorrentes no universo juvenil global.

7 de maio de 2007

Sereno, Erasmo celebra obra em duos afetivos

Resenha de CD
Título: Erasmo Carlos
Convida - Volume II
Artista: Erasmo Carlos
Gravadora: Indie Records
Cotação: * * * *

O que era fervor em 1980 se transmutou em serenidade na seqüência do álbum Erasmo Carlos Convida. Só que sem prejuízo artístico. O Tremendão conseguiu fazer segundo volume à altura do primeiro. E se os convidados de 1980 gravitavam em torno da MPB mais tradicional, os de 2007 transitam em órbitas diversas, devidamente respeitadas pelo anfitrião. Vem daí, aliás, o acerto do CD. Nada parece fora da ordem nesta seqüência. Ainda que Chico Buarque soe opaco na levada de sambossa adicionada à canção Olha. E que Milton Nascimento já não exiba o vocal divino dos anos 70 que lhe deixaria muito mais à vontade para bancar o crooner em Emoções no álbum anterior (se a música já existisse).

As presenças de Chico e Milton redimem Erasmo das ausências de ambos no LP de 1980. Contudo, o charme do Convida II está na interação do anfitrião com as estrelas que ainda não brilhavam no céu da música brasileira na época daquele primeiro disco. Se Lulu Santos turbina o samba-rock Coqueiro Verde com os atualíssimos beats eletrônicos, o Skank injeta fina ironia melancólica na Banda dos Contentes. Já Los Hermanos trazem Sábado Morto para o seu universo introspectivo - num dos melhores momentos do disco - enquanto Adriana Calcanhotto transpõe muito bem Ilegal, Imoral ou Engorda para o tom indie de Kassin, Domenico e Cia. Outro gol.

Produzido em uniforme clima plácido por Mú Carvalho, integrante do grupo A Cor do Som, convidado do volume I, o disco é também pretexto para Erasmo revisitar a obra romântica do amigo de fé e irmão camarada Roberto Carlos. São hits que exibem o seu nome nos créditos, mas até então associados unica e exclusivamente ao parceiro. Assim, Marisa Monte rebobina Tema de Não Quero Ver Você Triste com delicadeza tribalista. Já Djavan divide De Tanto Amor. E Simone, em tons elegantes e econômicos, interpreta Vou Ficar Nu pra Chamar sua Atenção. Zeca Pagodinho merecia uma música melhor do que Cama e Mesa para levar para seu fundo de quintal. Mas, no geral, a festa de Erasmo Carlos é boa. Sobretudo pela disposição do anfitrião em deixar seus convidados à vontade.

Elenco irregular expressa devoção a Morricone

Resenha de CD
Título: We All Love
Ennio Morricone
Artista: Vários
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * *

Justiça: Ennio Morricone está recebendo suas flores em vida. Após ser premiado com Oscar honorário, pela totalidade da grandiosa obra cinematográfica, o maestro italiano tem esta obra celebrada neste tributo por elenco eclético que inclui Celine Dion, Bruce Springsteen, Quincy Jones, Metallica e a brasileira Daniela Mercury, entre outros nomes. O resultado é bom. A mão firme de Morricone na condução (da maior parte) dos arranjos ameniza a costumeira irregularidade de tributos do gênero. Somente ouvir a guitarra de Springsteen se embrenhando pelo clima de faroeste de Once Upon a Time in the West – uma obra-prima de Morricone no gênero – já valeria o CD. A participação do Metallica dá peso (sem trocadilho) a The Ecstasy of Gold, tema do filme The Good, the Bad and the Ugly, cuja música-título é recriada com um arranjo excepcional de outro maestro, Quincy Jones, que sabe das coisas. O pianista Herbie Hancock valoriza o registro com toques de jazz.

Longe da habitual seara afro-baiana, Daniela Mercury parece fora de sintonia com o maestro Eumir Deodato, que arranjou Conmigo, samba estilizado bem ao gosto dos gringos. Já Celine Dion reedita o costumeiro exibicionismo vocal em I Knew I Loved You, tema dos anos 80 que ganhou letra no ano passado. As intervenções de Roger Waters (Lost Boys Calling), Yo-Yo Ma (na sublime música-título de Malena) e Dulce Pontes (La Luz Prodigiosa) rendem o esperado. E, nos três casos, isso é o bastante. Ainda que haja certa grandiloqüência nos arranjos, herdada do estilo natural das trilhas de cinema, o CD desce bem. Nem sempre está totalmente à altura do homenageado, mas dá boa amostra da genialidade do maestro
.

Ben Harper no novo single de Vanessa da Mata

O cantor e compositor americano Ben Harper gravou com Vanessa da Mata (à direita em foto de Jacques Dekequer). A música - intitulada Boa Sorte / Good Luck - tem letra bilíngüe e vai puxar nas rádios o terceiro CD da cantora, Sim, produzido por Kassin e Mario Caldato, em parceria com a própria Vanessa. A Sony BMG vai pôr nas lojas ainda em maio o sucessor de Essa Boneca Tem Manual, de 2004.

Blues Etílicos nas águas lamacentas de Waters

Resenha de CD
Título: Viva Muddy Waters
Artista: Blues Etílicos
Gravadora: Delira Blues
Cotação: * * * *

Em 1986, já influenciados por Muddy Waters (1915 - 1983), alguns músicos criam no Rio o grupo Blues Etílicos, copiando a formação da banda do bluesman americano, batizado McKinley Morganfield e descoberto em 1941 pelo pesquisador musical Alan Lomax no Mississipi, berço do blues. Vinte anos depois, o grupo carioca - que sempre transitou à margem do mercado fonográfico como sólida referência do blues tocado in Brazil - encara o ótimo repertório de Waters em disco que inaugura o selo Delira Blues, a divisão da gravadora Delira Música dedicada ao seminal gênero. As duas décadas de estrada lhe garantiram o êxito da empreitada.

Com direito a uma boa inédita de Charles Musselwhite (Seems Like the Whole World Was Crying), o quinteto se embrenha nas águas lamacentas de standards como Walking Blues, Trouble no More, I Can't Be Satisfied - entre um belo tema de Willie Dixon (I Want to Be Loved). Virtuose nativo do gênero, André Christovam adiciona seu violão em She's Nineteen Years Old. Nas 11 faixas do CD Viva Muddy Waters, fica bem claro que Greg Wilson (voz e guitarra), Flávio Guimarães (voz e gaita), Otávio Rocha (guitarra), Cláudio Bedran (baixo) e Pedro Strasser (bateria) têm o blues. Há 20 anos.

6 de maio de 2007

Zé Renato lança DVD com Milton e Boca Livre

A gravadora Biscoito Fino lança neste mês de maio o primeiro DVD de Zé Renato - gravado ao vivo em show realizado na casa Estrela da Lapa, na Lapa (RJ), com intervenções de Zé Nogueira (sax em Roxanne, hit do grupo The Police), Milton Nascimento (em Ânima, bela parceria bissexta dos dois artistas) e do grupo Boca Livre (em Bicicleta, faixa-título do bom segundo LP do quarteto vocal). No roteiro do show perpetuado no DVD Renato ao Vivo, há também músicas de Sérgio Sampaio (Eu Quero É Botar meu Bloco na Rua, 1972), Zé Kétti (Diz que Fui por Aí, 1964) e Custódio Mesquita (Mulher, fox de 1940, feito em parceria com Sadi Cabral). A novidade do repertório é um samba, Delicada, parceria de Zé Renato com Teresa Cristina que também ganha registro no próximo disco de inéditas da cantora projetada na Lapa (RJ). Aldir Blanc assina Não É pra mim, versão de But Not for me, clássico da dupla George e Ira Gershwin. Nos extras, há o clipe de Amor em Paz (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) - filmado em 1990 com a participação de Jobim e Jaques Morelenbaum - e bate papo do cantor com Pedro Luís, Teresa Cristina e Juca Filho.

Miúcha entrelaça (bem) Chico, Tom e Vinicius

Resenha de CD
Título: Outros Sonhos
Artista: Miúcha
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * *

Se Nana Caymmi pode muito bem justificar afetivamente a realização de série de álbuns em tributo ao seu pai, Dorival Caymmi, Miúcha tem trilhado injustificável caminho conservador justamente quando - abrigada na gravadora Biscoito Fino - teria a liberdade para ousadias estilísticas como as experimentadas em disco de 1988 no qual cantava Guinga (antes de ele ser incensado pela mídia) e Pablo Milanés. Entretanto, justiça seja feita, Outros Sonhos realiza muito bem sua intenção de entrelaçar as obras de Chico Buarque, Tom Jobim e de Vinicius de Moraes. No tempo da delicadeza, escorada na produção certeira de José Milton, Miúcha gravou mais um disco pautado pela previsível elegância intimista.

A maturidade vocal de Miúcha é atestada logo na interpretação da faixa-título. O fox delirante de Chico Buarque - lançado pelo autor no CD Carioca, em 2006 - abre Outros Sonhos em clima bem espirituoso. Em seguida, o próprio Chico experimenta tons baixos e graves em dueto com a irmã em Chansong, o tema de Jobim. Há pouca variação de tons em disco marcado por sóbrios arranjos de pianistas como Leandro Braga, Cristóvão Bastos e Itamar Assiere. Mas há, sim, muita beleza nas gravações de canções como Todo o Sentimento, Desalento e Quando Tu Passas por Mim, embora haja outras músicas, especialmente o bolero Anos Dourados e a bossa Fotografia, que soam mais triviais. E vale ressaltar que o clarinete de Dirceu Leite na introdução de Gente Humilde já transmite toda a melancolia que permeia tal parceria de Garoto, Chico e Vinicius.

O grande mérito de Miúcha foi misturar tão bem letras e melodias do trio de autores que Chico, Tom e Vinicius parecem que são, no disco, somente um compositor. O repertório nem sempre escapa da obviedade, ainda que contenha temas menos batidos de Tom (Você Vai Ver, do álbum Terra Brasilis) e Chico (a sinuosa Uma Palavra). Entre curioso medley de samba (Amei Tanto e Pra que Chorar?) e rara versão bilíngüe de Eu te Amo (em português e em francês), Miúcha reafirma seu bom gosto. Pena que sem a ousadia de arriscar investida em seara menos segura. Ela pode bem mais!!!

'Noite Perfeita' adianta o segundo solo de Israel

George Israel (foto) lança em algumas rádios nesta segunda-feira, 7 de maio, a música Noite Perfeita, parceria com Leoni. A gravação - feita com músicos como Billy Brandão (guitarra) e João Barone (bateria) - integra o segundo disco solo do músico do Kid Abelha. O lançamento está previsto para julho, pela Som Livre, gravadora que editou o primeiro CD solo de Israel, 4 letras.

Fafá estréia turnê com sucessos e gargalhadas

Resenha de Show
Título: Fafá de Belém ao Vivo
Artista: Fafá de Belém (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Canecão (RJ)
Data: 5 de maio de 2007
Cotação: * * *
Diante de Canecão com buracos na platéia, Fafá de Belém estreou no sábado, 5 de maio, a turnê nacional de lançamento do CD e do DVD gravados em Belém (PA) em outubro de 2006 e lançados em fevereiro. Munida de sucessos e gargalhadas, a cantora remontou no Rio - de forma reduzida - a produção armada no Theatro da Paz para a filmagem deste projeto retrospectivo. A única novidade no roteiro foi a inclusão de Jardins Proibidos, tema dos compositores portugueses Pedro Malaquias e Paulo Gonzo, cantado em duo por Fafá com a filha Mariana Belém. Com a habitual espontaneidade, a artista ironizou a produção de celebridades fakes antes de cantar Brilho Dental – crítica ácida aos sorrisos artificiais estampados na mídia – e fez discurso ecológico pró-Amazônia ao apresentar o hit Vermelho. Acima das frases de efeito, pairou sua voz - em grande forma. Foi um show amarrado pela coesão do repertório. Volta à cena a Fafá brejeira dos anos 70 em números como o samba-de-roda Filho da Bahia, Pode Entrar (singela modinha que ela canta sentada no palco) e a forte Pauapixuna. Entre dispensável inédita (Aonde, único número ruim) e o também desnecessário exagero vocal de Meu Homem, Fafá ficou bem na foto ao revisar sua obra, emoldurada por bela iluminação e figurinos múltiplos e coloridos. Luzes e cores refletidas em suas sonoras e expansivas gargalhadas.