31 de março de 2007

Alcione e Emílio recordam o balanço da noite

Resenha de show
Título: Duo 40 Anos - Alcione e Emílio Santiago
Artista: Alcione e Emílio Santiago
Local: Canecão (RJ)
Data: 30 de março de 2007
Cotação: * * *
Em cartaz até 1º de abril de 2007

Diplomados nas boates e bares da vida noturna carioca da década de 70, Alcione e Emílio Santiago celebraram seu início de carreira e a amizade duradoura no primeiro encontro promovido no palco do Canecão pelo projeto Duo 40 Anos, que comemora as quatro décadas da casa de show mais tradicional do Rio de Janeiro. Já no primeiro número feito em duo, o samba sincopado Devagar com a Louça, os cantores exibiram - entrosados - todo o balanço e o jogo de cintura necessários para tentar a sorte como crooner na noite.

Com sua voz afinada e aveludada, que o credencia como um dos maiores cantores do Brasil, Emílio não se deixou apagar em cena pelo carisma da Marrom, que diverte o público com suas tiradas espontâneas. Eles tiram sarro um do outro e, quando unem vozes, o resultado é harmonioso. O set mais surpreendente é aquele em que, sentados numa sala de estar improvisada ao centro do palco, Alcione e Emílio enfileiram músicas em inglês, francês, espanhol e em italiano. Ele arrasa com interpretação de Misty que arranca merecidos entusiásticos aplausos. Ela exibe um italiano até bem desenvolto quanto entoa Grande Grande Grande, hit da cantora Mina que - conta a Marrom no show - teve o privilégio de ouvir em primeira mão na noite carioca. Já em pé, a dupla reedita sua categoria em números como Violão Vadio, Copacabana e Rio. 10!

No fim do show, há reverência a Djavan - colega que ralou na noite do Rio na mesma época - com um medley de sambas urdidos com o suingue personalíssimo do compositor alagoano (Capim, Flor de Lis, Fato Consumado etc.). O encontro somente não foi perfeito porque há gordura nos textos (não havia a necessidade de saudar a presença na pláteia de atores do terceiro escalão) e porque, nos números solos, impera um tom meio populista. Ainda que Alcione tenha tirado do baú bons temas de seu repertório inicial (Faca de Ponta, Pode Esperar, Rio Antigo) e que Emílio, aquarelas à parte, tenha dado um banho de suingue em Bananeira, de João Donato. A dupla se garante em cena graças ao molejo aprimorado na noite. Tanto que deu para relevar a padronização insossa dos arranjos...

Paula Toller compõe com músicos para CD solo

Integrantes da banda que toca no segundo CD solo de Paula Toller, nas lojas em maio, o guitarrista Coringa, o pianista Caio Márcio e o baixista Paul Ralphes (produtor do disco) são os novos parceiros da cantora. Eles assinam com Paula parte do repertório inédito e autoral do álbum, que vai trazer duas inéditas do americano Jesse Harris (autor de Don't Know Why, o hit do primeiro CD de Norah Jones) e novas parcerias da artista com Dado Villa-Lobos. Na foto, Paula posa no estúdio Cia. dos Técnicos, em Copacabana (RJ), com o engenheiro de som Guilherme (à esquerda), o já citado Coringa, o baterista Adal Fonseca, o percussionista Jam da Silva, o pianista Caio Márcio e Paul Ralphes. O CD solo de Paula está quase pronto.

Donato e Shank celebram sua união e liberdade

Resenha de CD
Título: Uma Tarde com

Bud Shank e João Donato
Artista: Bud Shank

e João Donato
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * 1/2

Em 1965, João Donato era um dos amigos brasileiros de Bud Shank no álbum gravado pelo saxofonista americano naquele ano, Bud Shank and His Brazilian Friends. Nascia neste álbum a amizade documentada recentemente em DVD roteirizado a partir da gravação de dois shows feitos pelos virtuoses na casa Mistura Fina (RJ) em novembro de 2006. O DVD vai chegar às lojas ainda este ano pela Biscoito Fino, a gravadora que está editando o disco que marcou a retomada da amizade entre os dois músicos. Uma Tarde com Bud Shank e João Donato foi gravado de forma espontânea em duas sessões de estúdio realizadas no Rio em 8 e 9 de maio de 2004. Shank estava no Rio por conta de apresentação num festival de jazz em que recebeu Donato como seu convidado.

A propósito: trata-se de disco de jazz, gravado com a liberdade do gênero. Com raríssima interação, Donato e Shank improvisam em bons temas de Donato (Gaiolas Abertas, Joana e Minha Saudade, parcerias com Martinho da Vila, Ronaldo Bastos e João Gilberto, respectivamente) e em jóias do quilate de Night and Day (que soa praticamente irreconhecível na reinvenção harmônica conduzida pelo sax de Shank), Black Orchid (tema de Cal Tajder em que há o baixo do convidado Ed Motta) e There Will Never Be Another You (com suingue bossa-novista). Há ainda o auxílio luxuosíssimo da bateria de Robertinho Silva e da percussão de Eloir de Moraes em algumas faixas. Só que são participações discretas. É do perfeito entendimento do piano de Donato com o sax de Shank que é feito este trabalho que celebra a união fraterna e a liberdade de criação.

Segundo CD de Pitty vai ser editado no Japão

Lançado em 2005, o segundo álbum de Pitty, Anacrônico, vai ser editado no Japão ainda neste semestre pela gravadora B-Sun Records. A edição japonesa virá com uma faixa-bônus, Sessões Anacrônicas. Trata-se de um vídeo com cenas dos bastidores da gravação do CD. No Brasil, o vídeo saiu na edição em dualdisc de Anacrônico. Para badalar o lançamento, Pitty (em foto de Carol Bittencourt) embarca para o Japão em maio para fazer dois shows promocionais na cidade de Nagoya. Os shows serão em 4 de maio.

30 de março de 2007

Paula Santoro dedica CD às músicas de Guinga

Mais uma boa cantora se rende aos encantos da música genial de Guinga. Onze anos depois de Leila Pinheiro lançar sua obra-prima Catavento e Girassol (1996), apenas com parcerias do compositor com Aldir Blanc, Paula Santoro (foto) prepara CD dedicado ao fino repertório do ex-dentista. O quarto álbum de Santoro - o segundo na Biscoito Fino - tem lançamento previsto para o segundo semestre de 2007.

Jay põe Meg em seu 'Formidável Mundo Cão'

Em estúdio desde janeiro, Jay Vaquer finaliza seu quarto álbum, Formidável Mundo Cão, que chega às lojas em maio, via EMI Music, com 12 músicas inéditas e autorais. A vocalista da banda Luxúria, Meg Stock, é a convidada de Estrela de um Céu Nublado, faixa que narra a saga de um garoto que encara o Rio de Janeiro para tentar a sorte como ator na Rede Globo. Em ascensão na cena pop, Jay recrutou o mesmo time de seu disco anterior, Você Não me Conhece (2005). O produtor é Dunga. Já a masterização do CD será - mais uma vez - feita por Leon Zervos, que trabalha com nomes como Avril Lavigne e bandas como Aerosmith e Maroon 5.

Carly impõe personalidade em álbum de 'covers'

Resenha de CD
Título: Into White
Artista: Carly Simon
Gravadora: Sony BMG
Cotação: * * *

Into White já é o segundo CD consecutivo em que Carly Simon deixa de fazer pulsar a veia autoral - especialmente inspirada nos anos 70 e 80 - para regravar músicas alheias. Na voz ainda em forma da artista, porém, nada parece banal. Com o título emprestado da canção lançada por Cat Stevens na sua obra-prima Tea for the Tillerman (1970), Into White supera o anterior Moonlight Serenade (2005) e nunca soa como um mero disco de covers. Efeito certamente da produção sensível da artista. Sem apelar para a fórmula (desgastada) dos arranjos orquestrais, Carly concebeu um álbum de sonoridade delicada que irmana músicas extraídas dos repertórios de Harry Belafonte (Jamaica Farewell), Beatles (Blackbird), Everly Brothers (o medley que une Devoted to You e All I Have to Do Is Dream) e de seu ex-marido James Taylor (You Can Close your Eyes - regravada afetivamente com os filhos do ex-casal, Ben e Sally Taylor). Sem falar em já folks tradicionais como Oh! Susanna (lindo na leitura de Carly) e Scarborough Fair (música popularizada nos anos 60 pela dupla Simon & Garfunkel). Por incrível que pareça, somente a recriação do brasileríssimo hit Manhã de Carnaval destoa da elegância do álbum. Sem dominar o português, a cantora lança mão de vocalises insossos para entoar a parceria de Luiz Bonfá e Antonio Maria, celebrizada no mundo todo na trilha do filme Orfeu Negro (1959). É bem verdade que Over the Rainbow já está tão batida que nem Carly consegue criar algo novo em cima do clássico lançado por Judy Garland. Mas são detalhes que nem tiram a beleza do personalíssimo Into White...

Arcade questiona dogmas com aura emocional

Resenha de CD
Título: Neon Bible
Artista: Arcade Fire
Gravadora: Slag Records
Cotação: * * * *

Foi quase impossível se referir ao indie rock, em 2004, sem fazer menção ao Arcade Fire, revelação daquele ano com o álbum Funeral, que versava sobre perdas e morte com profusão de violinos. Daí a (natural) expectativa gerada em torno deste seu segundo trabalho, Neon Bible, previsto para chegar ao mercado brasileiro no sábado, 31 de março. Para quem curtiu Funeral, o impacto não poderá se repetir. Mas a ótima notícia é que o septeto canadense conserva em Neon Bible a densa atmosfera emocional do disco de estréia. Como o título já explicita, o conceito de Neon Bible gira em torno de religião. O Arcade Fire questiona dogmas impostos em nome de Deus com aparato orquestral. Destaque do coeso repertório, Intervention evoca a sonoridade anterior com grandioso arranjo calcado em órgão e violinos. Mas é fato que o grupo já soa um pouco mais pop - sobretudo em faixas como Keep the Car Running - sem cortejar descaradamente as paradas. Estas é que já se rendem ao Arcade Fire: Neon Bible chegou a ocupar a segunda posição na parada da revista Billboard, Bíblia do crucial mercado fonográfico dos EUA. Posição merecida para um álbum que traz pepitas como a balada Ocean of Noise, The Well and the Lighthouse (com coro ao estilo suntuoso da banda) e Antichrist Television Blues, faixa que lembra Bruce Springsteen ao narrar o calvário de trabalhador cristão na luta contra o demônio, em seu caso personificado por bela adolescente menor de idade. Há vida inteligente entre os violinos emocionais do som do Arcade Fire!!

29 de março de 2007

Filme faz liturgia em louvor à senhora da cena

Resenha de filme
Título: Pedrinha de Aruanda - Maria Bethânia
Diretor: Andrucha Waddington

Em cartaz no festival É Tudo É Verdade
Cotação: * *
1/2

Sozinha no camarim, fora da luz mágica do palco, entre símbolos religiosos, Maria Bethânia exibe um ar compenetrado e senhoril. Poucos minutos depois, ela entra no palco da Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador (BA), para reinar soberana entre os súditos que a aplaudem e gritam seu nome da platéia. Por estas primeiras fortes imagens, tudo indica que o documentário Maria Bethânia - Pedrinha de Aruanda (em exibição esta semana no Rio e em São Paulo, dentro do festival É Tudo Verdade, e com estréia no circuito nacional prevista para 20 de julho) vai deixar o espectador entrar pelo camarim e pela alma de Bethânia. Só que o diretor Andrucha Waddington parece não ter sido o real condutor da viagem feita ao universo afetivo de Santo Amaro da Purificação (BA), onde Pedrinha de Aruanda começou a ser feito em 2005.

Bethânia é a condutora do roteiro. É quem guia, inclusive, o mano Caetano Veloso na viagem de carro pela estrada que liga Salvador a Santo Amaro. Na liturgia em louvor à senhora da cena, a elegia é feita na Igreja (em missa que celebra o aniversário de Bethânia ao som de preces e de cânticos religiosos como Maria Matter Gratiae e Ofertório, este de Caetano) e em visita na casa de Dona Canô. Aí quem conduz a cena é a matriarca quase centenária, fofíssima nos depoimentos orgulhosos sobre a filha famosa. "Ela era muito viva. Contava histórias cantando e dizia que queria ser artista. E até Saci Pererê ela representou", lembra Dona Canô com invejável lucidez.

Cena de grande significado é a interpretação de Motriz na estação ferroviária de Santo Amaro ao lado do violonista Jaime Alem. Na letra dessa música, lançada por Bethânia em 1983 no disco Ciclo, Caetano faz nostálgica viagem afetiva pelo trem que ligava Santo Amaro a Salvador e - em última análise - ao mundo. Em outra boa cena, a cantora refaz a trilha que a levava à cachoeira, na infância vivida na companhia do pai, José. Contudo, o vasto e rico mundo interior de Bethânia não se revela na viagem do filme, que, a rigor, nem pode ser enquadrado no gênero documentário. Pedrinha de Aruanda junta recortes afetivos da vida da atriz sem abrir a cortina que separa palco e platéia. A personalidade e seu público.

A cantoria na varanda - com Bethânia, Caetano, Dona Canô alguns familiares e o violão de Além - ocupa quase toda a metade final do filme. Conduzidos pela matriarca, os irmãos desfiam belos temas como Chuá Chuá, Oração a Mãe Menininha, Felicidade, Exemplo, Foguete, Tristeza do Jeca e Lua Bonita. Sem edição. Bethânia erra a letra de Gente Humilde e a retoma do início. "Música velha é que bonita", sentencia Canô. E assim - entre músicas e poemas (como As Ruazinhas, versos de Mario Quintana recitados por Bethânia em off enquanto aparecem na tela imagens das ruas singelas de Santo Amaro) - Pedrinha de Aruanda mantém intacta a aura mitológica já criada em torno da senhora cantora Maria Bethânia.

Toni Garrido exercita parceria com Zé Ramalho

Como compositor do grupo Cidade Negra, Toni Garrido participa do vigésimo CD de Zé Ramalho, Parceria dos Viajantes, cujo conceito gira em torno das várias conexões do artista paraibano com cantores, compositores e músicos. O quarteto é co-autor de Chamando o Silêncio. Oswaldo Montenegro é o parceiro da faixa Do Muito e do Pouco. Dominguinhos e Zélia Duncan unem forças na canção Porta de Luz. Entre os músicos convidados, há Marcelo Bonfá (baterista da extinta banda Legião Urbana) e João Barone (baterista do trio Os Paralamas do Sucesso). A foto que registra o encontro em estúdio de Garrido com Ramalho é de Otto Guerra.

'Ensaio' de Adoniran, de 1972, chega ao DVD

Dando continuidade à parceria firmada com a TV Cultura para editar em DVD entrevistas do programa Ensaio, a gravadora Biscoito Fino lança no início de abril o registro antológico da participação de Adoniran Barbosa (1910 - 1982) nessa atração comandada pelo diretor Fernando Faro. Entre 20 números musicais, como Filosofia (Noel Rosa), o compositor de Saudosa Maloca e Trem das Onze conta sua história e tira do baú jóias raras de sua obra personalíssima - casos de Joga a Chave, Dondoca e Senta Senta. Detalhe: em novembro, fará 25 anos que Adoniran Barbosa saiu de cena, aos 72 anos, pobre e já esquecido.

Bloc Party sai do armário em seu segundo disco

Resenha de CD
Título: A Weekend

in the City
Artista: Bloc Party
Gravadora: Warner Music
Cotação: * * *

Vocalista do grupo inglês Bloc Party, o jovem (de 25 anos) e negro Kele Okereke assumiu a sua (homos)sexualidade em recente entrevista ao jornal britânico The Observer. A saída do armário está em sintonia com as letras do segundo CD da banda. Se musicalmente A Weekend in the City quase nunca supera o impactante álbum de estréia do quarteto, Silent Alarm (2005), na temática é disco que se revela mais direto e cativante. A cidade do título é Londres, a capital do Reino Unido que também inspirou o primeiro álbum da nova banda de Damon Albarn, The Good, the Band and the Queen. Se Albarn cultiva a melancolia, o Bloc Party parte para a introspecção combativa e engajada, remexendo em feridas como racismo e, sim, sua homossexualidade. De provável cunho autobiográfico, I Still Remember remói uma paixão juvenil entre dois colegas de escola. Mas nem tudo é sex in the city. Filho de nigerianos, Okereke tem consciência do sentimento de desdém nutrido por Londres pelos imigrantes e relata a batalha desigual em Hunting for Witches. Enfim, o Bloc Party continua indo para a festa, mas com muito mais atitude neste incisivo segundo álbum...

28 de março de 2007

RPM articula volta para badalar edição de caixa

Depois de discutirem feio na mídia e na Justiça, pelos direitos da marca RPM, Paulio Ricardo e Luiz Schiavon articulam (mais uma) volta do grupo. A reunião poderá acontecer no segundo semestre para badalar a reedição da obra áurea da banda pela Sony BMG. A gravadora prepara caixa com os três primeiros álbuns do grupo - Revoluções por Minuto (1985), Rádio Pirata ao Vivo (o hit de 1986), RPM (1988) - e o DVD Rádio Pirata ao Vivo (o vídeo com o registro da milionária turnê de 1986 existe em VHS, mas é inédito no formato digital). De quebra, haverá um quarto CD com raridades como Feito Nós e Homo Sapiens - as duas parcerias de Paulo Ricardo com Milton Nascimento, registradas pelo RPM em 1987 e editadas em single. Espera-se que, entre as raridades, haja também os remixes de Louras Geladas e Olhar 43. Foi nas versões remixadas que as duas músicas estouraram nas rádios já em 1985, mas estas versões nunca foram reeditadas nas muitas e repetitivas coletâneas de sucessos do grupo fabricadas pela major Sony BMG.

Em tempo: este projeto da reedição da obra inicial do RPM estava previsto pela Sony para 2006 - em comemoração aos 20 anos do estouro de Rádio Pirata ao Vivo - mas teve que ser adiado até que Paulo Ricardo e Luiz Schiavon chegassem a um acordo. Mais um...

Stooges dissipam energia em álbum burocrático

Resenha de CD
Título: The Weirdness
Artista: The Stooges
Gravadora: EMI Music
Cotação: * *


Pode até ser que, no palco, a química ainda aconteça. Em disco, a energia do grupo The Stooges se dissipa de forma burocratizada em repertório pautado por letras ruins. Sim, há a jóia My Idea of Fun - destaque absoluto do fraco CD que marca a volta do quarteto ao mercado fonográfico 34 anos depois do lançamento de Raw Power (1973) - e uma ou outra faixa razoável. Mas é pouco para um grupo com o histórico dos Stooges. Para a geração que ouve Fall Out Boy, vale lembrar que a banda de Iggy Pop ajudou a espalhar a semente do punk rock com os seus dois emblemáticos primeiros álbuns, The Stooges (1969) e Fun House (1970). Na primeira metade dos anos 70, a heroína corroía o cérebro de Iggy Pop e entorpecia o grupo a ponto de causar sua dissolução. Contudo, a ordem atual é reagrupar bandas que já tinham ido... E não é que uma turnê em 2003 motivou a reunião de Iggy Pop com os irmãos Ron e Scott Asheton, guitarrista e baterista originais dos Stooges (o baixo, que era de Dave Alexander na formação clássica do quarteto, agora é de Mike Watt)? Poderia ser antológico, mas até a produção banal de Steve Albini contribui para que o grupo soe como mero clone dele mesmo. E o fã antigo que ature versos como "meu pau é uma árvore...", de Trolin', rock deste nada divertido The Weirdness.

Estréia da Banda Mantiqueira volta ao catálogo

Gravado em novembro de 1995, com a produção afiada de Rodolfo Stroeter, o primeiro álbum da Banda Mantiqueira, Aldeia (capa à esquerda), volta enfim ao catálogo em reedição da gravadora Biscoito Fino - onze anos depois de seu lançamento original, feito em 1996 pelo selo Pau Brasil. Por conta deste belo trabalho em que põe tempero jazzístico em temas como Carinhoso, Insensatez e Linha de Passe, a banda - formada em 1991, em SP, pelo clarinetista, saxofonista e arranjador Nailor Azevedo, o Proveta - foi indicada ao Grammy de 1998 na categoria Melhor Performance de Jazz Latino. Não levou.

Chemical Brothers lançam o sexto CD em junho

We Are the Night é o título do CD que a dupla The Chemical Brothers (foto) vai lançar em junho. Trata-se já do sexto álbum do duo formado pelos DJs Ed Simons e Tow Rolands. O sucessor de Push the Button (de 2005) vai chegar às lojas através de parceria do selo Freestyle Dust com a Virgin Records. Sempre cultuado no universo da música eletrônica, o duo surgiu na Inglaterra na década de 90.

27 de março de 2007

Britney vai gravar tema da Motown com Justin

Britney Spears (em imagem captada pela rede de TV ABC) vai gravar um dueto com seu ex-namorado Justin Timberlake. A idéia partiu do cantor para ajudar a artista a se reabilitar no mercado fonográfico. A música escolhida, You're All I Need to Get By, é antigo r & b do repertório da Motown, já tendo sido gravada por nomes como Aretha Franklin e Marvin Gaye. Aliás, o título da composição -Você É Tudo o que Eu Preciso para Sair Dessa, numa tradução aproximada em português - tem tudo a ver com o triste e delicado momento de Britney Spears, que vem se submetendo a tratamentos clínicos para (tentar) se livrar das drogas e do álcool.

Miúcha faz duo com mano Chico em 'Chansong'

Chico Buarque participa do novo CD de Miúcha (foto) - todo dedicado às músicas de Tom Jobim, Vinicius de Moraes e do próprio Chico. Os manos fazem dueto em Chansong, tema de Tom. Uma das duas únicas músicas feitas por Chico juntamente com Tom e com Vinicius, Olha Maria (1971) - a outra é Estamos Aí (1977) - integra o repertório do álbum, concebido com base no show Uma Cantora e Três Cariocas. O disco vai chegar às lojas em maio pela Biscoito Fino.

Engajado, Ras Bernardo lança segundo CD solo

Ainda com o engajamento que inviabilizou sua permanência como vocalista do quarteto de reggae Cidade Negra, no qual foi projetado nos bons discos Lute pra Viver (de 1990) e Negro no Poder (1992), Ras Bernardo retorna ao mercado fonográfico com o lançamento de seu segundo CD solo, Jah É Luz (capa à esquerda), que sai pelo selo Muzamba. O álbum começou a ser idealizado há dez anos ainda no embalo da edição do primeiro disco individual do artista, Atitude É Pátria, no mercado em 1996. Jah É Luz, que registra músicas como No Morro Não Tem Play, teve a produção dividida entre Nelson Meirelles (piloto dos dois primeiros álbuns do Cidade Negra) e Ricardo Barreto. Há colaboração do Digitaldubs, coletivo de DJs e produtores, na mixagem do repertório, inédito e autoral.

Lucina historia em DVD 40 anos de boa música

Resenha de DVD
Título: A Música em mim

- Show ao Vivo
Artista: Lucina
Gravadora:
Cinema Digital

/ Canal Brasil
Cotação: * * *

Projetada em 1967, no festival em que defendeu a vitoriosa Margarida ao lado do autor Guarabyra, Lucina historia os seus 40 anos de carreira em DVD gravado através do Canal Brasil e lançado oficialmente nesta terça-feira, 27 de março, com show no Teatro Rival (RJ). A base e a ênfase do roteiro estão no repertório do bom CD que dá nome ao DVD, A Música em mim, editado no primeiro semestre de 2006. Deste disco, Lucina enfileira músicas como Coração Inquebrável - flerte com a vanguarda paulista - e Enfim, que ganha contorno de tango. Entre a euforia nordestina de Música na Feira e a canção-título, a mais bonita da atual safra da compositora, Lucina rebobina carreira de tom original no mundo da MPB. Após breve atuação como vocalista do Grupo Manifesto, em que adotava o nome artístico de Lúcia Helena, Lucina partiu para trajetória que não foi exatamente solo porque desembocou na dupla formada por Luli, a parceira de um estilo alternativo de música e vida (elas foram indies quando o termo nem era usado).

Luli - hoje creditada nos discos como Luhli - está representada no roteiro por músicas como Ao Menos, Corpo Canção e Lar Lunar. E, não por acaso, um dos convidados do DVD é Ney Matogrosso, que interpreta sozinho o belo hit Bandoleiro (acompanhado pelo violão de Lucina) e faz dueto com a anfitriã em Choro de Viagem - dois temas urdidos com a grife de Luli & Lucina. Ney foi o maior intérprete das músicas da dupla antes que esta se desfizesse e que Zélia Duncan, outra convidada natural do DVD, se tornasse desde então a parceira mais constante de Lucina, com quem canta a pop Oxford Street e Miopia (em charmosa união de timbres similares).

"Tinha complexo da minha voz grave", admite Zélia em entrevista nos extras. O complexo acabou quando a então iniciante cantora viu um show de Lucina em Brasília (DF). Zélia, Ney e Joyce (amiga de primeira hora de Lucina desde o tempo do festival de 1967 e convidada do DVD na faixa Os Medos) explicitam a admiração pela colega em depoimentos dados para os dois minidocumentários apresentados nos extras sob os títulos de Biografia e Making of.

Com sua voz grave em ótima forma, Lucina celebra a música que pulsa elegante nela há quatro décadas. Entre números ausentes do show principal (entre eles, Coração Aprisionado e Paciência - a balada de Lenine), Lucina abre e fecha a história de sua música ao som de Deixa a Vida me Levar (samba que seduziu o Brasil na voz de Zeca Pagodinho) - certa de que, mesmo por trilhas alternativas, a vida a levou a por um caminho de (grande) integridade artística.

26 de março de 2007

Álbum póstumo reúne boleros na voz de Ferrer

Ibrahim Ferrer (1927 - 2005) saiu de cena, aos 78 anos, no meio da produção do álbum Mi Sueño (capa à esquerda). Coube a dois fiéis produtores, Nick Gold e Roberto Fonseca, concluir o CD - enfim lançado esta semana. Nas 12 faixas do disco, o cantor cubano recria boleros como Convergencia, Dos Almas, Uno, Perfídia, Alma Libre, Melodía del Río, Deuda, Si te Contara e Copla Guajira - e com a grife Buena Vista Social Club.

McCartney vai lançar CD por rede de cafeterias

Seguindo os passos de Bob Dylan, Paul McCartney vai lançar álbum pelo selo Hear Music, de propriedade da rede de cafeterias Starbucks, que venderá o CD em suas lojas. O disco tem lançamento previsto para junho. O negócio do ex-Beatle com a rede - muito poderosa nos Estados Unidos - abalou a EMI Music, a gravadora que sempre editou os álbuns dos Beatles e da já longa carreira solo de McCartney. É mais um indício da perda de força das majors no momento em que novas formas de venda e consumo de música estão se estabalecendo no mercado de discos.

Air faz sua viagem sinfônica com escala oriental

Resenha de CD
Título: Pocket Symphony
Artista: Air
Gravadora: EMI Music
Cotação: * * *


Três anos depois do CD Talkie Walkie (2004), o duo francês Air volta este mês ao mercado fonográfico com (bom) álbum produzido pela própria dupla em parceria com Nigel Godrich - o piloto de alguns dos melhores trabalhos do grupo Radiohead. Bem, temas como Space Maker - a faixa de abertura - dão até a impressão de que o Air busca evocar sua obra-prima Moon Safari, de 1998. Só que não é bem assim. Pocket Symphony tem influência de sons orientais (explicitada em Mer du Japon) e soa mais sofisticado do que seu antecessor. E (um pouco) menos pop também. Escorado no seu piano etéreo, o duo não procura reinventar o seu som. Há apenas pequenas novas nuances - como a voz de Jarvis Cocker, o ex-vocalista do Pulp, na arrastada One Hell of a Party. Com destaque para músicas como Night Sight, o CD é bom - mas a viagem sinfônica não impressiona.

Bebel em seu momento sentimental e moderno

Resenha de CD
Título: Momento
Artista: Bebel Gilberto
Gravadora: Six Degrees

/ Ziriguiboom
Cotação: * * 1/2

Com um tom até banal, versos como "Chegou a hora da gente conversar sobre nosso amor / Você foi embora e eu fiquei aqui pensando no que você falou” são entoados por Bebel Gilberto - com vocal lânguido - em Bring Back the Love, música de seu terceiro disco internacional, Momento, que será lançado na Europa e nos Estados Unidos no começo de abril. A faixa sintetiza bem o tom do álbum, sentimental nas letras e moderno nas levadas. No caso de Bring Back to Love, a textura eletrônica foi urdida com a colaboração de Sabina Sciubba e Didi Gutman, integrantes do cultuado grupo americano Brazilian Girls.

Bebel Gilberto volta à cena sem a bossa de sua estréia no exterior, Tanto Tempo (2000). "Tem que reciclar", sentencia a artista ao fim da faixa-título de Momento. Bebel tentou se reciclar, ergueu sólida ponte com a moderna música brasileira - não por acaso, a Orquestra Imperial emprestou seu suingue para a regravação de Tranqüilo - e estreitou laços com o antenado produtor britânico Guy Sigsworth, que trabalha com Björk e integra o estelar time de colaboradores do álbum, gravado entre Rio de Janeiro, Londres e Nova York. Mas o fato é que Momento é quase tão ruim quanto Bebel Gilberto (2004), o álbum anterior em que a filha de um tal João Gilberto cismou que era compositora. Este tem sido seu erro.

Bebel Gilberto nunca foi a compositora inspirada que imagina ser. E, para piorar, ela adota nos versos de Momento tom lamurioso (quase brega) que nem sempre o instrumental contemporâneo do CD consegue amenizar. "De tanto esperar você me ligar / Eu não pude me controlar", rascunha na letra do sambossa Um Segundo. A propósito, a produção bacana do disco não disfarça a pobreza de músicas como Azul (balada de suavidade bossa-novista) e Cadê Você?. E Bebel desfia seu rosário de mágoas amorosas em canções como Close to You, cuja letra bilíngüe repete várias vezes no fraco refrão o verso "I wanna be close to you" (Eu quero ficar perto de você). Da lavra autoral de Bebel, apenas Os Novos Yorkinos - com deliciosa base de samba estilizado e algo de trip hop - faz jus à aura hype e ao prestígio adquiridos pela artista no exterior. É a visão de uma estrangeira do Terceiro Mundo na cosmopolita New York.

Em contrapartida, Bebel evoluiu como intérprete. Sua voz desce muito bem no disco. Por isso mesmo, a artista bem poderia ter se poupado o vexame de recriar Night and Day. Ao tentar transpor o clássico de Cole Porter para seu universo, ela expõe seus limites como cantora. Em pólo oposto, Bebel se apropria com inteligência de Caçada, tema de pegada nordestina composto por seu tio Chico Buarque para a trilha do filme Quando o Carnaval Chegar, de 1972. A faixa é o melhor momento de um disco que não decola e vai ajudar a desfazer a aura construída em torno de Bebel Gilberto.

25 de março de 2007

Sai o CD gravado ao vivo por Ivete no Maracanã

Nos próximos dias, a major Universal Music vai pôr enfim nas lojas o CD Ivete Sangalo no Maracanã, gravado pela cantora dentro da série Multishow ao Vivo. A inédita Deixo já é a nova música de trabalho (em fevereiro, as rádios chegaram a tocar Completo, balada incluída como faixa-bônus no CD). Já o DVD vai ser lançado somente em meados de abril. Na gravação, captada em 16 de dezembro de 2006, em um megashow no estádio carioca, a cantora recebeu convidados como Samuel Rosa, Buchecha e Alejandro Sanz. No roteiro, há dois sucessos de autoria de Tim Maia: Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar) e Não Vou Ficar, funk de 1969 lançado por Roberto Carlos e regravado pela cantora em dueto com o vocalista (e guitarrista) do Skank. O repertório inclui também hits de Jorge Ben Jor (Taj Mahal e País Tropical) e um medley de três funks gravados com MC Buchecha.

Quinteto em Branco e Preto prepara terceiro CD

Prova viva de que São Paulo nunca foi o túmulo do samba, como teria apregoado Vinicius de Moraes, o Quinteto em Branco e Preto (foto) prepara seu terceiro CD, o primeiro pela gravadora Trama, com a qual assinou contrato depois de ter se destacado no portal TramaVirtual com as novas músicas Patrimônio da Humanidade e Xequeré, que, aliás, estão certas no disco, produzido pelo próprio grupo com repertório autoral. O sucessor de Riqueza do Brasil (2000) e Sentimento Popular (2003) será lançado ainda neste semestre e terá as participações de sambistas da Velha Guarda de São Paulo. Entre eles, há integrantes das escolas Vai-Vai, Nenê de Vila Matilde e Camisa Verde e Branco. O quinteto já tem dez anos.

Sai no Brasil DVD em que Domino revive legado

Embora bem menos reverenciado do que Chuck Berry e Little Richards, Fats Domino também foi um dos pais do rock'n'roll formatado na década de 50. O cantor revive o seu legado em DVD que chega ao mercado brasileiro com a gravação de show realizado por Domino na edição de 2001 do The New Orleans Jazz & Heritage Festival. Nos 20 números do roteiro, há pepitas dos anos 50 como Blueberry Hill e Skahe, Rattle and Roll. Detalhe: as falas do show e a entrevista dos extras foram devidamente legendadas em português. Ponto para a gravadora Coqueiro Verde, que edita no Brasil o DVD - intitulado The Legends of New Orleans - The Music of Fats Domino. A distribuição do vídeo é da EMI Music.

Saudoso, Guinga saúda Villa e (seu) Rio antigo

Resenha de CD
Título: Casa de Villa
Artista: Guinga
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *

Guinga certamente aprendeu muito com Aldir Blanc e Paulo César Pinheiro. Pois os versos de Maviosa - que marcam sua estréia como letrista neste sétimo álbum - estão à altura da escrita fina dos dois parceiros mais presentes em sua obra. Maviosa versa majestosamente sobre a saudade de um Rio antigo e mais pacífico. A nostalgia que dá o tom de Casa de Villa, cujo engenhoso título já aglutina referências ao subúrbio carioca e ao compositor Villa-Lobos, influência marcante na obra de Guinga, explicitada no CD na faixa-título e em um (sublime) tema instrumental, Villalobiana.

Casa de Villa é também o disco em que Guinga se assume de vez como cantor (nos seus álbuns anteriores, a maioria instrumental, ele soltava a voz eventualmente ou então convidava intérpretes como Leila Pinheiro). E Guinga canta com a propriedade de quem conhece bem os caminhos tortuosos de suas melodias rebuscadas. Várias delas reafirmam em Casa de Villa o seu talento incomum de autor. Melodias que servem de morada para os versos de novos parceiros como Simone Guimarães (a letrista do choro Capital), o violonista Edu Kneip (lírico na linda Mar de Maracanã e em Via-Crúcis, faixa que abriga a voz de Paula Santoro), Thiago Amud (em Contenda, tema que tem seu suingue nordestino valorizado pela flauta de Carlos Malta) e Mauro Aguiar (a sintética música-título).

A salutar abertura do leque de parceiros não exclui do disco quem esteve ao lado de Guinga quando ele firmou sua obra no mercado fonográfico em 1991 (no disco Simples e Absurdo). A maestria de Aldir Blanc se reafirma na canção Tudo Fora de Lugar. E Paulo César Pinheiro - com quem Guinga ainda anda estremecido - dá o ar da graça na emocional Porto de Araújo, música antiga, gravada por Miúcha em LP feito em 1988 para a Continental (reeditado em CD em 1994, mas já fora de catálogo). Merecia mesmo regravação.

O violão de Guinga que mora em Casa de Villa tem um contorno bem menos erudito do que o ouvido em álbuns como Noturno Copacabana (2003). Mas brilha soberano na valsa Comendador Albuquerque - que encerra o disco em sensível tributo a Paulinho Albuquerque, saudoso produtor que lançou o artista na indústria fonográfica - e se intera harmonicamente com sopros de virtuoses como o trompetista Jessé Sadock em Bigshot, xote meio jazzístico, um daqueles temas instrumentais cheio de quebras típicas da obra do autor. E que, letras e parceiros à parte, valorizam este disco em que Guinga louva referências suburbanas à moda de Villa-Lobos.